Um discípulo servo
Comunidade Batista em Mangabeira 4 - João Pessoa/PB - 14/02/2016
Introdução
Neste
e nos próximos domingos teremos a oportunidade de refletir juntos sobre um dos
temas mais importantes do evangelho: discipulado.
Este
ano o discipulado permanecerá em destaque aqui na CBM. Nosso propósito é que
ser e fazer discípulos sejam amis que um tema importante e se transforme em
nosso modo de viver o evangelho de Jesus.
No
próximo domingo (21/02) seremos conduzidos por Allan no tema “ um discípulo
amável”. No dia 28/02 o Pr. João Victor falará sobre a obediência na vida do
discípulo e no dia 06/03, o Pr. Francisco trará o tema “um discípulo que ora”.
A
ordem desse duplo aspecto do discipulado (ser
e fazer) – é importante para sua
eficácia. Portanto, ao olharmos para o serviço (uma das mais notórias marcas
dos discípulos de Jesus), primeiro devemos considerar nossa própria condição de
servo. Depois podemos encorajar outros a servir.
Assim
quero convidá-los a caminhar comigo através de alguns textos bíblicos com o
objetivo de considerarmos a disposição de nossos corações em servir outras
pessoas.
Faremos
isso da seguinte forma: (1) primeiro vamos entender o paradigma cultural
vigente sobre o serviço, isto é, veremos a visão que as pessoas têm hoje sobre
servir e ser servido; (2) depois vamos examinar as Escrituras para compreender
o paradigma do evangelho, isto é, o que pensa Jesus sobre servir e ser servido;
(4) por fim examinaremos quatro falas de Jesus sobre esse assunto. Elas serão
importantes para ajustar nossa maneira pessoal de ver o servir e o ser servido.
Um paradigma
cultural
Para
começar talvez devamos nos familiarizar com um modo de pensar que é muito comum
a respeito de servir: quem serve é menos importante do que aquele que é
servido.
Ø Quem serve faz o
que os outros não querem fazer. Quem é servido não precisa fazer o que não
quer;
Ø Quem serve é
mandado. Quem é servido manda;
Ø Quem serve é
porque não tem dinheiro. Quem é servido é porque tem grana no bolso;
Ø Quem serve é
fraco. Quem é servido é poderoso
Nesse
modo de pensar que orienta a vida de muita gente, aquele que está a serviço
apenas recebe ordens, por isso está em situação inferior àquele que dá as
ordens.
É
interessante notar que a maioria das crianças é muito prestativa e quando somos
pequenos almejam profissões que ajudam as pessoas em suas necessidades:
bombeiro, policial, professor... (um filho de um amigo nosso desejou por muito
tempo ser gari). Mas logo que crescemos somos engolidos pelo paradigma cultural
que despreza o serviço e procuramos alguma outra coisa que nos faça parecer
mais poderoso.
Algumas
vezes as pessoas que prestam serviço em nossas casas são tratadas com certo ar
de superioridade. É como se servir fosse uma atividade inerente a cidadãos de
segunda categoria.
Até
nosso vocabulário revela essa desconsideração para com quem serve. Palavras com
serviçal, servitude e servente, todas
relativas ao serviço, estão carregadas de conceito de inferioridade.
Mas
não é sem motivo que a condição de servir é rejeitada pelas pessoas. A verdade
é que nossa natureza caída tem uma inclinação a explorar as pessoas sempre que
o dinheiro ou o poder nos permitem fazê-lo. Às vezes o simples fato de estarmos
do outro lado do balcão, sendo atendidos, é suficiente para nos acharmos superiores,
cheios de direito, e tratarmos os outros como pessoas menos importantes.
O paradigma do
evangelho
Nosso
assunto é um discípulo servo. E ser discípulo de Jesus significa adotar o mesmo
ponto-de-vista dele a respeito do mundo e da vida. Então, precisamos saber o
Jesus pensa sobre servir e ser servido. Isto é, qual o paradigma do evangelho?
Vejamos um comentário de Jesus sobre esse assunto no evangelho de Lucas:
24 Surgiu também uma discussão entre eles,
acerca de qual deles era considerado o maior.
25 Jesus lhes disse: "Os reis das
nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados
benfeitores. 26 Mas, vocês não serão assim. Pelo
contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que
governa como o que serve. 27 Pois quem é maior: o que está à mesa, ou
o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve. Lc 22.24-27 (NVI)
Parece
que Jesus nos propõe uma forma diferente de considerar o servir e o ser servido.
