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24 abril 2016

Discipulado – um crescimento sadio

Comunidade Batista Mangabeira IV - João Pessoa/PB - 24/04/16 

   
Hoje iremos refletir juntos sobre alguns versos de um texto muito conhecido. Trata-se de uma conversa que Jesus teve com seus discípulos um pouco antes de ser preso e crucificado. Nessa conversa, ele falou sobre videiras, uvas, varas e agricultores.

1 "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Jo 15:1-8

Oração

Nosso assunto hoje tem a ver com discipulado e crescimento. Um crescimento sadio. Como avaliar se estamos crescendo em nossa caminhada com Cristo? Nosso crescimento tem sido marcado por saúde espiritual? Penso que o texto da videira poderá nos ajudar nisso e a tomar decisões que nos assegurem a melhor direção para a caminhada.

Um novo significado

Ao usar a videira como ilustração, Jesus recorreu a uma imagem comum para aqueles que o escutavam; não apenas porque a videira fazia parte da agricultura hebraica, mas também porque a videira aparece muitas vezes como ilustração e simbologia no Antigo Testamento.

O profeta Oseias usou a imagem da videira viçosa para ilustrar a situação em que se encontrava Israel: uma nação próspera que se entregou à idolatria, cultuando os deuses dos povos vizinhos.

1 Israel era como videira viçosa; cobria-se de frutos. Quanto mais produzia, mais altares construía; Quanto mais sua terra prosperava, mais enfeitava suas colunas sagradas. Os 10.1

O profeta Isaías também usou a mesma imagem da videira, mas para descrever o cuidado constante de Deus com Israel.

2 Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores videiras. Construiu uma torre de sentinela e também fez um tanque de prensar uvas. Ele esperava que desse uvas boas, mas só deu uvas azedas. Is 5.2

De forma semelhante, o profeta Jeremias fala sobre uma videira de sementes selecionadas, mas que se tornou degenerada e selvagem

21 Eu a plantei como uma videira seleta, de semente absolutamente pura. Como, então, contra mim você se tornou uma videira degenerada e selvagem? Jr 2.21

Embora esta fosse uma imagem recorrente para seus ouvintes, quando Jesus a usou ele deu um novo significado à ilustração. Na fala dos profetas, a videira era sempre a nação de Israel, plantada e cuidada por Deus; Jesus, no entanto, se identificou como sendo ele mesmo a videira.

Talvez não seja possível para nós avaliar o impacto dessa nova proposta. Jesus apresentou-se a si mesmo como o centro da vida. Era ele o canal da vida de Deus, a salvação de Deus, a esperança de Deus. A vida está disponível para aqueles que permanecem ligados a ele.

Uma videira cultivada

Como vimos, os profetas do AT também falaram sobre a videira. Eles tinham convicção de que a videira estava nas mãos de um viticultor cuidadoso.

Oseias falou que a videira se tornou frutífera e cheia de vida porque era cultivada. Isaías falou que foram tomados todos os cuidados para que isso acontecesse: a terra foi arada, as pedras retiradas, as sementes selecionadas, colocou-se vigias para protegê-la e construiu-se um lugar para produzir vinho. Jeremias afirmou que foram escolhidas sementes perfeitas para que a videira produzisse frutos selecionados.

Ao falar da videira, Jesus acompanhou o pensamento dos profetas e começou apresentando o trabalho do viticultor. Em sua comparação Ele afirmou que Deus não apenas concede a vida, mas também providencia as condições para um crescimento sadio, afim de que venham os frutos esperados pelo viticultor.

Essa palavra de Jesus é um alento e uma esperança para nós, irmãos. Não fomos largados por conta própria nessa vida! Eu e você nascemos de novo. Somos como ramos que o Senhor fez nascer no tronco da videira. Mas nós não somos plantas silvestres, que crescem sozinhas no meio do mato, arrastando-se pelo chão. Somos parreiras cultivadas. Temos alguém que cuida de nós para que produzamos frutos doces e agradáveis aos Agricultor.

Como nosso Deus e agricultor faz isso? Jesus fala de duas ações. Dois tipos de poda: na primeira o dono da plantação corta os ramos sem fruto; na segunda ele limpa os galhos com algum fruto para que produzam ainda mais.

Podemos concluir, então, que Jesus está falando de três tipos de ramos: (1) os que não produzem fruto, (2) os que produzem algum fruto e (3) os que produzem muito fruto. Observe, porém, que todo os três tipos de ramos estão ligados à videira – “estando em mim”. Esse detalhe é importante para não sermos induzidos a um entendimento equivocado e perdermos parte do ensino de Jesus aqui.

