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29 janeiro 2011

Viktor Emil Frankl



Viktor Emil Frankl (1905-1997), psiquiatra e psicólogo austríaco, criou um método de tratamento psicológico que denominou logoterapia, uma das dissidências da psicanálise freudiana surgidas em Viena e uma das muitas teorias sobre motivação básica do comportamento humano.
Seu pai fez carreira como funcionário público, chegando a uma posição de diretor no Ministério de Assuntos Sociais em Viena.
Ainda adolescente, sentiu um vivo interesse pela psicanálise. Em 1921 escreveu um primeiro trabalho: Über den Sinn des Lebens ("Sobre o significado da vida"). Então ele é parte da "Sozialistischen Arbeiterjugend" (Juventude trabalhadora socialista) em Viena.
Escreveu, como trabalho final na conclusão dos estudos secundários, em 1923, Zur Psychologie des philosophischen Denkens (eine psychoanalytisch orientierte Pathographie über Arthur Schopenhauer) ("Sobre a psicologia do pensamento filosófico (uma patografia de orientação psicanalítica sobre Arthur Schopenhauer)"). Iniciou então suas primeiras publicações na seção juvenil de um diário local, e também sua correspondência com seu ilustre compatriota Sigmund Freud. Este acolheu com interesse seu ensaio Zur mimischen Bejahung und Verneinung ("Sobre os movimentos da mímica de afirmação e negação") o qual, com o assentimento de Frankl, foi por ele encaminhado para publicação noInternationalen Zeitschrift für Psychoanalyse ("Jornal Internacional de Psicanálise") em 1924. A esse tempo estudante de medicina, Frankl foi porta-voz da "Associação dos estudantes secundários socialistas austríacos".
Apesar de viverem na mesma cidade, Frankl somente em 1925 encontrou-se pessoalmente com Freud. No entanto, preferiu seguir a corrente psicanalítica dissidente fundada por Alfred Adler. É no jornal da corrente adleriana, o Internationalen Zeitschrift für Individualpsychologie ("Jornal internacional de psicologia individual") que ele publica naquele ano Psychotherapie und Weltanschauung ("Psicoterapia e visão do mundo"), explorando a questão filosófica dos significados e dos valores. Ele se entusiasmou pelo livro do filósofo Max Scheler Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik ("Formalismo em Ética e Ética informal dos valores"), sobre teoria dos valores. No ano seguinte empregou pela primeira vez a expressão "Logoterapia", nas conferências que pronunciou em congressos em Duesseldorf, Frankfurt, e Berlim. Então, o rumo que tomou dentro do movimento psicanalítico determinou sua expulsão do círculo adleriano.
Interessando-se mais pela medicina psicossomática, Frankl teve o apoio financeiro do professor de Anatomia e membro do conselho de Viena, Julius Tandler, para a fundação, em 1928 e 1929, de postos assistenciais de ajuda e aconselhamento para a juventude, um projeto ligado a sua atividade socialista. Neste projeto, organizou um programa de aconselhamento tão bem sucedido que aquele ano, pela primeira vez, não ocorreu suicídio de estudantes em Viena. Esse projeto o fez internacionalmente conhecido.
Logo que conclui o curso de medicina, em 1930, passou a trabalhar como assistente na clínica psiquiátrica da universidade, e em seguida no hospital neurológico Maria Theresien Schloessl.
 Frankl trabalhou no hospital psiquiátrico Am Steinhof, e então, em seu trabalho no tratamento de mulheres que haviam tentado o suicídio, possivelmente teve, pela primeira vez, sua atenção voltada para a questão do sentido de viver e da vida sem significado.
De 1933 - 1937 Frankl é chefe do pavilhão de mulheres com tendência de suicídio, no Hospital Psiquiátrico de Viena, com atendimento de cerca de 3.000 pacientes por ano.
Em 1938 a Áustria foi invadida pelos nazistas. Os judeus de Viena são obrigados a portar um distintivo para serem facilmente identificados.
No seu trabalho Philosophie und Psychotherapie. Zur Grundlegung einer Existenzanalyse ("Filosofia e Psicoterapia: sobre a fundação de uma análise existencial"), de 1939, ele cunha a expressão "Análise existencial".
De 1940 a 1942, Frankl foi encarregado do departamento de neurologia do hospital judeu Rothschild, em Viena. Vê-se obrigado a fazer dignósticos benígnos, a fim de salvar os pacientes judeus de serem liquidados pelos nazistas. Publica artigos em jornais suiços e começa a escrever o livro Aerztliche Seelsorge ("O médico e a alma").
Frankl pertencia à corrente judaica socialista marxista, justamente a classe de judeus mais odiada por Hitler. Porém, apesar do perigo iminente de ser preso, e de ter um visto para imigrar para os Estados Unidos, decidiu ficar na companhia de seus pais. Casou em 1942, e no mesmo ano foi enviado com a família para um campo de concentração, onde seus pais e a sua mulher morreram. Sua irmã Stella havia emigrado em tempo para a Austrália.
Passou por quatro campos de concentração entre 1942 e 1945, inclusive os de pior fama como o de Therezin (1942-1944) e o de Auschwitz (1944). Quando chegou em Auschwitz, - onde morreriam sua mãe e seu irmão -, teve os manuscritos de seu livro destruídos. Mais tarde foi transferido para Kaufering und Tuerkheim (extensão dos campos de Dachau).
Durante os anos de cativeiro Frankl teve a sustentá-lo seu grande interesse pelo comportamento humano e concluiu depois que esse interesse o havia salvo e que aqueles companheiros de prisão que tinham uma esperança e davam um significado a suas vidas predominavam entre os sobreviventes da selvageria e da fome a que todos haviam sido submetidos. Sobreviveu não apenas aos maus tratos e a fome, mas ainda a um ataque de febre tifóide, no último campo em que esteve internado.
Após sua libertação, Frankl retornou a suas atividades, e foi nomeado, em 1946, Diretor do Hospital Policlínico Neurológico de Viena, posição que manteve por 25 anos. Recompôs o seu livro Aerztliche Seelsorge, e com esta obra, ganhou a habilitação para lecionar na Escola de Medicina da Universidade de Viena. Escreveu então um livro sobre sua teoria do sentido de vida Ein Psycholog erlebt das Konzentrationslager ("Um psicólogo no campo de concentração") que ele, buscando em sua memória e utilizando as poucas notas que havia salvo, ditou para um grupo de assistentes em apenas nove dias. Mais difundido na versão inglesa, Man's Search for Meaning ("A busca de significado do homem"), o livro foi traduzido em inúmeras línguas e vendeu mais de 9 milhões de exemplares, até o ano da sua morte. No mesmo ano publicou também ... trotzdem Ja zum Leben sagen. Drei Vorträge ( ...apesar de tudo dizer sim à vida. Três lições).
Em 1947 Frankl casou segunda vez com Eleonore Schwindt, e nesse ano publicouPsychotherapie in der praxis ("A prática da psicoterapia"), Zeit und verantwortung" e "Die existenzanalyse und die probleme der zeit. No ano seguinte obteve seu doutorado com a tese Der unbewußte Gott ("O Deus inconsciente"), tornando-se Privatdozent (professor associado) de neurologia e psiquiatria na Universidade de Viena. Suas aulas foram publicadas sob o título Der unbedingte Mensch ("O homem incondicional"). Com base em outra série de conferencias ele escreve em 1950 Homo patiens. Versuch einer Pathodizee,cujo tema central é como confortar pessoas que sofrem. No semanário universitário de Salzburger expôs suas "10 Teses sobre a pessoa humana".
Em 1951, no seu livro Logos und Existenz ("O logos e a existência") Frankl completa os fundamentos antropológicos da Logoterapia.
O pensamento de Frankl era que a motivação básica do comportamento do indivíduo é uma busca pelo sentido para sua vida e que a finalidade da terapia psicológica deve ser ajuda-lo a encontrar esse significado particular. Escreveu mais de 32 livros sobre análise existencial e logoterapia, traduzidos, como o primeiro em inúmeras línguas.
A liberdade do homem escolher seu próprio destino e o caminho a seguir, em qualquer circunstância deve ser respeitada. De acordo com a logoterapia (Logos definido como "significado"), o desejo de encontrar um significado para sua vida é a motivação fundamental no ser humano, uma fundamentação diferente do princípio do prazer proposto por Freud na psicanálise. Para Frankl, a principal preocupação do homem é estabelecer e perseguir um objetivo, e é esta busca que é capaz de dar sentido à sua vida, fazendo para ele valer a pena viver, e não a satisfação de seus instintos e o alívio de tensões como sustenta a psicanálise ortodoxa. Não se trata, portanto, de um sentido para a vida em termos gerais, mas um sentido pessoal para a vida de cada indivíduo, que este escolhe, mas também pode criar.
Frankl teorizou que o indivíduo pode encontrar um sentido para sua vida por três vias: (1) criando um trabalho ou realizando um feito notável, ou ao sentir-se responsável por terminar um trabalho que depende fundamentalmente de seus conhecimentos ou de sua ação, (2) experimentando um valor, algo novo, ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal. Este é também o caso de uma pessoa que está consciente da responsabilidade que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela"; e (3) pelo sofrimento, adotando uma atitude em relação a um sofrimento inevitável, se tem consciência de que a vida ainda espera muito de sua contribuição para com os demais. Nestes três casos, a resposta do indivíduo então deixa de ser a perda de tempo em conversas e meditação, e se torna a ação correta e a conduta moral objetiva.
Em 1954 Frankl atendeu convites de universidades em Londres, Holanda e Argentina. Também lecionou como professor convidado ou pronunciou conferências em inúmeras universidades americanas.
Em 1955 passou de assistente a professor na Universidade de Viena.
Os aspectos teóricos e práticos da neurose do ponto de vista da logoterapia é tratado no seu Theorie und Therapie der Neurosen de 1956. Em 1959 uma exposição ainda mais sistemática da Logoterapia e análise existencial aparece no capítulo Grundriß der Existenzanalyse und Logotherapie ("Fundamentos da análise existencial e logoterapia") noHandbuch der Neurosenlehre und Psychotherapie ("Manual sobre neurose e psicoterapia") editado por Frankl e dois associados.
A partir de 1961, assumiu cadeiras como professor convidado sucessivamente nas universidades Harvard, Stanford, Dallas (1966), San Diego (1970) e Pittsburgh (1972). Recebeu mais de uma vintena de doutorados honorários em diversos países do mundo.
Reunindo suas conferências publicou em 1966 The Will to Meaning ("A vontade de significado"), que ele considerou seu livro mais completo em inglês.
Sua autobiografia Was nicht in meinen Büchern steht ("O que não está em meus livros") aparece em 1995 com sua tradução em ingles Viktor Frankl - Recollections publicada em 1997. Seu último livro foi publicado também em 1997, Man's Search for Ultimate Meaning("A busca do homem pelo significado último").
Faleceu de parada cardíaca em setembro de 1997, em Vienna, aos 92 anos. Pouco antes de falecer publicou Man's Search for Ultimate Meaning and Recollections: An Autobiography
Rubem Queiroz Cobra

