Aceitem-se
uns aos outros
Domingo passado vimos que somos chamados
a preservar a unidade produzida pelo Espírito Santo, quando nos fez parte da
igreja: fomos incluídos na família de Deus e feitos membros do corpo de Cristo.
A ligação que há entre nós foi estabelecida pelo próprio Deus, que nos convoca
para preservar aquilo que ele fez.
Portanto, aceitem-se uns aos
outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a
Deus. Rm 15.7
O mandamento recíproco da semana é:
Aceitem-se uns aos outros. Paulo explica que a compreensão da unidade que
existe entre nós (versos 5 e 6) deve nos levar a aceitar uns aos outros. Mas
qual a abrangência desse aceitar?
Se o texto terminasse aí estaríamos
expostos a todo tipo de interpretação sobre o significado dessa aceitação e a
igreja seria uma espécie de vale tudo, porque cada um teria sua própria opinião
a respeito de aceitar o irmão.
Mas o Espírito de Deus conduziu a
apóstolo Paulo a dizer que a aceitação que devemos ter de uns para como os
outros precisa ser igual à que Jesus teve por nós. E como Cristo nos aceitou?
Cristo nos aceitou como seus discípulos sem
pré-requisitos morais, comportamentais, filosóficos ou de qualquer outra
natureza. Não é que Deus deixou de se importar com o jeito que vivemos e
pensamos. Ele deseja tratar desses assuntos conosco, mas não pré-requisito para
o seu amor.
Nós estávamos espiritualmente mortos,
existencialmente perdidos e sem esperança. Ainda assim fomos alcançados pela
graça de Deus.
Não faz muito tempo, vocês
estavam atolados naquela velha vida podre de pecado. Haviam permitido que o
mundo, que não sabe nada a respeito da vida, dissesse a vocês como viver.
Enchiam os pulmões com a fumaça da incredulidade e exalavam desobediência. Todos
nós já nos comportamos assim, fazendo o que queríamos, a nossa própria vontade;
estávamos todos no mesmo barco. Graças a Deus, ele não perdeu a paciência nem
nos exterminou. Em vez disso, com sua imensa misericórdia e seu amor
extravagante, ele nos abraçou. Tirou-nos da nossa vida presa pelo pecado e nos
fez vivos em Cristo. Fez tudo isso por conta própria, sem qualquer ajuda da
nossa parte! Ele nos tomou para si e nos concedeu um lugar nos altos céus, na
companhia de Jesus, o Messias. Não é demais? Ef 2.1-6 (AM)
Jesus nos acolheu por amor. Mas não se
trata de algo que a gente faz para provocar o amor dele. O interesse dele por
nós veio primeiro, tanto que as Escrituras dizem que ele nos amou primeiro.
É dessa mesma forma que somos convidados
a nos aceitar uns aos outros, com base no amor gracioso de Deus semeado em
nossos corações. Mas como saber se estamos aceitando uns ao outros?
MARCAS DA ACEITAÇÃO
Uma das marcas da aceitação mútua é deixar
de lado o julgamento e o desprezo em questões que não foram mencionadas por
Deus como pecado. Essas questões estão fora de nossa alçada e serão tratada por
Deus.
Aceitem o que é fraco na fé,
sem discutir assuntos controvertidos. Um
crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas
alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come,
e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o
aceitou. Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele
está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.
Há quem
considere um dia mais sagrado que outro; há quem
considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua
própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o
faz.
Aquele que come carne, come
para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se
abstém, e dá graças a Deus... Portanto, você, por que julga seu irmão? E por
que despreza seu irmão? Rm 14.1-9
Nas questões, ainda que controversas,
que não tratam de pecado... questões de usos, costumes e tradições... devemos
deixar de lado julgamentos e acusações. A orientação de Paulo é para que os
dois lados da discussão sejam sábios nisso e não transformem questões menores em
cavalos de batalha dentro da igreja. O evangelho de Jesus não é para
sobrecarregar. O jugo dele é suave o seu fardo é leve.
Não é necessário, nesses casos, que um lado
esteja certo e o outro esteja errado, mas é necessário que nossas atitudes
estejam apoiadas em convicções fundamentadas e que nossa maneira de lidar uns
com os outros sirva de razão para exaltar o Senhor.
***
Outra marca da aceitação é não fazer
acepção de pessoas, isto é, não fazer diferença no tratamento com as pessoas com
base em nossas preferências pessoais corrompidas pelo pecado.
Meus irmãos, como crentes em
nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas,
tratando-as com parcialidade. Suponham que na reunião de vocês entre um homem
com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e
sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas
finas e disserem: “Aqui está um lugar apropriado para o senhor”, mas disserem
ao pobre: “Você, fique em pé ali”, ou: “Sente-se no chão, junto ao estrado onde
ponho os meus pés”, não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com
critérios errados? Tg 2.1-4
Escolher a quem tratar bem não é algo
que Jesus ensinou. Escolher com quem ser educado não tem amparo no evangelho.
Escolher a quem dar atenção é discriminar. Privilegiar é jogar pela janela a
graça de Deus. Decidir a quem amar é negar a natureza do amor de Deus.
O evangelho nos convocar a tratar todos
bem, a ser educado e cortês com todos, a dar atenção a todos, a ser justo nas
oportunidades e amar cada pessoa que passa em nosso caminho.
Então, quando você rejeitar as razões
pessoais e culturais que movem o jeito de pensar deste mundo e adotar o amor gracioso
de Jesus nos seus relacionamentos, você estará praticando o “aceitem-se uns aos
outros”.
***
CONCLUSÃO
Temos muitas heranças maravilhosas dos
reformadores, mas penso que uma delas é uma certa tendência ao sectarismo. Com
isso quero dizer que temos uma inclinação ao rompimento e também dificuldade
para conviver com pensamentos diferentes.
Quando pensamos em uma igreja que aposta
na importância do relacionamento com Deus e com as pessoas como estratégia para
experimentar o evangelho de Jesus precisamos desenvolver a tolerância em
relação a questões menos importantes para que os relacionamentos entre nós
tenham tempo para amadurecer.
Claro que isso não significa transigir
com o pecado ou fazer vistas grossas a valores e crenças que entram em choque
com o evangelho. Para essas situações existem outros mandamentos recíprocos.
Ao decidimos aceitar uns ao outros da
mesma forma como Cristo nos aceitou... estamos reconhecendo que não temos
autorização de Deus para normatizar a vida uns dos outros além daquilo que a
Escritura já preceitua, e isso promove a saúde da igreja.
Quando nos aceitamos uns aos outros da
maneira que Cristo nos aceitou... as mudanças de vida operadas na vida do meu
irmão são claramente reconhecidas como uma obra de Deus e não resultado de abuso
de autoridade e coerção, e isso é dar a Cristo a glória devida ao seu nome.
Se queremos preservar a unidade do Espírito,
um bom caminho, sem dúvida, é sermos diligentes em nos acolhermos uns aos
outros, assim como Cristo nos acolheu: por amor.
* Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).
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