07 agosto 2007

Deus é pai - Parte I

Introdução

Deus é pai, não é padrasto. Esse ditado é muito conhecido. Mas além de ser uma injustiça com tantos padrastos que se esforçam para cumprir o papel de pais junto aos seus enteados, esse ditado tem perdido força à medida que os pais têm se tornado cada dia mais confusos em relação às funções que devem exercer na família e na sociedade em geral.


Diário de Pernambuco

Edição de Segunda-Feira, 26 de Maio de 2003


Um pai esfaqueou e matou, na madrugada de ontem, o filho de seis anos e feriu a filha, de quatro, no município de Guaraciama, a 369 quilômetros de Belo Horizonte, na região norte de Minas Gerais... O crime teria sido motivado pelo ciúmes que Godinho sentia pela ex-mulher, Sidnésia Lima dos Santos, de quem estava separado há cerca de 15 dias... Embriagado e com uma faca, ele tentou agredi-la, mas a mulher conseguiu fugir... Em seguida, Godinho foi à casa de Sidnésia e desferiu uma facada no peito de E.L. G., que completaria hoje seis anos. O menino morreu na hora. Sua irmã, H.L. G., também foi atingida. Ela recebeu uma facada na parte esquerda do tórax.

Gazeta do Povo

Domingo, 05/08/2007

Um empresário de 66 anos matou os três filhos, de 4, 15 e 17 anos, e se matou em seguida em Alphaville, na Grande São Paulo. A tragédia foi descoberta nesta sexta-feira, quando a empregada chegou para trabalhar e desconfiou por ninguém atender a porta. Segundo testemunhas, o homem estava transtornado com o pedido de separação da mulher. O casal estava separado há três meses. Ao saber do crime, a mãe das crianças entrou em estado de choque e foi levada a um hospital. Na casa foram encontradas várias armas e caixas de munição.

Clica Brasília

08/07/2007 - 15:25:43

A cidade de Buritizeiro, no interior de Minas Gerais, amanheceu sob o impacto de uma tragédia familiar. Um aposentado de 67 anos de idade discutiu com o filho, que chegou bêbado em casa, e o matou com duas facadas. Agnaldo Gama dos Santos tinha 38 anos e deve ser enterrado ainda neste domingo. O aposentado está foragido... Segundo a Polícia, Agnaldo era alcoólatra e ficava agressivo com seus parentes todas as vezes que bebia. Dessa vez, porém, seu pai, que também tem problemas com bebida, revidou as agressões e acabou ferindo o filho na virilha e no peito. O homem foi levado para o hospital, mas acabou morrendo.

Portalmonte.com

28/03/2007

O técnico ucraniano Mykhaylo Zubkov pode ser expulso dos quadros da Fina (Federação Internacional de Natação) após ser flagrado agredindo a sua filha Kateryna Zubkova durante o Mundial de Esportes Aquáticos, em Melbourne... Zubkov havia se irritado com o desempenho da filha na competição. Após a prova, ele partiu para a agressão e as câmeras registraram o fato.

Jornal A Notícia

Terça-feira, 03 de julho de 2007


O Conselho Tutelar de Capão Alto, na Serra catarinense, denunciou à polícia a gravidez de uma menina de 13 anos, estuprada há 11 meses pelo pai. A menina e a mãe foram retiradas do convívio do homem. Na sexta-feira, a vítima passou por exames, que comprovaram a consumação do ato sexual e a gestação de cinco meses. Intimado, o pai, um lavrador de 33 anos, não compareceu à delegacia. A polícia pediu a prisão preventiva dele. Na família do acusado existe um histórico de crimes semelhantes.

Homens desorientados. Homens que esqueceram, ou nunca souberam, o significado de palavras como honradez, respeito, cuidado, sacrifício, dedicação, domínio próprio ou hombridade. Homens desesperados, irresponsáveis, apáticos, inseguros, inquietos, ansiosos (e por isso, violentos, espancadores e sanguinários) têm a possibilidade de gerar filhos.

A escassez de exemplos dignos de serem seguidos agrava a situação desses homens, que não encontram modelos em que possam se espelhar. É claro que é praticamente impossível ouvir as notícias acima e não ficar confuso com a idéia de Deus como pai.

Deus é pai no Antigo Testamento

O relacionamento de Deus com a criação sempre foi repleta de orientação e provisão. Desde o Gênesis, o Senhor interfere na história da humanidade como um pai que sustenta o filho e deseja prepará-lo para a vida.

As figuras mais comuns para ilustrar essa interferência no antigo testamento estão ligadas à necessidade de alguém que: estabeleça as regras de convivência entre as pessoas (Legislador), julgue as causas (O Juiz), batalhe contra os inimigos (General), provenha alimento e provisão (Pastor) e por fim estabeleça e mantenha uma sociedade justa (Senhor e Rei). Mas a figura de Deus como um pai não é estranha ao antigo testamento, pelo contrário.

Em um momento de adoração pública, diante de todo povo de Israel, o rei Davi afirmou:

Por isso Davi louvou ao SENHOR na presença de toda a congregação; e disse Davi: Bendito és tu, SENHOR Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade. (1Ch 29:10)

O profeta Jeremias relata o lamento de Deus por que o povo de Israel havia abandonado o Senhor e começava a chamar de Pai suas imagens de escultura.

