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07 maio 2016

Evangelho Autêntico - Eu vim para que tenham vida

PIB Nova Esperança - Santa Rita/PB - 07/05/16 


Evangelho Autêntico
Eu vim para que tenham vida

O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10 (NVI)

Introdução

Expresso aqui minha gratidão à liderança da Primeira Igreja Batista Nova Esperança pelo convite para essas noites de sábado, e pelo espaço que me permite compartilhar com os irmãos algo sobre aquilo que compreendo ser o Autêntico Evangelho de Jesus.

Quando João Paulo me apresentou o tema, de imediato fui capturado por ele. Falar sobre o evangelho enche o coração de quem ama o Senhor; ainda mais quando se tem a oportunidade de resgatar elementos da autenticidade desse evangelho, como é nossa proposta para esta série de reflexões que começaremos hoje.

Um observador atento e com perspectiva histórica perceberá com rapidez que, comparado a épocas anteriores, vivemos dias de abundância de recursos a respeito da fé em Jesus. À nossa disposição temos estudos, mensagens, aulas, pregações, músicas, livros, conferências, seminários, encontros, etc. Toda sorte de ferramenta que se possa imaginar está cada vez mais acessível, inclusive através da internet. De maneira que não é demais afirmar que nossos dias estão encharcados de evangelho.

No entanto, nem tudo que inunda os meios de comunicação e a fala das pessoas é realmente a autêntica mensagem de Cristo. Sobre isso o apóstolo Paulo alertou os irmãos da região da Galácia dizendo o seguinte:

6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, 7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Gl. 1:6-8 (ARA)

Portanto, desde os primeiros dias da igreja, somos ensinados pelo Espírito de Deus que não devemos aceitar qualquer mensagem que fale de Deus ou de Jesus como se fosse o evangelho de Cristo. É preciso conferir sua autenticidade.

É essa a motivação dessas reflexões: voltar às Escrituras e conferir de que se trata o autêntico evangelho de Jesus, apresentado por ele mesmo nas páginas dos evangelhos.

Claro que não é possível ser exaustivo, isto é, esgotar o assunto. Mas acredito que os seis pontos a serem abordados durante esta série poderão nos deixar mais preparados para rejeitar “outros evangelhos” que se oferecem nas prateleiras dos mercados da fé.

Texto e oração

O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10 (NVI)

O ladrão e o bom pastor

Eu vim para que tenham vida! Essa fala de Jesus é muito conhecida dos leitores dos evangelhos, mas se popularizou depois de ser usada pela CNBB em uma das Campanhas da Fraternidade, lançadas anualmente por aquela entidade no período chamado de quaresma.

O contexto em que Jesus nos faz essa maravilhosa revelação é uma conversa sobre ovelhas, apriscos, ladrões, pastores, etc. Cuidar de um rebanho de ovelhas era uma atividade profissional bem comum nos dias de Jesus. Por isso ele a usou como exemplo. Jesus fazia isso com frequência: usava as coisas comuns do dia-a-dia para ensinar verdades e princípios eternos.

Existe um contraponto que me chama a atenção nessa história: de um lado Jesus nos apresenta o ladrão: ele não tem qualquer apreço pelo rebanho. O bem-estar das ovelhas não faz parte dos seus interesses. Ele está disposto a roubar, matar e destruir, porque seu objetivo é tirar proveito da situação. Ele está pronto para sacrificar a vida do rebanho em prol de si mesmo.

Do outro lado da comparação está o próprio Jesus. Ele é a porta do aprisco, por onde as ovelhas passam (à noite para encontrar lugar de descanso; durante o dia para encontrar pastagens e água). Ele está pronto para entregar a própria vida a fim de preservar a integridade do rebanho. Ele é o bom pastor que entrega a própria vida para que suas ovelhas vivam vidas fartas, plenas de tudo o que é necessário.

Então, o ladrão furta, destrói e mata, mas Jesus oferece às suas ovelhas uma vida plena, abundante mesmo. Quero me concentrar hoje à noite em como o Senhor faz isso.

Eu sei que algumas pessoas compreendem que vida abundante é aquele em que temos tudo aquilo que desejamos. Mas eu entendo que esse não é o conceito do Evangelho. Quando leio os ensinos de Jesus, entendo que essa vida abundante está relacionada muito mais àquilo que Jesus faz em nós do que a algo que ele nos dá.

Se por um lado o ladrão furta, destrói, e mata. Acredito que Jesus (1) restitui, (2) refaz e (2) reanima.

Restitui a nossa humanidade

A primeira ação de Cristo para nos conceder vida plena é restituir nossa plena humanidade. A humanidade que um dia recebemos de Deus foi corrompida e se tornou menor. Não é demais, portanto, afirmar que a humanidade, de acordo com a imagem e semelhança de Deus, nos foi furtada.

Não somos tudo aquilo que o Deus planejou que seríamos. Não é difícil reconhecer isso. Basta abrir os jornais ou ligar a TV para constatar! A notícias são desanimadoras: assassinatos, roubos, estupros, desrespeito, mentiras, humilhações, xingamentos, pouco caso, intolerância, conivência, coações, arrogância, abusos e outras coisas terríveis como estas nos fazem menos humanos. Mas, se você preferir, pode ler esse trecho da Bíblia:

10 Como dizem as Escrituras: “Não há ninguém sem pecado. Ninguém! 11 Não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. 12 Todos se afastaram, todos ficaram sem qualquer valor. Não há ninguém que faça o bem. Ninguém!” 13 “Suas bocas são como túmulos abertos; usam a língua para mentir.” “O que dizem é como veneno de cobras!”14 “As suas bocas estão cheias de maldições e amargura.” 15 “Estão sempre prontos para matar 16  e para onde quer que vão causam ruína e miséria. 17 Não conhecem o caminho da paz.” 18 “Não tem nenhum respeito por Deus.” Rm 3.10-18 (VFL)

Fomos furtados, irmãos! Sem que nos déssemos conta, nos levaram o respeito pela vida! As pessoas perderam o valor para nós! Somos uma sociedade sempre pronta para matar; quando não usamos armas brancas ou de fogo, usamos palavras e atitudes.

Fomos furtados, irmãos! Na calada da noite nos levaram embora a disposição de fazer o bem com alegria, de ajudar os que passam por alguma necessidade, de proteger os indefesos, de dizer palavras de encorajamento. Somos uma sociedade em que ser altruísta é perda de tempo.

O Senhor nos quer dar vida plena! E como ele faz isso? Ele muda a disposição da nossa mente por meio da presença do seu Espírito em nós. E exatamente isso que o profeta Ezequiel quis dizer:

26 Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. 27 Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis. Ez 36.26,27 (NVI).

