05 novembro 2009

Breves anotações sobre a missão


Quando falamos e ouvimos a palavra missionário, cada um de nós tem um conceito próprio, resultado de tudo que já ouvimos e vimos sobre o assunto.

Para a mente de alguns virão imagens dos nossos irmãos da América do Norte, com um português sofrido e muito amor no coração. Na mente de outros pode vir imagens dos missionários católicos e seu trabalho de evangelização entre os indígenas. Outros vão se lembrar do pastor de paletó e gravata, pouca instrução, pregação fervorosa, percorrendo o os sertões nordestinos para falar de Jesus.

Hoje eu gostaria de refletir com os irmãos sobre alguns conceitos relativos a missões e começar a construir as bases de uma visão missionária para a Igreja Batista do Caminho.
A palavra “missionário” é derivada da palavra missão. Isto é, genericamente um missionário é alguém a quem foi confiado um objetivo a ser alcançado. Missionários são pessoas que têm uma missão a ser cumprida.

Considerando o significado da palavra, os missionários não estão restritos ao universo religioso (um diplomata, poderia perfeitamente ser enquadrado na definição) e dentro da religião não se restringem ao cristianismo (Islâmicos, budistas e outras agremiações religiosas têm também os seus missionários.

Se admitimos a existência de missionários, pessoas que têm uma missão, no contexto da Igreja de Cristo, isso nos remete à necessidade de fazer algumas perguntas:

As primeiras são: qual é a missão, para quem é a missão, qual a abrangência da missão?

Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. Mt 28.16-20

Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam. Mc 16.14-20

e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu. Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus. Lc 24.46-53

Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. At 1.6-8

1. Qual é a missão

MATEUS: Fazer discípulos
• Convencer (do pecado e da justiça)
• Batizar – Celebrar a obra do Espírito
• Ensinar – Apresentar as Palavras de Jesus

MARCOS: Pregar o evangelho
• O que é o evangelho – Boa notícia: Deus se fez gente para provar o seu amor por nós. Sem que haja em nós qualquer motivo que justifique esse amor, Ele está determinado a nos atrair para si mesmo, para nosso benefício eterno.
• Confirmação de poder – Se não há transformação de vida, a boa notícia ainda não encontrou lugar no coração.

LUCAS: Ser testemunhas
      Testemunhas de que?
      Os discípulos, da morte e ressurreição de Cristo;
      E nós? Da morte da nossa velha natureza inclinada ao pecado e do nascimento de uma nova natureza inclinada para Deus.

De forma abrangente, a missão é mesma para todos: (1) Fazer Discípulos, (2) Pregar o Evangelho e (3) Ser Testemunha.

2. Para quem é a missão é a missão

MATEUS 28:16 Seguiram os onze discípulos para a Galiléia

MARCOS 16:15 Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa

LUCAS 24:33 E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles,

A missão é para os discípulos. A missão é para todos.

·       Ninguém está fora. Se você é discípulo de Jesus, a missão é pra você; A missão é pessoal.
·       A missão não pode ser terceirizada
Ø Nenhuma agência missionária pode cumprir a sua missão por você;
Ø Nenhum outro irmão pode cumprir a sua missão por você;
Ø Nenhum pastor, pregador, evangelista, obreiro, presbítero, diácono, líder de ministério, conselheiro, professor ou qualquer autoridade eclesiástica pode cumprir sua missão por você.

        Ofertar não é cumprir a missão;
        Orar não é cumprir a missão
        Fazer campanha de missões não é cumprir a missão.

Devemos parar de fazer isso, então? Claro que não! Mas precisa estar bem claro que ao ofertarmos, orarmos e fazermos campanhas de apoio estamos ajudando outros a irmãos a cumprir a missão deles, mas ainda precisamos cumprir nós mesmos a missão: fazer discípulos, pregar o evangelho e ser testemunha do poder transformador de Deus.

3. Qual a abrangência da missão

MATEUS 28:19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...

MARCOS 16:19 15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo...

ATOS 1:8 ...e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra

A missão deve ser cumprida ...
... em todas as nações
... por todo o mundo
... até os confins da Terra

• Não temos o direito de restringir a missão à nossa zona de conforto;
• Não temos o direito de escolher uns e excluir outros;
• O mundo inteiro carece da boa notícia do evangelho.

Como vocês acham que os discípulos viram aquela missão? Eu me lembrei do filme: Missão Impossível. E missões impossíveis exigem uma boa estratégia. O estrategista é o próprio Cristo. Lucas revela a estratégia orientada por Cristo: Jerusalém – Judéia – Samaria – Confins da Terra

Jerusalém – Onde você está: seu bairro, sua cidade
Judéia – Nosso estado, ou nossa região
Samaria – Estados ou regiões vizinhas
Confins da Terra – Outros países e nações.

Mais algumas questões:

• Isso é uma seqüência obrigatória ou uma prioridade?
Parece-me uma prioridade sensata. Se não estamos dispostos e prontos para cumprir a missão onde estamos, porque cumpriríamos em uma região distante e inóspita? A seqüência é um antídoto contra a fulga e o escapismo.

• A missão pode ser cumprida de forma concomitante?
Paulo, preso em Roma, fala de Cristo aos soldados que o vigiavam ao mesmo tempo que escrevia cartas para as igrejas de outras cidades e regiões. A cada domingo, eu ensino as Escrituras e testemunho do poder transformador de Deus em minha vida e estas mensagens, publicadas no blog são lidas por pessoas de mais de 30 países diferentes.

