Jovens Transformados
Acredito que se alguém deseja prosseguir com
determinação na caminhada como discípulo de Jesus, encontrará no estudo sério e
na meditação piedosa das Escrituras a força e o ânimo necessários para
enfrentar a jornada.
Trilhar o caminho do discipulado sem os recursos que a
Palavra de Deus nos oferece é ou ingenuidade ou irresponsabilidade. Precisamos
resgatar a leitura reflexiva das Escrituras. Precisamos reaprender a encontrar
nas páginas da Bíblia a exortação, o conforto, o consolo e o encorajamento que
nos ajudarão em nossa caminhada como discípulos de Jesus.
O texto em que vamos refletir hoje é aquele que serviu
de base para a divisa. Encontra-se em Rm 12. 1,2. Vamos ler e depois orar.
1Portanto, irmãos,
rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. 2 Não se amoldem ao padrão deste
mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes
de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Introdução
A carta aos Romanos foi escrita pelo apóstolo Paulo
provavelmente entre os anos 55 e 56 da era cristã. Ela faz parte do que alguns
estudiosos chamas de “ministério epistolar”, pois em seu trabalho missionário
Paulo usou várias vezes as epístolas como um recurso para complementar o ensino
e o discipulado dos novos irmãos.
É interessante perceber que, certamente sem se dar
conta do que estava fazendo, o apóstolo dos gentios deixou registrada uma
coleção de escritos que foram, depois, reconhecidos pela igreja cristã como
inspirados por Deus para a edificação e o ensino do povo de Deus. No momento em
que Paulo escrevia essas cartas elas eram apenas uma estratégia ministerial,
mas Deus tinha outros planos para elas.
Diante dessa consideração singela peço que você
considere a forma como você tem lidado com o seu serviço à igreja. Porque às
vezes somos tentados a desprezar as pequenas tarefas que nos chegam às mãos,
como se elas não fossem importantes. Somos atraídos pelas grandes coisas,
porque imaginamos que ficarão registradas na história. É claro que essa não é
uma boa motivação, além do mais está fora da nossa competência definir o que
será mais ou menos importante no futuro.
Paulo era um missionário itinerante e escrever cartas
possivelmente não era sua atividade preferida, mas quando as circunstâncias lhe
impuseram essa tarefa ele a fez com dedicação e esmero. Portanto faça com o
esmero e dedicação tudo que lhe vier às mãos. Não seja displicente ou relaxado
no serviço apenas porque você acha que não tem importância. O que está em jogo
não é apenas o serviço, mas o seu caráter como filho de Deus.
O capítulo 12 de Romanos é um ponto de virada no texto
nessa carta. A expressão “portanto” no primeiro verso é o que marca a passagem
da primeira parte doutrinárias da carta para a segunda parte, claramente mais
exortativa. Esse “portanto” é como se Paulo começasse dizendo “considerando
tudo que eu escrevi até agora...” Ele começa, então, essa segunda parte com um
pedido.
Rogo-vos
O sentido principal do verbo parakaleo, usado neste
verso é “chamar para o meu lado”. É uma convocação para que a outra pessoa faça
ou pense a mesma coisa que nós. Então ele está dizendo para os irmãos de Roma
“Ei, eu quero vocês do meu lado neste assunto”.
Depois de expor seu entendimento teológico do
evangelho da Graça de Deus nos onze primeiros capítulos, o apóstolo chega ao
ponto em que convoca os irmãos da capital do império a assumirem uma posição.
A verdade é que a gente vai vivendo a vida... levando
como dá... vai à igreja quando dá certo... lê a bíblia quando dá tempo... ora
quando está precisando de alguma coisa... mas vai chegar uma ora na sua vida
que você será chamado para assumir uma posição.
Pelas misericórdias de Deus
Algo que me chama a atenção é que Paulo não convoca os
irmãos por si mesmo. Ele não apresenta sua autoridade apostólica como
justificativa. A razão pela qual os irmãos deveriam considerar o que ele iria
falar é a misericórdia de Deus.
Os romanos foram desafiados, antes de considerar o
desafio, a trazer à memória o agir maravilhoso de Deus em suas vidas.
Considerem, irmãos, como vocês foram alcançados e
libertos! Lembrem-se de como Deus tirou seus pés da lama do pecado e os colocou
sobre a rocha firme da sua graça misericordiosa! Considerem atentamente que
vocês estavam perdidos. O destino de vocês era viver para morrer! Quando,
então, foram alcançados pelo amor de Deus, e forma feitos novas criaturas,
destinados agora para a vida eterna. Considerem essas coisas e tomem uma
decisão.
