25 novembro 2013

Aceitem-se uns aos outros... Como Cristo os aceitou



Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rom 15:7 

INTRODUÇÃO

Os primeiros anos da vida da Igreja de Jesus foram marcados, entre outras coisas, pela tensão entre os convertidos de origem judaica e os demais convertidos (chamado pelo judeus de gentios).

Os apóstolos que estiveram com Jesus (Pedro, Tiago, etc) durante os seu ministério se voltaram para a pregação e o ensino aos judeus, enquanto Paulo, que foi alcançado por Cristo depois, voltou-se para o mundo não judeu. Através de suas viagens, foi principalmente Paulo que levou ao resto do mundo a mensagem do evangelho de Cristo: que Deus estava disposto a receber as pessoas em Sua família adotando-as como seus filhos mediante a fé em Jesus Cristo.

Acontece que a pregação de Paulo não era completamente aceita por alguns seguidores de Jesus de origem judaica. Eles entendiam que os costumes e as leis que faziam parte do judaísmo há séculos também deveriam ser observados pelos seguidores de Jesus, mesmo se eles não fossem judeus.

Uma das questões que eram debatidas entre eles era sobre o tipo de comida que era permitido comer. Em volta dos templos pagãos havia um intenso comércio de carnes oriundas dos sacrifícios aos seus deuses, e os seguidores de Jesus de origem judaica acreditavam que era errado, um pecado mesmo, comer daquela carne; por outro lado, muitos seguidores gentios não pensavam dessa forma e achavam normal comprar e comer da carne sacrificada aos ídolos. 

Foi nesse contexto de tensão que Paulo afirmou no capítulo 14 que não fazia sentido rejeitar o irmão por causa daquilo que ele come ou bebe, porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Em vez disso, eles deveriam respeitando as diferenças que existiam entre eles.

A notícia bombástica do evangelho pregado por Paulo era que tanto os judeus que rejeitaram o Messias e o crucificaram quanto os gentios quem nem sabiam da existência de um salvador, foram acolhidos por Cristo.

Ora, se Cristo, o filho de Deus, aceitara a todos não havia motivos para eles se rejeitarem mutuamente. Paulo, então, conclui no verso 7 do capítulo 15 (o nosso texto) pedindo aos irmãos de Roma que aceitem-se uns aos outros como Cristo nos aceitou.

Mas COMO foi que Cristo nos aceitou?

Quem gosta de estudar a língua portuguesa, a “Última flor do Lácio, inculta e bela”, como afirmou Olavo Bilac, sabe que os verbos são de grande importância na construção do nosso idioma. Eles indicam a ação que está acontecendo. Mas, arrisco-me a dizer que tão importante quando os verbos são os advérbios, capazes que são de qualificar as ações. Os advérbios dizem como, e isso pode fazer toda a diferença.

Por isso vou usar dois advérbios para esclarecer COMO fomos aceitos por Cristo:

ALTRUÍSTICAMENTE

Nossos dias são marcados por relações utilitárias. Muito do que fazemos é avaliado levando em conta o benefício que se pode obter com nossas ação. O primeiro COMO de nossa aceitação por Cristo é um contraponto dessa cultura: Cristo nos aceitou altruisticamente.

Para perceber esse COMO é preciso relembrar que Jesus nos convidou para andarmos com ele quando nós estávamos “mortos em nossos delitos e pecado”, isto é, não havia absolutamente nada de bom em nós capaz de dar razão a esse amor. Foi assim que fomos aceitos por Cristo, altruisticamente.

Você NÃO foi aceito porque é gente boa, cumpridor dos seus deveres, correto em suas obrigações. Não é nada disso! Você foi atraído por Deus, convencido pelo Espírito Santo e convidado pelo Filho a fazer parte da família de Deus sem que houvesse qualquer expectativa sobre sua bondade.

Vinde a mim todos os que estão cansado e sobrecarregados e eu os aliviarei... vinde a mim e encontrareis descanso para as vossas almas.

Esse convite singelo de Cristo deixa claro o tipo de pessoa que foi chamada para festa da salvação: gente cansada de si mesmo e sobrecarregada com as exigências religiosas; gente cuja a alma clama por alívio; gente falida e sem esperança; gente de quem não se espera nada em troca.

Meus irmãos, o fato de Cristo ter-nos aceitado assim, do jeito que nós somos e sem esperar nada em troca do seu amor, é um golpe mortal em qualquer esforço de justiça própria diante de Deus.

Se a salvação é uma grande festa, como ilustrou Jesus, você é um convidado ilustre que não fez absolutamente nada para receber esse convite. Você não está na festa de penetra ou por esforço próprio. Você foi convidado pelo dono da festa! Ele o chamou quando você estava exausto de tentar fazer a vida funcionar. Então ele tirou de sobre seus ombros os trapos de justiça própria, vestiu-lhe as roupas apropriadas da Graça e deu-lhe um lugar de honra. Tudo isso sem esperar absolutamente nada em troca!

Não importa seu passado obscuro, nem seu presente confuso. Quando você respondeu sim ao convite de Cristo, se tornou parte da grande família de Deus. A festa é para você!

Ao aceitar você assim, altruisticamente, Deus o está livrando do engano de achar que isso tudo tem alguma coisa a ver com seu esforço ou com algum mérito pessoal. É pura Graça precedida de misericórdia! Por isso, você não precisa continuar levando nas costas o fardo de “fazer por onde” ser aceito por Deus. Você está livre para viver a vida abundante que Ele preparou.

IRREVOGAVELMENTE

O segundo COMO da nossa aceitação por Cristo é Irrevogavelmente.
Ele nos aceitou de forma definitiva. Jesus não é o tipo de pessoa que primeiro acolhe e depois rejeita. A condição de filho que Ele lhe deu NÃO é revogável. Isso porque você foi aceito não com base naquilo que você é capaz de fazer, mas com base no amor do Pai por você, que não muda. Certa vez, Jesus afirmou:

Todo o que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. (...) Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia". João 6:37,40 

Essa aceitação irrevogável é maravilhosa! Ela nos deixa seguros, tranquilos e nos enche de gratidão. O amor de Deus não volta atrás!

Há muita gente por aí ensinando que o amor de Deus por nós vai e vem dependendo dos erros e acertos que cometemos na vida. Eles defendem a ideia de que nossa vida é constantemente pesada numa espécie de balança para ver se somos dignos de sermos aceitos por Cristo. Isso não é o evangelho de Jesus!

É claro que esse amor irrevogável de Deus jamais deve ser motivo para uma vida descomprometida com os valores do Reino. Ao contrário é um chamado para vivermos vidas bonitas, que honram esse amor.

Deus o aceitou irrevogavelmente porque Ele deseja que seu coração encontre paz e descanso por meio da confiança no amor dele por você; um amor que não volta atrás. Assim, você não precisa ficar com medo de ser expulso da festa porque quebrou um copo de cristal ou pisou no pé de alguém. Por causa desse amor irrevogável, você está livre para viver a vida abundante que Ele preparou para você.

CONCLUSÃO

Para concluir vamos voltar ao começo, por que acho que já encontramos nossa resposta para o COMO de nossa aceitação por Cristo e assim poderemos refletir melhor sobre as palavras de Paulo.

Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rom 15:7 

Cristo nos aceitou altruística e irrevogavelmente, isto é, o amor dele por nós não espera nada em troca nem desiste no meio do caminho. Será que podemos nos aceitar uns aos assim? É um grande desafio, mas temos a garantia de que o Senhor estará com a gente a cada passo.

