05 novembro 2009

Breves anotações sobre a missão


Quando falamos e ouvimos a palavra missionário, cada um de nós tem um conceito próprio, resultado de tudo que já ouvimos e vimos sobre o assunto.

Para a mente de alguns virão imagens dos nossos irmãos da América do Norte, com um português sofrido e muito amor no coração. Na mente de outros pode vir imagens dos missionários católicos e seu trabalho de evangelização entre os indígenas. Outros vão se lembrar do pastor de paletó e gravata, pouca instrução, pregação fervorosa, percorrendo o os sertões nordestinos para falar de Jesus.

Hoje eu gostaria de refletir com os irmãos sobre alguns conceitos relativos a missões e começar a construir as bases de uma visão missionária para a Igreja Batista do Caminho.
A palavra “missionário” é derivada da palavra missão. Isto é, genericamente um missionário é alguém a quem foi confiado um objetivo a ser alcançado. Missionários são pessoas que têm uma missão a ser cumprida.

Considerando o significado da palavra, os missionários não estão restritos ao universo religioso (um diplomata, poderia perfeitamente ser enquadrado na definição) e dentro da religião não se restringem ao cristianismo (Islâmicos, budistas e outras agremiações religiosas têm também os seus missionários.

Se admitimos a existência de missionários, pessoas que têm uma missão, no contexto da Igreja de Cristo, isso nos remete à necessidade de fazer algumas perguntas:

As primeiras são: qual é a missão, para quem é a missão, qual a abrangência da missão?

Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. Mt 28.16-20

Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam. Mc 16.14-20

e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu. Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus. Lc 24.46-53

Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. At 1.6-8

1. Qual é a missão

MATEUS: Fazer discípulos
• Convencer (do pecado e da justiça)
• Batizar – Celebrar a obra do Espírito
• Ensinar – Apresentar as Palavras de Jesus

MARCOS: Pregar o evangelho
• O que é o evangelho – Boa notícia: Deus se fez gente para provar o seu amor por nós. Sem que haja em nós qualquer motivo que justifique esse amor, Ele está determinado a nos atrair para si mesmo, para nosso benefício eterno.
• Confirmação de poder – Se não há transformação de vida, a boa notícia ainda não encontrou lugar no coração.

LUCAS: Ser testemunhas
      Testemunhas de que?
      Os discípulos, da morte e ressurreição de Cristo;
      E nós? Da morte da nossa velha natureza inclinada ao pecado e do nascimento de uma nova natureza inclinada para Deus.

De forma abrangente, a missão é mesma para todos: (1) Fazer Discípulos, (2) Pregar o Evangelho e (3) Ser Testemunha.

2. Para quem é a missão é a missão

MATEUS 28:16 Seguiram os onze discípulos para a Galiléia

MARCOS 16:15 Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa

LUCAS 24:33 E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles,

A missão é para os discípulos. A missão é para todos.

·       Ninguém está fora. Se você é discípulo de Jesus, a missão é pra você; A missão é pessoal.
·       A missão não pode ser terceirizada
Ø Nenhuma agência missionária pode cumprir a sua missão por você;
Ø Nenhum outro irmão pode cumprir a sua missão por você;
Ø Nenhum pastor, pregador, evangelista, obreiro, presbítero, diácono, líder de ministério, conselheiro, professor ou qualquer autoridade eclesiástica pode cumprir sua missão por você.

        Ofertar não é cumprir a missão;
        Orar não é cumprir a missão
        Fazer campanha de missões não é cumprir a missão.

Devemos parar de fazer isso, então? Claro que não! Mas precisa estar bem claro que ao ofertarmos, orarmos e fazermos campanhas de apoio estamos ajudando outros a irmãos a cumprir a missão deles, mas ainda precisamos cumprir nós mesmos a missão: fazer discípulos, pregar o evangelho e ser testemunha do poder transformador de Deus.

3. Qual a abrangência da missão

MATEUS 28:19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...

MARCOS 16:19 15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo...

