07 maio 2016

Evangelho Autêntico - Eu vim para que tenham vida

PIB Nova Esperança - Santa Rita/PB - 07/05/16 


Evangelho Autêntico
Eu vim para que tenham vida

O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10 (NVI)

Introdução

Expresso aqui minha gratidão à liderança da Primeira Igreja Batista Nova Esperança pelo convite para essas noites de sábado, e pelo espaço que me permite compartilhar com os irmãos algo sobre aquilo que compreendo ser o Autêntico Evangelho de Jesus.

Quando João Paulo me apresentou o tema, de imediato fui capturado por ele. Falar sobre o evangelho enche o coração de quem ama o Senhor; ainda mais quando se tem a oportunidade de resgatar elementos da autenticidade desse evangelho, como é nossa proposta para esta série de reflexões que começaremos hoje.

Um observador atento e com perspectiva histórica perceberá com rapidez que, comparado a épocas anteriores, vivemos dias de abundância de recursos a respeito da fé em Jesus. À nossa disposição temos estudos, mensagens, aulas, pregações, músicas, livros, conferências, seminários, encontros, etc. Toda sorte de ferramenta que se possa imaginar está cada vez mais acessível, inclusive através da internet. De maneira que não é demais afirmar que nossos dias estão encharcados de evangelho.

No entanto, nem tudo que inunda os meios de comunicação e a fala das pessoas é realmente a autêntica mensagem de Cristo. Sobre isso o apóstolo Paulo alertou os irmãos da região da Galácia dizendo o seguinte:

6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, 7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Gl. 1:6-8 (ARA)

Portanto, desde os primeiros dias da igreja, somos ensinados pelo Espírito de Deus que não devemos aceitar qualquer mensagem que fale de Deus ou de Jesus como se fosse o evangelho de Cristo. É preciso conferir sua autenticidade.

É essa a motivação dessas reflexões: voltar às Escrituras e conferir de que se trata o autêntico evangelho de Jesus, apresentado por ele mesmo nas páginas dos evangelhos.

Claro que não é possível ser exaustivo, isto é, esgotar o assunto. Mas acredito que os seis pontos a serem abordados durante esta série poderão nos deixar mais preparados para rejeitar “outros evangelhos” que se oferecem nas prateleiras dos mercados da fé.

Texto e oração

O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10 (NVI)

O ladrão e o bom pastor

Eu vim para que tenham vida! Essa fala de Jesus é muito conhecida dos leitores dos evangelhos, mas se popularizou depois de ser usada pela CNBB em uma das Campanhas da Fraternidade, lançadas anualmente por aquela entidade no período chamado de quaresma.

O contexto em que Jesus nos faz essa maravilhosa revelação é uma conversa sobre ovelhas, apriscos, ladrões, pastores, etc. Cuidar de um rebanho de ovelhas era uma atividade profissional bem comum nos dias de Jesus. Por isso ele a usou como exemplo. Jesus fazia isso com frequência: usava as coisas comuns do dia-a-dia para ensinar verdades e princípios eternos.

Existe um contraponto que me chama a atenção nessa história: de um lado Jesus nos apresenta o ladrão: ele não tem qualquer apreço pelo rebanho. O bem-estar das ovelhas não faz parte dos seus interesses. Ele está disposto a roubar, matar e destruir, porque seu objetivo é tirar proveito da situação. Ele está pronto para sacrificar a vida do rebanho em prol de si mesmo.

Do outro lado da comparação está o próprio Jesus. Ele é a porta do aprisco, por onde as ovelhas passam (à noite para encontrar lugar de descanso; durante o dia para encontrar pastagens e água). Ele está pronto para entregar a própria vida a fim de preservar a integridade do rebanho. Ele é o bom pastor que entrega a própria vida para que suas ovelhas vivam vidas fartas, plenas de tudo o que é necessário.

Então, o ladrão furta, destrói e mata, mas Jesus oferece às suas ovelhas uma vida plena, abundante mesmo. Quero me concentrar hoje à noite em como o Senhor faz isso.

Eu sei que algumas pessoas compreendem que vida abundante é aquele em que temos tudo aquilo que desejamos. Mas eu entendo que esse não é o conceito do Evangelho. Quando leio os ensinos de Jesus, entendo que essa vida abundante está relacionada muito mais àquilo que Jesus faz em nós do que a algo que ele nos dá.

Se por um lado o ladrão furta, destrói, e mata. Acredito que Jesus (1) restitui, (2) refaz e (2) reanima.

Restitui a nossa humanidade

A primeira ação de Cristo para nos conceder vida plena é restituir nossa plena humanidade. A humanidade que um dia recebemos de Deus foi corrompida e se tornou menor. Não é demais, portanto, afirmar que a humanidade, de acordo com a imagem e semelhança de Deus, nos foi furtada.

Não somos tudo aquilo que o Deus planejou que seríamos. Não é difícil reconhecer isso. Basta abrir os jornais ou ligar a TV para constatar! A notícias são desanimadoras: assassinatos, roubos, estupros, desrespeito, mentiras, humilhações, xingamentos, pouco caso, intolerância, conivência, coações, arrogância, abusos e outras coisas terríveis como estas nos fazem menos humanos. Mas, se você preferir, pode ler esse trecho da Bíblia:

10 Como dizem as Escrituras: “Não há ninguém sem pecado. Ninguém! 11 Não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. 12 Todos se afastaram, todos ficaram sem qualquer valor. Não há ninguém que faça o bem. Ninguém!” 13 “Suas bocas são como túmulos abertos; usam a língua para mentir.” “O que dizem é como veneno de cobras!”14 “As suas bocas estão cheias de maldições e amargura.” 15 “Estão sempre prontos para matar 16  e para onde quer que vão causam ruína e miséria. 17 Não conhecem o caminho da paz.” 18 “Não tem nenhum respeito por Deus.” Rm 3.10-18 (VFL)

Fomos furtados, irmãos! Sem que nos déssemos conta, nos levaram o respeito pela vida! As pessoas perderam o valor para nós! Somos uma sociedade sempre pronta para matar; quando não usamos armas brancas ou de fogo, usamos palavras e atitudes.

