16 dezembro 2022

Isabel



Isabel



Pr. Aristarco Coelho - Igreja Batista Videira

11 de Dezembro de 2022, Paratibe - João Pessoa/PB


Palavras Iniciais

Estamos em dezembro e as luzes do Natal estão acessas por toda cidade. De alguma forma há uma lembrança coletiva de que esse é um período de festa, um tempo de celebrar; porque é Natal.

Muitas pessoas ficam sensíveis na época do Natal. Alguns são consumidos de tristeza e melancolia e outros são tomados de alegria e esperança; uma coisa é certa: dificilmente alguém passa por essa época sem ser tocado por esse clima de Natal.

De fato, o Natal é motivo de celebração. Não por causa do Papai Noel, dos enfeites, das luzes ou dos presentes, mas porque nessa época do ano decidimos nos lembrar do nascimento daquele que veio a este mundo, como uma criança indefesa, a fim de nos defender e de nos salvar de nós mesmos: JESUS.

As Escrituras dizem que Jesus, nascido de Maria, é a plena e perfeita representação de Deus. João, que conviveu com Jesus, escreveu que ao olharem para Ele e sua maneira de viver era como se eles vissem o próprio Deus ali presente. A glória de Deus, sua presença poderosa, era sentida por todos que se aproximavam de Jesus.

Natal é sobre Jesus. Desde o começo é sobre Jesus e seu nascimento. E se não for sobre Jesus, é apenas mais uma oportunidade para comer, beber e dar presentes. Natal é sobre o impacto que Jesus causa na vida das pessoas, porque desde aquele primeiro natal e mesmo antes dele, Ele já tocava e transformava a realidade ao seu redor.

Hoje e nos próximo dois domingos vamos olhar mais de perto a vida de três pessoas que tiveram suas vidas alcançadas e transformadas por Jesus, antes que o primeiro natal acontecesse. São três mulheres a quem foi dado o privilégio de ouvirem as palavras que romperam o silêncio que existia desde os últimos profetas do Antigo Testamento. Vamos olhar de perto as vidas de Isabel, Maria e Ana.

Isabel

Vou começar hoje apresentando Isabel. Ela é mencionada na Bíblia no evangelho de Lucas. Vamos ler:

Lucas 1.5–7 NVI

5 No tempo de Herodes, rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias, que pertencia ao grupo sacerdotal de Abias; Isabel, sua mulher, também era descendente de Arão. 

6 Ambos eram justos aos olhos de Deus, obedecendo de modo irrepreensível a todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 

7 Mas eles não tinham filhos, porque Isabel era estéril; e ambos eram de idade avançada.

Infância e Juventude

Quando Isabel aparece pela primeira vez nas páginas das Escrituras ela já é uma mulher idosa. Lucas, no entanto, inclui algumas dicas sobre a infância e juventude de Isabel. Ele afirma que ela era descendente de Arão, o primeiro na linhagem sacerdotal de Israel. Isso quer dizer que Isabel era filha de um sacerdote.

Isabel havia sido criada em uma família que temia e amava a Deus. Desde pequena ela ouvia o pai falar sobre como Deus é maravilhoso e digno de adoração. Ela certamente ouviu as histórias de Abraão, Isaque e Jacó, também sobre como Deus libertou o povo do cativeiro egípcio pelas mãos de Moisés, e sobre a insistência dos profetas para que o povo de Israel confiasse apenas em Deus.

A jovem Isabel, filha de um sacerdotes, casou-se também com um sacerdote, chamado Zacarias. Assim, a cultura familiar de Isabel, de confiar em Deus, foi confirmada em seu casamento. Ela, que antes via o pai às voltas com o ministério sacerdotal, agora, depois de casada, acompanhava o ministério sacerdotal do esposo.

Idade adulta

A jovem esposa Isabel viveu sua vida amando a Deus e confiando no Senhor. Sabemos disso por causa do testemunho das pessoas a respeito dela e de seu marido, de que eles eram “justos aos olhos de Deus, obedecendo de modo irrepreensível a todos os mandamento e preceitos do Senhor” (1.6).

Não é que eles fossem perfeitos, mas que serviam fielmente ao Senhor, com intensa dedicação, não havendo nada em suas vidas pelo que pudessem ser publicamente acusados de desobediência. Em resumo: Isabel vivia uma vida exemplar.

