06 abril 2006

A sabedoria do equilíbrio e os andaimes

Por Aristarco Coelho

Da varanda de meu apartamento é possível ver um grande edifício em construção. Nos últimos meses, mesmo sem querer, tenho acompanhado a evolução da obra. Hoje pela manhã, enquanto aguardava a hora para tomar meu café da manha, parei novamente para observar as atividades dos trabalhadores.


A fase é de acabamento. Na fachada externa do prédio, dois andaimes (dois operários em cada um deles) descem lentamente enquanto os homens fazem a limpeza do revestimento que havia sido colocado na semana anterior. Acho que eles estão lá pelo 15° andar, ou talvez no 16°.

Os andaimes são manuais. Construídos na própria obra, eles são suficientes para cinco ou seis pessoas. São sustentados através de quatro cabos, presos em barras de sustentação no topo de prédio, e em alavancas fixadas no próprio andaime. Os operários tinhas seus cintos de segurança conectados a outro cabo, que por sua vez tinha ligação direta com a barra de sustentação.

A seqüência é a seguinte. Primeiro, no topo do prédio, o andaime é amarrado aos cabos, e esses fixados às barras de sustentação. Em seguida, o equipamento é suspenso na lateral do prédio e nivelado para que os operários entrem. A partir daí, começa um procedimento que chamou minha atenção.

Depois de fazer a limpeza de todo o revestimento que está ao alcance daquela posição do andaime, é preciso descer para outra posição. Então, os operários fazem algo que para mim, (eu não conseguiria ficar dois minutos naquela situação), parecer um absurdo. Eles começam a desequilibrar o andaime, baixando uma das extremidades.

Parece uma insanidade. Você já está naquela altura, seguro apenas por cabos, e aí, baixa uma das extremidades do andaime inclinando o piso debaixo dos próprios pés, aumentando ainda mais a sensação de insegurança. Depois desse desequilíbrio provocado, cada uma das três alavancas restantes tem suas catracas giradas, uma por uma, até que o andaime volte a uma posição nivelada. Então, eles começam a limpar a nova faixa de revestimento que está ao alcance das mãos.

O pavor com o desequilíbrio do andaime lembrou-me que na vida passamos por situações muito semelhantes. Às vezes, nós mesmos, com nossa imprudência e falta de responsabilidade, sacudimos a vida até que uma das engrenagens de sustentação afrouxa e desequilibra o andaime; outras vezes, somos realmente surpreendidos por situações que não estão sob nosso controle.

De repente, o chão debaixo dos pés se inclina e a sensação de insegurança toma conta da alma. Notícias de corte na empresa, de amizades estranhas do filho, da morte abrupta de um parente querido; de que o imóvel comprado, e pago, não verdade não lhe pertence; de que o bebê, tão esperado, têm limitações especiais, da empresa à beira da falência, da filha violentada na própria casa ou do filho assaltado na rua fazem-nos perguntar: quem foi que entortou o andaime da minha vida? O que eu faço agora?

A primeira coisa a ser lembrada é que você é mais importante que o andaime. Assim como os operários que trabalham em andaimes não se amarram a eles, mas têm um sistema de segurança que lhes mantém suspensos mesmo quando o andaime cai, nós que fomos criados para a eternidade não podemos nos agarrar ao que é transitório; ao que, segundo Tiago, parece um pouco de fumaça. Em construções, andaimes caem e se despedaçam no chão; em um mundo dominado pelo pecado, vidas também podem ser despedaçadas.

A Bíblia oferece um sistema de segurança que nos protege mesmo quando o andaime cai: o amor de Deus. Jesus disse: as minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e ninguém as arrebatará de minhas mãos. Disse também: no mundo tereis aflições, mas tenham bom ânimo: eu venci o mundo. Ele afirmou: não se perturbe o vosso coração, crede em Deus, crede também em mim, na casa de meu Pai há muitas moradas.

Quando o andaime cai, você não precisa cair junto. Basta estar amparado pelo sistema de segurança de Deus, e largar o andaime.

A segunda coisa a ser lembrada é que às vezes o andaime entorta para que alcancemos outro estágio da vida. Os operários faziam isso para alcançar uma parte do revestimento que de outra maneira não poderia ser limpo. Às vezes é exatamente assim: Deus permite que a vida fique um pouco torta porque só assim vai ser possível alcançar algumas áreas que de outra maneira não seriam tratadas. Não se assuste. Ele está no controle. Confie nisso!

A Bíblia está cheia de pessoas que tiveram seus andaimes sacudidos e inclinados até o limite para tivessem a oportunidade de olhar para si mesmos, reconhecer suas limitações e confiar exclusivamente no cuidado de Deus.

A terceira coisa que devemos lembrar é que não precisamos ficar passivos e inertes quando o andaime se inclina. Deus tem dado inteligência e sabedoria a muitas pessoas para aprender a ajustar o andaime às novas realidades que se impõem a nós. Os operários, pacientemente, ajustavam as engrenagens de sustentação até que o andaime voltava ao equilíbrio.

Nós também precisamos fazer ajustes. Às vezes o trabalho consome tanta dedicação, tanto empenho, que não sobra para a família; outras vezes a falta de controle nas finanças leva a todos à bancarrota; por vezes também, falsos conceitos sobre amor, felicidade, realização, compromisso e outros valores importantes causam turbulências que poderiam ser evitadas; além disso, há situações em que o desequilíbrio emocional no trato com os problemas da vida transforma um desnível de cinco centímetros em um declive de cinco metros: tempestade em copo d’água.

Pendurados a sessenta metros de altura, os operários não têm pressa nos ajustes do andaime. Nós também não devemos agir com açodamento ou desespero, mas persistentemente continuar a fazer todos os ajustes necessários para recuperar o equilíbrio.

