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12 junho 2016

Evangelho Autêntico - Eu vos aliviarei

PIB Nova Esperança - Santa Rita/PB - 21/05/16 


Evangelho Autêntico
Eu vos aliviarei

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mt 11.28 (ARA)

Conexão

Boa noite, irmãos e irmãs! Este é o nosso segundo encontro em que estamos refletindo sobre o Autêntico Evangelho de Jesus. No encontro anterior, vimos que o Autêntico Evangelho é a notícia de que Jesus veio a este mundo para vivermos a vida em toda a plenitude planejada por Deus. Uma vida completa de tudo.

Embora o Ladrão insista, rondando por todos os lados, com o propósito de furtar nossa humanidade, destruir nossa identidade, e matar nossas esperanças, Jesus veio para nos dar vida abundante, ao desfazer as obras do salteador: Ele restitui a humanidade perdida, refaz a identidade partida e reanima a esperança esquecida. Como?

1.   Ele muda a disposição da nossa mente por meio da presença do seu Espírito em nós: conduz-nos a valorizar a vida, abençoar as pessoas, defender quem sofre ameaças, lutar pela verdade, encorajar os humilhados, preservar os relacionamentos, promover a paz, respeitar os diferentes e amar a todos.
2.   Ele nos inclui na família de Deus e nos concede uma nova identidade, de filhos e herdeiros de Deus.
3.   Ele nos anima com a esperança da eternidade, pois um dia todo o choro será consolado, toda a dor será banida e encontraremos consolo em Deus.

Hoje veremos outro aspecto do evangelho autêntico: ele é alívio e descanso; não é pesado nem trabalhoso.

Introdução

Um olhar atento para nossas igrejas possivelmente vai revelar que o crente comum está cada dia mais cheio de coisas para fazer.

Somos convocados por nossos líderes e pastores ao compromisso com Jesus. Ocorre que esse compromisso, cada vez mais, se traduz em cumpri certas normas e regras, participar de cultos e programações, observar as exigências (da igreja, da denominação ou mesmo do líder), apoiar financeiramente projetos e iniciativas importantes, etc.

A vida de nossas comunidades tem se tornado cada vez mais intensa com muitas e necessárias reuniões. Os dias da semana já não cabem tudo aquilo a que estamos dispostos e desejosos de fazer. Semana após semana somos convocados a demonstrar nosso compromisso com Jesus tomando parte ativa em todas essas coisas.

Por outro lado, se prestarmos atenção, se formos além da saudação costumeira e olharmos nos olhos uns dos outros sem pressa, veremos que muitos de nós estamos cansados. Nossas vidas estão sobrecarregadas de exigências. Elas vêm de fora, mas vêm também de dentro da igreja pela imposição que fazemos uns aos outros de resultados, performance e imagem.

Um outro evangelho tem sido pregado em nossos dias (que embora seja outro, não é novo): o evangelho da justiça própria por meio da religião salvadora. É esse outro evangelho que tem nos sobrecarregado com exigências mútuas, cobranças, intolerância e falta de amor.

Era exatamente este o cenário nos dias de Jesus. Os líderes religiosos, que estudavam e conheciam as Escrituras, se tornaram muito exigentes com os outros. Cada vírgula da lei de Moisés precisava ser cumprida. Mas não apenas isso: eles instituíram outras 600 orientações, que normatizavam o modo das pessoas viverem. Essas orientações ganharam o mesmo valor das escrituras e passaram a ser exigida de todos.

A atenção se voltou de tal forma para o cumprimento das leis, ordenanças e orientações que o judeu simples andava curvado debaixo do fardo de tantas exigências. É nesse contexto que Jesus afirma:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mt 11.28 (ARA)

O povo andava pela vida arqueado sob o peso de pesados fardos de Justiça Própria e Mérito. A cada item da lei perseguido pelo povo, uma nova exigência era criada pelos mestres da lei.

