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16 julho 2016

Evangelho Autêntico - Quem é o meu próximo?


Evangelho Autêntico
Quem é o meu próximo?
 
Boa noite, irmãos e irmãs! Este é o nosso penúltimo encontro nesta série de pregações sobre o autêntico evangelho de Jesus. Até agora vimos que o evangelho está guardado sob algumas falas importantes de Jesus. Ele disse:

Eu vim para que tenham vida.

Eu vos aliviarei.

Sem mim nada podeis fazer.

Amai-vos com eu vos amei.

Hoje vamos nos deter no diálogo de Jesus com um intérprete da lei, um homem que gastava muito do seu tempo lendo, estudando e meditando nas Escrituras. Desse diálogo espero que possamos extrair mais um aspecto das boas novas anunciadas por Jesus.

Na conversa que teve com aquele estudioso, Jesus contou a história de um homem que viajava de Jerusalém para Jericó. Era uma viagem perigosa, descendo a serra, com caminhos estreitos e tortuosos.

Desde que Jesus a contou, essa história tem sido recontada, cantada, pintada e dramatizada repetidas vezes pelas gerações seguintes de seus seguidores. Grandes mestres da pintura já retrataram algumas de suas cenas, tentando capturar a força das palavras ditas pelo nosso Senhor.

Eu trouxe uma animação para nos lembrar qual é a história. Vamos ver.



Vejamos agora toda a história, conforme foi registrada no evangelho de Lucas:

25Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: "Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?"

26"O que está escrito na Lei?", respondeu Jesus. "Como você a lê?"

27Ele respondeu: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’".

28Disse Jesus: "Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá".

29Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: "E quem é o meu próximo?"

30Em resposta, disse Jesus: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
31Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado.32E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.

33Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.34Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.

35No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’.

36"Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? "

37 "Aquele que teve misericórdia dele", respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: "Vá e faça o mesmo". Lc 10. 25-37

Tudo começa com a tentativa de fazer uma pegadinha teológica com Jesus. De tanto estudar as Escrituras, aquele homem tornou-se um perito da lei. Nada havia escapado ao seu exame dedicado e meticuloso. Ele então, resolveu testar os conhecimentos de Jesus. Será que aquele jovem galileu tinha feito a lição de casa e estudado direitinho todos os ensinamentos das Escrituras Sagradas?

A pergunta feita foi sobre um tema muito polêmico nos dias de Jesus: a vida eterna. O que era preciso fazer para herdá-la? O estudioso da lei estava pronto para um grande debate teológico! Finalmente ele encontrara alguém à altura dos seus conhecimentos sobre as Escrituras. Quando terminou de perguntar, todos os olhos se voltaram para Jesus. Como seria a resposta dele?

Conheci um homem que era um estudioso muito detalhista da Bíblia. Ele era muito correto no seu procedimento e tinha um caderninho em que anotava suas dúvidas sobre os textos bíblicos. Sempre que alguém tentava conversar sobre a fé em Jesus e vida de relacionamento com o Senhor ele desconversava e acabava falando sobre o caderninho. Ele achava que para andar com Jesus era preciso resolver todas as dúvidas sobre as Escrituras. Em uma de nossas conversas eu lhe disse: “Quem já tem certeza não precisa de fé. A fé é a marca daqueles que não têm certeza, mas confiam.”.

Voltando a nossa história, Jesus não entrou no debate. A resposta dele foi uma pergunta: o que está escrito? Como você entende o texto sagrado? Não é interessante isso? Jesus poderia fazer uma bela e profunda exposição dos textos sagrados, mas não o fez. Ele poderia sair dali aplaudido como um profundo conhecedor da lei, mas não o fez. Ele preferiu dialogar. Por quê.

Penso que Jesus fez isso porque não era o debate das ideias ou a vitória do argumento que lhe interessava naquele momento. Diante dele havia uma pessoa que precisava descobrir mais sobre como viver o amor de Deus. Jesus estava mais interessado em facilitar essa descoberta.