Os andaimes construídos na própria obra são únicos, mas seguem os mesmos conceitos de engenharia; as vidas são diferentes, mas os princípios que conduzem ao equilíbrio continuam à disposição de todos que se submetem a Deus. É por aí que começa a sabedoria do equilíbrio.

Peço a Deus humildade para aprender com outros sobre a arte da vida equilibrada; tanto aqueles que no passado buscaram sabedoria em Deus e tiveram suas histórias registradas no Livro Sagrado, quanto aqueles que em nossos dias tentam aplicar essa sabedoria em suas vidas.

05 abril 2006

John Fletcher (1729 - 1785)

Jean Guillaume de la Fléchère, um Suíço de língua Francesa que nasceu em Nyon em 12 de Setembro de 1729, foi um verdadeiro grande homem de Deus. John William Fletcher - o seu nome foi anglicizado para ajudá-lo a ser aceito por aqueles a quem ele foi chamado a pastorear e pregar - serviu o Senhor em Madeley (Inglaterra) de 1729-1785 e foi presidente da Trevecca, a universidade do Sul de Gales fundada pela Condessa de Huntingdon, concebida para treinar líderes Cristãos durante o reavivamento do Séc. XVIII. Ele era altamente respeitado e amado, - quase que adorado pelos estudantes. Amigo íntimo tanto de John como de Charles Wesley, Fletcher foi considerado sucessor de John Wesley, mas, ao morrer em 1785, precedeu Wesley na morte. Wesley disse que, espiritualmente, nunca encontrara ninguém como Fletcher, “alguém tão devotado a Deus tanto exterior como interiormente; e dificilmente encontrarei outro como ele deste lado da eternidade”.Quando morreu foi dito: “John Fletcher, um modelo de santidade sem paralelo neste século.”.

John Fletcher era conhecido por De Madeley devido ao impacto que causou nesta terra inglesa. A influência do seu ministério foi de tal envergadura que os bares fecharam todos nesta localidade.Alguns apresentavam como desculpa para não irem aos cultos, aos Domingos de manhã, o fato de não conseguirem acordar a tempo suficiente para terem a família pronta. Ele arranjou um remédio para este mal. Pegando numa sineta, às cinco horas da manhã, durante meses, todos os domingos, percorria as ruas convidando os habitantes para a casa de Deus. Era incansável. Mesmo doente nunca recusava sair de casa a altas horas da noite, ou de madrugada, em qualquer estação do ano, mesmo sob as condições atmosféricas mais severas e desconfortáveis, para visitar os doentes e moribundos, e oferecer-lhes as consolações do Evangelho.O pai dele era membro de uma das famílias mais respeitadas no Cantão de Berna, na Suíça, e foi Coronel no Exército Francês. O pai colocou-o a estudar em Geneva, onde se distinguiu academicamente pelo brilhantismo. Depois foi estudar alemão e Hebraico no cantão Suíço de Lensbourg. O pai queria que ele seguisse a carreira eclesiástica. No entanto, quando concluiu os estudos, e não obstante ter tido uma infância que o marcou positivamente a nível espiritual, resolveu enveredar por outra via. Disse ele depois que tal mudança se deveu à corrupção existente no mundo e no seu próprio coração. Os colegas aliciaram-no a seguir o Exército. Ele tentou em vão obter o consentimento do pai para entrar no Exército.


NA MARINHA PORTUGUESA

Apesar de ter qualificações intelectuais para trabalhar como professor, preferiu o risco da aventura de ser mercenário. Chegou a vir a Lisboa para comandar um navio de guerra Português que o levaria ao Brasil, ao serviço do Rei de Portugal. Entretanto algo o obrigou a ficar em terra e a desistir dessa via. Uma criada, que servia o pequeno-almoço, entornou-lhe em cima duma perna um bule de Chá a ferver, impossibilitando-o de concretizar este seu desejo. Ainda tentou ingressar no Exército da Holanda onde tinha um tio no posto de Coronel, mas, entretanto o tio morreu e as suas esperanças desvaneceram-se. O que se teria perdido, se estes reveses não tivessem acontecido?!


EM INGLATERRA

Desempregado, resolveu ir para Londres. Uma vez aqui, ouviu o Evangelho através dos metodistas e converteu-se ao Senhor. Começou então uma vida maravilhosa. Pouco tempo decorrido após a conversão começou a pregar – com muita bênção. Era muito solicitado em diferentes igrejas. A humildade e o fervor eram as suas grandes características. Toda a sua vida passou a ser uma vida de devoção; e tão ansioso ele estava em manter a comunhão com Deus, que por vezes dizia, “Não me levantarei, sem primeiro erguer o meu coração a Deus”."Sempre que nos encontrávamos”, observa um amigo íntimo, "se estivéssemos sós, a sua primeira saudação era, 'Interrompo a tua oração?' Se conversávamos sobre qualquer ponto doutrinal, quando estávamos na profundidade da questão, ele interrompia muitas vezes de forma abrupta a conversa e perguntava, 'Onde estão agora os nossos corações?' Se a má conduta de uma pessoa ausente fosse mencionada, a sua atitude era,'Oremos por ele.' "Ele escreveu muito. Embora tendo nascido e sido educado na Suíça, John Fletcher adotou a língua inglesa deixando obras importantes nesta língua. Foi considerado um grande teólogo. Ele chegou a estudar 14 a 16 horas por dia as Escrituras, combatendo, por escrito, idéias estranhas à fé Cristã nos seus dias. Comia apenas para sobreviver fisicamente. Era raro tomar as refeições a horas regulares. Em 24horas comia 2 ou 3 vezes, comendo pão, queijo, fruta e leite.


