Comunidade Batista em Mangabeira - João Pessoa/PB - Escola Bíblica 17/04/16
Em nossa jornada para discernir de forma apropriada o
Corpo de Cristo, refletiremos sobre a função dos membros e sobre sua harmonia
no corpo.
Existe ao menos um impedimento que bloqueia o
exercício de nossas funções no Corpo: a mentalidade individualista, isto é, o
apego a si mesmo. Enquanto essa forma de pensar dominar nossa mente não haverá
espaço para o serviço, e portanto, não haverá o que ser falar sobre nossa
função no corpo ou sobre a harmonia entre nós.
Dessa forma, nossa reflexão sobre função e harmonia no
Corpo de Cristo pressupõe que fomos libertos de nós mesmo, que estamos prontos
para pensar a vida da igreja como uma oportunidade para ser canal para a nova
vida, a vida do Espírito de Deus que recebemos por meio de Jesus Cristo a fim
de abençoar nossos irmãos.
Todos têm uma função (I Co 12.13)
13 Pois em um só corpo TODOS nós fomos batizados em um único Espírito: quer
judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a TODOS nós foi dado beber de um único Espírito.
A igreja é composta de pessoas que foram imersas na
vida do Espírito de Deus. Esse mergulho no Espírito Santo marca ao mesmo tempo
nossa redenção individual (penhor 2 Co 1.21,22) e nosso arrolamento como parte
da coletividade membro do Corpo de Cristo. Porque a salvação é individual, mas
é operada na coletividade.
Paulo parece explicar que o tratamento do Espírito é o
mesmo para todos que o Senhor é bondoso (cf. I Pe. 2.3). Não há qualquer
distinção. Não há um membro do Corpo que não tenham uma vocação de Deus. TODOS
temos algo a realizar em favor dos demais membros.
Entre o primeiro e o segundo “TODOS”, Paulo apresenta
aos seus leitores dois profundos abismos (judeus/gregos e escravos/livres) de
sua época para ilustrar o trabalho do Espírito na constituição do Corpo de
Cristo: primeiro, duas cosmovisões diferentes (cultura, história, religião
...); depois, duas realidades de vida distintas (identidade, esperanças, sonhos
...).
E o que nos diz o apóstolo? Afirma que esses abismos
são produzidos por nós, e que o Espírito de Deus não se limita por causa deles.
Ao contrário, junta na Igreja quem ele quer e dá a todos uma incumbência de
serviço ao corpo a ser cumprida.
Ainda sobre o TODOS, precisamos lembrar que vivemos
tempos em que a sacerdotalização em forma de casta tem renascido e sido
acolhida por vários irmãos como um modo aceitável de viver a fé.
São tempos em que a igreja reformada por Lutero e
outros é tentada a refluir para o padrão clero/laicato. Tempos em que a fé se
vê ancorada em líderes personalistas, hiperativos e repletos de dons, enquanto
o restante do corpo assiste passivo as performances e aguarda dos iluminados
bênçãos, orações e fórmulas para fazer a vida funcionar.
É certo que o modo sacerdotal de viver a fé dominou a
cena da humanidade por muito tempo, mas também é verdade que ele encontrou no
evangelho de Cristo um forte opositor.
Mc 15.38 – O véu rasgou-se
I Pe. 2.5-9 – Sacerdócio Santo e Real
Ap. 1.5 – Sacerdotes para servir
Ap. 5. 8-10 – Sacerdotes para o nosso Deus
É surpreendente que, no interior de um uma religião
essencialmente sacerdotal, nasceu o evangelho de um único e perfeito mediador
que a todos chama para aproximar-se de Deus como um filho se aproxima de um pai
amoroso.
19 Sendo assim, irmãos, temos plena
confiança para entrar no Santo dos Santos mediante o sangue de Jesus,20 por um novo e vivo Caminho que Ele nos descortinou
por intermédio do véu, isto é, do seu próprio corpo;21 e tendo um magnífico sacerdote sobre a Casa de Deus.22 Portanto, acheguemo-nos a Deus com um coração sincero
e com absoluta certeza de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar
de uma consciência culpada, e os nossos corpos lavados com água pura.