A melhor maneira de facilitar a descoberta do amor de Deus é dialogar: ouvir, refletir, falar, refletir, ouvir, refletir... Vejo muito crente sedento por debates e discussões nas redes sociais. Muitas argumentações, grosseria, xingamento, desrespeito e pouquíssimo diálogo. É preciso repensar a forma como nos relacionamos nesses ambientes virtuais! Ninguém é obrigado a pensar ou crer exatamente como nós. Jesus sempre optou pelo diálogo para alcançar o coração das pessoas.

 O perito da lei sabia a resposta; perguntou o que sabia apenas para ficar mais à vontade no debate. Ele foi direto ao ponto: amar a Deus e amar ao próximo. Jesus, então disse: isso mesmo! Você está certo faça isso e viverá.

Até agora, o perito estava apenas estudando a lei, pensando sobre o que é certo e o que é errado, refletindo sobre qual o melhor caminho. Jesus, então, como um mestre cuidadoso, segurou na mão daquele homem e o convidou a dar um passo a mais: faça isso e viverá!


É assim o autêntico evangelho de Jesus! Ele vai além da simples reflexão, ultrapassa os estudos dedicados. O evangelho é mais que o um conjunto de regras e não se contenta apenas em saber o que é certo. O evangelho autêntico de Jesus nos chama experimentar a verdade em nossas próprias vidas.

Muitos de nós, que frequentamos as igrejas, nos acostumamos a apenas saber o que é certo. Quando é que você vai segurar na mão de Jesus e fazer o que já sabe que é certo? Ouvimos sobre perdão, mas não perdoamos. Entendemos a graça de Deus, mas continuamos tentando nos salvar a nós mesmo. Ouvimos sobre misericórdia, mas somos cruéis. Aprendemos sobre paz, mas vivemos em guerra com as pessoas. Choramos diante do sacrifício de Jesus não cruz, mas somos incapazes de pagar o preço necessário para manter a família unida, sustentar uma amizade antiga, ser fiel à esposa, ou sustentar o testemunho de Cristo no trabalho. Até quando irmãos, vamos viver assim?

Nossa história continua de forma bem interessante. Era de se esperar que o perito da lei se desse por satisfeito. Afinal de contas ele perguntou e Jesus confirmou que o entendimento que ele tinha da lei estava correto: a vida eterna é a herança daqueles que amam a Deus com todo seu coração, alma, forças e entendimento e amam ao próximo como a si mesmos.

No entanto, o estudioso das Escrituras não se contentou. Por quê? Primeiro, porque o debate que não aconteceu como ele imaginava: Jesus o transformou em um diálogo; segundo, porque se tudo terminasse ali ele sairia com um grande desafio prático: faze isso e viverá.

Nos jogos de computador ou no celular, todo mundo quer passar de fase. Tem gente que vira a noite até passar para fase seguinte do seu jogo preferido. Ali, de frente com o desafio de avançar e colocar sua fé em prática, aquele homem, crente nas Escrituras, não queria passar de fase. Então, ele fez uma pergunta, como quem derruba propositalmente uma árvore no meio da estrada em que está caminhando, e parou novamente: quem é o meu próximo?

Ainda hoje, meus irmãos, muitos de nós que somos da fé, fazemos a mesma coisa. Quando o evangelho nos alcança e nos convoca para viver a vida, colocamos obstáculos no meio da estrada. Quais são as suas árvores? O que impede você de abraçar o autêntico evangelho de Jesus? Quais são as coisas que primeiro você vai resolver para só então passar de fase? Por quanto tempo mais você vai permanecer apenas ouvinte do evangelho de Jesus? Não é a hora de fazer o que você já sabe ser certo?

Nossa história é um alento, um consolo para nossa caminhada com Cristo. Ela mostra como Jesus é realmente um mestre paciente e perseverante. Veja só:

Para ajudar o perito da lei a passar de fase, ele contou a história de um viajante que saiu de Jerusalém para Jericó. Todo mundo sabia que esse era um caminho perigoso. Uma descida de serra, cheia de curvas e voltas onde os assaltantes poderiam se esconder e com facilidade tomar de assalto quem por ali fosse passando. E foi exatamente isso o que aconteceu com o viajante da história. O homem foi roubado, espancado e deixado quase morto na beira da estrada.