Um dos aspectos desse desafio é rever a forma do nosso relacionamento com Deus. Se você guarda consigo resquícios das religiões baseadas na justiça própria, é possível que esse mesmo modo de se relacionar com Deus se reproduza nos seus relacionamentos com as pessoas.

Assim, quem acha que deve “fazer por onde” ser aceito por Deus guarda sua aceitação apenas para aqueles que considera dignos de serem  aceitos. Esse é o terrível jogo da justiça própria, em que andamos por aí com réguas para “medir” o esforço uns dos outros, para ver quem merece ser aceito. Nesse jogo, Graça e Misericórdia são palavras desconhecidas.

Basta que o irmão pise na bola uma vez para que seja colocado sob observação. Nas segunda pisada de bola, cartão amarelo. Na próxima, cartão vermelho! Tá fora do nosso grupo.

Permita-se ser transformado pela renovação da sua mente. Se Deus o aceitou sem esperar nada em troca, sabendo o seu estado de morte espiritual, que direito você tem de rejeitar seus irmãos em Cristo quando eles não correspondem as suas expectativas?

Entenda uma coisa: você e seu irmão podem pensar diferente, você pode não gostar do jeito com ele vive a vida... Discordar do jeito que ele age na igreja... Mas você não pode rejeitar aquele que Jesus aceitou. Ele é seu irmão porque foi gerado pelo mesmo Pai, não por uma questão de opção sua ou dele.

Vocês tem confiado em Jesus Cristo, e por isso todos vocês são filhos de Deus... Assim que não importa se são judeus ou gentios, se são escravos ou livres, ou se homens ou mulheres. Se estão unidos a Jesus Cristo, todos são iguais. Gl. 3:26,27 BLS

Outro aspecto do desafio de aceitar-nos uns ao outros como Cristo nos aceitou é a nossa inconstância. Jesus deixa bem claro que o amor dele por nós não tem volta. Por que o nosso amor pelas pessoas oscila tanto? Outra vez quero convidá-lo a refletir sobre a forma do seu relacionamento com Deus para só depois pensar sobre a maneira que você lida com as pessoas.

O ponto de partida novamente são as religiões baseada na justiça própria cujas crenças podem estar entranhada em sua mente. Se alguém acredita que o amor de Deus está condicionado aos seus “acertos”, é bem provável que sua espiritualidade seja uma verdadeira montanha russa, cheia de altos e baixos.

Li a Bíblia esta semana.... Deus me ama! A montanha sobe.
Gritei com minha mulher... Deus não me ama! A montanha desce.
Perdoei a traição de uma amigo... Deus me ama! A montanha sobe.
Menti para um cliente... Deus não me ama! A montanha desce.

Quem vive um relacionamento deste tipo com Deus, provavelmente reproduz a mesma coisa nos relacionamentos com as pessoas. E do mesmo jeito que se sente inseguro a respeito do amor de Deus, o amor que têm pelos irmãos é também instável e inconstante.

Permita-se ser transformado pela renovação da sua mente. O amor de Deus por você não tem volta. Cristo o aceita mesmo conhecendo o sobe e desce da sua vida. Esse amor de Deus é o combustível de que você precisa para aceitar seu irmão a despeito do sobe e desce da vida dele.

Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?

Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós.

Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: "Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro".

Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Rom 8:31-39 

Há um hino antigo que diz assim:

Não sei por que de Deus o amor
A mim se revelou,
Por que razão o Salvador
Pra si me resgatou.
Mas eu sei em quem tenho crido,
E estou bem certo que é poderoso
Pra guardar o meu tesouro
Até o dia final.

Aceite o amor gracioso e constante de Deus por você! Abasteça-se desse amor. Assim haverá amor de sobra para amar os irmãos.

Hoje é um dia especial. Você percebeu aspectos da sua vida com Cristo que precisam ser ajustados. Se você deseja iniciar uma nova fase na maneira como você se relaciona com Deus e com seus irmãos, venha até aqui para orarmos juntos e pedirmos a ajuda do Pai.

21 julho 2012

Conhecendo Deus pela experiência da fé


Percebi, se não estou enganado, que você considera como principal problema a ser enfrentado por uma pastoral comunitária a falta de respostas adequadas aos questionamentos apresentados. Certamente o despreparo das famílias e das comunidades de fé para lidar com algumas questões é preocupante.

No entanto, fico a pensar que é tão ou mais danoso ao amadurecimento da fé (e da imagem de Deus) a inclinação de famílias e comunidades de fé para oferecer respostas prontas, certas e muitas vezes fechadas ao diálogo. Penso que há um caminho árduo e com resultados recompensadores que tem sido desprezado: o da construção do conhecimento de Deus pela experimentação pessoal da fé. 
Explicando em partes: 

Construção: acho que o adolescente (principalmente ele, mas, de uma forma geral, todos nós também) carece de um espaço de reflexão sobre a fé "herdada" das gerações anteriores. O adolescente precisa construir sua própria fé, por mais doloroso que isso possa ser para ele e para aqueles que o cercam. Isso implica perguntar, indagar, questionar, duvidar e colocar em cheque todo seu sistema de fé, até então meramente copiado dos adultos que lhe serviram de referência.

Acontece que muitos dos adultos que deveriam lidar com tudo isso e agir como parceiros nessa construção são, eles mesmos, inseguros, têm pouca habilidade para interagir com questionamentos e foram ensinados a agir com guardiões da verdade, reprimindo todo e qualquer atitude que se pareça como ameaça ao status quo religioso que defedem.

No entanto, o único caminho para alguém se apropriar da fé, transformando-a em pessoal, é testá-la ele mesmo, esticá-la e virá-la pelo avesso até que ela se torne sua; caso contrário, será sempre a fé de outrem e estará sempre a um passo de ser abandonada.

Conhecimento de Deus: aqui acho que temos também um longo caminho a percorrer. Digo isso porque entendo que muitos de nós nos tornarmos experts em conhecimento SOBRE Deus, mas ignorantes quanto ao conhecimento DE Deus. Deus tem sido esquadrinhado, não experimentado; Ele é uma explicação (às vezes tosca), não uma companhia na caminhada.

Quando nos propomos a "encher" a mente de jovens e adolescentes com conhecimento sobre Deus, pensando que assim estamos fazendo o melhor para o seu bem, corremos o risco de estabelecer um padrão relacional ancorado na mera racionalidade, um padrão fragilíssimo para enfrentar o mundo em que vivemos.

Experimentação pessoal da fé: lembro-agora de Jó e sua afirmação: antes eu te conhecia de ouvir falar, mas agora meu olhos te vêem. Acho que Deus, por nos conhecer a fragilidade, acompanha nossos estágios de compreensão e experimentação da fé. Ele aguarda por nós e nos alcança com a linguagem que compreendemos dentro contexto que vivemos e nas limitações do nosso desenvolvimento. Infelizmente, não somos assim tão respeitosos com nossos irmãos e temos a perniciosa tendência de esperar e desejar respostas padronizadas.

Acho que precisamos permitir que jovens e adolescentes trilhem sua própria caminhada de fé e aprendam, cercados do carinho, fazendo suas próprias perguntas, questionando e enfrentando respostas maduras em ambientes tolerantes e sensíveis.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Contribuições teológico-pedagógicas para uma pastoral comunitária". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

Como se vive relacionamento com Deus?