• Existe um papel para as igrejas locais no que tange ao cumprimento da missão?

1 Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. 2 E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. 3 Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Act 13:1-3

A igreja em Antioquia tinha recebido de Deus dons e capacitações. Eles viviam sua vida com Deus; uma vida de serviço e dedicação. Até que o Espírito Santo de Deus revelou que iria realizar alguma coisa para qual ele usaria Barnabé e Saulo. O que fez a igreja? Ouviu e atendeu ao Espírito de Deus.

A obra missionário não era um projeto da igreja em Antioquia, mas um projeto do Espírito de Deus. A igreja em Antioquia, atenta a voz do Espírito, participou da primeira grande expansão do evangelho na Ásia e Europa.

Conclusão

O que será que o Espírito irá fazer em nossos dias? Qual será a obra de Deus para os nossos tempos? Haverá outra grande onda de expansão do Reino? Ninguém descobre os intentos de Deus sem que Ele os revele.

Então, penso que devemos ficar atentos. Servir ao Senhor onde estamos, com jejum e oração, até que o Espírito nos chame para participar de algo que Ele vai fazer.

Não devemos ter pressa, mas também não devemos temer, porque quando isso acontecer será a obra dele, e nós seremos parceiros de Deus naquilo que Ele estará realizando.


Mensagens e Pregações



O blog Mensagens e Pregações ultrapassou a marca de 150 mil acessos únicos desde que foi criado. Mensalmente pessoas de mais de 50 diferentes países acessam algum texto publicado ali. E todas as semanas recebo comentários e considerações dos leitores.

O blog está sem atividade desde junho, mas continua sendo bastante acessado, provavelmente como fonte de pesquisa para pregadores e gente que gosta de estuda a Bíblia. Nas próximas semanas farei uma grande atualização, publicando as mensagens dos últimos meses.

Confesso que visualmente o Mensagens e Pregações não é muito atrativo: só tem texto, nenhuma imagem. Essa semana fiz algumas pequenas mudanças no layout e incluir uma ferramenta de pesquisa que será muito útil para quem deseja pesquisar determinado assunto. Espero que os leitores gostem.

Sou grato ao Sennhor Jesus por esse canal missionário, educacional, evangelístico (e não se mais o que). Que o Espírito de Deus use cada mensagem conforme o Seu propósito.

03 novembro 2009

Agostinho (354-430)

by Vania DaSilva
Fonte: http://www.sepoangol.org/agostino.htm

Introdução


Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história que continua válida até hoje em sua essência.Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros, Agostinho permaneceu em dois mundos, o clássico e o novo medieval.

Nascido em 354, na casa de um oficial romano na cidade de Tagasta em Numidia, no norte da África, era filho de um pai pagão, Patrício, e de uma mãe crente, Mônica. Apesar de não serem ricos, era uma família respeitada. Sua mãe dedicou-se à sua formação e conversão à fé cristã.

Com muito sacrifício, seus pais lhe ofereceram o melhor estudo romano. Seus primeiros anos de estudo foram feitos na escola local, onde aprendeu latim à força de muitos açoites. Logo, foi enviado para a escola próximo a Madaura, e em 375 à Cartago, para estudar retórica.

Longe da família, Agostinho se apartou da fé ensinada por sua mãe, e entregou-se aos deleites do mundo e a imoralidade com seus amigos estudantes. Viveu ilegitimamente com uma concubina durante treze anos, a qual lhe concedeu um filho, Adeodato, em 372. O mesmo morreu cerca do ano 390.



Na busca pela verdade, ele aceitou o ensino herético maniqueísta, o qual ensinava um dualismo radical: o poder absoluto do mal -- o Deus do Antigo Testamento, e o poder absoluto do bem -- o Deus do Novo Testamento. Nesta cegueira ele permaneceu nove anos sendo ouvinte, porém, não estando satisfeito, voltou à filosofia e aos ensinos do Neo-platonismo. Ensinou retórica em sua cidade natal e em Cartago, até quando foi para Milão, Itália, em 384. Em Roma, foi apontado pelo senador Símaco como professor de retórica em Milão, e depois para a casa imperial. Como parte de seu trabalho, ele deveria fazer oratórias públicas honrando o imperador Valenciano II.

Sua Conversão

No ano 386, quando passava várias crises em sua vida, Agostinho estava meditando num jardim sobre a sua situação espiritual, e ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e Leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13,14 e a leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não conseguiu encontrar nem no maniqueísmo nem no neo-platonismo. Com sua conversão à Cristo, ele despediu sua concubina e abandonou sua profissão no Império. Sua mãe, que muito orara por sua conversão, morreu logo depois do seu batismo, realizado por Ambrósio na Páscoa de 387. Uma vez batizado, regressou um ano depois para Cartago, Norte da África, onde foi ordenado sacerdote em 391. Em Tagasta, ele supervisionou e instruiu um grupo de irmãos batizados chamados de “Servos de Deus”. Cinco anos depois, foi consagrado bispo de Hipona por pedido daquela congregação, onde permaneceu até sua morte. Daí até sua morte em 430, empenhou-se na administração episcopal, estudando e escrevendo.

