14 dezembro 2015

O papel do sofrimento na maturidade cristã


O papel do sofrimento na maturidade cristã
Comunidade Batista Mangabeira 4 - João Pessoa/PB 22/11/2015

É sempre um privilégio compartilhar a leitura e a reflexão das Escrituras, mas fazê-lo com os irmãos aqui na CBM é um privilégio duplo.

O pouco tempo que temos convivido aqui não é empecilho para testemunhar do amor que vocês têm por Jesus, irmãos, e do desejo pulsante de viver a vida de forma coerente com o chamado do evangelho de Jesus; essa vocação que alcança a todos nós que fomos alcançados pela graça salvadora de Cristo.

Minha gratidão ao Pr. Francisco por compartilhar, hoje comigo, a responsabilidade de ministrar a Palavra de Deus.

Irmãos, quero convidá-los a abrir suas Bíblias na carta escrita por Tiago, no primeiro capítulo. Depois da leitura vamos orar e refletir juntos sobre os versos de 1 a 8.

Tiago 1:1-8

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações.

2 Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, 3 pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. 4 E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.

5 Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. 6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. 7 Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; 8 é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações.

Durante o ministério de Jesus sua família (José, Maria e seus irmãos) viveu um certo afastamento dele, talvez constrangidos diante da comunidade. A questão é que Jesus não tinha exatamente um comportamento padrão. O filho mais velho do casal deixou a promissora profissão de carpinteiro e tornou-se um pregador itinerante (tido por muitos como mais um milagreiro), e por onde andava fazia perguntas incômodas provocando as pessoas sobre a forma como elas viviam a fé em Deus.

A maioria dos estudiosos concorda que o Tiago autor desta esta carta era um dos irmãos de Jesus, mas, como o resto da família, não acompanhou de perto o ministério do irmão. Ocorre que depois da ressurreição de Jesus, ele rendeu-se ao evangelho e tornou-se naturalmente um dos líderes da igreja em Jerusalém.

Há muito pouco sobre Tiago nas Escrituras, mas a tradição cristã afirma que ele tinha o apelido de “Joelho de Camelo”, por causa dos calos grossos que se formaram depois muitos anos de oração constante.

Nesta carta (45 e 50 d.C), ele, que era um homem de oração, procura orientar os judeus seguidores de Jesus que estavam espalhados pelo mundo sobre como aplicar as boas novas do evangelho à vida. É, portanto, uma carta aberta, sem um destinatário único. A igreja de Jesus tem preservado estes escritos como inspirados por Deus para orientação do seu povo.

2 Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, 3 pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. 4 E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.

Quando leio essa orientação de Tiago e comparo com as orações que se fazem em nossas igrejas hoje, sou levado a afirmar que estamos vivendo um outro evangelho.

·        Grande parte de nossas orações são o desejo de livrar as pessoas que amamos de sofrimentos e aflições. Pedimos a Deus que intervenha de forma sobrenatural e faça parar aquela situação ruim.

·        Outro aspecto em relação a isso é que em muitas igrejas a aflição de um irmão ou de uma família da igreja é motivo até de comentários sobre a fidelidade deles a Deus. Como os amigos de Jó, ficamos com uma pulga atrás da orelha: alguma coisa errada ele deve ter feito!

·        Na maior parte da cultura evangélica de nosso país não há nada de bom no sofrimento. Sofrer é sempre um mal sinal.

Essa teologia tão comum em nossos dias ensina que um dos motivos pelo quais vale a pena ser amigo de Deus é essa “apólice de seguro” contra a dor, o sofrimento e a aflição a que pretensamente temos direito pela fé.

Parece que Tiago pensava diferente. Ele nos ensina que as lutas e aflições devem ser consideradas “motivo de grande alegria”. Isso pode parecer estranho para uma cultura que evita todo tipo de dor ou desconforto. Ao contrário de muitos que veem as lutas e aflições da vida como sinais de pecado ou de punição da parte de Deus, Tiago as chama de “provação”.

Então meus irmãos, penso que precisamos rever o modo como temos lidado com as lutas e aflições da vida. Uma mudança importante é compreender que o sofrimento não é necessariamente um sinal de pecado na vida do crente, nem tampouco é uma punição de Deus. Em vez disso, as aflições da vida, segundo Tiago, têm um aspecto bastante positivo e devem ser consideradas “motivo de grande alegria”.

Bom, se pararmos aqui poderemos ser acusados por alguns de masoquistas, isto é, pessoas que sentem prazer no sofrimento pelo sofrimento. Então, precisamos seguir o raciocínio de Tiago para que fiquem bem claras as razões pelas quais as aflições da vida devem ser recebidas como se fossem presentes dados por Deus.

Uma das ideias que estão presentes na cada de Tiago é que a fé não é mero assentimento intelectual. Fé não é apenas concordar com algo. Fé é uma rendição e precisa ser experimentada em situações reais.

Neste primeiro capítulo ele esclarece que as aflições são exatamente as oportunidades que temos para colocar nossa fé na estrada da vida, afim de que seja exercitada e se fortaleça. Tiago afirma que se seguirmos esse caminho a perseverança será um fruto saboroso em nossas vidas.

Perseverança. Muitos de nós desejamos ser perseverantes, achamos bonito aqueles que não desistem; mas poucos se dispõem a trilhar o caminho que leva à perseverança.

Os pregadores da prosperidade e da confissão positiva desafiam as pessoas a não aceitar o sofrimento. Ao rejeitar a dor eles desprezam a ideia de perseverança em meio às lutas da vida. Ao invés disso, o evangelho de Jesus nas palavras de Tiago ressalta a perseverança e nos convoca a encarar o sofrimento e a aflições com fé.

Alguns se sentem desafiados pela pregação da prosperidade e decidem dizer um não ao sofrimento. Mas o desafio que realmente se parece com a fé dos apóstolos é o de dizer sim às aflições da vida, confiando que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

Uma pergunta é necessária para nos apropriarmos de mais uma parte do ensino de Tiago sobre o papel das aflições na vida dos cristãos: Já aprendemos que enfrentar os problemas com fé nos tornar perseverantes. Esse é um aprendizado desafiador. Mas qual a vantagem de nos tornarmos perseverantes?