Parece-me que a ênfase expansionista tem-nos levado a um ativismo sem precedente em torno de mega-eventos e em honra a personalidades. Isso ocorre em detrimento da necessidade básica de nos ensinarmos mutuamente, através do exemplo, como se vive uma vida de comunhão e relacionamento com Deus.

Ora, se Deus não é uma realidade experiencial para os discípulos de quem se espera maturidade, o que podemos esperar de jovens e adolescente? Se homens e mulheres com décadas de caminhada cristã são incapazes de apresentar sua fé em uma conversar informal de um contexto pluralista, o que vamos cobrar de nosso jovens e adolescentes?

Acho que são aqueles a quem Deus concedeu dons e autoridade que devem tomar a iniciativa de conduzir as comunidades de fé das quais participam à maturidade; e isso inclui especialmente os jovens e adolescentes. Penso que esse é o pensamento de Paulo ao afirmar:

"Ele concedeu dons de apóstolo, profeta, evangelista e pastor-mestre para treinar os seguidores de Cristo, para que haja um serviço de qualidade no corpo de Cristo, a igreja. Ele fez isso para que todos possam trabalhar juntos em perfeita harmonia e sintonia, numa resposta cheia de gratidão e dedicação eficiente ao Filho de Deus, como adultos plenamente maduros, plenamente desenvolvidos, plenamente cheio de vida, como Cristo. Chega de ser criança. Não dá para tolerar gente ingênua, bebezinho que são alvos fáceis dos impostores. Deus quer que cresçamos, conheçamos toda a verdade e a proclamemos em amor - à semelhança de Cristo, em tudo." Ef. 4:11-15 AM

É necessário que uma mescla equilibrada de conhecimento sobre Deus e conhecimento de Deus faça parte de nossa tarefa pedagógica. Precisamos ensinar (e aprender) como andar com Deus, não apenas a fazer uma lista de coisas a respeito dele. E precisamos começar "ontem", porque o amadurecimento não tem pressa. Gente não amadurece como banana.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Analfabetismo religioso e a mudança de imagem de Deus". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

19 julho 2012

Fé, família e igreja


Acho um risco colocar nos "lombos da igreja" uma responsabilidade que me parece ter sido delegada à família desde o tempos antigos da lei. É no contexto natural da vida, quando os dilemas e questionamentos de fé realmente surgem, que o ensino sobre quem é Deus e de como Ele se relaciona conosco toma corpo e pode ser experimentado por crianças, jovens e adolescente dentro dos limites da compreensão de cada um.

Um dos riscos que vejo quando despejamos a responsabilidade pela formação da vida de fé das crianças e adolescentes na "igreja" é a despersonalização dessa responsabilidade. Pais e mães, então, podem "descansar" porque a instituição igreja e seus programas educacionais darão conta do recado. Tenho visto muitas famílias fracassarem ao abdicar suas responsabilidades em favor da "igreja".

Outro risco que percebo é que, ao assumir a total responsabilidade quanto à educação religiosa de pais e filhos, a "igreja", através da atuação de seus líderes, pode produzir um processo de infantilização dos membros adultos da comunidade; pais e mães são esvaziados de seu inalienável papel pedagógico e se tornam meros coadjuvantes em um processo educacional que muito provavelmente será pautado pela dependência e submissão emocional aos líderes religiosos.

Por outro lado, acho que, como parte de uma comunidade de fé (E o que é um comunidade de fé, senão um agrupamento de famílias?) todos somos responsáveis uns pelos outros. Isso porque nossos exemplos de vida e a maneira como nos relacionamos com Deus e uns com os outros está efetivamente construindo os referenciais da vida de fé de nosso filhos.

A mim, parece-me razoável compreender a comunidade de fé como cooperadora com a família, mas nunca como responsável pela formação de fé de crianças e adolescentes. Se há uma responsabilidade pedagógica realmente a ser exercida no contexto do Corpo de Cristo, diz respeito à preparar-nos mutuamente para a autonomia e a liberdade em Cristo que advém de um relacionamento sadio com Deus.




Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Vitimização e desigualdades são faces da mesma moeda". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

Inclusão e controle


Um aspecto que considero positivo é exatamente a clarificação da terrível estratégia de exclusão generalizada para assumir o controle do processo de inclusão. Transformar em situação padrão a não participação (exclusão) das pessoas no bem-estar que Deus, a partir dos recursos naturais, franqueou a todos e em seguida se apresentar como quem inclui os excluídos (é claro que conforme seus próprios critérios) é uma estratégia de controle e manutenção de poder; não se trata de situação restrita aos sistemas políticos e modos de produção.

A mesma situação acontece no contexto da igreja quando o sacerdócio universal do crente é apagado do ensino prático da igreja, o sacerdotalismo (católico e evangélico) é considerado como padrão, e, em seguida, os sacerdotes-pastores apresentam políticas de inclusão e participação dos leigos. Como assim "inclusão"? O véu do templo foi rasgado de cima abaixo? A exclusão não foi banida da cruz e essa coisa de clero/laicato não foi partida em pedaços no gólgota? No entanto, são considerados avançados e beneméritos os sacerdotes que incluem os leigos. E aqueles que trabalham em prol da inclusão 
são os visionários, mesmo reforçando o paradigma de controle e poder .

Essa mesma estratégia leva alguns servidores públicos a criarem dificuldade para vender facilidade. O cidadão tem direitos assegurados em lei mas os desconhece (ou insanamente não se importa com eles). Os direitos, então, são "apagados" da relação servidor-cidadão como forma de controle da situação e manutenção de poder. A partir daí o servidor público que "conceder" aqueles mesmo direitos passa a ser "o cara" (mesmo tendo ele extirpado o direito do cidadão, concedendo-o em conta-gotas conforme o seu próprio critério). Os espertos, então, são aqueles que conhecem a pessoa certa para fazer-lhes um favor (reforçando o falso paradigma de controle e poder).

De forma idêntica, se a Diaconia, no contexto da fé cristã, esquecer que seu trabalho é restabelecer o direito natural ao bem-estar (a despeito dos regimes e políticos e modos de produção) e transformar-se em mero benfeitor da estratégia sistêmica de manutenção de poder pela pseudoinclusão, estaremos tão somente reproduzindo o modelo deste mundo; isso sim é mundanismo.

Jesus alertou seus discípulos que começavam a disputar o poder no colégio apostólico dizendo que o modo de ver o outro que se tornou padrão neste mundo é o da dominação, mas que no Reino dele é diferente; a relação que tem valor é a do serviço mútuo, porque essa é coerente com o direito natural de bem-estar concedido ao ser humano e que estava na mente do criador.


Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Diaconia e Cuidado" tendo como assunto "A nova mentalidade do 'moderno colonizado' ". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

Diaconia: aprendendo com o passado


Síntese do texto "Diaconia e cuidado: testemunhos dos primeiros séculos do cristianismo" escrito por Rodolfo Gaede Neto. Produzido dentro dos limites de forma exigidos pela EST - Escola Superior de Teologia como requisito da disciplina Diaconia e Cuidado. 

A proposta do texto é apresentar diferentes formas de “solidariedade e amor ao próximo” presentes na vida da igreja durante os primeiros séculos de sua existência. A relação das diferentes expressões é ampla e inclui itens como o sepultamento, que dificilmente seria identificado como expressão de amor e solidariedade em nossos dias.