O fardo da justiça própria

Justiça própria é a tentativa de parecer honesto, de bom coração e digno, diante de Deus e das pessoas. É se esforçar para que Deus fique satisfeito com nossas boas atitudes e por fim diga: “É realmente, eu tenho visto que você é bem melhor que a maioria das pessoas por aqui! Você merece tudo de bom! Inclusive a salvação! Parabéns! O prêmio é seu!”

Justiça própria é fazer por onde. É receber por mérito próprio. E embora o mérito, isto é, o merecimento, seja importante em várias instâncias do relacionamento humano, com Deus não é esse o caminho; porque o padrão de Deus é a perfeição. Apenas os perfeitos podem ir à presença de Deus e se apresentarem.

Por que a justiça própria se torna um fardo, então? Porque a cada boa atitude que temos, somos flagrados em duas ou mais situações onde o pecado levou vantagem sobre nós.

Alguém nos diz: “a solução é orar! Deus se agrada daqueles que o buscam em oração”. Então começamos a orar com fervor. Mas descobrimos que nossa oração é egoísta, que só pensamos em nós, nossos parentes e amigos. Percebemos que oramos quase que apenas para pedir, que pouco sabemos agradecer, e que mesmo no mais fervoroso momento de oração nossa mente divaga e... de repente estamos pensando que amanhã precisamos ir ao banco pagar a conta de energia.

A Bíblia nos diz que nossos esforços não são suficientes, mas esse outro evangelho nos diz que o problema é que ainda não esforçamos pra valer. A Bíblia nos diz que ninguém é bom o suficiente, mas esse outro evangelho diz que se você tentar um pouco mais Deus vai honrar o seu sacrifício.

Esse outro evangelho quer nos convencer de que precisamos apenas ser mais determinados, ir a todos os cultos, fazer e cumprir todos os votos, participar de todas as correntes de oração, não faltar a EBD, vir aos cultos de oração, trabalhar no EJC, postar foto com versículo bíblico no Face, tornar-se ofertante e dizimista, fazer o culto doméstico todos os dias, ser assíduo nos cultos de domingo... que aí não tem erro! Deus vai ficar sem desculpas! Ele vai olhar pra mim e vai dizer: você é o cara!!! Ou melhor, servo bom e fiel!

Nada disso é ruim em si mesmo, mas tudo isso junto ainda não é suficiente para que sejamos aceitos por Deus. E além de não ser suficiente, torna-se um fardo muito pesado para se levar. Nossa vida com Deus não pode ser uma correria em busca de uma oferendas e ofertas.

Quando Jesus fez o convite, venham a mim, ele estava dizendo claramente que a proposta dos líderes religiosos de seus dias não era suficiente para levar paz à alma humana. É preciso mais que esforço próprio para paz, alegria e sentido para a vida.

Vinde a mim

Aos cansados de carregar os pesados fardos da religiosidade vazia, o convite de Jesus soa maravilhoso! Ele promete alívio e descanso.

Mas é um convite para o quê? Para o que Jesus está nos convidando? A dificuldade para responder essa pergunta talvez seja porque ela não é a pergunta certa. Jesus NÃO fez um convite para um evento, uma reunião ou um grupo religioso. Ele nos convida para ele mesmo.

O autêntico evangelho de Jesus não é uma religião nova, nem tampouco alguma espécie de clube dos crentes, em que nos encontramos toda semana, revemos os outros sócios e pagamos nossas mensalidades. O evangelho é um relacionamento com Jesus, o Deus que se fez gente. Por isso ele disse: vinde a mim!

É possível que você tenha se aproximado do evangelho por diversas razões: em busca de solução para um problema difícil, em busca de amizades verdadeiras, em busca de compreender melhor a bíblia, porque você desejava se livrar o álcool ou de qualquer outra coisa o aprisionava.