11 setembro 2010

William Tyndale (1483-1536)



O pai da Bíblia Inglesa


William Tyndale nasceu aproximadamente em 1483, na vila de North Nibley. Ordenado ao sacerdócio em 1502, ele se distinguiu em Oxford recebendo o seu diploma de Bacharel em Artes, em 1515. Mais tarde ele se transferiu para Cambridge, onde se tornou familiarizado com Erasmo e o seu Novo Testamento Grego. Enquanto atravessava esse tempo de reflexão, Tyndale experimentou uma iluminação espiritual semelhante à de Lutero.


Quanto mais ele estudava esse tesouro recém descoberto, mais acentuada se tornava a sua preocupação no sentido de que os seus companheiros ingleses dele compartilhassem. Foi durante esse período de formação que aconteceu a clássica discussão de Tyndale com um papista fanático. Antagonizado pela sua incapacidade de refutar a racionalização Bíblica de Tyndale, o exasperado sacerdote gritou: "seria melhor que ficássemos sem as leis de Deus do que sem as leis do papa", ao que Tyndale retorquiu indignado:
Desafio o papa e todas as suas leis; e se Deus me poupar a vida por muitos anos, levarei um garoto que conduz o arado a conhecer mais a Escritura do que vós.

Com essas audaciosas palavras representando a motivação de toda a sua vida, Tyndale decidiu resgatar os seus iletrados patrícios da desesperança e infelicidade do Romanismo, declarando:
Essa causa apenas me conduziu a traduzir o Novo Testamento. Porque eu havia percebido, por experiência, como seria impossível levar o povo leigo à verdade, a não ser que as Escrituras fossem claramente colocadas diante dos seus olhos na língua mãe.
O pedido de Tyndale para se alojar com o renomado Cuthbert Tonstal, Bispo de Londres, recebeu uma fria negativa. Do mesmo modo como o estalajadeiro de Belém negou abrigo à "Palavra Viva" o prelado indiferente fez o mesmo ouvido surdo à "Palavra Escrita", nenhum deles reconhecendo o tempo de sua visitação.


O Senhor compensou essa humilhação, enviando Tyndale até um comerciante simpático, o qual não apenas abriu sua residência em Londres, para o Reformador, como ainda lhe deu dez libras de presente, pedindo-lhe que orasse por "seu pai, sua mãe, suas alma e todas as almas cristãs". Contudo seis meses depois do início da tradução, Tyndale detectou uma crescente hostilidade dos oficiais lacaios contra o seu projeto. Grande parte dessa pressão foi atribuída às pazes de Henrique VIII com Roma, a respeito do controvertido pedido de anulação do seu casamento com a "estéril" rainha Catarina. Tyndale conclui com tristeza:
A partir daí, percebi que não apenas no palácio do bispo de Londres, mas em toda a Inglaterra, não havia lugar onde eu pudesse tentar uma tradução das Escrituras.
Em face dessas condições inaceitáveis, Tyndale transferiu-se para a Alemanha, em 1524, sem imaginar que jamais colocaria os pés novamente em solo inglês (Contudo, Foxe chamou Tyndale de "o Apóstolo da Inglaterra").


Tendo garantido alojamento em Hamburgo, o fugitivo fez uma peregrinação imediata até Wittenberg. O patrocínio negado a Tyndale por Tonstal foi mais do que compensado pelo audacioso Lutero, que iria declarar sem timidez: "Nasci para a guerra e a luta contra as facções e os demônios".


O Dr. J. R. Green captou o espírito contagiante de Lutero com a narrativa da visita deste a Tyndale:
Encontramo-lo em seu caminho para a cidadezinha que havia repentinamente se tornado a cidade sagrada da Reforma. Estudantes de todas as nações ali se reuniam com um entusiasmo que lembrava aquele dos cruzados. "Quando vinham para ver a cidade", conta-nos um contemporâneo, "retornavam graças a Deus com as mãos preparadas para de Wittenberg, como a partir de Jerusalém fosse a luz da verdade do evangelho espalhada até aos confins da terra". Foi por insistência de Lutero que Tyndale ali traduziu os evangelhos e as epístolas.
Tyndale receberia muita coragem para suas futuras experiências da parte do austero alemão, cuja visão pessoal sobre os perturbadores era essa: "você não pode enfrentar um rebelde com a razão. Sua melhor resposta é esmurrá-lo no rosto até que ele sangre pelo nariz".


Com o coração reanimado, Tyndale iniciou o seu esforço pioneiro de produzir a Bíblia Inglesa traduzida diretamente das línguas originais. Partiu dele uma excepcional concessão para uma tão grandiosa ventura. O professor Herman Buschais descreveu Tyndale para Spalatin como:
Um homem tão versado nas sete línguas: Hebraico, Grego, Latim, Italiano, Espanhol, Inglês e Francês, que qualquer uma que ele falasse poderia dar a impressão de ser a sua língua nativa.
Esta erudição foi confirmada no comparecimento de Tyndale diante dos editores de Colônia, Quental e Byrschmann, antes de completar um ano. Embora desconhecido a Tyndale, o arquinimigo de Lutero, o teólogo católico John Cochlaeus, Deão da Igreja da Bendita Virgem em Frankfurt, seguiu direto em suas pegadas. Quando viu os católicos na Alemanha preparados com Bíblias até às orelhas, Cochlaeus se queixou:


O Novo Testamento de Lutero se multiplicou e espalhou de tal maneira através dos editores que até mesmo alfaiates e sapateiros, sim, até mesmo as mulheres e as pessoas ignorantes, que aceitaram esse novo evangelho luterano e podiam ler um pouco de alemão, estudavam-no, com a maior avidez, como sendo a fonte de toda a verdade. Alguns o memorizaram, carregando-o no íntimo. Em poucos meses esse povo ficou tão letrado que não se envergonhava de debater sobre a fé e o evangelho, não apenas com os leigos católicos, mas até mesmo com os padres e monges e doutores em divindades.


Cochlaeus não podia permitir que esse pesadelo alcançasse a Inglaterra. Certo dia ele escutou por acaso alguns tipógrafos discutindo a respeito da obra de Tyndale. Embriagando-os com uma certa quantidade de vinho, ele ficou perplexo ao descobrir que o Novo Testamento Inglês já estava sendo impresso. Depois de ver apenas dez folhas completadas, Tyndale foi advertido da chegada de magistrados. Auxiliado pelo seu amanuense, William Roye, ele pôde transferir os preciosos documentos para Worms, deixando ao chão um padre frustrado.