De forma gentil, o Espírito tenta restaurar em nós a imagem e a semelhança de Deus, a plenitude da nossa humanidade. Com sussurros e exortações ele nos conduz a valorizar a vida, abençoar as pessoas, defender quem sofre ameaças, lutar pela verdade, encorajar os humilhados, preservar os relacionamentos, promover a paz, respeitar os diferentes e amar a todos.

Sua vida será plena na proporção em que você dá ouvidos à voz do Espírito e permite que sua maneira de encarar a vida seja moldada pelos seus preciosos ensinamentos. Portanto, não faça ouvidos de mercador, quando ele sugerir mudanças em sua vida.

Refaz a nossa identidade

A segunda ação de Cristo para nos conceder vida plena, é refazer nossa identidade. Esse é um assunto importante, porque a maneira como nós nos percebemos tem uma influência direta sobre nossa maneira de viver a vida.

O mundo é tão grande complexo que é muito fácil nos sentirmos um zé-ninguém, apenas uma peça nessa engrenagem. Acordamos pela manhã, saímos para trabalhar, fazemos o que nos pagam pra fazer, voltamos para casa, assistimos TV, dormimos, acordamos no dia seguinte, e lá se vai tudo outra vez. Nossa existência nesse mundo tem algum valor? Somos alguém ou apenas mais um? Era assim que se sentia o escritor de Eclesiastes:

3 O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do sol?4 Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre.5 O sol se levanta e o sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta. 6 O vento sopra para o sul e vira para o norte; dá voltas e mais voltas, seguindo sempre o seu curso. 7 Todos os rios vão para o mar, contudo o mar nunca se enche; ainda que sempre corram para lá, para lá voltam a correr. 8 Todas as coisas trazem canseira. Ec 1.3-8 (NVI)

Alguns, no entanto, não estão assim de cabeça baixa. Não estão deprimidos e absortos na rotina da vida. Estão de olhos levantados e se esforçam para compreender o mundo ao seu redor. No entanto, mesmo estes, precisam lidar com a mesma questão: Temos algum valor neste universo infinito? Será que não somos apenas uma poeirinha cósmica que respira? Veja a reflexão do salmista:

1 Ó Senhor nosso Deus, a grandeza e a honra do teu nome transborda dos céus e enche toda a Terra. 2 Tu ensinaste as criancinhas a louvar-te perfeitamente, para que o exemplo delas envergonhe e reduza a silêncio os teus inimigos!3 Quando de noite contemplo os céus e vejo a obra dos teus dedos, a Lua e as estrelas que fizeste,4 pergunto: Quem é o homem, para que te preocupes com ele? Quem é o filho do homem, que te lembres dele! Sl 8.1-4 (OL)

Nossa sociedade tem respostas muito práticas para essas inquietações da alma. As vozes que surgem são rápidas para oferecer uma solução:

Você é aquilo que veste!
Você é o carro que tem!
Você é o curso que fez!
Você é um acaso que deu certo!
Você é o conhecimento que tem!
Você é a fé que professa!

Nossa identidade está despedaçada! Nossa sociedade agoniza em uma crise de significado sem fim. Nossas igrejas estão atordoadas e sem rumo.

Mas o evangelho autêntico de Jesus tem uma direção. O trabalho continua sendo do Espírito de Deus. Ao entrar em nossas vidas por meio da rendição a Jesus, ele nos concede uma nova identidade. Vejam o que diz o apóstolo João:

10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, Jo 1.10-12 (NVI)

O apóstolo Paulo detalha essa obra do Espírito e nos ajuda a perceber como podemos confiar nas transformações que o amor de Deus produz em nós.

14 porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temer, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: "Aba, Pai". 16 O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Rm 8.14-16 (NVI)

Essa é nossa nova identidade, irmãos. Quando nos rendemos a Jesus, o Espírito de Deus encontrou lugar em nossas vidas. Sua primeira obra foi nos fazer filhos, nos adotar na família de Deus. Essa é nossa identidade! Não somos um zé-ninguém! Não somos poeira cósmica! Somos filhos amados de Deus! O amor dele por nós foi provado na cruz! Deus se fez gente e entrou na história para que essa nova identidade se tornasse real!

Somos importantes não por aquilo que vestimos, calçamos, compramos, comemos, estudamos, entendemos ou onde moramos. Não nos deixemos enganar! Essas coisas fazem parte da vida, mas não podemos deixar que se tornem determinantes para nossa identidade.

Nossa importância reside no fato de que somos amados; porque somos importantes de verdade apenas para aqueles que nos amam. E Deus nos ama! É sobre este chão que nossa identidade deve ser construída. O chão do amor de Deus por nós. Amor provado e comprovado.

Há muito o que falar sobre essa nova identidade em Cristo Jesus que não cabe nesta reflexão. Mas devemos sair daqui com a clareza de que a vida abundante que o Senhor prometeu passa pela por nos apropriamos dessa nova identidade que recebemos por meio do Espírito de Deus.

Reanima para a eternidade

A terceira ação de Cristo para nos conceder vida plena é nos reanimar para a eternidade.

Eu acredito que parte da angústia que consome a vida de muitos é a ausência de uma esperança que vá além desta vida. De forma geral somos uma geração que não tem expectativas sobre a eternidade. Não ansiamos por ela!

Fomos ensinados que a vida é aqui. O agora é o que importa, a única coisa que realmente existe. Portanto, o melhor a fazer é usufruir de tudo que a vida possa oferecer, porque o depois é incerto e duvidoso.

Esse modo de pensar também encontra espaço entre nós, na igreja. Temos nos tornado apressados, imediatistas e pragmáticos; incapazes de esperar o tempo necessário para as mudanças de Deus em nós e em nossos irmãos. Algumas vezes atropelamos uns aos outros em busca de audiência nos cultos, e curtidas no Face.

No entanto, quanto maior é a pressão para ficarmos satisfeitos com o aqui e o agora, mais nossa alma se angustia e entristece. Isso tem uma razão: Deus plantou em nós um profundo anseio pela eternidade.

11 Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou. Ec 3.11(KJA)

A vida é um presente maravilhoso de Deus. Mas ela não comporta a eternidade, não cabe nela tudo aquilo que Deus planejou para nós.

Por mais longa seja nossas vidas, por mais saudáveis sejam nossos dias, por mais realizações alcancemos, por mais produtiva seja nossa rotina, por mais prazer venhamos a sentir, por mais intensas sejam as alegrias... não será suficiente.