Ágape

As refeições comunitárias realizadas pela igreja, que incluíam a celebração da Ceia do Senhor, era um dos elementos importantes na vida da comunidade cristã. Nos Ágapes as pessoas levavam alimentos e outros bens para partilhar e assim suprir os mais necessitados. Além disso, as reuniões faziam parte da prática hospitaleira da igreja, que acolhia os irmãos em viagem (a expansão do evangelho com os apóstolos apoiou-se nisso). Os Ágapes, antes de serem separados da Ceia do Senhor, possuíam a virtude de incluir as dimensões social e mística do amor.

Socorro em epidemias

São muitos os registros históricos que dão conta do trabalho realizado pelos cristãos durante as epidemias que varreram o mundo antigo. Enquanto outros abandonavam os seus para morrerem, os cristãos cuidavam sem distinção de cristãos e não-cristãos. Muitos irmãos morreram ao se exporem no ampara aos infectados e cuidado dos moribundos. Vários líderes se destacaram na organização desta ajuda, mas foi o povo cristão que se entregou em sacrifício vivo para oferece um pouco de dignidade àqueles que sofriam com a peste.

Hospitalidade

Em comunidades nas quais praticamente inexistia um sistema de hotelaria, a hospitalidade era prática comum (e desejada) entre os cristãos. Sem esse acolhimento era certo que os viajantes em trânsito dormiriam ao relento, ralves sem comida e expostos ao frio. A hospitalidade entre os cristãos certamente tem como pano de fundo as orientações veterotestamentárias, mas se fortaleceu e consolidou a partir da decisão dos irmãos de abrir suas casas e torna-las em locais de encontro e convívio, verdadeiras igrejas caseiras.

Caixa comunitária

Entre os cristãos do primeiro século, a partilha de bens não era algo obrigatório, mas espontâneo. Aqueles que desejavam doavam o que bem lhes parecia para servir de suporte aos necessitados. As doações eram recolhidas à “caixa comum” da comunidade. Eram contribuições livres e costumavam ser modestas. Segundo Tertuliano, as doações eram usadas para alimentar os pobres, sepultar os indigentes, socorrer os órfãos e as viúvas, sustentar os escravos idosos e amparar os náufragos, além de ajudar os que sofriam nas minas, ilhas e prisões.

Coletas

O cuidado dos cristãos em cada comunidade nos primeiros séculos se estendia às necessidades das outras comunidades espalhadas pelo mundo. Foi assim que muitas vezes foram realizadas coletas para enviar recursos aos irmãos que passavam por necessidades em outras cidades. Essa expressão de amor e unidade encontra-se exemplificada no relato da campanha que Paulo realizou entre as comunidades da macedônia (de origem gentílica) para amenizar o sofrimento dos irmãos de Jerusalém (de origem judaica).

Sepultamento

A ausência de um sepultamento digno não era incomum no contexto experimentado pela igreja dos primeiros séculos e assim como hoje era tido como algo vergonhoso e lamentável, punitivo mesmo (como no caso dos romanos que negavam aos parentes os corpos dos mártires executados). Neste contexto, os cristãos muitas vezes entenderam como Missão prover os pobres e desvalidos de um pouco de dignidade depois de suas mortes. O entendimento de que o corpo do ser humano criado por Deus às sua imagem e semelhança merecia respeito mesmo depois da morte levou os cristãos a fazer algo a respeito. Havia comunidades inteiras comprometidas com isso, mas, sobretudo, individualmente era que cada cristão fazia o que estava ao seu alcance, havendo entre os mais abastados quem abrisse seus sepulcros particulares para abrigar o corpo daqueles que nada possuíam.

Posicionamento Pessoal

Considero o texto um belo resgate das práticas experimentadas pela igreja em seus anseios por seguir os passos de Cristo, imitando seu procedimento. É impressionante a variedade de oportunidades de serviço que a igreja encontrou em meio a contextos adversos, humilhantes e opressores, ratificando o entendimento de que bem-estar e individualismo conjugados raramente produzem pessoas capazes de atitudes de honradez e dignidade.

Dentre as várias questões poderiam ser destacadas, quero apontar para uma comparação entre a destinação prioritária dos recursos da igreja naqueles primeiros dias e a forma como ocorre hoje.

Vê-se claramente que a igreja de então, mesmo pobre e sem muitos recursos, decidiu que o pouco que tinha seria destinado prioritariamente a ajudar, socorrer, apoiar, suprir, alimentar e, de várias formas, restaurar a dignidade inerente ao ser humano criado por Deus. Não havia espaço na mente daqueles irmãos para copiar as estruturas religiosas ou a suntuosidade dos cultos pagãos existentes à época. Não havia o desejo de formar e sustentar uma casta sacerdotal ou de erigir monumentos arquitetônicos em homenagem à fé.

Aqueles irmãos encontraram as brechas (que eram muitas) deixadas pela sociedade quanto ao usufruto do bem-estar concedido por Deus e agiram em prol das pessoas em atitude amor e consideração. O cenário pode ser diferente, mas a situação é a mesma: a concentração de poder e de recursos naturais nas mãos de poucos priva os demais de experimentar a vida abundante desejada por Deus. O que faz a igreja? Alia-se ao sistema opressor e sai em busca do seu naco de bem-estar? Ou revoluciona a história e rompe o paradigma em loucas expressões de amor, respeito e dignidade? Há muito aprendizado necessário à igreja de nossos dias na mera leitura da história e dos exemplos daqueles irmãos.

Diaconia e Cuidado


Síntese do texto "Uma reflexão sobre o voluntariado" escrito por Márcia Paixão. Produzido dentro dos limites de forma exigidos pela EST - Escola Superior de Teologia como requisito da disciplina Diaconia e Cuidado

Referências históricas

Começando pelas confrarias do deserto (ativas 3 mil anos antes de Cristo) e terminando pelas associações voluntárias no Brasil do século XIX, a autora procura relacionar referências históricas do serviço voluntário.

A autora destaca que a partir da era cristã, sobretudo com a conversão do imperador romano Constantino, o serviço aos necessitados, que antes era visto como um ato de caridade ganhou uma conotação de prática religiosa. Essa institucionalização do serviço ao próximo, segundo a autora, caracterizou-se pela mera prestação de assistência, sem envolvimento com a história do sofrimento do outro.

Ressalta o texto ainda que as questões levantadas pelos reformistas na Idade Média em relação a diversas práticas eclesiais equivocadas vieram confrontar também os excessos cometidos pela Igreja em nome da caridade. Por esse tempo a igreja havia incorporado as obras de caridade e as ordens religiosas pregavam o serviço ao próximo e o desapego aos bens materiais. Com a reforma a prática da assistência ganhou novo significado com um retorno da participação leiga, recuperando este aspecto das confrarias do deserto.

No Brasil as associações voluntárias marcam presença em meados do século XIX, quando surgem também as organizações seculares de assistência.

A ação de Deus

A autora compreende que a diaconia (serviço) que liberta e promove autonomia é impulsionada pela encarnação de Deus em Jesus Cristo. Para socorrer a humanidade, Deus se fez gente e experimentou a condição humana. Essa é uma prova inconteste de seu amor. Da mesma forma somos desafiados a amar como Ele nos amou, isto é, devemos receber com gratidão o amor de Deus e partilhá-lo fazendo-nos iguais daqueles a quem pretendemos servir, respeitando sua alteridade e buscando o bem-estar e a justiça para todos.

