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18 setembro 2016

Escola Bíblica - Um por todos, todos por um - Servindo uns aos outros


 Servindo uns aos outros

13 Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Gl. 5.13 (NVI)

Há quatro palavras básicas na linguagem do Novo Testamento que são frequentemente traduzidas por “servir”, “servo, “servindo”, e usadas mais de 300 vezes (cercad de 130 nos Evangelhos e Atos, e aproximadamente 170 nas epístolas. A duas mais frequentes são diakoneo (διακονεω) – Atos 6.2 e douleuo (δουλευω) Gálatas 5.13.

Diakoneo quer dizer ajudar ou servir. Escritores do Novo Testamento usaram essa palavra para ser referir a alguém que serve comida ou bebida, isto é, que se importa com as necessidades materiais dos outros. Num sentido mais geral, é aquele que faz qualquer coisa para servir aos interesses de outrem. Daí tiramos a palavra diácono.

Doulos era uma um escravo, um servo, alguém que servia. Neste sentido mais forte significa alguém que abdica de si mesmo completamente em favor do desejo de outro, alguém que serve com sentido de devoção.

Charles Swindoll propôs uma pirâmide verbal para simbolizar os valores que pautam grande parte dos relacionamentos humanos. São valores representados por frases como:
(1). Eu sou importante;
(2). Não abro mão dos meus direitos;
(3). Farinha pouca, meu pirão primeiro;
(4). Se você não se colocar pra cima, ninguém o fará.

EU
M E U
A   M I M
P A R A    M I M

Por que agimos dessa forma?

Essa atitude reflete o princípio (ou lei) do pecado que está ativo em nós. Desde Adão e Eva, passamos a não desconfiar do cuidado de Deus por nós. Os homens se tornaram dominantes e muitas vezes cruéis, enquanto as mulheres se tornaram insubmissas e resistentes a qualquer forma de autoridade. Assim, todos buscam proteger-se em um mundo em que ninguém se importa com ninguém. Garantir a própria situação (direitos, necessidades e interesses) é a melhor estratégia em um mundo no qual cada um cuida do seu e Deus não existe (ou, se existe, não é confiável). Essa descrença está refletida no ditado “É cada um por si e Deus por todos”.

Como é possível libertar-se desse problema?

Como pode um avião voar se pela lei da gravidade ele deveria cair?

LIBERDADE PARA SERVIR – A “lei do pecado e da morte” está ativa no ser humano. Contudo, as Escrituras também revelam uma lei que é maior e mais poderosa, e pode ser ativada pelo próprio Deus. É a “lei do Espírito da vida”, que se tornou possível com a vinda de Jesus (Rm 8.2) e nos liberta para servir a Deus e aos outros em amor.

Jesus tornou possível vencermos a natureza produzida pela lei do pecado: viver para si mesmo (Rm 6). Em Cristo estamos livres para atender aos outros em suas necessidades e amá-los como a nós mesmo (Gl 5.14). Quando nos tornamos cristãos ganhamos uma nova vida, a vida eterna, e junto com ela o poder de ir além de nós mesmos e experimentar a realização de servir aos outros.

LIBERDADE DISPONÍVEL – É assim que a “lei do Espírito da vida” cria as condições para voarmos: quando pela fé confiamos no Senhor Jesus como nosso salvador, nos identificando com sua morte, morremos com ele. Assim, a “lei do pecado e da morte” não tem mais efeito sobre nós e o impossível pode acontecer: tornamo-nos livres para servir. A liberdade está disponível, mas é como alguém que vê a porta da prisão abrir-se; é preciso sair por ela.

SERVIR COM AMOR – Para servir uns aos outros temos de ser guiados por verdadeiro amor. O amor é o princípio de todo relacionamento cristã, inclusive o processo de servir uns aos outros. Sob a lei do pecado, servir aos outros seria uma experiência negativa; mas sobe a lei do Espírito da vida, guiada pelo princípio do amor, servir torna-se algo alegre e recompensador.

SERVIR MEDIANTE A FÉ – Servir é uma maneira poderosa de demonstrar nossa confiança de Jesus Cristo. Ele é a fonte da nossa liberdade para servir. Essa libertação para o serviço está disponível mediante o exercício de confiança no Senhor. (Rm 5.1,2). Essa confiança que liberta não é uma mera concordância, mas a decisão ativa na direção de obedecer ao ensino de Jesus.

