31 julho 2021

Amar a Deus


AMAR A DEUS

Hoje gostaria de conduzi-lo numa breve reflexão sobre a natureza do nosso amor por Deus.
Pense por instante e tente listar mentalmente as pessoas a quem você tem devotado o seu amor. Quem você considera que ama profundamente? Seu esposo ou esposa, seus filhos, sua mãe, seu pai, um amigo ou amiga de infância?
O que é que leva a gente a amar de verdade alguém? Não é uma pergunta fácil , eu sei, mas respondê-la é muito importante.
É possível ser cordial com qualquer pessoa, também é possível ser caridoso com alguém que não conhecemos. Somos capazes de nos compadecer por alguém apenas porque ouvimos suas histórias em um documentário. E até uma paixão pode ser alimentada à distância.
Mas não há como negar que o amor profundo e verdadeiro encontra oportunidade de nascer e florescer quando interagimos, isto é, no calor dos relacionamentos. O amor precisa de convivência para nascer e se desenvolver.
Não que a convivência em si seja suficiente, mas que é necessária e imprescindível. Só é possível experimentar as várias dimensões do amor quando se convive. São aqueles que experimentam a vida ao nosso lado que correm o risco de serem amados.
A Bíblia diz que Deus é amor. Sua onipresença permite que tudo que existe seja alcançado por seu amor. Na verdade, em Deus o amor simplesmente existe. Já fora de Deus o amor precisa de motivos para existir, porque amar não é um sentimento sem razão.
O amor com qual conseguimos amar é como uma plantinha que precisa de terra para se desenvolver e fixar suas raízes. Esse terra onde o amor se desenvolve são os relacionamentos. Essa dinâmica e verdadeira tanto para amor entre nós como para o amor a Deus.
Em poucas palavras: Deus nos ama por sua própria natureza; mas nós precisamos de motivos para amá-lo. Essas razões crescem no chão do nosso relacionamento com ele.

A VIDA DE DAVI

Para mim, um dos personagens bíblicos mais intrigantes e humanos é Davi. Ele foi chamado de “Um homem segundo o coração de Deus”. Caçula de uma grande família, Davi tinha tudo para se tornar mimado e cheio de vontades, mas foi acostumado ao trabalho duro de pastorear ovelhas. Isso o ajudou a desenvolver a bravura e a coragem
Davi também era criativo. Inventava instrumentos musicais, escrevia poesias e compunha músicas. Quando Saul, o Rei de Israel, ficava triste, mandava chamar Davi para tocar música, porque a música de Davi acalmava seu espírito.
Davi lutou contra inimigos mais poderosos do que ele. Numa das histórias mais conhecidas das Escrituras, ele enfrentou em um duelo mano-a-mano um soldado filisteu gigante que fazia pouco caso de exército de Israel.
Davi também viveu dias difíceis. Ele foi perseguido injustamente e jurado de morte pelo Rei Saul. Ele se escondeu em cavernas, fez acordos e alianças para garantir a própria vida e nas batalhas que travou, matou muitas pessoas.
Davi tornou-se um grande general de guerra, conquistou muitas terras, venceu batalhas. Ele formou uma família, aliás uma família com muitos problemas.
Em um dos seus grandes tropeços, Davi traiu um de seus soldados mais fiéis, para lhe tomar a esposa. Por outro lado foi traído por seu próprio filho, que o perseguiu e expulsou de Jerusalém depois de ter trabalhado politicamente contra a liderança do Pai.
Davi viveu sua vida integralmente. Deus estava com ele. Mas Ele também estava com Deus. Muitos dos salmos de Davi foram escritos no meio dessa vida turbulenta e cheia de emoções: uma vida de verdade, não uma nova ou uma série no Netflix.
Foi andando com Deus no meio de uma vida de verdade que Davi aprendeu a amar ao Senhor. Não foi pelos livros, ou pela boca de outra pessoa, mas experimentando ele mesmo. O salmo 116 fala um pouco desse amor que nasce do andar com Deus.
Salmo 116.1–9 NVI
1 Eu amo o Senhor, porque ele me ouviu quando lhe fiz a minha súplica. 2 Ele inclinou os seus ouvidos para mim; eu o invocarei toda a minha vida. 3 As cordas da morte me envolveram, as angústias do Sheol vieram sobre mim; aflição e tristeza me dominaram. 4 Então clamei pelo nome do Senhor: Livra-me, Senhor! 5 O Senhor é misericordioso e justo; o nosso Deus é compassivo. 6 O Senhor protege os simples; quando eu já estava sem forças, ele me salvou. 7 Retorne ao seu descanso, ó minha alma, porque o Senhor tem sido bom para você! 8 Pois tu me livraste da morte, e livraste os meus olhos das lágrimas e os meus pés, de tropeçar, 9 para que eu pudesse andar diante do Senhor na terra dos viventes.
O que levava Davi amar o Senhor? Quais eram suas razões. Ele não era diferente de nós. Um homem comum. Ele olha para os dias conturbados e para as incertezas do futuro e nos conta neste salmo um pouco da sua vida com o Senhor. Nessa linda declaração de amor, o rei salmista apresenta as razões pelas quais ele ama o Senhor.
Para nossa reflexão hoje, vamos essas razões em duas grandes verdades a respeito de Deus, que o salmista descobriu a aceitar o desafio de Deus para eles andarem juntos:
(1) Deus ouve e
(2) Deus socorre