Primeiro Ele reconhece que aos olhos das pessoas aquele que é servido e mais
importante que aquele que serve. Mas logo em seguida ele nos desafia a assumir
o lugar de servo mesmo assim.
E
o que me parece mais desafiador ao ouvir Jesus falar dessa maneira, é que ele
não estava apenas fazendo um discurso sobre como as coisas devem ser. Ele
estava chamando seus discípulos para andar nos passos dele e viver do jeito que
ele vivia.
...eu estou entre vocês como quem serve. (27)
O
que você acha disso tudo? De um lado, sabemos que se tornar servo neste mundo
não é moleza; por outro lado, o Espírito de Deus parece sussurrar aos nossos
ouvidos que devemos aceitar o desafio de tornar o serviço nossa rotina de vida.
Do mesmo jeito que Cristo fez.
Seguir
a Jesus não é apenas frequentar os cultos de domingo ou fazer parte do grupo da
igreja no Face e no Whatsapp. É bom participar de tudo isso,
mas não significa que fazendo essas coisas você é um discípulo de Jesus.
Ser
discípulo é adotar o mesmo entendimento que ele tem a respeito da vida. E sobre
o serviço, parece que o pensamento de Jesus é claro: ainda que as pessoas
desprezem e desconsiderem aqueles que servem, devemos atender ao chamado de
Deus e transformar o servir às pessoas em nosso modo de vida.
Jeremias,
o profeta, muitos séculos antes de Jesus nascer, anunciou que o messias seria
um servo sofredor. O apóstolo Paulo, depois de Jesus ressuscitar e subir aos
céus, escreveu um pouco sobre esse coração de servo que pulsava no peito de
Jesus. Vejamos o que ele diz em Fp 2.5-8:
Tentem pensar como Cristo Jesus pensava.
Mesmo em condição de igualdade com Deus, Jesus nunca pensou em tirar proveito
dessa condição, de modo algum. Quando sua hora chegou, ele deixou de lado os
privilégios da divindade e assumiu a condição de escravo,
tornando-se humano! E, depois disso, permaneceu humano. Foi sua hora
de humilhação. Ele não exigiu privilégios especiais, mas viveu uma vida
abnegada e obediente, tendo também uma morte abnegada e obediente — e da pior
forma: a crucificação. Fp 2.5-8 (AM)
Então
meus irmãos, nosso primeiro desafio é romper com ideia de que servir é coisa de
gente sem importância. No evangelho de Jesus, são importantes aqueles que
cultivam o mesmo coração de servo que pulsava no peito do Salvador. Pessoas
assim, não desejam tirar proveito de alguma posição ou condição superior que
tenham recebido, mas estão sempre com o coração disposto a servir.
Quando
rejeitarmos o entendimento de que servir é algo ruim e abraçarmos a mentalidade
de Jesus sobre servir e ser servido, estaremos livres para desenvolver o
coração de servo que recebemos da parte de Deus.
A missão se traduz
em serviço
No
entanto, ao mesmo tempo que abraçamos por fé a mentalidade de Jesus sobre
servir e ser servido, é preciso examinar o que Ele pensa sobre isso.
É
difícil exagerar a importância que Jesus dá para um coração disposto a servir a
Deus e às pessoas. Ele afirmou essa importância quando colocou o serviço no
âmago da sua missão aqui entre nós.
28 A vossa maneira de proceder deve ser a
mesma que a minha, porque eu, o Filho do Homem, não vim para ser servido, mas
para servir e dar a minha vida para salvação de muitos. Mt 20.28 (OL)
Está muito na moda definir uma missão pessoal. Jovens executivos hoje contratam um coach para ajuda-los a decidir suas missões pessoais, isto é, para onde eles vão dirigir suas vidas e concentrar seus esforços. Algo que pode ser muito útil. No entanto, parece que para Jesus isso estava muito claro e servir estava no topo da agenda. E na sua agenda? Qual é posição do serviço às pessoas em nome de Deus?
Um alerta sobre a
natureza do serviço
Existe
uma outra fala de Jesus sobre servir que é muito importante para abraçarmos a
mentalidade de Jesus sobre servir e ser servido, sobretudo nesses tempos
“multi”, de grande pluralidade e de vidas líquidas, e que somos chamados a nos
dividir em mil frentes. Vejamos Mt 6.24.
