30 novembro 2014

Ministério Pastoral: Três aspectos

Mensagem proferida do culto de consagração
 ao ministério da Palavra do Pr. Jardiel Roberto em João Pessoa/PB

Ministério Pastoral: Três aspectos

Introdução ao Evento

Hoje é noite de festa e de grande alegria! Estamos reunidos para confirmar o entendimento dos irmãos que reúnem aqui em Tambaú, Igreja de Jesus, a respeito do chamado de Deus na vida do Jardiel.

A vida, o testemunho, a família e o compromisso desse jovem poderiam levá-lo a servir ao Senhor em diversas posições desse complexo mundo em que vivemos. No entanto, entre as excelentes coisas a se fazer na vida, Jardiel tem declarado que sente o chamado de Deus para servir aos irmãos no ministério pastoral. Esse chamado foi identificado e confirmado por esta comunidade e pelos líderes a quem ele está submetido nos diversos aspectos de sua vida.

Por tudo isso, e por causa do carinho que todos aqui temos por ele e por sua família, estamos celebrando ao Senhor. É maravilhoso ver que nosso Pai continua cuidado de sua igreja e provendo os líderes de que necessitamos para prosseguir em direção ao alvo que nos está proposto.

Considerações pessoais

Eu me sinto honrado e grato com o convite que recebi para compartilhar a Palavra de Deus nesta noite tão especial. Em dias normais compartilhar a Palavra já é uma tarefa repleta de desafio. Hoje, então, os desafios se multiplicam. O que falar ao mesmo tempo para um jovem pastor, para colegas de ministério com longas jornadas de serviço no pastorado e para ministros de Deus das mais diversas vocações aqui presentes?

Depois de ponderar em oração sobre alguns caminhos, decidi recorrer à vida do apóstolo Pedro para que o Senhor possa através dessa breve reflexão nos trazer discernimentos, alertas e consolos. Portanto, peço que você entre em oração comigo para pedirmos ao Senhor que use de sua misericórdia e fale com cada um de nós conforme nossas necessidades.

Oração

Pedro, um de nós

Acho impressionante ler sobre as viagens do apóstolo Paulo! A forma como Lucas descreve os desafios que ele enfrentou, as decisões que tomou, os discursos que fez, sua persistência, sua seriedade, o conhecimento que tinha das escrituras... Não há como não se sentir desafiado! É quase como se ele não fosse um ser humano comum.
Por outro lado, quando me detenho nos relatos sobre Pedro, nas lutas e desafios que ele enfrentou, muitas vezes tenho a impressão de que ele é um de nós.

É claro que isso acontece, em parte, apenas por que eles eram pessoas com histórias diferentes vivendo circunstâncias diferentes. Ainda assim, quando leio as histórias de Pedro nasce em mim uma certa identificação com sua humanidade: ele realmente parece um de nós.

Hoje à noite pretendo conectar três momentos da vida de Pedro de maneira que possamos refletir sobre o significado da vocação ao ministério pastoral. Ao final, quero convidá-los a ouvir três conselhos que ele mesmo nos ofereceu ao final de sua vida.

A.   Senhor, estou pronto

Chamei o primeiro momento de “Senhor, estou pronto”. O episódio em que ele se revela é após a ceia de páscoa e antes do getsêmane, quando Jesus começou a explicar aos discípulos a natureza sacrificial de seu ministério e esclareceu que um traidor, entre eles, seria o instrumento de sua prisão.

Lucas (Cf 22:24) afirma que os apóstolos imediatamente começaram a discutir sobre quem seria o traidor e quem era o melhor entre eles. Jesus interrompeu os brigões e tentou recuperar o ponto: serviço sacrificial. Falou coisas estranhas como o maior é aquele que assume o serviço como uma missão pessoal.

No meio dessa discussão, Pedro fez uma afirmação corajosa: “Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte” (v.33). Eu imagino os demais discípulos parando todos ao mesmo tempo e olhando, todos ao mesmo tempo, para Pedro. Alguns, admirados; outros achando que Pedro tinha passado a perna neles para assumir a liderança do grupo.

Mas Jesus sabia que aqueles arroubos de Pedro seriam testados e reprovados naquele mesmo dia e disso: “Pedro, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante.”. É bem possível que Pedro tenha balançado a cabeça e dito com firmeza que jamais faria isso, repetindo que seria fiel até a morte. Pelos evangelhos sabemos que naquela noite não foi a coragem do apóstolo Pedro que se destacou, mas o seu medo, a vergonha e, por fim, a negação que Jesus havia predito.

Como Pedro poderia estar tão enganado sobre suas próprias reações ao lidar com aquela situação?

Parece-me que Pedro tropeçou em três pedras que estavam pelo meio do seu caminho.

1.     Ele subestimou os desafios de seguir a Jesus

Seguir os passos de Jesus não é assumir o palco, realizar um espetáculo e esperar os aplausos. Seguir a Jesus é uma caminhada cheia de oposições e contratempos. O caminho é estreio e pedregoso.

Jardiel, você precisa ter em mente essa realidade! Não caia na armadilha de imaginar o caminho do ministério pavimentado e florido. Claro que há flores pelo caminho. Claro que há temos de refrigérios. Mas quando alguém decide atender ao chamado e seguir os passos do mestre não pode esquecer que pela frente vai se deparar com situações adversas que porão à prova sua lealdade ao modo de Cristo compreender a existência.