Fomos furtados, irmãos! Na calada da noite nos levaram embora a disposição de fazer o bem com alegria, de ajudar os que passam por alguma necessidade, de proteger os indefesos, de dizer palavras de encorajamento. Somos uma sociedade em que ser altruísta é perda de tempo.

O Senhor nos quer dar vida plena! E como ele faz isso? Ele muda a disposição da nossa mente por meio da presença do seu Espírito em nós. E exatamente isso que o profeta Ezequiel quis dizer:

26 Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. 27 Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis. Ez 36.26,27 (NVI).

De forma gentil, o Espírito tenta restaurar em nós a imagem e a semelhança de Deus, a plenitude da nossa humanidade. Com sussurros e exortações ele nos conduz a valorizar a vida, abençoar as pessoas, defender quem sofre ameaças, lutar pela verdade, encorajar os humilhados, preservar os relacionamentos, promover a paz, respeitar os diferentes e amar a todos.

Sua vida será plena na proporção em que você dá ouvidos à voz do Espírito e permite que sua maneira de encarar a vida seja moldada pelos seus preciosos ensinamentos. Portanto, não faça ouvidos de mercador, quando ele sugerir mudanças em sua vida.

Refaz a nossa identidade

A segunda ação de Cristo para nos conceder vida plena, é refazer nossa identidade. Esse é um assunto importante, porque a maneira como nós nos percebemos tem uma influência direta sobre nossa maneira de viver a vida.

O mundo é tão grande complexo que é muito fácil nos sentirmos um zé-ninguém, apenas uma peça nessa engrenagem. Acordamos pela manhã, saímos para trabalhar, fazemos o que nos pagam pra fazer, voltamos para casa, assistimos TV, dormimos, acordamos no dia seguinte, e lá se vai tudo outra vez. Nossa existência nesse mundo tem algum valor? Somos alguém ou apenas mais um? Era assim que se sentia o escritor de Eclesiastes:

3 O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do sol?4 Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre.5 O sol se levanta e o sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta. 6 O vento sopra para o sul e vira para o norte; dá voltas e mais voltas, seguindo sempre o seu curso. 7 Todos os rios vão para o mar, contudo o mar nunca se enche; ainda que sempre corram para lá, para lá voltam a correr. 8 Todas as coisas trazem canseira. Ec 1.3-8 (NVI)

Alguns, no entanto, não estão assim de cabeça baixa. Não estão deprimidos e absortos na rotina da vida. Estão de olhos levantados e se esforçam para compreender o mundo ao seu redor. No entanto, mesmo estes, precisam lidar com a mesma questão: Temos algum valor neste universo infinito? Será que não somos apenas uma poeirinha cósmica que respira? Veja a reflexão do salmista:

1 Ó Senhor nosso Deus, a grandeza e a honra do teu nome transborda dos céus e enche toda a Terra. 2 Tu ensinaste as criancinhas a louvar-te perfeitamente, para que o exemplo delas envergonhe e reduza a silêncio os teus inimigos!3 Quando de noite contemplo os céus e vejo a obra dos teus dedos, a Lua e as estrelas que fizeste,4 pergunto: Quem é o homem, para que te preocupes com ele? Quem é o filho do homem, que te lembres dele! Sl 8.1-4 (OL)

Nossa sociedade tem respostas muito práticas para essas inquietações da alma. As vozes que surgem são rápidas para oferecer uma solução:

Você é aquilo que veste!
Você é o carro que tem!
Você é o curso que fez!
Você é um acaso que deu certo!
Você é o conhecimento que tem!
Você é a fé que professa!

Nossa identidade está despedaçada! Nossa sociedade agoniza em uma crise de significado sem fim. Nossas igrejas estão atordoadas e sem rumo.

Mas o evangelho autêntico de Jesus tem uma direção. O trabalho continua sendo do Espírito de Deus. Ao entrar em nossas vidas por meio da rendição a Jesus, ele nos concede uma nova identidade. Vejam o que diz o apóstolo João:

10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, Jo 1.10-12 (NVI)

O apóstolo Paulo detalha essa obra do Espírito e nos ajuda a perceber como podemos confiar nas transformações que o amor de Deus produz em nós.

14 porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temer, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: "Aba, Pai". 16 O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Rm 8.14-16 (NVI)

Essa é nossa nova identidade, irmãos. Quando nos rendemos a Jesus, o Espírito de Deus encontrou lugar em nossas vidas. Sua primeira obra foi nos fazer filhos, nos adotar na família de Deus. Essa é nossa identidade! Não somos um zé-ninguém! Não somos poeira cósmica! Somos filhos amados de Deus! O amor dele por nós foi provado na cruz! Deus se fez gente e entrou na história para que essa nova identidade se tornasse real!

Somos importantes não por aquilo que vestimos, calçamos, compramos, comemos, estudamos, entendemos ou onde moramos. Não nos deixemos enganar! Essas coisas fazem parte da vida, mas não podemos deixar que se tornem determinantes para nossa identidade.

Nossa importância reside no fato de que somos amados; porque somos importantes de verdade apenas para aqueles que nos amam. E Deus nos ama! É sobre este chão que nossa identidade deve ser construída. O chão do amor de Deus por nós. Amor provado e comprovado.

Há muito o que falar sobre essa nova identidade em Cristo Jesus que não cabe nesta reflexão. Mas devemos sair daqui com a clareza de que a vida abundante que o Senhor prometeu passa pela por nos apropriamos dessa nova identidade que recebemos por meio do Espírito de Deus.

Reanima para a eternidade

A terceira ação de Cristo para nos conceder vida plena é nos reanimar para a eternidade.