Assim como Deus provou seu amor na encarnação, é no amor prático que os valores e a fé são demonstrados. Esse caminho remete ao aprendizado permanente, à conversão diária que encontra em Jesus o exemplo e desafio. Servir, então, é promover libertação e transformação no cotidiano da vida humana em seus mais diversos aspectos. Diferencia-se assim a diaconia motivada pelas boas notícias do amor de Deus demonstrado em Cristo do mero assistencialismo motivado pelo amor e bem-estar próprios.

O voluntariado e o bem-estar social

A autora procura estabelecer uma definição para bem-estar relacionando-o ao nível de acesso aos elementos básicos de sobrevivência, como moradia alimento, lazer, educação e trabalho, bem como ao exercício dos direitos civis. Em seu entendimento o bem-estar produz no ser humano uma relação de harmonia interna e relacional, uma vez que haja a percepção de igualdade com as demais pessoas em nossa volta.

Destaca em seguida que esse bem-estar não é experimentado por muitas pessoas, privadas de acesso àqueles elementos básicos de sobrevivência. Segundo afirma, essa privação impede que se experimente a vida plena desejada por Cristo para todos, mas pode ser amenizada pelo exercício do trabalho voluntário baseado no amor de Deus e comprometido em denunciar e transformar as estruturas que cerceiam a justiça e a dignidade humana.

Segundo a autora, o voluntariado com base no amor de Deus só será eficaz se houver coerência entre os valores de quem serve e as bases do evangelho de Cristo. Em outras palavras, é preciso que aquele que serve sonde suas próprias motivações e encontre em suas ações o desejo de libertação e transformação da pessoa servida e do ambiente limitador que a mantém privada do bem-estar. Não se trata de apenas sentir-se bem ajudando, mas de comprometer-se com o bem-estar do outro.

A diaconia do voluntariado

Neste tópico, a autora inicia fazendo diferença entre “diaconia ampla”, que diz respeito ao serviço prestado pelo crente à luz do sacerdócio universal e mediante o exercício dos dons espirituais, e “diaconia específica”, que diz respeito ao “ministério ordenado da Igreja” na figura dos diáconos chamados para “exercerem este ministério na Igreja”.

Em seguida reforça a autora seu entendimento de que o serviço diaconal não é a mera ajuda com bens materiais e alimentos, mas atuação que visa libertar da opressão. Só assim a pessoa poderá “entender e viver a graça de Deus”, já que “o sofrimento anestesia a compreensão” tornando impossível entender a graça do evangelho.

Posicionamento pessoal

De forma geral parece-me que o texto se propõe a encontrar fundamentos bíblicos para uma atuação voluntária comprometida com libertação e transformação, sobretudo social. Considero o propósito de apresentar a diaconia além do mero assistencialismo algo valoroso, mas entendo que a autora fez considerações que merecem reflexão detida e aprofundada.

Seu conceito de bem-estar é quase materialista, não havendo espaço para uma espiritualidade que sobreviva à escassez, à desigualdade ou à opressão. Ocorre que muitas pessoas convivem e iram conviver com essas situações por toda a sua vida. Não está esquecendo a autora de ponderar afirmações contundentes de Paulo sobre viver contente em qualquer situação e que ele não se deixava guiar pelas circunstâncias? Essa materialização do bem-estar parece-me levar o pêndulo para o lado oposto, sem promover equilíbrio.

Penso que ao procurar levar a diaconia além do assistencialismo a autora arrisca-se a tornar o usufruto do bem-estar dependente da ação do diácono. Assim, para entender a graça divina e experimentar vida plena a pessoa em situação de opressão depende do “serviço de libertação diaconal”. Entendo que a história da igreja demonstra sobejamente que não devemos descartar o sofrimento como veículo da Graça de Deus.

Outra questão que merece reflexão é a manutenção do paradigma clero/laicato, levando a autora a criar as categorias ampla e específica para o serviço. Vejo essa questão como um desserviço ao entendimento, já sofrido em nossos dias, quanto ao sacerdócio universal do crente.

17 julho 2012

A falácia da inclusão


Quando a busca por poder e controle estabelece a naturalidade de uma situação de exclusão, para em seguida promover a inclusão (dentro dos limites do paradigma dominante), aquele que é chamado de vítima, ao se enxergar dessa forma, reforça o paradigma que negou sua natural inclusão. Assim, perpetua a relação dominador/dominado.

Nesse espiral paradoxal quanto mais se atua na direção de incluir alguém em um sistema de dominação mais se fortalece seu modo excludente de ser. A falácia é de que a dignidade vem como resultado de fazer parte de um sistema que foi estabelecido para limitar a dignidade.

Algo parecido acontece hoje em relação à conquista da dignidade por meio do consumo. As muitas vozes em todos os meios de comunicação propalam a ideia de que finalmente a dignidade do cidadão brasileiro está sendo resgatada. A tão falada classe C, antes excluída, agora começa a fazer parte do sistema. Isso significa que estas pessoas começam a ser incluídas para ter acesso ao bem-estar quem antes lhes era negado.

A classe C agora pode comprar o que antes era apenas "sonho de consumo". Eletrodomésticos, móveis, automóveis, eletrônicos, roupas, diversão, tudo está à sua disposição, aparentemente demonstrando que "nunca antes neste país" tantas pessoas foram resgatadas da sub-humanidade para um estado de dignidade humana. É a redenção pelo consumo.

Ocorre que esse modo de vida que valida as pessoas por sua capacidade de consumo não foi estabelecido para gerar dignidade, mas para alimentar o sistema de produção existente, em que se precisa crescer sempre mais para se tornar o dominador do mercado e assim saciar a sede de lucro de seus patrocinadores. O consumo com base na necessidade foi transformado em consumismo movido por anseio de dignidade e apresentado com redentor das gentes.

Nesse caso, penso que a promoção da dignidade e da cidadania se daria pelos valores invertidos do Reino de Deus que afirmam, entre outra coisas, que a vida de alguém não consiste nos bens que ele possui, que aquele que tem o suficiente para sua subsistência (o que comer, onde morar, o que vestir...) deve abrir espaço em sua alma para o contentamento, que as pessoas devem trabalhar para ganhar o suficiente para si e para ajudar quem esteja necessitado (não para acumular), que aqueles que tem alguém a seus serviço devem pagar salários dignos (e não retê-los para si).

No entanto, é mais comum entre os que deseja incluir os excluídos agir exclusivamente na direção de prepará-los para sobreviver no sistema e dar-lhes ferramentas para fazer arrancar a parte que puderem do bolo para si mesmo e seu conforto.

Chega a ser desanimador refletir sobre este estado de coisas, mas continuo crendo que o Bem prevalecerá e um dia, e cada vez mais, as estratégias de poder e dominação que negam o projeto de Deus para a humanidade serão expostas e ridicularizadas por Cristo, suas palavras e seus seguidores.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Diaconia e Cuidado" tendo como assunto "Vitimização e desigualdades são faces da mesma moeda". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

15 julho 2012

Sacerdotalismo Evangélico


Começo refletindo sobre o contraponto da proposição: clero e povo. O fortalecimento de uma casta sacerdotal é o que há de mais contrário a evangelho libertador de Cristo. Ressalto a questão pelo fato de entender que a simples necessidade de considerar o assunto dessa forma revela quão distante estávamos na época colonial e estamos hoje de experimentar as boas novas do Reino.

