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24 junho 2012

Onde está o teu irmão?


Esta semana uma notícia no Jornal da Paraíba destacou a decisão do Conselho Tutelar de se fazer presente no maior São João do mundo, que acontece no Parque do Povo em Campina Grande. Entre outros, o objetivo é de coibir a venda de bebida alcoólica a crianças e adolescentes.

Parece-me que o comércio de bebida alcoólica para crianças e adolescentes pressupõe duas realidades: de um lado, meninos e meninas desejosos de viver a vida intensamente, ainda que irresponsáveis ou sem noção clara das implicações e riscos envolvidos; de outro, comerciantes dispostos a lucrar com um negócio capaz de destruir vidas humanas a médio e longo prazo, mas repleto de alegria no curto prazo.

Comerciantes vivem de comprar e vender, isso é claro, mas não deixo de me surpreender com homens e mulheres adultos, presumivelmente maduros, que em troca de uns trocados oferecem a crianças a chave capaz de abrir o caminho para uma vida de lamento e tristeza. Não têm eles mesmo filhos e filhas cuja a memória lhes sirva de freio? Não vêem o tempo todo gente destroçada pelo consumo abusivo de álcool? Não sabem ao menos que a lei proíbe colocar na mão de adolescentes uma droga capaz de produzir adicção?

É bem possível que a resposta seja sim para cada uma dessas perguntas, no entanto, não estão funcionando. Por quê? Parece-me que essas circunstância não são suficientes e de nada adiantam se não houver também o sentimento de irmandade.

Talvez meu ponto de vista fique mais claro se retornarmos ao episódio dos primeiros irmãos, Caim e Abel. Cometida a loucura contra seu irmão, Caim silenciou. Deus não. Ele se dirige a Caim e faz uma terrível pergunta: "onde está o seu irmão?". A pergunta, simples e direta trás consigo a compreensão de Deus para a vida que ele criou, de que somos responsáveis uns pelos outros. Caim compreendeu e reagiu tentando fugir às responsabilidades daquele chamado à irmandade: "Como posso saber? Acaso sou babá do meu irmão?".

Não somos responsáveis pelas decisões que outros tomam por sua conta e risco, mas somos completamente responsáveis por nossas decisões e o impacto que têm sobre os que nos cercam. Assim, ter a possibilidade de fazer o bem e não fazê-lo é tão terrível quanto fazer o mal. No entanto, para decidir pensando também nos outros, é necessária a convicção de irmandade, que é capaz de fazer brotar do fundo da alma um sentimento de corresponsabilidade.

Assumir essa irmandade não é invadir a privacidade ou interferir no livre-arbítrio de alguém, mas assumir uma postura de proteção aos outros em cada decisão que tomamos. No caso do comércio de bebida alcoólica para crianças e adolescentes isso significa decidir não vender, assim como quem nega uma tesoura afiada a uma criança pequena. É a convicção do risco e a atitude protetora que fazem com que um adulto responsável não pense em ceder ao choro, às reclamações ou à cara feia da criança que, de mãos estendidas, pede a tesoura.

É claro que há um preço para assumir a irmandade. Sempre há. Para os comerciantes é a redução dos lucros. Não é uma questão simples para quem vive de comprar e vender. No entanto, para manter intacta a consciência e exercer a irmandade, alguns têm-se contentado em ganhar menos e outros até deixaram seus negócios com bebida para buscar outras atividades. São decisões corajosas, mas sobretudo cheias de convicção de que decidir pelo que é certo sempre vale a pena e de que o bem comum é sempre preferível ao lucro manchado com o sofrimento alheio.

A alegria do maior São João do mundo não deveria arriscar o futuro de nossas crianças e adolescentes! O riso de uma geração não deveria custar o choro da seguinte! A pergunta, então, continua no ar, como a nos provocar: onde está o teu irmão? O que é feito do garoto a quem foi vendida mais uma dose? Onde foi parar a garota risonha na mão de quem foi colocado mais um copo cheio? Não somos, por acaso, nós, os protetores dos nossos irmãos?

10 junho 2012

Você é um dos nossos?

Uma das coisas que me aborrecem na igreja evangélica é o olhar excludente com que a sociedade é observada por alguns. Não falo de fora. Sou evangélico, nascido em berço evangélico e por isso me sinto livre para falar; porque me incluo a cada palavra dita. Somos excludentes quando estabelecemos certos padrões comportamentais que usamos como critérios para julgar as pessoas e também condená-las. Diga-se, de passagem, duas atitudes que não encontravam lugar na vida de Jesus.

Vou tentar explicar meu ponto de vista começando por coisas simples: roupas, cortes de cabelo, adereços e coisas do gênero. Quando as pessoas da igreja se utilizam do tipo de vestimenta usado por alguém para validar a relação dessa pessoa com Deus está em ação o espírito de exclusão. A questão é que não importa qual é a roupa que alguém está ou não vestindo, não importam a cor ou o corte de cabelo, não importam os adereços que se usam pendurados ou perfurando o corpo: não é nessas coisas que se define a relação de algum com Deus!

O sujeito pode usar um alargador do tamanho de um pneu e ser alguém temente a Deus, que desenvolve uma vida de confiança no Pai de uma maneira que eu, e você que me lê, nunca experimentamos. A mocinha pode usar toda a maquiagem que conseguir colocar no rosto e ter um coração obediente e rendido aos pés de Cristo. Não há incompatibilidade necessária nessas situações! Deus não observa a aparência dos comportamentos, mas a inclinação do coração.

