Evangelho
Autêntico
Amai-vos como eu
vos amei
Conexão
Boa noite, irmãos e irmãs! Este é o quarto encontro
em que estamos refletindo sobre o Autêntico Evangelho de Jesus.
Primeiramente vimos que o Evangelho Autêntico é a
notícia de que Jesus veio a este mundo para vivermos a vida em toda a plenitude
planejada por Deus – Eu vim para que tenham vida.
Depois, chegamos à conclusão de que Jesus nos chamou
para si mesmo, não para uma religião. Ele é o único caminho para a liberdade dos
pesados fardos das tentativas de justiça própria, do esforço religioso e da
confiança no mérito pessoal – Eu vos aliviarei.
Em nosso terceiro encontro vimos que a conexão mais
importante de nossas vidas é com Cristo. Jesus é a videira, nós os ramos. Não
há conexão mais importante em sua vida do que a conexão com Jesus. É dele que
vem a seiva que mantém você espiritualmente vivo. Sem ele, nada de valor
poderemos fazer. Sem ele o que fazemos tem implicações eternas. Sem ele podemos
até parecer vivos, mas na verdade estamos mortos – Sem
mim nada podeis fazer.
Introdução
Hoje é o nosso quarto encontro e veremos mais um
aspecto do evangelho autêntico de Jesus Cristo: Ele nos deixou um mandamento
novo, diferente de tudo que já havia sido dito. Nosso texto base será Jo 13.34
e 15.12:
34Novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que
também vos ameis uns aos outros. Jo
13.34 (ARA)
No início deste ano, um irmão querido que
compartilhava a Palavra conosco, ali na Comunidade Batista em Mangabeira IV,
chamou-nos a atenção para o fato de que há uma gradação nos desafios feitos por
Jesus em relação a amar as outras pessoas. Ele destacou que ao nos desafiar a
amar da mesma maneira como ele nos amou, o Senhor está nos
conduzindo para um nível mais aperfeiçoado de amor. Aquele irmão considerou que
Jesus estaria nos desafiando a irmos além de amar o próximo como a si mesmo.
Enquanto ele falava fiquei pensando: como ir além?
Como amar da mesma maneira que ele nos amou, se a maioria de nós acha um grande
desafio amar os outros como ama a si mesmo? Aquilo me chamou a atenção!
Há quem pense que o caminho para o amor próprio é
colocar a si mesmo sempre em primeiro lugar. Alguns se dedicam tanto a isso que
se tornam amantes de si mesmo (2 Tm 3.2) e acabam engodados no próprio egoísmo.
Não me parece que seja esse o caminho dos discípulos de Jesus.
Há outros que não perceberam ainda o quanto são
importantes para Deus e amados por ele. A imagem que têm si mesmos é tão ruim
que acabam aprisionados por pensamentos de tristeza e depressão, sentindo
incapazes de amar quem quer que seja. Se você caiu nessa armadilha, precisa
saber que há uma esperança para essa situação.
Não há dúvida de que precisamos experimentar o amor
por nós mesmos para prosseguir amando as pessoas. No entanto, diferente do que
pregam alguns, esse amor próprio não cresce sadio no chão do egoísmo. Ele acontece
quando sabemos que somos importantes para alguém. É quando a gente se percebe
necessário e amado que bate aquela sensação de bem-estar consigo mesmo.
A questão é que nem sempre isso é verdade. Algumas
vezes o ambiente em nossa volta não é favorável para nos sentirmos amados pelos
outros e de bem com a vida. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a
Bíblia nos lembra, o tempo todo, a respeito do amor de Deus por nós. Em seu
versículo mais conhecido, ela nos diz “Deus amou o mundo de tal maneira...” (Jo
3.16). E depois afirma “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”. (1 Jo 4.19).
Aqueles que
seguem a Jesus, portanto, não dependem das circunstâncias em sua volta para se
sentirem amados; podem sempre contar com o amor de Deus, a despeito do estiver
rolando em sua volta (Essa paz que sinto
em minh’alma, não é porque tudo me vai bem!). Para nós, o amar-se a si
mesmo não depende prioritariamente de como a vida nos trata. A base de nosso
amor próprio é construída a partir do entendimento e da experiência do amor de
Deus em nossas vidas.
Foi aí que percebi que em matéria de amar as pessoas,
temos considerado o amor próprio como o objetivo máximo a ser alcançado, mas
parece que para Jesus esse é o patamar mínimo. Isso me inquietou ainda mais!