2.     Ele superestimou a si mesmo

Ser ministro de Jesus a serviço do povo de Deus, seja qual for o ministério ao qual se foi chamado, não é uma consequência direta da capacidade do servo. É claro que precisamos nos preparar para servir mais e melhor, mas parece-me claro também que não se deve confiar demais no preparo e nas capacidades que adquirimos. Em tempos de pastores profissionais, que têm prazer um promover as próprias virtudes, é preciso lembrar todo tempo do sábio conselho de Paulo, de não pensar sobre si mesmo além do que convém.

Jardiel, você precisa conhecer e reconhecer suas limitações. Não caia na armadilha do ministério com base na blindagem eclesiástica. Não esconda de si e nem dos outros as áreas da vida em que precisa de ajuda, caso contrário você nunca encontrará a ajuda de que precisa. Certamente você precisará de amigos sinceros para rejeitar a blindagem eclesiástica: peça-os insistentemente a Deus.

3.     Ele não compreendeu a natureza da oração de Jesus

Embora seja um bom começo, a verdade é que não basta para a jornada do ministério pastoral avaliar corretamente os desafios do serviço e as limitações do servo. O chamado de Cristo é para uma missão que possui dimensões sobrenaturais. Foi por isso que Jesus disse para Pedro que havia rogado a Deus por ele: “para que tua fé não desfaleça” (v.32). É preciso que o ministro esteja conectado à dimensão sobrenatural de sua vocação para percorrer os caminhos do serviço à igreja, a carreira que lhe foi proposta, com dignidade e paz de espírito.

Jardiel, algumas vezes você não vai conseguir ser uma pessoa melhor, como anseia o seu coração, e isso lhe será lançado em rosto. Outras vezes você vai fraquejar diante da oposição espiritual ao seu ministério, e isso lhe será lançado em rosto pelo inimigo de nossas almas e seus mensageiros. Nesses momentos, você não pode esquecer de que o próprio Jesus, seu senhor, está intercedendo por você para que sua fé não desfaleça.
Ao final daquela conversa, Jesus deixou bem claro para Pedro, algo de que os ministros de Cristo precisam: todos os dias, converter-se da fé em si mesmo para a confiança no Senhor. E quando você, Jardiel, se perceber convertido dessa maneira, faça o que Jesus sugeriu a Pedro: “fortalece os teus irmãos” (v.32) encorajando-os a fazer o fazer o mesmo.

Nos momentos “Senhor, estou pronto”, (1) não subestime os desafios, (2) não superestime suas capacidades, (3) converta-se à confiança no Senhor.

B.   Tu sabes todas as coisas

O segundo momento da vida de Pedro que servirá à nossa reflexão hoje é aquele em que Jesus tenta regatá-lo do poço existencial em que ele estava depois de ter fracassado como discípulo e negado até mesmo que conhecia o Senhor. Esse é um dos momentos em que eu mais me identifico com a humanidade de Pedro.

Jesus já havia ressuscitado. Era tempo de festejar a vitória! Mas Pedro continuava sentindo-se uma fraude, com vontade de desistir de tudo, exposto em suas fraquezas, abalado pelo desconhecimento de si mesmo e pela incapacidade de cumprir com suas promessas. Cabisbaixo e ferido em sua autoestima, ele não tinha muito o que conversar com Jesus.

Jesus, então, toma a iniciativa: “Pedro, tu me amas?” O jogo de palavras com ágape e filéo perpassa todo o diálogo entre os dois até Pedro afirmar: “Tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.

Jardiel, muitas vezes você só vai conseguir prosseguir pelo caminho da sua vocação quando trouxer à memória o relacionamento de amor entre você e o Senhor Jesus. Quando o sentimento de fracasso lhe alcançar, e ele vai lhe alcançar, você vai precisar da convicção de que, a despeito do sentimento de inadequação a lhe corroer por dentro, o seu amor por Deus é uma realidade.

De onde você vai tirar essa convicção? Só há um lugar onde ela está disponível: no amor gracioso de Deus por você. Amor provado na cruz, amor experimentado na caminhada de fé, amor revelado no constante cuidado dele em sua vida. João entendeu bem como isso funciona, por isso ele afirmou “nós o amamos porque ele nos amou primeiro”.

Então, quando os momentos “Tu sabes todas as coisas” chegarem não adianta explicar nada. Não é necessário esclarecer, nem justificar nada diante de Cristo. É preciso apenas agarrar-se à firme convicção de que o amor dele por você invadiu sua vida e isso o levou a amá-lo. É como disse Pedro “Tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo.

C.   Rogo aos presbíteros

O terceiro e último momento da vida de Pedro que separei para nossa reflexão esta noite, está registrado em sua primeira carta. Vejamos:

1 Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada:
2 Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir.
3 Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (I Pedro 5:1-3)

Nesse trecho, fala um Pedro já experimentado no sofrimento por Cristo e no cuidado de pessoas. Não se ouve mais as vozes inquietas de antes. É um Pedro que viu o evangelho de Cristo tocar a sua vida, transformar o seu caráter, mudar seus paradigmas e, sobretudo, um Pedro que aprendeu a importância das motivações corretas.
A fala de Pedro, quando apelas aos líderes que tinham responsabilidade em pastorear o rebanho, é direta e autoexplicativa. Dela extraio três conselhos úteis para os ministros, seja qual for o ponto da caminhada em que nos encontremos no ministério de serviço ao Reino.

1)  ...não por obrigação, mas de livre vontade...

O primeiro apelo de Pedro àqueles que foram chamados para servir à igreja cuidando dos irmãos é que o seu serviço não seja feito por obrigação.
Há muito o que se falar sobre essa tensão entre obrigação e espontaneidade levantada por Pedro em seu conselho, mas eu gostaria de destacar apenas uma, Jardiel: o Ministério pastoral não é um emprego com direitos e obrigações. Nenhum ministro de Deus foi chamado a submeter-se a uma relação profissional, como se fosse empregado da igreja em que serve.