No entanto, existe um raciocínio tacanho, apequenado, corrente entre o povo evangélico, que abriga o que vou chamar de "espírito de exclusão". Esse raciocínio é responsável por uma espécie de soberba tola e tem origem em interpretações meia-boca dos textos bíblico distribuídas aos montes por pastores da auto-ajuda que se especializaram em manter alto o "astral" do povo de Deus.

É o espírito de exclusão que divide as pessoas entre "nós" e "eles"; põe uma divisória de separação e nela uma porta com visor de vidro, chave e trinco por dentro (do lado evangélico). Lamentavelmente, do lado de dentro a ocupação de muitos é olhar pelo vidro da porta e observar, pelo comportamento, aqueles mais necessitados de salvação para oferecer-lhes a oportunidade de sair do lado de lá para o lado de cá da sala. Isso não se parece nem um pouco com o modus operandi de Jesus de Nazaré!
Estabeleceu-se uma cultura de auto-exaltação que leva parte dos evangélicos a se sentirem investidos do tipo de superioridade que foi duramente criticada por Jesus nos religiosos de sua época. Para ele a oração sincera do publicano era melhor que os arroubos do fariseu; os serviço desinteressado do samaritano era muito melhor que o zelo religioso dos mestres da lei e do templo; o perfume de arrependimento da prostituta, melhor que a superioridade dos "homens de bem".

Essa exclusão às vezes se apresenta de maneira chocante, como o sentimento de quem olha para homens e mulheres que deixaram exemplos dignos para a humanidade mas não é capaz de conceder-lhes a honra devida. Ao invés disso, abre-se a boca para frases infelizes do tipo: "...mas não era um crente, não vale nada!". Como se tornou rasteira nossa percepção sobre o agir de Deus no mundo e na vida das pessoas! E como são reduzidas as formas pelas quais reconhecemos válida a aventura de caminhar com Deus!

O sujeito escreve um artigo esplêndido denunciando a opressão sofrida pelas crianças em campos de trabalho forçado. Não seria ele uma voz profética? Mas se não for membro de alguma igreja evangélica, ele e sua obra pouca coisa valem. Um outro compôs uma belíssima canção que fala do valor da amizade. Não seria ele um salmista? Mas como não é crente ele e sua canção são vãos vistos com olhares atravessados. O vizinho dirige uma empresa com sensatez e com sabedoria mantém o emprego de milhares de pessoas produzindo bens e serviços úteis à sociedade. Não seria ele um bom mordomo? Mas como ele não frequenta os cultos de domingo...

Não é válido e digno de honra o compromisso com a parte da vida eterna que começa aqui neste mundo? Como é que fomos parar nesse buraco?! Parece que estamos treinados a olhar o ponto escuro na folha branca de papel. Imagine se Deus fizesse isso conosco! Não restaria ninguém em pé diante dele!

João, o batista, denunciou fariseus e saduceus que achavam sua situação privilegiada porque eram descendentes de Abraão dizendo o seguinte: "e não comeceis a dizer entre vós mesmos: temos por pai Abraão; porque vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão."

Às vezes penso que o povo evangélico acabou sucumbindo a uma religiosidade de escambo e nessa relação de troca com Deus é consumido pelo medo de Deus ser injusto nesse negócio. É um raciocínio semelhante ao que Jesus denuncio ao contar a parábola de um homem que contratou logo cedo trabalhadores para o seu campo e acertou com eles o valor da diária. Acontece que no decorrer do dia, ao meio dia e ao final do dia, ele recebeu novos trabalhadores. No final do expediente, aquele homem pagou a todos os trabalhadores a mesma quantia.

Não é justo! - Disseram aqueles que chegaram cedo pela manhã. E realmente não é! É graça! Mas ao invés de celebrar a bondade graciosa do patrão, que pagou aos que chegaram depois o mesmo que receberam os do começo do dia, eles preferiram a comparação e se julgaram mais merecedores. Acharam-se mais dignos e reclamaram com o dono do campo (ainda que tenham recebido exatamente o que lhes foi prometido).

O próprio Jesus afirmou que não veio julgar este mundo, mas salvá-lo. Não somos juízes! Não fomos chamados a proferir sentença sobre ninguém! Formos chamados a testemunhar sobre o amor de Deus provado pelo fato de que Cristo morreu por nós, mesmo pecadores como somos (todos).

11 janeiro 2011

Polaridade Religiosa



Por Marcos Inhauser

Os recentes eventos de um jovem que atirou e matou várias pessoas e
feriu uma deputada nos EUA, vem trazer à luz de forma mais explícita
algo que há tempos já se alertava:  a polarização religiosa nos EUA.

Uma nação que sob o (des)governo Busch se atirou a uma guerra contra
nações muçulmanas, que foi atacada por grupo religioso terrorista,
tendo uma religiosidade cristã (?) com forte acento fundamentalista,
só poderia colher estes frutos.