O cristianismo colonial luso-brasileiro, a despeito do entendimento de alguns, não inventou nada. Tão somente é herdeiro de uma mentalidade sacerdotal que dominou a religiosidade humana desde épocas imemoriais, serviu de arcabouço e esboço de fé na aliança de Deus com o judeus e foi reformada em Jesus a partir de seu entendimento de que não importa se a adoração é no monte ou no templo em Jerusalém (sob orientação sacerdotal); mas sim que seja em espírito e em verdade.

Nessa abordagem destaco os papéis ativo e passivo destinados respectivamente ao clero e ao povo. O sacerdotalismo bem pode ser visto como uma estratégia de manutenção de poder. É o sacerdote que sabe como a adoração deve ser feita, porque é ele quem sabe como Deus é e como gosta que as coisas aconteçam, portanto ele que está no controle; é o sacerdote que conhece os rituais, os sons, as cores, as palavras que devem e podem ser ditas, o que é bom e o que é ruim, portanto é ele quem deve conduzir o culto; é o sacerdote quem fala do jeito que Deus entende e por isso é ele quem fala com Deus. Ao povo compete a passividade de cumprir as orientações sacerdotais e tentar fazer tudo certinho, torcendo para que Deus não fique irritado caso alguma coisa saia diferente do esperado.

Não devemos nos enganar: o sacerdotalismo não é prerrogativa do catolicismo hierárquico e institucionalizado. Esteve presente nos povos antigos, entre os judeus e tem forte presença na igreja brasileira dita evangélica (reformada, pentecostal ou neo-pentecostal). Quem fala? Quem ensina? Quem ora? Quem se veste diferente? Quem tem destaque sobre os demais? Quem deve ser respeitado mais que os outros? Quem tem as palavras mais sábias? Quem deve ser seguido? O sacerdote!

Penso que a multiplicidade de dons e ministérios na efervescente e libertada igreja neotestamentária foi aos poucos sendo sufocada pelo retorno de um sacerdotalismo que, mesmo ferido de morte pelas palavras e vida de Cristo, ressurgiu alimentado pela natureza caída de um ser humano prepotente e sedento de poder. 

Quando a Graça multiforme de Deus, concedida pelo uso dos múltiplos dons do Espírito na diversidade da igreja é substituída pela confiança em um superministro sacerdotal que concentra em si a comunicação e o acesso à presença divina, a igreja sofre imensamente (como tem sofrido e parece que ainda irá sofrer por algum tempo), subsistindo aquém daquilo que o seu Senhor pensou para ela.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "História da Igreja na América Latina" tendo como assunto "Religiosidade, Piedade e Teologia na Época Colonial". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

O elefante da salvação


Penso que um elemento comum à diferentes igrejas cristãs no Brasil é a salvação. Cada uma observa e entende a salvação por um prisma particular e apresenta-se como defensora e promotora da sua salvação.

Assim, se alguém deixa de beber e fumar para preservar seu corpo, foi salvo; se uma comunidade passa a valorizar a vida humana acima do dinheiro, foi salva; se valoriza a dimensão espiritual e busca uma experiência de transcendência, foi salvo; se defende a vida em suas expressões mais frágeis, foi salvo; se reconhece a responsabilidade de cuidar do planeta, foi salvo.

É como se todos estivessem tateando o grande elefante da salvação (como na história dos cegos) e o descrevendo pelas partes. Tudo isso é salvação, ou melhor, tudo isso resulta de salvação.

Então, um grande desafio para a proclamação do evangelho seria admitir que todos somos parciais em nossa compreensão da salvação, mas todos a desejamos para nós e para os que nos cercam. Cada igreja promove aquilo que acha razoável para explicar e convencer a respeito da salvação que percebe mas, muitas vezes, o faz negando ou diminuindo o entendimento alheio, o que em nada ajuda à compreensão dessa tão grande salvação.

Penso que muito do que entendemos e apresentamos como salvação decorre de uma transação que conhecemos apenas em parte. Algo que não está em nossa dimensão, embora que seus sinais e marcos tenham invadido a humanidade na pessoa de Cristo. Quem sabe, então, se nos detivéssemos a explorar essa tão grande salvação, compreender e experimentar os seus aspectos multifacetados, passaríamos a percebê-la mais presente operando na vida daqueles que nos cercam e a proclamação seria uma grande orquestra de sons harmoniosos.

Quem sabe se a salvação da confissão se juntasse à salvação da espiritualidade e à salvação revolucionária à salvação da proclamação e a todas a demais teríamos boa chance de impactar nossa geração com as boas notícias do Reino de Deus.


Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "História da Igreja na América Latina" tendo como assunto "Religiosidade, Piedade e Teologia na Época Colonial". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

Hipertrofia do ministério pastoral?


Suas perguntas, Daniel, são pertinentes e estão inseridas em um contexto específico: este no qual os pastores se tornaram uma espécie de parte do corpo do Cristo que cresceu além do que lhe estava reservado, tornando o corpo desproporcional e necessitando de cuidados extras.

Sobre os pastores repousam responsabilidades que, no meu entender, deveriam ser cumpridas por outros membros do corpo de Cristo. Onde estão os profetas, onde estão os mestres e evangelistas? Onde estão os que têm dom discernimento e sabedoria? Nós não os encontramos mais e, porque a função que eles exercem são necessárias ao corpo, esperamos que o superministro do evangelho supra tudo. Para isso, é claro, é necessário "tempo integral" dedicação exclusiva para fazer tudo muitos outros deveriam fazer.

Abandonados os mandamentos recíprocos e o sacerdócio universal do crente, voltamos ao sacerdotalismo e, neste caso todas as suas perguntas precisam ser respondidas. No entanto, como seria se decidíssemos convidar o Espírito a suprir sua igreja com homens e mulheres com os mais diversos dons e habilidades necessárias ao crescimento do corpo em amor? Como seria se ao reunir-se a igreja um tivesse um salmo, outro um cântico, um outro o testemunho e ninguém, senão o Cristo vivo fosse o centro de tudo o que acontece?

O seu raciocínio quanto à necessidade do carro para visitar irmãos em diversos hospitais espalhados pela cidade é o mesmo usado pelos televangelistas para aquisição de seus jatinhos. Como eles poderão deslocar-se a tempo de atender aos compromissos espalhados pelo país a fora? Mas a pergunta deveria ser por que a igreja alça algumas pessoas e as coloca sobre pedestais, considerando-as acima dos mortais comuns e responsáveis por fazer acontecer a igreja?

Por que continuamos transformando nossos líderes em âncoras da nossa fé, quando Jesus explicou que não devemos colocar ninguém nessa posição? Será que não esta na hora de reconhecermos os danos que a hipertrofia do pastorado tem causado à igreja de Cristo e retornamos ao ministério do Espírito através da multiplicidade da graça de Deus?

Entendo que se os paradigmas forem mudados as perguntas serão outras e os problemas a serem enfrentados também mudarão. Assim, quem sabe, todos terão o direito de viver com simplicidade, não miseravelmente, mas grato com o que é necessário para uma vida de testemunho e anunciação do Reino de Deus.


Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "História da Igreja na América Latina" tendo como assunto "Religiosidade, Piedade e Teologia na Época Colonial". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

14 julho 2012

Cruzadas Pós-Modernas


Entendo que o Jesus guerreiro das cruzadas medievais era tão somente um ícone, uma bandeira sob a qual se aliaram os poderes econômico, político e religioso.

A igreja, seduzida pelas oferendas do dinheiro e do poder, forjou um Cristo violento ao invés daquele que orientou a oferecer a outra face; um Cristo interessado em conquistar e expandir um império ao invés daquele que afirmou que seu Reino não é deste mundo; um Cristo cuja a aparência é semelhante aos que dominam ao invés do Cristo que tinha a cara dos dominados.