JOVENS MARCADOS

Ele também lecionou. Os estudantes ficavam tão impressionados com ele que quando entrava na sala de aulas fechavam os livros sobre Virgílio, Cícero e outros, muito em moda na época. Preferiam escutá-lo. Depois de falar sobre grandes temas como a oração, a plenitude do Espírito e o poder e bênção de Deus na vida quotidiana, convidava-os a colocarem a teoria na prática. Normalmente saía da sala de aulas e dirigia-se a um compartimento onde se punha a orar. Invariavelmente os estudantes todos seguiam-no. Estes contaram que um dia, quando ele orava, o êxtase espiritual que experimentava era tão elevado que exclamou. “Senhor, não me enchas mais senão rebento. Perdoa-me Senhor, continua a encher-me; prefiro rebentar a perder esta bênção de ser cheio de Ti”. Os estudantes confessavam que às vezes não sabiam se ainda estavam neste mundo ou já no próximo. Havia dias que passavam com ele horas a buscar a face de Deus. Um dia ele disse-lhes: “Se Deus vos conceder arrebatamentos e experiências extraordinários, agradecei-Lhe; mas não vos glorieis nisso fora da medida. Sede prudentes, para que a desilusão não se intrometa; e lembrai-vos que a vossa perfeição Cristã não consiste tanto na construção de um tabernáculo no Monte Tabor, para descansardes e desfrutardes de VISTAS RARAS ALI, mas em tomardes resolutamente a cruz, e seguir Cristo no palácio de um arrogante Caifás, até ao átrio de juízo de um injusto Pilatos, e até ao cume de um ignominioso Calvário. Nunca lestes nas vossas Bíblias, “Que esteja sobre vós a glória que também esteve sobre Estêvão, quando ele olhou firmemente para o céu, e disse, ‘Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus’, mas tendes lido nelas freqüentemente, ‘De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.’”


HOMEM DE ORAÇÃO

A oração, com Fletcher, não era um dever mas um refrigério e uma inspiração. Todos os Domingos de manhã, entre as quatro e as cinco da manhã, e duas ou três noites por semana, depois dos alunos estarem a dormir, ele costumava sair para os prados, ou para as margens do Severn, reunindo-se com um funcionário de finanças, um criado, e uma viúva pobre.Os quatro derramavam a sua alma em oração a Deus, sendo admiráveis as manifestações de amor e graça divinos que lhes era concedido. Henry Venn disse dele: “Fletcher foi um luminar — eu disse, um luminar? Ele foi um sol! Conheci todos os grandes homens de Deus nestes 50 anos, mas nunca conheci ninguém como ele, e conheci-o intimamente... Nunca o ouvi proferir uma única palavra que não fosse própria. E tinha uma tendência impressionante de ministrar graça aos que o ouviam… Nunca ouvi Fletcher falar mal de alguém. Ele orava pelos que andavam desordenadamente, mas nunca publicava as suas faltas.”


SERÁFICO

Quando visitou determinada localidade um crente idoso rogou-lhe que prolongasse a sua visita somente por mais uma semana. Quando viu que seria impossível, desabafou para outro crente, com lágrimas nos olhos: “Oh, que infelicidade para a minha terra! Durante a minha vida só vi ser produzido um homem anjo e agora que o temos perdemo-lo.”Quando ele pregava o sentimento de quem o ouvia era de que falava como alguém que acabara de conversar com os anjos e Deus, e não como ser humano. John Fletcher certa ocasião ausentou-se 5 meses de Inglaterra para, numa viagem, pregar em França, Itália e Suíça. Por onde passou deixou marcas profundas nas almas que o receberam e escutaram. Fez o mesmo, noutras ocasiões, por toda a Grã-Bretanha, regressando sempre à imensa labuta entre os seus, em Madeley.


REMINDO O TEMPO

Para se ter uma noção de como ele remia o seu tempo notemos o que se passou certa ocasião. Certa manhã, ele quis estar presente quando as raparigas da escola foram tomar o seu pequeno-almoço, observando o tempo que demoravam. Quando acabaram ele falou com cada uma separadamente, e no fim disse-lhes: “Observei esta manhã como vocês tomam o vosso pequeno-almoço. Convido-vos a estardes presente no meu pequeno-almoço amanhã, para verdes como eu o tomo. Ele informou-as que o seu pequeno-almoço seria às 7h. Quando elas vieram à hora marcada observaram-no comer uma malga de leite com pedaços de pão enquanto ao mesmo tempo conversava com elas. Ele tinha colocado um relógio na mesa, e quando acabou de comer perguntou-lhes quanto tempo demorara. Elas disseram-lhe que comera num minuto e meio. Contrastando com o tempo que elas tinham tomado no dia anterior -uma hora -, disse-lhes: “Ainda temos 58 minutos!” E começou a cantar um hino com esta letra: A nossa vida é como quimera! A nossa temporada escoa efêmera. O momento fugidio já era. A seguir pregou-lhes sobre o valor do tempo e da alma. Por fim ajoelharam-se todos em oração.


FAZIA BALANÇO DIÁRIO

Antes e além de tudo o mais John Fletcher buscava Deus. Como ajuda neste supremo esforço ele redigiu as seguintes regras para usar à noite:

Hoje, ao levantar-me estive espiritualmente vigilante, e tive o cuidado de impedir que a minha mente vagueasse?
Neste dia estive mais perto de Deus em momentos de oração, ou dei azo à preguiça e ociosidade?
Neste dia a minha fé foi enfraquecida por falta de vigilância, ou despertada pela diligência?
Neste dia andei pela fé e vi Deus em todas as coisas?
Neguei-me a proferir palavras e pensamentos maus? Alegrei-me por ver outros preferidos a mim?
Fiz o máximo com o meu precioso tempo, ou enquanto tive luz, força e oportunidade?
Guardei as saídas do meu coração com graça, de modo a tirar proveito delas?
O que é que neste dia fiz em proveito das almas e corpos dos queridos santos de Deus?
Fiz alguma coisa para agradar ao meu ego quando podia ter poupado dinheiro para a causa de Deus?
Neste dia governei bem a minha língua, lembrando-me que “na multidão de palavras não falta pecado”?
Em quantos exemplos me neguei a mim mesmo hoje?
A minha vida e conversação adornaram o Evangelho de Jesus Cristo?