A resposta que recebemos de Tiago é que nos momentos em que nossa fé é exercitada nas aflições pelas quais passamos, e aprendemos a perseverar, nós nos tornamos pessoas mais plenas em nossa humanidade: nas palavras dele nos tornamos crentes “maduros e íntegros”.

Veja o que está acontecendo em nossos dias, irmãos, essa teologia que ensinas às pessoas que as aflições devem ser rejeitadas, e o sofrimento deve ser banido da vida dos cristãos, acaba negando a esses mesmos cristãos a oportunidade de exercitar a fé, amadurecer e se tornar tudo aquilo que Deus espera de seus filhos. O resultado são igrejas cheias de meninos na fé, inconstantes e inseguros, levados por todo vento de doutrina

O sofrimento e a dor não são agradáveis. Não há prazer em sofrer. Mas eles podem ser caminhos para aprendermos a confiar em Deus, se os recebermos como instrumentos da pedagogia divina.

Talvez você tenha passado tanto tempo fugindo das aflições que nem saiba direito como é essa coisa de se alegrar com elas. Talvez você nunca tenha aprendido a olhar para a dor e o sofrimento como parte da pedagogia de Deus para nos ensinar sobre confiança. “Como eu faço? ”, você pode perguntar. O desafio de aprender em meio às aflições é grande, mas você não está só.

Muitos irmãos, no passado e em nossos dias, têm trilhado esse árduo e proveitoso caminho. Há muitos livros escritos sobre isso e muitos testemunhos do poder sustentador de Deus. Você pode depois falar com o Pr. Francisco e pedir sugestões de leituras edificantes para enfrentar os dias de aflição e sofrimento. Olhe para a vida e a experiência desses irmãos como modelos que podem nortear sua própria caminhada.

No entanto, meus irmãos, apropriando-me mesma expressão usada pelo Pr. Francisco em um dos seus últimos textos: não podemos terceirizar a nossa fé. É importante e necessário olharmos a caminhadas dos irmãos que trilharam o caminho do amadurecimento como modelos, mas isso não substitui nossa própria caminhada.

Há muitos irmãos que tentam se alimentar espiritualmente apenas admirando a vida dos outros. Vivem em busca de um testemunho poderoso, são caçadores de conferências e encontros, procuram demonstrações de poder na vida dos outros, desejam uma palavra forte de algum pregador que transforme definitivamente suas vidas. Essas pessoas estão correndo atrás do vento.

Entenda isso, meu irmão, o seu crescimento espiritual não pode ser colocado na conta de outra pessoa. Cada um de nós precisa assumir a responsabilidade sobre nossa caminhada com Cristo.

(Existe uma obra muito conhecida, mas pouco lida, escrita no século XVII por John Bunyan, que fala sobre essa caminhada e suas aflições. O Peregrino é a história intrigante de Cristão rumo à Cidade Celestial. Através de muitas alegorias e simbolismos, é possível acompanhar as agruras que fazem parte da vida de todos que seguem a Jesus.)

Essa busca por sabedoria e essa convicção da responsabilidade que cada um tem a respeito de sua caminhada com Deus nos levar aos versos seguintes do nosso texto.

5 Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. 6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. 7 Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; 8 é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.

O que fala Tiago sobre a responsabilidade que temos com nosso próprio amadurecimento na fé? Ele diz que não é demérito para ninguém se sentir inseguro sobre como enfrentar as aflições da vida. Ele afirma que se faltar sabedoria, não desista! Mesmo sentindo despreparado e inseguro, não desista! O jogo não está perdido!

Por meio de Jesus Cristo, você tem acesso àquele que é a fonte inesgotável de sabedoria e poder. Tiago fala isso de forma singela e confiada: “peça a Deus!”.

Vejam só, irmãos, é assim que as Escrituras fazem. O texto sagrado nos empurra o tempo todo para os braços do Pai, para desenvolvermos com Ele um relacionamento de amor e confiança. Então, o que fazer quando as aflições da vida nos consomem e nos sentimos incapazes de lidar com elas? Corra para os braços do Pai e peça a Ele que o ensine!

Quando não houver respostas fáceis, não desista! Peça À Deus a sabedoria para viver, Tiago afirma que Deus não raciona sabedoria, ao contrário, ele dá livremente, de boa vontade a quem pedir.

A teologia da prosperidade e a confissão positiva afirmam que devemos exigir de Deus a suspensão imediata dos sofrimentos; eles nos encorajam a extorquir Deus mediante ameaças (como se isso fosse possível). Mas as boas novas do evangelho de Jesus pelas palavras de Tiago nos afirmam que não precisamos (nem podemos) colocar Deus contra a parede. O Senhor está pronto para dar livremente e de boa vontade aquilo de que realmente precisamos: sabedoria para viver a vida e enfrentar suas aflições e sofrimentos.

A Aproximação
6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar,

Para concluir nossa reflexão sobre o papel das aflições no amadurecimento de nossa fé, devemos pensar não apenas sobre a necessidade de nos aproximarmos de Deus para receber dele sabedoria afim de viver a vida. É importante também olhar para a forma dessa aproximação.

Algumas vezes nos aproximamos de Deus um pouco desconfiados. Temos dúvidas sobre o caráter dele. Por exemplo, tem gente que não ora de jeito algum dizendo: “Senhor, faça sua vontade em minha vida!”. E se a vontade dele foi me enviar como missionário na Síria? E se ele não quiser que eu case? E se não for vontade dele que eu passe no concurso?

Quando pensamos assim é por que ainda temos dúvidas sobre o caráter de Deus, isto é, será que Ele realmente fará o que é melhor para minha vida? Essa aproximação temerosa precisa dar lugar uma atitude de confiança.

Mas como confiar? Só tem um jeito de confiar. Confiando. Confiar é correr o risco. Como os grandes expoentes da fé aprenderam a confiar? Experimentando se aquilo que Deus prometia era verdade. Eles atravessaram o lamaçal pisando sobre as pedras que o Senhor disse para pisar.