Quando seguir a pessoa de Jesus é substituído por usar a imagem do Cristo, saímos da dimensão do "Reino de Deus" para entrar naquilo que poderia ser chamado de reino dos crentes, no qual a imagem de Cristo é volúvel e se apresenta conforme as necessidades de expansão dos negócios do reino.

Assim, o Jesus de alguns crentes em nossos dias é aqueles que está interessado em expandir as fronteiras denominacionais como uma espécie de defensor da ortodoxia doutrinária. É um Jesus estudado, intelectual, aristocrata que domina pela superioridade dos argumentos teológicos.

O Jesus aristocrata não sente a dor dos pequenos, pobres e oprimidos pelos pecados seus e do mundo. Ao invés de lamentar pelo povo, como aquele dos evangelhos, porque são como ovelhas sem pastor, o guerreiro da ortodoxia reforça a doutrina relembra a importância de se conhecer o modo certo de crer e as coisa certas em quais se deve crer.

Outra imagem é a do general, que guerreará pelos seus e os colocará em posição de superioridade; como cabeça e não como calda. O Jesus guerreiro que defende os seus com força e poder e por isso "mil cairão ao seu lado e dez mil a sua direita" mas os seus não serão abalados. É um Jesus adepto da filosofia: "aos amigos tudo; aos inimigos a lei".

Ao Jesus guerreiro pede-se vitória em concurso público mesmo se a pessoa não tiver estudado; pede-se que o guarda não multe o ônibus sem condições, que leva os irmãos ao acampamento; clama-se para que a fiscalização seja complacente com a falta de autorização para realizar um show gospel em espaço público. Afinal ele está do lado dos crentes.

Percebo que todo desvio, mesmo que seja leve, da imagem pela qual Cristo se apresentou nos evangelhos tem o potencial de instrumentalizar Cristo em prol de propósitos incoerentes com o Reino de Deus, embora alinhados com o reino dos crentes.



Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "História da Igreja na América Latina" tendo como assunto "Religiosidade, Piedade e Teologia na Época Colonial". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

A salvação dos judeus


Acho temerária toda generalização. Definir de uma tacada só o destino dos judeus não me parece um bom caminho. Veja que quando o próprio Jesus esteve entre nós muitos deles o receberam, mas outros o rejeitaram. Isso deve servir de alerta de que a salvação diz respeito ao relacionamento de cada pessoa com aquele que é a encarnação do amor de Deus. Veja como Pedro se dirige aos seu compatriotas e irmãos de fé:

Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse: "Ilustres líderes e anciãos da nossa nação, se os senhores se referem à cura realizada no paralítico, e como aconteceu, permitam que eu claramente afirme aos senhores e a todo o povo de Israel que isto foi feito no nome e no poder de Jesus de Nazaré, o Messias, o Homem que os senhores crucificaram - mas Deus ressuscitou. É pela autoridade dEle que este homem se acha aqui curado! Porque Jesus, o Messias, é Aquele a quem se referem as Escrituras quando falam de uma 'pedra rejeitada pelos construtores que se tornou a pedra principal da esquina'. Não há salvação em nenhum outro mais! Debaixo do céu inteiro não existe nenhum outro nome para os homens chamarem a fim de serem salvos". Ats 4:8-12

Parece-me, então, que Pedro está dizendo bem claro que a promessa de salvação dada por Deus aos descendentes de Abraão se cumpriu em Cristo. Logo, quando alguém que espera a promessa feita a Abraão rejeita a Cristo, virando as costas àquele que tanto esperava, certamente não se encontra em posição de requerer novo cumprimento da promessa já cumprida em Jesus.

Tratando de questão paralela, Paulo testemunha sobre a reação dos judeus (e dos gentios) de seu tempo à boa noticia de que a promessa dada ao judeus havia se cumprido com abrangência para o mundo todo, reações que me parecem presentes também em nossos dias.

"Deus, em sua sabedoria, providenciou para que o mundo nunca encontrasse a Deus através da inteligência humana. E então Ele se manifestou e salvou todos quantos creram em sua mensagem - essa mesma que o mundo considera absurda e ridícula. Parece absurda para os judeus, porque eles desejam um sinal do céu como prova de que o que está sendo pregado é verdadeiro; e é ridícula para os gentios, porque eles crêem somente naquilo que concorde com a sua filosofia e lhes pareça sábio. Por isso, quando pregamos que Cristo morreu para salvá-los, os judeus se ofendem e os gentios afirmam que tudo isso é disparate." 1Co 1:21-23.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Temas do Novo Testamento" tendo como assunto "Salvação somente por Jesus?". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

O protestantismo colonial


Síntese do texto "Temas da História da Igreja na América Latina: O Protestantismo Colonial" escrito por Wilhelm Wachholz. Produzido dentro dos limites de forma exigidos pela EST - Escola Superior de Teologia como requisito da disciplina História da Igreja na América Latina. 

Franceses Huguenotes

Depois de estabelecer as hipóteses mais comuns a respeito da história do nome huguenotes e posicionar seu surgimento no contexto da reforma protestante europeia, o autor passa a comentar os contatos ocasionais de protestantes no Brasil Colônia. Considera que nos três primeiros séculos desde a chegada dos portugueses é apenas nesses termos (contato ocasionais) que se pode falar da presença protestante em terras brasileiras.

O autor, de certa forma, justifica essa ocasionalidade ressaltando que o contexto histórico da disputa por hegemonia marítima e comercial levava consigo também a componente religiosa. Assim, o expansionismo português e espanhol trabalhava também em prol do estabelecimento de uma cristandade católica, projeto para o qual a presença protestante era uma ameaça.

A França Antártica desejada por Villegaignon era um projeto multifacetado com vários patrocinadores e interesses múltiplos. Ressalta o autor que o próprio Villegaignon era movido por fortuna e fama enquanto a França buscava terras, Calvino queria responder ao desafio missionário e Coligny ansiava por liberdade religiosa. Vê-se também que, da mesma forma que portugueses e espanhóis, os franceses atuaram como exploradores, e dessa maneira eram vistos inclusive pelos índios.

Segundo o texto, pode-se compreender que o protestantismo no Brasil deu seus primeiros passos amparado por frágeis “conversões de ocasião”, no caso, Villegaignon e Cointac. Certamente, à luz dos patrocinadores da empreitada, pareceu sensato a Villegaignon abdicar da fé católica e aderir ao protestantismo. Sua flexibilidade em matéria de fé, no entanto, não obteve resposta semelhante entre os pastores protestantes surgindo uma grave celeuma a respeito de pontos aparentemente periféricos, como liturgia e vestimenta. A convicção dos pastores protestantes e o confronto aberto que travaram com a autoridade constituída foram interpretados como séria ameaça ao status quo e reprimidos com tal.

Destaque-se que a interferência de Villegaignon nos assuntos de fé pode ter sido interpretada pelos pastores como uma ameaça precoce à liberdade religiosa ansiada pelos protestantes vindos da França, e por isso repudiada de pronto. A essa interferência, os pastores respondem com uma confissão doutrinária, um documento para dentro do ambiente religioso.