FÉ PRÁTICA

Com o fim de encorajar os outros se manterem em comunhão com Deus e desfrutarem da salvação plena, Fletcher formulou uma série de questões como forma útil de se examinarem a si mesmos. O exemplo que a seguir apresentamos mostra quão prática era a fé que ele vivia e pregava.“Sinto algum orgulho? Estou morto para todo o desejo de ser elogiado? Se me desprezam, gosto menos deles por causa disso? Ou se me amam ou aprovam, amo-os mais como resultado? Cristo é a vida de todas as minhas afeições e projeto, do mesmo modo que a minha alma é a vida do meu corpo? Realizo sempre a presença de Deus? ...Estou livre do medo dos homens? Estou sempre pronto para confessar Cristo, sofrer com o Seu povo, e morrer por amor a Ele?...Estou pronto a abrir mão da minha tranqüilidade e comodidade para fazer algo em favor dos outros, ou espero que sejam eles a fazerem isso por mim?...Nunca tomo para mim a glória que pertence a Cristo?...Sou amável, não severo; adaptando-me a todos com doçura; esforçando-me para não causar dor, mas para ganhar e vencer tudo para seu bem?...Realizo as tarefas mais servis, como as que requerem muito trabalho e humilhação, com alegria?...Sujeito todos os pensamentos a Cristo?...Não penso no mal, não dou ouvidos a conjecturas sem fundamento,nem julgo pela aparência? Como é que sou na tentação? Se Satanás me apresenta uma má imaginação, a minha vontade resiste imediatamente, ou cede? Sofro as enfermidades da velhice ou doença sem procurar reparar a decadência da natureza com bebidas fortes? Ou faço de Cristo o meu único apoio, lançando o peso do corpo enfraquecido nos braços da Sua misericórdia?” Nada havia inferior à sua imersão na profundidade d’Aquele Cuja santidade era origem, convite e recompensa para o homem que insistiu muito com a sua mulher: “Não escrevas nada sobre mim; Deus é tudo.”


REVOLUÇÃO EM MADELEY

O povo de Madeley estava num enorme desconforto, quando John Fletcher surgiu. Eles nada mais queriam, do que serem deixados sós, mas a influência deste novo ministro era de uma força tremenda.Eles começaram a temer abrir as suas tabernas e salões de dança. A aparência deste homem pálido, quando repreendia o pecado com palavras que queimavam e feriam, era de olhos relampejantes, como brasas incandescentes. Fletcher insistia na urgência da sua conversão a Deus e não na simples ida à igreja. Em público dirigiam-se a ele com raiva; em privado falavam mal dele; perturbavam as suas reuniões informais; amaldiçoavam o seu nome. Porém houve uma coisa com que não conseguiram lidar – a sua coragem e bondade, que foram determinantes para mudar a maré.O seu estilo de pregação não foi bem recebido e não obteve o apoio do clero e dos abastados. Eles referiam-se a ele como sendo um herege cismático. Mas, com suas boas obras, qualidades pessoais e dom de oratória venceu-os a todos. Uma das características de Fletcher é que ele não requeria sempre um púlpito para pregar; uma área aberta, ao ar livre, era igualmente boa para ele. Muitas vezes aventurava-se a trabalhar nas comunidades, com os mineiros, os metalúrgicos, os marinheiros e os pobres, a quem ele fazia freqüentes visitas. Ele tratava todos por igual, nunca tirando partido dos caprichos dos poderosos.


ENORME DIANTE DO REI

Em 1776 ele escreveu um folheto. Uma cópia foi enviada ao Rei de Inglaterra.Este quis recompensá-lo com uma posição eclesiástica elevada. Com cortesia ele recusou a oferta do monarca, acrescentando, “Apenas quero mais graça”. Sempre que lhe perguntavam se tinha alguma necessidade, ele respondia, “... não quero nada, a não ser mais graça”.


CASAMENTO

Ele casou-se com Mary Bosanquet, uma mulher que conhecia há muito tempo, na esperança de que ela o ajudasse no reavivamento. Adotaram uma menina chamada Sally. Eles casaram-se em 1781, quando o noivo tinha 52 anos de idade. Foi um casamento muito feliz e aceito com muita alegria em Madeley, mesmo apesar da noiva ser natural de Leytonstone e não uma rapariga local. Este casamento feliz rompeu-se forçosamente devido à morte dele, apenas três anos, nove meses e dois dias depois de se realizar.


SEGREDO DO SUCESSO

O segredo do seu sucesso parece ter sido uma mistura de oração contínua, devoção pessoal à Pessoa de Cristo, estudo intenso das Escrituras, preocupação social pelo rebanho, e uma prontidão voluntária em visitar qualquer pessoa que se encontrasse de alguma forma aflita. Ele orava muito todos os dias e dedicava duas noites por semana – que se estendiam pela madrugada - ao estudo das Escrituras para melhor compreender a fé Cristã.


ALTRUÍSTA

Ele organizou a ajuda - e ele mesmo empenhou-se nela – aos velhos, pobres, moribundos, viúvas e órfãos. Ele manifestou uma compaixão evangélicatípica pelas necessidades sociais dos que o rodeavam, dando ele mesmo sacrificadamente para que a sua visão se materializasse. Ele dava tanto que pouco ficava para manter a sua casa e comer. A sua atitude imutável para com o dinheiro e toda a forma de riqueza mundana, deve ter parecido incompreensí vel aos seus contemporâneos; ele era bastante insensível às ofertas de conforto e luxúria. De fato, tendo puramente por base o fato de que uma “certa jovem senhora” tinha riqueza, ele menosprezou o amor da única mulher com quem achava que se podia casar. Só depois de Miss Bosanquet ter sido deserdada pela sua família devido às suas convicções evangélicas, é que Fletcher rompeu o silêncio e fez a proposta há muito esperada – vinte e cinco anos depois de se terem encontrado pela primeira vez. E mesmo então, ele tornou bastante claro que, embora ele a amasse, foi a penúria dela que tornou possível que ele a abordasse daquele modo!