É essa a forma de aproximação que Tiago afirma que devemos ter ao pedirmos a Deus sabedoria para enfrentar as aflições da vida.

6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar,

A nossa fé pode e deve encontrar fundamento na experiência dos homens e mulheres cujas histórias foram registradas nas Escrituras, e isso é muito bom. Também podemos trazer à memória os testemunhos de homens e mulheres de Deus de nosso próprio tempo como um encorajamento para nos aproximarmos dele com confiança.

Mas é no amor demonstrado na cruz que deve estar o fundamento da nossa confiança no caráter de Deus.

31 Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas? (Rm 8.32)

8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. (Rm 5.8)

16 Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade. (Hb 4.16)

Conclusão

Tiago escreveu esta carta com o propósito de orientar os irmãos a viverem a fé que diziam ter em Jesus de maneira prática. Isso inclui como lidar com as aflições da vida, que alcançam a todos nós. O que fazer?

Os pregadores da prosperidade e da confissão positiva ensinam que não devemos aceitar o sofrimento e as aflições da vida. Dizem eles que devemos enxotar a qualquer coisa que se pareça com sofrimento para longe de nossas vidas, porque não fomos criados para sofrer e tempo de Deus um seguro contra o sofrimento, que é sempre obra do Inimigo em nossas vidas.

Mas o evangelho fala bem ao contrário disso, dizendo que as aflições fazem parte da vida humana. Afirma também que devemos nos alegrar, mesmo em momentos de aflição, porque eles são o caminho para desenvolvermos nossa confiança no Senhor e nos tornarmos perseverantes na fé em Jesus.

E não há problema se nos sentirmos inseguros, sem saber como enfrentar as aflições da vida com confiança. Temos livre acesso a Deus por meio de Jesus e podemos pedir que Ele nos socorra com a sabedoria de que precisamos.

Precisamos apenas nos lembra de que Deus é, do seu grande amor por nós demonstrado na cruz entregando o próprio filho em nosso lugar, para que a nossa confiança nele se renove e nos aproximemos do trono da graça como filhos amado.


Que o Senhor complete em nossas vidas a boa obra que um dia começou em nós!

27 novembro 2015

Em paz com Deus



Em paz com Deus
Comunidade Batista Mangabeira 4 - Vigília de Oração

Esta semana fui provocado pela postagem de um amigo no Facebook. Diante da onda de violência e medo na Europa, com ameaças de bomba e atentados terroristas, ele fez um desafio aos cristãos pacifistas:

“Hoje a escolinha do meu filho André, que funciona num prédio adjacente a um hospital, foi evacuada por uma ameaça de bomba. Fiquem caladinho aí, crentes pacifistas, quando a ameaça de bomba for na escola dos seus filhos, você estará qualificado a palpitar sobre a política dos outros países. ”

Segundo o meu amigo, os crentes que falam contra a violência ou falam a favor da paz, só fazem isso porque ainda não forma diretamente atingidos pelo medo e o horror.

Minha TL está lotada: palavras de baixo calão, acusações sem prova, incentivo à violência, apoio a justiceiros, vídeos de linchamento, afrontas pessoais a políticos e autoridade, frases sectárias e racistas... a maioria delas postadas por crentes. É esse o caminho proposto para Jesus por seus seguidores?

Pacificadores X Pacifistas

Meu amigo falou dos pacifistas, que são os seguidores do pacifismo (uma corrente filosófica que se opõe à guerra). Já Jesus falou sobre os pacificadores. 

Veja o que ele afirmou:

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. ” Mt 5.9

Algumas traduções utilizam “Feliz” no lugar de Bem-aventurado, e outras usam “abençoado”. No final das contas, parece que Jesus está falando algo muito positivo sobre os pacificadores – ou pacíficos. O adjetivo grego pode ser entendido das duas formas.

Diante das duas formas, acho que Jesus está apresentando duas características diferentes sobre os pacificadores: (1) eles promovem a paz e (2) vivem em paz.

Promover a paz tem relação com nossa intervenção no mundo ao nosso redor. Não é difícil concordar que as pessoas andam por aí à beira de um colapso, envolvidas em guerras e conflitos umas com as outras. Promover a paz tem a ver sobre como nós lidamos com isso.

Somos como uma alavanca que se enfia no meio da engrenagem desgastada dos relacionamentos e acaba com a última esperança de paz, ou somos com graxa macia que lubrifica e reduz o atrito entre as pessoas?

Viver em paz tem relação com nossas próprias guerras e desacertos. Que tipo de pessoas somos quando nossos direitos são negados, nosso orgulho é ferido, nossos bens são danificados e nossas famílias são ameaçadas?

Se prestarmos atenção, veremos que a fala de Jesus sobre os pacificadores é surpreendente e inquietante. Ele sugere algo inusitado: que a felicidade experimentada por quem promove a paz ou simplesmente vive em paz não é a ausência de guerras, mas o fato de que eles serão reconhecidos pelas outras pessoas como filhos de Deus, pessoas cujo relacionamento com Deus está pacificado.

Esse entendimento é desafiador porque algumas pessoas podem pensar que o prêmio dos pacificadores é a paz. Jesus, no entanto, parece afirmar que os pacificadores já têm a paz instalada dentro deles, como resultado de haverem feito as pazes com Deus.

A filosofia pacifista, de certa forma, busca a paz como um prêmio a ser alcançado; já os pacificadores segundo Jesus foram alcançados pela paz mediante sua reconciliação com Deus. Por isso distribuem paz por onde passam.

Paz com Deus

Ao chamar de felizes e abençoados aqueles que promovem a paz e vivem em paz, porque serão reconhecidos como filhos de Deus, Jesus estava afirmando que o estilo de vida dos pacificadores é uma decorrência direta de fazerem parte da família de Deus.

Segundo Jesus, as pessoas olharão para nosso modo de vida e reconhecerão pelos nossos procedimentos que estamos em paz com Deus. Será que está acontecendo assim?