É claro que há responsabilidades a serem assumidas, isso seja qual for o ministério a ser desenvolvido no corpo de Cristo, mas nunca essa relação deve produzir o senso de obrigação inerente ao trabalho assalariado.

As armadilhas capazes de transforma vocação em profissão são inúmeras e giram sempre em torno da motivação pela qual o serviço é realizado. Parece-me, então, que a melhor forma para um ministro de Deus proteger-se dessas armadilhas é investigar diante de Deus as razões de seu coração. Os porquês que movem sua alma são bons indícios para precaver-se das armadilhas em que está mais propenso a cair.

Investigar a si mesmo não é trabalho fácil nem rápido, amigo, mas é necessário. A boa notícia é que o Espírito de Deus está sempre pronto a nos ajudar nesse trabalho. Ele é como espada de dois gumes, capaz de discernir as intenções do coração. Você sempre poderá contar com ele!

2)  ...não por ganância, mas com o desejo de servir...

O segundo apelo de Pedro não poderia ser mais atual. O pastoreio do povo de Deus não dever ser feito visando lucro pessoal, mas como uma expressão de serviço ao Supremo Pastor.

Ministros que servem no cuidado pastoral da igreja não são donos do rebanho. As ovelhas não lhe pertencem. Não há nada que seja propriamente seu. Não lhes compete o direito de tornar-se abastado às custas do rebanho.

Claro que compete à igreja, que opta por ministros com dedicação exclusiva, o cuidado zeloso em suprir as necessidades deles e de suas famílias. Digo isso porque há comunidades que optam por modelos diferentes em que os ministros se dedicam tanto ao sustento pessoal quanto ao serviço à igreja, como era o caso de Paulo e seus companheiros.

No entanto, Jardiel, a meu ver, o conselho de Pedro diz respeito ao cuidado com as motivações de seu coração. Não é difícil que um ministro, ao ver o rebanho crescer sob seus cuidados, dar espaço em seu coração para sentimentos de insatisfação sobre o seu sustento. Também não é incomum que um ministro, pensando no lucro que poderia obter com um rebanho maior negocie princípios e valores para alcançar o que deseja.
Pedro aponta para a motivação certa: serviço. Se alguém não pode servir ao Povo de Cristo motivado pela alegria de ser um servo do Cristo vivo realizando seu ministério, precisa rever as motivações que o levaram à posição em que hoje se encontra.
Lembre-se, Jardiel, para aqueles que de coração grato assumem o serviço como expressão de seus ministérios, o Supremo Pastor está preparando a imperecível coroa da glória!

3)  ...não como dominadores, mas como exemplos para o rebanho...

O terceiro e último apelo de Pedro aos Presbíteros que pastoreiam o rebanho de Deus é sobre a forma como lideram o povo. Pedro, oferece o seguinte conselho: liderem pelo exemplo, não pela força.

De novo Pedro toca nas motivações. Digo isso, Jardiel, porque não é raro que almeje o episcopado como uma ferramenta para exercer domínio sobre as outras pessoas. Isso acontece, algumas vezes, por acordo mútuo entre o rebanho e o líder, de maneira que todos ficam temporariamente satisfeitos com o arranjo: a comunidade se submete a líderes abusivos em troca da aparente segurança que eles inspiram a afirmam oferecer.
Pedro, de temperamento explosivo, sabia bem o efeito que a dominação pode causar nas pessoas. Mas, transformado pelo amor de Deus em sua vida, ele aponta o melhor caminho para a liderança: o exemplo.

Liderar pelo exemplo não é ser perfeito. Não se trata de ter todas as respostas ou saber sempre a direção certa. Se fosse assim, o próprio Pedro estaria desqualificado. O exemplo que conduz o rebanho é da submissão a Deus, é do reconhecimento das fraquezas, é o do compromisso com os valores do Reino, é o da perseverança na Palavra, é o da confiança no amor de Deus. Exemplos assim são como faróis em meio à tempestade.

Conclusão

O caminho do ministério pastoral tem seus deleites, mas tem também o seus percalços e armadilhas, nas quais os incautos acabam presos convivendo com as piores motivações de suas almas.

Como esses conselhos de Pedro, que sondam as motivações do coração dos Ministros de Deus, encerro minha reflexão nessa noite. Três momentos: no primeiro deles, “Senhor, estou pronto”, somos chamados a nos converter da fé em nossas capacidades para a confiança no Deus Altíssimo; no segundo “Tu sabes todas as coisas”, fomos encorajados, nos momentos de derrota, a declarar o nosso amor por ele, que é fruto do amor dele por nós; no terceiro, “Rogo aos Presbíteros” um Pedro maduro e experimentado nos chama a sondar as motivações do nosso coração e reconhecer que o ministério a que fomos chamados é algo precioso demais para tratamos com pouco caso.

Termino conclamando aos ministros do evangelho de Cristo que nos tornemos sábios interpretes de nós mesmos e da vida que nos cerca. Conclamo a todos os ministros de Cristo, em todos os ministérios a que foram chamados, a ouvirem as palavras de Pedro, o presbítero, que diz:

1 E AGORA, uma palavra a vocês, os presbíteros da igreja. Eu também sou um ancião; com os meus próprios olhos vi Cristo morrer na cruz; e eu também participarei da sua glória e da sua honra quando Ele voltar. Colegas pastores, este é o meu apelo a vocês:
2 Alimentem o rebanho de Deus; cuidem dele com boa disposição e não de má vontade; não pelo que vocês ganharão com isso, mas porque estão ansiosos de servir ao Senhor.
3 Não sejam tiranos, mas guiem o rebanho com o seu bom exemplo.