A lei do mais forte
Retorne comigo agora para os primórdios da criação.
Vejamos como nossa compreensão de amor foi-se aperfeiçoando.
Caim e Abel adoraram ao Senhor com o fruto do seu
trabalho. Abel era pastor de ovelhas e Caim agricultor. O texto não esclarece a
razão, mas o fato é que Deus aceitou a oferta de Abel, mas não aceitou o que
Caim lhe trouxera. Caim ficou furioso com aquela situação. Sua ira foi tanta que
ele tramou e executou o assassinato do seu irmão.
A reação de Caim foi completamente desproporcional.
Ele ficou transtornado com aquela situação. Mesmo depois de ter recebido uma
orientação direta de Deus, ele não se conteve e tirou a vida de seu irmão.
6O Senhor disse a Caim: "Por que você está
furioso? Por que se transtornou o seu rosto?7Se
você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o
ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". Gn 4.6,7(NVI)
Ao ser banido das terras que cultivava, a primeira
preocupação de Caim foi com sua própria vida. Embora tenha agido de forma
desproporcional com seu irmão, Caim acusou o Senhor de estar aplicando uma
punição desproporcional ao crime que ele havia cometido.
13Disse Caim ao Senhor: "Meu castigo é maior do
que posso suportar.14Hoje me expulsas desta terra, e terei que me esconder
da tua face; serei um fugitivo errante pelo mundo, e qualquer que me encontrar
me matará". Gn 4.13,14 (NVI)
A acusação não procedia. Ainda que sua vida fosse
tomada, isso seria apenas a mesma coisa que ele fizera com seu irmão. Mas Deus
agiu com misericórdia e pôs em Caim um sinal para que ninguém tomasse a
vingança de Abel em suas mãos.
15Não, respondeu-lhe o Senhor. Não te matarão. Porque
quem o fizesse havia de ser castigado sete vezes mais do que tu. E pôs em Caim
um sinal identificador, para o impedir de ser morto por quem o encontrasse. Gn 4.15
Esse descontrole que Caim experimentou, pouco a pouco,
tornou-se o padrão nos relacionamentos humanos. Cinco gerações se passaram até
que um homem chamado Lameque usou promessa feita por Deus a Caim para
justificar sua violência.
23Um dia Lameque disse às esposas dele: "Ada e
Zilá, escutem: Matei um homem porque me machucou, e um rapaz só porque me
pisou.24Se aquele que matar Caim vai receber castigo sete
vezes pior do que o dele, aquele que quiser vingar o que fiz sofrerá castigo
setenta e sete vezes pior!" Gn 4. 23,24.
Essa era a “lei” que reinava no coração dos homens. A
lei do assassinato, da violência, da impiedade e da opressão. É nesse contexto
que o texto sagrado afirma a intensão de Deus de recomeçar tudo. Um grande
dilúvio foi o que ele fez acontecer.
13Deus disse a Noé: "Darei fim a todos os seres
humanos, porque a terra encheu-se de violência por causa deles. Eu os
destruirei juntamente com a terra. Gn 6.13
Vem o dilúvio e o recomeço, mas o coração do ser
humano permanece cheio de medo e desconfiança. Não demorou muito até que o
mesmo descontrole que dominou Caim se tornasse novamente o padrão nos
relacionamentos humanos.
Os filhos de Abraão souberam que sua irmã, Diná, tinha
sido violentada por um homem chamado Siquém e ficaram indignados com aquilo.
Depois da violência cometida, Siquém sentiu-se atraído por Diná e propôs
casar-se com ela e a sustentá-la, conforme dizia a lei (Dt. 22.28-29). Mas os
irmãos de Diná, tomados pelo desejo de vingança, planejam com frieza uma
oportunidade para executá-la, exigindo que todos os homens da região se
circuncidassem para que o casamento fosse válido.
25Três dias depois, quando ainda sofriam dores, dois
filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, pegaram suas espadas e atacaram
a cidade desprevenida, matando todos os homens. Gn 34.25
Há pessoas em nossos dias, em nossas cidades que vivem
com base na mesma violência desmedida de Caim, Lameque e dos irmãos de Diná. A
violência, física ou verbal, é o único modo de relacionamento que conhecem. É
revoltante que a lei do mais forte sejam uma das poucas a ser cumprida em
nossas cidades, mas é inadmissível que a violência, aconteça na rua ou dentro
de casa, tenha lugar entre aqueles que são discípulos de Jesus.