Por mais numerosos sejam os concílios, por mais ECCs e EJCs aconteçam, por mais abençoados sejam os cultos jovens, por mais instrutivas sejam as EBs, e mais tremendos os retiros e vigílias... não será suficiente.

Porque esta vida não é suficiente para preencher o desejo de eternidade que temos em nossas almas.

O autêntico evangelho de Jesus muda nossa perspectiva e nos liberta da prisão do imediatismo.

Certa vez um homem insistiu para que Jesus julgasse a disputa entre ele e o seu irmão em relação herança deixada pelo pai. Ao ver que ele dava mais valor à herança do que ao relacionamento com seu irmão, Jesus contou a história de um homem que tentou preencher esse anseio pela eternidade com suas riquezas. As palavras ditas àquele homem são importantes.

20 (...) Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Lc 12.15,20 (ARA)

O evangelho autêntico de Jesus ecoou também nas palavras do Apóstolo Paulo. Através dele somos animados a olhar para a eternidade com esperança. Não podemos deixar a mentalidade de nossos dias nos aprisione nesta vida.

19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. 1 Co 15.9 (ARA)

Onde está nossa esperança, irmãos? Por séculos os cristãos olharam para a eternidade aguardando a vida plena e abundante prometida por Jesus. Eles encontraram conforto em saber que um dia todo o choro será consolado, toda a dor será banida e os anseio de nossas almas encontraram consolo naquele é ele mesmo a plenitude de Deus.

Restituídos em nossa humanidade, refeitos em nossa identidade e animados para a eternidade, podemos avançar para a vida plena prometida pelo Senhor.


(...) eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10 (NVI)

30 novembro 2014

Ministério Pastoral: Três aspectos

Mensagem proferida do culto de consagração
 ao ministério da Palavra do Pr. Jardiel Roberto em João Pessoa/PB

Ministério Pastoral: Três aspectos

Introdução ao Evento

Hoje é noite de festa e de grande alegria! Estamos reunidos para confirmar o entendimento dos irmãos que reúnem aqui em Tambaú, Igreja de Jesus, a respeito do chamado de Deus na vida do Jardiel.

A vida, o testemunho, a família e o compromisso desse jovem poderiam levá-lo a servir ao Senhor em diversas posições desse complexo mundo em que vivemos. No entanto, entre as excelentes coisas a se fazer na vida, Jardiel tem declarado que sente o chamado de Deus para servir aos irmãos no ministério pastoral. Esse chamado foi identificado e confirmado por esta comunidade e pelos líderes a quem ele está submetido nos diversos aspectos de sua vida.

Por tudo isso, e por causa do carinho que todos aqui temos por ele e por sua família, estamos celebrando ao Senhor. É maravilhoso ver que nosso Pai continua cuidado de sua igreja e provendo os líderes de que necessitamos para prosseguir em direção ao alvo que nos está proposto.

Considerações pessoais

Eu me sinto honrado e grato com o convite que recebi para compartilhar a Palavra de Deus nesta noite tão especial. Em dias normais compartilhar a Palavra já é uma tarefa repleta de desafio. Hoje, então, os desafios se multiplicam. O que falar ao mesmo tempo para um jovem pastor, para colegas de ministério com longas jornadas de serviço no pastorado e para ministros de Deus das mais diversas vocações aqui presentes?

Depois de ponderar em oração sobre alguns caminhos, decidi recorrer à vida do apóstolo Pedro para que o Senhor possa através dessa breve reflexão nos trazer discernimentos, alertas e consolos. Portanto, peço que você entre em oração comigo para pedirmos ao Senhor que use de sua misericórdia e fale com cada um de nós conforme nossas necessidades.

Oração

Pedro, um de nós

Acho impressionante ler sobre as viagens do apóstolo Paulo! A forma como Lucas descreve os desafios que ele enfrentou, as decisões que tomou, os discursos que fez, sua persistência, sua seriedade, o conhecimento que tinha das escrituras... Não há como não se sentir desafiado! É quase como se ele não fosse um ser humano comum.
Por outro lado, quando me detenho nos relatos sobre Pedro, nas lutas e desafios que ele enfrentou, muitas vezes tenho a impressão de que ele é um de nós.

É claro que isso acontece, em parte, apenas por que eles eram pessoas com histórias diferentes vivendo circunstâncias diferentes. Ainda assim, quando leio as histórias de Pedro nasce em mim uma certa identificação com sua humanidade: ele realmente parece um de nós.

Hoje à noite pretendo conectar três momentos da vida de Pedro de maneira que possamos refletir sobre o significado da vocação ao ministério pastoral. Ao final, quero convidá-los a ouvir três conselhos que ele mesmo nos ofereceu ao final de sua vida.

A.   Senhor, estou pronto

Chamei o primeiro momento de “Senhor, estou pronto”. O episódio em que ele se revela é após a ceia de páscoa e antes do getsêmane, quando Jesus começou a explicar aos discípulos a natureza sacrificial de seu ministério e esclareceu que um traidor, entre eles, seria o instrumento de sua prisão.

Lucas (Cf 22:24) afirma que os apóstolos imediatamente começaram a discutir sobre quem seria o traidor e quem era o melhor entre eles. Jesus interrompeu os brigões e tentou recuperar o ponto: serviço sacrificial. Falou coisas estranhas como o maior é aquele que assume o serviço como uma missão pessoal.

No meio dessa discussão, Pedro fez uma afirmação corajosa: “Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte” (v.33). Eu imagino os demais discípulos parando todos ao mesmo tempo e olhando, todos ao mesmo tempo, para Pedro. Alguns, admirados; outros achando que Pedro tinha passado a perna neles para assumir a liderança do grupo.

Mas Jesus sabia que aqueles arroubos de Pedro seriam testados e reprovados naquele mesmo dia e disso: “Pedro, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante.”. É bem possível que Pedro tenha balançado a cabeça e dito com firmeza que jamais faria isso, repetindo que seria fiel até a morte. Pelos evangelhos sabemos que naquela noite não foi a coragem do apóstolo Pedro que se destacou, mas o seu medo, a vergonha e, por fim, a negação que Jesus havia predito.

Como Pedro poderia estar tão enganado sobre suas próprias reações ao lidar com aquela situação?

Parece-me que Pedro tropeçou em três pedras que estavam pelo meio do seu caminho.

1.     Ele subestimou os desafios de seguir a Jesus

Seguir os passos de Jesus não é assumir o palco, realizar um espetáculo e esperar os aplausos. Seguir a Jesus é uma caminhada cheia de oposições e contratempos. O caminho é estreio e pedregoso.