(26) Como fica confundido o ladrão quando o apanham, assim se confundem os da casa de Israel; eles, os seus reis, os seus príncipes, e os seus sacerdotes, e os seus profetas, (27) que dizem ao pau: Tu és meu pai; e à pedra: Tu me geraste. Porque me viraram as costas, e não o rosto; mas no tempo do seu aperto dir-me-ão: Levanta-te, e salva-nos.

(28) Mas onde estão os teus deuses que fizeste para ti? Que se levantem eles, se te podem livrar no tempo da tua tribulação; porque os teus deuses, ó Judá, são tão numerosos como as tuas cidades. (29) Por que disputais comigo? Todos vós transgredistes contra mim, diz o Senhor. (Jer 2:26 29)

Mas, talvez seja o profeta Isaías aquele que mais abertamente liga a intervenção de Deus em nossa história à figura de um pai.

Mas agora, ó SENHOR, tu és nosso Pai; nós o barro e tu o nosso oleiro; e todos nós a obra das tuas mãos. (Isa 64:8)

Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó SENHOR, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome. (Isa 63:16)

Deus é pai na nova aliança

Séculos depois dos profetas, Jesus retoma e amplia a imagem de Deus como pai. Um pai que se faz presente na vida dos seus filhos. Ele nos sustenta com a provisão necessária à vida, supre nossas emoções através do seu amor constante e nos alimenta o espírito por meio de sua presença.

De capa a capa, a Bíblia nos revela um Deus que é pai.

O Conflito e as fugas

Ainda que a Bíblia esteja repleta de ilustrações sobre a atuação de Deus como um pai amoroso e cuidados, a realidade de pais desajustados gera um grande conflito em nossas mentes quando Deus nos é apresentado como um pai.

A sensibilidade de Maria

Esse conflito é a porta que tem levado muitos cristãos a desistirem de um relacionamento com Deus Pai e a optarem por um relacionamento impossível com Maria, que parece mais dócil em sua expressão de maternidade. Digo impossível, porque aquela abençoada serva do Senhor, não pode ouvir nem considerar os lamentos, o choro e a dor dos filhos de Deus.

Mesmo com sua vida exemplar, seu caráter quase irretocável e sua missão nobre, Maria foi humana como nós somos, viveu, morreu e hoje aguarda a plena revelação do seu Senhor juntamente com todos os servos de Deus. Ela Não pode ouvir-nos, porque não é onipresente nem onisciente; não poder interferir diante de Deus, porque Jesus é o único mediador; não pode em precisa intermediar nossa relação com Jesus, porque não há empecilho para chegarmos até Ele (Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos).

Muitas crianças e até adultos agem assim: fogem do pai para os braços de alguém que lhes pareça menos controlador. Essa fuga para os braços de Maria nada mais é do que a expressão de fragilidade na fé do nosso povo, que não se dispõe a desenvolver um relacionamento maduro com Deus. Foge-se por desconhecer o amor do Pai.

A impessoalidade das deidades

a) Panteísmo

Outra fuga desse conflito no qual Deus se revela como um Pai, mas os exemplos de pai que vemos apontam para outra direção é tornar Deus impessoal. Assim, muitos criaram para si um deus sem vontade própria e sem opinião.

Há muitas religiões que fizeram isso através do panteísmo, que considera que Deus está presente em todas as coisas e que cada coisa é um pedaço de Deus. Deus é tudo e tudo é Deus.

Em diversas culturas panteístas, a idéia de um Deus que vive em tudo se complementa com o conceito de múltiplos deuses associados com os diversos elementos da natureza. Para os panteístas o divino também pode ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do universo. Há uma associação clara com o misticismo. O objetivo do mortal é alcançar a união com expressão de divindade impessoal.

Os filmes e novelas estão lotados de idéias panteístas, que despersonalizam Deus. Mas o Deus da Bíblia, embora presente em todo o universo criado, não se confunde com sua criação. Ele tem personalidade.

Ele não renega sua posição de Criador nem desmente sua autoridade

(11) Assim diz o Senhor, o Santo de Israel, aquele que o formou: Perguntai-me as coisas futuras; demandai-me acerca de meus filhos, e acerca da obra das minhas mãos. (12) Eu é que fiz a terra, e nela criei o homem; as minhas mãos estenderam os céus, e a todo o seu exército dei as minhas ordens. (Isa 45:11,12)

Ele tem sentimentos e pode ser insultado por nossa maneira de viver.

O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado. (Pro 14:31)

Ele se compadece dos cansados e os fortalece.

(28) Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, não se cansa nem se fatiga? E inescrutável o seu entendimento. (29) Ele dá força ao cansado, e aumenta as forças ao que não tem nenhum vigor. Isa 40:28,29

b) Utilitarismo e Manipulação

Se fora do cristianismo a fuga da presença de Deus é pela impessoalidade do panteísmo, dentro do cristianismo a tentativa de não ficar cara a cara com Ele encontrou uma saída na invenção de um deus-servo.

Novamente o conflito e a confusão entre a figura de Deus como pai e os exemplos que experimentamos em nossas vidas. Se Deus é um pai tão bom e cuidadoso, porque Ele não me da tudo que quero?