Bom, talvez, ao olhar para os problemas do seu dia-a-dia, na fila do banco, no trânsito da cidade, na reunião de família, nos encontros com os irmãos da igreja, você comece a questionar sobre essa paz com Deus. Será que realmente aconteceu comigo?

Vamos ver a explicação do Apóstolo Paulo sobre essa “paz com Deus”, que é o motor da vida dos pacificadores:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a essa graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. ”

As palavras de Paulo são reveladoras. Ao falar que a paz com Deus chega por meio de Jesus, ele aponta para o estado do nosso relacionamento com Deus antes de Jesus: belicosidade. Antes de Jesus estávamos armados até os dentes contra Deus e sua palavra.

A guerra que muitas pessoas travam dentro de si é sobre a real existência de Deus e sobre seu caráter.

As pessoas descreem na ideia de um Criador; rejeitam a noção de um criador soberano; e desconfiam de um criador soberano e amoroso, que sabe o que é melhor pra nossa existência e deseja nos presentear com esse melhor.

Paulo aponta para o caminho da confiança em Deus para que essa guerra termine. É mediante a fé que somos justificados; é pela fé que temos acesso à graça de Deus. Isso significa que a saída é nos rendermos. O ser humano é chamado a confiar no amor de Deus demonstrado por Jesus Cristo.

Ao nos aproximarmos de Deus crendo no amor dele por nós (diante do que fez Jesus na cruz), somos imediatamente perdoados. Por causa de nossa confiança em Jesus abraçando o significado da cruz recebemos um presente: Deus nos declara justos. Isso significa que o nosso relacionamento com Ele é restaurado e se torna aquilo que deveria ser.

Antes de Jesus a marca era de rebeldia e desconfiança, o que nos tornou inimigos de Deus; agora é de submissão e confiança, o que nos fez parte de sua família. Não é à toa que, escrevendo aos irmãos da cidade de Éfeso, o apóstolo afirma sobre Cristo: “Ele é a nossa paz”.

Concluindo

Meu amigo, que é também um seguido de Jesus, chamou os crentes de pacifistas. Talvez alguns de nós realmente sejamos apenas isso: pessoas que são contra a guerra e as desavenças, que buscam a paz como um prêmio a ser alcançado.

Mas o chamado que temos de Jesus através do evangelho vai além do pacifismo. É para assumirmos nossa condição de pacificadores, pessoas que foram alcançadas pela paz no dia em que se renderam a Deus; pessoas que distribuem paz por onde passam, porque tiveram suas almas pacificadas pelo grande amor de Deus e agora fazem parte da grande família de Deus.

Não desanime se você se percebe um gladiador da fé. Também não fique triste se suas atitudes se parece com a dos pacifistas, sempre em busca da paz em algum lugar. Quem um dia entregou os pontos e desistiu de brigar com Deus, confiando na obra de Cristo na cruz, tem dentro de si os recursos para ser um pacificador. Seu relacionamento com Deus já foi pacificado e colocado na perspectiva certa, agora você precisa apropriar-se dessa verdade: não há nada temer!

É o próprio Jesus quem diz:


“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. ” Mt 5.9

29 junho 2015

Lugar de oração, comunhão, paz e amor


Mensagem pregada em 28/06/15 no aniversário de fundação
 da Igreja Evangélica Batista no Castelo Branco - João Pessoa/PB

Texto Básico – Hebreus 10

Agradecimentos

Hoje é dia de festa e celebração por mais um ano de existência da igreja batista, aqui no Castelo Branco. Eu estou convicto de que o testemunho do amor de Deus, revelado em Jesus, tem sido apresentado com graça e compaixão através dos irmãos aqui presentes e de muitos outros que por aqui passaram durantes esses 17 anos.

Para mim é um privilégio e uma alegria poder compartilhar as Escrituras em uma data tão especial. Por isso, deixo aqui meu agradecimento pelo convite feito através do querido Anchieta, diácono nesta igreja e companheiro nos estudos teológico ali no ITEBES.

Minha gratidão também ao Pr. Juarez por compartilhar de forma generosa o púlpito desta amada igreja.

Peço os irmãos que agora orem comigo pedindo ao Senhor que continue falando conosco e nos dê compreensão do texto bíblico em que vamos refletir. Peça junto comigo que Ele também nos dê força e coragem para aplicar Sua Palavra em nossas vidas.

A Carta aos Hebreus

Não sabemos com certeza quem foi o autor da Carta aos Hebreus. Alguns pensam ter sido o apóstolo Paulo, outros acham que a carta poderia ter sido escrita por Apolo. Provavelmente o texto foi escrito na década de 60 do primeiro século da era cristã, portanto menos de 40 anos depois da morte e ressurreição de Jesus.

Pelo teor da carta é fácil concluir que ela foi endereçada a judeus que haviam se convertido a Cristo. O texto fala muito de rituais e práticas que eram comuns na antiga aliança e tenta ajudar seus leitores a compreender como é viver a vida com Deus nessa nova aliança que Jesus inaugurou.

Os judeus cristãos vinham de uma origem muito religiosa, isto é, antes de seguirem a Jesus eles seguiam uma porção de regras de comportamento e rituais de culto. De certa forma, eles eram como muitos de nós que chegamos a Cristo vindos do catolicismo tradicional, das crenças e crendices populares ou do esoterismo supersticioso e seus rituais.

O escritor dessa carta procurou deixar bem claro que todo esforço religioso para reconectar o ser humano a Deus é insuficiente. Ele aponta para Jesus e sua morte na cruz como o caminho eficaz e suficiente para que a ação de Deus seja completa em nossas vidas.

Ele explica que tentar trazer regras e ritos religiosos, crendices ou superstições e misturar isso com a nova aliança firmada em Cristo Jesus só faz confundir as pessoas e retardar o processo de santificação em nossas vidas. Tanto isso é verdade, que no capítulo 5 o autor deixa claro que, pelo tempo de fé, muitos dos irmãos para quem a carta foi escrita já deveriam ser mestres da Palavra, mas continuavam como crianças, que não podem comer comida sólida, mas apenas leite e papinha.