Jardiel, você precisa ter em mente essa realidade! Não caia na armadilha de imaginar o caminho do ministério pavimentado e florido. Claro que há flores pelo caminho. Claro que há temos de refrigérios. Mas quando alguém decide atender ao chamado e seguir os passos do mestre não pode esquecer que pela frente vai se deparar com situações adversas que porão à prova sua lealdade ao modo de Cristo compreender a existência.

2.     Ele superestimou a si mesmo

Ser ministro de Jesus a serviço do povo de Deus, seja qual for o ministério ao qual se foi chamado, não é uma consequência direta da capacidade do servo. É claro que precisamos nos preparar para servir mais e melhor, mas parece-me claro também que não se deve confiar demais no preparo e nas capacidades que adquirimos. Em tempos de pastores profissionais, que têm prazer um promover as próprias virtudes, é preciso lembrar todo tempo do sábio conselho de Paulo, de não pensar sobre si mesmo além do que convém.

Jardiel, você precisa conhecer e reconhecer suas limitações. Não caia na armadilha do ministério com base na blindagem eclesiástica. Não esconda de si e nem dos outros as áreas da vida em que precisa de ajuda, caso contrário você nunca encontrará a ajuda de que precisa. Certamente você precisará de amigos sinceros para rejeitar a blindagem eclesiástica: peça-os insistentemente a Deus.

3.     Ele não compreendeu a natureza da oração de Jesus

Embora seja um bom começo, a verdade é que não basta para a jornada do ministério pastoral avaliar corretamente os desafios do serviço e as limitações do servo. O chamado de Cristo é para uma missão que possui dimensões sobrenaturais. Foi por isso que Jesus disse para Pedro que havia rogado a Deus por ele: “para que tua fé não desfaleça” (v.32). É preciso que o ministro esteja conectado à dimensão sobrenatural de sua vocação para percorrer os caminhos do serviço à igreja, a carreira que lhe foi proposta, com dignidade e paz de espírito.

Jardiel, algumas vezes você não vai conseguir ser uma pessoa melhor, como anseia o seu coração, e isso lhe será lançado em rosto. Outras vezes você vai fraquejar diante da oposição espiritual ao seu ministério, e isso lhe será lançado em rosto pelo inimigo de nossas almas e seus mensageiros. Nesses momentos, você não pode esquecer de que o próprio Jesus, seu senhor, está intercedendo por você para que sua fé não desfaleça.
Ao final daquela conversa, Jesus deixou bem claro para Pedro, algo de que os ministros de Cristo precisam: todos os dias, converter-se da fé em si mesmo para a confiança no Senhor. E quando você, Jardiel, se perceber convertido dessa maneira, faça o que Jesus sugeriu a Pedro: “fortalece os teus irmãos” (v.32) encorajando-os a fazer o fazer o mesmo.

Nos momentos “Senhor, estou pronto”, (1) não subestime os desafios, (2) não superestime suas capacidades, (3) converta-se à confiança no Senhor.

B.   Tu sabes todas as coisas

O segundo momento da vida de Pedro que servirá à nossa reflexão hoje é aquele em que Jesus tenta regatá-lo do poço existencial em que ele estava depois de ter fracassado como discípulo e negado até mesmo que conhecia o Senhor. Esse é um dos momentos em que eu mais me identifico com a humanidade de Pedro.

Jesus já havia ressuscitado. Era tempo de festejar a vitória! Mas Pedro continuava sentindo-se uma fraude, com vontade de desistir de tudo, exposto em suas fraquezas, abalado pelo desconhecimento de si mesmo e pela incapacidade de cumprir com suas promessas. Cabisbaixo e ferido em sua autoestima, ele não tinha muito o que conversar com Jesus.

Jesus, então, toma a iniciativa: “Pedro, tu me amas?” O jogo de palavras com ágape e filéo perpassa todo o diálogo entre os dois até Pedro afirmar: “Tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.

Jardiel, muitas vezes você só vai conseguir prosseguir pelo caminho da sua vocação quando trouxer à memória o relacionamento de amor entre você e o Senhor Jesus. Quando o sentimento de fracasso lhe alcançar, e ele vai lhe alcançar, você vai precisar da convicção de que, a despeito do sentimento de inadequação a lhe corroer por dentro, o seu amor por Deus é uma realidade.

De onde você vai tirar essa convicção? Só há um lugar onde ela está disponível: no amor gracioso de Deus por você. Amor provado na cruz, amor experimentado na caminhada de fé, amor revelado no constante cuidado dele em sua vida. João entendeu bem como isso funciona, por isso ele afirmou “nós o amamos porque ele nos amou primeiro”.

Então, quando os momentos “Tu sabes todas as coisas” chegarem não adianta explicar nada. Não é necessário esclarecer, nem justificar nada diante de Cristo. É preciso apenas agarrar-se à firme convicção de que o amor dele por você invadiu sua vida e isso o levou a amá-lo. É como disse Pedro “Tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo.

C.   Rogo aos presbíteros

O terceiro e último momento da vida de Pedro que separei para nossa reflexão esta noite, está registrado em sua primeira carta. Vejamos:

1 Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada:
2 Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir.
3 Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (I Pedro 5:1-3)

Nesse trecho, fala um Pedro já experimentado no sofrimento por Cristo e no cuidado de pessoas. Não se ouve mais as vozes inquietas de antes. É um Pedro que viu o evangelho de Cristo tocar a sua vida, transformar o seu caráter, mudar seus paradigmas e, sobretudo, um Pedro que aprendeu a importância das motivações corretas.
A fala de Pedro, quando apelas aos líderes que tinham responsabilidade em pastorear o rebanho, é direta e autoexplicativa. Dela extraio três conselhos úteis para os ministros, seja qual for o ponto da caminhada em que nos encontremos no ministério de serviço ao Reino.

1)  ...não por obrigação, mas de livre vontade...

O primeiro apelo de Pedro àqueles que foram chamados para servir à igreja cuidando dos irmãos é que o seu serviço não seja feito por obrigação.
Há muito o que se falar sobre essa tensão entre obrigação e espontaneidade levantada por Pedro em seu conselho, mas eu gostaria de destacar apenas uma, Jardiel: o Ministério pastoral não é um emprego com direitos e obrigações. Nenhum ministro de Deus foi chamado a submeter-se a uma relação profissional, como se fosse empregado da igreja em que serve.

É claro que há responsabilidades a serem assumidas, isso seja qual for o ministério a ser desenvolvido no corpo de Cristo, mas nunca essa relação deve produzir o senso de obrigação inerente ao trabalho assalariado.