Há que ressaltar-se que parte do fundamentalismo estadounidense tem
contornos racistas, crendo e ensinando que a maldição de Cão, filho de
Noé, é a cor negra e que todos os negros são filhos do amaldiçoado. Na
sua versão Mcinteiriana (Carl McIntire, prócer fundamentalista dos
anos 70 e 80), houve até marcha que invadiu igrejas para exorcizar os
corpos estranhos. No Brasil, Jerônimo Gueiros foi um dos líderes.
Estes, e muitos outros que se alinharam com eles, viam heresia em
qualquer coisa, acusavam tudo de liberalismo teológico, e travavam
guerra contra os “inimigos da fé”. Nos EUA, o fundamentalismo
encontrou terreno fértil nos estados do sul, aqueles que, na guerra de
Secessão, defendiam a escravidão.

Tomando isto em conta, entende-se a dimensão que um negro eleito para
a presidência dos EUA tem. Na mente fundamentalista, a de conotação
racista (porque há os que não o são), o seu país está sendo dirigido
por um filho do amaldiçoado Cão, e por isto, a nação está sob juízo.

Para o fundamentalista, assim como para o anticomunista radical, ser
amigo ou vizinho de um liberal ou marxista transforma a proximidade em
suspeição de liberal ou comunista. A deputada Gabrielle Giffords, por
ter apoiado algumas das posições de Obama, passou a ser vista como
inimiga por muitos e especialmente por Jared Lee Loughner. Ele aplicou
a regra do “amigo do meu inimigo é meu inimigo”.

Para mim não é coincidência que o atentado tenha ocorrido em um estado
do sul dos EUA, com forte concentração branca (90% de brancos e
hispanos e só 3% de afro descendentes), cristã (algo em torno de 60%).
Como em quase todo os  EUA é fácil comprar uma arma, tal como ocorreu
com o indigitado Jared.

Há nos EUA inúmeros grupos religiosos fundamentalistas (e radicais, o
que, para mim, é redundância) que dão treinamento para uso de armas
como parte da doutrinação religiosa (basta pesquisar na net ou no
youtube), muitos tendo os seguidores do Corão como inimigos.

Eu temo que este evento em Tucson é um dos que se seguirão. Oro para
que não seja assim e alerto para o perigo que o fundamentalismo
bíblico representa, como forma de dar minha contribuição.

MANÁ DA SEGUNDA

www.cbmc.org.br          
10 de janeiro de 2011
Treze anos servindo as comunidades empresarial e profissional


Comprometimento
Por Jim Mathis

Existem diferentes tipos e níveis de compromisso. Minha analogia preferida é o café da manhã americano composto de ovos e bacon. Podemos dizer que a galinha que forneceu os ovos esteve envolvida, mas o porco que deu o bacon esteve totalmente comprometido com a refeição. 

Alguns parecem que nunca são capazes de se comprometer com alguma coisa. Outros são rápidos para assumir compromissos, mas igualmente rápidos para descomprometer-se. Outros ainda são lentos para decidir, mas uma vez assumido o compromisso, seguem em frente com entusiasmo. Eu me encaixo no último grupo. 

Anos atrás minha esposa e eu nos envolvemos com um grupo de estudo bíblico semanal. Nós Nos reunimos todas as quintas à noite durante quase sete anos. Faltamos apenas umas poucas vezes por estarmos viajando de férias. Composto por seis casais, era raro que todos estivessem presentes. Isso sempre foi um mistério para mim: por que as pessoas não conseguem se manter fiéis aos seus compromissos?


Por fim, descobri que as pessoas se comprometem de forma diferente: umas com pessoas e outras com o evento. Para nós, o estudo da Bíblia era importante, mas os relacionamentos eram mais. Estávamos comprometidos com as pessoas e não com o evento em si. Teria sido fácil para nós não participar do estudo, mas sentíamos que não podíamos deixar nossos amigos na mão, mesmo que a maioria demonstrasse pelas atitudes, que não tínhamos a mesma importância para eles.

Isto se aplica ao mundo de negócios. Minha esposa e eu nos comprometemos com evento, produto ou serviço, mas com freqüência nosso compromisso primeiro é com as pessoas envolvidas. Quando um procedimento ou programa é colocado acima dos relacionamentos geralmente surgem atritos. Por isso, buscamos manter negócios com quem gostamos. As melhores empresas entendem isso. Elas contratam pelas qualidades que desejam e depois treinam as pessoas para capacitá-las e não o contrário. 

Para os que são inclinados a se comprometer com eventos, eis um pequeno teste. Se você e um amigo planejarem fazer algo juntos, como ir ao cinema, e ele precisar cancelar o encontro, você decide ir mesmo sozinho, ou com outra pessoa ou agenda para quando seu amigo puder ir junto? As situações são diversas, mas cada um de nós tem uma tendência: ou nos comprometemos com evento, com agenda ou com pessoas.  

Fiz parte do quadro de dirigentes de uma organização sem fins lucrativos e tomamos a decisão de deixar de atrair eventos e começar a atrair pessoas. Não sei ao certo se realizamos mais dessa forma, mas nos descobrimos muito mais felizes e apreciamos os relacionamentos que desenvolvemos. Especialmente nas crises é preciso compreender o nível de compromisso das pessoas que estão conosco. Como diz a Bíblia, “Quem tem muitos amigos pode chegar à ruína, mas existe amigo mais apegado que um irmão” (Provérbios 18.24). 