24 "Ninguém pode servir a dois senhores; pois
odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês
não podem servir a Deus e ao Dinheiro". Mt 6.24
Servir
a Deus e às pessoas em nome de Deus é algo que ocupa toda nossa vida e durante
a vida toda. O discípulo de Jesus é um servo de dedicação exclusiva e em tempo
integral. Não existe discípulo de meio período ou com jornada reduzida.
No
texto que lemos, Jesus declara a impossibilidade de alguém conciliar em seu
coração uma vida dedicada a Deus e ao mesmo tempo dedicada juntar dinheiro. Não
dá pra fazer as duas coisas, porque nosso coração ficaria dividido. E não é
possível seguir a Jesus com um coração divido. Mas o dinheiro entra aqui como
um exemplo. Qualquer coisa que tente captura o nosso coração entra na mesma
categoria.
Então,
o discípulo-servo é alguém atento a qualquer coisa que deseje cativar um pedaço
de sua lealdade. E está pronto para rejeitar esses assédios.
Quando
adquire coisas, o discípulo-servo não as trata como suas próprias para não
aprisionar seu coração a elas; quando se compromete com as pessoas, o discípulo-servo
o faz com o objetivo de servi-las e não de dominá-las; quando ocupa posições de
destaque, ele entrega todas as honrarias aos pés de Cristo; quando lidera
instituições, o discípulo o faz com a disposição de ali ser um servo de Jesus;
quando realiza alguma tarefa ou projetos, seu pensamento é em como tudo aquilo
servirá às pessoas e a Cristo.
Ninguém
pode servir a dois senhores...
Serviço e
resiliência
A
essa altura você já deve ter notado que a vida de um discípulo-servo é como
nadar contra a correnteza do rio. Exige muita energia espiritual. Às vezes da
impressão de que nada está acontecendo... Bate aquela vontade de parar de nadar
e deixar que a correnteza nos leve.
Talvez
seja por isso que Jesus ressalta a importância de servirmos até o final. A
resiliência no servir é algo que transpira das palavras de Jesus. Vejamos uma
fala dele no evangelho de Lucas:
35 "Estejam prontos para servir, e
conservem acesas as suas candeias, 36 como aqueles que esperam seu senhor voltar de um
banquete de casamento; para que, quando ele chegar e bater, possam abrir-lhe a
porta imediatamente. Lc 12. 35-36
Servir
não é uma coceira que dá e depois passa. Servir não é uma moda. Servir é um
modo de vida que acompanha até o seu encontro com o Senhor. Mas é preciso
reconhecer que uma vida de serviço não é uma corrida de 100 metros, mas uma
longa maratona. E muitos desafios serão enfrentados até que ela chegue ao final.
Servir
não é algo que faz para ficar bem na foto. É resultado de uma preocupação
verdadeira e permanente com as pessoas em nossa volta. Não é algo que se faz
por tempo e depois deixa-se de fazer. Não é um cargo que você assume e depois é
exonerado. Nem uma profissão da qual a gente se aposentar.
Por
isso é preciso que sejamos revestidos de amor do alto, que abracemos a
mentalidade de Cristo, e permitamos ao Espírito de Deus transplantar o coração
de servo que pulsava no peito no nosso salvador.
Uma palavra de
encorajamento
Minha
última consideração sobre a mentalidade de Cristo quanto a servir e ser servido
começa com um texto do apóstolo Paulo:
15 Eu, de boa vontade, darei a vocês tudo o que tenho e
gastarei até a mim mesmo pelo bem de vocês. Será que quanto mais eu os amo,
menos serei amado por vocês? 2 Cor 12.15
Jesus
tem uma palavra de encorajamento e conforto para Paulo e para todos que se
deixam gastar pelo serviço. É com essa palavra que desejo encerrar.
37 Felizes os servos cujo senhor os
encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para
servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los. Lucas 12.37(NVI)
Haverá
um bálsamo de alívio aguardando os servos que perseveram. Haverá um tempo de
descanso para aqueles que gastam suas vidas servindo ao Senhor. Esse dia
chegará! E quando chegar esse dia, ele dirá para nos recostarmos
confortavelmente, vestirá os aventais de servo e nos servirá manjares de
consolo e de paz.
Aqueles
que gastarem suas vidas servindo às pessoas em nome de Deus não terminarão
decepcionados. Um dia colherão os doces frutos do seu trabalho e se alegrarão,
e bendirão ao Senhor que os sustentou fiéis até o fim.
Eu
lhes afirmo que ele (o Senhor) se vestirá para servi-los, fará que se reclinem à mesa, e os servirá.
Que
Ele nos ajude em nossa caminhada.
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