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17 junho 2012

Unidade da Igreja


Síntese dos textos "A unidade da Igreja na visão de Igreja da Reforma" e "A Igreja Católico-Romana e o Ecumenismo", ambos escritos por Gottfried Brakemeier, como requisito da disciplina Fundamentos do Ecumenismo e dentro dos limites formais exigidos pela Escola Superior de Teologia - EST

À luz dos textos escritos por Brakemeier, podem ser percebidas compreensões distintas a respeito do ecumenismo entre as igrejas protestantes e a ICAR. Talvez a melhor maneira de apresentar esta diferença seja resgatar a "origem una" da Igreja de Cristo e admitir que apenas no século XVI o desejo de reforma, ante as resistências internas, chegou ao ponto de ruptura. Portanto, por mais de 1500 anos a igreja cristã ocidental, com suas mazelas e imperfeições, foi uma só e construiu sua identidade sobre as ideias de universalidade, raízes apostólicas e hierarquia jurisdicional (católica, apostólica e romana).

O doloroso rompimento deu início a uma era confessional em que grupos de cristão que se colocaram fora do guarda-chuva da hierarquia jurisdicional afirmaram-se Igreja de Jesus. Como resultado da divisão produzida pela reforma, o mundo ocidental foi exposto à desconfortável pergunta sobre qual igreja possui “legitimidade e autenticidade apostólica”.

Nesse contexto, quando é apresentada à ideia de ecumenismo, a ICAR aponta como único caminho para a unidade o retorno dos excomungados ao seio da única Igreja de Cristo, submetendo-se à autoridade do primado de Roma. É, portanto, um ecumenismo de absorção que compreende o receber de volta aqueles que abjuraram a fé dos apóstolos como um gesto de generosidade. Pode-se discordar do entendimento ecumênico da ICAR, mas não é possível negar-lhe a coerência com a imagem que a Igreja de Roma faz de si mesma.

Voltando os olhos para as igrejas protestantes, o autor do texto apresenta, inicialmente, um ecumenismo de negação. Essa prática parece impregnada no modo de pensar protestante. Assim, não é necessário que as tradições sejam semelhantes; estruturas não podem assegurar unidade, o título de quem conduz a igreja não é questão de última relevância; a estrutura eclesiástica não é constitutiva da igreja; a unidade não se baseia numa “lei” ou numa ordem; e por fim o ecumenismo não pode satisfazer-se apenas com a unificação de instituições.

O resgate da posição ecumênica luterana se faz no entendimento de que a Confissão de Augsburgo reconhece a existência da Igreja onde quer que o evangelho seja pregado de maneira pura e os sacramentos sejam administrados corretamente. Afirma, portanto, a posição luterana como uma clara “abertura ecumênica”. No entanto, a afirmação de Augsburgo também poderia se vista como um ecumenismo de dissidência em que aqueles que romperam, ao sair, tentam resguardar sua própria autenticidade em face das divergências e põem em xeque as práticas sacramentais e o conteúdo da pregação daqueles que ficam. Os mesmos raciocínios poderiam ser aplicados à posição calvinista.

A despeito da inicial identidade por negação, o autor não se furta a apresentar uma agenda positiva em termos de confluência de propósitos (em contraponto à mera concordância em torno de termos semelhantes com interpretações diferentes); destaca a postura de humildade e autocrítica como base para a disposição ao aprendizado ecumênico; e apresenta uma cultura de unidade na diversidade e pluralidade dos carismas dentro das comunidades cristãs como base para o diálogo inter-eclesiástico. Essa agenda positiva recebeu “coroa de glória” no entendimento do autor de que o critério capaz de testar todo o resto é a unidade da igreja em torno da centralidade em Jesus.

Quanto à posição da ICAR no movimento ecumênico e sua postura atual, o autor do texto considera que vale a pena verificar a trajetória de suas posições no decorrer da história e o faz com brevidade e precisão.