Em muitas circunstâncias ter amigos com nível de comprometimento como o da galinha, que oferece ovos para o café da manhã, é o bastante. Mas às vezes precisamos de alguém pronto para comprometer-se como o porco.
Próxima semana tem mais!


Texto de autoria de Jim Mathis, diretor executivo do CBMC em Kansas, Missouri e em conjunto com a esposa Louise dirigem uma Cafeteria. Tradução deMércia Padovani. Revisão e adaptação de J. Sergio Fortes (fortes@cbmc.org.comMANÁ DA SEGUNDA® é uma refelxão semanal do CBMC - Conecting Business and Marketplace to Christ, organização mundial, sem fins lucrativos e vínculo religioso, fundada em 1930, com o propósito de compartilhar o Evangelho de Jesus Cristo com a comunidade profissional e empresarial. © 2008 - DIREITOS RESERVADOS PARA CBMC BRASIL -  E-mail: liong@cbmc.org.br -Desejável distribuição gratuita na íntegra. Reprodução requer prévia autorização. Disponível também em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e japonês.


Questões Para Reflexão ou Discussão

1.  Como você encara o contraste entre os estilos daqueles que se comprometem mais com pessoas, ou os que colocam eventos e programas acima dos relacionamentos?
2.  Que tipo de comprometimento é mais comum em você?
3.  Você se aborrece quando lida com pessoas com baixo nível de comprometimento? Já se sentiu desapontado com pessoas que não corresponderam às suas expectativas?
4.  Qual é, para você, o significado do versículo de Provérbios 18.24?

Desejando considerar outras passagens da Bíblia relacionadas ao tema, sugerimos: I Samuel 19.1-7; 20.16-17; Provérbios 18.19; 27.10; João 2.23-25; Atos 4.32-35.

18 dezembro 2010

Simplicidade e suficiência


Em uma das convivências de que participo no Caminho temos refletido sobre a carta que o apóstolo Paulo escreveu aos irmãos de Roma, capital do grande império dos césares. Têm sido noites preciosas em que o Espírito Santo tem soprado vida sobre as letras. Logo no primeiro capítulo da carta aos romanos nos deparamos com afirmações que são capazes de delinear o bom entendimento do evangelho: simplicidade e suficiência. Em breves linhas quero compartilhar algumas coisas que ouvimos do Senhor.

Percebemos algumas coisas importantes sobre o evangelho: primeiro que se trata de um promessa feita por Deus; depois que essa promessa se cumpriu em Jesus, sua vida, morte e ressurreição; por último que ele (o evangelho) consiste basicamente na decisão de amor, tomada por Deus, de ser bondoso conosco, gente indigna dessa bondade.

É simples assim: a boa notícia é que Deus decidiu ser bondoso com gente má e rebelde. Ele está disposto a acolher mentirosos, assassinos, detratores, arrogantes, gananciosos, medrosos, dissimulados, aproveitadores, desonesto, grosseiros, desumanos, irados, perdulários, venais, invejosos, devassos, imorais e todo o tipo de gente que habita esse nosso planetinha; gente como eu e você. Sem que houvesse em nós qualquer indício de mérito, Deus decidiu amar-nos; sem que houvesse qualquer possibilidade de receber algo equivalente em troca, Deus decidiu presentear-nos com sua própria vida.

Em poucas palavras, parece que o Espírito quer nos dizer que o evangelho não é uma questão de premiação dos bons, mas diz respeito à bondade de Deus que alcança os maus com a missão de vencer o mal com o bem.

O Deus trino conspirou em nosso favor e antes da fundação do mundo decidiu que a vida eterna, jogada fora pela rebeldia de um coração desconfiado, seria devolvida mediante a nossa decisão de confiar no amor de Deus revelado na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Essa boa notícia não está restrita a poucas pessoas. Nenhuma etnia, nenhuma expressão religiosa, nenhuma tradição cultural detém em seus limites essa boa notícia. Todos podem ser alcançados por esse amor. Jesus não pertence aos cristãos, os seus seguidores é que pertencem a Ele; Jesus não pertence à igreja, a igreja é que pertence a Ele (tendo sido adquirida por alto preço).

O evangelho é a boa notícia de que você não depende de seu percentual de acertos para ser aceito por Deus. É suficiente seu reconhecimento de que é incapaz de acertar, sua desistência de continuar tentando, sua confiança em Jesus e decisão de segui-lo e a convicção de que o amor de Deus permanece enquanto você aprende a ser o que ele sonhou para você. O evangelho é a suficiência do amor de Deus. Nada mais é necessário. Ninguém mais é necessário. Jesus, a prova do amor de Deus é suficiente.

A boa notícia da bondade de Deus não precisa de complementos. A Graça de Deus, que decidiu amar pessoas indignas é suficiente para dar sentido à existência, encorajar o abatido, animar o desanimado, encher de esperança o cabisbaixo. Primeiro vem Cristo, depois vem todo o resto. Primeiro vem Cristo, depois vêm as virtudes, as bondades, as graças, a gentileza, o cuidado, o zelo, o conhecimento e as atitudes. Tudo o mais vem depois como acessórios que embeleza a vida e testemunham sobre o amor. Cristo não pode ser completado. Cristo, o evangelho é assim: simples e suficiente

30 outubro 2010

Mulheres fiéis e seu Deus maravilhoso


Por Marina Coelho

Meu nome é Marina, sou casada a 23 anos com  Aristarco e tenho dois filhos, Lídia de 22 e Levi de 19 anos.  Fiquei muito feliz com o convite do pr. João Eduardo para vir na sua igreja pelo privilégio de conhecê-las. Sou uma serva aprendendo a servir meu Senhor e uma filha buscando expressar seu amor por seu Pai. Não sou chegada a palcos e púlpitos, acho até mais fácil organizar teorias e conceitos a respeito dos diversos assuntos da vida, mas eu preferia caminhar com cada uma de vocês e poder viver esses conceitos nos momentos reais de nossas vidas. Como não terei essa oportunidade vamos então conversar um pouco hoje a tarde como amigas e irmãs.