SERVIR RELACIONANDO-SE – O chamado para servir uns aos outros não pode ser atendido individualmente. Não podemos viver isolados. Dependemos uns dos outros para satisfazer nossas necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais. Além disso, como crentes em Jesus fomos incluídos pelo Espírito Santo como parte de uma família, a família de Deus. Portanto, o serviço com amor e mediante a fé acontece sobretudo nos relacionamentos que desenvolvemos uns com os outros.

SERVIR NO ESPÍRITO – É manifestar o fruto do espírito, enquanto serve, em seus relacionamentos: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22,23).
  
PASSOS PRÁTICOS PARA SERVIR AOS OUTROS EM AMOR

1)    Avalie o quanto o fruto do Espírito é refletido em seus relacionamentos. Marque 1 para “Nunca Existe” e 7 para “Sempre existe”

1.     Há amor cristão sendo expresso em minha igreja?                         1  2  3  4  5  6  7
2.     Há evidências de alegria e felicidade?                                            1  2  3  4  5  6  7
3.     Há paz e unidade?                                                                           1  2  3  4  5  6  7
4.     Os irmãos demonstram paciência uns com os outros?                   1  2  3  4  5  6  7
5.     Os irmãos são bondosos em atitudes?                                            1  2  3  4  5  6  7
6.     A bondade é demonstrada com atos concretos?                             1  2  3  4  5  6  7
7.     Os irmãos são dignos de confiança?                                               1  2  3  4  5  6  7
8.     Demonstram-se gentileza e sensibilidade nos relacionamentos?   1  2  3  4  5  6  7
9.     Há autocontrole nas conversas e no estilo de vida?                        1  2  3  4  5  6  7
  
Some suas respostas e confira na tabela abaixo os indicadores a respeito do serviço em sua igreja:
  
A)  9 a 18 – Há muitos desafios pela frente e você precisará de ajuda.
B)   19 a 36 – Os desafios são grandes, mas os primeiros passos já foram dados;
C)   37 a 54 – O serviço orientado pelo amor é uma prática, mas ainda pode melhorar;
D)  Acima de 54 – A excelência no serviço foi incorporada ao seu modo de viver.


Adaptação a partir do capítulo 8 – Servindo uns aos outros – do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz Traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela Editora Textus – Rio de Janeiro. Versões da Bíblia: OL – O Livro, BV – Bíblia Viva, NVI – Nova Versão Internacional

30 junho 2014

Fortifica-te na Graça


Mensagem proferida na Igreja Batista em Guarabira/PB em 29/06/2014.


Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

O apóstolo Paulo escrevia cartas para orientar e encorajar os irmãos dos vários lugares onde o evangelho de Jesus houvesse chegado por intermédio dele. Ele também escreveu para orientar alguns líderes mais jovens que ele, como Tito e Timóteo. Para Timóteo ele escreveu duas cartas cheias de conselhos e palavras de encorajamento. No texto que lemos, ele recomenda a Timóteo para não deixar o desânimo tomar conta de sua vida.

Reaja, Timóteo! Você precisa se fortalecer! A vida é cheia de lutas, dificuldade e problemas, Paulo sabia muito bem disso (ele estava preso, apenas por pregar o evangelho de Jesus, quando escreveu esta carta). Mas ele queria lembrar a Timóteo que existe um poderoso fortificante capaz de nos reanimar e nos encher de disposição para enfrentar as dificuldades da vida.

Quando eu era menino lá em Fortaleza, me lembro de ouvir falar de um medicamento, que àquela época já era antigo, mas que ainda era considerado um santo remédio para quem se sentia fraco e sem forças: Biotônico Fontoura. Bastava uma colher por dia desse fortificante para o sujeito se sentir mais disposto e animado. Talvez alguém ainda se lembre do reclame: “Mais ferro para o sangue e fósforo para os músculos e nervos”. Os fortificantes como Biotônico Fontoura e Emulsão de Scott prometiam dar força aos anêmicos e abatidos.