Que se ofereçam
Qual era a decisão que o apóstolo queria que os irmãos
tomassem? Paulo convocou os romanos a se oferecerem como sacrifício a Deus. No
passado havia religiões que sacrificavam humanos, mas a maioria das religiões
na época do NT funcionavam à base de sacrifícios de animais.
Então, quando Paulo desafiou os irmãos a se sacrificarem
isso certamente chamou a atenção deles. A provocação feita pelo apóstolo, no
entanto, foi de que eles deveriam fazer um sacrifício vivo. Isto é, nos cultos
pagãos o corpo dos animais mortos era queimado em oferenda às divindades, mas os
discípulos de Jesus deveriam apresentar seus corpos em sacrifício vivo.
Vejam só, irmãos, o evangelho de Jesus não é para a
morte, e sim para a vida! Os discípulos de Jesus não ficam lamentando a própria
sorte e esperando a morte chegar. Somos chamados pelo evangelho a viver a vida
em toda a intensidade com que ela se apresenta.
A eternidade com Deus é uma esperança que deve nos
animar todos os dias, mas enquanto ela não chega somos convocados a tornar
nossas vidas eu uma oferenda, um presente vivo, santo e agradável a Deus
Bom, você não está morto. Então, para quem sua vida
está sendo oferecida? Como você está gastando os seus dias? A que você se
dedica? O que consome suas forças e faz seus olhos brilhares de satisfação? Há
quem viva por si mesmo, há quem viva por uma causa, há quem viva por um sonho.
Mas nós somos chamados a viver nos vida por Jesus, que entregou sua vida por
nós.
Este é o culto racional de vocês
Quando Paulo se refere a “culto racional” somos
tentados a imaginar que ele estava fazendo um contraponto apenas aos cultos
pagãos marcados pelo êxtase emocional e pela sensibilidade. É certo que o culto
cristão nada tinha a ver com eles elementos, tanto que na carta aos coríntios
(1 Co 14.40) há uma orientação para que o culto deveria aconteça com ordem e
decência.
Paulo, no entanto, também está fazendo referência aos
filósofos e eruditos gregos. Eles não gostavam dos sacrifícios de animais e das
cerimônias sensuais. Como eles chamavam Deus de “pensamento puro” e “razão
suprema”, achavam que o culto deveria ser um exercício mental. Eles então
chamavam de “culto racional”. Na verdade, a fé desses eruditos da filosofia era
uma fé desencarnada. Uma fé apenas para a mente.
Ao convocar os irmãos a apresentarem seus corpos como
uma oferenda a Deus, o texto bíblico bate de frente com essa ideia dos
filósofos, porque apresenta a caminha cristão como uma jornada completamente
inserida na vida real, de carne e osso.
Portanto, irmãos, nós também devemos deixar de lado
essas espiritualizações baratas e desencarnadas. A vida com Deus é uma entre
pessoas de carne e osso. O nosso culto racional não deve ser um mero exercício
da mente, mas uma experiência pulsante. É preciso olhar no olho, sentir a dor
do outro, alegrar-se com seu sorriso, chorar com suas perdas e lamentar com
seus erros como se fossem nossos.
Não se amoldem
Qualquer pessoa que vive neste mundo sabe que existe
um jeito de viver que a maioria das pessoas segue. Esse jeito depende da época
ou do lugar, mas a verdade é que existe um certo padrão de valores, costumes e
modos de agir que se tornam comuns em uma geração.
Vou me valer aqui de um dos capítulos do livro “Tenham
ânimo! Eu venci o mundo!” escrito por Roberto J. Sudermann e publicado pela
Editora Encontro, para apresentar alguns desses padrões dos nossos dias que
precisam ser avaliados à luz da mensagem de cristo.
Individualismo
Entendimento de que a pessoa se basta para si mesma,
que a vida pode ser boa independente dos outros. A pessoa se coloca no centro
de sua própria existência e considera tudo mais secundário.
Dualismo
Entendimento que a alma humana tem uma vida separada
da vida do corpo. A alma é importante, mas o corpo não. Assim o corpo humano e muitas
vezes tratado como um objeto. Alguns tentam negar os impulsos do corpo e outros
tentam satisfazer todos os desejos.
Relativismo
Entendimento de que a verdade e os valores não são
absolutos, tudo depende da situação. Assim é impossível afirmar o que é
verdadeiro e bom, porque tudo é relativo.
Determinismo
Entendimento de que tudo ocorre como deve ocorre.
Resulta em uma postura fatalista que nega o valor das decisões humanas. Ninguém
é responsável por nada, porque é tudo uma questão de destino (ou da vontade de
Deus).