4 E quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória.

30 junho 2014

Fortifica-te na Graça


Mensagem proferida na Igreja Batista em Guarabira/PB em 29/06/2014.


Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

O apóstolo Paulo escrevia cartas para orientar e encorajar os irmãos dos vários lugares onde o evangelho de Jesus houvesse chegado por intermédio dele. Ele também escreveu para orientar alguns líderes mais jovens que ele, como Tito e Timóteo. Para Timóteo ele escreveu duas cartas cheias de conselhos e palavras de encorajamento. No texto que lemos, ele recomenda a Timóteo para não deixar o desânimo tomar conta de sua vida.

Reaja, Timóteo! Você precisa se fortalecer! A vida é cheia de lutas, dificuldade e problemas, Paulo sabia muito bem disso (ele estava preso, apenas por pregar o evangelho de Jesus, quando escreveu esta carta). Mas ele queria lembrar a Timóteo que existe um poderoso fortificante capaz de nos reanimar e nos encher de disposição para enfrentar as dificuldades da vida.

Quando eu era menino lá em Fortaleza, me lembro de ouvir falar de um medicamento, que àquela época já era antigo, mas que ainda era considerado um santo remédio para quem se sentia fraco e sem forças: Biotônico Fontoura. Bastava uma colher por dia desse fortificante para o sujeito se sentir mais disposto e animado. Talvez alguém ainda se lembre do reclame: “Mais ferro para o sangue e fósforo para os músculos e nervos”. Os fortificantes como Biotônico Fontoura e Emulsão de Scott prometiam dar força aos anêmicos e abatidos.

Mas é claro que Paulo não está recomendando Biotônico Fontoura ou Emulsão de Scott. Mas, ao encorajar Timóteo a buscar forças para enfrentar as dificuldades da vida, ele deixou uma boa dica sobre como a gente pode se fortalecer para enfrentar as dificuldades e viver bem a vida com Cristo. Veja o que ele diz:

Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

Em nossos dias, quando alguém se sente abatido ou desanimado, mesmo os irmãos da igreja não sabem indicar esse poderoso fortificante recomendado por Paulo: a graça de Deus mediante Jesus Cristo. Tem gente que manda o sujeito buscar uma tal de “força interior” (Acredite em você mesmo!, dizem eles); tem quem mande o desanimado direto para o psicólogo sem uma palavra de encorajamento e tem quem piore a situação com acusações, dizendo que a culpa da tristeza é da própria pessoa que está triste.

Na igreja, se alguém parece abatido pelas lutas da vida, com aquela cara de sofrimento que incomoda todo mundo, logo tem um irmão que, com toda boa vontade, encontra um motivo e uma solução para a situação em menos de trinta segundos.

- Meu irmão, o seu problema é que você tem orado pouco. Venha participar da reunião de oração às terças-feiras. Eu garanto que essa situação vai mudar.

- Ah... mas a irmã tem faltado muito a Escola Bíblica. Por isso as coisas estão dando tão errado. Venha todo domingo que eu quero é ver se isso não muda!

- E o dízimo? Tá sendo fiel? Tem que ter cuidado com isso, se não...

- E a campanha? E o cursilho? E o ensaio do louvor? E a vigília?

Muitos irmãos, de forma equivocada, pensam que a fraqueza e o desânimo são resultado da falta de envolvimento com os programas e programações da igreja. Eles pensam que a empolgação de “fazer algo para Deus” vai produzir força suficiente para enfrentar as dificuldades da vida. Então, passam a acreditar que quanto mais a gente participar dessas coisas, mas forte a gente vai se sentir. Será que é assim mesmo?

Parece que o Apóstolo Paulo pensava diferente. As duas cartas que ele escreveu para Timóteo deixam claro que o jovem pastor estava se deixando abater pelas lutas. Mas ele não recomendou a Timóteo que fizesse mais coisas para Deus (ou para a igreja). Ao invés de buscar forças naquilo que se faz para Deus, Paulo recomendou a Timóteo que se fortificasse nas coisas que Deus fez por ele.

Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

A verdadeira força para vencer as dificuldades da vida não vem das coisas que a gente faz por Deus, mas daquilo que Deus fez por nós.

Você aceitou a Jesus como seu Senhor e Salvador? Então você precisa saber exatamente o que foi que Deus fez por você, porque isso sim será capaz de fortalece-lo na caminhada. E o que realmente Deus fez por nós? Se voltarmos um pouco no texto (2 Tm 1:8-10) vamos encontrar alguns detalhes daquilo que Deus fez por nós. 

8 Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus,
9 que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos,
10 sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho.

Que maravilha! Deus nos salvou, meu irmão! Foi isso o que de mais importante Ele fez por nós, e é isso que pode nos fortalecer para suportar os sofrimentos da vida. Mas, para que essa força encontre lugar em sua mente você precisa relembrar como foi que isso aconteceu. E foi assim:

Você estava morto em seus delitos e pecados, mas nem se dava conta disso. Vivia por aí, despreocupado, mas morto. Você era como uma espécie de zumbi, um morto-vivo perambulando pelas ruas. Para aparentar vivo você fazia tudo que lhe viesse à mão e à mente e gastava seus dias em buscar algum prazer, alguma alegria que se parecesse com vida. Mas no final sempre ficava um gosto amargo na boca, por que estava faltando alguma coisa.