Com a comparativa segurança da "retaguarda" oferecida por Lutero, as primeiras três mil cópias do Novo Testamento de Tyndale foram completadas em 1525 pelo editor de Worms - Schoeffer – e contrabandeadas para a Inglaterra, em barris, pilhas de roupa e sacos de farinha. Ao contrário da tradução dos manuscritos latinos de Wycliff, a obra de Tyndale foi diretamente traduzida do Grego e, mais que isso, do Textus Receptus da segunda e terceira edições de Erasmo. (Erasmo havia rejeitado as leituras Alfa e Beta da Vulgata, pavimentando, assim, a estrada para centenas de mártires em Smithfield, os quais iriam morrer por causa do Texto Majoritário).


Tendo sido alertado por Cochlaeus da "importação pendente de perniciosa mercadoria", o clero inglês ficou de sobreaviso nos portos. Muitas Bíblias foram interceptadas e queimadas em cerimônias, na Saint Paul Cross em Londres, pelo bispo Tonstal, que as chamava de "uma oferta queimada ao Deus Todo Poderoso".


Esse bispo enfatuado afirmava ter encontrado 2.000 erros na mesma. Sir Thomas More acrescentou: "tentar encontra erros no livro de Tyndale foi o mesmo que tentar água no mar". More seria degolado mais tarde, como um traidor da pátria.


Sem se intimidar, Tyndale exclamou no espírito do seu mentor alemão:
Ao queimar o Livro eles fizeram exatamente o que eu esperava; provavelmente eles vão também me queimar, se for essa a vontade de Deus.
Contudo, apesar desse diabólico esforço, muitos dos volumes reprovados foram dispersos pela terra (quase 50.000, segundo alguns cálculos). As dores sofridas no sentido de proteger esses Novos Testamentos podem ser vislumbradas através do que um sóbrio cristão escreveu:


Guardas perigosos cheios de whisky,
que em vão buscavam essa coluna,
gozavam de clandestinidade
e esconderijo com sofrimento ansioso.
Enquanto tudo à volta era miséria e escuridão,
Este livros nos mostrava o beijo sem fronteira,
além da tumba,
libertos dos padres venais – do castigo feudal.
Ele permitiu ao sofredor
seus passos fatigados até Deus.
E quando essa sofrida maldição na terra aconteceu
Esta principal riqueza do seu filho desceu.


Que o poder do Novo Testamento de Tyndale foi causa de alarme entre os católicos ficou evidenciado pela carta do bispo de Nikke ao seu superior, na qual se lia em parte: "está além do meu poder, ou de qualquer homem espiritual, impedir isso agora, e se assim continuar por muito tempo, ele a todos nos destruirá".


Com a cabeça erguida, Tyndale se mudou para Marburg, em 1528, onde ficou sob a proteção de Philip, o Magnânimo, Conde de Hesse. Após ter trabalhado, por quase um ano, no Pentateuco, ele embarcou para Hamburgo, porém sofreu um naufrágio na viagem, perdendo o manuscrito de Deuteronômio recém concluído.


Após uma chegada com atraso em Hamburgo, ele foi residir com Margarete von Emmerson, onde concluiu a tradução de Gênesis até Deuteronômio. Com o seu aparecimento na cidade livre de Antuérpia (para conseguir a impressão desses novos livros), Tyndale arquitetou um plano engenhoso para repor suas urgentes carências financeiras. Já ficou conhecido que o arrogante bispo Tonstal, levado ao desespero pela divulgação do Novo Testamento, havia tentado salvaguardar-se, removendo-os do comércio através de uma compra ilegal. Contudo, sem que Tonstal o soubesse, o comerciante intermediário do qual ele se aproximou, Augustine Pakinghton, era um dos simpatizantes e mantenedores de Tyndale. Foxe o descreve com esta maravilhosa narrativa poética de justiça:
Alguma semanas mais tarde, Pakinghton entrou no humilde alojamento de Tyndale, cujas finanças ele sabia terem se esgotado.
Pakinghton – "Mestre Tyndale, encontrei para vós um bom comprador dos vossos livros.
Tyndale – quem é?
Pakinghton – o senhor bispo de Londres.
Tyndale – mas se o bispo quer esses livros será apenas para queimá-los.
Pakinghton – bem... e então? O bispo os queimará de qualquer maneira e bom seria que conseguíssemos dinheiro para imprimir mais.
Tyndale – ficarei contente por esses benefícios que advirão: vou receber o dinheiro para me livrar dos débitos e o mundo inteiro vai gritar contra a queima da Palavra de Deus. O restante do dinheiro me possibilitará corrigir o dito Novo Testamento, e novamente imprimir o mesmo, confiando em que o segundo será bem melhor do que o primeiro já impresso.
Depois disso, os Novos Testamentos reimpressos logo alcançaram a Inglaterra. Então o bispo mandou procurar novamente Pakinghton indagando como era possível que os livros fossem ainda tão abundantes? "Meu senhor", respondeu o comerciante, "realmente eu acho que seria melhor que comprásseis também os tipos pelos quais eles são impressos".


Que esse conselho não foi seguido, nem é preciso declarar.


Com o lucro do seu "mais novo cliente", Tyndale entregou o seu Pentateuco, em 1530, através da Casa publicadora Hans Luft, de Marburg, com a sua tradução de Jonas sendo publicada na Antuérpia, no ano seguinte.


Por esse tempo a animosidade contra Tyndale havia aumentado consideravelmente. Além das traduções desprezadas, seus diversos ataques verbais contra Roma não estavam lhe angariando muitos amigos: "A parábola do Maligno Mamom", 1528; "A Obediência de um Cristão" e "Como os Governantes de Cristo Devem Governar", em 1530; e sua "Prática de Prelados" , também em 1530. Numa de suas notas marginais em Jonas ele comparou a Inglaterra com Nínive.


No ano de 1535, um crédulo Tyndale foi traído por um agente secreto católico, Henry Phillips, o qual havia angariado a confiança do reformador. Depois de tomar um empréstimo de última hora no valor de 40 shillings, de sua generosa vítima, os dois homens seguiram para a pensão de Tyndale, a fim de jantar. O traidor Phillips insistiu pretensiosamente como o seu "amigo", para ir na frente. Logo que saiu, Phillips, no espírito de Judas Iscariotes, apontou na direção dele pelas costas, como sinal combinado para identificá-lo aos oficiais. O idoso santo foi depressa levado para o calabouço da fortaleza próxima de Vilvorde, dezoito milhas ao norte de Antuérpia.


Como o julgamento do seu Mestre por Pilatos, o caráter de Tyndale era inquestionável, impressionando até mesmo o promotor do Imperador que o levara a considerá-lo "homo doctus, pius, et bonus" (homem sábio, piedoso e bom).


Durante os dezoito meses do seu encarceramento, Tyndale se manteve firme. Um dos documentos mais tristes existentes em toda a história da igreja (tirado dos arquivos do Concílio de Brabant) é uma carta escrita em Latim, pela própria mão do reformador, para o governador de Vilvorde, talvez o Marquês Burgon:
Creio, cheio de legítima adoração, que não estarei despercebido do que pode ter sido determinado com respeito a mim. Daí porque peço a Vossa Senhoria, e isso pelo Senhor Jesus, que se devo permanecer aqui pelo inverno, Vossa Senhoria diga ao comissário que faça a gentileza de enviar-me, dos meus pertences que estão com ele, um boné contra o frio, visto como sinto muito frio na cabeça e sou afligido pelo contínuo catarro, que aumentou muito nesta cela. Também uma capa de inverno, pois a que tenho é muito fina; também uma peça de roupa para agasalhar minhas pernas. Meu sobretudo está gasto; minhas camisas também estão gastas. Ele tem uma camisa de lã e por favor, ma envie. Também tenho com ele perneiras de pano grosso para usar por cima. Ele tem também toucas quentes de dormir.
Peço que me seja permitido ter uma lâmpada à noite. É de fato aterrador ficar sentado sozinho no escuro. Mas, antes de tudo, peço que ele gentilmente me permita ter uma Bíblia hebraica, uma gramática hebraica e um dicionário hebraico, para que eu aproveite o tempo estudando. Em compensação Vossa Senhoria possa conseguir o que mais deseja, contanto que seja apenas para a salvação de sua alma. Mas se qualquer outra decisão foi tomada a meu respeito para ser executada antes do inverno, terei paciência, aceitando a vontade de Deus, para glória da graça do meu Senhor Jesus Cristo, cujo Espírito eu oro que possa dirigir sempre o vosso coração. Amém! Assinado: W. Tyndale
De fato, foi a vontade de Deus que o seu servo passasse ali, não apenas aquele inverno, mas a próxima primavera e também o verão. Temos confiança de que ele conseguiu seus auxílios lingüísticos, visto como deixou atrás dele a tradução completa de Josué até II Crônicas.