Sacrifícios e Sacerdotes

A religião judaica, de onde aqueles irmãos hebreus vieram, era uma religião de sacrifícios e sacerdotes. Eles tinham uma lei a ser cumprida e esforçavam-se para fazer tudo quanto estava escrito nela. Quando eles fracassavam, e se tornavam culpados por quebrar a Lei, ofereciam sacrifícios e faziam ofertas demonstrando seu arrependimento e pedindo perdão a Deus.

Isso pode parecer um bom caminho para alguns, mas o escritor de Hebreus, meus irmãos, nos ajuda a entender que esse modo de viver a fé não era (e não é) eficaz, mas apenas um vislumbre, uma imagem retorcida, uma sombra daquilo que a Nova Aliança em Cristo finalmente nos trouxe.

 1 A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos. Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar. 2 Se pudesse fazê-lo, não deixariam de ser oferecidos? Pois os adoradores, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais se sentiriam culpados de seus pecados. 3 Contudo, esses sacrifícios são [apenas] uma recordação anual dos pecados, 4 pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados. (Hebreus 10.1-4 – NVI)

Hoje em dia há muitas pessoas que tentam reviver esse esquema de sacrifícios e sacerdotes. Há lugares onde as pessoas são chamadas a fazerem sacrifícios (o que normalmente envolve dinheiro ou bens) para que Deus possa ouvi-las e atende-las. Esses guias agem como os antigos sacerdotes, como se fossem mediadores entre as pessoas e Deus.

Antigamente apenas os sacerdotes autorizados é que sabiam como era o culto que Deus aceitava. Eram eles que conheciam as regras para os sacrifícios e que apresentavam as ofertas diante de Deus. Mas esse sistema era apenas um prenúncio do que estava adiante. Em Cristo todo esse modelo caducou, porque não era eficaz para remover os pecados.

11 Dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religiosos; repetidamente oferece os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover os pecados. (Hebreus 10.11 – NVI)

Meus irmãos, a partir de Cristo não existe mais a figura do líder religioso cumprindo funções sacerdotais; não precisamos mais de sacerdotes, porque Cristo, o perfeito sacerdote, intercede por nós hoje.

Tampouco há a necessidade de que sacrifícios (correntes, novenas, dízimos, jejuns, vigílias, etc.)  sejam oferecidos a Deus para que Ele seja bondoso conosco e ouça nossas orações; Jesus já se ofereceu, uma única vez, como oferta perfeita em nosso lugar. Vejamos o que diz o escritor da carta aos hebreus:

12 Mas Cristo entregou-Se a Si mesmo a Deus pelos nossos pecados, como um único sacrifício duma vez para sempre, e depois Se assentou no lugar de maior honra à direita de Deus, 13 esperando que os seus inimigos sejam postos debaixo dos seus pés. 14 Pois por meio daquela oferta única Ele tornou perfeitos para sempre aos olhos de Deus todos quantos Ele está santificando. (Hebreus 10.12-14 - BV)

O que isso tudo tem a ver como nosso tema?

É simples. Estamos pensando hoje na igreja como Casa de Deus, um lugar de oração, comunhão, paz e amor. Mas, enquanto fazemos isso nosso passado religioso e a influência de muitos pregadores midiáticos, pode nos levar à ideia de que ser igreja, e experimentar a bênção da oração, da comunhão, da paz e do amor, tem a ver com sacerdotes e sacrifícios.

De forma equivocada, podemos imaginar que aquilo que desejamos viver como igreja é o resultado do esquema de sacerdotes e sacrifícios. Mas não é verdade!

Oração, comunhão, paz e amor acontecem quando cada um de nós se deixa guiar pelo Espírito Santo e se permite moldar pela Mente de Cristo. É a renovação da mente pelo Espírito de Deus, mediante a Palavra, que produz transformações em nossas vidas.

Portanto, meus irmãos, se queremos experimentar, como igreja, a plenitude daquilo que Deus tem preparado para nós, precisamos deixar de ser meninos na fé e assumir a responsabilidade de nossos relacionamentos com Deus. Devemos deixar de lado a postura de dependência, tanto dos que se fazem sacerdotes quanto daqueles que nós fazemos sacerdotes, e caminhar em direção Deus por meio de Cristo Jesus. Vejamos o que nos diz o escritor da carta aos hebreus:

19 E assim, queridos irmãos, por causa do sangue de Jesus, nós agora podemos ir diretamente até dentro do Santo dos Santos, onde Deus está. 20 Este é o caminho novo, recém-aberto e vivificante que Cristo nos franqueou ao rasgar a cortina - O seu corpo humano - para dar-nos acesso à presença santa de Deus. 21 E, visto que este nosso grande Supremo Sacerdote governa sobre a casa de Deus, 22 entremos e vamos diretamente ao próprio Deus, com o coração sincero e confiando plenamente que Ele nos receberá, porque o sangue de Cristo já foi salpicado em nós para nos purificar, e porque já fomos lavados com a água pura ( do batismo pelo Espírito Santo ). (Hebreus 10.19-22 - BV)

Templos e altares

Outra parte fundamental da religião dos hebreus era o templo. Desde o primeiro, construído por Salomão, os templos sempre ocuparam um lugar central no culto hebraico. Era em torno do templo que girava toda a vida religiosa judaica: adoração, oração, sacrifícios... tudo acontecia no templo. A parte mais importante do templo era o altar, onde os sacrifícios eram oferecidos pelos sacerdotes.

Nisso também os hebreus, para quem a carta foi escrita, eram parecidos com muitos de nós. Assim como eles, vários de nós chegamos a Cristo vindo de religiões e cultos que valorizam o templo e o altar, sobretudo o catolicismo romano: o templo é considerado como a Casa de Deus, o lugar onde Ele fica; e o altar é tratado como o lugar onde nos encontramos com Ele. Mas esses são conceitos da velha aliança. A partir de Cristo tudo isso mudou.

