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24 janeiro 2011

No Sítio Joaninha, falta esgoto, mas sobra fé

Cinco igrejas evangélicas. O número corresponde a apenas uma das ruas de terra batida do Sítio Joaninha, favela na divisa entre São Bernardo e Diadema onde a fé parece ser a única forma de suportar a vida. Ali não tem água encanada, esgoto ou energia elétrica: tudo é irregular, ou "gato", como dizem os moradores. Posto de saúde, escola e ponto de ônibus, só depois de meia hora subindo e descendo ladeiras cobertas de poeira na estiagem e enlameadas nos períodos de chuva.
A sujeira é outro problema: a área pertence a um antigo lixão, desativado há pelo menos 10 anos. No entanto, ainda há lixo e entulho espalhados em cada viela, situação que se agravou após a Prefeitura de São Bernardo terminar a remoção das 80 famílias que viviam do seu lado da favela.
Ali será construída uma usina de incineração de resíduos orgânicos, que deve ficar pronta em 2012. Por enquanto, as famílias do lado de Diadema continuam no terreno, que parece uma cidade arrasada por um furacão.

MÚSICA
Ao lado de uma das inúmeras Assembleias de Deus da favela, um grupo de amigos se reúne para tocar e cantar. Paulo de Campos Barbosa, 56 anos, é quem dedilha o violão. Antonio Batista da Silva, 66, Benício Silva, 60, e José Elder, 46, dão voz à melodia lendo as letras em hinários. José Maria Alberto da Silva está ali apenas para ouvir. "Não sou evangélico, mas gosto da mensagem", garantiu.
José Elder é a mais nova ovelha do rebanho: foi convertido há quatro anos, quando aprendeu que a situação difícil que vivencia no Sítio é apenas um prelúdio da vida eterna, segundo suas palavras. "Só assim pra olhar essa terra de ninguém e sorrir", disse. Os colegas cantam: "Há poder no bom salvador, confia no criador".
O Sítio Joaninha depende de licença ambiental da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para a execução de uma série de obras com recursos de R$ 42 milhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Mananciais. O Loteamento Iguassu e o Complexo Caviúna também estão inclusos no pacote, que deve beneficiar cerca de 2.400 famílias.
CRIANÇA
Mas não pense que é só Deus quem olha pelo Sítio Joaninha. A Rede Cultural Beija Flor desenvolve trabalho com 180 crianças e jovens da favela, que frequentam oficinas de capoeira, dança, teatro, artes plásticas e música.
Os irmãos Silva, Max, 11, Fabrício, 10, e Vinicius, 8, e a prima deles, Paola, participam do projeto. A molecada de corpo magro, vestindo roupa surrada e chinelo havaiana no pé, tem gingado para os golpes de capoeira e a dança de rua.
Quando não estão brincando, eles se unem para recolher ferragens das casas demolidas. "Tem dia que a gente consegue uns R$ 10", disse Paola. E o que fazem com esse dinheiro? "A gente compra bala, né, tia!", falou Fabrício, como se fosse óbvio.
Max também sabe tocar cavaquinho, mas o instrumento que ganhou da Beija Flor está com as cordas arrebentadas. "Queria comprar corda nova, mas não tenho dinheiro", disse, dando de ombros e sem deixar o sorriso morrer. Afinal, criança é criança em qualquer lugar. Até mesmo no castigado Sítio Joaninha.

08 fevereiro 2006

Quanto Vale a Vida Humana?



Por Aristarco Coelho

Esses dias, fiquei chocado com duas notícias. Como todas as notícias do nosso mundo on-line, elas apareceram na primeira página no jornal da noite, mudaram para uma coluna lateral na manhã do dia seguinte, no final do dia já eram notas de rodapé e desapareceram no seu aniversário de 72 h.

Em São Paulo, Carolina dos Santos, uma estagiária de 22 anos, arquitetou e executou um plano macabro para assumir uma vaga na empresa em que trabalhava. Encomendou o assassinato da colega de trabalho que ocupava uma posição na tesouraria da empresa. Renata escapou da emboscada e afastou-se da empresa temporariamente. Mônica, funcionária no departamento de RH, que substituiu Renata, não teve a mesma sorte e morreu atingida por cinco tiros. Mônica havia acabado de voltar de sua licença maternidade. Deixou órfãos um bebê e um garoto de nove anos. Respondendo a uma entrevista, Carolina falou sobre a colega: “Ela Morrendo, eu teria a minha chance”.