Suas Obras

Agostinho é apontado como o maior dos Pais da Igreja. Ele deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas. Suas obras mais importantes foram:

Confissões, obra autobiográfica de sua vida antes e depois de sua conversão;

Contra Acadêmicos, obra onde demonstra que o homem jamais pode alcançar a verdade completa através do estudo filosófico e que a certeza somente vem pela revelação na Bíblia;

De Doctrina Christiana, obra exegética mais importante que escreveu, onde figuram as suas idéias sobre a hermenêutica ou a ciência da interpretação. Nela desenvolve o grande princípio da analogia da fé;

De Trinitate, tratado teológico sobre a Trindade;

De Civitate Dei, obra apologética conhecida como Cidade de Deus. Com o saque de Roma por Alarico, rei dos bárbaros em agosto 28 de 410, os romanos creditaram este desastre ao fato de terem abandonado a velha religião clássica romana e adotado o cristianismo. Nesta obra, põe-se a responder esta acusação a pedido de seu amigo Marcelino.

Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias dos maniqueus, dos donatistas e, principalmente, dos pelagianos. Também escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas, que tratam de problemas práticos que um administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos do seu ministério.

A formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das contribuições permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Nem os historiadores gregos ou romanos foram capazes de compreender tão universalmente a história do homem. Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a soberania de Deus sobre a criação. Esta e outras inspiradoras obras mantiveram viva a Igreja através do negro meio-milênio anterior ao ano 1000.

Agostinho é visto pelos protestantes como um precursor das idéias da Reforma com sua ênfase sobre a salvação do pecado original e atual através da graça de Deus, que é adquirida unicamente pela fé. Sua insistência na consideração dos sentido inteiro da Bíblia na interpretação de uma parte da Bíblia (Hermenêutica), é um princípio de valor duradouro para a Igreja.

Seus últimos meses

Durante os últimos meses de vida, os vândulos tomaram a cidade fortificada de Hipona por mar e terra. Eles haviam destruído as cidades do Império Romano no Norte da África e as evidências do Cristianismo. A cidade estava cheia de pobres e refugiados, e a congregação de Agostinho não era uma excessão. No final de sua vida, ele foi submetido a uma enfermidade fatal, e com 75 anos ele pediu que ficasse só, a fim de se preparar para encontrar com o seu Deus. Um ano depois da morte de Agostinho em 430, os bárbaros queimaram toda a cidade, mas felizmente, a biblioteca de Agostinho foi salva, e seus escritos se perpetuam em nosso meio até a nossa era.




Agostinho de Hipona 2
Por Sérgio Paulo de Lima
Fonte: Revista Palavra Viva - Boas-Novas de Alegria, Editora Cultura Cristã.

Agostinho não morreu martirizado, porém, desenvolveu a Doutrina da Graça de modo tão Bíblico que Calvino o abraçou. Sendo assim, vamos estudar a vida deste servo de Deus e, como os reformadores fizeram, aproveitar de seus ensinos o que tem respaldo bíblico.

A origem

Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagasta, na África (hoje Argélia) e faleceu em 28 de agosto de 430 em Hipona. Foi um dos maiores pensadores da Igreja. Era filho de Patrício, homem de recursos, pagão, mundano, mas que se converteu nos últimos anos de sua vida e de Mônica, cristã que sempre manteve esperanças em relação ao filho, embora Agostinho tenha vivido sensual e desregradamente até os 32 anos, quando ocorreu sua conversão. Fez os estudos secundários em Madauro e estudou retórica em Cartago.

Agostinho foi um aluno brilhante e capaz em Literatura, línguas e retórica (a arte do bem falar). Aos 17 anos ingressou na fase da imoralidade, teve uma amante, e com ela um filho chamado Deodato. Foi muito imoral e mulherengo. Nesta época, ao orar dizia: “Senhor dá-me continência e castidade, mas não hoje”.

A busca pelo conhecimento

A leitura do Hortensius, de Cícero, o despertou para a filosofia. Por esta época aderiu ao Maniqueísmo, do qual falaremos adiante.

Em 383, desiludido com o Maniqueísmo, aproximou-se temporariamente do Ceticismo. Depois de ter ensinado retórica em Cartago e Roma, em 384 foi nomeado professor em Milão, onde, entrou em contato com Ambrósio, bispo desta cidade.

A conversão

Conta-se que, certo dia, no final do verão de 386, num jardim, numa casa de campo em Milão, na Itália, se encontrava Agostinho assentado num barco. Ao seu lado estava um exemplar das epístolas de Paulo. Mas, ele parecia não estar interessado, pois experimentava uma intensa luta espiritual, uma violenta agitação de coração e mente. Levantando-se do banco, foi para baixo de uma figueira. Ali ouviu a voz de uma criança que dizia “toma e lê, toma e lê”. Quando voltou ao banco e abriu a Bíblia, encontrou a passagem de Rm 13.14,15 . Leu e se converteu ao Cristianismo.

Em 387 foi batizado por Ambrósio e , na volta para Tagasta, perdeu sua mãe, Mônica. Este fato lhe causou grande tristeza.

Renunciou, então, a todos os prazeres, depois de grande luta interior, e retirou-se para Cassiaciacum, perto de Milão, para meditar.

Atraído pelo ideal de recolhimento e ascese, resolveu fundar um Mosteiro em Tagasta. De sua cidade natal dirigiu-se para Hipona, no inicio de 391, onde foi ordenado sacerdote, e quatro anos mais tarde, bispo-coadjutor, passando a titular com a morte do bispo diocesano Valério.

Mesmo assim, não abriu mão do ideal de vida monástica, fundado nas dependências de sua catedral uma comunidade que foi modelo para muitas outras e um centro de irradiação religiosa.

O mundo em que viveu

Agostinho viveu num momento crucial da história- a decadência do Império Romano e o fim da Antiguidade Clássica. A poderosa estrutura que, durantes séculos, dominou o mundo, desabou pela desintegração do proletariado interno e pelo ataque externo das tribos bárbaras.