ELE OUVE

Salmo 116.1–2 NVI
1 Eu amo o Senhor, porque ele me ouviu quando lhe fiz a minha súplica. 2 Ele inclinou os seus ouvidos para mim; eu o invocarei toda a minha vida.
Um dos motivos pelos quais Davi afirma amar ao Senhor é porque suas orações eram ouvidas. Animado, com essa convicção pulsando em sua mente, o salmista diz que essa conversa dele com Deus ia ser para a vida toda.
Inúmeras vezes Davi clamou ao Senhor pedindo orientação sobre o que ele deveria fazer. Deveria entrar numa batalha? Deveria perseguir um inimigo? Deveria ficar numa cidade? No seu dia a dia Davi buscava a orientação de Deus, que sempre respondia sua orações.
2Samuel 5.23 NVI
23 então Davi consultou o Senhor de novo, que lhe respondeu: “Não ataque pela frente, mas dê a volta por trás deles e ataque-os em frente das amoreiras.
2Samuel 15.31 NVI
31 Quando informaram a Davi que Aitofel era um dos conspiradores que apoiavam Absalão, Davi orou: “Ó Senhor, transforma em loucura os conselhos de Aitofel”.
Davi também pediu por livramento. Assim como nós ele enfrentava dificuldades, por isso muitos de seus salmos eram orações pedindo por socorro da parte de Deus.
Salmo 61.2 NVI
2 Desde os confins da terra eu clamo a ti, com o coração abatido; põe-me a salvo na rocha mais alta do que eu.
Salmo 57.2 NVI
2 Clamo ao Deus Altíssimo, a Deus, que para comigo cumpre o seu propósito.

NÃO É UMA TROCA

Mas é preciso presta atenção em um detalhe. Essa relação não é uma troca. Da parte de Deus é um amor gracioso; da parte de Davi é uma resposta.
É muito importante a gente entender que Davi não está propondo uma troca, ele não está dizendo que se o Senhor ouvir a oração dele então ele vai amá-lo, mas que ele ama o Senhor porque sua oração foi ouvida por Deus. O Salmista está respondendo ao amor de Deus, reconhecendo no modo de Deus agir os motivos do seu amor por ele. É exatamente o mesmo entendimento que o apóstolo João teve séculos depois quando afirmou:
1João 4.19 NVI
19 Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
Então, o amor de Davi pelo Senhor não era tradição familiar, nem superstição impessoal ou mesmo um sentimento infantil, mas uma convicção com base em fatos da vida. Davi amava o Senhor porque fora alcançado pelo amor de Deus. Foi o Senhor que tomou a iniciativa de ouvir, responder e amar o jovens pastor de ovelhas. E a cada vez que Davi buscava o Senhor em oração, e recebia uma resposta sobre as questões que o incomodavam no seu dia a dia, a confiança dele em Deus se fortalecia e o amor dele pelo Senhor se tornava mais profundo.
Existe uma paráfrase em inglês deste primeiro verso do salmo 116, que pode nos ajudar a perceber a dinâmica do que estava acontecendo na vida do salmista.
“Eu dei meu amor ao Senhor, porque ele deu ouvidos à voz do meu clamor e da minha oração.” Sl 116.1
O evangelho de Cristo tem essa mesma natureza: vendo nosso estado de completa perdição, o Senhor tomou a iniciativa. Ele fez uma oferta de amor por nós. A morte de Jesus na cruz é essa oferta. Ela tem o poder de nos salvar de nós mesmos ao abrir um novo caminho para vivermos a vida de confiança em Deus. Além disso, Ele nos deu o Espírito Santo, que age em nós, nos ajuda a orar, intercede por nós e é a garantia de que Deus está comprometido com a gente até o final.
O desafio é fazer como Davi e tornar nossos dias num maravilhoso experimento de diálogo de confiança no Senhor! Que tal você começar a perguntar o que Ele acha das coisas? Que tal você começar a colocar em pratos limpos diante dele, angústias, medos, inquietações, dúvidas e frustrações? É assim que o amor se fortalece!