Percebendo que a vida não pulsava viva em nossos dias, alguns de nós nos esforçávamos muito para sermos boas pessoas e assim parecermos vivos. Mas as coisas não aconteciam do jeito que a gente queria. Era como se faltasse alguma coisa. Mesmo quando tudo parecia legal, não era suficiente. O vazio em seu peito dizia isso.

Então, Deus se aproximou de você (De cada um de nós Ele se aproxima de um jeito diferente. Conforme nossa maneira de viver Ele encontrou um espaço para falar). Devagar, o Senhor lhe convenceu de que sem Ele não ia dar certo. Sem Ele você continuaria um morto tentando parecer vivo. Sem Ele o destino da sua vida seria terrivelmente ruim. Foi aí que Jesus lhe foi apresentado... E a possibilidade de ter os seus pecados perdoados para sempre se tornou uma realidade... E a bênção de uma vida de verdade que começa agora e dura por toda a eternidade se tornou um presente à sua disposição.

Aí você disse sim! Você desistiu de apenas parecer vivo e aceitou a vida verdadeira que Deus oferece a todos que abrem mão da tentativa louca de Adão, de viver por conta própria e desconectado da única fonte de vida. Você acreditou no amor de Deus por você e aceitou ser salvo por ele através da morte de Cristo na Cruz.

Então, foi assim: você foi salvo por Deus quando desistiu de salvar a si mesmo!

Por que Deus fez isso? Ele não precisa de nós, não depende de nós... Por que Ele se ocupou em livrar você da morte e lhe dar vida? Por que Jesus foi enviado e sofreu em nosso lugar a punição por nossos pecados? Por que Deus arranjou um jeito de perdoar você? No evangelho de João diz que tudo isso foi por amor: Deus amou o mundo de tal maneira...

O que nós fizemos para merecer esse amor? Nada! Por que Deus nos amou dessa forma tão intensa, ponto de enviar a Jesus? Não existe razão para Ele fazer isso, meus irmãos. Esse amor de Deus por você é gratuito e sem motivo. E quando o amor é assim, gratuito e sem merecimento, isso se chama GRAÇA! Amor gracioso, uma expressão da própria natureza de Deus! Pois bem, é nessa graça que o Apóstolo Paulo recomenda que a gente buque força.

Quando entendemos e sentimos o amor de Deus por nós, quando confiamos plenamente que Deus é por nós, quando nós vislumbramos a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor gracioso de Deus, então nos sentimos fortes e fortalecidos para enfrentar a vida. Deus é por nós, quem será contra nós?! Que verdade maravilhosa!

E ainda tem mais!

Paulo explica a Timóteo que tudo isso: a morte de Cristo por nós, a salvação, a eternidade com Deus... Tudo isso foi providenciado por Deus “antes dos tempos eternos”. Isto quer dizer que antes de você existir, Deus já o amava e já havia estabelecido uma forma de resgatá-lo da morte e de lhe dar vida. Esse amor gracioso que já existia “antes dos tempos eternos” se manifestou a nós através de Cristo Jesus, o nosso salvador.

Essa é a fonte de força de que precisamos! Esse é o fortificante eficaz que anima a vida, que produz alegria, que enche a boca de sorrisos, que ergue o abatido torna a vida uma aventura de fé. Quando estamos fortalecidos por esse amor gracioso, aí estamos prontos para trabalhar com a igreja, servir aos irmãos e fazer diferença na vida das pessoas em nossa volta.

Abastecidos pela graça estaremos prontos para os sofrimentos e as lutas do serviço e da fé. Inverter a ordem, buscando força no serviço só vai nos exaurir, chegando ao ponto de nos tornamos vazios.

Fortifica-te na graça (de Deus) que está em Cristo 2 Tm 2:1

Eu me arrisco a dizer que você, assim como eu, acostumou-se a buscar força em outros lugares e de outras formas. Também me arrisco a dizer que você já se frustrou e se decepcionou diversas vezes tentando se fortificar em outras fontes.

·        Pessoas que você considerava um braço forte lhe decepcionaram. Quando você mais precisou que elas estivessem do seu lado, elas falharam.

·        Líderes religiosos em quem você confiava lhe traíram. Você esperava que eles fossem capazes de lhe fortalecer, mas descobriu que eles mesmos também eram fracos.

·        Sem medo de errar, posso dizer que as fórmulas religiosas (rezas, orações, vigílias, estudos, correntes, novenas, pactos, compromissos e jejuns) já lhe deixaram alguma vez na mão. Elas não foram suficientes para torná-lo forte. Bastou passar um pouco de tempo e lá estava você se sentindo fraco de novo.

·        Por fim, e por experiência própria, eu me arisco a dizer que você já se frustrou consigo mesmo: promessas feitas e quebradas, votos não cumprimos, pecados que teimam em fazer parte de sua vida. E embora você queira fazer a coisa certa, nem sempre consegue (foi assim que você descobriu que essa tal de forma interior não tão forte assim).


Que tal abrir mão desses fortificantes baratos e decidir buscar força na graça (de Deus) que está em Cristo Jesus? Hoje é um ótimo dia para começar a olhar para o amor gracioso de Deus e deixar que a maravilhosa graça salvadora do Pai encha seu coração.

24 maio 2014

Não é pra todo mundo, não!


Não é pra todo mundo, não!

Introdução

Em três dos quatro evangelhos, Jesus falou que para ser um discípulo dele existem condições. Isso mesmo! Ser um discípulo de Jesus não é pra todo mundo, não!