As armadilhas capazes de transforma vocação em profissão são inúmeras e giram sempre em torno da motivação pela qual o serviço é realizado. Parece-me, então, que a melhor forma para um ministro de Deus proteger-se dessas armadilhas é investigar diante de Deus as razões de seu coração. Os porquês que movem sua alma são bons indícios para precaver-se das armadilhas em que está mais propenso a cair.

Investigar a si mesmo não é trabalho fácil nem rápido, amigo, mas é necessário. A boa notícia é que o Espírito de Deus está sempre pronto a nos ajudar nesse trabalho. Ele é como espada de dois gumes, capaz de discernir as intenções do coração. Você sempre poderá contar com ele!

2)  ...não por ganância, mas com o desejo de servir...

O segundo apelo de Pedro não poderia ser mais atual. O pastoreio do povo de Deus não dever ser feito visando lucro pessoal, mas como uma expressão de serviço ao Supremo Pastor.

Ministros que servem no cuidado pastoral da igreja não são donos do rebanho. As ovelhas não lhe pertencem. Não há nada que seja propriamente seu. Não lhes compete o direito de tornar-se abastado às custas do rebanho.

Claro que compete à igreja, que opta por ministros com dedicação exclusiva, o cuidado zeloso em suprir as necessidades deles e de suas famílias. Digo isso porque há comunidades que optam por modelos diferentes em que os ministros se dedicam tanto ao sustento pessoal quanto ao serviço à igreja, como era o caso de Paulo e seus companheiros.

No entanto, Jardiel, a meu ver, o conselho de Pedro diz respeito ao cuidado com as motivações de seu coração. Não é difícil que um ministro, ao ver o rebanho crescer sob seus cuidados, dar espaço em seu coração para sentimentos de insatisfação sobre o seu sustento. Também não é incomum que um ministro, pensando no lucro que poderia obter com um rebanho maior negocie princípios e valores para alcançar o que deseja.
Pedro aponta para a motivação certa: serviço. Se alguém não pode servir ao Povo de Cristo motivado pela alegria de ser um servo do Cristo vivo realizando seu ministério, precisa rever as motivações que o levaram à posição em que hoje se encontra.
Lembre-se, Jardiel, para aqueles que de coração grato assumem o serviço como expressão de seus ministérios, o Supremo Pastor está preparando a imperecível coroa da glória!

3)  ...não como dominadores, mas como exemplos para o rebanho...

O terceiro e último apelo de Pedro aos Presbíteros que pastoreiam o rebanho de Deus é sobre a forma como lideram o povo. Pedro, oferece o seguinte conselho: liderem pelo exemplo, não pela força.

De novo Pedro toca nas motivações. Digo isso, Jardiel, porque não é raro que almeje o episcopado como uma ferramenta para exercer domínio sobre as outras pessoas. Isso acontece, algumas vezes, por acordo mútuo entre o rebanho e o líder, de maneira que todos ficam temporariamente satisfeitos com o arranjo: a comunidade se submete a líderes abusivos em troca da aparente segurança que eles inspiram a afirmam oferecer.
Pedro, de temperamento explosivo, sabia bem o efeito que a dominação pode causar nas pessoas. Mas, transformado pelo amor de Deus em sua vida, ele aponta o melhor caminho para a liderança: o exemplo.

Liderar pelo exemplo não é ser perfeito. Não se trata de ter todas as respostas ou saber sempre a direção certa. Se fosse assim, o próprio Pedro estaria desqualificado. O exemplo que conduz o rebanho é da submissão a Deus, é do reconhecimento das fraquezas, é o do compromisso com os valores do Reino, é o da perseverança na Palavra, é o da confiança no amor de Deus. Exemplos assim são como faróis em meio à tempestade.

Conclusão

O caminho do ministério pastoral tem seus deleites, mas tem também o seus percalços e armadilhas, nas quais os incautos acabam presos convivendo com as piores motivações de suas almas.

Como esses conselhos de Pedro, que sondam as motivações do coração dos Ministros de Deus, encerro minha reflexão nessa noite. Três momentos: no primeiro deles, “Senhor, estou pronto”, somos chamados a nos converter da fé em nossas capacidades para a confiança no Deus Altíssimo; no segundo “Tu sabes todas as coisas”, fomos encorajados, nos momentos de derrota, a declarar o nosso amor por ele, que é fruto do amor dele por nós; no terceiro, “Rogo aos Presbíteros” um Pedro maduro e experimentado nos chama a sondar as motivações do nosso coração e reconhecer que o ministério a que fomos chamados é algo precioso demais para tratamos com pouco caso.

Termino conclamando aos ministros do evangelho de Cristo que nos tornemos sábios interpretes de nós mesmos e da vida que nos cerca. Conclamo a todos os ministros de Cristo, em todos os ministérios a que foram chamados, a ouvirem as palavras de Pedro, o presbítero, que diz:

1 E AGORA, uma palavra a vocês, os presbíteros da igreja. Eu também sou um ancião; com os meus próprios olhos vi Cristo morrer na cruz; e eu também participarei da sua glória e da sua honra quando Ele voltar. Colegas pastores, este é o meu apelo a vocês:
2 Alimentem o rebanho de Deus; cuidem dele com boa disposição e não de má vontade; não pelo que vocês ganharão com isso, mas porque estão ansiosos de servir ao Senhor.
3 Não sejam tiranos, mas guiem o rebanho com o seu bom exemplo.

4 E quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória.

15 julho 2012

Hipertrofia do ministério pastoral?


Suas perguntas, Daniel, são pertinentes e estão inseridas em um contexto específico: este no qual os pastores se tornaram uma espécie de parte do corpo do Cristo que cresceu além do que lhe estava reservado, tornando o corpo desproporcional e necessitando de cuidados extras.

Sobre os pastores repousam responsabilidades que, no meu entender, deveriam ser cumpridas por outros membros do corpo de Cristo. Onde estão os profetas, onde estão os mestres e evangelistas? Onde estão os que têm dom discernimento e sabedoria? Nós não os encontramos mais e, porque a função que eles exercem são necessárias ao corpo, esperamos que o superministro do evangelho supra tudo. Para isso, é claro, é necessário "tempo integral" dedicação exclusiva para fazer tudo muitos outros deveriam fazer.

Abandonados os mandamentos recíprocos e o sacerdócio universal do crente, voltamos ao sacerdotalismo e, neste caso todas as suas perguntas precisam ser respondidas. No entanto, como seria se decidíssemos convidar o Espírito a suprir sua igreja com homens e mulheres com os mais diversos dons e habilidades necessárias ao crescimento do corpo em amor? Como seria se ao reunir-se a igreja um tivesse um salmo, outro um cântico, um outro o testemunho e ninguém, senão o Cristo vivo fosse o centro de tudo o que acontece?