BOA, PERFEITA E AGRADÁVEL

Ainda falando dessa maravilhosa declaração de amor “amo ao Senhor porque ele me ouviu quando lhe fiz a minha súplica”, é importante lembrar que embora o Senhor sempre ouvisse e respondesse às orações de Davi, nem sempre elas foram atendidas como ele gostaria.
Não é muito difícil de entender isso. Sempre que Davi orava ao Senhor e pedia sua orientação e buscava o conselho de Deus para viver a vida, ele recebi uma resposta. Deus nunca o deixou desamparado. Mas nem sempre as orações de Davi foram atendidas. A questão é que às vezes essas orações não eram para saber a vontade de Deus, mas para expressar um desejo de Davi.
Por exemplo, Davi, o rei de Israel, clamou a Deus que livrasse seu filho da morte, mas não foi atendido. Vejamos o relato bíblico:
2Samuel 12.16–17 NVI
16 E Davi implorou a Deus em favor da criança. Ele jejuou e, entrando em casa, passou a noite deitado no chão. 17 Os oficiais do palácio tentaram fazê-lo levantar-se do chão, mas ele não quis, e recusou comer.
A oração de Davi não foi atendida. A criança não resistiu. Como um pai, Davi não orou em busca da vontade de Deus sobre a vida daquela criança, mas simplesmente implorou ao Senhor que salvasse a criança. Mas não foi atendido naquilo que queria.
O Senhor sempre vai responder nossas orações, mas ele não está obrigado a fazer aquilo que pedimos. Ele nos dá o direito de levarmos tudo diante dele em oração e nos encoraja a fazer isso. Alguma vezes nossos desejo coincidem com os planos de Deus, mas nem sempre.
Quando estamos tomados pela dor de uma perda ou de uma frustração é difícil ver a coisas com clareza. Mas se aquilo que tanto queremos não se realiza, isso não muda nada do amor de Deus por nós, na verdade ao realizar a sua vontade que é boa, perfeita e agradável, ele demonstra de uma forma ainda mais profunda o seu amor por nós.
Durante esse dias terríveis de pandemia temos pedido a Deus por muitas pessoas. Cada oração oração que fizemos foi ouvida e respondida. Nem sempre foi aquilo que queríamos, mas devemos continuar confiando que a vontade do Senhor é sempre melhor que a nossa.
Não estou isentando os responsáveis pela tragédia que estamos vivendo. Eles devem responder diante dos tribunais pelos crimes que cometeram, e sobretudo irão responder diante de Deus pelas vidas que foram ceifadas.
Estou dizendo que quando somos alcançado por perdas irreparáveis e dores que não cabem em nós, o único caminho que pode restaurar nossa sanidade é a confiança de que o amor de Deus é realmente verdadeiro, e que sua vontade é completamente boa, perfeita e agradável, mesmo quando as emoções parecem dizer o contrário.
Vejamos o desfecho da história sobre o filho de Davi.
2Samuel 12.18–23 NTLH
18 Uma semana depois, a criança morreu, e os funcionários ficaram com medo de dar a notícia a Davi. Eles disseram: — Enquanto a criança estava viva, Davi não respondia quando falávamos com ele. Como vamos dizer a ele que a criança morreu? Ele poderá fazer alguma loucura! 19 Quando Davi viu os oficiais cochichando uns com os outros, compreendeu que a criança havia morrido. Então perguntou: — A criança morreu? — Morreu! — responderam eles. 20 Então Davi se levantou do chão, tomou um banho, penteou os cabelos e trocou de roupa. Depois foi à casa de Deus, o Senhor, e o adorou. Quando voltou ao palácio, pediu comida e comeu logo o que lhe foi servido. 21 Aí os seus oficiais disseram: — Nós não entendemos isto. Enquanto o menino estava vivo, o senhor chorou por ele e não comeu; mas, logo que ele morreu, o senhor se levantou e comeu! 22 — Sim! — respondeu Davi. — Enquanto o menino estava vivo, eu jejuei e chorei porque o Senhor poderia ter pena de mim e não deixar que ele morresse. 23 Mas agora que está morto, por que jejuar? Será que eu poderia fazê-lo viver novamente? Um dia eu irei para o lugar onde ele está, porém ele nunca voltará para mim.
Davi sofreu intensamente a dor de ver seu filho doente. Ele pediu a Deus pela vida do menino, mas seu filho morreu. Davi, então, se recompõe de uma semana de pranto e transforma a sua dor em adoração a Deus.
Veja que os oficiais de Davi ficaram sem entender aquela reação, porque eram comum que o luto durasse semanas, e indagaram Davi. O rei se explicou com certo fatalismo, pode-se pensar. Mas o fato é que Davi sabia tudo pertencia ao Senhor, inclusive sua vida e a de seu filho.
A reação de Davi não é uma uma regra a ser seguida, porque cada um de nós tem seu próprio tempo para lidar com o luto e a perda, mas há nela um caminho para lidarmos essas situações:
Viver a dor confiando no Senhor;
Viver a vida confiando no Senhor.
Esse é o desafio que temos diante de nós: aprofundar nossa confiança em Deus em todas as circunstâncias de nossas vidas. O próprio Senhor Jesus que viveu e ensinou isso:
Conversando com seus discípulos sobre como orar ele disse falou assim:
Mateus 6.10 (NVI)
10 Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.
Outra vez, no jardim chamado Getsêmani, angustiado pela proximidade do sofrimento que o aguardava, ele orou assim:
Marcos 14.36 (NVI)
36 E dizia: “Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”.
Boa, perfeita e agradável. Assim é a vontade de Deus. É o que ele tem preparado para nós. É o que precisamos para viver os dias aqui sem perder a sanidade.