Todas essas razões são legítimas para sua aproximação do evangelho, mas a solução dessas situações não é suficiente para sustentar sua caminhada com Deus. A solução dessas situações nos alivia, mas é um alívio temporário. O tipo de alívio de que precisamos é mais profundo e permanente.

Jesus nos chama para si mesmo porque ele é o único caminho para nos livrarmos definitivamente dos fardos pesados da justiça própria, do esforço e do mérito. Se você for para qualquer outro lugar ou pessoa, não vai encontrar alívio ou descanso.

Todos que estais cansados e sobrecarregados

Um tema que se tornou comum nas últimas décadas é o esgotamento espiritual. Essa expressão é usada para aquela situação em que as pessoas ficam tão comprometidas com os afazeres religiosos, que deixam de cultivar sua vida com Deus e acabam também dando pouco valor ao relacionamento com as pessoas.

Existe um cansaço natural que acontece porque você está dedicando sua vida a conhecer mais o Senhor pela oração, pela leitura da palavra e através de relacionamentos saudáveis com demais membros do corpo de Cristo. Mas esse cansaço natural não é esgotamento espiritual.

O cansaço do qual Jesus promete alívio é aquele que vem quando tudo passa a girar em torno das tarefas e programações. Quando se alimenta a esperança de que um pouco mais de esforço e Deus vai notar o que estamos fazendo e seremos recompensados por isso. Aí a pessoa entra em verdadeiro carrossel, tentado fazer sempre mais e mais, sem nunca ser suficiente. As atividades na igreja vão se tornando mecânicas e perdendo o significado. E a pessoa fica tão cansada que perde o ânimo e a alegria de servir.

Muitos testemunhos bonitos já foram destruídos por causa disso. Muito pastores já perderem seus ministérios. Muitos casamentos já desfizeram. Muitos filhos abandonaram a fé de seus pais. Simplesmente por causa dessa tentativa louca de se tornar o queridinho de Deus fazendo a obra de Deus pela nossa cabeça e do nosso jeito.

Se você se sente cansado e sobrecarregado, o convite de Jesus é para você. Esse não é um convite apenas para os de fora. É também, e sobretudo, um convite para os de dentro. Para aqueles que, mesmo tendo compreendido o amor de Deus continuam levando pesados fardos sobre si.

O Evangelho autêntico de Jesus não sobrecarrega de preocupações. Não amarra fardos nas costas daqueles que servem ao Senhor. Aqueles que abraçaram o evangelho devem ao mesmo tempo aceitar esse convite feito por Jesus e aproximar-se dele. A promessas que ele nos fez é que seremos aliviados dos fardos pesados da religiosidade vazia.

Eu vos aliviarei

Como vem o alívio de Jesus? O que acontece para que os fardos pesados que estão sobre nós sejam retirados? Duas coisas são necessárias.

1.   Precisamos ser libertos pela verdade

Jesus não deu voltas para afirmar que ele mesmo é a verdade. Eu sou o Caminho, a verdade e a vida, ele disse. As cordas que prendem esses pesados fardos sobre nós são cortadas pelas tesouras da verdade.

As palavras e a vida de Cristo são declarações contundentes contra qualquer ilusão de bondade que estejamos alimentando sobre nós. O Apóstolo Paulo ecoou esse pensamento de Jesus ao escrever para os irmãos de Roma:

10Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer; 11não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus.12Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer". Rm 3.10-12

O alívio de Jesus começa quando reconhecemos nosso estado de penúria e necessidade de Deus. Enquanto estivermos tentando manter as aparências, não há como desatar os fardos de sobre os ombros.

Há um pensamento muito equivocado de que a igreja é lugar de gente certinha, cheia de energia interior. Gente batalhadora e vitoriosa porque é determinada e perseverante. Não nada há mais falso do que esse entendimento! Isso não faz parte do Autêntico evangelho de Jesus.