Muita gente olharia para a vida de Isabel e diria com tranquilidade: “Olha aí algum a quem Deus deveria cobrir de todo tipo de bênção”. No entanto, Isabel e seu esposo Zacarias, mesmo com suas vidas exemplares, não foram abençoados com filhos.

Por toda a sua vida de casada, mês a mês, Isabel foi consumida por expectativas seguidas de frustrações, o tipo de situação que pode despedaçar a alma humana. Como uma mulher que amava e confiava no Senhor desde criança chegou à velhice sem a bênção da maternidade? Essas e outras perguntas iam e vinham na mente dela, dos amigos e da família, ano após ano.

Isabel foi muito amada por seu esposo. Sabemos disso porque Zacarias permaneceu até a velhice com ela, não fazendo valer seu direito legal de se divorciar de uma esposa que não lhe dava filhos. 

Mas, mesmo suprida pelo amor de seus pais em sua infância e pelo amo de seu marido na juventude e idade adulta, ela possivelmente se sentia menos do que poderia ser. Esse sentimento se agravava com a crença vigente em sua época de que Deus abençoa seus servos fiéis dando-lhe filhos, porque isso levava as pessoas a pensarem que aqueles que não tinham filhos estavam sendo de alguma forma punidos por Deus.

Maturidade

Quando Isabel apareceu na cena bíblica, já idosa, uma parte dessas tensões sobre a maternidade já eram feridas cicatrizadas. O texto indica que, àquela altura, Isabel e seu esposo já haviam desistido de se tornarem pais.  Por muitos anos eles oraram e pediram com fé, mas agora, já idosos, esse assunto era coisa passada de gosto amargo.

Eu penso, irmãos, que os fatos ocorrido com Isabel são uma denúncia contra o falso evangelho, que promete a realização de sonhos em troca de uma vida piedosa. Em seus dias, poucas pessoas foram tão crentes e piedosas quanto Isabel e Zacarias, no entanto eles viveram a maior parte de suas vidas sem o que mais queriam: filhos.

Como é possível isso manter a fé numa situação dessas? Como continuar confiança quando se ao nosso redor as coisas parecem dizer que nossos sonhos e desejos serão frustrados? O anjo que anunciou a Zacarias a gravidez de Isabel nos revela como eles mantiveram a fé nesses dias difíceis:

Lucas 1.13 NVI

13 Mas o anjo lhe disse: “Não tenha medo, Zacarias; sua oração foi ouvida. Isabel, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe dará o nome de João.

Isabel e seu esposo viveram longos anos de espera e enfrentaram as frustrações dos sonhos não realizados perseverando na oração. Eles se encheram da convicção de que o Senhor é digno de confiança e que seus desígnios sobre nós são o melhor que podemos viver.

Essa não é um oração de resultado. Não é uma forma de se obter o que se quer, mas um jeito de se aproximar daquele que conhece tudo a nosso respeito e sempre age em nosso favor. Alexander White, ao comentar sobre Isabel no seu livro Personagens Bíblicos, afirma o seguinte:

“Povo de Deus, [vocês] que estão preteridos, decepcionados e empobrecidos. Orem e não desistam. Orem, pois a oração e muito melhor que a resposta.”

Quando o curso da vida nos frustra, a melhor resposta é buscar ao Senhor em oração. Decidir confiar a Ele os nossos sonhos e esperanças, aguardando com alegria sua boa, perfeita e agradável vontade vir sobre nós.

A notícia do milagre

Isabel e Zacarias, por fim receberam o que pediram a Deus. Ambos envelheceram até ver suas orações atendidas. Será que vale a pena? O que eles ganharam durante esse tempo? Eles aprenderam a ser perseverantes na confiança e a esperar enquanto Deus movimenta as engrenagens da sua vontade.

No tempo certo para todos que estavam envolvidos nesse drama em particular, eles receberam a notícia de que o sonho frustrado e esquecido iria acontecer… “Sua oração foi ouvida. Isabel, sua mulher, lhe dará um filho”. Certamente isso os encheu de alegria.

Por outro lado, o anúncio do anjo, e por fim a gravidez de Isabel, revelam que o casal, mesmo unidos naquilo que viveram, lidava de forma diferente com a frustração que os consumiu por tanto tempo.