A saída mais rápida é relacionar-se com um deus que está sujeito às nossas determinações, uma espécie de gênio da lâmpada que atende aos nossos desejos. Temos medo de perguntar ao Pai: porque, Senhor, minha vida está do jeito que está? Talvez porque as lições que precisamos aprender não sejam tão fáceis e curtas como gostaríamos que fossem. Nada melhor então, que um deus-mago que não pergunta nem responde, só atende aos meus pedidos.

(11) Quando forem cumpridos os teus dias, para ires a teus pais, levantarei a tua descendência depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino. (12) Esse me edificará casa, e eu firmarei o seu trono para sempre. (13) Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e a minha misericórdia não retirarei dele, como a retirei daquele que foi antes de ti; (1Cro 17:11-13)

O Senhor não é um Deus mesquinho que não se importa com seus servos, ou um Deus fraco que não pode atender nossas necessidades, ou mesmo um Deus que se livra dos relacionamentos entregando presentes aos seus servos.

Ele tem prazer em nos abençoar e tem poder para conceder qualquer coisa; mas o Senhor não abre mão de desenvolver conosco um relacionamento livre e maduro. O Senhor não se deixa ser usado, Ele não cede às nossas tentativas de manipulação. Ao invés disso, Ele deseja um relacionamento de amizade conosco. Isso é o que Jesus explica aos seus discípulos: um pai que deseja ser amigo.

4 Tenham o cuidado de viver em mim, e deixem-me viver em vocês. Porque um ramo não pode dar fruto quando separado da videira. Por isso não poderão dar fruto afastados de mim. 5 Sim, eu sou a videira, e vocês são os ramos. Aquele que viver em mim e eu nele produzirá muito fruto. Pois sem mim nada podem fazer... 15-16 Já não vos chamo servos, pois estes não acompanham o que faz o seu Senhor. Vocês são meus amigos, e a prova disso é o fato de vos ter revelado tudo o que o Pai me disse. Não foram vocês quem me escolheram, mas eu vos escolhi a vocês e vos nomeei para irem e produzirem fruto, e fruto que perdure, de modo que o Pai vos dê tudo o que lhe pedirem em meu nome.

O Engano das Experiências Alheias

Acredito que parte da dificuldade em nosso relacionamento com Deus é porque, muitas vezes, não conhecemos o Senhor de primeira mão. Vivemos das experiências dos outros.

Corremos atrás de pregadores que entusiasmem e falem com autoridade. Peneiramos bons livros nas prateleiras das livrarias tentando encontrar algum que tenha uma resposta rápida para nossas perguntas. Amamos os gurus que descobrem uma verdade que ninguém até agora tinha descoberto. Mas qual a nossa experiência com Deus? O que nós descobrimos sobre ele em meio à oração, a leitura da palavra e a busca por uma vida santa?

Não haverá resposta para suas inquietações até que você deixe de se guiar pelas experiências alheias sobre Deus e procure você mesmo conhecê-lo. Enquanto nós mesmos não experimentarmos a intervenção de Deus como pai em nossas vidas, não haverá para onde ir e continuaremos a cair no conto das caricaturas de Deus que os outros nos apresentam.

Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos. Job 42:5

Aqui é preciso atenção, porque se o seu cristianismo é apenas uma religião emprestada dos outros, então você é parecido com o galho seco da parábola de Jesus, que não produz fruto porque está desligado do tronco.

Eu não estou descartado o testemunho dos homens e mulheres de Deus, passado e do presente, sobre suas caminhadas com o Senhor. O que estou afirmando é que esse testemunho precisa levá-lo a uma vida pessoa de comunhão como Deus.

O Caminho para conhecer o Pai

Há alguém que conheça a Deus e seja capaz de revelá-lo a nós? Como chegaremos a Deus? O que podemos esperar podemos esperar de Deus como Pai?

Apenas o Senhor Jesus conhece realmente o caráter do Pai, e aqueles a quem Ele quiser revelar. Por isso, se queremos um relacionamento de pai e filho com o Senhor, precisamos olhar para Jesus e pedir a Ele que nos revele o Pai.

Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. (Mat 11:27)

Na verdade foi exatamente isso que Tomé fez: mostra-nos o pai, disse o apóstolo.

(6) Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. (7) Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. (8) Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. (9) Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? (10) Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras. (11) Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. (João 14:6-11)

O Pai revelou-se a nós através de Jesus. O seu caráter, sua maneira de relacionar-se conosco estão espelhadas na vida de Jesus e no seu relacionamento com o Pai. Alguns de nós nunca experimentamos um relacionamento sequer razoável com o próprio pai; além de serem poucos os exemplos de outros pais que cumpriram bem seu papel.

Mas, há alguém que experimentou em toda sua vida um relacionamento perfeito como Pai. Por isso Ele é o caminho para o Pai, e por isso podemos aprender com ele não só a nos relacionarmos com o Pai, mas também como sermos pais que amam em todo o tempo.

(6) Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

Você tem andado longe do Pai? Hoje é dia de dar um passo de fé em direção ao Ele, e isso só pode ser feito através de Jesus. Ele é o caminho.

No próximo domingo vamos aprender sobre Deus Pai e sobre o nosso papel como pais através do relacionamento entre Deus e seu filho Jesus Cristo. Você não pode deixar de vir e trazer seu pai para ouvir.