Na verdade, a igreja é lugar de gente que se reconhece pecadora e sem solução. Gente que não confia em si mesma, porque sabe quão ruim pode ser. Gente que desistiu de dar um jeito na própria vida e decidiu depender única e exclusivamente do amor de Deus.

O primeiro passo do alívio é ser libertado pela verdade da ilusão da bondade própria

2.   Precisamos encontrar justificação na graça

Mas o autêntico evangelho de Jesus não para por aí. Ele acena com a maior das esperanças: a graça de Deus. É nesse momento que nossa mente é conduzida ao correto entendimento da natureza humana e do amor de Deus.

5 Por isso, mesmo quando estávamos espiritualmente mortos nos nossos pecados, Ele nos deu uma vida nova juntamente com Cristo. Vocês foram salvos pela graça de Deus.6 E, como somos identificados com Cristo Jesus, Deus nos ressuscitou assim como ressuscitou a Cristo e nos fez reinar com Ele nos céus.7 Deus fez isso para que pudesse mostrar a incomparável riqueza da sua graça para as gerações futuras. Esta graça é demonstrada pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus.8 Pois é pela graça de Deus que vocês foram salvos, por meio da fé que vocês têm. Vocês não salvaram a si mesmos. A salvação vem de Deus como um dom,9 e não como o resultado das obras que alguém fez, para que assim ninguém se orgulhe. Ef 2.5-9 (VFL)

Evangelho quer dizer boas notícias. E boa notícia é que Deus não nos abandonou. Ele nos viu indo em direção ao abismo, caminhado feito zumbis para longe dele, por causa de nossos pecados.

E o que ele fez? Ele nos amou de uma maneira tão impressionante que decidiu entregar Jesus, seu único filho, para que através de sua morte e ressurreição pudéssemos receber vida.

Não havia e não há em nós qualquer mérito para que Deus nos ame. Isso tudo foi graça. A demonstração da bondade de Deus, que resolveu nos dar nova oportunidade (pela fé em Jesus) de nos aproximarmos dele e revivermos. Um presente de Deus para nós.

Por que eu fui salvo? Porque Deus o amou!
O que ele viu em mim? Nada!
O que eu fiz para merecer? Nada!
Então, porque Deus me amou? Graça! Favor imerecido da parte de Deus.

Da mesma forma que fomos salvos pela graça de Deus, isto é, sem qualquer mérito de nossa parte para que isso acontecesse; também somos chamados a viver a vida com base nessa mesma graça, isto é, sabendo que nossa caminhada de fé não é resultado de qualquer mérito de nossa parte, mas do amor gracioso de Deus por nós.

Conclusão

Ser aliviado por Jesus não é se tornar apático na igreja, deixar de participar dos cultos e eventos. Quando os fardos da religiosidade vazia são retirados de sobre nossos ombros continuamos servindo, mas nosso serviço deixar de ser para obter pontos de Deus e se transforma em expressão de gratidão a Ele e de amor pelos irmãos.

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mt 11.28 (ARA)


O evangelho autêntico é assim, nos leva aos pés de Cristo. Vinde a mim, ele disse. E nós dizemos: sim, Senhor. 

10 fevereiro 2016

As faces escuras do arrependimento religioso


Arrependimento para Santificação - Parte 1 
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016

Em nossos dois encontros, hoje pela manhã e à noite, vamos refletir juntos, e com a ajuda do Espírito Santo de Deus, sobre o arrependimento e suas implicações no processo de santificação dos discípulos de Jesus.

Eu espero que você permaneça atento e acompanhe comigo esse maravilhoso e importante ensino das Escrituras, para assim colher frutos preciosos em sua vida, na vida de sua família e na vida de sua igreja.

Bom, a abordagem mais comum sobre arrependimento é sobre o papal que ele tem naquilo que costumamos chamar genericamente de conversão (ou aceitar a Jesus, ou se entregar a Jesus). Essa abordagem será feita nas outras pregações, quando será tratada com detalhes. Portanto falarei sobre isso apenas o suficiente para introduzir o assunto. Em seguida falaremos sobre a relação entre arrependimento e santificação.