Mas é claro que Paulo não está recomendando Biotônico Fontoura ou Emulsão de Scott. Mas, ao encorajar Timóteo a buscar forças para enfrentar as dificuldades da vida, ele deixou uma boa dica sobre como a gente pode se fortalecer para enfrentar as dificuldades e viver bem a vida com Cristo. Veja o que ele diz:

Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

Em nossos dias, quando alguém se sente abatido ou desanimado, mesmo os irmãos da igreja não sabem indicar esse poderoso fortificante recomendado por Paulo: a graça de Deus mediante Jesus Cristo. Tem gente que manda o sujeito buscar uma tal de “força interior” (Acredite em você mesmo!, dizem eles); tem quem mande o desanimado direto para o psicólogo sem uma palavra de encorajamento e tem quem piore a situação com acusações, dizendo que a culpa da tristeza é da própria pessoa que está triste.

Na igreja, se alguém parece abatido pelas lutas da vida, com aquela cara de sofrimento que incomoda todo mundo, logo tem um irmão que, com toda boa vontade, encontra um motivo e uma solução para a situação em menos de trinta segundos.

- Meu irmão, o seu problema é que você tem orado pouco. Venha participar da reunião de oração às terças-feiras. Eu garanto que essa situação vai mudar.

- Ah... mas a irmã tem faltado muito a Escola Bíblica. Por isso as coisas estão dando tão errado. Venha todo domingo que eu quero é ver se isso não muda!

- E o dízimo? Tá sendo fiel? Tem que ter cuidado com isso, se não...

- E a campanha? E o cursilho? E o ensaio do louvor? E a vigília?

Muitos irmãos, de forma equivocada, pensam que a fraqueza e o desânimo são resultado da falta de envolvimento com os programas e programações da igreja. Eles pensam que a empolgação de “fazer algo para Deus” vai produzir força suficiente para enfrentar as dificuldades da vida. Então, passam a acreditar que quanto mais a gente participar dessas coisas, mas forte a gente vai se sentir. Será que é assim mesmo?

Parece que o Apóstolo Paulo pensava diferente. As duas cartas que ele escreveu para Timóteo deixam claro que o jovem pastor estava se deixando abater pelas lutas. Mas ele não recomendou a Timóteo que fizesse mais coisas para Deus (ou para a igreja). Ao invés de buscar forças naquilo que se faz para Deus, Paulo recomendou a Timóteo que se fortificasse nas coisas que Deus fez por ele.

Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

A verdadeira força para vencer as dificuldades da vida não vem das coisas que a gente faz por Deus, mas daquilo que Deus fez por nós.

Você aceitou a Jesus como seu Senhor e Salvador? Então você precisa saber exatamente o que foi que Deus fez por você, porque isso sim será capaz de fortalece-lo na caminhada. E o que realmente Deus fez por nós? Se voltarmos um pouco no texto (2 Tm 1:8-10) vamos encontrar alguns detalhes daquilo que Deus fez por nós. 

8 Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus,
9 que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos,
10 sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho.

Que maravilha! Deus nos salvou, meu irmão! Foi isso o que de mais importante Ele fez por nós, e é isso que pode nos fortalecer para suportar os sofrimentos da vida. Mas, para que essa força encontre lugar em sua mente você precisa relembrar como foi que isso aconteceu. E foi assim:

Você estava morto em seus delitos e pecados, mas nem se dava conta disso. Vivia por aí, despreocupado, mas morto. Você era como uma espécie de zumbi, um morto-vivo perambulando pelas ruas. Para aparentar vivo você fazia tudo que lhe viesse à mão e à mente e gastava seus dias em buscar algum prazer, alguma alegria que se parecesse com vida. Mas no final sempre ficava um gosto amargo na boca, por que estava faltando alguma coisa.

Percebendo que a vida não pulsava viva em nossos dias, alguns de nós nos esforçávamos muito para sermos boas pessoas e assim parecermos vivos. Mas as coisas não aconteciam do jeito que a gente queria. Era como se faltasse alguma coisa. Mesmo quando tudo parecia legal, não era suficiente. O vazio em seu peito dizia isso.