Zacarias - Como será isso?

Ao ouvir o anjo, Zacarias exigiu provas. Para ele as evidências da impossibilidade eram incontestáveis: “eu e minha mulher somos agora dois idosos”. Não era mais tempo, talvez pensasse Zacarias. O vigor da sua juventude, e de sua esposa Isabel, já havia passado. O anjo tinha se atrasado… uns quarenta anos.

As vezes oramos ao Senhor colocando nossas angústias e necessidades por algum tempo. Depois, constrangidos pelo silêncio de Deus, pela demora, pela aparente insensibilidade do todo poderoso, paramos de orar e até nos esquecemos do assunto. Mas o Senhor não esquece nossas orações; no tempo certo ele age, sempre para o reconhecimento de sua presença entre nós (louvor da sua glória).

Isabel - Isto é obra do Senhor

Depois do anúncio feito pelo anjo e contra todas as possibilidades humanas, Isabel engravidou. Assim como Zacarias, ela também já havia desistido. Ela confiou no Senhor por décadas e continuava confiando, mas sua oração já não pedia, apenas se entregava à vontade Deus.

As coisas não foram como Zacarias e Isabel planejaram e sonharam. Não foi como as famílias deles esperavam. Não foi no tempo em que essas coisas normalmente acontecem. Foi do jeito e no tempo que Deus se propôs a fazer, sincronizando Sua obra na vida de todas as pessoas envolvidas.

Os milagres de Deus nunca são apenas para nós. Ele não trabalha de forma linear. Quando nos entregamos à vontade dele temos a certeza de que o melhor dele vai acontecer; não apenas para nós, mas para todos aqueles que estão em nossa teia de relacionamentos.

O que significa isso?

Para concluir nossa reflexão de hoje vejamos detalhadamente como Isabel lidou com a realização de seu sonho. Para isso quero recuperar dois momentos em que Isabel, ao se deparar com agir de Deus em sua vida, reflete sobre o que estava acontecendo com ela. O que significam essa coisas pelas quais eu estou passando?

Lucas 1.23–25 NVI

23 Quando se completou seu período de serviço, ele voltou para casa. 

24 Depois disso, Isabel, sua mulher, engravidou e durante cinco meses não saiu de casa. 

25 E ela dizia: “Isto é obra do Senhor! Agora ele olhou para mim favoravelmente, para desfazer a minha humilhação perante o povo”.

Isabel não cabia em si de contentamento e assombro. Aquilo ela tão surpreendente que ela precisou de um tempo para processar. Durante os cinco primeiros meses, ela se recolheu a sua casa, que ficava possivelmente nas colinas do monte Hebron, próximo a Jerusalém.

Isso é sobre mim

Isabel reconheceu sua gravidez com uma intervenção graciosa de Deus. E enquanto refletia sobre o milagre que é uma mulher idosa conceber um filho, ela enxergou sua gravidez como um cuidado de Deus em relação a ela: finalmente sua orações foram respondidas e ela deixará de ser aquela que não tem filhos.

Quase sempre, quando refletimos sobre o que nos acontece da parte de Deus, a primeira camada de compreensão que nos vem diz respeito a nós mesmos. É como se o mundo girasse em torno da gente, como se Deus existisse para nós e para nossas necessidades. Interpretamos o mundo a partir de nós mesmos.

Fazer isso não é errado em si mesmo, mas não pode ser nossa estação final. Podemos começar, como Isabel, pensando no significado das lutas, dores, alegrias, sonhos realizados e frustrados, a partir de nós mesmos, mas existem outras camadas de significado que precisam ser exploradas, sob pena de nos tornarmos egoístas e autocentrados.

A teia do agir de Deus

Para avançarmos em direção a ampliar o significado daquilo que Deus faz em nossas vidas, precisamos nos dar conta de que não estamos sós nesse mundo. Deus não é apenas no nosso Deus, mas o regente de todo universo. Talvez por isso, Lucas corta a cena e deixa Isabel refletindo sobre o milagre de sua gravidez, enquanto abre uma nova janela para vermos Maria recebendo a visita do mesmo anjo, Gabriel.