Olho por olho, dente
por dente
Nesse cenário de violência desmedida, em que o coração
dos homens era facilmente tomado pela vingança, e que os crimes cometidos eram
punidos de acordo com a tamanho da ira do ofendido, Deus pôs um limite:
19"Quem ferir alguém, fazendo com que fique com
algum defeito, receberá castigo correspondente ao mal que fez. Terá de ser
ferido do mesmo modo.20A regra é esta: fratura por fratura, olho
por olho, dente por dente. O que um homem fizer a outro, isso mesmo será feito
a ele. Lv 24.19,20
Essa regra, conhecida com a Lei de Talião, estava
presente em muitas culturas antigas e funcionou como um limite dado por Deus
para violência humana. Hoje quando ouvimos temos a impressão de algo cruel, mas
no contexto e que ela foi proposta era exatamente o contrário.
Ao mesmo tempo que colocava limite na vingança pessoal
e desmedida, a lei de Talião provocava o extinto de autopreservação. Você gosta
do seu braço? Então é melhor não ferir o braço do outro. Você gosta dos seus
dentes? Então é melhor deixar os dentes do outro em paz
A lei do olho-por-olho, de certa forma, cumpriu seu
papel de estabelecer um limite para os ofendidos descontrolados. Mas, por outro
lado, os ofendidos frios e calculistas passaram a usá-la como um instrumento de
reparação e vingança, cultivando ainda em suas almas sentimentos de desamor,
ódio e rancor contra seus ofensores.
Tem gente que ainda hoje gosta da Lei de Talião.
Normalmente é gente que se acha muito certinha, controlada e que nunca vai
perder as estribeiras. É gente que acha que sempre tem razão e que jamais será
alçado por uma norma assim, por isso fica animada em aplicá-la para os outros. Para
esses, “olho por olho” se transformou em uma arma contra seus inimigos.
Infelizmente, tá cheio de crente que é fã da Lei de Talião.
Eu, porém, vos
digo...
Nos dias de Jesus, os efeitos positivos da lei de
Talião já estavam instalados no modo de vida das pessoas. A vingança
descontrolada dos tempos antigos havia encontrado alguns limites. Mas isso não
era suficiente. Jesus desafia, então, para um novo passo:
38"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e
dente por dente’.39Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Mt 5.38,39
Nesse novo degrau, somos desafiados pelo Senhor a
interromper o percurso do mal. A maldade se perpetua pela vingança. Limitar a
vingança limita o terreno de atuação do mal, mas quando dizemos não à vingança
o mal é vencido.
O desafio proposto por Jesus tem a ver como o nosso
modo de encarar a vida:
·
Como
você reage ao ser ofendido ou agredido? Deseja tomar nas mãos a vingança? Você confia
o suficiente no Senhor para deixar tudo nas mãos dele e vê-lo preservar os
relacionamentos?
·
Como
você lida com injúria, o perjúrio ou a acusação mentirosa (na rua ou na
justiça)? Você está pronto a abrir mão de algo para manter a paz ou prefere a guerra?
Dá pra esperar?
·
Você
está pronto a submeter-se a leis injustas, impostas arbitrariamente, para
testemunhar a respeito do bom nome de Cristo?
O desafio é a viver nossos dias aqui da melhor maneira
possível, sem perder de vista a esperança do governo justo de Cristo, quando
aquilo que agora é e parte será plenamente vivido por todos.
Como a si mesmo...
Quando foi indagado sobre qual era o mandamento mais
importante de todos, Jesus apresentou a seguinte resposta:
29Respondeu Jesus: "O mais importante é este:
‘Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor.30Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de
toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças’.31O segundo é este: ‘Ame o seu próximo como a si
mesmo’. Não existe mandamento maior do que estes". Mc 12.29-31
Chegamos de volta agora ao começo de nossas reflexões:
amar o próximo como a si mesmo. Há muitos crentes que se dão por satisfeitos em
não desejar o mal para ninguém e a ajudar uma outra pessoa mais próxima.
Sentem-se assim cumprindo o segundo mandamento. Mas será isso apenas?
Para quem acabou de sair do olho por olho e ainda está
se despindo dos panos de trapo do velho homem, este são passos necessários e
desafiadores. Na verdade, amar o próximo como a si mesmo é uma espécie de
introdução ao desafio final de Cristo.