ELE SOCORRE

Até agora pensamos juntos sobre a primeira razão pela qual Davi declara o seu amor pelo Senhor: ELE OUVE. Agora vamos ver a segunda razão: ELE SOCORRE. Davi amava o Senhor porque nos momentos difíceis ele podia contar com sua presença restauradora. A verdade é que Davi experimentou o cuidado de Deus em situações reais e bem diferentes, por isso seus salmos afirmam o tempo todo, e de diversas maneiras, “Ele é o nosso socorro!”.
Há pessoas que foram ensinadas a se relacionar com Deus de forma compartimentada. Elas limitam Deus a uma parte da sua vida, que chamam de vida religiosa, na qual realizam certas obrigações religiosas quase sempre chatas e participam de rituais e cerimônias (cultos, missas, etc). Mas todas as outras dimensões de suas vidas são experimentadas sem a presença de Deus. Esse modo de viver dificulta imensamente que o socorro de Deus chegue às necessidades da vida real.
Mas, há uma outra forma de viver a vida em que a nossa relação com Deus está presente em todas dimensões da nossa existência. Deixamos de ter uma vida religiosa separada e permitimos que a presença de Deus encha todos os compartimentos da nossa existência. Por isso, quem decide convidar o Senhor para andar com ele, pode experimentar o amor de Deus de maneiras novas e diferentes.
Vamos ler juntos os versos 3 e 4 do salmo 116 e aprender com Davi sobre o Deus que nos socorre em qualquer situação que experimentarmos na vida.
Salmo 116.3-4 NBV
3 A morte me olhou de frente e quase me levou no seu laço; fiquei completamente dominado pelo medo do Sheol, e o desespero e a tristeza me dominaram.
4 Então, clamei pelo nome do SENHOR: “Ó SENHOR, salve a minha vida!”
Nos versos 3 e 4 o Salmista fala de vida real e intensa. Fala de morte, medo, desespero e tristeza. Mas fala também do livramento do Senhor que alcança todo aquele clama pelo seu nome:

ELE NOS LIVRA DA MORTE

Há muitas situações em que a morte se apresenta diante de nós. Algumas são situações reais outras são sensações de morte que assediam nossas almas
Eu e Marina já sentimos a morte bem próxima de nós. Certa vez fomos vítimas de um sequestro relâmpago e ficamos por mais quase duas horas com armas apontadas para nós, servindo de motorista para tentativas de assalto.
Com dois adolescentes transtornados e armados, sentido o cano da arma pressionando minhas costas, eu vi o quanto a vida é feito fumaça, que uma está ali mas logo em seguida já se foi.
Várias vezes dentro daquele carro eu me lembrei dos meus filhos, da família, dos amigos, da igreja… e entreguei nossas vidas nas mãos de Deus. Clamei por livramento e o Senhor nos livrou.
Davi disse que a morte o olhou de frente e quase o levou. E os registros históricos confirmam essa sua fala. Sabe o que ele fez?
4 Então, clamei pelo nome do SENHOR: “Ó SENHOR, salve a minha vida!”
Outras vezes somos invadidos por uma sensação de morte que não parecer ter explicação e isso atormenta a alma.
Pessoas queridas que lutam com Síndrome de Pânico falam de taquicardia, sudorese, ansiedade e um medo sem explicação de coisas simples como abrir uma porta ou sair na rua. Ela também sente a morte rondando suas vidas.
Como podemos lidar com isso? O ponto de partida é acreditar que a morte não é fim da vida e confiar que ela já foi vencida por Cristo Jesus.
1Coríntios 15.52 NVI
52 num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados.
Seja porque a morte está nos rondando ou porque é assim que estamos nos sentindo, podemos fazer com Davi e clamar ao Senhor pedindo que nos salve.
Mas, ainda que nossas vidas corram risco, ainda que a violência nos ameace, ainda que a vida pareça frágil neste mundo de morte, podemos descansar na certeza de que tudo isso são apenas bravatas. A morte já foi vencida na cruz e o que nos espera depois desta vida, a todos que nos rendemos a Jesus, é uma eternidade com Deus, o que é incomparavelmente melhor do que tudo que existe aqui.

ELE NOS LIVRA DO MEDO

Davi, general de exércitos e grande guerreiro, disse que ficou completamente tomado pelo medo. Então acho que eu e você não devemos ficar decepcionados ou com vergonha se a mesma coisa acontecer com a gente
O medo faz parte da vida, mas não devemos permitir que ele assuma o controle das nossas vidas. Sofra ou não com Síndrome do Pânico, certamente você já viveu momentos de muito medo em sua vida. Quando esses momentos chegarem, você pode fazer como fez Davi
4 Então, clamei pelo nome do SENHOR: “Ó SENHOR, salve a minha vida!”
Quem esta vivo uma hora ou outra sente medo, mas se você permitir que Cristo ande ao seu lado você vai poder pedir: Ó Senhor, salva a minha vida.
O único antídoto eficaz contra o medo é o amor. Quando somos alcançados pelo amor, o medo não subsiste. Quando você chama Cristo para fazer parte de sua vida, o amor de Deus tem o poder de lançar fora o medo de nossas almas, à medida que vamos aprendendo a confiar nele.
1João 4.16–18 NVI
16 Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. 17 Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele. 18 No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.
Davi experimentou o amor de Deus diante do medo, e nós também podemos experimentar; se o convidarmos para participar de nossa vida.

ELE NOS LIVRA DO DESESPERO

Desespero é a ausência de esperança. Davi o grande guerreiro, disse que passou por momentos em que já não via esperança para a sua vida.
Eu já fui tomado pelo desespero algumas vezes. Lembro de quando nós tínhamos um negócio no qual investimos nossas economias e até uma parte de nosso pequeno patrimônio. Eu achava que aquele negócio prosperaria e que através de dele muitas coisas boas iam acontecer.
Mas deu tudo errado! O negócio não deu certo, perdemos nosso imóvel, ficamos atolados em dívidas e com nosso nome sujo na praça. Além, é claro da terrível sensação de fracasso. Muitas vezes o desespero bateu à minha porta e quis entrar. Até que ele parou de bater e já entrava sem pedir licença, como quem tem o direito de sentar no sofá da sala. Dias difíceis em que clamamos “Ó Senhor, salva-nos!”
Talvez você esteja passando por algo assim: uma terrível vontade de desistir de tudo, porque já não vê esperança para os problemas e aflições de sua vida.
Se Davi se sentiu desesperado, qualquer um de nós pode sentir-se assim também. Quem está vivo às vezes fica desesperado, mas se você permitir que Cristo ande ao seu lado então você vai poder fazer como Davi e pedir: Ó Senhor, salva a minha vida.
Aqueles que se renderam ao Senhor sabem muito bem que nada pode nos devolver a esperança para este mundo e para a eternidade, a não ser o amor de Deus por nós, demonstrado pela morte de Cristo na cruz.
Na abertura de sua carta ao jovem pastor, Timóteo, o apóstolo Paulo se expressa assim:
1Timóteo 1.1 NVI
1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, a nossa esperança,
Davi experimentou o amor de Deus diante do desespero, e nós também podemos experimentar.