Narcisismo
Entendimento de que a autograficação imediata é o
critério ético mais importante. A pessoa decide pensando em sua própria
satisfação. Deixa de enxergar a necessidade das pessoas e não se sente
responsável pelas gerações seguintes.
Bom, os nomes podem ser difíceis, mas o modo de agir é
bem conhecido por todos nós. Paulo afirmou que não devemos simplesmente nos
acomodar a essas e outras maneiras de pensar simplesmente porque todo mundo
está pensando assim. Deve haver em nós um certo espírito de rebeldia em relação
aos modos de viver a vida que não estão sintonizados com o evangelho de Jesus.
Como você lida com isso? Alguns crentes estão tão
mergulhados nesse modo de viver que parecem insensíveis aos apelos do Espírito.
Estão acomodados feito geléia. Tomaram a forma desse mundo: acham que se
bastam, não reconhecem a complexidade da vida humana, contornam a verdade
sempre que são confrontados por ela e se negam a assumir responsabilidades
agora e para o futuro.
Paulo clamou aos irmãos de Roma que não se
transformassem em geleias. Seja corajoso! Não se conforme! Não se deixe levar
pela vida! Rebele-se contra a mentalidade deste mundo e decida oferecer sua
vida como um sacrifício vivo a Deus.
Transformem-se pela renovação
É interessante observar que o chamado do apóstolo
Paulo é duplo. Além de nos convocar a dizerem NÃO à mentalidade deste século
ele nos chama para dizer um SIM à transformação pela renovação da mente.
Há pessoas que gostam do evangelho apenas do NÃO, mas
definitivamente ele é incompleto. Outros gostam do evangelho apenas do SIM,
porque tem dificuldade para abrir mãos de suas opiniões e gostos. Mas o
evangelho de Jesus tem NÃO e tem SIM.
Algumas pessoas acham que conversão é uma mudança de
atitude. Você bebia e agora não bebe mais, você fumava e agora não fuma mais,
você ia para a praia no domingo e agora vai pra igreja, você gastava seu
dinheiro na farra e agora gasta com a família. É claro que essas e outras
mudanças são importantes, mas a conversão e algo que acontece antes disso.
Conversão é quando você compreende que seu
corpo foi criado para glorificar a Deus e que por isso você precisa cuidar dele
e não destruí-lo. Conversão é
quando você compreende a importância de administrar bem o seu tempo e que isso
inclui conviver com os irmãos de fé. Conversão é quando você compreende que é apenas um mordomo, um
cuidador das coisas que tem e que por isso deve perguntar ao dono de tudo qual
é a melhor maneira de gastar.
Perceba que tudo começa com uma mudança em nossa
maneira de entender as coisas. Primeiro a maneira de encarar a vida é mudada,
depois mudam as atitudes. Primeiro vem o convencimento do Espírito atuando em nossos
corações, depois vem as mudanças na maneira de viver. Essa também é ordem
através da qual somos aperfeiçoadas: primeiro nossas mentes são renovadas e
depois somos transformados.
Irmãos, o mundo em que vivemos é como uma correnteza
gigantesca, arrasta a tudo e a todos. Não há como resistir por conta própria.
Para não virarmos uma geleia sem forma e sem vida, precisamos permitir que
nossa visão de mundo seja transformada. Essa é a renovação da mente a que Paulo
se refere.
Hoje à noite começamos afirmando que se alguém deseja
prosseguir com determinação como discípulo de Jesus não pode abrir mão do
estudo sério e da meditação piedosa nas Escrituras.
Quero concluir agora afirmando que a renovação de
nossas mentes ocorre quando nos expomos à Palavra Viva de Deus, que é Jesus
Cristo. Em Jo 15.3 Jesus falou aos seus discípulos “vocês já estão limpos, pela
palavra que lhes tenho falado’. Portanto, a mente é renovada quando deixamos
nosso ponto-de-vista sobre a vida ser iluminado pelo olhar de Jesus, porque ele
mesmo é a Palavra de Deus.
Dê a ele a oportunidade de convencê-lo. Exponha-se a
Jesus! Ouça a mensagem dele, leia sobre Jesus nas Escrituras, considere
atentamente seu ensino nos evangelhos. À medida que isso for acontecendo seu
modo de ver a vida será moldado, não mais por este mundo, mas pela mente de
Cristo.
Esse é o maravilhoso processo através do qual é
possível experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de deus. É o caminho
para todo e qualquer discípulo de Jesus. O que você acha de aceitar a
convocação do apóstolo Paulo e dizer NÃO a este mundo e SIM para o evangelho de
Jesus? Eu espero que você aceite o desafio.
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Que Deus nos abençoe.