Arrependimento e Salvação

A verdade é que arrependimento está fora de moda. Ninguém mais deseja se arrepender. O que ouvimos o tempo todo é que devemos viver a vida de forma intensa, fazendo tudo que tivermos vontade, para depois não lamentarmos por não ter curtido tudo que a vida tem para oferecer. Arrependimento parece uma coisa triste e está definitivamente fora de moda.

Hoje, quanto alguma tristeza ronda nossas mentes, talvez por causa de algo que nossa consciência não está em paz, rapidamente muitas vozes se levantam (no Face, no Whatsapp ou ao vivo mesmo) para dizer que não devemos dar espaço para esses sentimentos negativos, e que arrependimento a gente só deve ter pelas coisas que não fez; o resto faz parte da vida. Será que esse ensino facebokiano está de acordo com as Escrituras?

Se olharmos para as Escrituras e para a história da Igreja, veremos que, na verdade, o arrependimento é uma disciplina espiritual tão importante que nenhum cristão tem o direito de desconhecer os seus elementos e as armadilhas cercam as mentiras e equívocas que cercam esse assunto.

Penso que nosso olhar sobre o arrependimento, atualmente, é, de certa forma, simplista. Não sabemos muito bem o que ele significa nem como ele pode acontecer. Sabemos que as pessoas devem se arrepender para serem salvas, mas nossa compreensão sobre arrependimento e nossa experimentação pessoal é quase sempre limitada.

Thomas Watson, um pregador e pastor inglês do século XVII, escrevendo sobre arrependimento, identificou ao menos seis diferentes fases desse processo. Segundo ele, para que um verdadeiro arrependimento aconteça, é necessário:

Percepção do pecado
Tristeza pelo pecado
Confissão de pecado
Vergonha pelo pecado
Ódio pelo pecado
Converter-se do pecado

D. L. Moody, um dos maiores evangelistas norte-americanos do século XIX, em uma de suas pregações, escreveu o que poderia ser chamado de 5Cs do arrependimento:

Convicção de pecado
Contrição pelo pecado
Confissão de pecado
Conversão do pecado
Confissão de Cristo

A verdade é que há muito a aprender sobre arrependimento a fim de não nos tornamos evangelistas rasos. O desconhecimento da natureza humana e da própria pecaminosidade muitas vezes nos torna incapazes de desafiar as pessoas a mudarem o rumo de suas vidas.

Quem não experimentou arrependimentos verdadeiros em sua própria vida dificilmente será capaz de desafia outras pessoas ao verdadeiro arrependimento.

Arrependimento e santificação

Pode ser algumas pessoas só consigam ver o arrependimento como algo que acontece àquele que não é cristão, para que a pessoa seja salva. Mas essa é uma visão limitada do que arrepender-se.

O profeta Isaías registrou uma afirmação que Deus fez sobre arrependimento que deve chamar nossa atenção para o fato de que arrependimento é parte da caminhada de todos aqueles que seguem o Senhor.

“No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigo, mas vocês não quiseram.” (Is 30;15)

Para quem o profeta Isaías escreveu esse recado do Senhor? Teria sido para nações incrédulas, um povo que não temia ao Senhor? Não! Isaías estava falando com o povo de Deus.

Lendo o começo desse capítulo, é possível constatar que a fala do Senhor era para os seus “filhos obstinados... que executam planos que não são os meus, fazem acordo sem minha aprovação, acumulando pecado sobre pecado.” Is. 30.1

Um outro profeta, chamado João Batista, começou o seu ministério com um apelo ao arrependimento:

“Arrependam-se, porque o Reino dos Céus está próximo.” Mt. 3.2

Com quem João Batista estava falando? Seria com os romanos? Não! Ele estava se dirigindo ao povo de Deus, que temia ao Senhor. Um povo que conhecia as profecias e aguardava a vinda do messias prometido.