Na verdade, se você observar os evangelhos com cuidado, verá que Jesus nunca correu atrás de discípulos. Eles é que O procuravam. Jesus não fez apelos emocionais nem implorou a quem quer que fosse para que o seguisse. Ao contrário disso, Ele impôs condições para os candidatos a discípulo. É sobre essas condições que vamos refletir nestas três mensagens.

Os textos que falam sobre essas condições estão em Lucas 9:23, Mateus 10:38 e Marcos 8:34. Aliás, esses três evangelhos são chamados de sinóticos, porque apresentam a vida de Jesus sob pontos de vista semelhantes. Ora, a simples leitura dos textos já deixa claro quais são essas condições: (1) negar-se a si mesmo, (2) tomar a cruz e (3) segui-lo.

Talvez você esteja surpreso de que Jesus imponha condições para quem deseja ser seu discípulo. Isso parece muito diferente do que se ouve e vê nos programas de televisão. Na TV, com frequência, as pessoas são chamadas a seguir Jesus com promessas de sucesso, saúde e prosperidade.

Muitos pregadores (alguns bem intencionados) fazem assim: em vez de apresentarem as condições para alguém se tornar discípulo de Jesus, eles acenam apenas com os benefícios de ser um discípulo de Cristo. Sem perceber, eles são culpados de propaganda enganosa, isto é, em suas igrejas eles usam letras garrafais para falar dos benefícios de ser discípulo e letras miúdas para mostrar as condições para se tornar discípulo. (Parece com aquelas propagandas de eletroeletrônico, em que ninguém consegue ler as letrinhas que ficam no final da página).

Muitas pessoas que ouvem essas propagandas sobre Cristo, decidem segui-lo, mas não compreendem que seguir a Cristo tem implicações em nosso modo de ver e viver a vida. Decidem seguir Jesus simplesmente porque querem receber as bênçãos.

E o que pode acontecer com as pessoas que se aproximam de Jesus assim, sem saber que existem condições para ser discípulo dele? Na primeira dificuldade que enfrentam, muitas delas descobrem que não estão dispostas a aceitar as condições apresentadas por Jesus e, decepcionadas, se entristecem; sentem-se como consumidores enganados, reclamando pelos direitos que acham que tem.

Com Jesus sempre foi diferente. Ele não corria desesperado à procura de discípulos, como fazem alguns mestres hoje. Ele não negociava oferecendo carro, casa e saúde em troca de fidelidade a Ele. Em vez disso, Cristo apresentou condições que as pessoas devem atender se realmente desejam segui-lo.

Seguir a Jesus não é de qualquer jeito, não! Havia e ainda há condições.

Um pré-requisito

Antes, porém, das condições para se tornar discípulo de Jesus há um pré-requisito: você precisa querer.

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, (1) negue-se a si mesmo, (2) tome a sua cruz, e (3) siga-me; (Mat 16:24)

Ninguém se torna discípulo de Cristo porque a mulher, o filho, o amigo ou os parentes querem muito e insistem para ele tomar essa decisão. A própria pessoa precisa querer. Isso é algo muito sério e por isso é necessário que se diga com a máxima clareza: quem “aceita a Jesus” por causa do desejo de outras pessoas, verdadeiramente ainda não é um discípulo de Cristo. É claro que pode vir a ser, mas ainda não é.

Por mais difícil que seja, se você realmente não quer ser um discípulo de Cristo, seja sincero consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor: pare de fazer de conta! Pelo menos sua sinceridade e sua transparência serão reconhecidas. Mas saiba também que Cristo o ama profundamente e que ele trabalha dia-e-noite para que você perceba esse amor.

Se você tem convicção de que deseja ser um discípulo de Jesus, o pré-requisito já está cumprido: se alguém quer vir após mim... Vamos agora às condições.

Negar-se a si mesmo

Como vimos são três condições. É importante perceber que é o próprio Jesus Cristo quem apresenta essas condições. Não é uma invenção minha nem história de alguém que ouviu falar sobre a existência delas. Jesus mesmo falou sobre elas: negar-se a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lo. Então, isso é coisa séria que merece nossa atenção. Hoje estamos buscando a orientação do Espírito Santo de Deus para compreender o significado da primeira delas: negar-se a si mesmo.

Penso que é preciso desfazer dois enganos sobre o que significa negar-se a si mesmo:

O primeiro engano é que negar-se significa mentir sobre quem você é. Isso não é verdade! Não é necessário negar sua origem, seus medos, suas angústias, seus pecados, seu passado ou seu presente para tornar-se discípulo de Jesus. Negar-se a si mesmo não significa anular-se como pessoa ou rejeitar a própria identidade. As mudanças que Deus deseja realizar em sua vida precisam começar com quem você é hoje e onde você está agora. Na sua caminhada como discípulo você será moldado à imagem de Cristo, isso é verdade, mas o ponto de partida é quem você é agora. Então negar-se não é mentir sobre você.

O segundo engano é que negar-se seja flagelar-se, buscar sofrimento como uma forma de punição ou de glória própria. Há muita gente que entende assim, que negar-se é se privar dos prazeres e da vida e “sofrer por Cristo”, mas Deus não se alegra com a nossa dor, ainda mais se essa dor for algo que procuramos para nós mesmos, para nos sentirmos mais dignos ou para receber algum benefício especial de Deus. Os seguidores de Jesus certamente passarão por sofrimentos, mas negar-se não é correr atrás de sofrimento para si mesmo.

Desfeitos esses dois enganos, devemos avançar em busca de compreender o que Jesus quis dizer com negar-se a si mesmo. E por que precisamos saber o que é negar-se a si mesmo? Porque essa é a primeira condição para alguém se tornar seu discípulo.