Eu acredito que parte da angústia que consome a vida de muitos é a ausência de uma esperança que vá além desta vida. De forma geral somos uma geração que não tem expectativas sobre a eternidade. Não ansiamos por ela!

Fomos ensinados que a vida é aqui. O agora é o que importa, a única coisa que realmente existe. Portanto, o melhor a fazer é usufruir de tudo que a vida possa oferecer, porque o depois é incerto e duvidoso.

Esse modo de pensar também encontra espaço entre nós, na igreja. Temos nos tornado apressados, imediatistas e pragmáticos; incapazes de esperar o tempo necessário para as mudanças de Deus em nós e em nossos irmãos. Algumas vezes atropelamos uns aos outros em busca de audiência nos cultos, e curtidas no Face.

No entanto, quanto maior é a pressão para ficarmos satisfeitos com o aqui e o agora, mais nossa alma se angustia e entristece. Isso tem uma razão: Deus plantou em nós um profundo anseio pela eternidade.

11 Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou. Ec 3.11(KJA)

A vida é um presente maravilhoso de Deus. Mas ela não comporta a eternidade, não cabe nela tudo aquilo que Deus planejou para nós.

Por mais longa seja nossas vidas, por mais saudáveis sejam nossos dias, por mais realizações alcancemos, por mais produtiva seja nossa rotina, por mais prazer venhamos a sentir, por mais intensas sejam as alegrias... não será suficiente.

Por mais numerosos sejam os concílios, por mais ECCs e EJCs aconteçam, por mais abençoados sejam os cultos jovens, por mais instrutivas sejam as EBs, e mais tremendos os retiros e vigílias... não será suficiente.

Porque esta vida não é suficiente para preencher o desejo de eternidade que temos em nossas almas.

O autêntico evangelho de Jesus muda nossa perspectiva e nos liberta da prisão do imediatismo.

Certa vez um homem insistiu para que Jesus julgasse a disputa entre ele e o seu irmão em relação herança deixada pelo pai. Ao ver que ele dava mais valor à herança do que ao relacionamento com seu irmão, Jesus contou a história de um homem que tentou preencher esse anseio pela eternidade com suas riquezas. As palavras ditas àquele homem são importantes.

20 (...) Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Lc 12.15,20 (ARA)

O evangelho autêntico de Jesus ecoou também nas palavras do Apóstolo Paulo. Através dele somos animados a olhar para a eternidade com esperança. Não podemos deixar a mentalidade de nossos dias nos aprisione nesta vida.

19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. 1 Co 15.9 (ARA)

Onde está nossa esperança, irmãos? Por séculos os cristãos olharam para a eternidade aguardando a vida plena e abundante prometida por Jesus. Eles encontraram conforto em saber que um dia todo o choro será consolado, toda a dor será banida e os anseio de nossas almas encontraram consolo naquele é ele mesmo a plenitude de Deus.

Restituídos em nossa humanidade, refeitos em nossa identidade e animados para a eternidade, podemos avançar para a vida plena prometida pelo Senhor.


(...) eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10 (NVI)

24 abril 2016

Discipulado – um crescimento sadio

Comunidade Batista Mangabeira IV - João Pessoa/PB - 24/04/16 

   
Hoje iremos refletir juntos sobre alguns versos de um texto muito conhecido. Trata-se de uma conversa que Jesus teve com seus discípulos um pouco antes de ser preso e crucificado. Nessa conversa, ele falou sobre videiras, uvas, varas e agricultores.

1 "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Jo 15:1-8

Oração

Nosso assunto hoje tem a ver com discipulado e crescimento. Um crescimento sadio. Como avaliar se estamos crescendo em nossa caminhada com Cristo? Nosso crescimento tem sido marcado por saúde espiritual? Penso que o texto da videira poderá nos ajudar nisso e a tomar decisões que nos assegurem a melhor direção para a caminhada.

Um novo significado

Ao usar a videira como ilustração, Jesus recorreu a uma imagem comum para aqueles que o escutavam; não apenas porque a videira fazia parte da agricultura hebraica, mas também porque a videira aparece muitas vezes como ilustração e simbologia no Antigo Testamento.

O profeta Oseias usou a imagem da videira viçosa para ilustrar a situação em que se encontrava Israel: uma nação próspera que se entregou à idolatria, cultuando os deuses dos povos vizinhos.

1 Israel era como videira viçosa; cobria-se de frutos. Quanto mais produzia, mais altares construía; Quanto mais sua terra prosperava, mais enfeitava suas colunas sagradas. Os 10.1

O profeta Isaías também usou a mesma imagem da videira, mas para descrever o cuidado constante de Deus com Israel.

2 Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores videiras. Construiu uma torre de sentinela e também fez um tanque de prensar uvas. Ele esperava que desse uvas boas, mas só deu uvas azedas. Is 5.2

De forma semelhante, o profeta Jeremias fala sobre uma videira de sementes selecionadas, mas que se tornou degenerada e selvagem

21 Eu a plantei como uma videira seleta, de semente absolutamente pura. Como, então, contra mim você se tornou uma videira degenerada e selvagem? Jr 2.21

Embora esta fosse uma imagem recorrente para seus ouvintes, quando Jesus a usou ele deu um novo significado à ilustração. Na fala dos profetas, a videira era sempre a nação de Israel, plantada e cuidada por Deus; Jesus, no entanto, se identificou como sendo ele mesmo a videira.

Talvez não seja possível para nós avaliar o impacto dessa nova proposta. Jesus apresentou-se a si mesmo como o centro da vida. Era ele o canal da vida de Deus, a salvação de Deus, a esperança de Deus. A vida está disponível para aqueles que permanecem ligados a ele.

Uma videira cultivada

Como vimos, os profetas do AT também falaram sobre a videira. Eles tinham convicção de que a videira estava nas mãos de um viticultor cuidadoso.