D. L. Moody, falando sobre o arrependimento disse o seguinte:

“Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos Cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.”

A conclusão a que podemos chegar, então, é que arrependimento deve fazer parte da vida do povo de Deus como uma prática cotidiana, assim como o pecado é cotidiano. Ao mesmo tempo precisamos descobrir como o ato de arrepender-se pode ser importante para nossa caminhada com Cristo.

Faces escuras do arrependimento

Tim Keller, pastor e escritor norte-americano, escreveu um texto, traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto e publicado no site monergismo.com, que pode nos ajudar a descobrir o papel e a importância do arrependimento no progresso da vida cristã.

Ele nos relembra que o arrependimento não é uma exclusividade daqueles que seguem a Jesus. Entre aqueles que simplesmente praticam uma religião também ocorrem arrependimentos. A diferença está no propósito, no objetivo que se tem ao arrepender-se.

Keller explica que para os religiosos o arrependimento é basicamente um meio de “manter Deus feliz”, de forma que Ele continue te abençoando e respondendo suas orações. Já para os seguidores de Jesus, que abraçaram o seu evangelho e foram definitivamente salvos por ele, o arrependimento tem como propósito manter viva a alegria do nosso relacionamento com Ele.

Esse arrependimento religioso é uma tentação que sempre nos rodeia. Precisamos rejeitá-lo, porque esse tipo de arrependimento é egoísta, promotor de justiça própria e amargo (até o fim).

UMA NOTA: religioso é aquele que faz aquilo que é certo, mas pelas razões errada. Religioso é aquele que ser esforça para viver uma vida correta, porque pensa que assim vai acumular créditos com Deus, e ganhará o direito de pedir o que quiser para ele. Vejamos um desses religiosos em ação na história contada por Jesus no evangelho de Lucas 18.9-12.

9 ​E disse também a uns, que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam aos outros, esta parábola: 10 ​Dois homens subiram ao Templo para orar, um fariseu, e o outro cobrador de impostos. 11 ​O fariseu, estando de pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem [sou] como este cobrador de impostos. 12 ​Jejuo duas vezes por semana, [e] dou dízimo de tudo quanto possuo. [BL]

Com olhos atentos a esta história, vamos refletir sobre algumas faces escuras do arrependimento, quando ele é praticado por motivos religiosos, como no caso desse fariseu.

Egoísmo

Uma das faces escuras desse arrependimento religioso, é a preocupação do religioso consigo mesmo. Tomado pelo egoísmo, o religioso fica triste não pelo pecado em si, mas por causa do medo que tem de sofre alguma consequência, ser punido, perder alguma bênção ou coisas do gênero.

O arrependimento religioso é aquele que fala mais sobre si mesmo que sobre a graça de Deus; pensa mais em se dar bem que em agradecer a Deus, está mais preocupado na sua imagem diante de deus que na visão de um Deus maravilhoso que o amou.

Veja que o fariseu estava tão focalizado em si que em sua oração só consegui falar dele mesmo e de suas conquistas.

Justiça própria

Além do egoísmo, outra das faces escuras desse arrependimento religioso é a justiça própria. Tim Keller alerta que, muito facilmente, o arrependimento pode se tornar uma espécie de “expiação” pelo pecado.

É fácil ver isso na fala do fariseu. A oração dele é quase uma exposição de motivos pelo quais ele deve ser reconhecido por Deus e pelos outros como alguém digno, honesto e cumpridor de suas obrigações. Ele não precisa da graça de Deus. Ele mesmo já fez tudo.

Da mesma forma algumas pessoas se arrepende, mudam de comportamento e até se tornam cidadãos de bem, porque acham que é assim que Deus vai aceita-los. O arrependimento dessas pessoas é uma tentativa de zerar as contas com Deus. Esse não é o arrependimento de que fala o evangelho de Cristo.