24 julho 2007

Encontrando-se com Jesus – O Pescador de Betsaida

Introdução

Por volta do ano 30 da era cristã, havia na palestina dois jovens quase da mesma idade que causaram um grande alvoroço entre os judeus. Um se chamava João Batista, o outro Jesus Cristo. Eles eram primos. Os dois nasceram em circunstâncias sobrenaturais. O primeiro de uma mãe idosa, o segundo de uma jovenzinha.

João tinha um ministério à moda de alguns dos profetas do antigo testamento. Ele tinha uma dieta diferente e vivia afastado das cidades, onde chegava para pregar mensagens confrontadoras e de denúncia do pecado tanto do povo como das autoridades.

Jesus desenvolveu um ministério urbano. Ele circulava pelas ruas da cidade e usava vários métodos de ensino. Jesus chegou a ser acusado pelos religiosos Judeus que não concordavam com o livre trânsito que Ele tinha entre aqueles que era considerados como pecadores; a despeito disso sua mensagens tão o mais confrontadora do que a do seu primo João Batista.

No início do seu ministério, Ele teve um encontro muito especial com alguns dos homens que mais tarde se tornariam seus discípulos: Simão, André, Tiago e João. Esses quatro homens eram pescadores. O encontro de Jesus sobre o qual vamos meditar nesta noite é eles, e mais especificamente com Pedro, o pescador de Betsaida.

Esse encontro está registrado nos três evangelhos sinóticos: Mt. 4:18-22, Mc 1:16-20 e Lc 5:1-11.

Impressionante

As narrativas de Marcos e de Lucas são impressionantes em relação ao encontro de Jesus com os pescadores. Nas duas narrativas são histórias curtas que apresentam Jesus caminhando na beira do mar da galiléia. De repente Ele se encontra com um grupo de pescadores aparentemente desconhecidos, chama-os e eles largam tudo para segui-lo.


(16) Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. (17) Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. (18) Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. (19) Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. (20) E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus. (Marcos 1:16-20)


O evangelho de Marcos é uma espécie de roteiro de filme. As cenas são rápidas as histórias são curtas e as coisas acontecem num abrir e fechar de olhos. Jesus está caminhando na beira do lago, encontra os pescadores, faz um convite e eles largam tudo para segui-lo. Para reforçar o quadro, Marcos (que provavelmente escreveu seu evangelho a partir das memórias de Pedro), usa a palavra imediatamente.

João e Tiago também eram irmão e filhos de um homem chamado Zebedeu. Simão e André eram irmãos e possuíam um, talvez dois barcos. Pelo texto de Marcos sabemos que Zebedeu tinha empregados, o que pode indicar que Ele e os filhos tinham na verdade uma pequena frota de barcos.

A situação deles não era com a de alguns pescadores desse nosso Ceará que vivem muitas vezes mendigando o que comer, trabalhando em barcos que não lhe pertencem e entregando parte de sua produção aos atravessadores de plantão, que pagam barato pelo trabalho duro e o suor do rosto de seu semelhante.

Porque então esses homens, que tinham uma boa profissão e eram proprietários de seus próprios barcos, “imediatamente”, como afirma o evangelista, largaram tudo e seguiram a Jesus na primeira vez que O viram? Não parece uma atitude responsável ou equilibrada, tomada por homens maduros.

A chave para entender a prontidão dos pescadores, está na narrativa de Lucas, que é a mais detalhada quanto às condições em que tudo aconteceu. Vamos ler a história no evangelho de Lucas.

(1) Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré; (2) e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes. (3) Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões. (4) Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. (5) Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. (6) Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. (7) Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique. (8) Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. (9) Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros, (10) bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens. (Lc 5:1-11)

Jesus e o encontro

Era o início do ministério de Jesus, mas ele não era um desconhecido nas imediações do mar da Galiléia. É possível e até provável que Jesus conhecesse alguns dos seus discípulos antes do chamado para seguí-lo. As cidades não eram muito grandes e Jesus vivia uma vida normal, participando dos eventos de sua comunidade. Quando ele pede a Simão que afaste o barco e pede permissão para usá-lo como plataforma para sua pregação, Jesus não está se dirigindo a um estranho.

Não há qualquer indício de que aquela era a primeira vez que Jesus pregava nas imediações do mar da Galiléia. Nem sabemos se era essa a primeira vez que Ele usava o barco de Simão como uma plataforma para falar ao povo. Mas sabemos pela narração de Lucas que já era grande o número de pessoas que queria ouvi-Lo, tanto que a multidão começou a apertá-lo.

Simão e o encontro

Pode ser que Simão já tivesse ouvido Jesus falar antes pessoalmente, ou, quem sabe, algumas pessoas já houvessem contado a Ele sobre um jovem pregador que falava com autoridade sobre as coisas de Deus.

Simão já tinha visto vários pregadores se levantarem naquele tempo em que todos esperavam o messias, e por isso não ele não via motivo para alvoroço. Ele emprestou seu barco para Jesus e enquanto o Senhor pregava, Simão trabalhava lavando as redes. Havia sido um dia ruim, daqueles que não se pesca nada. Mas aquele encontro seria diferente.