Jesus continuou dizendo que outros dois homens passaram pela mesma estrada logo em seguida: um sacerdote e um levita. Os dois eram pessoas de fé e muito religiosas. Eles participavam diretamente do culto a Deus, por isso ambos eram tidos como pessoas que caminhavam perto de Deus.

Todos que ouviam a história esperavam que tanto o sacerdote quanto o levita socorressem aquele homem. Era o mínimo que se esperava deles: que o fato de eles serem pessoas tão próximas de Deus produzisse neles compaixão por aquele homem caído. Mas não foi isso que aconteceu. Os dois mudaram de calçada.

Nesse ponto da história, todos estavam em suspense. E agora? Se o sacerdote e o levita, pessoas de Deus, não pararam para ajudar, certamente este homem vai morrer ali na beira da estrada.

Jesus, no entanto, continuou a história. Um terceiro homem caminhava pela mesma estrada naquele dia: um estrangeiro da região de Samaria. Quando Jesus falou isso, todo mundo que estava ouvindo a história torceu o nariz (coçou a cabeça, mudou o lado que estava sentado...), porque havia uma disputa antiga entre os judeus e os samaritanos. Uma briga de família mal resolvida.

Claro que o samaritano ia passar direto! Se o pastor e o ministro de louvor passaram reto... aquele rapaz da renovação carismática católica não ia parar. Aliás, alguns deles estavam já torcendo para o samaritano passar direto. Nem se lembravam mais do sofrimento daquele homem, jogado na beira da estrada para morrer.

O samaritano também viu o homem ferido e gemendo. A história então, toma uma direção surpreendente. Ele olhou para o homem caído e encheu-se de compaixão diante do estado em que ele se encontrava. Interrompeu sua viagem, desceu de sua montaria, tratou e enfaixou as feridas do viajante, o pôs sobre seu próprio animal e o levou para uma pousada. Lá, ele passou a noite cuidando daquele desconhecido, para no dia seguinte prosseguir em sua viagem. Mais que isso, o homem de Samaria, ao sair, pediu que o dono da pousada continuasse cuidado do viajante desconhecido e se responsabilizou por todas as despesas.

A essa altura todos que ouviam a história, inclusive o perito da lei, estavam de boca aberta. O homem de Samaria, que não adorava Deus do jeito certo, que não sabia tudo o que era necessário a respeito de Deus, cuja família desde muitas gerações não acreditava em coisas errada a respeito de Deus, foram o único a fazer aquilo que todos sabiam ser a coisa certa a ser feita.

Precisamos reconhecer, meus irmãos, que o mero conhecimento das Escrituras não significa muita coisa se não houver também transformações em nossa maneira de viver. A mera participação em cultos e programações, que falam sobre o evangelho de Jesus, não tem muito valor se nossas atitudes para com as pessoas próximas de nós forem de amor e misericórdia. O autêntico evangelho de Jesus não pode ser plenamente vivido sem que você perceba as dores e o sofrimento daqueles que Deus colocar em seu caminho.

Vamos lembrar que a pergunta do perito da lei, aquele tronco que ele jogou meio da estrada para não avançar, era “Quem é o meu próximo”, isto é, quem eu devo amar. A pergunta do perito é sutil, porque pressupõe que nem todas as pessoas devem ser amadas, porque nem todas estão próximas. Então como eu saberei quem é o próximo que eu devo amar?

O perito da lei e todos que ouviam a história de Jesus estão prontos para sua conclusão. Ele a queriam ouvia da boca do jovem pregador. Quem é afinal o próximo a quem devo amar.

Então Jesus outra vez faz uma pergunta: “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? ”. Vejam como Jesus muda a direção da conversa: o perito queria saber quem era o seu próximo, Jesus pergunta que se fez próximo do viajante na estrada; o mestre da lei queria saber quem ele deveria amar, Jesus pergunta quem amou; para o estudante das escrituras o importante era quem está próximo de mim o suficiente para que eu ame, para Jesus o que importava de quem você vai se aproximar para amar.