O que faz o agricultor para garantir que sua videira cresça saudável e frutífera? Ele a poda. Hoje à noite vamos lidar apenas com o primeiro tipo de poda, para a qual Jesus usou a palavra grega airo (airw)

A primeira poda - airo (airw)

A primeira providência que o agricultor toma é em relação aos ramos que não produzem fruto. E o que ele faz? Em várias traduções a palavra airw, utilizada por Jesus, é traduzida por cortar; em algumas traduções mais antigas o tradutor optou por “retirar” ou “remover”. No entanto, e isso é impressionante, o uso mais comum dessa palavra nos dias de Jesus era com o significado de levantar, elevar ou erguer. Quem faz esse alerta é Bruce Wilkinson no livro “Segredos da Vinha”.

Levantar ou erguer é exatamente o que um viticultor faz para que um ramo que não produz passe a produzir. Quem cultiva uvas sabe que é nos ramos que os frutos são produzidos, portanto, ele trabalha para que cada ramo produza tudo o que é esperado dele.

O crescimento natural dos ramos de uma parreira é para o chão. Acontece assim com as parreiras não cultivadas. O viticultor, então, precisa erguer os ramos e preparar para eles suportes (que nós conhecemos por latadas) a fim de que esses ramos cresçam longe da poeira e, na época de chuva, da lama. Se os ramos crescerem para o chão terão suas folhas cobertas por poeira e lama e não crescerão saudáveis.

Acho que neste ponto podemos extrair duas lições para nossas vidas:

A)       A Beleza está nos frutos

A primeira lição é que a beleza de uma videira não está no seu próprio brilho. O sucesso de uma videira não consiste apenas no viço de suas folhas ou na abrangência do alcance de seus ramos. A beleza da videira está nos frutos que seus ramos produzem.

Os ramos não têm um fim em si mesmos. Não basta que eles estejam verdinhos e brilhoso. O agricultor espera que eles produzam frutos. Jesus confirma isso no verso 8: “o meu pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto;”

Isso nos ajudará a compreender, irmãos, que nosso crescimento como discípulo de Jesus pode ser avaliado pelos frutos que produzimos. Cabe o alerta de que não há qualquer indicação aqui da necessidade de esforço próprio para produzir frutos. Assim como é natural para os ramos de uma videira produzir uvas, também é natural para os discípulos de Jesus produzir frutos espirituais.

Os ramos nasceram na videira e recebem dela vida em forma de seiva. A vida da videira é o que produz os frutos nos ramos. Da mesma forma, o fruto espiritual na vida do discípulo é gerado em nós pela atuação do Espírito do Senhor. A vida de Cristo em nós é o que nos leva a produzir os frutos esperados pelo Agricultor.

Que frutos são esses?

Certamente não estamos falando de frequência aos cultos, contribuição financeira ou assumir responsabilidades eclesiásticas. (Ainda que essas coisas sejam importantes e necessárias à nossa caminhada coletiva).

Também não estamos falando de ações humanitárias, compromissos comunitários, e engajamento social. (Embora tudo isso possa vir exatamente dos frutos espirituais, da mesma forma que um delicioso suco pode ser extraído de uvas selecionadas).

É o apóstolo Paulo quem nos ajuda a perceber quais são os frutos que o Agricultor espera colher. Frutos dignos de ramos que nasceram da videira verdadeira. Na carta que escreveu aos irmãos da Galácia ele fala que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade (pavio longo), benignidade (amável), bondade e fidelidade (amor constante)”. Gl. 5.22,23.

Hoje, nos supermercados, podemos comprar frutas sem sementes, manipulas geneticamente. A uva sem semente, por exemplo, é mais fácil de comer. No entanto, é estéril: não tem a capacidade de produzir uma nova vida.

Mas o Fruto do Espírito não é estéril. Quando brota em nós, nele estão as sementes capazes de produzir novos discípulos de Jesus. Assim, à medida que nossas vidas se tornam mais saudáveis e frutíferas, isto é, cheias de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade e fidelidade, fazer discípulos se torna um movimento natural, resultado da vida de Cristo em nós.

A beleza está nos frutos.

B)       O Agricultor intervém

O segundo ensino de Jesus nesses primeiros versos do capitulo 15 de João é que o Pai, o agricultor que plantou a videira, trata cada ramo individualmente para que nenhum ramo permaneça sem fruto. Então, não tenha dúvidas: se você está ligado à videira, o agricultor vai intervir em sua vida.

 Esse ensino revela que o amor de Deus por nós não foi algo pontual, restrito à salvação, ou impessoal (Deus amou o mundo...). Ele intervirá na vida daqueles que nasceram de novo para que não permaneçam sem fruto.

A agricultor não vai deixar que você rasteje pelo chão da vida, coberto de pó e lama! Ele irá erguê-lo e o colocará sobre uma latada, um lugar alto, para que você tenha todas as condições de frutificar.