Mulheres fiéis e seu Deus maravilhoso. O que nos torna fiéis? Ou a que somos fiéis?


Somos  fiéis a quem confiamos e confiamos em quem conhecemos.

Realmente podemos ser fiéis a um Deus maravilhoso, mas será que realmente você confia que seu Deus é maravilhoso? Hoje em dia tenho ouvido pessoas questionarem muito a Deus por conta de tanta violência e dizerem, que Deus é esse que pode tudo e não fez nada na hora que essa criancinha estava sendo violentada ou que esse jovem foi atropelado? Você já pensou assim também? Sua confiança no amor desse Deus maravilhoso é a chave para que você seja fiel.

Não me acho competente para abordar esse assunto, principalmente com respaldo bíblico,  mas gostaria apenas de compartilhar com vocês, minhas irmãs, o que pensei quando uma pessoa veio questionar o amor do meu Deus em relação a esses acontecimentos. Em primeiro lugar eles não acontecem apenas hoje, os homens são maus desde que pecaram e sempre cometeram atos atrozes, apenas hoje temos a mídia que nos mostra diariamente todos esses atos. Tem um horário na tv que se você procurar assistir alguma coisa não consegue porque em cada canal aberto está passando um programa de violência, é rota 22, barra pesada, etc.

Nosso Deus não está de braços cruzados assistindo tudo isso sem fazer nada.  Desde o princípio Ele tem agido, e sua maior prova de amor foi não desistir de nós, Ele poderia ter acabado com a raça humana e feito outra no exato momento que desconfiamos Dele (no Édem) e nós nem saberiamos disso, mas não, Ele nos amou e como nós não conseguiriamos chegar a Ele, Ele mandou seu filho pra pagar o preço em nosso lugar. Se você fica triste ao ouvir que uma criança foi violentada, imagine a tristeza de Deus ao ver essa criança passando por isso, mas também ao ver em que se tornou a outra criança que ele também amou e agora é um adulto capaz de fazer algo assim. Deus ama todos nós e tem agido para acabar todo esse sofrimento. Esse dia vai chegar, e está próximo. Os planos do Senhor não serão frustrados, a eternidade nos fará esquecer qualquer sofrimento vivido aqui e a presença do Deus maravilhoso hoje já nos dá o gostinho dessa alegria incomparável.

Somos fiéis quando temos consciência de quem somos.

Quando duvidamos de nosso valor, do quanto  somos amadas por Deus, sedemos a qualquer sedução que nos aparece e ficamos vulneráveis às tentações. Pode ser um relacionamento destrutivo, que lhe leva pra longe de Deus, que lhe maltrata, pode ser o excesso de trabalho ou estudo que lhe torna insensível aos outros, apenas focado no objetivo de ser alguém (ter valor), mas também pode ser a apatia, dando espaço pra preguiça, pra acomodação, por achar que é inferior e que nunca conseguira nenhuma vitória. Tudo isso nos leva pra longe de Nosso Maravilhoso Deus.

Gostaria de lembrá-la hoje de quão especial você é para seu Pai. A palavra de Deus diz: Gn 1:27 Criou Deus pois, o homem, à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 

Deus nos fez a sua imagem, não fomos feitas a imagem do homem, mas a imagem de Deus. Ap. 1:5 Àquele que nos amou e pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados. Jesus morreu por amor a mim e a você. Alguém a amou tanto, acredita tanto em você, que deu sua própria vida por você. Mas tem uma coisa que Deus não faz, Ele não nos obriga a nada, Ele optou por nos fazer livres, Ele ama, Ele age, Ele se desdobra pra chamar sua atenção, mas Ele espera que você olhe pra Ele. Receba o abraço caloroso do Nosso Pai. Asssim você pode começar essa caminhada de fidelidade com o Senhor.

Baseado nessa confiamos de quem é Nosso Deus e de quem somos pra Ele, gostaria de ver com vocês o exemplo de duas mulheres que viveram antes de nós e que pra mim são exemplo de fidelidade. O que as tornaram mulheres fiéis, o que elas tiveram de especial.

Ester

Ester viveu aproximadamente 500 anos antes de Jesus nascer, em Susã. Seu pai e sua mãe haviam morrido e Ester foi criada por seu primo Mordecai. Susã havia sido um importante centro político, cultural e religioso durante séculos. No tempo de Ester, a cidade era uma das capitais de um vasto império que se estendia de onde hoje é a Índia, a leste, até a Turquia e Etiópia, a oeste. As ruinas de Susã encontram-se no Irã, perto de sua fronteira com o Iraque.

