17 setembro 2018

Admoestando uns aos outros



Admoestando uns aos outros

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Rm 15.14

A palavra não faz parte do nosso vocabulário do dia-a-dia, mas você certamente já ouviu algumas vezes em pregações e palestras, ou leu em algum texto. Admoestar é a tradução da palavra grega νουθετεω noutheteo
  
As várias traduções usam outros termos para a palavra Noutheteo neste verso, tais como... Aconselhar (NVI, NTLH), Corrigir (PAST), Ensinar (VIVA, VFL) e Orientar (KJA, AM). Além disso essa mesma palavra é traduzida em outras passagens do NT como Instruir e Advertir.

Parece, então, que tudo isso faz parte da vida da igreja. Isto é, viver igreja é nos envolvermos uns com os outros a ponto de ser possível ensinar, orientar, advertir, aconselhar e corrigir, bem como ser ensinado, orientado, advertido, aconselhado e corrigido.

Essa palavra de Paulo aos irmãos da cidade Roma, nos faz compreender que admoestar não é uma função exclusiva dos pastores ou dos líderes de uma igreja. De alguma forma, todos nós fazemos parte dessa ação de Deus.

Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.

Admoestar é o contraponto que equilibra o aceitar. Porque pode parecer, quando a gente fala em aceitar o irmão, que alguém entenda que estamos obrigados a nos calar diante do comportamento pecaminoso de alguém. Mas aceitar como Cristo aceitou e acolher a pessoa em amor sem abrir mão de ensinar, orientar advertir e corrigir quando necessário.

Duas condições são apresentadas pelo Apóstolo Paulo para alguém cumprir bem a função de admoestar o seu irmão:

Possuídos de bondade

A primeira condição é estar possuído de bondade. John Murray diz que a palavra grega agathosunes, “bondade”, se refere à virtude oposta a tudo quanto é vil e maligno; também inclui retidão, gentileza e beneficência de coração e vida.

Isso quer dizer que para ajudar nossos irmãos é preciso que estejamos tomados de sentimentos, pensamentos e intensões de bondade de uns para com os outros. Desejar o bem do outro e agir nesta direção é pré-requisito para ser útil ao orientar, advertir ou corrigir alguém.

Hernandes Lopes, esclarece que na prática a bondade tem a ver também com a disposição de investir tempo e energia para socorrer as outras pessoas em suas necessidades. Bem como a disposição de tratar bem aqueles cujas virtudes não os recomendam.

Isso quer dizer que é necessário dispor de tempo para ensinar aconselhar ou advertir alguém. Não é coisa que se faz rapidinho. Também é preciso uma disposição para ser gentil cordial e cheio de graça, sobretudo quando a pessoa resiste à Palavra de Deus e age de forma insensata e irresponsável.

Outro aspecto desse “possuídos de bondade” é que para admoestar alguém é preciso que nossa caminhada com Jesus, nosso crescimento em fé e confiança no Senhor sejam uma realidade. Não é preciso ser perfeito, mas é preciso que haja algum amadurecimento em nós quando pretendemos ajudar nosso irmão.

Cheios de todo conhecimento

A segunda condição é que sejam cheios de todo conhecimento, isto é, é preciso que haja compreensão da fé cristã, sendo necessário também a capacidade de fazer compreensível as bases dessa fé para outra pessoa. Ao pé da letra, a palavra Noutheteo, traduzida por admoestar, significa “por na mente” do outro.

Assim, faz sentido a afirmação do comentarista “O pastoreio mútuo depende não só de bondade, mas também de conhecimento”. Hernandes Lopes afirma que o conheci­mento governa a bondade. A bondade enche o cora­ção de amor, o conhecimento enche a mente de luz.

Portanto, antes de aconselhar alguém é preciso saber o que as Escrituras ensinam a respeito do assunto. E isso não é apenas para problemas grandes e complexos, mesmo os pequenos conselhos que damos no dia-a-dia precisam encontrar suporte na Palavra de Deus.

A admoestação à qual somos chamados como membros do Corpo de Cristo não é dizer nossa opinião sobre uma certa questão. Não se trata também de realizar uma sessão de terapia ou de se tornar uma espécie de Coach, mas de apresentar uma verdade bíblica, claramente discernível, experimentada, e que possa servir de guia para seu irmão seguir a Jesus bem de perto.

Algumas orientações bíblicas

Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. At 20. 25-31

A admoestação deve ser fruto de profundo compromisso de amor: “com lágrimas” – se você não estiver comprometido com seu irmão de maneira que seu coração chore por ele, sua admoestação poderá assumir contornos de descaso.

A admoestação dever ser persistente: “noite e dia” – ensinar, corrigir, advertir e instruir não é coisa que deva ser feita apenas nos momentos de crise. Nos somos chamados por Deus a nos aconselharmos mutuamente de forma contínua e perseverante.

Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória. 1 Ts 2.11,12

A admoestação dever ser preferencialmente pessoal: “cada um” – A pregação ou a oração pública não devem ser usadas como exortação genérica, se o desejo é orientar ou alertar uma pessoa. É muito melhor chamar o irmão em particular e dizer o que precisa ser dito, e evitar as orações relatórios que muitas vezes expõem a vida dos irmãos sem ajudar em nada.

Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. 1 Co 4.14

A admoestação dever surgir de razões puras: “não estou tentando envergonhá-los” – Se percebermos qualquer motivação que não seja para o bem da pessoa que estamos aconselhando, devemos imediatamente interromper esse aconselhamento. Se houver sentimentos de vingança, auto-afirmação, orgulho, desejo de humilhar ou qualquer outro sentimento incompatível com a cruz de Cristo, nem comece a ajudar.

Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. Cl 3.16

A admoestação dever ser o resultado natural de uma igreja que está crescendo em maturidade – “instruí-vos e aconselhai-vos” -

Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.

Conclusão

Quando nos colocamos à disposição para viver este admoestai-vos uns aos outros, estamos dizendo que nossas vidas estão abertas para os reparos que Deus deseja fazer. Falamos sempre sobre ser aperfeiçoados, mas às vezes esquecemos que esse aperfeiçoamento não é uma mágica, mas um caminho árduo de se deixar polir através da convivência com nossos irmãos.

Se somos uma igreja que pretende conviver mais de perto... experimentar mais que o culto de domingo... fazer parte da vida uns dos outros... precisamos aprender a usar a Palavra para orientar nossos irmãos em suas lutas contra o pecado, enquanto choramos juntos uns pelos outros; por outro precisamos aprender a abrir mão dos melindres e não-me-toques, permitindo que o Espírito de Deus use nossos irmão para nos corrigir e advertir.

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Rm 15.14

Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).

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