Então, Deus se aproximou de você (De cada um de nós Ele se aproxima de um jeito diferente. Conforme nossa maneira de viver Ele encontrou um espaço para falar). Devagar, o Senhor lhe convenceu de que sem Ele não ia dar certo. Sem Ele você continuaria um morto tentando parecer vivo. Sem Ele o destino da sua vida seria terrivelmente ruim. Foi aí que Jesus lhe foi apresentado... E a possibilidade de ter os seus pecados perdoados para sempre se tornou uma realidade... E a bênção de uma vida de verdade que começa agora e dura por toda a eternidade se tornou um presente à sua disposição.

Aí você disse sim! Você desistiu de apenas parecer vivo e aceitou a vida verdadeira que Deus oferece a todos que abrem mão da tentativa louca de Adão, de viver por conta própria e desconectado da única fonte de vida. Você acreditou no amor de Deus por você e aceitou ser salvo por ele através da morte de Cristo na Cruz.

Então, foi assim: você foi salvo por Deus quando desistiu de salvar a si mesmo!

Por que Deus fez isso? Ele não precisa de nós, não depende de nós... Por que Ele se ocupou em livrar você da morte e lhe dar vida? Por que Jesus foi enviado e sofreu em nosso lugar a punição por nossos pecados? Por que Deus arranjou um jeito de perdoar você? No evangelho de João diz que tudo isso foi por amor: Deus amou o mundo de tal maneira...

O que nós fizemos para merecer esse amor? Nada! Por que Deus nos amou dessa forma tão intensa, ponto de enviar a Jesus? Não existe razão para Ele fazer isso, meus irmãos. Esse amor de Deus por você é gratuito e sem motivo. E quando o amor é assim, gratuito e sem merecimento, isso se chama GRAÇA! Amor gracioso, uma expressão da própria natureza de Deus! Pois bem, é nessa graça que o Apóstolo Paulo recomenda que a gente buque força.

Quando entendemos e sentimos o amor de Deus por nós, quando confiamos plenamente que Deus é por nós, quando nós vislumbramos a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor gracioso de Deus, então nos sentimos fortes e fortalecidos para enfrentar a vida. Deus é por nós, quem será contra nós?! Que verdade maravilhosa!

E ainda tem mais!

Paulo explica a Timóteo que tudo isso: a morte de Cristo por nós, a salvação, a eternidade com Deus... Tudo isso foi providenciado por Deus “antes dos tempos eternos”. Isto quer dizer que antes de você existir, Deus já o amava e já havia estabelecido uma forma de resgatá-lo da morte e de lhe dar vida. Esse amor gracioso que já existia “antes dos tempos eternos” se manifestou a nós através de Cristo Jesus, o nosso salvador.

Essa é a fonte de força de que precisamos! Esse é o fortificante eficaz que anima a vida, que produz alegria, que enche a boca de sorrisos, que ergue o abatido torna a vida uma aventura de fé. Quando estamos fortalecidos por esse amor gracioso, aí estamos prontos para trabalhar com a igreja, servir aos irmãos e fazer diferença na vida das pessoas em nossa volta.

Abastecidos pela graça estaremos prontos para os sofrimentos e as lutas do serviço e da fé. Inverter a ordem, buscando força no serviço só vai nos exaurir, chegando ao ponto de nos tornamos vazios.

Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

Eu me arrisco a dizer que você, assim como eu, acostumou-se a buscar força em outros lugares e de outras formas. Também me arrisco a dizer que você já se frustrou e se decepcionou diversas vezes tentando se fortificar em outras fontes.

·        Pessoas que você considerava um braço forte lhe decepcionaram. Quando você mais precisou que elas estivessem do seu lado, elas falharam.

·        Líderes religiosos em quem você confiava lhe traíram. Você esperava que eles fossem capazes de lhe fortalecer, mas descobriu que eles mesmos também eram fracos.

·        Sem medo de errar, posso dizer que as fórmulas religiosas (rezas, orações, vigílias, estudos, correntes, novenas, pactos, compromissos e jejuns) já lhe deixaram alguma vez na mão. Elas não foram suficientes para torná-lo forte. Bastou passar um pouco de tempo e lá estava você se sentindo fraco de novo.

