17 setembro 2018

Aceitem-se uns aos outros


Aceitem-se uns aos outros

Domingo passado vimos que somos chamados a preservar a unidade produzida pelo Espírito Santo, quando nos fez parte da igreja: fomos incluídos na família de Deus e feitos membros do corpo de Cristo. A ligação que há entre nós foi estabelecida pelo próprio Deus, que nos convoca para preservar aquilo que ele fez.

Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rm 15.7

O mandamento recíproco da semana é: Aceitem-se uns aos outros. Paulo explica que a compreensão da unidade que existe entre nós (versos 5 e 6) deve nos levar a aceitar uns aos outros. Mas qual a abrangência desse aceitar?

Se o texto terminasse aí estaríamos expostos a todo tipo de interpretação sobre o significado dessa aceitação e a igreja seria uma espécie de vale tudo, porque cada um teria sua própria opinião a respeito de aceitar o irmão.

Mas o Espírito de Deus conduziu a apóstolo Paulo a dizer que a aceitação que devemos ter de uns para como os outros precisa ser igual à que Jesus teve por nós. E como Cristo nos aceitou?

Cristo nos aceitou como seus discípulos sem pré-requisitos morais, comportamentais, filosóficos ou de qualquer outra natureza. Não é que Deus deixou de se importar com o jeito que vivemos e pensamos. Ele deseja tratar desses assuntos conosco, mas não pré-requisito para o seu amor.

Nós estávamos espiritualmente mortos, existencialmente perdidos e sem esperança. Ainda assim fomos alcançados pela graça de Deus.

Não faz muito tempo, vocês estavam atolados naquela velha vida podre de pecado. Haviam permitido que o mundo, que não sabe nada a respeito da vida, dissesse a vocês como viver. Enchiam os pulmões com a fumaça da incredulidade e exalavam desobediência. Todos nós já nos comportamos assim, fazendo o que queríamos, a nossa própria vontade; estávamos todos no mesmo barco. Graças a Deus, ele não perdeu a paciência nem nos exterminou. Em vez disso, com sua imensa misericórdia e seu amor extravagante, ele nos abraçou. Tirou-nos da nossa vida presa pelo pecado e nos fez vivos em Cristo. Fez tudo isso por conta própria, sem qualquer ajuda da nossa parte! Ele nos tomou para si e nos concedeu um lugar nos altos céus, na companhia de Jesus, o Messias. Não é demais? Ef 2.1-6 (AM)

Jesus nos acolheu por amor. Mas não se trata de algo que a gente faz para provocar o amor dele. O interesse dele por nós veio primeiro, tanto que as Escrituras dizem que ele nos amou primeiro.

É dessa mesma forma que somos convidados a nos aceitar uns aos outros, com base no amor gracioso de Deus semeado em nossos corações. Mas como saber se estamos aceitando uns ao outros?

MARCAS DA ACEITAÇÃO

Uma das marcas da aceitação mútua é deixar de lado o julgamento e o desprezo em questões que não foram mencionadas por Deus como pecado. Essas questões estão fora de nossa alçada e serão tratada por Deus.

Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.

Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz.

Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus... Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Rm 14.1-9

Nas questões, ainda que controversas, que não tratam de pecado... questões de usos, costumes e tradições... devemos deixar de lado julgamentos e acusações. A orientação de Paulo é para que os dois lados da discussão sejam sábios nisso e não transformem questões menores em cavalos de batalha dentro da igreja. O evangelho de Jesus não é para sobrecarregar. O jugo dele é suave o seu fardo é leve.

Não é necessário, nesses casos, que um lado esteja certo e o outro esteja errado, mas é necessário que nossas atitudes estejam apoiadas em convicções fundamentadas e que nossa maneira de lidar uns com os outros sirva de razão para exaltar o Senhor.

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Outra marca da aceitação é não fazer acepção de pessoas, isto é, não fazer diferença no tratamento com as pessoas com base em nossas preferências pessoais corrompidas pelo pecado.

Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: “Aqui está um lugar apropriado para o senhor”, mas disserem ao pobre: “Você, fique em pé ali”, ou: “Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés”, não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados? Tg 2.1-4

Escolher a quem tratar bem não é algo que Jesus ensinou. Escolher com quem ser educado não tem amparo no evangelho. Escolher a quem dar atenção é discriminar. Privilegiar é jogar pela janela a graça de Deus. Decidir a quem amar é negar a natureza do amor de Deus.

O evangelho nos convocar a tratar todos bem, a ser educado e cortês com todos, a dar atenção a todos, a ser justo nas oportunidades e amar cada pessoa que passa em nosso caminho.

Então, quando você rejeitar as razões pessoais e culturais que movem o jeito de pensar deste mundo e adotar o amor gracioso de Jesus nos seus relacionamentos, você estará praticando o “aceitem-se uns aos outros”.

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CONCLUSÃO

Temos muitas heranças maravilhosas dos reformadores, mas penso que uma delas é uma certa tendência ao sectarismo. Com isso quero dizer que temos uma inclinação ao rompimento e também dificuldade para conviver com pensamentos diferentes.

Quando pensamos em uma igreja que aposta na importância do relacionamento com Deus e com as pessoas como estratégia para experimentar o evangelho de Jesus precisamos desenvolver a tolerância em relação a questões menos importantes para que os relacionamentos entre nós tenham tempo para amadurecer.

Claro que isso não significa transigir com o pecado ou fazer vistas grossas a valores e crenças que entram em choque com o evangelho. Para essas situações existem outros mandamentos recíprocos.

Ao decidimos aceitar uns ao outros da mesma forma como Cristo nos aceitou... estamos reconhecendo que não temos autorização de Deus para normatizar a vida uns dos outros além daquilo que a Escritura já preceitua, e isso promove a saúde da igreja.

Quando nos aceitamos uns aos outros da maneira que Cristo nos aceitou... as mudanças de vida operadas na vida do meu irmão são claramente reconhecidas como uma obra de Deus e não resultado de abuso de autoridade e coerção, e isso é dar a Cristo a glória devida ao seu nome.

Se queremos preservar a unidade do Espírito, um bom caminho, sem dúvida, é sermos diligentes em nos acolhermos uns aos outros, assim como Cristo nos acolheu: por amor.

* Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).

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