Assim como Simão, pode ser que até hoje você tem estado perto do Senhor e algumas vezes tem ouvido falar sobre ele. Você escuta os amigos e parentes falando do amor Dele e sobre como é bom ser seu discípulo, mas você já ouviu isso tantas vezes... Você até empresta seu barco para que eles ouçam ao Senhor, mas você mesmo prefere continuar limpando as redes depois de um dia de trabalho duro e poucos resultados. Hoje, o seu encontro com Jesus pode ser diferente. É preciso apenas que ele tenha as mesmas marcas do encontro entre Ele e Simão.

Acesso Direto

Depois de ensinar multidão sedenta pela palavra de Deus, Jesus fala diretamente com Simão. Sem intermediários, sem mediadores, sem tradutores ou qualquer outra figura entre eles. Aqui está a primeira marca: acesso direto.

O Senhor não precisa de intermediários para falar com você. Na verdade causamos uma grande frustração quando tentamos colocar algo ou alguém entre Ele e nós.

Homens e mulheres do passado, que serviram ao Senhor devem ser imitados em sua busca pela presença de Deus, mas não devem ser colocados como intermediários. São mulheres e homens santos, mas não cabe a eles mediarem nosso relacionamento com o Senhor.

Entre os crentes, há pessoas que quando passam por alguma dificuldade procuram amigos, parentes e até líderes de destaque, (consideradas pessoas dignas ou mais religiosas) e pedem que elas intercedam diante de Deus por sua vida, mas elas mesmas não falam diretamente com o Senhor.

Jesus chamou Simão e falou diretamente com Ele. Você também pode falar diretamente com o Senhor. Basta uma simples oração dita ou pensada, no silêncio da sua dor, diretamente a Ele, e você terá dispensado todos os intermediários.
Confiança Prática

Ao falar com Simão, o Senhor deve ter visto os semblante caído de Pedro, depois de um dia de trabalho sem resultado e fez uma proposta que poderia ter sido recebida até como uma ofensa.

(4) Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. (Lc 5:4)

Simão e os demais homens eram pescadores experientes que aprenderam com os seus pais e os pais dos seus pais a arte de sobreviver através da pesca. Tinham seus próprios barcos, e havia prosperado ao ponto de terem empregados que trabalhavam para eles.

Eles já tinham vivido muitos dias ruins em sua profissão e ainda viveriam muitos outros. Jesus era carpinteiro por profissão e um mestre da palavra, mas de pesca ele não entendia nada, poderia ter pensado Simão.

Simão poderia reagir de várias maneiras: Fazer de conta que não ouviu... Fazer de conta que não entendeu... Tentar explicar a Jesus alguns princípios básicos sobre pesca... ou responder de forma indignada perguntado a Jesus quem ele achava que era para dar vir dar pitaco no trabalho dos outros.

Talvez você já tenha reagido de alguma dessas maneiras. Quem fica ouvindo Jesus a distância, usando outros como intermediários, pode até tentar uma dessas saídas; mas quem fala diretamente como Senhor, como Simão falou; quem ouve a voz daquele que é o Criador do Céus e da Terra, não pode continuar a fazer assim, precisar decidir se irá ou não confiar naquele que lhe dirigiu a palavra.

O Senhor não estava perguntando se Simão acreditaria, ou se ele acharia que ainda poderia pescar algo já no final do dia. Essa confiança não serve de nada; é na verdade uma porcaria. Ela não põe os pés nos chão, é apenas teórica.

Jesus chamou Simão para uma confiança prática. Apenas dessa maneira os seus encontros com Jesus vão deixar de mornos e sem sabor: através de uma confiança prática na Palavra de Cristo, que invade sua vida de segunda a segunda. Quem decide por isso, como Simão fez, deixará de ficar apenas ouvindo de longe para tornar-se um discípulo de Cristo.

Agora saiam mais para o fundo e lancem suas redes, que você vão pegar muitos peixes (Lc 5:4b - BV)

O Alvo certo

Uma outra palavra para confiança é fé. A Bíblia fala muito de fé e todos nós concordamos com a palavra que diz: sem fé é impossível agradar a Deus.

A fé é a vitória que vence o mundo
porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. (I João 5:4)

A fé nos guarda para o dia final
que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. (I Pedro 1:5)

A provação da fé produz perseverança
sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tiago 1:3)

O justo viverá pela fé
todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma. (Hebreus 10:38)

Muitas pessoas tratam a fé como uma espécie de poder que alguns têm e o restante da humanidade deseja ter. A fé é considerada como uma espécie de fórmula mágica através da qual se obtém os desejos da alma.

Aliás, um dos best-selers mais recentes, “O Segredo” defende a tese de que se fixarmos nossos pensamentos mais intensos na direção dos nossos desejos, será um questão de tempo alcançarmos tudo o que quisermos.

No entanto a fé verdadeira é dom dado por Deus e precisa estar direcionada para o alvo certo, caso contrário se tornará um arma de destruição.

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; Efésios 2:8

Na resposta de Simão ao Senhor, encontramos a terceira marca de um encontro transformador com Jesus: o alvo certo.

(5) Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes.

Simão deixou de lado sua experiência como pescador. Ele não tentou explicar o fracasso do dia, nem colocou a culpa em seus companheiros de pesca. Simão não tentou olhar uma segunda vez para mar da galiléia na tentativa de ver se valeria a pena. Ele disse: sob a tua palavra lançarei as redes!