ATOS 1:8 ...e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra

A missão deve ser cumprida ...
... em todas as nações
... por todo o mundo
... até os confins da Terra

• Não temos o direito de restringir a missão à nossa zona de conforto;
• Não temos o direito de escolher uns e excluir outros;
• O mundo inteiro carece da boa notícia do evangelho.

Como vocês acham que os discípulos viram aquela missão? Eu me lembrei do filme: Missão Impossível. E missões impossíveis exigem uma boa estratégia. O estrategista é o próprio Cristo. Lucas revela a estratégia orientada por Cristo: Jerusalém – Judéia – Samaria – Confins da Terra

Jerusalém – Onde você está: seu bairro, sua cidade
Judéia – Nosso estado, ou nossa região
Samaria – Estados ou regiões vizinhas
Confins da Terra – Outros países e nações.

Mais algumas questões:

• Isso é uma seqüência obrigatória ou uma prioridade?
Parece-me uma prioridade sensata. Se não estamos dispostos e prontos para cumprir a missão onde estamos, porque cumpriríamos em uma região distante e inóspita? A seqüência é um antídoto contra a fulga e o escapismo.

• A missão pode ser cumprida de forma concomitante?
Paulo, preso em Roma, fala de Cristo aos soldados que o vigiavam ao mesmo tempo que escrevia cartas para as igrejas de outras cidades e regiões. A cada domingo, eu ensino as Escrituras e testemunho do poder transformador de Deus em minha vida e estas mensagens, publicadas no blog são lidas por pessoas de mais de 30 países diferentes.

• Existe um papel para as igrejas locais no que tange ao cumprimento da missão?

1 Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. 2 E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. 3 Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Act 13:1-3

A igreja em Antioquia tinha recebido de Deus dons e capacitações. Eles viviam sua vida com Deus; uma vida de serviço e dedicação. Até que o Espírito Santo de Deus revelou que iria realizar alguma coisa para qual ele usaria Barnabé e Saulo. O que fez a igreja? Ouviu e atendeu ao Espírito de Deus.

A obra missionário não era um projeto da igreja em Antioquia, mas um projeto do Espírito de Deus. A igreja em Antioquia, atenta a voz do Espírito, participou da primeira grande expansão do evangelho na Ásia e Europa.

Conclusão

O que será que o Espírito irá fazer em nossos dias? Qual será a obra de Deus para os nossos tempos? Haverá outra grande onda de expansão do Reino? Ninguém descobre os intentos de Deus sem que Ele os revele.

Então, penso que devemos ficar atentos. Servir ao Senhor onde estamos, com jejum e oração, até que o Espírito nos chame para participar de algo que Ele vai fazer.

Não devemos ter pressa, mas também não devemos temer, porque quando isso acontecer será a obra dele, e nós seremos parceiros de Deus naquilo que Ele estará realizando.


Mensagens e Pregações



O blog Mensagens e Pregações ultrapassou a marca de 150 mil acessos únicos desde que foi criado. Mensalmente pessoas de mais de 50 diferentes países acessam algum texto publicado ali. E todas as semanas recebo comentários e considerações dos leitores.

O blog está sem atividade desde junho, mas continua sendo bastante acessado, provavelmente como fonte de pesquisa para pregadores e gente que gosta de estuda a Bíblia. Nas próximas semanas farei uma grande atualização, publicando as mensagens dos últimos meses.

Confesso que visualmente o Mensagens e Pregações não é muito atrativo: só tem texto, nenhuma imagem. Essa semana fiz algumas pequenas mudanças no layout e incluir uma ferramenta de pesquisa que será muito útil para quem deseja pesquisar determinado assunto. Espero que os leitores gostem.

Sou grato ao Sennhor Jesus por esse canal missionário, educacional, evangelístico (e não se mais o que). Que o Espírito de Deus use cada mensagem conforme o Seu propósito.