Em 410 foi testemunha da tomada de Roma pelos visigodos de Alarico. E, ao morrer, em 430, presenciou o sitio de Hipona por Gensérico, rei dos vândalos, e a destruição do poderio romano na África do norte. Foi nesse mundo convulsionado por lutas internas que Agostinho exerceu o magistério sacerdotal e escreveu sua obra, de tão decisiva importância na história do pensamento cristão.

O pensamento

Escreveu contra os maniqueus, defendeu as autoridades das escrituras, explicou sobre a criação, abordou a origem do mal, debateu sobre a questão do livre-arbítrio, quando então, se tornou um grande defensor da predestinação.

A maior de suas lutas foi contra o pelagianismo; estes negavam o pecado original e aceitavam o livre-arbítrio afirmando que o homem tem o poder de vencer o pecado. Afirmavam que o homem podia pecar ou não pecar, logo, tinha vontade livre. Agostinho por sua própria experiência, percebeu o erro disso.

As obras

Além dos inúmeros sermões e cartas, das volumosas interpretações da Bíblia, além de obras didáticas, de catequese e de polemicas contra várias heresias de seu tempo (maniqueísmo, donatismo, pelagianismo), deve-se mencionar, entre as mais importantes de Agostinho:

As confissões de Agostinho (400), uma autobiografia espiritual em que faz ato de penitência e celebra a glória de Deus; relata nela sua piedade; “Tu nos fizeste para ti e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso”.

De Trinitate (400-416), um tratado filosófico e teológico;

Civitas Dei ou cidade de Deus (413-426), uma justificação de fé cristã e teologia histórica, da qual é considerado o fundador. É uma síntese do pensamento filosófico – teológico e político de Agostinho. É considerada pelos críticos como uma filosofia racional da história.

Escreveu-a quando os bárbaros invadiam e Europa e Roma estava sitiada pelos infiéis.

Posições de Agostinho

Agostinho defendeu a imutabilidade de Deus, o princípio da livre criação, isto é, Deus não criou nada por imposição. Sustentou também, ao contrario dos que criam os maniqueístas, que o diabo não era igual em força de Deus. Deus é o único criador, e superior a qualquer força contraria.

Agostinho combateu com grande capacidade as heresias de seu tempo e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”, pois, como ninguém, soube compreender os seus efeitos. Na sua grande obra “cidade de Deus”, que gastou 13 anos para escrever, afirma: “Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo de si próprio, a celestial”.

Isto resume a sua obra.Como disse alguém, “seu símbolo é um coração”. Em chamas e o olhar voltado para as alturas”.

Agostinho foi um pregador incansável (400 sermões autênticos).Grande estudioso e teólogo, seu pensamento estava centrado em dois pontos essenciais: Deus e destino do homem.

Conclusão

Agostinho foi exemplo de alguém que saiu de uma vida confusa e desregrada, para uma vida de total consagração a Deus. O texto de Romanos 13.13,14, transformou sua vida cheia de pecados e se revestiu de Cristo, na alimentando a carne. Que essa consagração sirva de exemplo para nós.

01 outubro 2009

Discipulos de Jesus - Negar-se a si mesmo

Introdução

“Se alguém quer vir após mi, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me.” Lucas 9:23

“Quem não toma a sua cruz e vem após mim, não é digno de mim”. Mateus 10:38

“Então convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” Marcos 8:34


Três etapas são necessárias para aqueles que desejam ser discípulos de Jesus: negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo.

(A) Essas três etapas são condições. Jesus não corria desesperado à procura de discípulos, como fazem alguns mestres hoje. Ele não negociava oferecendo benefícios em troca de fidelidade a Ele. Em vez disso, Jesus não hesitava em apresentar as condições a serem cumpridas por quem desejasse segui-lo. Não era de qualquer jeito: havia e ainda há condições.

O esforço de muitos pregadores (alguns bem intencionados) para alcançar mais pessoas com a mensagem do evangelho tem deslocado o centro dessa questão; em vez de apresentarem as condições para alguém ser discípulo de Jesus, eles acenam apenas com os benefícios de ser um discípulo de Cristo.

Sem perceber, muitos se tornam culpados de propaganda enganosa: a igreja tem usado letras garrafais para os benefícios e letras miúdas para as condições de ser discípulo. Parece propaganda de eletro-eletrônico.

Presas pela propaganda sobre Cristo, muitas pessoas decidem segui-lo sem compreender o que isso significa, mas apenas para ter acesso aos benefícios prometidos. Então, ao serem chamados para cumprir as condições muitos se decepcionam, se entristecem: viram consumidores enganados, reclamando por seus direitos.

Hoje vamos começar a virar a mesa dessa questão.

Se você observar os evangelhos com cuidado, verá que Jesus nunca correu atrás de discípulos. Os discípulos é que O procuravam. Jesus não fez apelos emocionais nem implorou a quem quer que fosse para que o seguisse. Pelo contrário. Ele impôs condições para os candidatos a discípulos. É sobre essas condições que vamos refletir nessas três mensagens.

Três condições e um pré-requisito

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, (1) negue-se a si mesmo, (2) tome a sua cruz, e (3) siga-me; (Mat 16:24)

São três condições: negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo. Mas antes delas há um pré-requisito: você precisa querer ser um discípulo de Jesus. Ninguém se torna discípulos porque a mulher, o filho, o amigo ou os parentes querem. A própria pessoa precisa querer e tomar essa decisão.