Qual deste três se aproximou do viajante assaltado, perguntou Jesus. Qual deles se fez próximo daquele homem e o amou não só da boca pra fora? O perito na lei não fugiu da pergunta: “aquele que teve misericórdia dele”.

Temos aqui uma vocação, um chamado do autêntico evangelho para todos os seguidores de Jesus: fazer-se próximo das pessoas para amá-las de fato e em verdade. Os seguidores de Jesus fazem como ele: não esperam que as pessoas se aproximem para amá-las, aproximam-se das pessoas para que possam amá-las.

Fazendo assim estamos imitando nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, que deixou a eternidade e se fez humano. Sentiu nossas dores, viveu nossas angústias e experimentou os nossos medos, para que seu amor por nós fosse completo. Ele se fez próximo de nós e nos chama para que nos façamos próximos daqueles que cruzam nosso caminho.

Começamos com a pergunta do perito da lei, “Quem é o meu próximo” e chegamos à pergunta de Jesus “De quem você vai se fazer próximo? ” A primeira pergunta é um tronco no meio da estrada, a segunda é caminho livre para passar de fase e experimentar o autêntico evangelho de Jesus. Que ele nos ajude na caminhada.


29 junho 2015

Lugar de oração, comunhão, paz e amor


Mensagem pregada em 28/06/15 no aniversário de fundação
 da Igreja Evangélica Batista no Castelo Branco - João Pessoa/PB

Texto Básico – Hebreus 10

Agradecimentos

Hoje é dia de festa e celebração por mais um ano de existência da igreja batista, aqui no Castelo Branco. Eu estou convicto de que o testemunho do amor de Deus, revelado em Jesus, tem sido apresentado com graça e compaixão através dos irmãos aqui presentes e de muitos outros que por aqui passaram durantes esses 17 anos.

Para mim é um privilégio e uma alegria poder compartilhar as Escrituras em uma data tão especial. Por isso, deixo aqui meu agradecimento pelo convite feito através do querido Anchieta, diácono nesta igreja e companheiro nos estudos teológico ali no ITEBES.

Minha gratidão também ao Pr. Juarez por compartilhar de forma generosa o púlpito desta amada igreja.

Peço os irmãos que agora orem comigo pedindo ao Senhor que continue falando conosco e nos dê compreensão do texto bíblico em que vamos refletir. Peça junto comigo que Ele também nos dê força e coragem para aplicar Sua Palavra em nossas vidas.

A Carta aos Hebreus

Não sabemos com certeza quem foi o autor da Carta aos Hebreus. Alguns pensam ter sido o apóstolo Paulo, outros acham que a carta poderia ter sido escrita por Apolo. Provavelmente o texto foi escrito na década de 60 do primeiro século da era cristã, portanto menos de 40 anos depois da morte e ressurreição de Jesus.

Pelo teor da carta é fácil concluir que ela foi endereçada a judeus que haviam se convertido a Cristo. O texto fala muito de rituais e práticas que eram comuns na antiga aliança e tenta ajudar seus leitores a compreender como é viver a vida com Deus nessa nova aliança que Jesus inaugurou.

Os judeus cristãos vinham de uma origem muito religiosa, isto é, antes de seguirem a Jesus eles seguiam uma porção de regras de comportamento e rituais de culto. De certa forma, eles eram como muitos de nós que chegamos a Cristo vindos do catolicismo tradicional, das crenças e crendices populares ou do esoterismo supersticioso e seus rituais.

O escritor dessa carta procurou deixar bem claro que todo esforço religioso para reconectar o ser humano a Deus é insuficiente. Ele aponta para Jesus e sua morte na cruz como o caminho eficaz e suficiente para que a ação de Deus seja completa em nossas vidas.

Ele explica que tentar trazer regras e ritos religiosos, crendices ou superstições e misturar isso com a nova aliança firmada em Cristo Jesus só faz confundir as pessoas e retardar o processo de santificação em nossas vidas. Tanto isso é verdade, que no capítulo 5 o autor deixa claro que, pelo tempo de fé, muitos dos irmãos para quem a carta foi escrita já deveriam ser mestres da Palavra, mas continuavam como crianças, que não podem comer comida sólida, mas apenas leite e papinha.