Sua fé será tão forte quanto à pessoa ou objeto em quem você a deposita. O alvo da fé é que é a sua medida, não o nosso esforço pessoal em crer. Onde há esforço para crer, ainda não há fé. Talvez seja por isso que Jesus disse que a fé só precisa ser do tamanho de um grão de mostarda para que coisas impossíveis começassem a acontecer.

Se a sua fé está apoiada em uma imagem de escultura ela será tão fraca quanto aquela imagem. Se sua fé estiver apoiada em um dos santos homens do passado, ela será tão fraca quanto aqueles homens forma. Se você apoiar sua fé em algum líder religioso dos nossos dias (seja ele o papa, o Dalai Lama, um grande evangelista da TV ou o seu pastor), ela quebrará em pedaços juntamente com esse homem ou mulher em quem você se apoio.

Simão fez a decisão certa: sob tua lançarei as redes. Não é confiado em mim, nem em mais ninguém, mas apenas na tua Palavra.

A grande Pesca

Quando nossos encontros com Jesus são marcados pelo acesso direto a Ele, por uma confiança prática que invade a vida e pela fé em sua Palavra, os resultados são reais e se tornam visíveis de todos.

Depois de confiar na palavra do Senhor e lançar novamente as redes onde ele não havia encontrado nada. Simão encheu se barco de peixe e quase vai a pique. Outro barco foi chamado para ajudar e os dois se encheram de peixes.

No entanto a algo surpreendente na reação de Simão. Não foi a quantidade de peixes que impressionou aquele homem. Simão ficou chocado com a santidade de Cristo. Aquela grande pesca fez com que Simão compreendesse que ele era não apenas um pescador, mas também um pecador que não merecia permanecer na presença do filho de Deus.

Quando você, pela fé em Cristo, lançar as redes onde não havia nada e os peixes encherem o barco, não se espante com o milagre. Adore ao Senhor! Reconheça a santidade Dele. Admita sua necessidade da presença dele e prostre-se aos Seu pés. Aí, como Simão ouviu, você também vai ouvir: NÃO TEMAS! Pescar peixes é bom, mas há algo melhor pescar vidas e conduzir pecadores aos pés de Jesus.

20 julho 2007

Encontrando-se com Jesus - A Mulher e o Perfume

Introdução

Durante os meses de junho e julho estamos refletindo sobre alguns do muitos encontros que o Senhor teve durante seu ministério. Gente do povo, líderes religiosos, oficiais militares e todo tipo de gente se encontrou com Jesus e teve sua vida mudada com esse encontro.

O homem de Gadara, a mulher com uma hemorragia, Jairo e sua filha às portas da morte, o centurião de Cafarnaum e se escravo que estava doente e o homem rico que queria herdar a vida eterna são alguns desses exemplos.

Hoje vamos meditar sobre o encontro de Jesus com uma que tinha um perfume caríssimo. Esse episódio é narrado nos quatro evangelhos, mas nos vamos ler o texto que se encontra no evangelho de Mateu 26:6-13


(6) Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, (7) aproximou-se dele uma mulher que trazia um vaso de alabastro cheio de bálsamo precioso, e lho derramou sobre a cabeça, estando ele reclinado à mesa. (8) Quando os discípulos viram isso, indignaram-se, e disseram: Para que este disperdício? (9) Pois este bálsamo podia ser vendido por muito dinheiro, que se daria aos pobres. (10) Jesus, porém, percebendo isso, disse-lhes: Por que molestais esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo. (11) Porquanto os pobres sempre os tendes convosco; a mim, porém, nem sempre me tendes. (12) Ora, derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo a fim de preparar-me para a minha sepultura. (13) Em verdade vos digo que onde quer que for pregado em todo o mundo este evangelho, também o que ela fez será contado para memória sua. (Mat 26:6-13)


O Cenário

Betânia era uma vila e pobre que fica a cerca de 3km de Jerusalém, a caminho para Jericó. Provavelmente ficava no lado leste do monte das oliveiras, aos pés do monte.

Era em Betânia que João Batista batizava (Joh 1:28). Por diversas vezes, quando ia a Jerusalém, o Senhor ficou hospedado em Betânia. Em uma dessas vezes, Ele conversou com Marta e Maria sobre o que era mais importante na vida (Lc 10:38-42). Foi lá que O Senhor ressuscitou Lázaro (Joh 11:1-44) e foi nas proximidades de Betânia que Jesus foi elevado aos céus.

Jesus chegara a Betânia seis dias antes da páscoa. Quatro dias depois, um fariseu chamado Simão, que havia sido curado por Jesus, ofereceu um jantar em Sua homenagem. Marta era uma das que serviam na festa e Lázaro era um dos convidados que estavam sentados à mesa com Jesus.

Jesus sabia que em poucos dias subiria a Jerusalém e lá seria preso a mando dos religiosos judeus. Ele sabia também que essa prisão resultaria na sua morte. Havia certa tensão no ar e os discípulos estavam atônitos com a resignação de Jesus quanto a Sua morte. Mas o jantar acontecia normalmente.

O Encontro

No tempo de Jesus as refeições não eram feitas em mesas do tipo que conhecemos hoje, nem as cadeiras em que se sentavam eram iguais às usamos. As refeições eram servidas em salões e eles usavam uma espécie de sofá sem encosto, nos quais se deitavam. Próximas a esses sofás, havia mesas baixas nas quais era posta a alimentação. Quem estivesse servindo as mesas, circulava por trás dos sofás em que os convidados estavam. O convidado de honra deitava-se próximo ao anfitrião.