Com as folhas do outono de 1536 anunciando a aproximação certa de outro inverno, o tempo da partida de Tyndale havia chegado. Condenado pelo decreto do Imperador, na assembléia de Augsburg, a data de sua execução foi estabelecida para 6 de outubro. Foxe nos transporta até essa cena sombria:
Trazido para o local da execução, ele foi atado à estaca, estrangulado por um carrasco e depois consumido pelo fogo, na cidadezinha de Vilvorde em 1536 d.C., gritando na estaca, em alta voz com fervorosa preocupação: "Senhor, abre os olhos do Rei da Inglaterra!
Quando o fiel Tyndale estava terminando a obra de sua vida, com uma última e incompreensível oração pela iluminação do rei, ele não podia imaginar que a resposta do céu já estava a caminho. McClure relata o miraculoso testemunho de que:
O que foi mais estranho em tudo isso e inexplicável para aqueles dias é que na hora exata em que Tyndale, por obtenção dos eclesiásticos ingleses e pelo tácito consentimento do rei inglês, foi queimado em Vilvorde, uma edição paginada de sua tradução era impressa em Londres, com o seu nome na página titular e por Thomas Berthlet, com a própria patente de impressão do rei. Essa foi a primeira cópia das Escrituras impressa em solo inglês.
Contudo, muito mais significativo do que esse misterioso rasgo da Providência foi a sanção oficial dada pelo próprio Henrique de duas Bíblias Inglesas dentro de um ano, a partir do martírio de Tyndale. A primeira destas foi a Bíblia Coverdale, nomeada segundo o antigo revisor em Antuérpia, Miles Coverdale (1488-1569).


A Bíblia Coverdale mantém a honra exclusiva de ser a primeira Bíblia Inglesa completa já impressa. Como Wycliff, Coverdale era fraco nas língua originais, de modo que sua obra consistiu do Novo Testamento e do Pentateuco, com os demais livros do Velho Testamento sendo conseguidos, primeiramente da tradução alemã de Lutero, com pequeno empréstimo da Vulgata Latina e da Bíblia Suíça de Zurique.


Embora Coverdale tivesse sido forçado a publicar sua primeira edição em Colônia (1535), ele muito prudentemente dedicou-a ao rei da Inglaterra e também teve o cuidado de excluir o estilo controverso das notas marginais associadas com a Bíblia de Tyndale. Não é difícil entender a boa vontade de Henrique de pessoalmente autorizar essa Bíblia (segunda edição da Coverdale de 1537), quando a capa o apresentava sentado e coroado, empunhando uma espada na página dedicatória, creditando-o como "defensor da fé". A diplomacia de Coverdale coincidia com a recente quebra do controle de Roma sobre as igrejas inglesas. Embora sem renunciar às doutrinas católicas o Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento em 11/11/1534, foi certamente o passo mais importante em direção à Reforma Inglesa.


A segunda Bíblia a receber sanção especial naquele ano foi outra aventura discreta. Conhecida como a Bíblia de Mateus, essa tradução foi realmente feita por John Rogers (1500-1555), o qual usou o pseudônimo de Thomas Matthews, em vista de sua bem conhecida associação com Tyndale. O melhoramento fundamental da Bíblia de Matthews foi a inclusão das obras de Tyndale "escritas no cárcere" – Josué e 2 Crônicas. Com o Pentateuco de Tyndale e o Novo Testamento basicamente intactos, a Bíblia Coverdale preencheu o vácuo, visto como Rogers assegurou alguma assistência das versões francesas de Le Fevre e Olivertan. Como a Bíblia Coverdale, a de Rogers foi também autorizada pelo rei, que tornou legal que a mesma pudesse ser comprada, lida, reimpressa e vendida. Do lado mais claro, a Bíblia de Mateus é algo referido como "a Bíblia do homem que apanha da mulher", por causa da nota, fora de época, em 1 Pedro 3:1, onde se lê: "Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra".


Logo depois veio a Grande Bíblia de 1538, nomeada conforme o seu tamanho especial (16" por 11"). Ela era basicamente uma revisão da Bíblia de Mateus feita por Miles Coverdale, com pouca mudança, exceto pela remoção das notas marginais controversas de Rogers. A Grande Bíblia teve a distinção de ser a primeira Bíblia oficialmente autorizada para uso público nas igrejas da Inglaterra, pelo que foi exigido que ela fosse literalmente acorrentada a uma parte do mobiliário da igreja, onde os paroquianos tinham "acesso à mesma para ler".


Com a obesidade de Henrique forçando-o provavelmente a pensar na eternidade (tendo engordado tanto que precisava ser levantado com roldanas para montar no cavalo), o rei sancionou oficialmente a Grande Bíblia com: "Em nome de Deus, deixe-a partir para o estrangeiro, junto do nosso povo". Sem dúvida, Tyndale teria dado uma risada, por razões óbvias. Em janeiro de 1547, o próprio Henrique partiu desta terra.

Nota da tradutora:
Aqui tivemos um esboço da vida do pai da Bíblia inglesa, que se entregou à morte por amor à Palavra de Deus, levando ao seu país uma grande renovação espiritual, a qual aconteceria dentro de pouco anos. Mary Schultze (maryschultze@uol.com.br)


Dados compilados do capítulo 9 do livro "Final Authority", do Dr. William P. Grady, Th.D.
Fonte: http://solascriptura-tt.org

03 novembro 2009

Agostinho (354-430)

by Vania DaSilva
Fonte: http://www.sepoangol.org/agostino.htm

Introdução


Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história que continua válida até hoje em sua essência.Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros, Agostinho permaneceu em dois mundos, o clássico e o novo medieval.

Nascido em 354, na casa de um oficial romano na cidade de Tagasta em Numidia, no norte da África, era filho de um pai pagão, Patrício, e de uma mãe crente, Mônica. Apesar de não serem ricos, era uma família respeitada. Sua mãe dedicou-se à sua formação e conversão à fé cristã.

Com muito sacrifício, seus pais lhe ofereceram o melhor estudo romano. Seus primeiros anos de estudo foram feitos na escola local, onde aprendeu latim à força de muitos açoites. Logo, foi enviado para a escola próximo a Madaura, e em 375 à Cartago, para estudar retórica.

Longe da família, Agostinho se apartou da fé ensinada por sua mãe, e entregou-se aos deleites do mundo e a imoralidade com seus amigos estudantes. Viveu ilegitimamente com uma concubina durante treze anos, a qual lhe concedeu um filho, Adeodato, em 372. O mesmo morreu cerca do ano 390.



Na busca pela verdade, ele aceitou o ensino herético maniqueísta, o qual ensinava um dualismo radical: o poder absoluto do mal -- o Deus do Antigo Testamento, e o poder absoluto do bem -- o Deus do Novo Testamento. Nesta cegueira ele permaneceu nove anos sendo ouvinte, porém, não estando satisfeito, voltou à filosofia e aos ensinos do Neo-platonismo. Ensinou retórica em sua cidade natal e em Cartago, até quando foi para Milão, Itália, em 384. Em Roma, foi apontado pelo senador Símaco como professor de retórica em Milão, e depois para a casa imperial. Como parte de seu trabalho, ele deveria fazer oratórias públicas honrando o imperador Valenciano II.

Sua Conversão

No ano 386, quando passava várias crises em sua vida, Agostinho estava meditando num jardim sobre a sua situação espiritual, e ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e Leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13,14 e a leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não conseguiu encontrar nem no maniqueísmo nem no neo-platonismo. Com sua conversão à Cristo, ele despediu sua concubina e abandonou sua profissão no Império. Sua mãe, que muito orara por sua conversão, morreu logo depois do seu batismo, realizado por Ambrósio na Páscoa de 387. Uma vez batizado, regressou um ano depois para Cartago, Norte da África, onde foi ordenado sacerdote em 391. Em Tagasta, ele supervisionou e instruiu um grupo de irmãos batizados chamados de “Servos de Deus”. Cinco anos depois, foi consagrado bispo de Hipona por pedido daquela congregação, onde permaneceu até sua morte. Daí até sua morte em 430, empenhou-se na administração episcopal, estudando e escrevendo.

Suas Obras

Agostinho é apontado como o maior dos Pais da Igreja. Ele deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas. Suas obras mais importantes foram:

Confissões, obra autobiográfica de sua vida antes e depois de sua conversão;

Contra Acadêmicos, obra onde demonstra que o homem jamais pode alcançar a verdade completa através do estudo filosófico e que a certeza somente vem pela revelação na Bíblia;

De Doctrina Christiana, obra exegética mais importante que escreveu, onde figuram as suas idéias sobre a hermenêutica ou a ciência da interpretação. Nela desenvolve o grande princípio da analogia da fé;

De Trinitate, tratado teológico sobre a Trindade;

De Civitate Dei, obra apologética conhecida como Cidade de Deus. Com o saque de Roma por Alarico, rei dos bárbaros em agosto 28 de 410, os romanos creditaram este desastre ao fato de terem abandonado a velha religião clássica romana e adotado o cristianismo. Nesta obra, põe-se a responder esta acusação a pedido de seu amigo Marcelino.

Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias dos maniqueus, dos donatistas e, principalmente, dos pelagianos. Também escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas, que tratam de problemas práticos que um administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos do seu ministério.

A formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das contribuições permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Nem os historiadores gregos ou romanos foram capazes de compreender tão universalmente a história do homem. Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a soberania de Deus sobre a criação. Esta e outras inspiradoras obras mantiveram viva a Igreja através do negro meio-milênio anterior ao ano 1000.

Agostinho é visto pelos protestantes como um precursor das idéias da Reforma com sua ênfase sobre a salvação do pecado original e atual através da graça de Deus, que é adquirida unicamente pela fé. Sua insistência na consideração dos sentido inteiro da Bíblia na interpretação de uma parte da Bíblia (Hermenêutica), é um princípio de valor duradouro para a Igreja.

Seus últimos meses

Durante os últimos meses de vida, os vândulos tomaram a cidade fortificada de Hipona por mar e terra. Eles haviam destruído as cidades do Império Romano no Norte da África e as evidências do Cristianismo. A cidade estava cheia de pobres e refugiados, e a congregação de Agostinho não era uma excessão. No final de sua vida, ele foi submetido a uma enfermidade fatal, e com 75 anos ele pediu que ficasse só, a fim de se preparar para encontrar com o seu Deus. Um ano depois da morte de Agostinho em 430, os bárbaros queimaram toda a cidade, mas felizmente, a biblioteca de Agostinho foi salva, e seus escritos se perpetuam em nosso meio até a nossa era.




Agostinho de Hipona 2
Por Sérgio Paulo de Lima
Fonte: Revista Palavra Viva - Boas-Novas de Alegria, Editora Cultura Cristã.

Agostinho não morreu martirizado, porém, desenvolveu a Doutrina da Graça de modo tão Bíblico que Calvino o abraçou. Sendo assim, vamos estudar a vida deste servo de Deus e, como os reformadores fizeram, aproveitar de seus ensinos o que tem respaldo bíblico.

A origem

Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagasta, na África (hoje Argélia) e faleceu em 28 de agosto de 430 em Hipona. Foi um dos maiores pensadores da Igreja. Era filho de Patrício, homem de recursos, pagão, mundano, mas que se converteu nos últimos anos de sua vida e de Mônica, cristã que sempre manteve esperanças em relação ao filho, embora Agostinho tenha vivido sensual e desregradamente até os 32 anos, quando ocorreu sua conversão. Fez os estudos secundários em Madauro e estudou retórica em Cartago.

Agostinho foi um aluno brilhante e capaz em Literatura, línguas e retórica (a arte do bem falar). Aos 17 anos ingressou na fase da imoralidade, teve uma amante, e com ela um filho chamado Deodato. Foi muito imoral e mulherengo. Nesta época, ao orar dizia: “Senhor dá-me continência e castidade, mas não hoje”.

A busca pelo conhecimento

A leitura do Hortensius, de Cícero, o despertou para a filosofia. Por esta época aderiu ao Maniqueísmo, do qual falaremos adiante.

Em 383, desiludido com o Maniqueísmo, aproximou-se temporariamente do Ceticismo. Depois de ter ensinado retórica em Cartago e Roma, em 384 foi nomeado professor em Milão, onde, entrou em contato com Ambrósio, bispo desta cidade.

A conversão

Conta-se que, certo dia, no final do verão de 386, num jardim, numa casa de campo em Milão, na Itália, se encontrava Agostinho assentado num barco. Ao seu lado estava um exemplar das epístolas de Paulo. Mas, ele parecia não estar interessado, pois experimentava uma intensa luta espiritual, uma violenta agitação de coração e mente. Levantando-se do banco, foi para baixo de uma figueira. Ali ouviu a voz de uma criança que dizia “toma e lê, toma e lê”. Quando voltou ao banco e abriu a Bíblia, encontrou a passagem de Rm 13.14,15 . Leu e se converteu ao Cristianismo.

Em 387 foi batizado por Ambrósio e , na volta para Tagasta, perdeu sua mãe, Mônica. Este fato lhe causou grande tristeza.

Renunciou, então, a todos os prazeres, depois de grande luta interior, e retirou-se para Cassiaciacum, perto de Milão, para meditar.

Atraído pelo ideal de recolhimento e ascese, resolveu fundar um Mosteiro em Tagasta. De sua cidade natal dirigiu-se para Hipona, no inicio de 391, onde foi ordenado sacerdote, e quatro anos mais tarde, bispo-coadjutor, passando a titular com a morte do bispo diocesano Valério.

Mesmo assim, não abriu mão do ideal de vida monástica, fundado nas dependências de sua catedral uma comunidade que foi modelo para muitas outras e um centro de irradiação religiosa.

O mundo em que viveu

Agostinho viveu num momento crucial da história- a decadência do Império Romano e o fim da Antiguidade Clássica. A poderosa estrutura que, durantes séculos, dominou o mundo, desabou pela desintegração do proletariado interno e pelo ataque externo das tribos bárbaras.

Em 410 foi testemunha da tomada de Roma pelos visigodos de Alarico. E, ao morrer, em 430, presenciou o sitio de Hipona por Gensérico, rei dos vândalos, e a destruição do poderio romano na África do norte. Foi nesse mundo convulsionado por lutas internas que Agostinho exerceu o magistério sacerdotal e escreveu sua obra, de tão decisiva importância na história do pensamento cristão.

O pensamento

Escreveu contra os maniqueus, defendeu as autoridades das escrituras, explicou sobre a criação, abordou a origem do mal, debateu sobre a questão do livre-arbítrio, quando então, se tornou um grande defensor da predestinação.

A maior de suas lutas foi contra o pelagianismo; estes negavam o pecado original e aceitavam o livre-arbítrio afirmando que o homem tem o poder de vencer o pecado. Afirmavam que o homem podia pecar ou não pecar, logo, tinha vontade livre. Agostinho por sua própria experiência, percebeu o erro disso.

As obras

Além dos inúmeros sermões e cartas, das volumosas interpretações da Bíblia, além de obras didáticas, de catequese e de polemicas contra várias heresias de seu tempo (maniqueísmo, donatismo, pelagianismo), deve-se mencionar, entre as mais importantes de Agostinho:

As confissões de Agostinho (400), uma autobiografia espiritual em que faz ato de penitência e celebra a glória de Deus; relata nela sua piedade; “Tu nos fizeste para ti e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso”.

De Trinitate (400-416), um tratado filosófico e teológico;

Civitas Dei ou cidade de Deus (413-426), uma justificação de fé cristã e teologia histórica, da qual é considerado o fundador. É uma síntese do pensamento filosófico – teológico e político de Agostinho. É considerada pelos críticos como uma filosofia racional da história.

Escreveu-a quando os bárbaros invadiam e Europa e Roma estava sitiada pelos infiéis.

Posições de Agostinho

Agostinho defendeu a imutabilidade de Deus, o princípio da livre criação, isto é, Deus não criou nada por imposição. Sustentou também, ao contrario dos que criam os maniqueístas, que o diabo não era igual em força de Deus. Deus é o único criador, e superior a qualquer força contraria.

Agostinho combateu com grande capacidade as heresias de seu tempo e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”, pois, como ninguém, soube compreender os seus efeitos. Na sua grande obra “cidade de Deus”, que gastou 13 anos para escrever, afirma: “Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo de si próprio, a celestial”.

Isto resume a sua obra.Como disse alguém, “seu símbolo é um coração”. Em chamas e o olhar voltado para as alturas”.

Agostinho foi um pregador incansável (400 sermões autênticos).Grande estudioso e teólogo, seu pensamento estava centrado em dois pontos essenciais: Deus e destino do homem.

Conclusão

Agostinho foi exemplo de alguém que saiu de uma vida confusa e desregrada, para uma vida de total consagração a Deus. O texto de Romanos 13.13,14, transformou sua vida cheia de pecados e se revestiu de Cristo, na alimentando a carne. Que essa consagração sirva de exemplo para nós.

23 maio 2009

John Wesley - (1703-1791)


A vida de um homem que com sua paixão por Deus mexeu com a vida espiritual dos ingleses e com a estrutura social de seu país.

John Wesley nasceu em 1703, durante o reinado da boa rainha Anne. Sua infância foi dirigida por sua mãe, uma mulher rígida e piedosa e seu pai, um homem difícil de agradar. Sua mãe acreditava que os desejos das crianças deviam ser subjugados, que eles deveriam ser açoitados quando não se comportassem e que deviam chorar baixinho depois de açoitados. John era o décimo quarto filho. Ele teria morrido num incêndio em Epworth Rectory se não tivesse sido arrancado das chamas por um vizinho que subiu nos ombros de outro vizinho. Ele tinha sete anos então, e depois disso, sua mãe o lembrou várias vezes que ele era “um tição colhido do fogo”. Ela sentia – e mais tarde ele veio a sentir – que ele tinha sido poupado por um propósito, servir a Deus.