Oseias falou que a videira se tornou frutífera e cheia de vida porque era cultivada. Isaías falou que foram tomados todos os cuidados para que isso acontecesse: a terra foi arada, as pedras retiradas, as sementes selecionadas, colocou-se vigias para protegê-la e construiu-se um lugar para produzir vinho. Jeremias afirmou que foram escolhidas sementes perfeitas para que a videira produzisse frutos selecionados.

Ao falar da videira, Jesus acompanhou o pensamento dos profetas e começou apresentando o trabalho do viticultor. Em sua comparação Ele afirmou que Deus não apenas concede a vida, mas também providencia as condições para um crescimento sadio, afim de que venham os frutos esperados pelo viticultor.

Essa palavra de Jesus é um alento e uma esperança para nós, irmãos. Não fomos largados por conta própria nessa vida! Eu e você nascemos de novo. Somos como ramos que o Senhor fez nascer no tronco da videira. Mas nós não somos plantas silvestres, que crescem sozinhas no meio do mato, arrastando-se pelo chão. Somos parreiras cultivadas. Temos alguém que cuida de nós para que produzamos frutos doces e agradáveis aos Agricultor.

Como nosso Deus e agricultor faz isso? Jesus fala de duas ações. Dois tipos de poda: na primeira o dono da plantação corta os ramos sem fruto; na segunda ele limpa os galhos com algum fruto para que produzam ainda mais.

Podemos concluir, então, que Jesus está falando de três tipos de ramos: (1) os que não produzem fruto, (2) os que produzem algum fruto e (3) os que produzem muito fruto. Observe, porém, que todo os três tipos de ramos estão ligados à videira – “estando em mim”. Esse detalhe é importante para não sermos induzidos a um entendimento equivocado e perdermos parte do ensino de Jesus aqui.

O que faz o agricultor para garantir que sua videira cresça saudável e frutífera? Ele a poda. Hoje à noite vamos lidar apenas com o primeiro tipo de poda, para a qual Jesus usou a palavra grega airo (airw)

A primeira poda - airo (airw)

A primeira providência que o agricultor toma é em relação aos ramos que não produzem fruto. E o que ele faz? Em várias traduções a palavra airw, utilizada por Jesus, é traduzida por cortar; em algumas traduções mais antigas o tradutor optou por “retirar” ou “remover”. No entanto, e isso é impressionante, o uso mais comum dessa palavra nos dias de Jesus era com o significado de levantar, elevar ou erguer. Quem faz esse alerta é Bruce Wilkinson no livro “Segredos da Vinha”.

Levantar ou erguer é exatamente o que um viticultor faz para que um ramo que não produz passe a produzir. Quem cultiva uvas sabe que é nos ramos que os frutos são produzidos, portanto, ele trabalha para que cada ramo produza tudo o que é esperado dele.

O crescimento natural dos ramos de uma parreira é para o chão. Acontece assim com as parreiras não cultivadas. O viticultor, então, precisa erguer os ramos e preparar para eles suportes (que nós conhecemos por latadas) a fim de que esses ramos cresçam longe da poeira e, na época de chuva, da lama. Se os ramos crescerem para o chão terão suas folhas cobertas por poeira e lama e não crescerão saudáveis.

Acho que neste ponto podemos extrair duas lições para nossas vidas:

A)       A Beleza está nos frutos

A primeira lição é que a beleza de uma videira não está no seu próprio brilho. O sucesso de uma videira não consiste apenas no viço de suas folhas ou na abrangência do alcance de seus ramos. A beleza da videira está nos frutos que seus ramos produzem.

Os ramos não têm um fim em si mesmos. Não basta que eles estejam verdinhos e brilhoso. O agricultor espera que eles produzam frutos. Jesus confirma isso no verso 8: “o meu pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto;”

Isso nos ajudará a compreender, irmãos, que nosso crescimento como discípulo de Jesus pode ser avaliado pelos frutos que produzimos. Cabe o alerta de que não há qualquer indicação aqui da necessidade de esforço próprio para produzir frutos. Assim como é natural para os ramos de uma videira produzir uvas, também é natural para os discípulos de Jesus produzir frutos espirituais.

Os ramos nasceram na videira e recebem dela vida em forma de seiva. A vida da videira é o que produz os frutos nos ramos. Da mesma forma, o fruto espiritual na vida do discípulo é gerado em nós pela atuação do Espírito do Senhor. A vida de Cristo em nós é o que nos leva a produzir os frutos esperados pelo Agricultor.

Que frutos são esses?

Certamente não estamos falando de frequência aos cultos, contribuição financeira ou assumir responsabilidades eclesiásticas. (Ainda que essas coisas sejam importantes e necessárias à nossa caminhada coletiva).

Também não estamos falando de ações humanitárias, compromissos comunitários, e engajamento social. (Embora tudo isso possa vir exatamente dos frutos espirituais, da mesma forma que um delicioso suco pode ser extraído de uvas selecionadas).

É o apóstolo Paulo quem nos ajuda a perceber quais são os frutos que o Agricultor espera colher. Frutos dignos de ramos que nasceram da videira verdadeira. Na carta que escreveu aos irmãos da Galácia ele fala que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade (pavio longo), benignidade (amável), bondade e fidelidade (amor constante)”. Gl. 5.22,23.

Hoje, nos supermercados, podemos comprar frutas sem sementes, manipulas geneticamente. A uva sem semente, por exemplo, é mais fácil de comer. No entanto, é estéril: não tem a capacidade de produzir uma nova vida.

Mas o Fruto do Espírito não é estéril. Quando brota em nós, nele estão as sementes capazes de produzir novos discípulos de Jesus. Assim, à medida que nossas vidas se tornam mais saudáveis e frutíferas, isto é, cheias de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade e fidelidade, fazer discípulos se torna um movimento natural, resultado da vida de Cristo em nós.