Ciente de sua ininterrupta sucessão histórica, os cerca de 1500 anos em que a Igreja Romana manteve sua catolicidade estabeleceram uma visão em que o organismo vivo foi confundido com as estruturas institucionais. Portanto, após a ruptura estabelecida pela reforma, a posição da ICAR foi de que a unidade seria restabelecida apenas mediante o retorno dos excomungados. Em meados do século XIX e início do século XX essa posição se confirma no concílio Vaticano I e na encíclica “Mortalium animos”, com o fortalecimento da autoridade do bispo de Roma e a proibição de envolvimento nos processos ecumênicos.

Indícios de abertura são vistos no livro publicado (1937) por Yves Congar, que entre outras coisas referiu-se aos protestantes como “irmãos separados”, e no grupo de trabalhos ecumênicos criado por Lorenz Jaeger (ICAR) e Wilhelm Stählin (luterano) em 1946. Essa abertura evoluiu e encontrou sua expressão máxima no Concílio Vaticano II (1962), que teve como promotor e Papa João XXIII. A partir deste concílio a ICAR passou para uma nova fase quanto às reflexões e práticas a respeito do ecumenismo. A nova posição católica produziu diálogos internacionais com as Igrejas Ortodoxas, Anglicanas, Luteranas, reformadas e livres (nesta ordem) com elaboração de documentos comuns e forte entusiasmo quanto ao destino do ecumenismo.

No entanto, não demorou até que a disputa entre conservadores e progressistas dentro da ICAR produzisse freios e retrocessos. A ambiguidade de vários textos do Vaticano II se tornou o mote para uma interpretação conservadora do claro espírito ecumênico do concílio e o fechamento de portas que já estavam escancaradas.

Entre idas e vinda, hoje a ICAR parece divida quando o assunto é ecumenismo. Se por um lado sua liderança caminha na contramão do ecumenismo, haja vista a volta das indulgência em 2000, a preferência pela nomeação de clérigos conservadores, a resistência na assinatura de documentos conjuntos, e o retrocesso na abordagem de recentes encíclicas papais sobre assuntos em que a convergência já havia sido alcançada, por outro lado, muitos segmentos leigos continuam firmes em seu propósito de experimentar a “fraternidade eclesial na diversidade reconciliada”. Vale lembra que a igreja não é maior que seus líderes humanos, pois que é obra do Espírito de Deus que a conduzirá o destino que para ela tem preparado.

Ecumenismo


Síntese das principais ideias dos textos "Ecumenismo: Definição, significado, abrangência" e "Unidade e pluralidade da Igreja conforme o Novo Testamento", ambos escritos por Gottfried Brakemeier, como requisito da disciplina Fundamentos do Ecumenismo e dentro dos limites formais exigidos pela Escola Superior de Teologia - EST.

A partir do texto “Ecumenismo: definição, significado, abrangência” apresente estas três facetas do ecumenismo: dimensão da teologia, disciplina e movimento.

No decorrer da história, o termo grego de onde provém ecumenismo (ecumene - mesma origem etimológica de outros que se referem ao mundo que habitamos tais como ecologia, economia e ecossistema) produziu abordagens diversas com enfoque geográfico, político, cultural e por fim eclesiológico – quando se consolidou como forma de pensar que tem o propósito de zelar pela unidade do corpo de Cristo.

O ecumenismo, percebido como esforço por recuperação da unidade visível da Igreja, surge da constatação da perda da universalidade de que a Igreja gozava nos primeiros séculos, quando era efetivamente una, ainda que diversa. Portanto, o ecumenismo milita a favor da união do povo que se chama cristão para o cumprimento de uma missão que lhe é comum.

Na fala do Conselho Mundial de Igrejas, no entanto, o ecumenismo não precisa restringir-se à promoção da unidade da igreja, mas deve abranger a unidade de toda a humanidade. Assim, a unidade da igreja teria como objetivo último mais que o congraçamento da igreja; objetivaria congregar toda a criação de Deus. Não faltam opositores a este pensamento entre protestantes e católicos que defendem uma agenda restrita à recuperação da unidade cristã.

Não há como negar que a história milenar da Igreja revela divisões, facções, fracionamentos e separações que desde o começo existem, mesmo contra o desejo de Jesus de “uma igreja”. É neste ambiente de rompimentos que o ecumenismo se propõe a trabalhar em prol da unidade. Para isso, é fundamental reconhecer que a unidade da igreja é anterior às divisões que hoje se apresentam. Por outro lado, é necessário compreender que unidade não é sinônimo de uniformidade. A igreja sempre se apresentou diversa e multiforme (como a graça de Deus). Ecumenismo, portanto, trata de “reconciliar, conjugar, criar comunhão...”, não de homogeneizar.

