17 setembro 2018

Sujeitai-vos uns ao outros

  Igreja Batista Videira -  João Pessoa 16/09/2018
Sujeitai-vos uns ao outros

Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo. Ef. 5.21

Dando continuidade a essa série de mensagens sobre os mandamentos recíprocos e sobre como eles são imprescindíveis para uma igreja que se pretende relacional, chegamos ao 11º mandamento “uns aos outros”.

Começamos com “membros uns dos outros” e passamos por “Dedicados uns aos outros”, “Honrando uns aos outros”, “Aceitando uns aos outros”, “Admoestando uns aos outros”, “Saudando uns aos outros”, “Servindo uns aos outros”, “Levando as cargas uns dos outros” e por fim , domingo passado refletimos sobre “suportando uns aos outros”.

Sob diversos aspectos o tema de hoje é indigesto para várias pessoas. Sujeitar-se a alguém está para além dos limites que algumas pessoas estão dispostas a ir a fim de seguir a Jesus. Sujeitar-se a Deus, tudo bem; mas a outras pessoas... aí já é demais, podem pensar alguns.

De certa maneira, a resistência para submeter-se a alguém é porque o significado da palavra vem carregado de um sentimento de impotência diante de alguém mais forte ou poderoso que eu. Submissão, portanto, é sempre algo que faço contra a minha vontade.

Quando Paulo escreveu sua carta aos efésios sujeitar-se já significava respeitar a hierarquia, isto é, a submissão era imposta de cima para baixo.

“A hierarquia estava implícita nas estruturas sociais do século I. O imperador ficava sozinho no topo da pirâmide. Imediatamente abaixo, ficava o senado, com cerca de 600 homens. Abaixo deles, estavam os ricos proprietário de terras e homens de negócios. Abaixo, estavam os aristocratas locais das províncias e cidades do império, que possuíam algum poder político ou influência devido à sua riqueza (...) A maior parte da população ocupava as classes inferiores — pequenos proprietários de terras, artesãos e comerciantes, e os pobres que conseguiam sustentar-se como trabalhadores diaristas. Abaixo deles, os mais inferiores na escala social, estavam os escravos, considerados segundo a lei como meras propriedades, apesar do fato de que muitos escravos eram indivíduos muito instruídos e talentosos. Nesta sociedade social altamente estratificada, a posição e os privilégios eram guardados ferozmente.”[1]

Em nossos dias, embora a hierarquia seja um pouco diferente, o significado é parecido. Sujeitar-se a alguém é algo que se faz obrigado, encurvado sobre um poder maior e contra a própria vontade.

Por isso muita gente torce o nariz quando se depara com os chamados bíblicos para nos sujeitarmos a outra pessoa (como, por exemplo, as esposas se sujeitarem a seus maridos, ou os filhos se sujeitarem a seus pais). Eles pensam que um Deus de amor não deveria recomendar a alguém que se sujeitasse a outra pessoa, o que parece razoável.

O que fazer, então com esse mandamento?

Uma rápida perspectiva bíblica

Bem, a primeira coisa que precisamos fazer é nos certificar de que realmente a Bíblia nos pede isso, isto é, que nos submetamos a alguém. Vejamos, então, alguns textos:

1 Pedro 5.5
5 Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.

Tito 2.9,10
9 Ensine os escravos a se submeterem em tudo a seus senhores, a procurarem agradá-los, a não serem respondões e 10 a não roubá-los, mas a mostrarem que são inteiramente dignos de confiança, para que assim tornem atraente, em tudo, o ensino de Deus, nosso Salvador.

Colossense 3.20
20 Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor.

Efésios 5.22
22 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor,

Romanos 13.1
1 Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas.

Com esses textos podemos ver que o conceito de submissão não era estranho aos escritores bíblicos, muito pelo contrário. A expressão foi usada para orientar uma variedade de comportamentos que deveriam se adotados pelos cristãos. Se a Bíblia realmente apresenta e recomenda a sujeição como uma forma de relacionamento, precisamos compreender a natureza dessa sujeição.

Sujeição Mútua

Vamos examinar criteriosamente as Escrituras e buscar seu real significado. Só assim o texto sagrado vai cumprir plenamente seu papel em nossas vidas.

Tanto para sociedade do primeiro século como para a dos nossos dias, a sujeição é uma via de mão única que obriga o mais fraco a curvar-se diante do mais forte. Mas o nosso texto diz “sujeitem-se uns aos outros”. Há um elemento novo aqui. O apóstolo Paulo nos apresenta um tipo de sujeição que é um caminho de mão dupla: uns aos outros, ele diz.

Fora do Evangelho sujeitar-se é uma atitude passiva, uma marca dos vencidos. Mas, sob a sombra da cruz, submeter-se é a marca do vitoriosos; uma atitude proativa recomendada para todos.

Como é essa sujeição de mão dupla?