Se você não quer ser um discípulo de Cristo seja sincero consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. Ainda que essa não seja a melhor decisão, Deus apreciará a sua sinceridade e transparência. Saiba também que Cristo o ama profundamente e deseja alcançá-lo com esse amor.

Mas se você tem convicção de que deseja ser um discípulo de Jesus, o pré-requisito já está cumprido: se alguém quer vir após mim... Vamos agora às condições.

Veja que é o próprio Jesus Cristo que apresenta essas condições. Não é uma invenção minha, nem história de alguém que ouviu falar. Três condições: negar-se a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lo.

Hoje vamos buscar orientação do Espírito Santo de Deus para compreender o significado de negar-se a si mesmo.

Negar-se a si mesmo

Nesse começo, precisamos desfazer de imediato dois enganos: o primeiro é que negar-se significa anular-se como pessoa; o segundo é que negar-se é significado de autopunição.

Pedir que nós nos anulássemos seria uma grande incoerência da parte de Deus, já que ele nos criou seres que têm vontade própria e consciência de si mesmos. Por que ele nos daria uma identidade para em seguida impor essa anulação?! Negar-se não é anular-se.

O segundo engano é que negar-se é flagelar-se, buscando sofrimento como uma forma de punição. Deus não se alegra com a nossa dor, quanto mais se essa dor for algum tipo de sofrimento que impomos a nós mesmos. Negar-se não é autopunir-se.

Desfeitos esses dois enganos, precisamos caminhar em busca de compreender o que Jesus quis dizer com negar-se a si mesmo.

Para isso vamos contar com a ajuda de dois trechos das Escrituras. Primeiro, vamos prestar atenção ao encontro alguns sacerdotes e levitas com João Batista, quando alguns deles foram enviados ao profeta para descobrir se Ele era o messias. Em seguida, vamos refletir sobre o contexto do momento em que Jesus falou dessas condições para alguém ser seu discípulo. O senhor falou essa frase dentro de uma situação real.

João Batista

(19) E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? (20) Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo. (21) Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não. (22) Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? (23) Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. (João 1:19-23)

O negar-se a si mesmo passa pelo reconhecimento de quem somos e da descoberta de quem Deus é. Nesse encontro narrado pelo apóstolo João, há pelo menos três lições preciosas sobre o negar-se a si mesmo.

A - Eu não sou Deus

(20) Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.

• Não posso controlar o mundo;
• Não consigo fazer tudo dar certo;
• Não posso receber a glória que não é minha.

Muita gente sofre porque resolveu carregar o mundo nas costas. É preciso reconhecer quem somos: limitados e incapazes de lidar com todos os problemas à nossa volta.

João confessou que não era o Cristo. Ele preferiu ser quem ele era e disse não para o orgulho de ser confundido como o Cristo. Você precisa parar de agir como fosse Deus e dizer não para o orgulho que isso dá. Entregue a responsabilidade de dirigir o universo para aquele que pode fazer isso e aceite quem você realmente é!

B- Eu não sou o meu irmão

(21) Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.

• Não preciso viver do jeito que os outros vivem;
• Não devo almejar o sucesso dos outro;
• Não devo fingir ser o que eu não sou.

Deus não quer que você seja igual a ninguém nessa terra, senão que você seja semelhante ao seu filho Jesus Cristo. Ele lhe fez único e quer que você preserve sua identidade. Quanto sofrimento acontece quando queremos ser iguais a fulano ou beltrano.

Negar-se é uma jornada em busca da nossa verdadeira identidade. É dizer não para as tentativas de nos tornarem quem na verdade não somos. João não aceitou ser chamado de Elias, você também precisa rejeitar as tentativas de fazer de você uma cópia de outra pessoa. Todos nós somos originais.

C- Minha identidade está em Deus

(23) Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.

De onde vinha essa convicção de João Batista? Algumas coisas posso garantir.

• Ele não fez curso de Ioga nem Meditação transcendental;
• Também não entrou de cabeça na psicoterapia;
• Não consultou os astrólogos e advinhadores;
• Ele também não leu o último best seller do Augusto Cury;

João encontrou sua identidade na fala de Deus sobre ele:

(13) Mas o anjo lhe disse: Não temas, Zacarias; porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; (14) e terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento; (15) porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida forte; e será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe; (16) converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; (17) irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido. (Luk 1:13-17)

Assim como aconteceu com João Batista, Deus também fez afirmações sobre você e é nessas afirmações que você deve buscar sua identidade.

• Você foi criado à imagem e semelhança dele;
• Você é alvo do seu amor através de Jesus;
• Sua presença e desejada por Deus.

Meu irmão, há muitas outras palavras de Deus sobre você! Leia as Escrituras, descubra as promessas que Ele fez sobre sua vida e viva conforme sua nova identidade em Cristo. Isso é ser uma nova criatura.

Negar-se é não desejar ser o que você na verdade não é, mas aceitar com gratidão tudo o que você realmente é em Cristo Jesus.

Negar-se é abrir mão do que eu penso que sou e do que os outros dizem que eu sou, para me tornar aquilo que Deus deseja que eu seja. Foi assim com João Batista e deve ser assim comigo e com você.

Jesus Cristo

O segundo trecho da Escrituras em que o negar-se a si mesmo se revela é no contexto da fala de Jesus em Mateus 16:24. Também nesse texto vamos encontrar três lições preciosas.

(21) Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse. (22) E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá. (23) Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens. (24) Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me; (25) pois, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. (26) Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida? (Mat 16:21-26)

A - Era necessário...

(21) Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse.