Ester não vivia em condições muito favoraveis à sua fidelidade a Deus. Com certeza havia escutado as história do Deus de seu povo, mas esse amor de Deus, aparentemente não havia chegado até ela. Era órfã e morava longe de seu povo. A Bíblia diz também que Ester era muito bonita. (Et 2:7), por essa razão foi escolhida para concorrer a vaga de rainha no palácio no lugar de Vastir, que havia sido tirada da sua posição de rainha por desreipeito e desobidiência ao rei. Depois de um ano de preparação (Et. 2:12) Ester foi a presença do rei e ele a escolheu por rainha.

Acredito que diante de tudo que Ester havia passado, a perda dos pais, morando em uma cidade que não valorizava seu povo, tornar-se rainha poderia perfeitamente levá-la a confiar unicamente em si mesma e na sua beleza. Mas segundo o relato da vida de Ester não foi assim que ela agiu.

- Ester foi obediente. Et 2:10. Aprendemos menos hoje e erramos mais porque achamos que já sabemos tudo. Desprezamos, muitas vezes, os conselhos dos mais velhos e nos tornamos arrogantes. Ester considerou a orientação de seu primo padrasto e fez como ele disse.

- Ester dependeu de Deus. Et 4:16. Ester não sabia o que aconteceria. Não confiou em sua beleza, em sua bondade, ou mesmo na bondade do rei,  confiou exclusivamente em Deus e entregou-se totalmente a sua vontade.

- Ester foi paciente. Et 5:1-4. Depois de toda a tensão passada por Ester, se o rei a receberia ou se ela morreria, Ester teve a paciência de marcar outro encontro com o Rei para resolver a situação. Em nenhum momento ela se achou dona da situação.  Quando confiamos em Deus não precisamos resolver de imediato, sabemos esperar. Atropelamos as coisas quando achamos que somos nós que vamos resolver. Quando confiamos em Deus temos paciência. A paciência de Ester deu tempo para a ação de Deus. Et. 7:7-10.

Maria  (mãe de Jesus)

Maria, diferente de Ester, morava com sua família e convivia com seu povo desde pequena. Cresceu aprendendo a amar a Deus e viveu uma vida exemplar, como consequência dessa vida “certinha”  estava com seu futuro garantido, noiva de um homem bom, temente a Deus e que a amava muito. Tudo que uma jovem de sua época poderia sonhar. De repente, em meio aos preparativos de seu casamento, dos chás de cozinha, de langeri, das contratações dos bufês, ela recebe a visita de um anjo. A notícia era, no mínimo, muito extranha. O anjo diz que ela ficaria grávida. (Lc 1:26-31)

- Maria confiou. Lc. 1:34 . Maria confiou a ponto de perguntar como isso iria acontecer. Ela não argumentou a impossibilidade de acontecer o que o anjo estava dizendo, ela apenas não sabia como iria acontecer.

- Maria entregou-se totalmente a Deus . Lc 1:38. Ao ser revelado pelo anjo os planos de Deus Maria não hesitou.  Ela poderia ter pensado em todas as implicações desse anuncio, mas sua atitude imediata, movida pelo foco de sua vida foi entregar-se. Penso que depois que o anjo saiu Maria deve ter dito “o que eu fiz?”, “ eu estou louco” , “vou perder tudo que tenho”.  Mas nenhum desses pensamentos foi mais forte que sua confiança em seu Deus Maravilhoso.

 - Maria arriscou tudo o que tinha (Lc. 1:19) Será que José acreditaria nisso e toda a sua família e amigos? Ela era virgem como poderia estar grávida? Provavelmente seu casamento seria cancelado. Pelas leis de seu tempo ela poderia até ser apedrejada por adultério. José a amava tanto que resolveu fugir e receber para si a difamação (descrédito, calúnia, infâmia) ao invés de imafamá-la (Cobrir publicamente de vergonha).

A fidelidade de Ester resultou no livramento do povo judeu de sua época, a fidelidade de Maria resultou em nossa salvação. O que tornaram essas mulheres fiéis a Deus a esse ponto?

Ester não confiou em sua beleza ou na paixão de seu rei por ela, mas no Deus que conhecia. Maria não se sustentou na sua vida abençoada e certinha, mas no Deus que a havia abençoado.

Hoje somos cada vez mais levados a buscar situações que nos dê segurança, assim quando conseguimos alcançá-las, mesmo que reconheçamos que foi dado por Deus, nos apegamos a essas conquistas como a coisa mais importante para nós. E isso pode ser um marido, um filho, um trabalho, uma condição social, um bem...  Dessa forma quando nos vemos ameaçadas de perder essas bençãos nos apavoramos e deixamos de confiar no Deus maravilhoso.

Essas mulheres e muitas outras nos ensinam que quando confiamos plenamente no nosso Deus somos constantimente desafiadas a sermos fiéis a Ele. A fidelidade não vem sem uma confiança total. 

Quando as circunstâncias não forem favoráveis, minha irmã, e tudo parecer estar desmoronando lembre-se que seu Deus maravilhoso não perde o controle de nada. CONFIE. Esse é o desafio para nossa fidelidade. Confiar em meio as lutas, confiar apesar das circunstâncias, e assim esperimentar milagres em nossas vidas.

Que nosso Deus nos abençoe!