·        Por fim, e por experiência própria, eu me arisco a dizer que você já se frustrou consigo mesmo: promessas feitas e quebradas, votos não cumprimos, pecados que teimam em fazer parte de sua vida. E embora você queira fazer a coisa certa, nem sempre consegue (foi assim que você descobriu que essa tal de forma interior não tão forte assim).


Que tal abrir mão desses fortificantes baratos e decidir buscar força na graça (de Deus) que está em Cristo Jesus? Hoje é um ótimo dia para começar a olhar para o amor gracioso de Deus e deixar que a maravilhosa graça salvadora do Pai encha seu coração.

01 julho 2012

Salvação pela integridade?




Seu ponto de vista está começando a ficar mais claro, Simone, no entanto ainda tenho algumas dúvidas sobre o comentário anterior e outras que surgiram a partir de seu novo comentário.

Você apresenta a salvação como resultado de um mix de fé e vida íntegra, isto é, a pessoa precisa confiar em Jesus e apresentar determinados comportamentos, como integridade e retidão, para ser aceita por Deus. Embora compreenda, como já afirmei em outro comentário, que a fé produz uma vida íntegra que agrada a Deus, não posso concordar que a integridade é que resulta em nossa aceitação por Deus. Ele nos salvou por sua graça e misericórdia quando estávamos mortos em nossos delitos e pecados, portanto nosso nível de integridade era zero.

Acho que compreendi a relação que você fez entre fé e graça, mas tenho algumas restrições aos termos usados. Prefiro o entendimento de que a fé não é um instrumento para nos apoderarmos da Graça, mas sim um relacionamento de confiança crescente em resposta ao amor de Deus por nós; também acho que nosso contato com a Graça de Deus não se dá em termos de "apoderamento", como se o processo estivesse sob nosso controle, mas compreendo que somos alcançados por esta graça em uma iniciativa que não é nossa.

Não compreendi bem o que seria o "estado de graça" a que você se referiu nesse último comentário. Por outro lado, entendo que é a graça de Deus, expressa no amor em forma humana chamado Jesus, que destranca as portas da desconfiança para que minha resposta de fé seja possível. Assim, é a graça de Deus que conduz à fé, e é a confiança em Deus que resulta em salvação. Isto era assim no AT e é assim a partir de Cristo

É interessante este diálogo porque embora a palavras que estamos usando sejam as mesmas o significado que damos elas são diferentes. Ainda assim estamos juntos no propósito de caminhar com Cristo em novidade de Vida.

Aristarco Coelho




Texto extraído e editado a partir do fórum de discussão realizado dentro do contexto da disciplina "Temas do Novo Testamento" tendo como assunto "Exclusivismo, inclusivismo e pluralismo religioso". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

15 junho 2012

Sola fide - um princípio anti-judaico?


Síntese comentada com base no texto "Sola fide - um princípio anti-judaico?", escrito por Gottfried Brakemeier, professor na Escola Superior de Teologia, e publicado em Estudos Teológicos 2009 Vol 49 N° 1. 

Comente: "Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê." (Rm 10.4).

Analisada a palavra “fim” sob a compreensão de finalização ou de finalidade, o apóstolo, em sua afirmativa, contrapõe seu novo entendimento sobre salvação, adquirido a partir de Cristo, ao entendimento aprendido de seus mestres no judaísmo. Ao colocar Cristo como o ponto final no entendimento da lei como caminho de salvação, o apóstolo corrobora e dá corpo ao pensamento do próprio Jesus que se afirmou ele mesmo o caminho para Deus.

Não que a lei tenha sido abolida, mas claramente foi redefinida em sua normatividade: deixa de ser tratada como um fim em si mesmo e se legitima apenas se apoiadora da prática do amor; perde a centralidade na vida do fiel, que reconhece no amor a “regra” maior; perde também sua autonomia podendo ser revista se o critério do amor não for nela encontrado.

Paulo reflete o pensamento que Cristo expressou sobre diversos aspectos da lei (como o sábado) afirmando indiretamente que o homem não foi criado para lei e sim vice-e-versa. Desta forma, se a vontade de Deus não está circunscrita à Torá, é razoável concluir que outras nações também tenham sua dose de percepção a respeito dessa vontade – tese que o apóstolo advoga com clareza.