Juntando o começo e o final desse texto, talvez fique ainda mais claro o abismo para onde que esse tipo de arrependimento pode nos levar:

“E disse também a uns que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam os outros... Eu lhes digo que este homem (publicano), e não o outro foi para casa justificado diante de Deus.” Lc. 18.9,14

Ao contrário dos religiosos que confiam em si mesmos e tentam convencer Deus de que são justos e bons, os seguidores de Jesus confiam no amor gracioso de Deus, provado pela morte de Cristo e sabem que não justos, mas forma justificados pelo sangue de Cristo.

Amargo até o fim

Esse arrependimento religioso, além de ser egoísta e buscar, na maioria das vezes, justiça própria, torna as pessoas inseguras e tensas, com um gosto amargo na boca. Como é isso?

Quem decidir viver uma vida perfeita para agradar a Deus e ser aceito por ele, logo vai perceber que isso não é nada fácil. Na verdade, é impossível. Mas o religioso, sobretudo o brasileiro, não desiste nunca. Então, a cada novo pecado que surge em sua vida ele se arrepende e no fundo de sua alma afirma para si mesmo que essa foi a última vez. Com o tempo, a ocorrência do pecado e a necessidade de arrependimento se torna um desconforto e, por fim, um peso insustentável de tristeza e amargura.

Para quem pratica o arrependimento religioso, isto é, para quem muda de comportamento apenas como objetivo de ser aceito por Deus, cada ocorrência de pecado e arrependimento se torna traumática, anormal e ameaçadora para sua saúde espiritual.

É muito difícil para uma pessoa que vive à base de arrependimentos religiosos admitir que pecou, pois a esperança do religioso é um dia ser declarado por Deus uma pessoa de coração bom, talvez alguém que suplantou o pecado. Mas o que dizem as Escrituras sobre isso? Vejamos na carta escrita pelo apóstolo do amor, João.

8 Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

1 MEUS FILHINHOS, estou lhes dizendo isto a fim de que vocês fiquem longe do pecado. Mas se vocês pecarem, existe alguém para rogar por vocês diante do Pai. O nome dele é Jesus Cristo, Aquele que é tudo quanto é bom e que agrada completamente a Deus. 2 Ele foi quem levou sobre si a ira de Deus contra os nossos pecados, e nos trouxe à comunhão com Deus; e Ele é o perdão para os nossos pecados, e não somente os nossos, mas os do mundo inteiro.

Se a nossa esperança é nossa capacidade de fazer as coisas certas e sermos, por fim, considerados justos, admitir nossas fraquezas e deslizes pode ser um sofrimento atroz, um verdadeiro amargor.

Mas no evangelho nossa esperança está na justiça de Cristo e em seu amor por nós. Por isso, para quem pratica o arrependimento conforme o evangelho, arrepender-se não é dolorido nem penoso. Claro que sempre há tristeza pelo pecado cometido, mas o entendimento de que já fomos alcançados pela graça de Deus nos faz ficar alegres, por causa do perdão concedido por ele.

Conclusão

O arrependimento está no centro da dinâmica da vida cristã. Quanto mais maduros estamos em nossa fé, tanto mais facilmente nos arrependemos de nossos pecados.

O cristão amadurecido é aquele que já não tem ilusões sobre si mesmo; que conhece a maldade de seu próprio coração e sabe que nada adiante negar ou justificar os seus pecados.

O seguidor de Jesus que está crescendo em direção à estatura de varão perfeito, à imagem de Cristo, é aquele de coração quebrantado, que ser arrepende fácil, que sem barreiras e com a frequência necessária reconhece seu pecado, se contrista por causa disso, confessa os pecados cometidos, se converte e, por fim confessa Cristo como a única esperança guarda em seu coração.

Que o Senhor mesmo nos ajude nessa jornada.