A melhor maneira de descobrir isso é observar as Escrituras. Nos evangelhos há muitos registros sobre a vida e ministério de Jesus que podem nos ajudar a saber o que é negar-se a si mesmo

João Batista

Para compreender o que é negar-se a si mesmo vamos prestar atenção ao encontro de alguns sacerdotes e levitas com João Batista. Certa vez alguns deles foram enviados ao profeta para descobrir se ele era o Messias.

(19) E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? (20) Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo. (21) Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não. (22) Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? (23) Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. (João 1:19-23)

Uma das falas mais conhecidas de João Batista é quando ele, referindo-se a Jesus, seu primo, diz: “É preciso que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). João Batista também disse que não se achava digno sequer de desamarrar as correias das sandálias de Jesus (João 1:27) – um trabalho que era feito pelos escravos. Jesus, disse que “entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João” (Lucas 7:28). Parece que João é uma daquelas pessoas que aprendeu a negar-se a si mesmo.

Embora fosse um sujeito excêntrico, que sobrevivia à base de gafanhoto e mel silvestre, João era um profeta reconhecido e querido pelo povo. Já as autoridades religiosas, embora também conhecessem João, não eram muito simpáticas à sua pregação. Estava João em meio às suas pregações e batismos quando de repente apareceu essa comissão de sacerdotes e levitas perguntando: quem és tu? O que dizes de ti mesmo? O que João deveria dizer sobre ele? O como você responderia?

As respostas de João são muito importantes para nós porque nos revelam que para alguém negar-se a si mesmo é preciso (1) admitir quem ele não é e, ao mesmo tempo, (2) agarrar-se a quem Deus diz que ele é. Nas respostas que João Batista deu àquela comissão há pelo menos três lições preciosas sobre o negar-se a si mesmo.

A - Eu não sou Deus

(20) Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.

No verso 20, o evangelista destaca que João disse abertamente que não era o Cristo. Talvez por causa da pregação de João, da forma poderosa com que ele exortava as pessoas a viver uma vida de santidade, muitos achavam que ele era o Messias prometido por Deus, mas João sabia que não era. Ele sabia que sua missão era preparar o caminho para o Messias, mas ele mesmo não era o messias. Ser o Messias poderia render muitas honras, mas João sabia também que sustentar essa mentira não seria nada fácil. Por isso ele foi rápido em dizer: “Eu não sou o Cristo”.

Muita gente sofre mais do que deveria simplesmente porque resolveu carregar o mundo nas costas e agir como se fosse o próprio Deus. É preciso reconhecer quem somos. Não somos Deus! Somos limitados e na maioria das vezes não sabemos como lidar nem com os problemas à nossa volta.

• Admita que você não pode controlar o mundo;
• Admita que você não consegue fazer tudo dar certo;
• Não tente receber uma glória que não é sua.

Pode parecer surpreendente, mas tenho percebido que cada vez mais são as mulheres quem mais sofre dessa síndrome de controle do universo. Mais e mais, elas assumem responsabilidades dentro e fora de casa, no trabalho e na igreja, e acumulam sobre seus ombros pesos extraordinários que não deveriam levar. Mas não é de forma desinteressada ou altruísta que elas fazem isso!

A verdade é que quanto mais controle e responsabilidade temos nas mãos, mais reconhecidos e notados nós somos. Assim muitas mulheres compensam a falta de reconhecimento e amor por parte de seus pais, maridos e famílias mostrando que são capazes de assumir o controle de suas vidas. No começo isso pode até funcionar bem, mas, parece que preço já começou a ser cobrado no desmantelo de nossas famílias.

João confessou que não era o Cristo. Ele preferiu ser apenas quem ele era e dizer “não” para a tentação de assumir o lugar de Cristo. Ele poderia ter saído dali carregado nos braços pelos sacerdotes e levitas, mas preferiu ser verdadeiro sobre si mesmo ainda que isso fosse constrangedor.

O que o exemplo de João nos ensina? Acho que João nos ensina que devemos aceitar e assumir quem realmente somos: todos nós somos pessoas limitadas e carecemos do amor gracioso de Deus para tocar nossas vidas. A atitude de João nos ensina que negar-se a si mesmo é você se colocar na dependência de Deus e parar de agir como se pudesse controlar o próprio destino, dizer a verdade sobre si mesmo e confiar no Senhor.

Que tal admitir que você não é Deus, reconhecer suas limitações e entregar as dificuldades do seu dia-a-dia nas mãos daquele que dirige o universo?

B- Eu não sou o meu irmão

Quando João disse que não era o Cristo prometido por Deus, a comissão abriu o caderninho de anotações e apelou para a segunda opção. Havia profecias que afirmavam que o Messias viria “no espírito de Elias”. Alguns achavam que o Messias era o próprio Elias que retornaria dos mortos. Então eles perguntaram:

(21) Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.

Elias era um profeta do passado que há muito havia morrido. Mas ele era admirado por todo o povo. Elias era um daqueles heróis da fé sobre quem só são ditas boas coisas. As profecias dele eram lidas nas sinagogas e todos os líderes religiosos o tinham em alta conta. Aí a comissão pergunta: você é Elias que voltou a viver? Imagine só! Ser confundido com Elias sem dúvida era uma grande honra. Vejamos uma comparação para entender melhor a situação em que João Batista estava.

Um dos grandes heróis recentes de nossa história é o piloto Airton Sena. Muita gente aprendeu a gostar das corridas de fórmula 1 vendo Airton pilotar com perícia e coragem. As ultrapassagens impensáveis e as recuperações impossíveis encheram os olhos e o coração de toda uma geração.