Sacrifícios e Sacerdotes

A religião judaica, de onde aqueles irmãos hebreus vieram, era uma religião de sacrifícios e sacerdotes. Eles tinham uma lei a ser cumprida e esforçavam-se para fazer tudo quanto estava escrito nela. Quando eles fracassavam, e se tornavam culpados por quebrar a Lei, ofereciam sacrifícios e faziam ofertas demonstrando seu arrependimento e pedindo perdão a Deus.

Isso pode parecer um bom caminho para alguns, mas o escritor de Hebreus, meus irmãos, nos ajuda a entender que esse modo de viver a fé não era (e não é) eficaz, mas apenas um vislumbre, uma imagem retorcida, uma sombra daquilo que a Nova Aliança em Cristo finalmente nos trouxe.

 1 A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos. Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar. 2 Se pudesse fazê-lo, não deixariam de ser oferecidos? Pois os adoradores, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais se sentiriam culpados de seus pecados. 3 Contudo, esses sacrifícios são [apenas] uma recordação anual dos pecados, 4 pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados. (Hebreus 10.1-4 – NVI)

Hoje em dia há muitas pessoas que tentam reviver esse esquema de sacrifícios e sacerdotes. Há lugares onde as pessoas são chamadas a fazerem sacrifícios (o que normalmente envolve dinheiro ou bens) para que Deus possa ouvi-las e atende-las. Esses guias agem como os antigos sacerdotes, como se fossem mediadores entre as pessoas e Deus.

Antigamente apenas os sacerdotes autorizados é que sabiam como era o culto que Deus aceitava. Eram eles que conheciam as regras para os sacrifícios e que apresentavam as ofertas diante de Deus. Mas esse sistema era apenas um prenúncio do que estava adiante. Em Cristo todo esse modelo caducou, porque não era eficaz para remover os pecados.

11 Dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religiosos; repetidamente oferece os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover os pecados. (Hebreus 10.11 – NVI)

Meus irmãos, a partir de Cristo não existe mais a figura do líder religioso cumprindo funções sacerdotais; não precisamos mais de sacerdotes, porque Cristo, o perfeito sacerdote, intercede por nós hoje.

Tampouco há a necessidade de que sacrifícios (correntes, novenas, dízimos, jejuns, vigílias, etc.)  sejam oferecidos a Deus para que Ele seja bondoso conosco e ouça nossas orações; Jesus já se ofereceu, uma única vez, como oferta perfeita em nosso lugar. Vejamos o que diz o escritor da carta aos hebreus:

12 Mas Cristo entregou-Se a Si mesmo a Deus pelos nossos pecados, como um único sacrifício duma vez para sempre, e depois Se assentou no lugar de maior honra à direita de Deus, 13 esperando que os seus inimigos sejam postos debaixo dos seus pés. 14 Pois por meio daquela oferta única Ele tornou perfeitos para sempre aos olhos de Deus todos quantos Ele está santificando. (Hebreus 10.12-14 - BV)

O que isso tudo tem a ver como nosso tema?

É simples. Estamos pensando hoje na igreja como Casa de Deus, um lugar de oração, comunhão, paz e amor. Mas, enquanto fazemos isso nosso passado religioso e a influência de muitos pregadores midiáticos, pode nos levar à ideia de que ser igreja, e experimentar a bênção da oração, da comunhão, da paz e do amor, tem a ver com sacerdotes e sacrifícios.

De forma equivocada, podemos imaginar que aquilo que desejamos viver como igreja é o resultado do esquema de sacerdotes e sacrifícios. Mas não é verdade!

Oração, comunhão, paz e amor acontecem quando cada um de nós se deixa guiar pelo Espírito Santo e se permite moldar pela Mente de Cristo. É a renovação da mente pelo Espírito de Deus, mediante a Palavra, que produz transformações em nossas vidas.