A beleza está nos frutos.

B)       O Agricultor intervém

O segundo ensino de Jesus nesses primeiros versos do capitulo 15 de João é que o Pai, o agricultor que plantou a videira, trata cada ramo individualmente para que nenhum ramo permaneça sem fruto. Então, não tenha dúvidas: se você está ligado à videira, o agricultor vai intervir em sua vida.

 Esse ensino revela que o amor de Deus por nós não foi algo pontual, restrito à salvação, ou impessoal (Deus amou o mundo...). Ele intervirá na vida daqueles que nasceram de novo para que não permaneçam sem fruto.

A agricultor não vai deixar que você rasteje pelo chão da vida, coberto de pó e lama! Ele irá erguê-lo e o colocará sobre uma latada, um lugar alto, para que você tenha todas as condições de frutificar.

O plano do Senhor da Vide vai além de nos tornarmos videira próspera, brilhosa preparada e culta; Ele planejar para nós uma vida de constante frutificar. Se nossas vidas seguirem nessa direção, o Senhor intervirá. Com amor e de forma disciplinadora ele corrigirá a direção de nossas vidas.

Disciplina é quase sempre um problema para nós. Algumas de nossas experiências sobre ser disciplinado não são boas. Alguns de nós sofremos nas mãos de pais/mães descontrolados, que nos puniram no calor das emoções, tomados de sentimentos de inadequação e perdidos, sem saber como lidar com a vida.

É importante saber que não é desta maneira que o Senhor trata com a gente. Toda correção do Senhor é para o bem. Toda disciplina é para a edificação. Toda intervenção do Senhor é para que venhamos a ser tudo o que podemos ser. O seu amor por nós já foi provado e por isso podemos confiar nele.

Neste ponto é o escritor de Hebreus que ajudará a perceber a disciplina do Senhor por um outro ângulo e a lidar com ela. Porque assim com o viticultor direciona os ramos à produção de uvas, nosso Pai direciona nossas vidas à plenitude do Fruto do Espírito.

Leiamos o texto de Hebreus 12.

 5 (...) "Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão,6 pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho". Hb 12.5,6

O crescimento sadio do discípulo, em algum momento de nossa caminhada cristã, quando nos tornamos ramos improdutivos, passará pela disciplina do Senhor. Essas intervenções do agricultor são sempre motivas por seu amor.

Nós nos acostumamos a chamar de amor um jeito descuidado, desinteressado ou mesmo irresponsável de tratar as pessoas; aquela atitude de quem deixa o outro cair no precipício para não se tornar incômodo ou ser mal compreendido; é um amor que não se pronuncia para não correr o risco de ser rejeitado. O amor de Deus não é assim. Ele interfere e corrige aquele que ama.

No trecho que lemos, o escritor de Hebreus confirma esse entendimento e também nos leva a refletir sobre a maneira como reagimos à disciplina do Senhor. Os ramos da videira não têm vontade própria, mas, em algum grau, nós temos. Portanto, ele nos dá duas recomendações importantes para quando formos disciplinados:

a)  Não despreze

Fazer ouvido de mercador é sempre uma saída de portas aberta quando somos advertidos. A maioria de nós fez isso quando era criança. O aviso ecoa pela casa: cuidado com a bola! Presta atenção no sofá! Olha a porta aberta! É mais fácil fazer de conta que não é com a gente.

O Senhor também faz alertas. Na maioria das vezes Ele é bem mais suave do que as mães. Sua voz doce e firme ecoa em nossas consciências. Sua palavra escrita sussurra à nossas almas. O que faremos? Se você deseja um crescimento espiritual sadio, não despreze. Dê ouvidos aos alertas e siga na direção que o Senhor está apontando.

b)  Não se magoe.

Depois da etapa dos alertas, a disciplina caminha para uma intervenção: a bola é retira das suas mãos, suas mãos são retiradas do sofá, ou a porta é fechada. Nessas horas não é raro o choro sentido e soluçante tomar conta da casa.

Quando os alertas encontram ouvidos mocos, a disciplina do Senhor também passa para o nível seguinte. Muitas vezes isso contraria nossa vontade, frustrando planos e projetos e ficamos magoados com Deus e o mundo. O que faremos? Se você deseja um crescimento espiritual sadio, pare de resmungar. Em vez disso, busque ao Senhor em oração e peça discernimento sobre suas pisadas de bola. Depois corrija o rumo e siga na direção que o Senhor está apontando.

Conclusão

Irmãos, o Senhor é o dono da vinha. Ele plantou Jesus como a videira verdadeira. Através da cruz de Cristo, Ele resgatou homens e mulheres e os colocou em íntima ligação com o Filho, fazendo-nos ramos dessa videira verdadeira. A vida que temos em nós vem da videira: “Não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”.

A videira foi plantada para produzir frutos que glorificam o viticultor. Por isso quando alguns ramos, que estão ligados à videira, se tornam infrutíferos, o agricultor imediatamente interfere para que essa situação não continue.

Quando o agricultor interferir em sua vida, lembre-se que é por amor que ele faz isso. Não despreze a correção! Não fique magoado! Dê ouvidos aos seus alertas e procure identificar os passos errados. Depois corrija o rumo e siga na direção que o Senhor está apontando.


Você está ligado à videira verdadeira? Então permaneça nela! Uma vida cheia de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade e fidelidade está esperando por você. O Espírito produzirá em você os doces frutos da presença dele em nós.

17 abril 2016

A Função e a Harmonia dos Membros


Comunidade Batista em Mangabeira - João Pessoa/PB - Escola Bíblica  17/04/16 


Em nossa jornada para discernir de forma apropriada o Corpo de Cristo, refletiremos sobre a função dos membros e sobre sua harmonia no corpo.