Jesus começou a explicar aos seus discípulos sobre negar-se a si mesmo. Ele começou pela necessidade de submeter-nos aos planos do Pai, não importando o preço a ser pago. É nessa submissão a Deus que está a essência do negar-se. Uma submissão espontânea de quem reconhece em Deus uma vontade infinitamente superior e boa.

Jesus deixa claro que a atitude de submissão é a única resposta que podemos dar depois que compreendemos quem somos e quem Deus é.

Esse era o ensino de Jesus. Ele nunca ensinou seus discípulos a barganharem com Deus o alívio de suas dores. Mesmo no jardim do getsêmani, angustiado e já sentindo o gosto da morte, ele concluiu sua oração dizendo: todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.( Luk 22:42)

B - Tem compaixão de Ti...

(22) E Pedro, chamando-o a parte, começou a reprova-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá.

Pedro imaginava estar cumprindo bem o papel de discípulo de Jesus. Ele não podia aceitar o sofrimento de Cristo. Mas na verdade ele fez um apelo ao sentimento de auto-piedade, presente em todos os seres humanos.

• Há pais que não suportam o mínimo sofrimento de seus filhos, mesmo quando isso é necessário; Esses educam filhos incapazes de lidar com a dureza da vida.
• Há pessoa que não conseguem deixar Deus agir nas outras pessoas. Nem toda luta ou sofrimento é uma ação maligna, mas, muitas vezes, é o agir de Deus aperfeiçoando o caráter.

Negar-se a si mesmo é não aceitar a posição de coitadinho sofredor (muitas vezes nosso sofrimento e resultado de nossos próprios erros); é não se deixar levar pelas sugestões de autocomiseração, mas reconhecer que Deus está no controle de todas as coisas e que vale a pena seguir os seus passos, mesmo com dor e sofrimento.

C - Não cogitas das coisas de Deus...

(23) Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens.

A Bíblia Viva apresenta assim o verso 23: “Você está pensando apenas do ponto de vista humano, e não do ponto de vista de Deus”. Negar-se é abrir mão de nossa maneira limitada de ver as coisas e enxergar a vida sob o ponto de vista de Deus.

O discípulo é aquele que abre mão dos seus conceitos sobre a vida porque encontrou no seu mestre conceitos superiores aos seus.

O discípulo de Jesus nega-se a si mesmo, não por constrangimento, mas porque prefere o modo de viver de Cristo ao seu próprio modo de viver (que ele já sabe que não funciona).

06 setembro 2009

João, o cristão 2

Um dia João aceitou o convite de um amigo, foi a uma igreja e lá ouviu a pregação do evangelho. João ouviu toda mensagem e entendeu que precisava aceitar a Jesus em sua vida. Com coragem, ele ergueu sua mão fez essa decisão. Orou ao Senhor e pediu para Deus transformá-lo.


João continuou a freqüentar os cultos e ouvir as pregações. Ele gostava de tudo. Seus versículos prediletos eram: o justo viverá pela fé e pela graça sois salvos, mediante a fé... Ele entendeu que através da fé em Jesus ele havia recebido um bilhete aéreo direto para o céu, ainda que ele não pretendesse usá-lo tão cedo.


Ele tornou-se um freqüentador regular dos cultos e eventualmente contribuía com alguma oferta; cumprimentava as pessoas com alegria e era querido por todos. No entanto sua vida real, fora da igreja, continuava exatamente a mesma.


No trabalho, ele continuava participando do esquema de falsificar os resultados das vendas para bater as metas da empresa; em casa, seus os acessos de ira, os chutes nas portas e as ameaças à esposa continuaram; com os colegas, ele manteve as noitadas de sexta-feira e as piadas picantes na hora do cafezinho; na família, ele continuou a ser rancoroso e amargurado, do tipo que não perdoa e jamais esquece.


Perguntado por um amigo sobre como estava sua nova vida em Cristo, ele respondeu: uma maravilha! Aceitei a Jesus como meu salvador e até já me batizei. Vou aos cultos de domingo e sempre que dá leio uns versículos da Bíblia. Estou muito alegre com minha nova vida.


O que é que está acontecendo com o João?


Admitindo que a oração do João foi sincera e o seu desejo de colocar Jesus no controle de sua vida era verdadeiro, vimos no domingo passado que duas coisas podem estar acontecendo:


Primeiro, pode ser que o João seja um novo convertido, isto é, alguém que entregou sua vida a Jesus há pouco tempo. Aliás, por quanto tempo alguém continua sendo um novo convertido?


Nesse caso, o João ainda não conhece todos os recursos espirituais que estão a disposição para sua nova vida em Cristo. Ele ainda não conhece o poder da oração, ele não sabe o bem que a confissão de pecados faz, ele ainda não aprendeu a confiar em Deus por experiência própria, ele conhece bem pouco sobre o caráter de Deus, pedir perdão e perdoar ainda é algo que ele desconhece, na maior parte do tempo ele ainda age movido pelos seus próprios impulsos, ele ainda está descobrindo a realidade de negar-se a sim mesmo e tomar a própria cruz. Bebês na fé.


Quando o apóstolo Paulo escreveu aos irmãos de corinto, em sua primeira carta, afirmou que eles eram carnais, usando para isso a palavra sarkinos.


Vocês são feitos de carne, irmãos. E quando estivemos juntos pela primeira vez, vocês eram como bebês, recém nascidos para a realidade da vida no espírito! Por isso, eu nem pude conversar com vocês sobre as coisas do Espírito.