PODEROSO

Para um homem com o talento treinado como o dele, tendo um poder de expressão que destilava eloqüência diante de qualquer audiência, Fletcher podia ter conseguido para si um nome famoso. Em vez disso, o propósito dele foi levar à conversão e não encantar os seus ouvintes; assegurar os seus interesses eternos e não obter os seus aplausos momentâneos… Ele falava como na presença de Deus, e ensinava com autoridade Divina. A energia da sua pregação era irresistível. Os seus temas, linguagem, gestos, tom de voz, e a sua face, tudo conjugava para fixar a atenção e afetar o coração. Sem pretender a sublimidade; ele foi verdadeiramente sublime, e de eloqüência rara.”


ESQUECIDO

John Fletcher tem sido esquecido pela Cristandade moderna, não sendo muito mencionado pelos historiadores, no entanto alterou o curso de eventos nacionais por meio das suas orações e zelo. Apesar de reservado (e por isso esquivo) não deveríamos negligenciar o testemunho desta vida que é uma autêntica fonte de inspiração e piedade. A Bíblia tem razão: A memória do justo é uma bênção (Prov. 10:7).


DEPENDENTE

O acontecimento que a seguir narramos ilustra o poder da bênção divina abundante no seu ministério. Uma senhora que se tinha convertido e que desejava muito ir aos cultos, sofria o antagonismo de um marido terrível. Ele era um perfeito pagão que fazia tudo para a reter em casa, e transformar a sua vida numa miséria. Um dia em que ela se preparou para ir ao culto ele disse-lhe, com sinceridade óbvia que, se ela saísse de casa, a estrangularia quando voltasse. Apesar da ameaça, ela foi. À medida que o tempo passava, ela pensava, receosa, na recepção que teria no regresso. John Fletcher, que nada sabia disto, não sentiu liberdade nenhuma em pregar a partir das anotações que preparara. Sentiu-se pressionado pelo Senhor para pregar de memória, guiado pelo Espírito. A mente dele foi orientada para a história de Sadraque, Mesaque e Abdenego, lançados na fornalha, em Daniel. Sem saber, ele foi levado a encorajar aquela mulher preocupada. Após o culto, encorajada com o que ouvira, a mulher regressou a casa sem receio, confiada na provisão do Senhor. Contudo, ao chegar a casa, o que os olhos dela contemplaram excedia tudo o que a sua mente tinha imaginado. O seu marido pagão estava prostrado no chão, com a face no soalho, em agonia, clamando a Deus por misericórdia, tal a convicção a que estava sujeito pelo Espírito de Deus.


INFLUENTE

Em toda a sua vida ministerial John Fletcher conheceu um poder espiritual notável na pregação; não há dúvida que ele estava ungido com a unção divina e falava no poder do Espírito Santo. A sua congregação cresceu exponencialmente, sendo grandemente afetados, nos cultos, tanto jovens como idosos. As lágrimas eram lugar comum. Independentemente do local onde ia e da língua falada, o resultado era o mesmo. As audiências ficavam num estado de profunda convicção. Por vezes as congregações não dispersavam, ficando reunidas horas depois de acabada a pregação, por causa do desejo da obtenção da graça divina que se seguia ao arrependimento.


CONVITE DE JOHN WESLEY

Fletcher era tão poderoso e eloqüente que John Wesley afirmava repetidas vezes que era ele, e não George Whitefield, que deveria ter tamanha fama nacional. Wesley não dizia isto maldosamente, pois ele tinha a mais elevada consideração pelo seu entusiástico colega Whitefield; ele olhava para os fatos de uma forma lógica, e apenas emitia a sua opinião. De fato, Wesley foi mais adiante e manifestou o seu desejo permanente de que Fletcher liderasse o movimento metodista após a sua morte. Quando Wesley tinha 58 anos e John Fletcher 32, ele pediu a Fletcher para que fosse seu companheiro e sucessor. Wesley ficou desiludido quando Fletcher decidiu restringir-se a Madeley. Wesley não imaginava que viveria mais 6 anos do que John Fletcher, apesar da diferença significativa das suas idades.


FANTÁSTICO ATÉ AO FIM

Ele contraiu a tuberculose tendo ido para um clima mais quente para recuperar. Nunca recuperou e morreu em 14 de Agosto de 1785 com 56 anos de idade. Quando Fletcher soube que tinha tuberculose ficou calmo, como sempre.Em vez de assumir o papel de doente, ele percorreu a Suíça comunicando aos seus conterrâneos as coisas que Deus lhe tinha mostrado nos anos anteriores. Ele suportava o sofrimento do mesmo modo que suportou a incompreensão –ficando calmo, com a ajuda de Deus. Estando gravemente enfermo alguém foi visitá-lo e ficou impressionado: “Fui visitar um homem que tinha um pé na sepultura; mas encontrei um homem com um pé no céu”. Mesmo extremamente doente foi pregar numa conferência. Alguém escreveu o que viu: “Toda a assembléia se colocou de pé como que movida por um choque elétrico. John Wesley ergueu-se e avançou uns passos para segurar o seu amigo e irmão quando este acabou de pregar. A face de Fletcher parecia pronunciar fortemente que ele se abeirava da sepultura, enquanto os olhos relampejavam amor seráfico, indicando que habitava nos subúrbios do Céu … Ele tinha falado com uma eloqüência tão santa que nenhuma descrição minha pode expressar adequadamente. Ele acabava de falar a uma centena de pregadores, em números redondos, que estavam inundados em lágrimas … Wesley, para aliviar o seu amigo lânguido de fadiga e desgaste pelo enorme esforço que fizera ao pregar, ajoelhou-se abruptamente ao seu lado, secundado por todo o congresso de pregadores, enquanto num modo conciso e enérgico, orou pela restauração da saúde de John Fletcher.”