03 novembro 2009

Agostinho (354-430)

by Vania DaSilva
Fonte: http://www.sepoangol.org/agostino.htm

Introdução


Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história que continua válida até hoje em sua essência.Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros, Agostinho permaneceu em dois mundos, o clássico e o novo medieval.

Nascido em 354, na casa de um oficial romano na cidade de Tagasta em Numidia, no norte da África, era filho de um pai pagão, Patrício, e de uma mãe crente, Mônica. Apesar de não serem ricos, era uma família respeitada. Sua mãe dedicou-se à sua formação e conversão à fé cristã.

Com muito sacrifício, seus pais lhe ofereceram o melhor estudo romano. Seus primeiros anos de estudo foram feitos na escola local, onde aprendeu latim à força de muitos açoites. Logo, foi enviado para a escola próximo a Madaura, e em 375 à Cartago, para estudar retórica.

Longe da família, Agostinho se apartou da fé ensinada por sua mãe, e entregou-se aos deleites do mundo e a imoralidade com seus amigos estudantes. Viveu ilegitimamente com uma concubina durante treze anos, a qual lhe concedeu um filho, Adeodato, em 372. O mesmo morreu cerca do ano 390.



Na busca pela verdade, ele aceitou o ensino herético maniqueísta, o qual ensinava um dualismo radical: o poder absoluto do mal -- o Deus do Antigo Testamento, e o poder absoluto do bem -- o Deus do Novo Testamento. Nesta cegueira ele permaneceu nove anos sendo ouvinte, porém, não estando satisfeito, voltou à filosofia e aos ensinos do Neo-platonismo. Ensinou retórica em sua cidade natal e em Cartago, até quando foi para Milão, Itália, em 384. Em Roma, foi apontado pelo senador Símaco como professor de retórica em Milão, e depois para a casa imperial. Como parte de seu trabalho, ele deveria fazer oratórias públicas honrando o imperador Valenciano II.

Sua Conversão

No ano 386, quando passava várias crises em sua vida, Agostinho estava meditando num jardim sobre a sua situação espiritual, e ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e Leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13,14 e a leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não conseguiu encontrar nem no maniqueísmo nem no neo-platonismo. Com sua conversão à Cristo, ele despediu sua concubina e abandonou sua profissão no Império. Sua mãe, que muito orara por sua conversão, morreu logo depois do seu batismo, realizado por Ambrósio na Páscoa de 387. Uma vez batizado, regressou um ano depois para Cartago, Norte da África, onde foi ordenado sacerdote em 391. Em Tagasta, ele supervisionou e instruiu um grupo de irmãos batizados chamados de “Servos de Deus”. Cinco anos depois, foi consagrado bispo de Hipona por pedido daquela congregação, onde permaneceu até sua morte. Daí até sua morte em 430, empenhou-se na administração episcopal, estudando e escrevendo.

Suas Obras

Agostinho é apontado como o maior dos Pais da Igreja. Ele deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas. Suas obras mais importantes foram:

Confissões, obra autobiográfica de sua vida antes e depois de sua conversão;

Contra Acadêmicos, obra onde demonstra que o homem jamais pode alcançar a verdade completa através do estudo filosófico e que a certeza somente vem pela revelação na Bíblia;

De Doctrina Christiana, obra exegética mais importante que escreveu, onde figuram as suas idéias sobre a hermenêutica ou a ciência da interpretação. Nela desenvolve o grande princípio da analogia da fé;

De Trinitate, tratado teológico sobre a Trindade;

De Civitate Dei, obra apologética conhecida como Cidade de Deus. Com o saque de Roma por Alarico, rei dos bárbaros em agosto 28 de 410, os romanos creditaram este desastre ao fato de terem abandonado a velha religião clássica romana e adotado o cristianismo. Nesta obra, põe-se a responder esta acusação a pedido de seu amigo Marcelino.

Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias dos maniqueus, dos donatistas e, principalmente, dos pelagianos. Também escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas, que tratam de problemas práticos que um administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos do seu ministério.

A formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das contribuições permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Nem os historiadores gregos ou romanos foram capazes de compreender tão universalmente a história do homem. Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a soberania de Deus sobre a criação. Esta e outras inspiradoras obras mantiveram viva a Igreja através do negro meio-milênio anterior ao ano 1000.

Agostinho é visto pelos protestantes como um precursor das idéias da Reforma com sua ênfase sobre a salvação do pecado original e atual através da graça de Deus, que é adquirida unicamente pela fé. Sua insistência na consideração dos sentido inteiro da Bíblia na interpretação de uma parte da Bíblia (Hermenêutica), é um princípio de valor duradouro para a Igreja.

Seus últimos meses

Durante os últimos meses de vida, os vândulos tomaram a cidade fortificada de Hipona por mar e terra. Eles haviam destruído as cidades do Império Romano no Norte da África e as evidências do Cristianismo. A cidade estava cheia de pobres e refugiados, e a congregação de Agostinho não era uma excessão. No final de sua vida, ele foi submetido a uma enfermidade fatal, e com 75 anos ele pediu que ficasse só, a fim de se preparar para encontrar com o seu Deus. Um ano depois da morte de Agostinho em 430, os bárbaros queimaram toda a cidade, mas felizmente, a biblioteca de Agostinho foi salva, e seus escritos se perpetuam em nosso meio até a nossa era.




Agostinho de Hipona 2
Por Sérgio Paulo de Lima
Fonte: Revista Palavra Viva - Boas-Novas de Alegria, Editora Cultura Cristã.

Agostinho não morreu martirizado, porém, desenvolveu a Doutrina da Graça de modo tão Bíblico que Calvino o abraçou. Sendo assim, vamos estudar a vida deste servo de Deus e, como os reformadores fizeram, aproveitar de seus ensinos o que tem respaldo bíblico.

A origem

Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagasta, na África (hoje Argélia) e faleceu em 28 de agosto de 430 em Hipona. Foi um dos maiores pensadores da Igreja. Era filho de Patrício, homem de recursos, pagão, mundano, mas que se converteu nos últimos anos de sua vida e de Mônica, cristã que sempre manteve esperanças em relação ao filho, embora Agostinho tenha vivido sensual e desregradamente até os 32 anos, quando ocorreu sua conversão. Fez os estudos secundários em Madauro e estudou retórica em Cartago.

Agostinho foi um aluno brilhante e capaz em Literatura, línguas e retórica (a arte do bem falar). Aos 17 anos ingressou na fase da imoralidade, teve uma amante, e com ela um filho chamado Deodato. Foi muito imoral e mulherengo. Nesta época, ao orar dizia: “Senhor dá-me continência e castidade, mas não hoje”.

A busca pelo conhecimento

A leitura do Hortensius, de Cícero, o despertou para a filosofia. Por esta época aderiu ao Maniqueísmo, do qual falaremos adiante.

Em 383, desiludido com o Maniqueísmo, aproximou-se temporariamente do Ceticismo. Depois de ter ensinado retórica em Cartago e Roma, em 384 foi nomeado professor em Milão, onde, entrou em contato com Ambrósio, bispo desta cidade.

A conversão

Conta-se que, certo dia, no final do verão de 386, num jardim, numa casa de campo em Milão, na Itália, se encontrava Agostinho assentado num barco. Ao seu lado estava um exemplar das epístolas de Paulo. Mas, ele parecia não estar interessado, pois experimentava uma intensa luta espiritual, uma violenta agitação de coração e mente. Levantando-se do banco, foi para baixo de uma figueira. Ali ouviu a voz de uma criança que dizia “toma e lê, toma e lê”. Quando voltou ao banco e abriu a Bíblia, encontrou a passagem de Rm 13.14,15 . Leu e se converteu ao Cristianismo.

Em 387 foi batizado por Ambrósio e , na volta para Tagasta, perdeu sua mãe, Mônica. Este fato lhe causou grande tristeza.