A segunda coisa que pode estar acontecendo é que o João seja um crente antigo. Já faz algum tempo que ele reconheceu Jesus como seu Senhor e salvador e durante todo esse tempo ele participou de uma igreja local, ouviu sermões, participou dos encontros do caminho, leu alguns livros e até fez vários cursos.


O João ouviu muita informação sobre como é a vida guiada pelo Espírito de Deus, mas essas informações não se transformaram em mudanças reais em sua vida. Então, de tanto ouvir sobre a vida com Cristo, mas não experimentar dessa transformação em si mesmo, João calejou.


Calos nos ouvidos, calos no coração, calos na alma. Então, João acostumou-se com uma vida dupla: no domingo, cara de santo, roupa de santo, vocabulário de santo; na semana, surge o verdadeiro João, dominado por sua natureza pecadora.


Quando o apóstolo Paulo soube, através de algumas pessoas da família de Cloe, que os irmãos de Corinto estavam divididos em grupos de acordo com preferência que tinham por Pedro, Paulo ou Apolo, ele afirmou: vocês ainda são carnais.


Mas, agora, ele usou outra palavra, sarkikos, porque não era mais o caso de alguém que desconhecia os recursos do espírito para o amadurecimento da fé, mas de pessoas que mesmo depois de serem ensinadas sobre os fundamentos da vida no espírito, fizeram pouco caso disso e continuaram vivendo a vida com suas próprias forças; ainda que tinham aparência de pessoas de fé eram na verdade pessoas religiosas.



Uma pergunta: Ser um discípulo de Jesus seria um mero assentimento, ou concordância, mental? Seria apenas você render-se à lógica da salvação e receber um bilhete para a vida eterna, e fim da história? Isto é, basta aceitar a Jesus?


Se for assim, como deveriam ser entendidas as palavras de Cristo: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. (Luc 9:23). Qual seria o significado de seguir a Jesus?


Não é razoável que essa forma de pensar (“basta aceitar a Jesus”) seja capaz de paralisar os seguidores de Jesus, assim como aconteceu com o João e com os irmãos de Corinto? Certamente essa pode ser a uma gota de veneno transparente em um copo de água limpa.



A Verdade


Qual é a verdade então?


Bom, Jesus disse que se alguém quiser acompanhá-lo deve segui-lo. Parece que Jesus está dizendo que devemos andar junto com Ele. Dar passos na mesma direção que ele deu. Então, Jesus está dizendo que não basta apenas abrir a boca e dizer que deseja ser discípulo dele, é preciso segui-lo de fato.


Vejamos se isso confere com a vida dele?


(18) Quando Jesus notou que a multidão estava ficando grande demais, deu ordens a seus discípulos para que estivessem prontos para atravessar o lago. (19) Nesse exato momento um dos mestres religiosos dos judeus disse a Ele: "Mestre, eu seguirei o Senhor aonde quer que for! " (20) Mas Jesus respondeu: "As raposas têm tocas e os passarinhos têm ninhos, porém Eu, o Filho do Homem, não tenho meu próprio lar - nem um lugar para pousar a minha cabeça". (21) Um outro dos seus discípulos disse: "Senhor, deixe-me primeiro ir enterrar meu pai". (22) Mas Jesus lhe disse: "Siga-me agora! Deixe aqueles que estão espiritualmente mortos cuidar dos seus próprios mortos".(23) Então Ele entrou num barco e começou a atravessar o lago com seus discípulos. (Mat 8:18-23 - BV)


(61) Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. (62) E Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus. (Luc 9:61-62 – ARC)


(18) Uma vez um líder religioso judeu fez-Lhe esta pergunta: “Bom mestre, que farei para chegar ao céu? ” (19) “Você sabe o que está dizendo quando me chama bom? ” perguntou-lhe Jesus. “Só Deus é verdadeiramente bom, e ninguém mais. (20) Mas quanto à sua pergunta você sabe o que os dez mandamentos dizem – não cometa adultério, não mate, não minta, respeite seus pais, e assim por diante. (21) O homem respondeu: "Eu tenho obedecido a cada uma dessas leis desde pequeno". (22) "Há uma coisa ainda que lhe falta", disse Jesus. "Venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres - isso se tornará um tesouro no céu para você - e venha seguir-Me". (23) Mas quando o homem ouviu isto, foi-se embora triste, porque era muito rico. (Luc 18:18-23 – BV)


Você percebeu que Jesus sempre chama a atenção daqueles que querem segui-lo para o fato de que isso implica em disposição para que ocorram mudanças em suas vidas?


Ora, o que realmente acontece quando alguém acredita na mentira de que “basta aceitar a Jesus”? Gradativamente ele vai se fechando para a necessidade de mudanças em sua vida. Afinal de contas, ele já é um salvo, ele é um crente, ele tem Jesus no coração. Mas é só isso? Jesus insiste que não.


A verdade é que somos chamados por Deus para crescer.


Termino minha carta com estas últimas palavras: Alegrem-se. Cresçam em Cristo. Prestem atenção ao que lhes tenho dito. Vivam em harmonia e paz. E que o Deus de amor e paz seja com vocês. (2 Co 13:11)


Somos chamados para ser aperfeiçoados


Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. (1Pe 5:10 – ARA)


Somos chamados para um processo de transformação.


Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rom 12:2 – NVI)


Tem uma pergunta que sempre me incomoda quando eu quero fazer qualquer coisa (Talvez incomode também você): Como? Como eu cresço em Cristo? Isso é algo que eu tenho que fazer ou é algo que Deus faz em mim?


Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. (1Pe 5:10 – ARA)


Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rom 12:2 – NVI)


A resposta para a pergunta como eu cresço é como uma moeda: é uma só, mas tem duas faces que não podem ser separadas uma da outra.


A primeira face diz respeito à soberania de Deus e à decisão que Ele tomou de nos tornar à imagem de Cristo. Ele está conduzindo a sua história em direção a isso. Nada do que acontece com você está fora do propósito de Deus em lhe aperfeiçoar. Isso deve produzir paz em meu coração. O processo todo está nas mãos de Deus.


A segunda face diz respeito à liberdade (e o poder) que recebemos em Cristo Jesus para decidir a maneira como vamos lidar com esse processo de aperfeiçoamento. Você ira cooperar com esse processo, ou não. Isso produz um senso de responsabilidade em meu coração.


Vamos, então resumir essa parte:


• Se Deus não houvesse planejado o seu aperfeiçoamento, nada poderia acontecer... Mas ele planejou.


• Se Ele, por meio de Cristo, não tivesse nos concedido poder para mudar nossas vidas, nada poderia acontecer... Mas ele concedeu.


• Se você não co-operar com Ele, você perderá a alegria de experimentar já aqui e agora um pouco do você será quando ele completar o seu plano para sua vida. O que você vai fazer?


Que tipo de cooperação essa? Bom, vamos voltar ao texto de Romanos 12 e olhar com mais atenção, porque esse talvez seja o ponto alto da nossa reflexão hoje.


Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rom 12:2 – NVI)


Amoldar-se e tomar a forma. Transformar-se e mudar a forma. O Espírito de Deus revelou-nos que nosso jeito de viver nesse mundo não pode ser idêntico ao jeito de viver de pessoas que não seguem a Jesus. Vejam só, o chamado é para que sejamos diferentes em nosso modo de viver.


Como eu coopero então? Corto o cabelo diferente? Visto uma roupa diferente? Freqüento lugares diferentes? Ouço uma música diferente? Leio livros diferentes? Falo com palavras diferentes?


Eventualmente, cada uma dessas coisas pode ser usada para transparecer a diferença, mas elas não são a essência do que deve ser diferente em nós.


Qual é a essência dessa diferença, então? A nossa mente. Mas não é uma questão de raciocínio ou inteligência cognitiva; o que precisa ser diferente é a nossa maneira de ver o mundo e compreender a vida. Precisamos abrir mão do nosso jeito próprio de ver a vida e adotar o modo de pensar de Cristo.


Lembre-se de que no decorrer de toda a história da humanidade, Deus tem procurado apresentar, revelar para nós, raça humana, seu modo de ver a vida. Ele tem insistido em dizer quem Ele é, como Ele considera a vida e quais os propósitos dele para as pessoas e para toda a sua criação.


(1) Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, (2) mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. (3) O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas, (4) tornando-se tão superior aos anjos quanto o nome que herdou é superior ao deles. (Heb 1:1-4)


Você percebeu? Jesus é o ápice dessa revelação. Ele é a expressão plena dos pensamentos de Deus. Cristo tem a mente de Deus e nós precisamos da mente de Cristo.


Aqui, vamos voltar ao nosso primeiro texto, em 1 Coríntios 2, para lembrarmos que as Escrituras afirmam que nós temos a mente de Cristo.


(14) Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente. (15) Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois (16) "quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? " Nós, porém, temos a mente de Cristo. ? (1Co 2:14-16)


Como assim temos a mente de Cristo?


Bom, primeiro precisamos lembrar que todo aquele que um dia entregou o controle de sua vida a Deus e pediu a Ele que viesse habitar em si, tem o Espírito de Deus. E o Espírito conhece a mente de Deus.


Segundo, devemos lembrar também que o Espírito de Deus inspirou alguns servos de Deus a registrar a vida de Cristo. Quatro registros diferentes chegaram às nossas mãos. Então, quando lemos sobre a vida de Jesus e seus encontros com as pessoas, ali a mente de Cristo é exposta em seu jeito de encarar a vida.


21 "Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’.22 Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento.


27 "Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’.28 Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração.


38 "Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’.
39 Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.


43 "Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’.44 Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, Mat 5:21-44


Nossa mente será transformada à medida que a expomos a mente de Cristo. Isto é, você precisa comparar sua maneira de ver a vida com a maneira como Cristo vê a vida e permitir que o Espírito de Deus faça as mudanças que forem necessárias.


E quanto tempo dura esse processo? A vida inteira. Pelo menos é a minha experiência depois de mais de 25 anos seguindo ao Senhor por decisão própria. Ele está sempre interessado em mostrar as mudanças que eu preciso fazer em minha vida. E eu tenho procurado ouvir.

Final


Lembra do João? Certamente Ele não havia entendido o que nós entendemos hoje. Por isso, ele acabou permitindo que seu coração endurecesse e cultivou uma vida dupla: religiosidade ao domingos, descrença na semana.


O que você acha de parar as tentativas de se resolver sozinho e pedir ajuda ao único que pode fazer algo por você? O que você acha de recorrer aos recursos espirituais que Deus preparou para você, em vez de apenas esforçar-me mais.


O que você acha mudar essa situação? Você está disposto a permitir que a mente de Cristo ocupe sua maneira de viver. Você gostaria de crescer na caminhada com Jesus? Você gostaria de ver sua vida aperfeiçoada pelo Espírito de Deus? Você gostaria de recomeçar no Caminho em busca da vida de Deus em você?


Nós vamos orar juntos ao nosso Deus.