Agora, imagine que você está dirigindo seu carro, faz uma curva mais fechada, ao ponto de arrastar pneu, e para no mercadinho para comprar refrigerante para o almoço. Antes de você entrar, um grupo de pessoas lhe cerca, sorrindo e dando tapinhas nas suas costas, até que um deles diz: “Essa curva que você fez foi maravilhosa! E a parada aqui foi demais! Nós reconhecemos logo o jeito de dirigir: você foi aluno do Airton Senna, né?

Todos temos pessoas que admiramos. Cada um de nós aqui seria capaz de listar algumas pessoas com quem gostaríamos de parecer. Até esse ponto não há nada demais. No entanto, quando a admiração se transforma em inveja e o desejo de parecer com alguém me leva a fingir ser como aquela pessoa, precisamos olhar para o exemplo de João Batista.

Deus não quer que você seja uma cópia de ninguém nessa terra, senão que você seja semelhante ao seu filho Jesus Cristo. Ele lhe fez único e está agindo em sua vida. Há muitas coisas que Deus deseja fazer através de você, mas é preciso que seja VOCÊ, não um cópia barata de outra pessoa. Quanto sofrimento acontece quando queremos ser iguais a fulano ou beltrano e acabamos perdendo nossa originalidade.

• Não copie o jeito viver dos outros. Descubra o seu jeito de viver;
• Não copie o sucesso dos outros. Deixe Deus ser original com você;
• Para de fingir ser quem você não é. Não é assim que Deus age.

Negar-se a si mesmo é uma jornada em busca da nossa verdadeira identidade. É dizer não para as tentativas de nos tornarem quem não somos. João não aceitou ser chamado de Elias, você também precisa rejeitar as tentativas de fazer de você uma cópia de outra pessoa. Todos nós somos originais.

C- Minha identidade está em Deus

Depois de dois “nãos”, a comissão que fora procurar João Batista entrou em desespero. Afinal, quem era aquele homem? Eles precisavam voltar e dizer algo àqueles que os haviam enviados. Então eles insistiram: (22) Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?

Então, João Batista faz uma afirmação estranha e enigmática:

(23) Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.

Aparentemente João falou isso com convicção, porque a comissão se deu por satisfeita e começou a fazer outras perguntas. Mas de onde ele tirou essa definição sobre si mesmo?  E de onde vinha essa convicção? Algumas coisas posso garantir.

• Será que ele fez curso de Ioga ou Meditação transcendental?
• Ou ele entrou de entrou de cabeça na psicoterapia?
• Será que ele consultou os astrólogos e adivinhadores?
• O será que essa certeza veio do último best-seller do Augusto Cury?

Nada disso! João encontrou resposta para sua identidade naquilo que Deus falou a respeito dele:

(13) Mas o anjo lhe disse: Não temas, Zacarias; porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; (14) e terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento; (15) porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida forte; e será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe; (16) converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; (17) irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido. (Luk 1:13-17)

- Quem é você, João?
- Eu sou quem Deus diz que eu sou!
- O que você diz sobre você, João?
- Eu digo aquilo que Deus diz sobre mim!
- E o que Deus diz sobre você, João?
- Diz que eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor

Para negar-se a si mesmo João aprendeu a buscar em Deus e na Sua Palavra a verdade sobre si mesmo. “Eu sou a voz que clama no deserto, porque foi isso que Deus afirmou a meu respeito!”. E você meu irmão? Quer saber o que Deus diz sobre você?

·        Que você foi criado à imagem e semelhança dele;
·        Que você precisa desesperadamente dele para viver;
·        Que você é amado a tal ponto que Ele entregou Seu filho à morte;
·        Que em Cristo você já venceu o pecado e a morte;
·        Que você é herdeiro da vitória de Jesus sobre as potestades;
·        Que você é sal e luz nesse mundo insosso e coberto de trevas;
·        Que você pode confiar nele, porque Ele é digno de confiança.

Meu irmão, há muitas outras palavras de Deus sobre você! Você precisa ler as Escrituras com dedicação e descobrir tudo aquilo que Ele fez por você e por sua vida. Então, a cada nova descoberta, viva conforme essa nova identidade em Cristo. Isso é que é ser uma nova criatura!

Conclusão

Hoje em dia muitos pregadores tentam atrair as pessoas falando sobre as bênçãos de ser discípulo, mas se esquecem de explicar que há condições para alguém seguir a Jesus. Uma delas é que aquele que deseja segui-lo deve negar-se a si mesmo.

Negar-se a si mesmo e desistir de tentar ser Deus. É abrir mão de tentar controlar a vida e reconhecer que depende completamente do Senhor. É parar de levar o mundo nas costas e confiar naquele que temo o mundo em suas mãos.

Negar-se a si mesmo é desistir de tentar ser quem você não é. É não tentar copiar os outros nem invejá-los. É parar de fingir ser alguém que você não é; é se reconhecer original e aceitar com gratidão tudo aquilo que realmente você é em Cristo Jesus.

Negar-se é abrir mão do que você pensa que é e do que os outros dizem que que você é, para se tornar aquilo que Deus fez e disse a seu respeito.

Foi assim com João Batista e precisa ser assim com cada um de nós.


Você quer seguir a Jesus? Isso é um excelente começo! Foi Deus quem plantou esse desejo em seu coração. Que tal o desafio de Negar-se a si mesmo? Que tal desistir de tentar ser Deus, desistir de fingir ser quem você não é e tomar posse daquilo que Deus fala a seu respeito?