Portanto, meus irmãos, se queremos experimentar, como igreja, a plenitude daquilo que Deus tem preparado para nós, precisamos deixar de ser meninos na fé e assumir a responsabilidade de nossos relacionamentos com Deus. Devemos deixar de lado a postura de dependência, tanto dos que se fazem sacerdotes quanto daqueles que nós fazemos sacerdotes, e caminhar em direção Deus por meio de Cristo Jesus. Vejamos o que nos diz o escritor da carta aos hebreus:

19 E assim, queridos irmãos, por causa do sangue de Jesus, nós agora podemos ir diretamente até dentro do Santo dos Santos, onde Deus está. 20 Este é o caminho novo, recém-aberto e vivificante que Cristo nos franqueou ao rasgar a cortina - O seu corpo humano - para dar-nos acesso à presença santa de Deus. 21 E, visto que este nosso grande Supremo Sacerdote governa sobre a casa de Deus, 22 entremos e vamos diretamente ao próprio Deus, com o coração sincero e confiando plenamente que Ele nos receberá, porque o sangue de Cristo já foi salpicado em nós para nos purificar, e porque já fomos lavados com a água pura ( do batismo pelo Espírito Santo ). (Hebreus 10.19-22 - BV)

Templos e altares

Outra parte fundamental da religião dos hebreus era o templo. Desde o primeiro, construído por Salomão, os templos sempre ocuparam um lugar central no culto hebraico. Era em torno do templo que girava toda a vida religiosa judaica: adoração, oração, sacrifícios... tudo acontecia no templo. A parte mais importante do templo era o altar, onde os sacrifícios eram oferecidos pelos sacerdotes.

Nisso também os hebreus, para quem a carta foi escrita, eram parecidos com muitos de nós. Assim como eles, vários de nós chegamos a Cristo vindo de religiões e cultos que valorizam o templo e o altar, sobretudo o catolicismo romano: o templo é considerado como a Casa de Deus, o lugar onde Ele fica; e o altar é tratado como o lugar onde nos encontramos com Ele. Mas esses são conceitos da velha aliança. A partir de Cristo tudo isso mudou.

Jesus tentou explicar isso para a mulher samaritana em uma conversa que eles tiveram, ao meio dia, na beira de um poço na cidade de Sicar. Ela perguntou (Jo. 4.20) pra Jesus onde era o lugar certo para adorar. Os judeus achavam que o lugar certo era no templo em Jerusalém, mas os samaritanos tinham feito um outro lugar de adoração no monte Gerizim. Veja o Jesus disse para ela:

22...”Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. (...). 23 ..., está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura.24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". (João 4.22-24 - NVI)

Jesus não deixou dúvida: o que realmente importa não é o lugar em que adoramos a Deus, mas a qualidade da nossa adoração. O lugar é uma questão secundária. Isso quer dizer que para os que seguem a Jesus, os lugares de reunião NÃO têm uma santidade própria deles. Embora muitos chamem de templo, os prédios em que nos reunimos não são templos; os púlpitos de onde nossos pregadores falam não são altares. Tudo isso é parte da velha aliança.

E o que tudo isso tem a ver com nosso tema? 

É simples: Nós estamos vivendo tempos em quem muitos valorizam mais os prédios onde se adora do que a qualidade da adoração que se faz nesses prédios. Assim, quando usamos a expressão “Casa de Deus” somos tentados a olhar nossos locais de reunião como se fossem pequenos templos, lugares exclusivos da adoração e da manifestação de Deus.

É claro que Deus se faz presente quando o seu povo se reúne, mas não é por que estamos em um templo; é claro que Ele recebe nossa adoração quando estamos aqui, erguemos nossas vozes e declaramos quem Ele é, mas não é por que esse espaço seja um altar. Essas coisas acontecem por que Jesus garantiu “...onde dois ou três se reunirem em meu nome, ali eu estou no meio deles.” (Mt. 18.20 – NVI)

É a presença de Cristo no meio do Povo de Deus, gente cheia do Espírito Santo, que santifica o lugar e o transforma em lugar de adoração e manifestação da presença de Deus. Não é o prédio que santifica o povo ou o culto, é o povo cultuando que santifica qualquer lugar em que estivermos.