Samuel, o pai de John, era um erudito, que por muitos anos trabalhou numa obra monumental sobre o livro de Jó. Um pregador severo, para não dizer implacável, uma vez exigiu que uma adúltera andasse nas ruas em sua vergonha e ele forçou o casamento de uma de suas filhas depois que ela tentou fugir com um homem que não era o escolhido de seu pai. Com seu pai e sua mãe, John Wesley desenvolveu excelentes hábitos de estudo e também se acostumou com sofrimento físico.

John Wesley foi para Charterhouse School em 1714, para Christ Church College, Oxford, em 1720, e em 1726 foi eleito membro na Lincoln College, Oxford. Depois de aceitar uma posição de pastor auxiliar em Wroote, Lincolnshire, de 1727 a 1729, ele voltou à Oxford não apenas para continuar seus estudos, mas também começar a viver a vida santa. Muitos outros jovens brilhantes tinham um curriculum como o de Wesley, mas poucos tinham a sua dedicação. Ele dominava pelo menos sete idiomas e desenvolveu uma visão verdadeiramente abrangente em todas as áreas da investigação. Sua mente nunca encerrou a busca pelo resto de sua vida. Quando ele voltou de Wroote para Oxford, ele assumiu a liderança de um grupo chamado Holy Club (Clube Santo), iniciado por seu irmão Charles. Aqui, eles buscavam reforçar a fé através do estudo das Escrituras e medindo a qualidade da santidade da vida de cada membro.



O Holy Club fazia mais que pensar e orar. Eles foram às prisões levar salvação aos prisioneiros. Embora eles fossem ridicularizados por seus companheiros de Oxford, de seu grupo de baixa posição saíram homens que se tornaram importantes para aquele tempo, particularmente os irmãos Wesley e George Whitefield. O seu regime exigia jejuns periódicos, encontros regulares para estudo e auto-exame. Somente muito tempo depois foi que John Wesley percebeu que eles seguiam mais a letra do que o espírito do cristianismo.

Em 1735 grandes mudanças atingiram John e Charles Wesley. O seu pai morreu e ambos foram com o governador Ogilthorpe para a colônia Georgia com a bênção e encorajamento de sua mãe. A Georgia foi uma prova para John, que logrou que realmente não gostava dos índios e que sua rigidez não era muito apreciada pelas pessoas da Georgia. Mas importante que isto, foi o contato de John com uma pequena banda de morávios na viagem para a colônia. Estes homens e mulheres destemidamente cantavam hinos durante terríveis tempestades no mar, enquanto ele se desesperava. Ele queria conhecer a fé que eles pareciam ter. Em 1737 ele retornou à Inglaterra.

Devemos dar a John Wesley o crédito, pois ele podia ser crítico o bastante consigo mesmo para parar naquele momento e saber que ele era um ministro experiente para examinar sua falta de fé. Peter Boehler, um morávio, deu-lhe a chave – pregar a fé até que ele a tivesse, e então ele pregava a fé. Então aconteceu que John Wesley habitou na fé até 24 de maio, uma quarta-feira, em 1738, no famoso encontro de Aldersgate, ele teve uma conversão, uma profunda e inconfundível experiência de fé. Seu “coração foi estranhamente aquecido”. Então seu verdadeiro trabalho começou.

Como tinha uma mente livre, John Wesley ainda conseguia retirar os melhores recursos das melhores mentes do seu tempo. William Law, por exemplo, foi seu professor, amigo e mentor por vários anos; mas Wesley achou que um ingrediente importante estava faltando no programa de Law para uma vida devota. Os seguidores de Platão conseguiram comunicar a Wesley uma estrutura intelectual que era mais espiritual do que material, mas os hábitos mentais de Wesley estavam moldados tanto pelo modelo de análise de Newton do que pelo platonismo. Os morávios eram o mais perto de uma síntese de todos os elementos que ele desejava e pôde encontrar. Ele até mesmo visitou Herrnhut para saber como sua comunidade trabalhava. Mas algo estava faltando lá, como em todo lugar, e em 1740, ele e seus seguidores romperam com os morávios, mas não antes que ele tivesse aprendido a pregar sermões ao ar livre, o que veio a ser uma parte essencial de seu programa mais tarde.

John Wesley tinha 37 anos de idade quando começou a viajar e pregar. Ele freqüentemente exagerava o número daqueles que vinham ouvi-lo. Muitas vezes, as mesmas pessoas que precisaram de sua ajuda eram as mesmas que mais o perseguiam. Ele pregava em púlpitos até que eles fossem fechados para ele, e ele então pregava nos campos abertos. Ele pregava três vezes por dia, começando às 5 da manhã, uma vez que os trabalhadores poderiam parar para ouvi-lo enquanto andavam para o seu trabalho monótono.

Algumas vezes ele andava 60 milhas (90 quilômetros) por dia a cavalo. As condições do tempo não importavam; ele fazia seu horário e o cumpria, não importavam as dificuldades. Ele fugia de uma multidão zangada pulando num lago gelado, nadava para fora dele e continuava a pregar novamente. Ele tinha a habilidade de trazer as pessoas hostis para o seu lado.

Ele foi para Gales do Sul em 1741, para o norte da Inglaterra em 1742, Irlanda em 1747, e Escócia em 1751. No total, ele foi à Irlanda quarenta e duas vezes e à Escócia vinte e duas vezes. Ele retornou às cidades vezes e mais vezes. Houve ocasiões em que ele retornava anos depois de sua última visita e registrava que a pequena sociedade que ele ajudara ainda estava intacta e fiel. Ele examinava cada membro de cada sociedade pessoalmente para buscar crescimento espiritual e de fé. As sociedades então formadas proviam a organização local para seu movimento.

O que Wesley pregava? Frugalidade, limpeza, honestidade, salvação, boas relações familiares, dúzias de outros temas, mas acima de tudo, a fé em Cristo. Ele não pedia aos seus ouvintes para deixarem suas igrejas, mas para continuarem indo nelas. Ele lhes deu o refrigério espiritual que eles não achavam fora do círculo. Quando suas décadas de provação produziram décadas de triunfo, as multidões aumentaram. Ricos e pobres vinham para ouvi-lo falar. Ele desenvolveu redes de assistentes leigos. Suas exortações para viver perfeitamente em amor hoje parecem duras, mas considere os efeitos em suas congregações. Os xingamentos nas fábricas pararam, os homens e as mulheres começaram a se preocupar com vestimentas limpas e simples, extravagâncias como chá caro e vícios como o gim foram deixados por seus seguidores, vizinhos deram um ao outro ajuda mútua através das sociedades.

Wesley ensinou tanto pelo exemplo como pelos seus sermões tão medidos. Suas despesas anuais já foram mencionadas. Ele publicou muitos volumes para serem usados em devocionais e direcionou o lucro para projetos, como um local de ajuda para os pobres. Sua vida pessoal estava além de reprovação. Ele traduziu hinos, interpretou as Escrituras, escreveu centenas de cartas, treinou centenas de homens e mulheres e manteve em seus diários um registro da energia dispensada, que dificilmente tem um rival na literatura ocidental. Sua maneira de falar na linguagem do homem comum teve um impacto imensurável no surgimento do inglês moderno, assim como os hinos de Charles Wesley tiveram um grande impacto na música com suas muitas canções sem mencionar a poesia da subseqüente era Romântica.

Mas o impacto dos Wesleys nas classes mais baixas foi além de afetar seus hábitos de vida e modo de falar. John Wesley proveu uma estrutura religiosa que era local e pessoal, bem como energeticamente moral. Sua teologia não tirava a liberdade e o direito de ninguém, pois qualquer um podia achar a graça de Deus para resistir ao diabo e ser salvo, se tão somente buscasse e recebesse. As sociedades que ele formou preservaram em seus estudos um foco de fé – uma fé que também levou a uma maneira de lidar com a realidade da vida das classes mais pobres. A religião não era só para os ricos, mas Wesley também não estava pregando uma revolta contra o anglicanismo – até muito tarde e então quase por um acidente histórico.

O anglicanismo de John Wesley era muito forte, embora os púlpitos anglicanos tornassem-se universalmente fechados a ele. Só quando tinha oitenta e um anos ele permitiu uma pequena divisão entre seus seguidores e a igreja nacional. Tendo mandado muitos homens à América, em 1784 ele ordenou mais pessoas para este esforço missionário e, porque “ordenação é separação”, efetivamente começou uma nova igreja. O conservadorismo dele era tanto político como religioso. Ele publicou uma carta aberta às colônias americanas, aconselhando-as a permanecerem leais à Grã-Bretanha, logo antes da Revolução Americana. Ele não tolerava nenhuma conversa sobre agitação civil na Inglaterra.