Amar o próximo como a si mesmo engloba todos os
mandamentos relacionais do antigo testamento e certamente está no projeto de
Deus para a vida humana. Mas como é isso demonstrado na prática? Sem um
referencial, podemos ser tentados a relativizar esse amor.
Alguém que sente algum prazer doentio, poderia
utilizar-se dessa máxima para ferir outros em nome de seu próprio prazer. Outro
que afirme não se importar em amado, pode usar a máxima para não amar as
pessoas em sua volta.
Muito do que desejamos para nós é bom e agradável ao
Senhor, mas não é difícil que alguns de nossos desejos para nós mesmos esteja
corrompidos pelo pecado que habita em nós, transformando-se em desculpar aparentemente
perfeita para não amar. Diante dessas relativizações, Jesus mostrou em sua
própria vida como é esse amor.
Há crentes que estão emaranhados nessas desculpas. Não
ensinam porque não gostam de ser ensinados. Não exortam porque não gostam de
ser exortados. Não cuidam dos outros porque não se permitem ser cuidados. Não
se interessam pelos outros porque não abrem suas vidas para serem tratados. Por
fim não amam, porque dizem não ter interesse em serem amados. Tudo isso é
desculpa esfarrapada de quem se apega à letra da lei.
Como eu vos amei
Por fim chegamos ao nosso desafio final:
34Novo mandamento vos dou: que vos ameis
uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Jo 13.34 (ARA)
Como foi esse amor de Jesus? Ele mesmo explicou isso.
Um pouco mais à frente em sua conversa com os discípulos ele voltou a falar
desse novo mandamento e explicou melhor:
12O meu mandamento é este: que vos ameis
uns aos outros, assim como eu vos amei.13Ninguém
tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus
amigos. Jo 15.12,13
Amar como Jesus amou é colocar a vida a serviço das
outras pessoas. Esse é um novo patamar de amor. É um amor sacrificial, que
encontra significado além de si mesmo. É ao mesmo tempo a explicação e
aprofundamento do que significa amar o próximo como a si mesmo.
Não é preciso muito para explicar a natureza do amor
de Cristo por nós. Ele entregou-se à morte por mim e por você. Jesus não foi
assassinado contra sua vontade. Como um cordeiro mudo que é encaminhado para o
abate, assim ele caminhou para a cruz do Cálvario.
Certa vez ele disse:
17Por isso é que meu Pai me ama, porque eu
dou a minha vida para retomá-la.18Ninguém
a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Jo 10.18 (NVI)
O apóstolo Paulo fez uma afirmação que representa bem
essa disposição de amar como Jesus amou:
15E eu sinto-me feliz em me dar totalmente
a mim mesmo e tudo quanto tenho para vosso bem espiritual, embora pareça que
quanto mais vos amo, menos vocês me amem. 2 Co 12.15 NVI
Amar como Jesus amou e se deixar gastar em prol do bem
espiritual de outras pessoas. Aqui não tem cabimento a lei do mais forte, da
vingança sem medida. Não faz sentido a lei de Talião, do olho por olho, dente
por dente. Isso vai muito além do amar a si mesmo e ultrapassa o simples amar o
próximo com a si mesmo. Isso é amar como Jesus amou.
Em outra versão a expressão usada por Paulo foi
traduzida por gastar-se.
15 Assim, de boa vontade, por amor de vocês,
gastarei tudo o que tenho e também me desgastarei pessoalmente. 2 Co 12.15 NVI
Que grande desafio para os dias em que vivemos! Dias
em que somos encorajados por outros evangelhos a viver para nós mesmos, a
cuidar de nossos interesses e a fazer tudo para que nossas vidas sejam o mais
confortáveis que for possível.
Que grande desafio saber que o autêntico evangelho de
Jesus, com clareza cristalina, nos afirma que o sentido de nossas vidas está
além de nós mesmo. Gastar-se e se deixar gastar, pessoalmente, sem delegações ou
terceirizações, em prol do bem espiritual daqueles que nos cercam.
Que desafio investir tempo, recursos e a própria vida
na esperança e na confiança de que a aparentem rejeição e incompreensão, no
final resultaram no bem espiritual daqueles a quem o Senhor nos chamou a amar.
Que Ele nos encha de coragem e confiança para amar
como Jesus amou.
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