Existe ao menos um impedimento que bloqueia o exercício de nossas funções no Corpo: a mentalidade individualista, isto é, o apego a si mesmo. Enquanto essa forma de pensar dominar nossa mente não haverá espaço para o serviço, e portanto, não haverá o que ser falar sobre nossa função no corpo ou sobre a harmonia entre nós.

Dessa forma, nossa reflexão sobre função e harmonia no Corpo de Cristo pressupõe que fomos libertos de nós mesmo, que estamos prontos para pensar a vida da igreja como uma oportunidade para ser canal para a nova vida, a vida do Espírito de Deus que recebemos por meio de Jesus Cristo a fim de abençoar nossos irmãos.

Todos têm uma função (I Co 12.13)

13 Pois em um só corpo TODOS nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a TODOS nós foi dado beber de um único Espírito.

A igreja é composta de pessoas que foram imersas na vida do Espírito de Deus. Esse mergulho no Espírito Santo marca ao mesmo tempo nossa redenção individual (penhor 2 Co 1.21,22) e nosso arrolamento como parte da coletividade membro do Corpo de Cristo. Porque a salvação é individual, mas é operada na coletividade.

Paulo parece explicar que o tratamento do Espírito é o mesmo para todos que o Senhor é bondoso (cf. I Pe. 2.3). Não há qualquer distinção. Não há um membro do Corpo que não tenham uma vocação de Deus. TODOS temos algo a realizar em favor dos demais membros.

Entre o primeiro e o segundo “TODOS”, Paulo apresenta aos seus leitores dois profundos abismos (judeus/gregos e escravos/livres) de sua época para ilustrar o trabalho do Espírito na constituição do Corpo de Cristo: primeiro, duas cosmovisões diferentes (cultura, história, religião ...); depois, duas realidades de vida distintas (identidade, esperanças, sonhos ...).

E o que nos diz o apóstolo? Afirma que esses abismos são produzidos por nós, e que o Espírito de Deus não se limita por causa deles. Ao contrário, junta na Igreja quem ele quer e dá a todos uma incumbência de serviço ao corpo a ser cumprida.

Ainda sobre o TODOS, precisamos lembrar que vivemos tempos em que a sacerdotalização em forma de casta tem renascido e sido acolhida por vários irmãos como um modo aceitável de viver a fé.

São tempos em que a igreja reformada por Lutero e outros é tentada a refluir para o padrão clero/laicato. Tempos em que a fé se vê ancorada em líderes personalistas, hiperativos e repletos de dons, enquanto o restante do corpo assiste passivo as performances e aguarda dos iluminados bênçãos, orações e fórmulas para fazer a vida funcionar.

É certo que o modo sacerdotal de viver a fé dominou a cena da humanidade por muito tempo, mas também é verdade que ele encontrou no evangelho de Cristo um forte opositor.

Mc 15.38 – O véu rasgou-se
I Pe. 2.5-9 – Sacerdócio Santo e Real
Ap. 1.5 – Sacerdotes para servir
Ap. 5. 8-10 – Sacerdotes para o nosso Deus

É surpreendente que, no interior de um uma religião essencialmente sacerdotal, nasceu o evangelho de um único e perfeito mediador que a todos chama para aproximar-se de Deus como um filho se aproxima de um pai amoroso.

19 Sendo assim, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos mediante o sangue de Jesus,20 por um novo e vivo Caminho que Ele nos descortinou por intermédio do véu, isto é, do seu próprio corpo;21 e tendo um magnífico sacerdote sobre a Casa de Deus.22 Portanto, acheguemo-nos a Deus com um coração sincero e com absoluta certeza de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e os nossos corpos lavados com água pura.

Ninguém pode ser descartado (I Co 12.21-24a)
  
21 O olho não pode dizer à mão: "Não preciso de você! "Nem a cabeça pode dizer aos pés: "Não preciso de vocês!" 22 Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis, 23 e os membros que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são tratados com decoro especial, 24 enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial.

O argumento de Paulo é de que não somos nós quem diz se alguém é necessário ou não ao corpo. Em princípio todos os membros do corpo são necessários e nenhum pode ser simplesmente descartado.

Parece que Paulo coloca sob suspeita os critérios que usamos para fazer essa avaliação. Primeiro ele fala do engano de contarmos apenas com aqueles que consideramos fortes: história de fé na família, vida financeira estruturada, família equilibrada, frequente nos cultos, contribuinte, comprometido: esses são os que parecem fortes! Eles estão sempre visíveis e são sempre chamados a se apresentar no front da batalha. Mas nem por isso os demais membros do corpo podem ser dispensados.

Aqueles que parecem fracos, não podem ser dispensados da comunhão nem tampouco desprezados. Nas palavras de Paulo eles são indispensáveis para a harmonia do corpo. A analogia aponta as partes do corpo humano que são pouco resistentes, mas que cumprem funções importantes. Os lábios são frágeis, as orelhas são frágeis, os olhos são frágeis, todos eles precisam ser protegidos por braços e mãos, mas sem eles o corpo perderá sua harmonia.

Os irmãos mais sensíveis, menos resistentes aos desgastes da vida, mais frágeis diante do mundo, menos capazes de reagir, menos perceptivos sobre as sujeiras da vida, não podem ser jogados fora. Ainda às vezes seja trabalhoso, eles devem ser cuidados e protegidos. O corpo depende deles para cumprir sua vocação.

Outro aspecto do mesmo argumento é quanto aos membros mais ou menos decorosos. Esse é um argumento impressionante porque Paulo afirma que aqueles de quem temos mais vergonha não devem ser expostos ao ridículo, mas protegidos para que se apresentem de forma digna.

Em um corpo harmônico não há lugar para a exposição gratuita das fragilidades dos irmãos. Não há lugar para envergonhar os outros porque eles são diferentes. Não há lugar para humilhar os que não conseguem. Não há lugar para fazer pouco caso de quem quer que seja por seja qual for a razão. Porque quando um membro do corpo é envergonhado, todo o corpo sente vergonha com ele.