UMA NAÇÃO AFETADA

A sua morte em 14 de Agosto de1785, com a idade de 56 anos, foi, humanamente falando, inoportuna e prematura; ele viveu como uma labareda que durou menos tempo do que o esperado; todo o país ficou triste com a perda. John Wesley prometeu escrever a história da sua vida logo que pudesse, de modo a que as suas experiências pudessem ser úteis para a posteridade. Um ano depois, com a idade de 83 anos, a tarefa estava concluída. No grande manuscrito produzido, Wesley escreveu, “Nunca conheci alguém tão uniforme e profundamente devotado a Deus... E dificilmente encontrarei, deste lado da eternidade”. Wesley conduziu o seu funeral com 82 anos de idade, usando como texto da mensagem o Salmo 37:37: “Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz.” O seu epitáfio: Jaz aqui o corpo do REV. JOHN WILLIAM DE LA FLÉCHÈRE,Vigário de Madeley; O qual nasceu em Nyon, na Suíça, em 12 de Setembro de 1729, tendo consumado a sua carreira, em 14 de Agosto de 1785, nesta Vila, onde os seus trabalhos sem precedentes nunca serão esquecidos. Ele exerceu o seu ministério no espaço de 25 anos nesta comunidade, com um zelo e capacidade invulgares. E apesar de muitos terem crido no seu testemunho, ele podia com justiça ter adotado a lamentação do Profeta: “Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde e contradizente: todavia o meu direito está perante o SENHOR, e o meu galardão perante o meu Deus.”


RETRATO JORNALÍSTICO

A personalidade de John Fletcher foi assim retratada por um jornal, escassos dias após a sua morte: --"No dia 14 deixou esta vida John Fletcher, de Madeley, para indescritível dor e apreensão do seu rebanho, e de todos os que tiveram a felicidade de o conhecer. Se falarmos dele como homem, e como cavalheiro, ele era detentor de todas as virtudes que adornam e dignificam a natureza humana. Se tentarmos falar dele como ministro do Evangelho, será extremamente difícil transmitir ao mundo uma idéia justa deste grande homem de Deus. Os seus conhecimentos profundos, a sua exaltada piedade, os seus labores incessantes para realizar o importante dever das suas funções, juntamente com as capacidades e bom efeito com que o conseguia, são bem conhecidos e nunca serão esquecidos na vinha em que labutou. A sua caridade, a sua generosidade universal, a sua mansidão,e a sua bondade exemplar, são dificilmente igualadas pelos filhos dos homens. Ansioso por cumprir os sagrados deveres do seu ministério até aos últimos momentos da sua vida, ele pregou a cerca de 200 pessoas no Domingo que antecedeu a sua morte, confiado no poder Todo-Poderoso e entregando a sua vida nas mãos d’Aquele que lha deu, com a serenidade e a alegre esperança de uma ressurreição feliz, que acompanham os últimos momentos dos justos.” Que os dias que nos restam sejam como os seus!

Falsificações de si Mesmo


Por Aristarco Coelho

Ontem, uma fábrica de dinheiro falso foi fechada no Parque Araxá, em Fortaleza. O requinte da falsificação, que segundo a imprensa reproduziu com perfeição itens de segurança como a marca d’água e a assinatura do presidente da Casa da Moeda nas cédulas, impressionou as autoridades policiais.

Mas, falsificar não é um crime novo. Há muito que os contraventores enxergaram na atividade uma excelente margem de rentabilidade. A grande motivação dos falsários, então, é o lucro fácil, produzindo a custo baixo cópias de produtos com bom valor de mercado.

No entanto, por mais perfeita e bem acabada que uma falsificação seja, ela leva consigo o peso de tentar passar-se pelo que não é; de tentar beneficiar-se de uma posição de mercado que não lhe pertence, usufruindo os benefícios de investimentos que não fez.

Além de produtos, serviços e arte, a falsificação invadiu também os relacionamentos humanos. Apresentar uma imagem falsa sobre si mesmo é daquelas atitudes comuns, mas que causam grande prejuízo à sociedade.

Defendo a idéia de que a indignação pelo que é falso precisa começar em nossas próprias atitudes, em nossa maneira de viver. Não adianta muito se fazer grande estardalhaço com o dinheiro falsificado quando somos falsificadores de nós mesmos.

No ambiente do trabalho, algumas dessas atitudes danosas e comuns são: apresentar formação acadêmica falsa, assumir realizações de
outras pessoas, mentir e omitir sobre suas origens e história pessoal, apresentar informações inverídicas ou mal esclarecidas em relatórios, e encobrir falhas e limitações pessoais.

Nesse início de século XXI, a verdade tem sido abandonada como a melhor opção para a coletividade, por isso a mentira ocupa tanto espaço. Essa atitude parece estar apoiada no cultivo do egoísmo, que privilegia o prazer e a satisfação pessoal, ainda que resultem em prejuízo para outras pessoas.

Assim, colocar no currículo um curso que não se fez para melhorar as chances de ser contratado é considerado por muitos como uma atitude esperta. O desejo de se dar bem, na mais estrita obediência a “Lei do Gerson” (O importante é levar vantagem em tudo), não vê qualquer constrangimento se para isso é necessário fazer uma falsificação de si mesmo.

Uma variação bastante grave desse tipo de falsificação de si mesmo é a história dos médicos com diploma falso, que se têm tornado cada vez mais presente nos noticiários. Consultas, receitas e cirurgias feitas de maneira irresponsável põem em risco a vida de pessoas que são atraídas pelo valor mais em conta do procedimento.

Outra maneira de falsificar a si mesmo é assumir a autoria de realizações, trabalhos ou feitos nos quais não se participou. Pode ser que alguns compreendam como uma ingênua tentativa de ser reconhecido ou aceito por determinado grupo social, mas é falsificar-se, isto é, atribuir a si mesmo aptidões e qualidades que não são verdadeiras, além de ser crime.