O plano do Senhor da Vide vai além de nos tornarmos videira próspera, brilhosa preparada e culta; Ele planejar para nós uma vida de constante frutificar. Se nossas vidas seguirem nessa direção, o Senhor intervirá. Com amor e de forma disciplinadora ele corrigirá a direção de nossas vidas.

Disciplina é quase sempre um problema para nós. Algumas de nossas experiências sobre ser disciplinado não são boas. Alguns de nós sofremos nas mãos de pais/mães descontrolados, que nos puniram no calor das emoções, tomados de sentimentos de inadequação e perdidos, sem saber como lidar com a vida.

É importante saber que não é desta maneira que o Senhor trata com a gente. Toda correção do Senhor é para o bem. Toda disciplina é para a edificação. Toda intervenção do Senhor é para que venhamos a ser tudo o que podemos ser. O seu amor por nós já foi provado e por isso podemos confiar nele.

Neste ponto é o escritor de Hebreus que ajudará a perceber a disciplina do Senhor por um outro ângulo e a lidar com ela. Porque assim com o viticultor direciona os ramos à produção de uvas, nosso Pai direciona nossas vidas à plenitude do Fruto do Espírito.

Leiamos o texto de Hebreus 12.

 5 (...) "Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão,6 pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho". Hb 12.5,6

O crescimento sadio do discípulo, em algum momento de nossa caminhada cristã, quando nos tornamos ramos improdutivos, passará pela disciplina do Senhor. Essas intervenções do agricultor são sempre motivas por seu amor.

Nós nos acostumamos a chamar de amor um jeito descuidado, desinteressado ou mesmo irresponsável de tratar as pessoas; aquela atitude de quem deixa o outro cair no precipício para não se tornar incômodo ou ser mal compreendido; é um amor que não se pronuncia para não correr o risco de ser rejeitado. O amor de Deus não é assim. Ele interfere e corrige aquele que ama.

No trecho que lemos, o escritor de Hebreus confirma esse entendimento e também nos leva a refletir sobre a maneira como reagimos à disciplina do Senhor. Os ramos da videira não têm vontade própria, mas, em algum grau, nós temos. Portanto, ele nos dá duas recomendações importantes para quando formos disciplinados:

a)  Não despreze

Fazer ouvido de mercador é sempre uma saída de portas aberta quando somos advertidos. A maioria de nós fez isso quando era criança. O aviso ecoa pela casa: cuidado com a bola! Presta atenção no sofá! Olha a porta aberta! É mais fácil fazer de conta que não é com a gente.

O Senhor também faz alertas. Na maioria das vezes Ele é bem mais suave do que as mães. Sua voz doce e firme ecoa em nossas consciências. Sua palavra escrita sussurra à nossas almas. O que faremos? Se você deseja um crescimento espiritual sadio, não despreze. Dê ouvidos aos alertas e siga na direção que o Senhor está apontando.

b)  Não se magoe.

Depois da etapa dos alertas, a disciplina caminha para uma intervenção: a bola é retira das suas mãos, suas mãos são retiradas do sofá, ou a porta é fechada. Nessas horas não é raro o choro sentido e soluçante tomar conta da casa.

Quando os alertas encontram ouvidos mocos, a disciplina do Senhor também passa para o nível seguinte. Muitas vezes isso contraria nossa vontade, frustrando planos e projetos e ficamos magoados com Deus e o mundo. O que faremos? Se você deseja um crescimento espiritual sadio, pare de resmungar. Em vez disso, busque ao Senhor em oração e peça discernimento sobre suas pisadas de bola. Depois corrija o rumo e siga na direção que o Senhor está apontando.

Conclusão

Irmãos, o Senhor é o dono da vinha. Ele plantou Jesus como a videira verdadeira. Através da cruz de Cristo, Ele resgatou homens e mulheres e os colocou em íntima ligação com o Filho, fazendo-nos ramos dessa videira verdadeira. A vida que temos em nós vem da videira: “Não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”.

A videira foi plantada para produzir frutos que glorificam o viticultor. Por isso quando alguns ramos, que estão ligados à videira, se tornam infrutíferos, o agricultor imediatamente interfere para que essa situação não continue.

Quando o agricultor interferir em sua vida, lembre-se que é por amor que ele faz isso. Não despreze a correção! Não fique magoado! Dê ouvidos aos seus alertas e procure identificar os passos errados. Depois corrija o rumo e siga na direção que o Senhor está apontando.


Você está ligado à videira verdadeira? Então permaneça nela! Uma vida cheia de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade e fidelidade está esperando por você. O Espírito produzirá em você os doces frutos da presença dele em nós.