Então, quando pensamos na casa de Deus como lugar de oração, comunhão, paz e amor, devemos saber que onde quer que estejamos reunidos como igreja, ali se torna Casa de Deus.

Assim, a comunhão dos filhos de Deus não pode ficar restrita a este espaço: podemos exercitá-la em nossos lares, por exemplo, sendo hospitaleiros; A oração não deve acontecer só aqui: precisamos orar juntos onde houver oportunidade - no café do shopping, por exemplo; Nossa opção pela paz precisa fazer parte também das nossas casas, dos nossos trabalhos, nos bairros e nos condomínios em que moramos. O amor pelas pessoas não pode ser apenas uma palavra dita nos cultos, ele precisa fazer parte do nosso modo de viver a vida (inclusive virtual).

Reunindo-se como Igreja

Quando nós nos reunimos como igreja, aqui ou em qualquer outro lugar, estamos cuidando uns dos outros, treinando uns aos outros, aperfeiçoando uns aos outros, tudo isso para vivermos a vida com Cristo lá fora, onde a coisa é pra valer. Veja, meu irmão, a importância de estarmos juntos!

Em nossos dias muitas pessoas estão entristecidas com a igreja. Pessoas que sofreram decepções, que foram traídas, exploradas, manipuladas e oprimidas por líderes, e até por outros irmãos em Cristo, jogaram a toalha e se distanciaram das reuniões da igreja.

Além disso há muitos que levam consigo denúncias sérias e procedentes sobre o modo como a igreja tem se comportado... olhando apenas para si mesma, sem amor, sem compaixão, inchada de orgulho e autossuficiente. Muitos desses deixaram de se reunir como igreja porque não sabem como lidar com tudo isso.

Alguns dos hebreus para quem a carta foi escrita também estavam prestes a desistir da igreja. Eles foram rejeitados e perseguidos. Os judeus olhavam para eles como traidores, os gentios com desconfiança e os romanos com indignação. Os relacionamentos entre os irmãos eram tão complicados que alguns estavam pensando seriamente em retroceder. Você já se sentiu assim? Com vontade de desistir? Não há razão para se sentir culpado por isso. Essas lutas fazem parte da caminhada. Erga a cabeça, meu irmão, e prossiga em direção ao alvo.

Ouça as palavras de encorajamento do escritor de Hebreus:

21 Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. 22 Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. 23 Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. 24 E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. 25 Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.

Não há nada que substitua a igreja! Esse é o projeto de Deus para completar em nós a boa obra de salvação que Ele começou. É reunidos como igreja que somos cuidados, treinados e aperfeiçoados! Pode ser difícil, pode ser complicado e até aborrecido às vezes; mas é assim, através dos irmãos e irmãs que Deus opera em nossas vidas. Ele expõe com amor nossas fraquezas para que sejamos transformados pela ação do seu Espírito em nós.

A gente costuma dizer que vai à igreja, mas na verdade nós somos a igreja. E é isso mesmo! Nós somos a Casa de Deus! O Espírito de Deus fez morada em cada um de nós. E se somos nós a Casa de Deus, nossas vidas é que são lugares de oração, comunhão, paz e amor.

Juntos somos a igreja!
Juntos nos encorajamos mutuamente à prática do amor!
Juntos deixamos de ser meninos e meninas na fé e caminhamos em direção ao aperfeiçoamento de nosso caráter em Cristo.


Que ele nos abençoe e faça germinar a semente desta palavra em nossas vidas.

15 julho 2012

Sacerdotalismo Evangélico


Começo refletindo sobre o contraponto da proposição: clero e povo. O fortalecimento de uma casta sacerdotal é o que há de mais contrário a evangelho libertador de Cristo. Ressalto a questão pelo fato de entender que a simples necessidade de considerar o assunto dessa forma revela quão distante estávamos na época colonial e estamos hoje de experimentar as boas novas do Reino.