Tem se discutido que outras forças estavam trabalhando na Inglaterra além de Wesley e uns outros poucos pregadores. Por exemplo, a Revolução Industrial que estava vindo progrediu mais rápido na Inglaterra do que em qualquer outro lugar, dando aos homens novos tipos de trabalho; a justiça do Sistema de Paz e o sistema de governo com um Primeiro-Ministro eram únicos na sua forma e deram muito mais poder do que era possível em qualquer outro lugar à classe média local e os grandes problemas, que poderiam, de outra forma, causar revolução, simplesmente não estavam presentes depois de 1750. Ainda assim, sem Wesley e seus seguidores, como poderia o ateísmo, tal como existia entre os camponeses franceses, ser evitado e como poderia uma classe inferior oprimida e dominada pelos vícios ter esperança?

John Wesley morreu em 2 de março de 1791, cerca de três anos depois que seu irmão Charles morreu. Até seus anos finais, ele fez a mesma frase de abertura em seu diário a cada ano no seu aniversário, agradecendo a Deus por sua longa vida e sua contínua boa saúde, afirmando que sermões pregados de manhã cedo e muita atividade ao ar livre o mantiveram em forma para a obra de Deus. Desde o momento em que ele tornou-se livre de influências, exceto a de Deus, ele teve cinqüenta anos de serviço constante e fez um bem imensurável à Inglaterra através da perseverança, resistência e fé. Seu legado não se limitou ao seu século ou país, mas sobrevive até hoje na fé de milhões em uma variedade de igrejas.

A seguinte frase foi escrita em seu diário em 28 de junho de 1774:

Sendo hoje meu aniversário, o primeiro dia do septuagésimo segundo ano, eu estava pensando, Como pode ser isso, que eu ache a mesma força que tinha trinta anos atrás? Que a minha vista esteja consideravelmente melhor agora, e meus nervos mais firmes do que eram antes? Que eu não tenha nenhuma enfermidade da velhice, e não tenha mais aquelas que tive na juventude? A grande causa é, o bom prazer de Deus, que faz o que lhe agrada. Os meios principais são: meu constante levantar às quatro da madrugada, por cerca de cinqüenta anos; o fato de geralmente pregar às cinco da manhã, um dos exercícios mais saudáveis do mundo; o fato de que nunca viajo menos, por mar ou terra, do que 4500 milhas (6.750 km) por ano.


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15 agosto 2007

George Müller (1805-1898)


O gigante da fé, George Müller (1805-1898), nasceu na Alemanha, e converteu-se com idade de 20 anos numa missão morávia. Foi para a Inglaterra em 1829, onde trabalhou para o Senhor até o final de sua vida.
Em 1830, três semanas depois de seu casamento, Müller e sua esposa decidiram abrir mão de seu salário como pastor de uma pequena congregação, e depender exclusivamente de Deus para suas necessidades. Já desde o início, ele tomou a posição que manteria durante todo o seu ministério, de nunca revelar suas necessidades às pessoas, e de nunca pedir dinheiro de ninguém, somente de Deus. Ao mesmo tempo, decidiu que também nunca entraria em dívida por motivo algum, e que não faria reservas, nem guardaria dinheiro para o futuro.
Durante mais de sessenta anos de ministério, Müller iniciou 117 escolas que educaram mais de 120.000 jovens e órfãos; distribuiu 275.000 Bíblias completas em diferentes idiomas além de grande quantidade de porções menores; sustentou 189 missionários em outros países; e sua equipe de assistentes chegou a contar com 112 pessoas.


Seu maior trabalho foi dos orfanatos em Bristol, na Inglaterra. Começando com duas crianças, o trabalho foi crescendo com o passar dos anos, e chegou a incluir cinco prédios construídos por ele mesmo, com nada menos que 2000 órfãos sendo alimentados, vestidos, educados e treinados para o trabalho. Ao todo, pelo menos dez mil órfãos passaram pelos orfanatos durante sua vida. Só a manutenção destes órfãos custava 26 mil libras por ano. Nunca ficaram sem uma refeição, mas muitas vezes a resposta chegava na última hora. Às vezes sentavam para comer com pratos vazios, mas a resposta de Deus nunca falhava.
No decorrer da sua vida, Müller recebeu o equivalente a sete milhões e meio de dólares, como resposta de Deus. Além de nunca divulgar suas necessidades, ele tinha um critério muito rigoroso para receber ofertas. Por mais que estivesse precisando (pois em milhares de ocasiões não havia recursos para a próxima refeição), se o doador tivesse outras dívidas, se tivesse evidência de que havia alguma atitude errada, ou alguma condição imprópria, a oferta não era aceita.
E mesmo quando tinha certeza de que Deus estava dirigindo para ampliar o trabalho, começar uma outra casa, ou aceitar mais órfãos, ele nunca incorria em dívidas. Aquilo que Deus confirmava como sua vontade certamente receberia os recursos necessários, e por isto nunca emprestava nem contraía obrigações sem ter o necessário para pagar.


A seguir um trecho da sua autobiografia, onde ele define sua posição com relação a dívidas:


Minha esposa e eu nunca entramos em dívidas porque acreditávamos que era contrário às Escrituras (Rm 13.8). Por isto, nunca tivemos contas para o futuro com alfaiate, açougue, padaria ou mercado. Pagamos por tudo em dinheiro. Preferimos passar necessidade do que contrair dívidas. Desta forma, sempre sabemos quanto temos, e quanto podemos dar aos outros. Muitas provações vêm sobre os filhos de Deus por não agirem de acordo com Romanos 13.8.
Alguns podem perguntar: Por que você não compra o pão, ou os alimentos do mercado, para pagar depois? Que diferença faz se paga em dinheiro no ato, ou somente no fim do mês? Já que os orfanatos são obra do Senhor, você não pode confiar que ele supra o dinheiro para pagar as contas da padaria, do açougue, e do mercado? Afinal, todas estas coisas são necessárias para a continuidade da obra.
Minha resposta é a seguinte: Se esta obra é de Deus, certamente ele tanto quer como é capaz de suprir todo o necessário. Ele não vai necessariamente prover na hora que nós achamos que deve. Mas quando há necessidade, ele nunca falha. Podemos e devemos confiar no Senhor para suprir-nos com o que precisamos no momento, de forma que nunca tenhamos que entrar em dívida.
Eu poderia comprar um bom estoque de mantimentos no crediário, mas da próxima vez que estivéssemos em necessidade, eu usaria o crediário novamente, ao invés de buscar o Senhor. A fé, que somente se mantém e se fortalece através de exercitar, ficaria mais e mais fraca. No fim, provavelmente acabaria atolado em grandes dívidas, sem perspectiva de sair delas.
A fé se apóia na Palavra Escrita de Deus, mas não temos nenhuma promessa de que ele pagará nossas dívidas. A Palavra diz: "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma" (Rm 13.8), e: "Quem nele crer não será de modo algum envergonhado" (1 Pe 2.6). Não temos nenhuma base bíblica para entrar em dívidas.
Nosso alvo é mostrar ao mundo e à igreja que mesmo nestes dias maus do tempo do fim, Deus está pronto para ajudar, consolar, e responder às orações daqueles que confiam nele. Não precisamos recorrer a outras pessoas, nem seguir os caminhos do mundo. Deus tanto é poderoso, como desejoso, de suprir todas nossas necessidades no seu serviço.
Consideramos um precioso privilégio continuar a esperar no Senhor somente, ao invés de comprar mantimentos no crediário, ou de emprestar de bondosos amigos. Enquanto Deus nos der graça, olharemos somente para ele, mesmo que de uma refeição para a próxima tivermos que depender do seu suprimento. Já faz dez anos que trabalhamos com estes órfãos, e ele nunca permitiu que passassem fome. Ele continuará a cuidar deles no futuro também.
Estou profundamente consciente da minha própria incapacidade e dependência no Senhor. Pela graça de Deus, minha alma está em paz, embora dia após dia tenhamos que esperar a provisão milagrosa do Senhor para nosso pão diário.
Fonte: http://www.financasparaavida.com.br/artigo04.htm

Charles Haddon Spurgeon (1834-1892)


Um dos maiores pregadores de todos os tempos

Houve época em que o simples fato de optar pela religião evangélica equivalia a colocar a cabeça a prêmio. No século 15, Carlos V, o imperador espanhol, queimou milhares de evangélicos em praça pública. Seu filho, Filipe II, vangloriava-se de ter eliminado dos países baixos da Europa cerca de 18 mil "hereges protestantes". Para fugir da perseguição implacável, outros milhares de cristãos foram para a Inglaterra. Dentre eles, estava a família de Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o homem que se tornaria um dos maiores pregadores de todo o Reino Unido. Charles obteve tão bom resultado em seu ministério evangelístico que, além de influenciar gerações de pastores e missionários com seus sermões e livros, até hoje é chamado de Príncipe dos pregadores.