Vocação: para cada um, por causa de todos.

Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, 25 a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. (I Co 12.24b-5)

Nosso lugar no corpo foi planejado por Deus. Não há acasos nisso. Nossa história tem parte nisso, nossas experiências são importantes, nossa formação tem seu lugar, mas ao final tudo está sob a coordenação daquele que é o cabeça da igreja.

Paulo revela uma lógica invertida nessa montagem do corpo. Aparentemente o Senhor providenciou equilíbrio no corpo ao conceder honra exatamente àqueles que dela tinham falta.

A abordagem sobre honra aqui é a mesma. Vestir de forma apropriada, os membros do corpo que expostos estariam desprotegidos e à mercê de comentários. A ideia é de proteger quem está desprotegido. Então, explica que o próprio Senhor da Igreja age assim para produzir harmonia no corpo.

Dessa forma, todos os membros são vocacionados (chamados) a servir ao Corpo. E são capacitados, protegidos e honrados de forma que haja harmonia. Assim, quando cada membro do corpo exerce sua função estamos cuidados uns dos outros e o corpo opera seu próprio crescimento de forma harmônica.


03 abril 2016

Não temas!

Não temas!
 Primeira Igreja Batista em João Agripino - João Pessoa/PB - 03/04/16 


Boa noite, meus irmãos! É uma alegria e um prazer compartilhar a Palavra com vocês hoje à noite. Minha gratidão ao Pr. Rick pelo convite e pela confiança em compartilhar comigo o púlpito desta igreja.

Eu trago o abraço caloroso dos irmãos da Comunidade Batista em Mangabeira e de sua liderança e peço ao Senhor que continue a agir na vida desta igreja de forma a completar a boa obra que Ele começou em cada um de vocês.

Leitura Bíblica

Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo. (Gn 15:1)

Oração

Nós vivemos tempos amedrontadores. O medo parece ter-se tornado um elemento dos mais comuns em nossa rotina. Medo de perder o emprego, medo de ser assaltado, medo de não encontrar alguém pra dividir a vida, medo de não passar na prova, medo de ser rejeitado, medo de não ser bem sucedido, medo de não ser amado, medo gripe H1M1, medo da Zica, medo da morte, e também medo da vida.

Mas a verdade é que ninguém gosta de dizer que está com medo. E não é para menos, os medrosos são tratados com certo desdém. Eles não são apontados como exemplos nem ocupam lugares de honra nas narrativas históricas. Os medrosos quase sempre desprezados, às vezes injustamente, mas ainda assim desprezado. Isso tudo nos faz rejeitar o medo que habita em nós.

Resolvi me debruçar sobre as Escrituras para entender melhor como o Senhor lida com o nosso medo. Pelo que percebi, Ele, que nos criou, sempre considerou o medo algo inerente à condição humana; mas, ao mesmo tempo, algo que devemos dominar (ao invés de sermos controlados por ele).

É fácil confirmar isso! Em uma pesquisa pelas páginas das Escrituras, é possível encontrar os grandes expoentes da fé sendo exortados pelo Autor da fé a não permitirem que o medo os domine. Vejamos:

Abraão
Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo. (Gn 15:1)

Abraão: fora chamado por Deus e estava saindo do meio de sua parentela para um lugar cheio de riscos e perigos. Ele não conhecia muito bem a maneira de agir do Senhor e não tinha qualquer certeza a respeito do seu futuro. Eu sou o teu escudo

Isac
E apareceu-lhe o Senhor na mesma noite e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai; não temas, porque eu sou contigo, e te abençoarei e multiplicarei a tua descendência por amor do meu servo Abraão. (Gn 26:24)

Isac: não tinha um relacionamento pessoal com o Senhor, que era o Deus do pai dele. Eu sou contigo e te abençoarei
  
Jacó
(2) Falou Deus a Israel em visões de noite, e disse: Jacó, Jacó! Respondeu Jacó: Eis-me aqui. (3) E Deus disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer para o Egito; porque eu te farei ali uma grande nação. (4) Eu descerei contigo para o Egito, e certamente te farei tornar a subir; e José porá a sua mão sobre os teus olhos. (Gn 46:2-4)

Jacó: ficou com medo do que aconteceria com ele no Egito. Como Deus poderia pensar em algo bom se ele e sua família estavam sendo levados para o Egito? Eu te farei ali uma grande nação

Josué
Então disse o Senhor a Josué: Não temas, e não te espantes; toma contigo toda a gente de guerra, levanta-te, e sobe a Ai. Olha que te entreguei na tua mão o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. (Js 8:1)

Josué: ficou com medo de enfrentar os exércitos da cidade de Ai. Será que Deus daria vitória nessa empreitada? Eu entreguei na tua mão o rei de Ai
   
Gideão
(22) Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! Pois eu vi o anjo do Senhor face a face. (23)Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo, não temas; não morrerás. (Jz 6:22,23)

Gideão: teve medo de Deus. Ele achou que seria fulminado por que estava na presença de Deus. Gideão não conhecia o Senhor de perto. Eu não te matarei

Jeremias
(6)Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque sou um menino. (7)Mas o Senhor me respondeu: Não digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás. (8)Não temas diante deles; pois eu sou contigo para te livrar, diz o Senhor. (Jr 1:6-8)

Jeremias: teve dúvidas a respeito de quem o protegeria em seu ministério. Como ele poderia falar a Palavra do Senhor com tantas ameaças? Será que o Senhor poderia protegê-lo e guardá-lo? Eu sou contigo para te livrar

Paulo
(9) E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales; (10) porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. (11) E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus. (At 18:9-11)

Paulo: teve dúvida se deveria ou não continuar a pregar o evangelho em Corinto. Como seria o futuro? Deus o guardaria do mal? Eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal

Como lidar com o medo?

