03 junho 2007

O Caminho da Cruz - Parte 3

Introdução

Ontem à noite vimos como o legalismo é capaz de nos desviar do caminho da cruz. Hoje pela manhã vamos ver o quanto a culpa pode nos afastar do caminho da cruz.

Max Lucado, um dos escritores evangélicos mais lidos nesse início de século, escreveu um livro cujo título em português é “Aliviando a Bagagem”. Nesse livro, ele compara malas, pastas e bolsas com nossas inseguranças, aflições, temores e decepções. A vida vai passando, um dia sucede outro dia, e quando nos damos conta estamos carregando pesos imensos.

Nos aeroportos, há um limite de peso na bagagem que se pode levar nas mãos dentro da cabine da aeronave. Os passageiros despacham as bagagens pesadas para o setor de cargas e levam apenas as mais leves nas próprias mãos. Um dos problemas no check in é que muitos não querem abrir mão de suas bagagens.

O sujeito arruma 25 Kg de peso em uma maleta pequena e fica escondendo a bolsa da pesagem. O peso é enorme, mas ele faz de conta que é levinho e acha o máximo quando consegue passar com tudo aquilo sem ser descoberto.

Na vida cristã toda a bagagem tem ser despachada aos cuidados do Filho de Deus, qualquer peso nas mãos pode significar um desvio de rota. A bagagem nos aeroportos muitas vezes se extravia; aquela que despachamos aos cuidados do Filho de Deus é tratada pela cruz de Cristo e perde todo o peso que aflige a alma humana.

Uma das bagagens que as pessoas mais gostam de levar consigo é a culpa. A culpa é um pacote pequeno e cabe em qualquer lugar, mas é pesada como chumbo.

Paul Tournier, psicólogo cristão suíço, escreveu um livro cujo título em português é “Culpa e Graça”. Nesse livro ele desenvolve o conceito de falsa culpa e culpa verdadeira.

A falsa culpa é o sentimento que resulta de sugestão social, como aquela causada pelo medo dos tabus e a angústia de perder o amor de outra pessoa. Desde pequenos somos ameaçados por nossos pais e pelos adultos em nossa volta. O medo é constantemente usado como instrumento de coerção e por isso a culpa é aprendida rapidamente pelos pequenos.

Mas há uma culpa verdadeira que resulta da quebra de valores próprios, e da consciência clara de ter violado um padrão original. Essa culpa e um autojulgamento feito com liberdade e com convicção de que há um padrão referencial de valores que deve ser mantido por todos.

Tounier acrescenta que a falsa culpa é o resultado dos julgamentos humanos e está apoiada na opinião e impressão dos outros. A culpa verdadeira surge das coisas em que Deus nos reprova no secreto de nosso coração. Só nós mesmos podemos saber quais são essas coisas, que normalmente são bem diferentes dos julgamentos humanos.

Verdadeira ou falsa, a culpa é um veneno que mata lentamente. Fora da cruz de Cristo a culpa é o modo normal das pessoas lidarem com suas incongruências, desajustes e inadequações. Palavras bonitas para ilustrar o que a Bíblia chama de pecado: não alcançar o padrão para o qual Deus nos criou.

Sem a cruz, a condenação é mais do que normal. Sem Jesus não há saída para esse problema. Sem o poder da cruz estamos aprisionados às nossas próprias culpas, verdadeiras ou falsas.

O peregrino

No século XVII, o inglês John Bunyan, encarcerado em uma masmorra escreveu um livro que ainda hoje é um best seller: O Peregrino. Nesse livro ele descreve a jornada de um homem chamado Cristão.

No segundo parágrafo do livro, Bunyan descreve assim a agonia de Cristão.

“Vi um homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e não mãos um livro. Olhei para ele com atenção e vi que abria o livro e o lia; e, à proporção que o ia lendo, chorava e estremecia, até que não podendo conter-se por mais tempo, soltou um doloroso gemido, e exclamou: Que hei de fazer?”

Descobrir o próprio pecado é uma experiência terrível. O pecado é destruidor, implacável e depravado. No caminho da Cruz não há como fugir da culpa que tenta nos encolher e nos ameaça. No caminho da cruz é certo que enfrentaremos a realidade dos nossos pecados. Eles serão jogados em nosso rosto tanto por amigos como por inimigos, seremos ameaçados e acusados por delitos reais e sentiremos culpas que não podem ser desconsideradas.