Por outro lado, o apóstolo parece apontar para uma redefinição também da função da lei. Em contraponto à ideia de que a lei seria um instrumento para manter o povo ao alcance da promessa abraâmica (nomismo da aliança, segundo Sanders), Paulo apresenta a lei como uma poderosa lupa a ampliar e revelar nossa incapacidade de atender ao ideal divino para um relacionamento com Ele e com o próximo. Assim, a lei deixa de ser instrumento de salvação para cumpri a função de desvelar nossa profunda necessidade de salvação – concedida, na verdade, por graça (como a promessa feita a Abraão); não pelo cumprimento da lei, mas mediante a fé.

As investidas de Paulo, aparentemente contra a lei, na verdade são contra a confiança na lei. Ao expor o zelo sem entendimento de seus compatriotas (e a arrogância dos gentios), ele não poupa o crasso engano de quem se apresenta cheio de confiança na capacidade de agradar a Deus por si mesmo e certo de que a lei (no caso dos judeus) será seu apoio nessa empreitada.

Desta forma, é aquele que crer confiadamente no amor gracioso de Deus encarnado em Cristo que é por Ele justificado; Ele é o final das fracassadas tentativas de justiça própria pelo cumprimento da lei e ao mesmo tempo o destino final para onde a lei nos conduz a fim de sermos agraciados pelo amor do Pai.

Comente: "O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." (2 Co 3.6).

A perspectiva da existência de duas alianças faz parte apenas do ponto de vista cristão, que está apoiado no reconhecimento de que a igreja foi construída sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas; afinal, Cristo é o cumprimento da promessa feita a Abraão e anunciada pelos profetas.

Ainda que o cristianismo não reconheça na lei (nomos) a qualidade de meio de salvação, admite a importância da aliança anterior ao fazer clara distinção entre a lei e a Torá, que a contém. Neste ponto, fica claro que a rejeição da lei e suas obras como “tábua de salvação” não pode ser confundida com anti-judaísmo; a aliança anterior é mantida não apenas como ícone, mas é utilizada como fundamento teológico para explicar a nova aliança.

Por outro lado, a partir da compreensão da proposta de Jesus para nosso relacionamento com Deus e com as pessoas, onde a lei e suas obras dão lugar à fé e à gratidão, a comunidade cristã reconhece a Jesus como mediador de uma nova e mais ampla aliança que tem como marca o perdão concedido a uma humanidade irremediavelmente pecadora.

Está claro que essa nova aliança não surge do nada propondo algo totalmente inovador. No entanto, o elemento trazido por Jesus da periferia para o centro da questão, a fé, faz tanta diferença que não é exagero chama-la de nova. “A tua fé te salvou” afirmou Jesus. Paulo resgatou os sinais dessa nova aliança já registrados na primeira: o justo viverá por fé, Abraão creu e isso lhe foi imputado por justiça. Assim, em quanto na primeira aliança justos são aqueles que guardam a lei a partir de seu esforço e dedicação, na nova aliança são aqueles que confiam no amor gracioso de Deus que são justificados.

Um dos principais pontos de tensão no relacionamento entre as duas alianças é exatamente o absurdo da justificação por graça mediante a fé. Isso porque ele expõe todos os esforços de justiça própria realizados pelo ser humano. “Não há um justo... não há quem faça o bem... nem um só.”, compilou o apóstolo Paulo em argumento que constrange o ser humano (judeu ou grego) a despir-se de suas pretensões e aponta para a justiça que vem de Deus.

Desta forma, o apóstolo apresenta uma nova aliança em que as pessoas encontram vida, valor e significado na fé que nasce da ação do Espírito, em substituição ao mérito que se adquire do cumprimento das exigências da lei. No cerne do evangelho pregado por Paulo não podem subsistir dois caminhos, um para os judeus mediante a lei e outro para os cristãos mediante a fé. O povo de Deus é um só formado de todos aqueles que abandonaram a justiça própria e se apropriaram da justiça de Deus demonstrada em Cristo Jesus.

Não há, no entanto, na apresentação de Paulo, um desejo de distanciamento entre as alianças. Somos herdeiros da fé de Abraão, recebida por graça. São esses os elementos capazes de nos proteger do veneno letal presente no esforço próprio e na auto-justificação.