Renunciou, então, a todos os prazeres, depois de grande luta interior, e retirou-se para Cassiaciacum, perto de Milão, para meditar.

Atraído pelo ideal de recolhimento e ascese, resolveu fundar um Mosteiro em Tagasta. De sua cidade natal dirigiu-se para Hipona, no inicio de 391, onde foi ordenado sacerdote, e quatro anos mais tarde, bispo-coadjutor, passando a titular com a morte do bispo diocesano Valério.

Mesmo assim, não abriu mão do ideal de vida monástica, fundado nas dependências de sua catedral uma comunidade que foi modelo para muitas outras e um centro de irradiação religiosa.

O mundo em que viveu

Agostinho viveu num momento crucial da história- a decadência do Império Romano e o fim da Antiguidade Clássica. A poderosa estrutura que, durantes séculos, dominou o mundo, desabou pela desintegração do proletariado interno e pelo ataque externo das tribos bárbaras.

Em 410 foi testemunha da tomada de Roma pelos visigodos de Alarico. E, ao morrer, em 430, presenciou o sitio de Hipona por Gensérico, rei dos vândalos, e a destruição do poderio romano na África do norte. Foi nesse mundo convulsionado por lutas internas que Agostinho exerceu o magistério sacerdotal e escreveu sua obra, de tão decisiva importância na história do pensamento cristão.

O pensamento

Escreveu contra os maniqueus, defendeu as autoridades das escrituras, explicou sobre a criação, abordou a origem do mal, debateu sobre a questão do livre-arbítrio, quando então, se tornou um grande defensor da predestinação.

A maior de suas lutas foi contra o pelagianismo; estes negavam o pecado original e aceitavam o livre-arbítrio afirmando que o homem tem o poder de vencer o pecado. Afirmavam que o homem podia pecar ou não pecar, logo, tinha vontade livre. Agostinho por sua própria experiência, percebeu o erro disso.

As obras

Além dos inúmeros sermões e cartas, das volumosas interpretações da Bíblia, além de obras didáticas, de catequese e de polemicas contra várias heresias de seu tempo (maniqueísmo, donatismo, pelagianismo), deve-se mencionar, entre as mais importantes de Agostinho:

As confissões de Agostinho (400), uma autobiografia espiritual em que faz ato de penitência e celebra a glória de Deus; relata nela sua piedade; “Tu nos fizeste para ti e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso”.

De Trinitate (400-416), um tratado filosófico e teológico;

Civitas Dei ou cidade de Deus (413-426), uma justificação de fé cristã e teologia histórica, da qual é considerado o fundador. É uma síntese do pensamento filosófico – teológico e político de Agostinho. É considerada pelos críticos como uma filosofia racional da história.

Escreveu-a quando os bárbaros invadiam e Europa e Roma estava sitiada pelos infiéis.

Posições de Agostinho

Agostinho defendeu a imutabilidade de Deus, o princípio da livre criação, isto é, Deus não criou nada por imposição. Sustentou também, ao contrario dos que criam os maniqueístas, que o diabo não era igual em força de Deus. Deus é o único criador, e superior a qualquer força contraria.

Agostinho combateu com grande capacidade as heresias de seu tempo e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”, pois, como ninguém, soube compreender os seus efeitos. Na sua grande obra “cidade de Deus”, que gastou 13 anos para escrever, afirma: “Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo de si próprio, a celestial”.

Isto resume a sua obra.Como disse alguém, “seu símbolo é um coração”. Em chamas e o olhar voltado para as alturas”.

Agostinho foi um pregador incansável (400 sermões autênticos).Grande estudioso e teólogo, seu pensamento estava centrado em dois pontos essenciais: Deus e destino do homem.

Conclusão

Agostinho foi exemplo de alguém que saiu de uma vida confusa e desregrada, para uma vida de total consagração a Deus. O texto de Romanos 13.13,14, transformou sua vida cheia de pecados e se revestiu de Cristo, na alimentando a carne. Que essa consagração sirva de exemplo para nós.