05 abril 2006

Falsificações de si Mesmo


Por Aristarco Coelho

Ontem, uma fábrica de dinheiro falso foi fechada no Parque Araxá, em Fortaleza. O requinte da falsificação, que segundo a imprensa reproduziu com perfeição itens de segurança como a marca d’água e a assinatura do presidente da Casa da Moeda nas cédulas, impressionou as autoridades policiais.

Mas, falsificar não é um crime novo. Há muito que os contraventores enxergaram na atividade uma excelente margem de rentabilidade. A grande motivação dos falsários, então, é o lucro fácil, produzindo a custo baixo cópias de produtos com bom valor de mercado.

No entanto, por mais perfeita e bem acabada que uma falsificação seja, ela leva consigo o peso de tentar passar-se pelo que não é; de tentar beneficiar-se de uma posição de mercado que não lhe pertence, usufruindo os benefícios de investimentos que não fez.

Além de produtos, serviços e arte, a falsificação invadiu também os relacionamentos humanos. Apresentar uma imagem falsa sobre si mesmo é daquelas atitudes comuns, mas que causam grande prejuízo à sociedade.

Defendo a idéia de que a indignação pelo que é falso precisa começar em nossas próprias atitudes, em nossa maneira de viver. Não adianta muito se fazer grande estardalhaço com o dinheiro falsificado quando somos falsificadores de nós mesmos.

No ambiente do trabalho, algumas dessas atitudes danosas e comuns são: apresentar formação acadêmica falsa, assumir realizações de
outras pessoas, mentir e omitir sobre suas origens e história pessoal, apresentar informações inverídicas ou mal esclarecidas em relatórios, e encobrir falhas e limitações pessoais.

Nesse início de século XXI, a verdade tem sido abandonada como a melhor opção para a coletividade, por isso a mentira ocupa tanto espaço. Essa atitude parece estar apoiada no cultivo do egoísmo, que privilegia o prazer e a satisfação pessoal, ainda que resultem em prejuízo para outras pessoas.

Assim, colocar no currículo um curso que não se fez para melhorar as chances de ser contratado é considerado por muitos como uma atitude esperta. O desejo de se dar bem, na mais estrita obediência a “Lei do Gerson” (O importante é levar vantagem em tudo), não vê qualquer constrangimento se para isso é necessário fazer uma falsificação de si mesmo.

Uma variação bastante grave desse tipo de falsificação de si mesmo é a história dos médicos com diploma falso, que se têm tornado cada vez mais presente nos noticiários. Consultas, receitas e cirurgias feitas de maneira irresponsável põem em risco a vida de pessoas que são atraídas pelo valor mais em conta do procedimento.

Outra maneira de falsificar a si mesmo é assumir a autoria de realizações, trabalhos ou feitos nos quais não se participou. Pode ser que alguns compreendam como uma ingênua tentativa de ser reconhecido ou aceito por determinado grupo social, mas é falsificar-se, isto é, atribuir a si mesmo aptidões e qualidades que não são verdadeiras, além de ser crime.

A falsificação de si mesmo também passa pela negação das origens e da história pessoal. A partir de nossa origem, somos uma coleção de acontecimentos do nosso passado. Não há motivos para negarmos aquilo que nos fez ser quem somos; mas, inseguros, muitos falsificam sua trajetória pela vida. Uns a rejeitam por completo e criam uma nova história, outros selecionam os fatos ao
sabor da conveniência e revelam apenas o que lhe parece útil a cada apresentação. Seja um passado seletivo ou um alternativo, não passa de falsificação de si mesmo.

Relatórios são pontos de controle importantes em qualquer empresa. Eles são o retrato de determinada atividade ou departamento e por conseqüência dos seus gestores. Esse é outra circunstância em que muitos falsificam a si mesmos. Um três transforma-se em um oito e o gráfico passa a apontar um desempenho positivo. Uma redação cuidadosamente arranjada esconde os prováveis prejuízos de uma operação. Falsificações de si mesmo.

As entrevistas de emprego são portas abertas que chamam os entrevistados para o mundo das falsificações. Perguntas esperadas. Respostas combinadas.
- Qual o seu maior defeito?
- O meu maior defeito é trabalhar feito um louco e me dedicar de corpo e alma à empresa.

Mentir sobre as próprias falhas e limitações é falsificar a si mesmo. A prática mentirosa das entrevistas segue junto com o entrevistado até à diretoria, se ele chegar lá. O resultado é certo: um batalhão de falsificações sem qualquer possibilidade de aperfeiçoamento.

Grande incoerência: falsificar dinheiro é um crime execrado por toda sociedade; falsificar a si mesmo é atitude aceita com brandura e permissividade. Dois pesos e duas medidas.

Precisamos reconhecer que somos uma nação carente de integridade pessoal, o que torna frágil nosso discurso sobre ética e expõe ao descrédito muitas ações bem intencionadas. Falsificar dinheiro, ou a si mesmo, é dizer não à verdade e adotar como padrão de vida a antítese do conselho bíblico que afirma: tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

O desafio está lançado!

08 fevereiro 2006

Quanto Vale a Vida Humana?



Por Aristarco Coelho

Esses dias, fiquei chocado com duas notícias. Como todas as notícias do nosso mundo on-line, elas apareceram na primeira página no jornal da noite, mudaram para uma coluna lateral na manhã do dia seguinte, no final do dia já eram notas de rodapé e desapareceram no seu aniversário de 72 h.