O maior dos pecadores

Spurgeon era filho e neto de pastores que haviam fugido da perseguição. No entanto, somente aos 15 anos, ocorreu seu verdadeiro encontro com Jesus. Segundo os livros que contam a história de sua vida, Spurgeon orou, durante seis meses, para que, "se houvesse um Deus", Este pudesse falar-lhe ao coração, uma vez que se sentia o maior dos pecadores. Spurgeon visitou diversas igrejas sem, contudo, tomar uma decisão por Cristo.

Certa noite, porém, uma tempestade de neve impediu que o pastor de uma igreja local pudesse assumir o púlpito. Um dos membros da congregação - um humilde sapateiro - tomou a palavra e pregou de maneira bem simples uma mensagem com base em Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Desprovido de qualquer experiência, o pregador repetiu o versículo várias vezes antes de direcionar o apelo final. Spurgeon não conteve as lágrimas, tamanho o impacto causado pela Palavra de Deus.



Início de uma nova caminhada

Após a conversão, Spurgeon começou a distribuir folhetos nas ruas e a ensinar a Bíblia na escola dominical para crianças em Newmarkete Cambridge. Embora fosse jovem, Spurgeon tinha rara habilidade no manejo da Palavra e demonstrava possuir algumas características fundamentais para um pregador do Evangelho. Suas pregações eram tão eletrizantes e intensas que, dois anos depois de seu primeiro sermão, Spurgeon, então aos 20 anos, foi convidado a assumir o púlpito da Igreja Batista de Park Street Chapel, em Londres, antes pastoreada pelo teólogo John Gill. O desafio, entretanto, era imenso. Afinal, que chance de sucesso teria um menino criado no campo (Anteriormente, Spurgeon pastoreava uma pequena igreja em Waterbeach, distante da capital inglesa), diante do púlpito de uma igreja enorme que agonizava?

Localizada em uma área metropolitana, Park Street Chapel havia sido uma das maiores igrejas da Inglaterra. No entanto, naquele momento, o edifício, com 1.200 lugares, contava com uma platéia de pouco mais de cem pessoas. A última metade do século 19 foi um período muito difícil para as igrejas inglesas. Londres fora industrializada rapidamente, e as pessoas trabalhavam durante muitas horas. Não havia tempo para as pessoas se dedicarem ao Senhor. No entanto, Spurgeon aceitou sem temor aquele desafio.

Tamanha audiência

O sermão inaugural de Spurgeon, naquela enorme igreja, ocorreu em 18 de dezembro de 1853. Havia ali um grupo de fiéis que nunca cessou de rogar a Deus por um glorioso avivamento. No início, eu pregava somente a um punhado de ouvintes. Contudo, não me esqueço da insistência das suas orações. As vezes, parecia que eles rogavam até verem a presença de Jesus ali para abençoá-los. Assim desceu a bênção, a casa começou a se encher de ouvintes e foram salvas dezenas de almas, lembrou Spurgeon alguns anos depois.

Nos anos que se seguiram, o templo, antes vazio, não suportava a audiência, que chegou a dez mil pessoas, somada a assistência de todos os cultos da semana. O número de pessoas era tão grande que as ruas próximas à igreja se tomaram intransitáveis. Logo, as instalações do templo ficaram inadequadas, e, por isso, foi construído o grande Tabernáculo Metropolitano, com capacidade para 12 mil ouvintes. Mesmo assim, de três em três meses, Spurgeon pedia às pessoas, que tivessem assistido aos cultos naquele período, que se ausentassem a fim de que outros pudessem estar no templo para conhecer a Palavra.

Muitas congregações, um seminário e um orfanato foram estabelecidos. Com o passar do tempo, Charles Spurgeon se tornou uma celebridade mundial. Recebia convites para pregar em outras cidades da Inglaterra, bem como em outros países como França, Escócia, Irlanda, País de Gales e Holanda. Spurgeon levava as Boas Novas não só para as reuniões ao ar livre, mas também aos maiores edifícios de 8 a 12 vezes por semana.

Segundo uma de suas biografias, o maior auditório em que pregou continha, exatamente, 23.654 pessoas: este imenso público lotou o Crystal Palace, de Londres, no dia 7 de outubro de 1857, para ouvi-lo pregar por mais de duas horas.

Sucesso

Mais de cem anos depois de sua morte, muitos teólogos ainda tentam descobrir como Spurgeon obtinha tamanho sucesso. Uns o atribuem às suas ilustrações notáveis, a habilidade que possuía para surpreender a platéia e à forma com que encarava o sofrimento das pessoas. Entretanto, para o famoso teólogo americano Ernest W. Toucinho, autor de uma biografia sobre Spurgeon, os fatores que atraíam as multidões eram estritamente espirituais: O poder do Espírito Santo, a pregação da doutrina sã, uma experiência de religioso de primeira-mão, paixão pelas almas, devoção para a Bíblia e oração a Cristo, muita oração. Além disso, vale lembrar que todas as biografias, mesmo as mais conservadoras, narram as curas milagrosas feitas por Jesus nos cultos dirigidos pelo pregador inglês.

As pessoas que ouviam Spurgeon, naquela época, faziam considerações sobre ele que deixariam qualquer evangélico orgulhoso. O jornal The Times publicou, certa ocasião, a respeito do pastor inglês: Ele pôs velha verdade em vestido novo. Já o Daily Telegraph declarou que os segredos de Spurgeon eram o zelo, a seriedade e a coragem. Para o Daily Chronicle, Charles Spurgeon era indiferente à popularidade; um gênio, por comandar com maestria, uma audiência. O Pictorial World registrou o amor de Spurgeon pelas pessoas.

Importância

O amor de Spurgeon tinha raízes. Casou-se em 20 de setembro de 1856 com Susannah Thompson e teve dois filhos, os gêmeos não-idênticos Thomas e Charles. Fazíamos cultos domésticos sempre; quer hospedados em um rancho nas serras, quer em um suntuoso quarto de hotel na cidade. E a bendita presença do Espírito Santo, que muitos crentes dizem ser impossível alcançar, era para nós a atmosfera natural. Vivíamos e respirávamos nEle, relatou, certa vez, Susannah.

A importância de Charles Haddon Spurgeon como pregador só encontra parâmetros em seus trabalhos impressos. Spurgeon escreveu 135 livros durante 27 anos (1865-1892) e editou uma revista mensal denominada A Espada e a Espátula. Seus vários comentários bíblicos ainda são muito lidos, dentre eles: O Tesouro de Davi (sobre o livro de Salmos), Manhã e Noite (devocional) e Mateus - O Evangelho do Reino. Até o último dia de pastorado, Spurgeon batizou 14.692 pessoas. Na ocasião em que ele morreu - 11 de fevereiro de 1892 -, seis mil pessoas leram diante de seu caixão o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra.

Texto: Marcelo Dutra
Fonte: Revista Graça, ano 2 nº 19 – Fevereiro/2001

Arthur Walkington Pink (1886-1952)

Arthur Walkington Pink (1886-1952)

Arthur Walkington Pink (1886-1952) nasceu na Grã-Bretanha e imigrou para os Estados Unidos para estudar no Instituto Bíblico Moody. Pastoreou igrejas no Colorado, na Califórnia, no Kentucky, e na Carolina do Sul, antes de se tornar um professor itinerante da Bíblia em 1919. Ele retornou à sua terra natal em 1934, estabelecendo residência na Ilha de Lewis, na Escócia, em 1940, permanecendo lá até sua morte em 1952.

Muitos de seus trabalhos originalmente apareceram como artigos em "Estudos nas Escrituras" (Studies in Scriptures), uma revista mensal que lidava estritamente com a exposição bíblica. A revista nunca teve mais que 1.000 assinantes, mas Pink descobriu que a maioria deles eram ministros, com seus próprios rebanhos, e que passavam o que haviam aprendido da exposição de Pink em seu pastorado, dando-lhe um grande efeito de cascata. Ele apreciou este pensamento. Superficialmente o ministério de Pink e seus escritos não pareceram ser de muito efeito, pois, Pink foi virtualmente desconhecido e certamente desconsiderado em seus dias, contudo agora que já faleceu, é muito mais amplamente conhecido e lido que quando estava entre nós.

O estudo independente da Bíblia o convenceu que muito do moderno evangelismo era defeituoso e incorreto. Quando os livros puritanos e reformados foram geralmente escarnecidos como um todo pela Igreja, ele desenvolveu a maioria de seus princípios com um zelo incansável. O progressivo declínio espiritual de sua própria nação (a Grã-Bretanha) foi, para ele, uma conseqüência inevitável do predomínio de um "evangelho" que não podia nem ferir (com a convicção do pecado) nem curar (através da regeneração).

Profundo conhecedor de toda a extensão da revelação, o Pr. Pink raramente se desviou dos grandes temas das Escrituras: a graça, a justificação, e a santificação. Nossa geração tem para com ele um grande débito pela duradoura luz que irradiou, pela graça de Deus, sobre a Verdade da Bíblia Sagrada.

http://www.luz.eti.br/pink.html