Mas por que eu e você, que cremos em Jesus, deveríamos passar nossas vidas debaixo de culpa e condenação? Deus tem um tratamento para a culpa e esse tratamento é a Cruz de Cristo.

Se a culpa é real, ainda mais real é a morte e a ressurreição do filho de Deus. Cristo foi condenado por você meu irmão. Não importa o pecado cometido, não importam os fantasmas que assombram sua mente. Cristo foi condenado por você para que você não precise levar sobre si qualquer condenação.

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. (Romanos 8:1)

Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, (I Pedro 3:18)


(1) Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; (2) por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. (3) Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, (4) e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. (I Coríntios 15:1-4)

(14) Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. (15) E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (II Coríntios 5:14-15)

(4) Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. (5) Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (6) Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. (Isaías 53:4-6)


Porque você teima em levar bagagens tão pesadas em suas costas? Porque você teima em andar com fardos tão pesados quando o Senhor Jesus lhe oferece um fardo leve?

Em nome de Jesus abandone o fardo da culpa. Não aceite o seu pedido desesperado de subir em seus ombros. Trate a condenação e a culpa com um remédio divino: a Cruz de Cristo. Ele foi condenado por você, ele foi culpado por você, ele foi morto por você para que você tenha vida. Não jogue fora esse presente de Deus!

Como isso pode acontecer comigo?

O fardo da culpa normalmente se encontra muito bem amarrado sobre os nossos ombros. Pode ser que você esteja há tanto tempo andando com ele que até já se esqueceu da sensação de estar livre dele. Você anda torto e sobrecarregado pelas ruas da cidade e não entende por que não consegue ir mais longe. Você até aceitou a Jesus como seu salvador, mas parece que os pesos ficaram ainda maiores.

Eu quero concluir a reflexão dessa manhã compartilhando com vocês alguns passos práticos que podem lhe ajudar a desatar os nós que prendem os fardos de culpa sobre os seus ombros.

1º Passo
Não tente combater a culpa com atitudes legalistas.

Culpa e legalismo quase sempre estão juntos. Então aprenda a perceber quando você é tentado a resolver os sentimentos de culpa com atitudes legalistas (isso é muito comum, também entre os crentes) e faça diferente.

O sujeito se sente culpado porque foi grosseiro com a esposa, aí promete a Deus que vai ler a Bíblia todos os dias;

A mãe se consome de culpa porque não consegue controlar sua ira, aí assume o compromisso de ir a todos os cultos de oração nos próximos dois meses.

O jovem é tomado pela culpa por causa dos pensamentos lascivos que assediam sua mente, aí promete que vai participar de todos os cultos da igreja e jejuar nas segundas-feiras.

Não tente combater a culpa com atitudes legalistas. O resultado é um espiral de depressão e tristeza que não tem fim. A esperança desaparece, o coração perde a sensibilidade e a alegria de servir ao Senhor se transforma em tristeza de Alma.

2º Passo
Admita e confesse o pecado que tem alimentado sua culpa.

(8) Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. (9) Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. (10) Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (I João 1:8-10)

A confissão interrompe o fluxo de culpa. A confissão anula o veneno da condenação. Quando o pecado e confessado a condenação perde o seu poder. O acusador perde seu ponto de apoio quando por nossa livre vontade confessamos nossos pecados.

Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. (Tiago 5:16)

3º Passo
Peça perdão e receba a graça de Deus.

A confissão interrompe o fluxo da culpa, mas é o perdão que limpa a casa. Não basta confessar os pecados. É preciso confiar e receber o perdão de Deus. Aqui é preciso um passo de confiança.

se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. (II Crônicas 7:14)

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. (I João 1:9)


Lembre-se que o perdão de Deus é por causa de Jesus. Não é por sua causa. Deus nos perdoa por causa dos méritos de Jesus Cristo, porque ele suportou a cruz em nosso lugar. Se o perdão de Deus dependesse de você, realmente você poderia se preocupar, mas como depende de Jesus, você pode confiar.

4º Passo
Rejeite a culpa pelos pecados já perdoados.

Se você admitiu, confessou e pediu perdão, está perdoado. Não aceite que o acusador do povo de Deus continue lhe acusando. Clame pelo sangue de Jesus. Rejeite essa falsa culpa e se esconda atrás da cruz de Cristo.

Não é pelos meus méritos é pelos méritos de Cristo na cruz do calvário.

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