O seu raciocínio quanto à necessidade do carro para visitar irmãos em diversos hospitais espalhados pela cidade é o mesmo usado pelos televangelistas para aquisição de seus jatinhos. Como eles poderão deslocar-se a tempo de atender aos compromissos espalhados pelo país a fora? Mas a pergunta deveria ser por que a igreja alça algumas pessoas e as coloca sobre pedestais, considerando-as acima dos mortais comuns e responsáveis por fazer acontecer a igreja?

Por que continuamos transformando nossos líderes em âncoras da nossa fé, quando Jesus explicou que não devemos colocar ninguém nessa posição? Será que não esta na hora de reconhecermos os danos que a hipertrofia do pastorado tem causado à igreja de Cristo e retornamos ao ministério do Espírito através da multiplicidade da graça de Deus?

Entendo que se os paradigmas forem mudados as perguntas serão outras e os problemas a serem enfrentados também mudarão. Assim, quem sabe, todos terão o direito de viver com simplicidade, não miseravelmente, mas grato com o que é necessário para uma vida de testemunho e anunciação do Reino de Deus.


Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "História da Igreja na América Latina" tendo como assunto "Religiosidade, Piedade e Teologia na Época Colonial". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

07 setembro 2010

Pastor ou irmão?


Era um evento daqueles que se chamam missionários em que se promove a causa e arrecadam-se fundos para sustentar os abnegados da fé, que abandonam tudo para atender ao chamado. Na porta de entrada do salão de reuniões algumas pessoas entregavam panfletos e jornais. Solícita e com um sorriso no rosto uma senhora me abordou e, como não conseguiu concluir por conta própria, perguntou-me: irmão ou pastor? Hesitei por um instante, mas em seguida devolvi a pergunta: Posso ser os dois? Ficamos sem resposta.

18 outubro 2008

Sobre Pastores

Mensagem proferida no culto de ordenação do Pr. Joaquim, na Igreja Batista Betel

Saudação

Hoje é uma noite especial!

É especial para o Senhor, porque através de momentos como este a Igreja afirma sua confiança Nele como o supridor de suas necessidades; inclusive a necessidade que temos de pastores para o rebanho.

É especial para a Igreja Batista Betel, porque essa noite se tornará em um marco de mudança. Uma nova história será construída a partir de hoje. Uma construção de muitas mãos em direção à vontade do Pai.

É especial para os batistas do Ceará, porque confirma princípios que nos são caros, como a autonomia e a autogestão democrática das igrejas. Também porque renova nossa convicção de que o Espírito do Senhor deseja fazer uma obra em nós e através de nós neste estado.

É especial para o Joaquim, que hoje vê realizado seu desejo pelo episcopado, e ao mesmo tempo vislumbra o início de uma longa estrada pela qual só devem se aventurar aqueles que foram chamados pelo Senhor para isso.

É especial para mim, por causa da amizade que eu e Joaquim temos desenvolvido, e também pelo ardor no peito que tenho pela igreja do Senhor Jesus em sua expressão mais singela: Corpo de Cristo, Família de Deus onde o amor é a marca de nosso relacionamento com o Senhor, com nossos irmãos e com o mundo de Deus.

Minha saudação especial aos colegas pastores, que têm gastado suas vidas a serviço do Rei. No Senhor, o nosso trabalho não é vão, irmãos. Nós, os que temos guardado a esperança da volta do Senhor para buscar sua igreja, sabemos que não é vão. Ele trará consigo a justa recompensa aos seus servos.
Introdução

A Bíblia levou mais de 1.200 anos para ser escrita e seu último livro foi concluído há cerca de dois mil anos. Mas, se a imagem (digital) pode ser considerada uma grande revolução na comunicação do século XXI, a Bíblia precisa está totalmente conectada com nossos dias. Ela é um livro de imagens poderosas que têm influenciado de forma definitiva a vida humana.

Uma dessas imagens é a do pastor de ovelhas. Como toda imagem capaz de impactar, a ilustração do pastor e suas ovelhas surgiu da simplicidade do dia-a-dia. Uma profissão comum, sem glamour, sofrida, mesmo cansativa, mas que foi capaz de inspirar muitas pessoas através de gerações.

Jesus, os pastores e os mercenários

Nos dias de Jesus não eram necessárias muitas explicações sobre a figura dos pastores de ovelhas, porque ele fazia parte da vida das pessoas. Jesus usou a poderosa e simples imagem do pastor de ovelhas para ilustrar verdades espirituais de grande profundidade:

“Todo aquele que se recusa a entrar no curral das ovelhas pelo portão, e entra às escondidas por cima do muro, deve ser certamente um ladrão! Porque o pastor das ovelhas entra pelo portão. O porteiro abre o portão para ele, as ovelhas ouvem a sua voz e vê; ele chama suas próprias ovelhas pelo nome e leva todas para fora. Vai andando na frente, e elas seguem o pastor, porque reconhecem a sua voz. Elas não seguirão um estranho; antes fugirão dele, porque não e reconhecem a sua voz.” (João 10.1-5)

“Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas. Um simples empregado fugirá, se perceber que o lobo vem chegando, e deixará as ovelhas, porque elas não são dele, e ele não é o pastor delas. Com isso o lobo ataca e espalha o rebanho. O empregado foge porque é apenas uma pessoa que trabalha por dinheiro, e não tem interesse real nas ovelhas.

Eu sou o Bom Pastor, conheço minhas próprias ovelhas, e elas me conhecem. Assim como meu pai me conhece, Eu conheço o Pai, e entrego a minha vida pelas ovelhas. Eu ainda tenho outras ovelhas, em outro curral. Eu tenho de trazer essas também, e elas atenderão à minha voz; e haverá um só rebanho com um só pastor.” (João 10.11-16)


Grandes lições podem ser extraídas desse texto:

• O pastor chama as ovelhas pelo nome, ele as conhece;
• A voz do pastor é conhecida das ovelhas;
• As ovelhas seguem seu pastor;
• O pastor não é um empregado, ele não trabalha pelo que recebe;
• O pastor tem interesse pelo bem estar das ovelhas;
• O pastor é conhecido pelas ovelhas;

Mas não será nele nossa reflexão hoje à noite. Apenas precisamos entender o alerta de Jesus: assim como acontecem em meio aos pastores de ovelha, ao falarmos do rebanho do Senhor devemos saber que existem bons pastores, mas também existem mercenários, cujo interesse principal não é o bem estar das ovelhas que lhe foram confiadas, mas sim o seu próprio conforto.