Jesus tentou explicar isso para a mulher samaritana em uma conversa que eles tiveram, ao meio dia, na beira de um poço na cidade de Sicar. Ela perguntou (Jo. 4.20) pra Jesus onde era o lugar certo para adorar. Os judeus achavam que o lugar certo era no templo em Jerusalém, mas os samaritanos tinham feito um outro lugar de adoração no monte Gerizim. Veja o Jesus disse para ela:

22...”Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. (...). 23 ..., está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura.24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". (João 4.22-24 - NVI)

Jesus não deixou dúvida: o que realmente importa não é o lugar em que adoramos a Deus, mas a qualidade da nossa adoração. O lugar é uma questão secundária. Isso quer dizer que para os que seguem a Jesus, os lugares de reunião NÃO têm uma santidade própria deles. Embora muitos chamem de templo, os prédios em que nos reunimos não são templos; os púlpitos de onde nossos pregadores falam não são altares. Tudo isso é parte da velha aliança.

E o que tudo isso tem a ver com nosso tema? 

É simples: Nós estamos vivendo tempos em quem muitos valorizam mais os prédios onde se adora do que a qualidade da adoração que se faz nesses prédios. Assim, quando usamos a expressão “Casa de Deus” somos tentados a olhar nossos locais de reunião como se fossem pequenos templos, lugares exclusivos da adoração e da manifestação de Deus.

É claro que Deus se faz presente quando o seu povo se reúne, mas não é por que estamos em um templo; é claro que Ele recebe nossa adoração quando estamos aqui, erguemos nossas vozes e declaramos quem Ele é, mas não é por que esse espaço seja um altar. Essas coisas acontecem por que Jesus garantiu “...onde dois ou três se reunirem em meu nome, ali eu estou no meio deles.” (Mt. 18.20 – NVI)

É a presença de Cristo no meio do Povo de Deus, gente cheia do Espírito Santo, que santifica o lugar e o transforma em lugar de adoração e manifestação da presença de Deus. Não é o prédio que santifica o povo ou o culto, é o povo cultuando que santifica qualquer lugar em que estivermos.

Então, quando pensamos na casa de Deus como lugar de oração, comunhão, paz e amor, devemos saber que onde quer que estejamos reunidos como igreja, ali se torna Casa de Deus.

Assim, a comunhão dos filhos de Deus não pode ficar restrita a este espaço: podemos exercitá-la em nossos lares, por exemplo, sendo hospitaleiros; A oração não deve acontecer só aqui: precisamos orar juntos onde houver oportunidade - no café do shopping, por exemplo; Nossa opção pela paz precisa fazer parte também das nossas casas, dos nossos trabalhos, nos bairros e nos condomínios em que moramos. O amor pelas pessoas não pode ser apenas uma palavra dita nos cultos, ele precisa fazer parte do nosso modo de viver a vida (inclusive virtual).

Reunindo-se como Igreja

Quando nós nos reunimos como igreja, aqui ou em qualquer outro lugar, estamos cuidando uns dos outros, treinando uns aos outros, aperfeiçoando uns aos outros, tudo isso para vivermos a vida com Cristo lá fora, onde a coisa é pra valer. Veja, meu irmão, a importância de estarmos juntos!

Em nossos dias muitas pessoas estão entristecidas com a igreja. Pessoas que sofreram decepções, que foram traídas, exploradas, manipuladas e oprimidas por líderes, e até por outros irmãos em Cristo, jogaram a toalha e se distanciaram das reuniões da igreja.

Além disso há muitos que levam consigo denúncias sérias e procedentes sobre o modo como a igreja tem se comportado... olhando apenas para si mesma, sem amor, sem compaixão, inchada de orgulho e autossuficiente. Muitos desses deixaram de se reunir como igreja porque não sabem como lidar com tudo isso.

Alguns dos hebreus para quem a carta foi escrita também estavam prestes a desistir da igreja. Eles foram rejeitados e perseguidos. Os judeus olhavam para eles como traidores, os gentios com desconfiança e os romanos com indignação. Os relacionamentos entre os irmãos eram tão complicados que alguns estavam pensando seriamente em retroceder. Você já se sentiu assim? Com vontade de desistir? Não há razão para se sentir culpado por isso. Essas lutas fazem parte da caminhada. Erga a cabeça, meu irmão, e prossiga em direção ao alvo.

Ouça as palavras de encorajamento do escritor de Hebreus:

21 Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. 22 Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. 23 Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. 24 E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. 25 Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.

Não há nada que substitua a igreja! Esse é o projeto de Deus para completar em nós a boa obra de salvação que Ele começou. É reunidos como igreja que somos cuidados, treinados e aperfeiçoados! Pode ser difícil, pode ser complicado e até aborrecido às vezes; mas é assim, através dos irmãos e irmãs que Deus opera em nossas vidas. Ele expõe com amor nossas fraquezas para que sejamos transformados pela ação do seu Espírito em nós.

A gente costuma dizer que vai à igreja, mas na verdade nós somos a igreja. E é isso mesmo! Nós somos a Casa de Deus! O Espírito de Deus fez morada em cada um de nós. E se somos nós a Casa de Deus, nossas vidas é que são lugares de oração, comunhão, paz e amor.

Juntos somos a igreja!
Juntos nos encorajamos mutuamente à prática do amor!
Juntos deixamos de ser meninos e meninas na fé e caminhamos em direção ao aperfeiçoamento de nosso caráter em Cristo.


Que ele nos abençoe e faça germinar a semente desta palavra em nossas vidas.

27 abril 2015

Anunciai até que Ele venha

Primeira Igreja Batista em Jardim Américo - João Pessoa/PB - 26/04/15

Anunciai até que Ele venha

Texto Básico – I Co 11.17-34
A ceia do Senhor
17 Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem. 18 Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio. 19 Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados.

20 Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, 21 porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. 22 Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não!

23 Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão 24 e, tendo dado graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim". 25 Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto, sempre que o beberem, em memória de mim". 26 Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.

27 Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. 28 Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice.