Assim, fica claro que esta primeira incursão protestante pouco tinha a apresentar quanto à missão evangelizadora do povo da terra, perdendo-se em meio a disputas internas de poder e na repetição dos embates menos brilhantes entre reforma e contrarreforma. Por outro lado, não se pode negar a importância da Confessio Fluminensis, documento produzido como afirmação de uma visão protestante sobre importantes pontos doutrinários; ainda que na época não tenha tido qualquer repercussão além da morte de seus propositores e o fim de um possível Brasil protestante.

Holandeses Calvinistas

Quanto à presença dos holandeses calvinistas no Brasil, deve-se primeiro destacar que veio a reboque dos interesses comerciais (à semelhança dos portugueses católicos) e no contexto das disputas políticas e expansionistas vigentes na Europa.

Durante 24 anos os holandeses estiveram presentes do Maranhão até a foz do rio São Francisco, inclusive ocupando cidades como Recife e Olinda, atuando através da Companhia das Índias Ocidentais. No entanto, diferente dos portugueses (e da tentativa huguenote), os holandeses adotaram como prática a tolerância religiosa, permitindo o exercício da fé judaica e católico romana.

A presença calvinista ganhou elementos de diferenciação prática pelas mãos de Maurice de Nassau. Ao mesmo tempo em que apoiava a edificação de templos e congregações, Nassau pessoalmente arregaçava as mangas e se engajava em questões práticas ligadas à vida do vilarejo de Recife. A interpretação dos moradores foi de que não havia ali o mero desejo de explorar e passaram a envolver-se pessoalmente com os projetos de Nassau.

Fiéis à tradição reformada, os calvinistas holandeses estabeleceram um atuação religiosa compartilhada, menos centrada no sacerdote. Assim, havia os anciãos para as tarefas administrativas, os diáconos para a assistência aos necessitados e os consoladores de enfermos para as visitas pastorais. À luz da concepção reformada de teocracia, os calvinistas criam na necessária interação entre ministério eclesiástico e autoridade civil, o que os levou a estabelecer instâncias políticas com atuação no âmbito das relações civis.

Também havia entre os calvinistas holandeses o desejo de cumprir a Missão. Assim, adotaram dos Jesuítas o sistema de aldeamento para alcançar o povo da terra; separando-se inclusive o um missionário para cuidar da evangelização dos indígenas na Paraíba. Chegou-se a compor um catecismo trilíngue (tupi, holandês e português), mas a obra sofreu objeções da igreja da metrópole.

Se por um lado a tolerância religiosa pode ser elencada com um diferencial marcante da ocupação holandesa no Brasil, o autor destaca que os calvinistas holandeses, embora professassem uma ética de dignificação do trabalho, não resistiram à tentação escravocrata, sistema que era a base da economia açucareira e sustentação do colonialismo. Mantiveram a economia girando ao preço da opressão, privação de liberdade e desprezo pela dignidade humana, e não apenas no Brasil.

As sementes lançadas em solo brasileiro bem poderiam ter resultado em bons frutos, mas os holandeses retiraram-se do Brasil movidos por outros interesses ligados à conjuntura político-econômica na Europa; nisso também se percebe que a Missão era tão somente mais um vagão no trem da expansão do colonialismo europeu (católico ou protestante).

Conhecendo sua equipe


Por Rick Boxx

Pesquisa feita por uma rede de executivos descobriu que muitos CEO’s não conhecem seu pessoal tão bem quanto pensam. Quase 10% dos executivos pesquisados responderam que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal era importante para eles, mas poucos desses CEO’s acreditavam que isso tinha importância para seus liderados.

Entretanto, quando pesquisados, muitos desses liderados revelaram que seu interesse em equilibrar trabalho e vida pessoal era duas vezes maior do que esperavam seus CEO’s. A disparidade dessa pesquisa aponta que esses líderes precisam ter melhor compreensão das necessidades e desejos dos que trabalham para eles. 

Jesus falou sobre a importância dos líderes terem relacionamento forte e crescente com seus liderados. Fazendo comparação com o que ocorre na agropecuária, Ele afirmou em João 10.14: “Eu sou o bom pastor... Conheço as Minhas ovelhas, e elas Me conhecem”. 

Por Sua observação pessoal, Jesus compreendeu quão inconstante e desamparado um liderado pode ficar, sem o cuidado vigilante de seu líder. Ele conhecia bem Seu rebanho e sabia que as ovelhas também precisavam conhecê-lo. Aplicando este princípio ao ambiente de trabalho é igualmente importante dedicarmos tempo e energia necessários para conhecer os homens e mulheres sob nossa gestão – e que eles também nos conheçam melhor. 

Sei de inúmeras ocasiões em que CEO’s e altos executivos dedicaram alguns minutos todos os dias para passar pelos postos de trabalho dos empregados, a fim de conhecê-los e perguntar sobre suas famílias, buscando saber como se sentiam pessoal e profissionalmente. 

Outra passagem da Bíblia fornece analogia sobre o cuidado com o rebanho, que fornece mais um bom motivo para sermos diligentes e buscarmos compreender bem as pessoas que trabalham para nossas organizações: 

“Esforce-se para saber bem como suas ovelhas estão, dê cuidadosa atenção aos seus rebanhos, pois as riquezas não duram para sempre, e nada garante que a coroa passe de uma geração a outra. Quando o feno for retirado, surgirem novos brotos e o capim das colinas for colhido, os cordeiros lhe fornecerão roupa, e os bodes lhe renderão o preço de um campo. Haverá fartura de leite de cabra para alimentar você e sua família, e para sustentar as suas servas” (Provérbios 27.23-27). 

Conhecer a “condição das ovelhas”, aqueles que estão sob nossa liderança, ajudará a assegurar que sejam tão produtivas quanto possível, desempenhem bem as funções que lhes são atribuídas e permaneçam satisfeitas em seus empregos. 

Se você ocupa cargo de liderança, seja sábio em separar tempo necessário para conhecer e compreender sua equipe. Faça perguntas. Ouça. Ofereça-lhes oportunidade de conhecer você melhor.  Quando pressionado por prazos e detalhes, isso pode parecer inconveniente ou incômodo, mas os dividendos obtidos com seu investimento pessoal de tempo e cuidado serão substanciais. 



Rick Boxx é presidente e fundador da "Integrity Resource Center", escritor internacionalmente reconhecido, conferencista, consultor empresarial, CPA, ex-executivo bancário e empresário. Adaptado, sob permissão, de "Momentos de Integridade com Rick Boxx", um comentário semanal acerca de integridade no mundo dos negócios, a partir da perspectiva cristã. Tradução de Mércia Padovani. Revisão e adaptação de J. Sergio Fortes (fortes@cbmc.org.com). MANÁ DA SEGUNDA® é uma reflexão semanal do CBMC - Conecting Business and Marketplace to Christ, organização mundial, sem fins lucrativos e vínculo religioso, fundada em 1930, com o propósito de compartilhar o Evangelho de Jesus Cristo com a comunidade profissional e empresarial. © 2008 - DIREITOS RESERVADOS PARA CBMC BRASIL - E-mail:liong@cbmc.org.br - Desejável distribuição gratuita na íntegra. Reprodução requer prévia autorização. Disponível também em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e japonês. Somos contra o SPAM na rede e em favor do direito à privacidade. Esta mensagem não é considerada SPAM, pois o remetente está identificado, o conteúdo claramente descrito e com a opção de exclusão de seu e-mail. Para exclusão do seu nome de nossa lista de mailing, por favor, envie um e-mail para aristarco.coelho@gmail.com escrevendo "REMOVER" no campo de assunto.