Foi então que aparece uma mulher chamada Maria. O apóstolo João diz que era a irmã de Marta e Lázaro (Jo 11:12). Lucas afirma que ela aproximou-se por trás de Jesus e parou aos pés dele e começou a chorar (Lc 7:38).

Maria levava consigo um frasco feito de alabastro. O alabastro é uma espécie de pedra de calcário macia e de grande valor que era usada no antigo oriente para produzir pequenos frascos de perfume. Maria levava consigo um frasco onde cabia cerca de uma libra de perfume, aproximadamente 360 gramas. O frasco era tão bonito e caro que todos o notaram quando ela aproximou-se de Jesus.

Dentro do frasco, um bálsamo precioso: Nardo puro. O nardo era retirado de uma planta aromática com a qual se fazia perfume. Essa plantinha cresce no Himalaia, entre 3.300 e 5.100 metros de altitude, daí o preço exorbitante pelo qual eram vendidos os perfumes com essência de nardo. Maria, no entanto levava consigo um frasco de nardo puro. Os discípulos avaliaram o perfume em cerca 300 denários, algo como R$ 3.800,00 em nossos dias.

Ainda chorando, Maria quebrou o lacre do perfume e derramou o perfume sobre os pés e a cabeça de Jesus, misturando o perfume às suas próprias lágrimas. O Senhor não a impediu, nem tampouco a repreendeu. Sua morte estava às portas e ele considerou o desprendimento de Maria como uma boa ação digna de ser realizada. Maria estava preparando o corpo de Jesus para o seu sepultamento.

As reações

A reação foi imediata. Lucas diz que Simão, o anfitrião, um religioso cheio de preconceito sobre Maria, duvidou que Jesus fosse um profeta:

Mas, ao ver isso, o fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: Se este homem fosse profeta, saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora. (Luk 7:39)


Simão achava que apenas as pessoas de boa reputação poderiam aproximar-se do mestre. Para ele era inconcebível que o Messias tivesse contato com pecadores, ainda mais da qualidade de Maria.

Mas Jesus não repudiou a atitude de Maria, porque Simão estava errado. Ele mesmo já havia afirmado antes:

Jesus, porém, ouvindo isso, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores. (Mar 2:17)

Ninguém tem o direito de escolher sobre quem a graça do Senhor repousará. Ninguém tem o direito de fechar as portas do Reino de Deus àqueles considerados menos espirituais.

Qualquer pessoa independente de sua história de vida ou dos pecados que tenha cometido tem livre acesso a Cristo através da fé singela nele. Qualquer um que fizer como Maria e colocar-se aos pés de Jesus, chorando diante diante Dele o arrependimento dos seus pecados será acolhido pelo Senhor.

Os discípulos, e em especial Judas Iscariotes, preferiram reclamar de outra coisa. Alguns crentes são assim, quando alguém já reclamou de uma coisa ele procura outra coisa para reclamar, assim ele não fica pra trás.

As contas foram feitas com rapidez e chegaram a R$ 3.800,00. A palavra que veio à mente deles foi desperdício. Diante de tantas pessoas pobres e necessitadas era um desperdício derramar um perfume caríssimo nos pés e na cabeça de qualquer pessoa, até de Jesus. Judas disse o seguinte:

Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? (Joh 12:5)

É fácil ler e pensar: esse Judas realmente era mal intencionado. O Apóstolo João afirma que as intenções de Judas eram realmente escusas. O perfume vendido iria para a bolsa, um espécie de caixa que financiava o ministério de Jesus. Judas era um tesoureiro desonesto e enxergou a possibilidade de ganhar algum dinheiro.

Mesmo sendo Judas desonesto em relação ao dinheiro, Mateus afirma que o pensamento de que aquilo era um desperdício passou pela cabeça de todos eles.

(8) Quando os discípulos viram isso, indignaram-se, e disseram: Para que este desperdício? (9) Pois este bálsamo podia ser vendido por muito dinheiro, que se daria aos pobres. (Mat 26:8,9)


Enquanto Maria considerou que valia a pena desfazer-se de um precioso frasco de perfume para com isso demonstrar seu amor por Jesus, os discípulos viam nisso, no mínimo, má administração dos recursos. Para que? Perguntaram os discípulos. Por quê? Perguntou Judas. Toda pergunta precisa de respostas e Jesus não ficou calado diante da falta de compreensão de seus discípulos.

Para que?

Os discípulos ainda não haviam compreendido que o Reino de Cristo não era deste mundo. Eles não podiam lidar com a idéia de que o Cristo de Deus, o Messias libertador, seria preso, maltratado e por fim crucificado. O ministério de Jesus apenas começara. Ele ainda iria enfrentar os Judeus e por fim libertar o povo de Israel da opressão que pesava sobre eles. Estava claro para eles que esse ministério ainda precisava de muito recurso para avançar até o seu destino final. Para que então jogar fora um perfume tão caro? É melhor vendê-lo e guardar o dinheiro.