O que nos dizem esses textos? Duas questões iniciais me chamaram a atenção:

A primeira é que nenhum de nós deve se deixar dominar por sentimentos de inferioridade espiritual ou de tristeza profunda porque está com o medo diante dos desafios da vida. Aos sentirmos medo estamos na companhia dos grandes da Fé!

Então, quando o medo vier ao invés de simplesmente negá-lo ou de se entristecer, você vai se lembrar, que Abraão, Isac, Jacó, Josué, Gideão, Jeremias e próprio apóstolo Paulo também se sentiram com medo.

A segunda é que não podemos nos acostumar com o medo, não devemos deixar que ele se aloje em nossas almas; o medo eventual faz parte da vida, mas o medo permanente pode massacrar nossas almas nos tornando incapazes de enfrentar os desafios da vida. 

Essa foi a palavra do Senhor para cada um desses grandes da fé: NÃO TEMAS!

Abraão: Eu sou o teu escudo
Isac: Eu sou contigo e te abençoarei
Jacó: Eu te farei ali uma grande nação
Josué: Eu entreguei na tua mão o rei de Ai
Gideão: Eu não te matarei
Jeremias: Eu sou contigo para te livrar
Paulo: Eu estou contigo

Essa também a palavra dele para você hoje à noite: NÃO TEMAS!

Então, quando tentamos enfrentar nossos medos, podemos nos agarrar à certeza de que estamos na companhia dos grandes da Fé também nisso! Abraão, Isac, Jacó, Josué, Gideão, Ezequias, Jeremias e Paulo fizeram a mesma coisa.

Se você já se apropriou dessas importantes questões iniciais. Podemos agora procurar um caminho para lidar com esse inimigo que se esconde dentro de nós? É claro que não há uma fórmula mágica para isso, mas eu penso que podemos extrair dessas histórias alguns conceitos úteis para os momentos de medo.

Conceitos

Analisando essas passagens, constatei pelo menos dois conceitos importantes:

O PRIMEIRO é que o medo facilmente encontra espaço em nossas almas por que o futuro é incerto e desconhecido. O que vai acontecer? Não sabemos. Será que vai dar certo? Não sabemos. Ela vai gostar de mim? Você não sabe agora. Eu vou conseguir? Você não sabe agora. Quando as coisas vão melhorar. Você não sabe.

O que fazer? Saul o primeiro rei de Israel decidiu procurar uma pitonisa, uma mulher que dizia prever o futuro. Ele queria saber se iria ganhar a batalha que estava prestes a acontecer.

Algumas pessoas procuram cartomantes, leem horóscopos, frequentam reuniões de oração com profetisas, procuram videntes nas mesas brancas, tudo em busca de algo que amenize o medo instalado em suas almas a respeito do futuro.

Há também os que se cercam planejamento. Fazem seguros, criam reservas financeiras, assinam resenhas políticas e econômicas e tentam de toda forma controlar o futuro. O que você faz?

Parece que Deus não tem muito interesse em revelar o futuro. Vez por outra é fez isso a alguns profetas, mas nunca foi a regra; é sempre uma exceção. A regra é que o futuro é imponderável. Qual a saída? Deus propõe a Abraão, Isac, Jacó, Josué, Gideão, Ezequias, Jeremias e Paulo o seguinte: Confie em mim! Eu estou no controle do universo!

Portanto, meus irmãos, a solução de Deus para as incertezas que nos metem medo é confiarmos nele.

Ocorre que não se confia em alguém assim do nada. Confiança é algo que se constrói com o tempo, através de um relacionamento. É assim que o caráter de alguém é provado.

Minha conclusão é que talvez seja exatamente esse o motivo pelo qual nossa confiança no Senhor seja tão frágil: conhecemos Deus de ouvir falar, pelos livros ou pelo testemunho de outros irmãos, mas nós mesmos pouco sabemos sobre ele.

É nesse ponto que apresento o SEGUNDO conceito extraído dos nossos textos: o medo encontra espaço em nossas almas porque ainda temos dúvidas sobre o caráter de Deus. Muita gente tem até medo de orar como Jesus “seja feita a tua vontade”. E essas dúvidas sobre o caráter de Deus, que nos consomem, são a prova da distância a que nos encontramos dele.

E qual é a saída que Deus propôs àqueles homens? Simples: Deus falou com eles. A saída para nossas dúvidas a respeito do caráter de Deus é nos aproximarmos dele. A saída é um relacionamento pessoal com ele que ultrapassa as paredes nossos templos e invade nossas vidas.

Cada vez que esse relacionamento com o Senhor se estreita nas pequenas decisões da vida e você experimenta na prática o cuidado, o amor, a misericórdia, a correção amorosa de Deus em sua vida, suas dúvidas sobre o caráter dele vão-se dissipando e sua confiança nele vai se tornando mais forte.

Conclusão

Para finalizar nossa reflexão, quero dizer que estou convencido que o medo não subsiste por muito tempo onde existe amor. E a base do amor é o relacionamento. Por isso, o profeta Oseias nos conclama dizendo:

Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra. (Os 6:3)

Quando nos aproximamos do Senhor e nos damos conta do grande amor que Ele tem por nós somos atraídos por esse amor e o medo é lançado fora. É isso que diz o apóstolo João.

No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor. (1Jo 4:18)

O medo faz parte das limitações humanas, mas somos chamados a enfrentá-lo a partir de um relacionamento profundo com o Senhor, que nos fará amá-lo ainda mais e confiar nele.

Patriarcas, Juízes, Reis, Profetas e Apóstolos aprenderam sobre o Senhor andando com Ele no dia-a-dia de suas vidas. Para eles o Senhor não era um Deus distante e remoto;

Eles experimentaram a presença de Deus, aprenderam a confiar Nele e adquiriram força para enfrentar os seus medos. É esse também o nosso caminho como discípulos de Jesus.


Que o Senhor nos abençoe e se faça presente em nossas vidas.