Ninguém pode ser descartado (I
Co 12.21-24a)
21 O olho não pode dizer à mão: "Não
preciso de você! "Nem a cabeça pode dizer aos pés: "Não preciso de
vocês!" 22 Pelo contrário, os membros do corpo que
parecem mais fracos são indispensáveis, 23 e os membros que pensamos serem menos honrosos,
tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são
tratados com decoro especial, 24 enquanto os que em nós são decorosos não
precisam ser tratados de maneira especial.
O argumento de Paulo é de que não somos nós quem diz
se alguém é necessário ou não ao corpo. Em princípio todos os membros do corpo
são necessários e nenhum pode ser simplesmente descartado.
Parece que Paulo coloca sob suspeita os critérios que
usamos para fazer essa avaliação. Primeiro ele fala do engano de contarmos
apenas com aqueles que consideramos fortes: história de fé na família, vida financeira
estruturada, família equilibrada, frequente nos cultos, contribuinte,
comprometido: esses são os que parecem fortes! Eles estão sempre visíveis e são
sempre chamados a se apresentar no front da batalha. Mas nem por isso os demais
membros do corpo podem ser dispensados.
Aqueles que parecem fracos, não podem ser dispensados
da comunhão nem tampouco desprezados. Nas palavras de Paulo eles são
indispensáveis para a harmonia do corpo. A analogia aponta as partes do corpo
humano que são pouco resistentes, mas que cumprem funções importantes. Os
lábios são frágeis, as orelhas são frágeis, os olhos são frágeis, todos eles precisam
ser protegidos por braços e mãos, mas sem eles o corpo perderá sua harmonia.
Os irmãos mais sensíveis, menos resistentes aos
desgastes da vida, mais frágeis diante do mundo, menos capazes de reagir, menos
perceptivos sobre as sujeiras da vida, não podem ser jogados fora. Ainda às
vezes seja trabalhoso, eles devem ser cuidados e protegidos. O corpo depende
deles para cumprir sua vocação.
Outro aspecto do mesmo argumento é quanto aos membros
mais ou menos decorosos. Esse é um argumento impressionante porque Paulo afirma
que aqueles de quem temos mais vergonha não devem ser expostos ao ridículo, mas
protegidos para que se apresentem de forma digna.
Em um corpo harmônico não há lugar para a exposição
gratuita das fragilidades dos irmãos. Não há lugar para envergonhar os outros
porque eles são diferentes. Não há lugar para humilhar os que não conseguem.
Não há lugar para fazer pouco caso de quem quer que seja por seja qual for a
razão. Porque quando um membro do corpo é envergonhado, todo o corpo sente
vergonha com ele.
Vocação: para cada um, por causa de todos.
Mas
Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, 25 a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que
todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. (I Co 12.24b-5)
Nosso lugar no corpo foi planejado por Deus. Não há
acasos nisso. Nossa história tem parte nisso, nossas experiências são
importantes, nossa formação tem seu lugar, mas ao final tudo está sob a
coordenação daquele que é o cabeça da igreja.
Paulo revela uma lógica invertida nessa montagem do
corpo. Aparentemente o Senhor providenciou equilíbrio no corpo ao conceder
honra exatamente àqueles que dela tinham falta.
A abordagem sobre honra aqui é a mesma. Vestir de
forma apropriada, os membros do corpo que expostos estariam desprotegidos e à
mercê de comentários. A ideia é de proteger quem está desprotegido. Então,
explica que o próprio Senhor da Igreja age assim para produzir harmonia no
corpo.
Dessa forma, todos os membros são vocacionados
(chamados) a servir ao Corpo. E são capacitados, protegidos e honrados de forma
que haja harmonia. Assim, quando cada membro do corpo exerce sua função estamos
cuidados uns dos outros e o corpo opera seu próprio crescimento de forma
harmônica.
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