Imagino que os irmãos de Éfeso, assim como nós estamos agora, ficaram muito curiosos sobre essa sujeição de mão dupla. A sujeição pela força eles já conheciam, mas como seria esse 'sujeitai-vos uns aos outros'?

Ao propor que nós devemos nos sujeitar uns aos outros, Paulo não estava criando um novo ensino. Foi Jesus quem propôs esse novo jeito para o mundo funcionar:

Jesus os chamou e disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Mt 20.25-28

Esse é um bom momento para dizer que seguir a Jesus é descobrir a visão de mundo de Cristo (cosmovisão) em seus mais diferentes aspectos e se esforçar para colocá-la em prática em nossas vidas; caso contrário não teremos o direito de ser chamados discípulos de Jesus.

É importante perceber que o NT não desafia diretamente as estruturas sociais existentes, como a escravidão. Em lugar disto ele fala diretamente às pessoas cristãs, e as convoca para viverem uma vida de amor dentro das estruturas da sociedade.[2]

Todos conheciam a submissão imposta, com base na força, de cima para baixo; Paulo ecoando as palavras e a vida de Jesus, propôs uma submissão não de cima para baixo, mas em todas as direções; não com base na força, mas baseada no amor. Ele fez algumas aplicações práticas para demonstrar como isso deveria funcionar. Vejamos:

Maridos e esposas

22 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, (...) 25 Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela

As esposas são exortadas a se sujeitarem a seus próprios maridos assim com a igreja se está sujeita a Cristo, isto é, espontaneamente e como resposta ao amor com que são amadas.

O marido é chamado a amar sua esposa, e a colocar suas vidas a serviço dela, protegendo, cuidando e provendo suas necessidades.

Assim, nesse “sujeitai-vos uns aos outros” que acontece entre marido e mulher, é o amor que norteia tanto a submissão da mulher (mediante o respeito e a consideração) quanto a submissão do homem (mediante o serviço).

Pais e filhos

1 Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo (...) 4 Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.

Os filhos são exortados a obedecerem a seus pais, reconhecendo que eles têm autoridade para orientá-los.

Já os pais são orientados a agirem com equilíbrio e sensatez, evitando assim irritarem seus filhos, levando-os à ira e à rejeição dessa autoridade.

Assim nesse “sujeitai-vos uns aos outros” que acontece entre pais e filhos, é o amor que norteia tanto a sujeição dos filhos (mediante a obediência) quanto a submissão dos pais (mediante a perseverança no ensino e no exemplo).

Senhores e escravos

5 Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo. (...) 7 Sirvam aos seus senhores de boa vontade, como ao Senhor, e não aos homens, (...) 9 Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.

Paulo não é um revolucionário que enfrenta ostensivamente a cultura escravagista de sua época, como muitos gostariam de ver. No entanto, o enfrentamento acontece e se dá na raiz do problema: a natureza pecadora do ser humano.

Os escravos são orientados a reconhecerem a autoridade de seus senhores, a respeitá-los, a tratá-los com sinceridade e a servi-los como se estivessem servindo Cristo.

Já os senhores são exortados a tratarem seus escravos com iguais a eles mesmos e deixarem de lado as ameaças, lembrando-se que há um único Senhor sobre todos, que não faz diferença entre senhores e servos.

Assim, nesse “sujeitai-vos uns aos outros” que acontece entre senhores e escravos, é a confiança/temor em Jesus que sustentam tanto a sujeição dos escravos (mediante a obediência) quanto a submissão dos senhores (mediante o respeito e o tratamento digno).

Cristãos e seus líderes

Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês. (Hb 13.17)

Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (1 Pe 5.2,3)

Os cristãos são exortados a se submeterem à autoridade de seus líderes obedecendo sem resistência. Já os pastores e líderes são orientados a liderarem com espírito de servo, deixando de lado qualquer inclinação autoritária ou controladora.

Assim, mediados pelo amor e pela confiança, todos podemos nos sujeitar uns aos outros. Essa vida de amor à qual somos convocados vira do ponta-cabeça as ideologias de plantão, e capacita o povo de Deus a se unir em um só corpo, uma só família, uma só nação.

Conclusão

A sujeição imposta pela força, de cima para baixo, que oprime o fraco e humilha aquele que já está abatido não é deve ter lugar na igreja de Jesus e nem em qualquer um de nossos relacionamentos.

Mas a sujeição mútua, pautada no amor e na confiança, que se acontece em todas as direções, é a proposta de Cristo para uma nova realidade. O Espírito de Deus está pronto para nos ajudar. Vamos juntos?

Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).


[1] Comentário Histórico Cultural do NT
[2] Comentário Histórico Cultural do NT

2 comentários:

Unknown disse...

Olá PR. Aristarco seria possível o irmão me enviar sua série de estudos sobre sujeita os uns aos outros?

Meu zap é 62 982243003

Unknown disse...

Obrigado