Mesmo uma causa justa e digna, o ecumenismo enfrenta resistência de diversos flancos e desperta muitos temores: não seria uma ameaça à identidade de fé enfraquecendo as percepções particulares? Não resultaria em sincretismo religioso com a mistura de credos conflitantes? A verdade não seria relativizada a partir das concessões? A resposta é “não” para todas as perguntas, uma vez que o ecumenismo pretende tão somente mediar o diálogo apontando para o evangelho de Cristo como recurso comum; “não renuncia à verdade, não nivela as diferenças nem as ignora”.

Faz-se necessário também reconhecer que o conflito presumido entre ação ecumênica e missionária só se justifica a partir de uma perspectiva de concorrência entre igrejas e de ações meramente proselitistas. Ecumenismo, por outro lado, se preocupa em vencer a rivalidade em prol da missão comum.

Além de se apresentar como o movimento descrito até agora, o ecumenismo também pode ser visto como uma dimensão da teologia a partir da perspectiva de interação entre as diversas tradições e épocas do pensamento teológico de maneira a enriquecer todo o fazer teológico. Além disso, é razoável vê-la também com uma disciplina que se pretende objeto de estudo, divulgação e reflexão.

O segundo texto fala de uma “pluralidade concêntrica” como forma de entender e relacionar unidade e pluralidade na tradição cristã. Apresente os argumentos do texto a favor desta compreensão.

O Novo Testamento é extenso na apresentação da unidade como base da existência da Igreja de Jesus Cristo: um só rebanho, um único pastor, apenas um Corpo, um só Espírito, um único Senhor, uma só fé, um batismo, um só Deus e pai de todos. Por outro lado, a história revela que temos resistido às tentativas de uniformizar a diversidade que marcou a igreja desde o começo.

Os “fatores diversificantes” passam pelo fato de que a fé cristã começou com um grupo de pessoas (o que caracteriza pluralidade), pela realidade de a igreja ter sido gerada em ambientes culturais diversos (fonte de tensões em torno da vida de comunhão) e pela individualidade dos testemunhos produzidos por pessoal de diferentes classes sociais, gênero, etnia e historia pessoal. Portanto, não há como sustentar uma igreja primitiva homogênea.

Unidade e pluralidade fazem parte da natureza da igreja e se conciliam apenas porque o Novo Testamente apresenta a pessoa de Jesus como o “eixo gravitacional” em torno do qual a igreja, com sua pluralidade, gira. Assim, pode-se falar de uma pluralidade com um único centro, uma “pluralidade concêntrica”, entendimento que priva o ecumenismo de atuar contra as variadas expressões da fé cristã.

É senso comum que há virtude e riqueza na diversidade, mas tão somente quando na pluralidade se estabelecem acordos de cooperação mútua. A diversidade que agride e trabalha para exterminar as diferenças não é legítima e abala a unidade da igreja. No entanto, quando o centro comum é Cristo podemos recuperar o entendimento dos primeiros cristãos de que Ele aproximou “judeus e gregos” e os fez família de Deus; tarefa almejada pela perspectiva ecumênica.

Ressalte-se, no entanto, que pluralidade concêntrica não significa tolerância a heresias (descaracterização e perversão da fé). O Novo Testamento apresenta-se seguro de que existem pilares de verdade que não podem ser movidos sob a pena de levar a baixo todo o edifício da fé. O ecumenismo, portanto, carece de compromisso com essas verdades e não pode ser encontrado cooperando com a “confusão religiosa”. Por outro lado, é preciso amor para que o apego à verdade não se torne tirânico. Se a defesa da fé é excludente, o amor é inclusivo. E cabe ao ecumenismo a tarefa de amalgamar os dois, como fez Jesus, de maneira que a unidade da igreja seja percebida pelos de dentro e pelos de fora. Exemplos desse exercício não faltam no novo testamento, o que nos mostra que a tarefa não é impossível.