Gabriel anuncia que Maria ficaria grávida pela virtude do Espírito Santo. Ele encoraja Maria, que responde com um lindo cântico de fé e confiança no agir de Deus. Depois o anjo tira algumas dúvidas de Maria. 

A fala do anjo é como se ele dissesse “não se preocupe, Maria. Deus está colocando seu plano em movimento. Muitas coisas aconteceram antes de eu vir falar com você e muitas outras acontecerão depois que eu sair daqui. As coisas que estão acontecendo com você são parte de algo maior, do qual você faz parte!” E para demonstrar isso de forma prática, ele emenda sua fala com a seguinte informação:

Lucas 1.36 NVI

36 Também Isabel, sua parenta, terá um filho na velhice; aquela que diziam ser estéril já está em seu sexto mês de gestação.

Esse agir multifacetado de Deus pode parecer confuso enquanto a gente está vivendo as tramas de nossas vidas, mas depois se tornará motivo de adoração ao Senhor, quando percebermos que Ele conduz a história para a glória do seu nome e alegria de seus filhos.

É bem possível que o coração de Maria tenha se enchido de alegria ao saber que ela não estava só naquele mover de Deus. E como é maravilhoso isso, sobretudo quando pessoas que amamos também fazem parte do grande plano Deus e que estamos juntos servindo a Ele… Que alegria! Que satisfação. Talvez por isso, Maria decidiu visitar sua prima Isabel.

Isso é sobre Deus

Enquanto tudo aquilo acontecia com Maria, Isabel vivia o sexto mês de gestação. Esse foi o tempo necessário para que ela se abrisse à ideia de que o agir de Deus na vida dela não era apenas por ela, mas fazia parte de uma complexa teia de intervenções divinas.

Maria entrou na casa de sua prima e disse um “Ô de casa”, avisando que tinha chegado. Quando Isabel ouviu, o bebê em seu ventre agitou-se e ela, Isabel, foi guiada (cheia) pelo Espírito Santo:

Lucas 1.42–45 NVI

42 Em alta voz exclamou: “Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz! 

43 Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? 

44 Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria. 

45 Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!”

Depois de seis meses, refletindo sobre o agir de Deus em sua vida, Isabel não olha mais apenas para si mesma. Aquela senhora não está mais presa à reparação da sua dor. Ela não tem necessidade de anunciar o que Deus fez por ela.

No verso 42 vemos que Isabel, a anciã, abençoa Maria e confirma pelo Espírito Santo a gravidez da jovenzinha. Ela abençoa a criança que está sendo gerada; não o seu filho, mas o filho de sua prima. Ao mudar o foco, Isabel já fala no compasso do evangelho será anunciado por Jesus. Suas ações já são conforme o ensino que o menino vai trazer.

No verso 43 encontramos Isabel, descendente de sacerdotes e casada com um sacerdote, olhando para si mesma com humildade. Ela começa a entender que o milagre de Deus em sua vida não diz respeito apenas a ela e ao marido, mas está inserido dentro de mover de Deus para salvar. Mais que isso, ela reconhece a si mesma como necessitada desta salvação, o que está completamente alinhado com a mensagem de Cristo.

No verso 45 Isabel, experiente no caminho que ensina confiar no Senhor, encoraja a jovem Maria, que dá seus primeiros passos nessa jornada. “Deus cumpre aquilo que promete, Maria, pode confiar”. Isabel não precisa mais chamar atenção para si mesma. Sua vida, seu casamento, seu filho, tudo é parte do grande plano de Deus.

Conclusão

Isabel desistiu de esperar. Sem remorso, sem raiva, ela apenas parou de pedir. Isabel desistiu de esperar, mas Deus não desistiu dela. Na grande teia do agir de Deus ela tinha um papel para cumprir. 

Isabel aprendeu que a integridade não é moeda de troca para obtermos a realização de nossos sonhos, mas nossa resposta ao amor de Deus por nós; que ser integro não produz créditos no céu.

Isabel aprendeu que não estava no centro do agir de Deus. Que a benção de Deus se derrama sobre todos ao nosso redor, e que o tempo do agir de Deus é o ponto ótimo da sua intervenção amorosa sobre todos.

Isabel aprendeu que Deus é confiável, e que é um privilégio fazer parte do seu grande plano de salvação.

Que o Senhor nos ajude a prosseguir na mesma direção que Isabel deu para sua vida.


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