A falsificação de si mesmo também passa pela negação das origens e da história pessoal. A partir de nossa origem, somos uma coleção de acontecimentos do nosso passado. Não há motivos para negarmos aquilo que nos fez ser quem somos; mas, inseguros, muitos falsificam sua trajetória pela vida. Uns a rejeitam por completo e criam uma nova história, outros selecionam os fatos ao
sabor da conveniência e revelam apenas o que lhe parece útil a cada apresentação. Seja um passado seletivo ou um alternativo, não passa de falsificação de si mesmo.

Relatórios são pontos de controle importantes em qualquer empresa. Eles são o retrato de determinada atividade ou departamento e por conseqüência dos seus gestores. Esse é outra circunstância em que muitos falsificam a si mesmos. Um três transforma-se em um oito e o gráfico passa a apontar um desempenho positivo. Uma redação cuidadosamente arranjada esconde os prováveis prejuízos de uma operação. Falsificações de si mesmo.

As entrevistas de emprego são portas abertas que chamam os entrevistados para o mundo das falsificações. Perguntas esperadas. Respostas combinadas.
- Qual o seu maior defeito?
- O meu maior defeito é trabalhar feito um louco e me dedicar de corpo e alma à empresa.

Mentir sobre as próprias falhas e limitações é falsificar a si mesmo. A prática mentirosa das entrevistas segue junto com o entrevistado até à diretoria, se ele chegar lá. O resultado é certo: um batalhão de falsificações sem qualquer possibilidade de aperfeiçoamento.

Grande incoerência: falsificar dinheiro é um crime execrado por toda sociedade; falsificar a si mesmo é atitude aceita com brandura e permissividade. Dois pesos e duas medidas.

Precisamos reconhecer que somos uma nação carente de integridade pessoal, o que torna frágil nosso discurso sobre ética e expõe ao descrédito muitas ações bem intencionadas. Falsificar dinheiro, ou a si mesmo, é dizer não à verdade e adotar como padrão de vida a antítese do conselho bíblico que afirma: tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

O desafio está lançado!

02 abril 2006

Relacionar-se com Deus 3/4

O Desgaste da Palavra Fé

Muitas pessoas tratam a fé com uma espécie de amuleto: todo mundo deve ter o seu. Não importa que tipo de fé seja, o importante é ter fé.

A fé das crendices

É o tipo de fé pra dá sorte. Compra um pé de coelho... Pendura uma fita no braço... Coloca pirâmide de acrílico (ou de vidro) na mesa... Deixa a bíblia aberta no salmo 91... Procura emprego sempre com a mesma camisa (aquela a mãe deu de presente)... Coloca adesivo de versículo da bíblia no carro pra vê se evita as batidas... Guarda uma moeda da sorte dentro da carteira... Pendura um dente de alho na cozinha pra espantar mal olhado e, por via das dúvidas, levanta sempre com o pé direito.

Por mais bem intencionada que seja, quem alimenta a fé dos amuletos e crendices está gastando suas energias e aplicando sua confiança em lendas tolas e infantis que os afastam de Deus.

Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para dar atenção às lendas. Mas você, seja moderado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador do evangelho e cumpra bem o seu dever de servo de Deus. II Timóteo 4:3-5 (NTLH)

A fé em si mesmo

Essa é a fé do “eu posso”. Confia no esforço próprio... Aposta todas as fichas nas habilidades pessoais... Investe no auto desenvolvimento e compra livros de auto ajuda pra se tornar auto-suficiente... Acredita na força interior que todos têm (basta buscá-la dentro de você)... Confia na força do seu sacrifício pessoal e das penitências meritórias... Decide pensar boas coisas sobre si pra garantir que tudo vai dar certo... Acredita no ser humano como o centro da vida... Acha que suas correntes de oração e suas novenas têm poder próprio... Encoraja as pessoas a sentirem-se vitoriosas por si mesmas e confiarem em si mesmas como capazes de dar sentido á própria.

A fé do “eu posso” confia na auto-ajuda, mas esquece a ajuda do alto. A fé em si mesmo é um caminho largo para o orgulho e a presunção.

Depois ele contou esta história a alguns que se orgulhavam das suas boas qualidades e caçoavam de todos os demais: Dois homens foram ao templo orar. Um deles era um fariseu orgulhoso, e o outro um desonesto cobrador de impostos. O orgulho fariseu orava assim: “Eu lhe agradeço, ó Deus, porque não sou um pecador como todos os demais, especialmente como aquele cobrador de impostos ali! Porque eu nunca engano os outros, eu nunca cometo adultério, jejuo duas vezes por semana e dou a Deus um décimo do tudo quanto ganho. Mas o cobrador de impostos ficou em pé de longe e não tinha coragem nem para levantar os olhos ao céu quando orava, porém batia no peito com grande arrependimento, exclamando: “ Ó Deus, tenha misericórdia de mim, um pecador!” Eu lhes digo que este pecador, e não o fariseu, voltou para casa perdoado! Porque os orgulhosos serão humilhados, mas os humildes serão honrados.
Lucas 18:9-14 (Bíblia Viva)

A fé na fé

Essa é fé Esotérica. Não há em quem confiar, só existe a fé; uma energia positiva que emana da terra, do ar, do fogo, da natureza, dos cristais ou das cores. É a fé dos mantras e dos exercícios de respiração. É uma fé que não precisa ser em alguém... É confiar na força da confiança... Fé impessoal, ao gosto de cada um, em benefício de cada um.

A fé esotérica é um fim em si mesmo. Ela não aponta pra ninguém e não confia em ninguém. É a fé de quem já se decepcionou com tudo e com todos e não está mais disposto a confiar.