 29 Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. 30 Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. 31 Mas, se nós nos examinássemos a nós mesmos, não receberíamos juízo. 32 Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo.

33 Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer, esperem uns pelos outros. 34 Se alguém estiver com fome, coma em casa, para que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em condenação. Quanto ao mais, quando eu for lhes darei instruções.

O Costume da Época

No tempo em que esta carta foi escrita aos irmãos da cidade de Corinto, havia o costume de se realizarem festas reunindo os amigos e a família. Essas festas se chamavam Eranos. Nelas não havia um anfitrião bancando tudo para os seus convidados. Nos Eranos cada um levava o que iria comer em casa e todos compartilhavam de tudo.

A igreja cristã também tinha essa prática. A festa dos cristãos chamava-se Ágape (Amor). Uma vez por semana ele se reuniam em uma espécie de “junta-panelas” e no final da refeição partilhavam também o vinho e o pão, lembrando-se da morte de Jesus. A igreja em Corinto tinha essa mesma prática.

Algo não ia bem

O texto que lemos, no entanto, deixa claro que em Corinto as coisas não estavam indo muito bem. Vamos ler novamente do verso 17 ao 22 em busca de alguns problemas percebidos por Paulo:

17 Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem. 18 Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio. 19 Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados.

20 Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, 21 porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. 22 Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não!

Quais, então, eram os problemas apontados por Paulo?

Os cultos não estavam sendo momentos de comunhão, alegria e celebração. Nas reuniões em Corinto não estava acontecendo o que de melhor se poderia esperar para uma igreja. Em vez disso, quando os irmãos se encontravam eram momentos em que o pior das pessoas aparecia. (17);

A expectativa que temos a respeito de nossos cultos e reuniões é a melhor possível, mas devemos admitir que não é raro que exatamente nesses momentos tão esperados a natureza humana, inclinada para o pecado e a morte, nos dê uma rasteira e transforme nossos ajuntamentos em espetáculos de carnalidade.

A lista pode ser grande: inimizades, disputas, ciúmes, iras, discórdia, dissenções, partidarismo, inveja e coisas parecidas com essas são capazes de entristecer e envergonhar o testemunho da igreja, e devem ser tratadas.

Entre esses vários problemas, Paulo destacou que havia divisões entre os irmãos de Corinto. Não era a primeira vez que ele fazia esse diagnóstico. No começo da carta ele já havia alertado sobre a tendência deles de criar partidos na igreja (eu sou Paulo, eu sou de Apolo, eu sou de Cristo).

Pensar diferente sobre alguma coisa não ofende em nada a natureza da Igreja, mas quando as diferenças se transformam em atitudes de desamor... aí temos um grande problema. Era esse o caso dos irmãos em Corinto. (18)

Causa muita tristeza no coração de Deus quando os membros de uma igreja deixam que suas diferenças se transformem em falta de amor. O apóstolo Paulo afirma que se há alguma vantagem nisso é porque, nessas situações, o caráter e o amadurecimento das pessoas são provados. Isto é, no calor das divergências é que a gente fica sabendo realmente quem é quem. (19)

Como Paulo descobriu tudo isso?

Não sabemos exatamente como foi que Paulo ficou sabendo de tudo, mas certamente alguém contou para ele como eram as reuniões lá em Corinto.

É importante lembrar que a Ceia do Senhor era a finalização daquele “junta-panelas” chamado de festa ágape. Era um momento informal, como uma reunião de família. Não havia uma liturgia elaborada, nem uma programação a ser seguida. Foi exatamente por causa dessa informalidade que as divisões vieram à tona e puderam ser percebidas.

Talvez, se fossem reuniões como as nossas, o problema teria ficado camuflado.

O apóstolo ficou tão indignado como que estava acontecendo nessas reuniões que disse: “não é a ceia do Senhor que comeis” (20)

Quais eram os sintomas da divisão (falta de unidade) na igreja de Corinto?

21 porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga.

As notícias sobre as reuniões dos coríntios realmente não eram boas. O “junta-panelas” não estava funcionando. O problema é bem conhecido das reuniões de família:

Sabe aquela tia que tá bem de vida e chega mais cedo pro almoço de família trazendo uma deliciosa lasanha? Você vê aquela lasanha chegando e já fica de sobreaviso. Mas, acontece que meia hora antes de começar o almoço, ela já começa a servir o marido e os filhos com pedaços generosos da lasanha e não deixa quase nada na tigela. Aí então ela pega a Coca-Cola que ela trouxe e colocou no congelador e enche os copos dela do marido e dos filhos. Depois senta na poltrona e fica comentando à comida trazida pelo resto da família. O que ela foi fazer lá?

Embora muita gente prefira não dizer nada sobre atitudes como essa, e, muitas vezes, nem se dê conta de quando age do mesmo jeito, Paulo percebeu como isso era ruim e levantou a voz contra a falta de amor que se tornara comum entre os Coríntios e que acontecia exatamente na festa que eles chamavam de Ágape. A verdade é que o problema da igreja de Corinto não poderia ser deixado para lá.

O evangelho de Jesus, meus irmãos, sempre foi de boas notícias de amor para todas as pessoas, sobretudo para os mais pobres e necessitados. Para tristeza de Paulo e nossa, em Corinto os irmãos que tinham mais posses e podiam levar mais comida e bebida para o “junta-panelas” estavam se esquecendo de compartilhar.

A falta de consideração com os que tinham menos era tão grande que alguns se empanturravam e se embriagavam com sua própria comida e sua própria bebida, deixando de fora da festa os irmãos mais pobres que, talvez, esperassem o dia do “junta-panelas” para comer um pouco melhor.

Ao final da festa, quando a Ceia do Senhor seria realizada, já tinha gente sendo carregada pra casa. O sentimento que reinava entre os irmãos não era de comunhão, amor, respeito e consideração, mas de desprezo, pouco caso e vergonha.