Em Belo Horizonte uma mãe, após sair do hospital com sua filha recém nascida, pôs a criança dentro de um saco, amarrou e jogou na Lagoa da Pampulha. O inquérito concluído pelas autoridade aponta como motivo o fato de que o pai da pequena Letícia (nome dado pela Justiça) não era o homem com quem Simone estava vivendo, o que seria embaraçoso de explicar. Sob a pressão das câmeras, Simone referiu-se à filha recém nascida como “A droga dessa menina”.

Diante de histórias como essas, é impossível não refletir sobre o valor que a vida humana tem em nossa sociedade. Cada vez mais, tenho visto a vida perder a disputa quando é colocada lado a lado com dinheiro, poder, prazer, bem-estar, reconhecimento ou outros elementos menos atrativos.

Talvez, para entender o enrosco em que nos metemos, se deva voltar a perguntar por que a vida humana deveria ter valor? O que deveria nos mover a preservá-la, a colocá-la em uma posição privilegiada de proteção. Por que a vida, mesmo de outra pessoa, deveria ser mais importante, por exemplo, do que meu próprio prazer? Para responder a essa pergunta, precisamos resgatar compreensão do que seja a vida humana.

Porque se a vida for um subproduto do instinto de sobrevivência, sua preservação, então não é de tanta importância; se for meramente o funcionamento de rins, coração, cérebro e pulmões, então sua perda, apesar de sofrida, não tem significado maior que a morte de um animal de estimação; se cada ser humano é apenas um amontoado de células que por um mecanismo sofisticado se organizaram, o valor da vida humana se limita à solução de uma fórmula intrincada; se a vida resume-se a breves momentos de prazer e satisfação, se realmente não passa disso, “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”.

Como é cruel a perspectiva hedonista da vida, que pela satisfação travestida de necessidade não hesita em matar! Como é degradante o egoísmo que não enxerga o valor de uma vida recém nascida, mas a descarta como forma de encobrir seus próprios tropeços! Mas não há motivos para execrá-las. Elas são apenas ícones representativos de nossas sociedades, imagens do que somos ou podemos vir a ser.

Há saída para o que estamos vivendo? Acredito que sim! Acredito que há uma saída e ela está no resgate do valor intrínseco da existência. Acredito que a vida como um todo, e a vida humana em especial, surgiu pela ação de um Criador. A vida humana não existia. Passou a existir pela decisão e ação de um Criador pessoal. A Bíblia fala do fôlego da vida para referir-se ao elemento vital que foi doado pelo criador para que passássemos a existir.

A vida é um presente de grande valor. Sob a ótica da criação, é fácil entender isso. Deus doou parte de sua essência vital, soprou o fôlego da vida e nos presenteou com a existência. A vida então se reveste de sacralidade, assume a imagem de quem a gerou. É assim que o livro dos começos fala: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (...) Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente" (Gen. 1:26, 2:7).

Penso que perdemos o senso de valor da vida porque se perdeu no tempo o próprio conceito de sua sacralidade. Se a vida é presente de Deus, trazendo consigo o Seu sopro, ela deve ser preservada, protegida, amada e vivida com amor. Se a vida é presente de Deus, imagine que grande afronta é tirar do outro o presente recebido (seja porque motivo for), e que grande desfeita é jogar fora o presente ganho.

O mundo que extirpou o Criador da mente, do coração e da alma das pessoas, sofre agora com o desaparecimento de valores que só fazem sentido a partir Dele. Por isso, o resgate da vida humana passa, sem alternativa, pela restituição ao seu Criador do lugar que lhe é devido. Compreenda que o valor da vida humana só vai ser plenamente reconhecido a partir da restauração dessa relação de amor e confiança com o Criador da vida

Isso não acontece coletivamente, não é à base de decisões governamentais, não pode ser imposto e não se realiza da noite para dia. Mas, é preciso que eu e você tomemos a decisão de permitir (porque não podemos restaurar por nós mesmo) e de começar desde já a participar dessa restauração através da pessoa histórica de Jesus Cristo.

Conversando com um estudioso da lei judaica de nome Nicodemos, Jesus falou sobre a restauração da relação de amor e confiança com o Criador da vida como a necessidade de um novo nascimento. É isso o que estamos precisando: nascer de novo! Esse nascer de novo nada mais é do que a geração em nosso íntimo da plena confiança na capacidade e na intenção do Criador em agir a nosso favor todo o tempo, e também da capacitação para obedecê-lo todo o tempo.

A vida humana é o bem mais precioso de que dispomos. O único que irá transpor a eternidade. Preservá-la, protegê-la, amá-la e vivê-la com amor faz parte das expressões mais elevadas do caráter de Deus.