Hoje são os cristais, amanhã os chacras, depois a iridologia, em seguida qualquer coisa que dê resultado, não importa! O que importa é sentir-se bem. Um caldeirão de poderes e forças espirituais que são manipulados a despeito de Deus. Assim a fé esotérica é usada para evocar “poderes e potestades” em benefício próprio, abrindo um perigoso caminho.

Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Colossenses 1:13-16 (ARA)

Diversos grupos religiosos, travestidos de cristãos, tem pregado um evangelho esotérico, que tenta separa o poder de Deus da pessoa de Deus. Não há como fazer essa separação! O deus da tradição judaico-cristã é pessoal e não oferece poderes mágicos a ninguém. Simão o mágico (Atos 8:9-22).

JESUS E A CONFIANÇA

É tanto o desgaste da palavra fé, e ela tem sido usada pra tantos fins escusos, que talvez devêssemos falar de confiança em vez de fé. Algo ainda não foi corrompido na palavra confiança: é que quando falamos em confiar a pergunta é: “em que?” ou “em quem?” Era assim a perspectiva de Jesus sobre a fé: confiança em alguém, isto é resultado de relacionamento.

Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo. Mateus 8:1-4


Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião, implorando: Senhor, o meu criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo horrivelmente. Jesus lhe disse: Eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz. Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Mateus 8:5-6

Enquanto estas coisas lhes dizia, eis que um chefe, aproximando-se, o adorou e disse: Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe a mão sobre ela, e viverá. E Jesus, levantando-se, o seguia, e também os seus discípulos. E eis que uma mulher, que durante doze anos vinha padecendo de uma hemorragia, veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste; porque dizia consigo mesma: Se eu apenas lhe tocar a veste, ficarei curada. E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. E, desde aquele instante, a mulher ficou sã. Mateus 9:18-22

O que há de comum nessas histórias?

1. São história de pessoas. Para Jesus a fé é pessoal, tem a ver com relacionamentos. Não é uma fé de objetos, de crendices. Pessoas reais, vivendo situações reais e dramáticas: um homem que padecia de lepra, um militar cujo empregado havia falecido e uma mulher que sofria com uma hemorragia a doze anos.

A confiança nasce em meio às dificuldades reais da vida: um filho drogado, uma mãe doente, um irmão desempregado, um marido infiel, o salário apertado, uma chefe injusto, um empregado desonesto. Para aprender a confiar em Deus você vai ter que levar a sua fé para o dia-a-dia da sua vida e fazer como cobrador de impostos da história de Jesus: tem misericórdia de mim, pecador.

2. São histórias de pessoas com atitude. O homem que padecia com lepra, aproximou-se de Jesus; o militar apresentou-se e implorou por ajuda; a mulher enfrentou a multidão pra tocar nas vestes de Jesus.

Para confiar é preciso arriscar. É preciso aproximar-se. Se você estiver longe, se pelo medo da rejeição, da decepção, do comentário dos outros... Se pelo medo do fracasso, pela timidez ou qualquer outra coisa você ficar longe de Jesus, a fé vai ser sempre um plantinha fraca e folhas amarelas. O que você precisa arriscar para chegar perto de Jesus?

Mas se você não vê em si a coragem de arriscar tudo por Jesus, peça ao Pai. Bata no peito e peça humildemente: Senhor, dá-me dessa fé.

3. São histórias de pessoas de atitude que confiaram em Jesus. Tanto o homem que padecia com lepra, quanto o militar cujo empregado havia morrido e a mulher que sofria com uma hemorragia depositaram sua confiança em Jesus.

A fé dessas pessoas não era em crendices e amuletos. Elas também não confiavam em si mesmas para solucionar seus problemas. E tampouco estavam desejosas de manipular poderem mágicos. Todos eles decidiram confiar em Jesus. Um se aproximou de Jesus, o outro se apresentou a Ele e a mulher o alcançou em meio à multidão.

4. Qual é a história da sua fé?

Se a Bíblia fosse narrar a sua história, como seria? Como você tem enfrentado os problemas da sua vida? O que você faz quando as doenças, do corpo e da alma, lhe alcançam? A quem você recorre?

O que você faz quando os seus amados são atingidos pela maldade da vida? Você se maldiz, xinga o governo, amaldiçoa as autoridades e engole sua amargura? A quem você recorre? Em quem você confia? Como a bíblia contaria a sua história? Ou melhor, como você mesmo contaria sua história de confiança em Deus?

Você vai usar esse papel para registrar um resumo da sua história.

• A quem você tem recorrido a Deus em meio às dificuldades? Lembre-se de algumas e escreva;
• Você tem sido capaz de confiar na provisão de Deus para sua família?;
• Você conhece como os recursos da oração e da leitura da bíblia podem lhe ajudar no dia-a-dia?
• Como você tem reagido quando sua família ou seus amigos sofrem injustamente?
• Quais são situações em sua vida lhe mostram o amor de Deus por você?

CONCLUSÃO

Para onde iremos nós?

Certa vez, depois de um duro discurso, muitos dos discípulos de Jesus o abandonaram. Ele então se dirigiu aos doze e disse:

Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus. João 6:67b-69

A maneira de viver que Jesus nos apresentou é a plena a revelação de quem Deus realmente é. O apóstolo Pedro entendeu bem, não há outro lugar onde se possa encontrar as palavras de vida eterna. Apenas em Jesus.

Por isso, conhecer a Jesus é conhecer a Deus; relacionar-se com Cristo é relacionar-se com Deus. Quando nos chegamos a Cristo e confiamos nele durante as lutas da vida, nossa fé em Deus é exercitada.

Uma oportunidade

Se você hoje decidiu em seu coração, confiar em Jesus como seu único e suficiente salvador, se daqui pra frente você quer viver um vida de submissão a Deus e arriscar tudo para se tornar amigo de Deus, confiado no sacrifício de Jesus, levante uma de suas mãos. Com isso você vai dizer a principados e potestades: Eu aceito a Jesus, o filho de Deus, como meu Senhor e Salvador.