O cristianismo colonial luso-brasileiro, a despeito do entendimento de alguns, não inventou nada. Tão somente é herdeiro de uma mentalidade sacerdotal que dominou a religiosidade humana desde épocas imemoriais, serviu de arcabouço e esboço de fé na aliança de Deus com o judeus e foi reformada em Jesus a partir de seu entendimento de que não importa se a adoração é no monte ou no templo em Jerusalém (sob orientação sacerdotal); mas sim que seja em espírito e em verdade.

Nessa abordagem destaco os papéis ativo e passivo destinados respectivamente ao clero e ao povo. O sacerdotalismo bem pode ser visto como uma estratégia de manutenção de poder. É o sacerdote que sabe como a adoração deve ser feita, porque é ele quem sabe como Deus é e como gosta que as coisas aconteçam, portanto ele que está no controle; é o sacerdote que conhece os rituais, os sons, as cores, as palavras que devem e podem ser ditas, o que é bom e o que é ruim, portanto é ele quem deve conduzir o culto; é o sacerdote quem fala do jeito que Deus entende e por isso é ele quem fala com Deus. Ao povo compete a passividade de cumprir as orientações sacerdotais e tentar fazer tudo certinho, torcendo para que Deus não fique irritado caso alguma coisa saia diferente do esperado.

Não devemos nos enganar: o sacerdotalismo não é prerrogativa do catolicismo hierárquico e institucionalizado. Esteve presente nos povos antigos, entre os judeus e tem forte presença na igreja brasileira dita evangélica (reformada, pentecostal ou neo-pentecostal). Quem fala? Quem ensina? Quem ora? Quem se veste diferente? Quem tem destaque sobre os demais? Quem deve ser respeitado mais que os outros? Quem tem as palavras mais sábias? Quem deve ser seguido? O sacerdote!

Penso que a multiplicidade de dons e ministérios na efervescente e libertada igreja neotestamentária foi aos poucos sendo sufocada pelo retorno de um sacerdotalismo que, mesmo ferido de morte pelas palavras e vida de Cristo, ressurgiu alimentado pela natureza caída de um ser humano prepotente e sedento de poder. 

Quando a Graça multiforme de Deus, concedida pelo uso dos múltiplos dons do Espírito na diversidade da igreja é substituída pela confiança em um superministro sacerdotal que concentra em si a comunicação e o acesso à presença divina, a igreja sofre imensamente (como tem sofrido e parece que ainda irá sofrer por algum tempo), subsistindo aquém daquilo que o seu Senhor pensou para ela.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "História da Igreja na América Latina" tendo como assunto "Religiosidade, Piedade e Teologia na Época Colonial". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

15 dezembro 2010

Pedras no meio do caminho


Ele era alto, magro e estava vestido de roupas velhas e desbotadas. Não posso falar do cheiro, mas a aparência era de quem não tomava banho há alguns dias. À noite, quando o vi, era uma figura em tons de cinza que destoava do colorido da noite na beira-mar de Fortaleza.

Ele estava em pé, voltado para o escuro do mar, e com as duas mãos levantadas aos céus disparou uma oração impetrando bênçãos sobre autoridades constituídas e celebridades. Em sua oração as citava pelo nome e pelos pecados, não para condená-las mas intercedendo diante de Deus por cada um: Deus, abençoa o governador, abençoa o doutor fulando, abençoa a dona beltrana... Ouvi essa parte da oração enquanto passava por ele, mas os rumores da sua fala ainda me acompanharam por trinta ou quarenta metros adiante.

Quase ninguém olhava para ele e sua oração não parecia ser ouvida pelos que caminhavam ao meu lado. Alguns poderiam julgá-lo louco e certamente para outros ele era apenas uma atração a mais no calçadão. Eu, na minha teimosia, vi uma pedra clamando, um sacerdote não consagrado fazendo aquilo para o que muitos clérigos se dizem chamados.

Abre-nos os olhos da alma, Senhor, para que possamos discernir o mundo em nossa volta e o mundo dentro de nós. Que o mover do Espírito não nos escandalize nem intimide, mas nos encante pelas maneiras surpreendentes com que Te revelas.