Imaginem, meus irmãos, como era difícil, nessas condições, lembrar com alegria da morte de Jesus, falar que somos o corpo de Cristo, dizer alguma coisa sobre a unidade da igreja, ou reconhecer que somos irmãos – filhos de um mesmo pai. (22)

Por que e como celebrar a Ceia do Senhor

Diante desse cenário, o apóstolo Paulo resolveu ajudar os irmãos de Corinto explicando o porquê da Ceia do Senhor, resgatando assim o seu significado. E nós vamos aprender com ele. Vejamos o que ele falou:

(1)          A ceia foi instituída e celebrada pela primeira vez pelo próprio Jesus Cristo, cf. Mt 26.26-28, Mc 14.22-24 e Lc 22.17-20. Não se trata de uma criação dos pastores ou uma invenção que veio depois. Celebrar a Ceia e seguir o exemplo e a ordem de Cristo (23);

(2)        A ceia é um memorial, uma espécie de lembrete pra gente não se esquecer de que nossa salvação teve um preço bem alto: a vida de Jesus, seu corpo partido e seu sangue derramado (24,25).

Quando reconhecemos isso, que a nossa salvação é obtida pelos méritos de Cristo e não por qualquer esforço nosso, qualquer sentimento de arrogância ou de humilhação é imediatamente banido. Aqueles que se acham muito podem jogar fora toda a arrogância e decidir confiar no Senhor; e aqueles que se acham nada podem encher o peito de esperança e confiar no amor de Jesus.

Cada um de nós e todos nós tomamos parte da família de Deus porque fomos adotados por seu amor. A ceia do Senhor é um lembrete para avivar nossa memória.

(3)        A ceia é também um anúncio. Além de lembrar o significado da morte de Cristo para nossas vidas, a cada celebração da ceia, estamos anunciando diante de principados e potestades que Deus se fez homem, habitou entre nós e entregou-se a si mesmo como uma oferta de amor pela humanidade (26).

Esse anúncio deve ser feito até que Ele venha novamente buscar o seus. Por isso, celebrar a ceia do Senhor é também uma declaração de esperança. Um dia ele vai voltar para buscar os seus! Então não haverá mais dor, não haverá mais tormento, não haverá pecado e a morte será completamente banida.

Oh meus irmãos! Nossos corações precisam estar cheios com esta esperança e a ceia é um ótimo momento para falarmos dela.

(4)        Não faz sentido celebrar a ceia do Senhor se você não entregou sua vida a Ele. Se você ainda não fez isso a morte de Cristo por até emocionar você, mas não representa muito para a sua vida.

Paulo acrescenta que não é coerente celebrar a ceia do Senhor se você despreza os seus irmãos (a igreja) por quem Cristo morreu. Desprezar os irmãos com atitudes de desamor é a mesma coisa que desprezar a Cruz de Cristo e, assim, a ceia não faz o menor sentido. É nesse momento que o apóstolo Paulo faz um alerta sério e dá uma dura repreensão nos irmãos de Corinto.

É inaceitável que alguém participe da lembrança da morte de Cristo através do pão e do vinho e, ao mesmo tempo, aja com desprezo, preconceito e desconsideração para com aqueles que por quem Cristo morreu: seu povo, sua igreja, seu corpo. Quem procede assim está acumulando juízo para si mesmo e pode sofrer, inclusive no próprio corpo, as consequências de sua incoerência.

Por isso, Paulo recomenda que devemos fazer um autoexame sobre nossa caminhada com o Senhor.

(5)        Na verdade, o autoexame da consciência e de nossos procedimentos deveria se parte permanente de nossas vidas. Aqui não se trata de tornar-se obcecado sobre cada pensamento pensado, cada palavra dita, cada ação executada, mas de, periodicamente, refletir sobre a maneira como estamos vivendo nossas vidas.

Na Ceia do Senhor temos uma boa oportunidade para refletir sobre nossos relacionamentos com a igreja de Jesus:

·       Como anda nosso amor pelos irmãos?
·       Há perdão a ser pedido?
·       Algum perdão a ser concedido?
·       Será quem tenho liberal em amar ou tenho retido o meu amor?
·       Tenho agido com consideração e respeito com meus irmãos ou tenho sido dominado pelo desprezo e pela falta de amor?

Dentro de alguns instantes vamos celebrar juntos mais uma ceia. Que tal começar esse exercício agora?

Conclusão

Alguns irmãos em Corinto ficaram tão ensoberbecidos com suas posses e bens que começaram a desprezar aqueles que tinham menos. Eles se divertiam com comida e a bebida ao ponto de esquecer o compromisso de amar. Esse tipo de divisão destrói a unidade da igreja e revela desprezo pela morte de Cristo.

É inaceitável que a celebração da ceia do Senhor aconteça ao mesmo tempo em que se rejeita ou desconsidera alguém que foi resgatado pelo sangue de Cristo. Isso é os mesmo que rejeitar a cruz de Cristo. Quando o desamor impera não é a ceia do Senhor que estamos tomando; pode-se comer o pão e beber o vinho, mas não há nessa refeição a integridade do evangelho de Cristo.

Por isso precisamos resgatar a Ceia como um poderoso memorial das verdades preciosas do evangelho de Cristo. São essas verdades que vão resguardar nosso coração e manter acessa em nós a chama da esperança.

(A)       A morte de Cristo na cruz foi preço de nossa salvação, meus irmãos. O corpo partido e o sangue derramado são a expressão do amor do Pai. Nessa nova aliança, o cordeiro de Deus foi sacrificado em nosso lugar para que pudéssemos ter vida.

(B)       A vida que recebemos do pai não se limita a este mundo. Um dia Cristo voltará para buscar o seus. Por isso, celebraremos a ceia do Senhor até aquele dia quando esta celebração estará completa, porque o próprio cordeiro de Deus estará conosco. Maranata!

(C)        Enquanto esse dia não chega, somos chamados a viver de forma digna e honesta. Somos chamados a amar os irmãos, a sermos respeitosos e cuidados como os mais fracos, a suportar aqueles que precisam de apoio, a suprir a necessidade dos que têm menos e assim experimentar a bênção de fazer parte do corpo de Cristo.


Que o Senhor nos abençoe e faça esta palavra germinar com poder em nossas vidas.