Aliás, esse alerta deve ecoar em cada um que se diz chamado para pastorear o Rebanho e também no meio da igreja do Senhor Jesus.

Os profetas falam sobre os pastores

O alerta feito por Jesus já vinha ecoando na boca dos profetas do antigo testamento. O Espírito do Senhor não tem se calado diante daqueles que gostam da pompa e dos títulos. O Senhor não tem emudecido diante daqueles que usam o poder em benefício próprio sem demonstrar amor e misericórdia pelos rebanhos que lhes foram confiados.

O profeta Jeremias disse o seguinte:

Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor. Portanto assim diz o Senhor, o Deus de Israel, acerca dos pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e não as visitastes. Eis que visitarei sobre vós a maldade das vossas ações, diz o Senhor. E eu mesmo recolherei o resto das minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se multiplicarão. E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor. (Jeremias 23.1-4)

O profeta Isaías levantou um clamor de indignação e disse:

Aproximem-se, animais selvagens, venham despedaçar; que as feras das montanhas venham devorar o meu povo.

Porque os chefes do meu povo -os vigias do Senhor, os pastores- estão cegos a todo o perigo, estão como que imbecilizados e nem sequer reagem, avisando quando o perigo se aproxima. Gostam de se deitar, amam a sonolência, deleitam-se em sonhar.

São gulosos como cães, nunca se satisfazem; são pastores estúpidos, só compreendem bem aquilo que representa os seus interesses pessoais e imediatos, procurando obter e ganhar tanto quanto possível, cada uma para si e seja de que forma for.

Venham, dizem eles. Vamos buscar vinho e fazer uma festa; vamo-nos todos embriagar. Isto assim é que é viver. Faremos isto hoje, amanhã, depois; e quantos mais dias melhor será. (Isaías 56:9-12)


O profeta Zacarias pronuncia um lamento que revela a seriedade como que a questão deve ser tratada.

Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho direito; o seu braço será de todo mirrado, e o seu olho direito será inteiramente escurecido. (Zacarias 11.17)

Cada um que se pronunciou como tendo sido chamado pelo dono das ovelhas para pastorá-las, e permitiu que as mãos lhes fossem impostas para o ofício, deve ler com temor e tremor as palavras dos profetas.
A Queixa do Senhor

Qual o ofício de um pastor? Qual é realmente o seu trabalho? O que deve esperar dele a igreja? O que espera dele o Senhor, dono das ovelhas? O que deve fazer um pastor para ser encontrado com o coração limpo diante do seu Senhor.

Hoje há uma grande confusão na igreja, com muitos títulos imponentes, muitos cargos importantes, e pouca gente para fazer o trabalho pastoral.

Muitos querem ser líderes, supervisores, diretores, superintendentes, presidentes; dependendo da denominação, desejam ser bispos, apóstolos ou quem pai-póstolos. Mas pouca gente deseja o árduo e cansativo trabalho de pastor de ovelhas.

Há quem queira liderar um grande ministério, responder por um orçamento farto, orientar uma grande equipe, ou dirigir uma grande instituição. Mas poucos desejam gastar-se no cuidado das ovelhas.

Através do profeta Ezequiel, o Senhor apresentou uma reclamação em forma de denúncia para os líderes do Seu povo. Creio que essa palavra do Senhor poderá nos ajudar, nesta noite a resgatar um pouco do ofício do pastor, que tem sido esquecido e desprezado até mesmo pela igreja.

1 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: 2 Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? 3 Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. 4 A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. (Ezequiel 34:1-4)


O Ofício do Pastor

Tenho dito nesta noite que o ofício do pastor não tem qualquer glamour. Ser pastor de ovelhas não é poético. Um pastor de ovelhas pode até posar para uma foto com uma ovelhinha nos braços, mas o seu trabalho de todo dia não é esse.

Além disso, as ovelhas das fotos estão sempre limpas e saudáveis, mas no dia-a-dia do seu trabalho nem sempre é assim.

A denúncia do Senhor àqueles que se consideram líderes em sua igreja diz respeito ao desleixo com aquilo que é a parte principal do ofício dos pastores: apascentar as ovelhas.

O Senhor explica com detalhes quais responsabilidades de um pastor. Cumprir essas responsabilidades é o que credencia a alguém a ser reconhecido como pastor.

Fortalecer a fraca
Curar a doente
Enfaixar a quebrada
Orientar a desgarrada
Buscar a perdida

Fortalecer a fraca

Ovelhas fracas não têm nenhum atrativo, são na verdade sinônimo de problema. São aquelas que não se alimentam direito e por isso não conseguem encorpar espiritualmente. Não lêem as escrituras (e quando lêem não entendem). A ovelha fraca não tem ânimo para caminhar com resto do rebanho e não tem forças para responder aos chamados do pastor.

As ovelhas fracas cansam os pastores, por isso, alguns levantam as mãos para os céus em gratidão a Deus quando descobrem que elas estão em outro aprisco.

No entanto, ao pastores foi dada a incumbência de fortalece as ovelhas fracas. A questão é como fazer isso. A fraqueza das ovelhas normalmente é resultado da falta de alimento: ou porque o pastor não está oferecendo pasto sadio e abundante ou porque a ovelha não aprendeu a alimentar-se.

Pastores não podem fazer corpo mole diante das ovelhas fracas. Pastores precisam extrair da Palavra o alimento capaz de nutrir e fortalecer o rebanho do Senhor. Se toda semana você entrega a mesma sopinha rala, o rebanho enfraquece e conseguirá dar um passo sequer com suas próprias pernas.

Da mesma forma, as ovelhas precisam receber, mastigar e digerir o alimento. De que adianta um grande e delicioso banquete que é cuspido fora a cada colherada? De que adianta a pregação que é ouvida e esquecida? De que adianta o ensino que não muda o jeito de viver?

Curar a doente

Ovelhas doentes não têm qualquer atrativo. Ao tentar cuidar delas, alguns pastores tem a sensação de perda de tempo. E o resto do rebanho? E as tarefas que tenho de cumprir? E os relatórios que tenho de prestar? E o ensino que tenho de preparar? Ovelhas doentes também não conseguem acompanhar o ritmo de rebanho sadio.

Quando uma ovelha adoece (não a doença do corpo, mas a doença da alma) e começa a dar muito trabalho, não é difícil que o pastor, no mais escondido de sua alma, deseje-lhe um desfecho fatal.