Em São Paulo, Carolina dos Santos, uma estagiária de 22 anos, arquitetou e executou um plano macabro para assumir uma vaga na empresa em que trabalhava. Encomendou o assassinato da colega de trabalho que ocupava uma posição na tesouraria da empresa. Renata escapou da emboscada e afastou-se da empresa temporariamente. Mônica, funcionária no departamento de RH, que substituiu Renata, não teve a mesma sorte e morreu atingida por cinco tiros. Mônica havia acabado de voltar de sua licença maternidade. Deixou órfãos um bebê e um garoto de nove anos. Respondendo a uma entrevista, Carolina falou sobre a colega: “Ela Morrendo, eu teria a minha chance”.

Em Belo Horizonte uma mãe, após sair do hospital com sua filha recém nascida, pôs a criança dentro de um saco, amarrou e jogou na Lagoa da Pampulha. O inquérito concluído pelas autoridade aponta como motivo o fato de que o pai da pequena Letícia (nome dado pela Justiça) não era o homem com quem Simone estava vivendo, o que seria embaraçoso de explicar. Sob a pressão das câmeras, Simone referiu-se à filha recém nascida como “A droga dessa menina”.

Diante de histórias como essas, é impossível não refletir sobre o valor que a vida humana tem em nossa sociedade. Cada vez mais, tenho visto a vida perder a disputa quando é colocada lado a lado com dinheiro, poder, prazer, bem-estar, reconhecimento ou outros elementos menos atrativos.

Talvez, para entender o enrosco em que nos metemos, se deva voltar a perguntar por que a vida humana deveria ter valor? O que deveria nos mover a preservá-la, a colocá-la em uma posição privilegiada de proteção. Por que a vida, mesmo de outra pessoa, deveria ser mais importante, por exemplo, do que meu próprio prazer? Para responder a essa pergunta, precisamos resgatar compreensão do que seja a vida humana.

Porque se a vida for um subproduto do instinto de sobrevivência, sua preservação, então não é de tanta importância; se for meramente o funcionamento de rins, coração, cérebro e pulmões, então sua perda, apesar de sofrida, não tem significado maior que a morte de um animal de estimação; se cada ser humano é apenas um amontoado de células que por um mecanismo sofisticado se organizaram, o valor da vida humana se limita à solução de uma fórmula intrincada; se a vida resume-se a breves momentos de prazer e satisfação, se realmente não passa disso, “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”.

Como é cruel a perspectiva hedonista da vida, que pela satisfação travestida de necessidade não hesita em matar! Como é degradante o egoísmo que não enxerga o valor de uma vida recém nascida, mas a descarta como forma de encobrir seus próprios tropeços! Mas não há motivos para execrá-las. Elas são apenas ícones representativos de nossas sociedades, imagens do que somos ou podemos vir a ser.

Há saída para o que estamos vivendo? Acredito que sim! Acredito que há uma saída e ela está no resgate do valor intrínseco da existência. Acredito que a vida como um todo, e a vida humana em especial, surgiu pela ação de um Criador. A vida humana não existia. Passou a existir pela decisão e ação de um Criador pessoal. A Bíblia fala do fôlego da vida para referir-se ao elemento vital que foi doado pelo criador para que passássemos a existir.

A vida é um presente de grande valor. Sob a ótica da criação, é fácil entender isso. Deus doou parte de sua essência vital, soprou o fôlego da vida e nos presenteou com a existência. A vida então se reveste de sacralidade, assume a imagem de quem a gerou. É assim que o livro dos começos fala: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (...) Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente" (Gen. 1:26, 2:7).

Penso que perdemos o senso de valor da vida porque se perdeu no tempo o próprio conceito de sua sacralidade. Se a vida é presente de Deus, trazendo consigo o Seu sopro, ela deve ser preservada, protegida, amada e vivida com amor. Se a vida é presente de Deus, imagine que grande afronta é tirar do outro o presente recebido (seja porque motivo for), e que grande desfeita é jogar fora o presente ganho.

O mundo que extirpou o Criador da mente, do coração e da alma das pessoas, sofre agora com o desaparecimento de valores que só fazem sentido a partir Dele. Por isso, o resgate da vida humana passa, sem alternativa, pela restituição ao seu Criador do lugar que lhe é devido. Compreenda que o valor da vida humana só vai ser plenamente reconhecido a partir da restauração dessa relação de amor e confiança com o Criador da vida

Isso não acontece coletivamente, não é à base de decisões governamentais, não pode ser imposto e não se realiza da noite para dia. Mas, é preciso que eu e você tomemos a decisão de permitir (porque não podemos restaurar por nós mesmo) e de começar desde já a participar dessa restauração através da pessoa histórica de Jesus Cristo.

Conversando com um estudioso da lei judaica de nome Nicodemos, Jesus falou sobre a restauração da relação de amor e confiança com o Criador da vida como a necessidade de um novo nascimento. É isso o que estamos precisando: nascer de novo! Esse nascer de novo nada mais é do que a geração em nosso íntimo da plena confiança na capacidade e na intenção do Criador em agir a nosso favor todo o tempo, e também da capacitação para obedecê-lo todo o tempo.

A vida humana é o bem mais precioso de que dispomos. O único que irá transpor a eternidade. Preservá-la, protegê-la, amá-la e vivê-la com amor faz parte das expressões mais elevadas do caráter de Deus.