O Senhor percebe a falta de compreensão de seus discípulos e tenta explicar:

Ora, derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo a fim de preparar-me para a minha sepultura. (Mat 26:12)


Não é desperdício, afirmou Jesus. Ela está preparando meu corpo para a minha inevitável sepultura, ainda que vocês não queiram aceitar, ainda que vocês não compreendam. Isso que você estão considerando jogar dinheiro fora, é na verdade o que de mais acertado ela poderia fazer, por isso não a importunem.

Deus nos concede recursos os mais diversos. Dinheiro, bens, disposição para trabalhar, relacionamentos, saúde, habilidade para ensinar, inteligência, criatividade, capacidade para empreender, conhecimento e tantos outros. Jesus tenta explicar que só duas maneiras de usar o que temos recebido: dentro ou fora do Reino de Deus.

Até aí os discípulos concordavam. Eles até estavam pensando em vender o perfume e comprar uns exemplares da Torá em uma linguagem mais popular para distribuir na periferia de Jerusalém. Mas o que Jesus queria explicar era que esse não era um projeto do Pai. Não era o passo seguinte para o estabelecimento do Reino. O passo seguinte era a morte do filho de Deus.

Não somos as pessoas confiáveis para decidir por nós mesmos o destino dos bens que o Senhor nos deu por empréstimo, a não ser que estejamos sintonizados com o mover de Deus e com o desenrolar do avanço do Seu Reino.

Os discípulos não estavam compreendendo que o avanço do Reino de Deus estava ligado diretamente à própria pessoa de Cristo e sua morte na Cruz. Por isso, qualquer investimento em direção a Ele era legítimo e necessário. Da mesma forma, meu irmão, seu dinheiro, seus bens e seus dons só estarão sendo corretamente aplicados se o forem para o avanço do Reino de Deus.

Os discípulos tinham seus próprios caminhos para um Reino que era mais deles do que de Cristo. Na cabeça de alguns isso passava inclusive por lugares de honra e poder, um à direita e outro à esquerda. Mas esses não eram os caminhos de Cristo.

Você também tem caminhos próprios para o seu Reino? Você tem aplicado neles dinheiro, bens e a própria vida? Pode ser que você se surpreenda, mas não vale apostar em nada que esteja fora do caminho de Deus para o estabelecimento do Reino Dele.

Por que?

Por que, perguntou Judas, por que não se vendeu esse perfume. A pergunta poderia ser feita a Maria. Porque você não vendeu esse perfume? Maria, será que você tá batendo bem da cabeça? Ô Maria, porque você insiste em aplicar seu dinheiro nessa igreja? Ô José, porque você continua gastando seu tempo nessas reuniões? Será que você perdeu a noção do que é sensato? Só poderia ser a boba da Maria!

Eram perguntas ferinas com motivações escusas. O Senhor então protegeu Maria. E explicou ao seus acusadores em forma de parábola.

(40) E respondendo Jesus, disse-lhe: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Respondeu ele: Dize-a, Mestre. (41) Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos denários, e outro cinquenta. (42) Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais? (43) Respondeu Simão: Suponho que é aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe Jesus: Julgaste bem. (44) E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os enxugou. (45) Não me deste ósculo; ela, porém, desde que entrei, não tem cessado de beijar-me os pés. (46) Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta com bálsamo ungiu-me os pés. (47) Por isso te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. (48) E disse a ela: Perdoados são os teus pecados. (Luk 7:40-48)

Maria quebrou o vaso de alabastro com nardo puro e o derramou sobre os pés e a cabeça do Senhor porque seu coração estava cheio de gratidão. Ela era uma percadora que havia alcançado o perdão do Senhor.

Ela não fazia parte de nenhuma família importante de sacerdotes, nem tinha profetas em sua linhagem. Ela não era uma profunda conhecedora da Torá, e nem mesmo era bem recebida nas sinagogas. Os seus pecados eram muitos, mas o perdão de Jesus era ainda maior, por isso seu coração estava cheio de gratidão. Por isso frasco de perfume caríssimo não era algo a que ela pudesse se apegar. O seu Senhor merecia muito mais.

Enquanto cada um de nós não compreendermos o quanto somos pecadores, o quanto os nossos pecados ofendem ao Senhor, não haverá lugar em nosso coração para a gratidão.

Enquanto nos acharmos dignos, honestos e merecedores de um tratamento especial por parte do Senhor, não compreenderemos a Sua Graça, que nos alcançou sem que nós merecêssemos nada; e o nosso amor por Ele será sufocado pelo amor aos vasos de alabastro que encontramos pelo caminho.

Conclusão

Como Jesus predisse, a história de Maria é contata e recontada em todos os lugares onde o evangelho tem chegado. É a história de uma pecadora cheia de gratidão que abriu mão de algo precioso aos olhos de todos apenas para fazer parte do avanço do Reino de Deus.

Qual é sua história, meu amigo? Você tem feito com Simão que se achava tão bom que não precisa tanto assim de Jesus? É difícil achar em seu coração gratidão a Ele? Lembre-se então que sem Ele sua vida está destinada à separação de Deus. Mas o arrependimento sincero, chorado aos pés dele resultará em perdão e vida eterna.

Qual é a sua história, meu irmão? Como ela será contato no futuro? O que dirão os filhos dos filhos dos seus filhos? Oro ao Senhor para que sua história seja a história de Maria, que colocou o que de melhor ela tinha a serviço do Reino de Deus.