O Senhor chamou os pastores não apenas para amarem as ovelhas doentes e desejarem a restauração de suas vidas, mas para levar-lhes cura. Para curar é preciso descobrir a doença, procurar e encontrar os remédios, e ficar ao lado enquanto a restauração não vem. Há curas que são rápidas, mas há outras que levam toda uma vida para acontecerem.

Da mesma forma as ovelhas precisam admitir quando estão doentes e permitir que os medicamentos da alma lhe sejam ministrados. É preciso aceitar a autoridade daquele que deseja o seu bem quando um remédio amargo é ministrado. É preciso enfrentar a necessidade de pedir perdão ou de perdoar. É preciso admitir o orgulho e abrir mão da pequenez da alma, quando a voz do pastor chega aos ouvidos. Não haverá cura se você não desejar e permitir-se ser curado.

Enfaixar a quebrada

Há ovelhas que não fazem perguntas. Saem correndo em direção aos abismos da vida e se jogam nos desfiladeiros. Ovelhas tolas, que por isso vivem quebradas.

Algumas vezes o desejo do pastor é dizer: bem que eu avisei, eu disse que isso não ia dá certo. Agora te vira aí com as conseqüências. Pode ser não se diga, mas o abandono e o afastamento são tradução prática desse sentimento.

O Senhor chama os pastores e exercerem misericórdia. Não importa quantas vezes isso for necessário. O Senhor deu aos pastores a missão de enfaixar os quebrados e levá-los nos braços por um tempo até que estejam prontos para caminhar sozinhos.

Pastores não jogam na cara a exortação que fizeram no passado. Pastores não se alegram com a queda de suas ovelhas. Pastores não expõem as feridas de suas ovelhas como forma de punição. Pastores limpam com amor, enfaixam com cuidado e ficam ao lado até que a recuperação se complete.

Da mesma forma, é preciso que as ovelhas se deixem enfaixar. Muitas vezes é preciso colocar o osso no lugar e isso dói muito. Se você não aceitar a correção, é possível que você se torne uma ovelha manca, e perca a alegria de festejar junto com o restante do rebanho. Não fuja da correção, não escape de mansinho quando a palavra do pastor encontrar as suas feridas. Permita-se ser consertada.

Orientar a desgarrada

Ovelhas desgarradas são aquelas que têm seus próprios caminhos. Elas são desatentas, e se desviam do caminho do rebanho por qualquer motivo. Na maioria das vezes, elas não se dão conta de que estão distantes.

Porque preocupar-se com aquelas que estão se desgarrando do rebanho, se há outra que têm atenção e prazer de caminhar junto? Ovelhas desgarradas são um trabalho extra para os pastores e, se não for por amor, os pastores não irão orientá-las.

Deus chamou os pastores para prover orientação para as ovelhas desatentas que gostam de ler horóscopo e fazem Yoga. Deus chamou os pastores para orientar aqueles que estão obcecados pelo consumismo, que desistiram de amar o próximo e para quem Deus se tornou apenas uma peça decorativa em um ritual religioso.

É preciso que as ovelhas aceitem com tranqüilidade a orientação de seus pastores. Não deixe o orgulho ou a timidez se tornarem empecilho para sua maturidade espiritual. Aceite de bom grado a orientação de seu pastor, verifique a palavra, ouça irmãos experientes e assim deixe que a orientação do Senhor mude o destino de sua vida.

Buscar a perdida

Como é difícil ir em busca da ovelha perdida que abandonou o aprisco e há muito não é mais vista. Só de pensar em fazer isso os pastore ficam cansados. Só em pensar na resistência que encontrarão, nas lutas que enfrentarão, já ficam exaustos.

Mas o Senhor os chamou também para isso. Buscar a perdida faz parte do ofício de pastor. Para isso é preciso vencer o próprio medo de rejeição. É preciso saber que iremos em nome do Senhor, o dono das ovelhas. É preciso amar profundamente as ovelhas que nos foram confiadas.

Buscar a ovelha perdida não é perda de tempo, é o nosso trabalho de pastor. Buscar a ovelha perdida é uma declaração de confiança no dono das ovelhas, que disse: ninguém as arrebatará de minha mão.

Da mesma forma, as ovelhas que estão longe do aprisco devem prestar atenção à voz do pastor. E quando você ouvir a voz e reconhecer o Supremo Pastor lhe chamando pelo nome, corra para os seus braços. Ele tem pastos verdejantes para alimentar a sua alma. Ele tem águas tranqüilas para saciara a sua sede. Não perca tempo! Volte para o rebanho do Senhor e para de vaguear pelos desertos da vida.

Conclusão

Talvez você não tenha percebido, mas há uma relação entre essas tarefas que fazem parte do ofício pastoral.

Quando o pastor se dedica a fortaleza as ovelhas fracas oferecendo o alimento sadio que é a Palavra, o número de ovelhas doente diminui.

Quando o pastor cuida das ovelhas doentes, limpa suas feridas e lhes ministra o necessário remédio, um número menor de ovelhas tropeçarão nos penhascos da vida.

Quando o pastor se dedica a consertar as ovelhas quebradas enfaixando-lhes as pernas e cuidando de sua recuperação, um número menor de ovelhas vai se desgarrar do rebanho.

Quando o pastor orienta as desgarradas com coragem e intrepidez, quando ele aplica a palavra para vida de cada dia, poucas ovelhas se perderão.

Talvez, hoje tenham sido trazidas à tona dimensões do ofício pastoral que estavam esquecidas e isso pode ter produzido um grande peso sobre os seus ombros. Esse é o peso que levam aqueles que, assim como Pedro, foram chamados pelo Senhor Jesus: apascenta minhas ovelhas.

Mas o Senhor jamais coloca sobre nós um peso maior do que podemos levar. Ao contrário disso, ele como o pastor de nossas almas, declara que estará ao nosso lado nessa empreitada. O Senhor está conosco, não estamos sozinhos! Ele estará conosco apascentando o rebanho sobre o qual nos colocou como pastores. Ouça o Senhor:

15 Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei repousar, diz o Senhor Deus. 16 A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer; a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; e a gorda e a forte vigiarei. Apascentá-las-ei com justiça. Eze 34:15-16

Veja como ele é misericordioso como seus pastores. O Senhor começa exatamente onde as nossas forças se acabam. Ele começa buscando aquelas que se perderam.

A tarefa é árdua, mas é honrosa.
A missão é maior do que nos, mas o Senhor estará conosco.
Os resultados nem sempre são visíveis, mas temos a esperança da eternidade plantada em nossos corações.