ELE NOS LIVRA DA TRISTEZA

A tristeza muitas vezes é resultado da frustração. Esperamos que a vida aconteça de determinada maneira e quando nossos desejos são frustrado, ficamos tristes.
Davi disse que a tristeza o pegou. É como se fosse uma armadilha. Esperamos que as coisas da vida aconteçam certinhas: o trabalho, a escola, a faculdade, o salário, a sogra, o negócio, o filho, a namorada... mas não temos controle sobre a vida. Então ficamos frustrados e a tristeza nos pega.
Como podemos fugir da armadilha da tristeza? Davi dá a dica:
4 Então, clamei pelo nome do SENHOR: “Ó SENHOR, salve a minha vida!”
Quem está vivo passa por tristezas. Não existe isso de que crente não se entristece. O que é verdade é que podemos contar com o Senhor quando a tristeza se abater sobre nós. Podemos gritar e pedir a ajuda do Senhor.
Salmo 43.4 NVI
4 Então irei ao altar de Deus, a Deus, a fonte da minha plena alegria. Com a harpa te louvarei, ó Deus, meu Deus!
Reconheça sua tristeza, identifique as frustrações do seu coração e volte ao altar de Deus para colocar tudo diante dele. Chore o que você precisa chorar, lamente os lamentos do seu coração e faça do Senhor sua grande alegria.
Confie que a vontade dele e os planos dele para você são o que de melhor lhe pode acontecer e entregue a Ele suas frustrações.
Davi experimentou o amor de Deus diante da tristeza, e nós também podemos experimentar.

AMAR A DEUS

Davi encontrou motivos para amar a Deus, porque o Senhor fazia parte da vida Dele. Por experiência própria ele descobriu que Deus OUVE as nossas orações e nos SOCORRE.
Ele aprendeu que o Senhor está sempre disponível para ouvir nossas orações e que ele sempre responde quem clama a ele. Nem sempre ele responde como queremos, mas sua vontade é boa perfeita e agradável, mesmo quando nossos sentimentos dizem o contrário.
Ele experimentou o amor de Deus diante da morte, do medo, do desespero e da tristeza. Ao sentir-se amado por Deus, ele declarou o seu amor pelo Senhor. Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro.
Ao se relacionar com Deus no seu dia a dia, Davi, o músico, o compositor, o criador de instrumentos, o conquistador de cidades, o general de exércitos, o pai, esposo e filho, encontrou motivos para amar o Senhor.
Se você fizer do Senhor o seu companheiro de viagem, de pescaria, de trabalho, de estudo, de caminhada, de pesquisa, de plantão, de compras, de home office e de lazer, então você também vai encontrar o motivos para encher seus lábios de adoração e reconhecimento por causa do grande amor que Deus tem por você.

17 setembro 2018

Aceitem-se uns aos outros


Aceitem-se uns aos outros

Domingo passado vimos que somos chamados a preservar a unidade produzida pelo Espírito Santo, quando nos fez parte da igreja: fomos incluídos na família de Deus e feitos membros do corpo de Cristo. A ligação que há entre nós foi estabelecida pelo próprio Deus, que nos convoca para preservar aquilo que ele fez.

Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rm 15.7

O mandamento recíproco da semana é: Aceitem-se uns aos outros. Paulo explica que a compreensão da unidade que existe entre nós (versos 5 e 6) deve nos levar a aceitar uns aos outros. Mas qual a abrangência desse aceitar?

Se o texto terminasse aí estaríamos expostos a todo tipo de interpretação sobre o significado dessa aceitação e a igreja seria uma espécie de vale tudo, porque cada um teria sua própria opinião a respeito de aceitar o irmão.

Mas o Espírito de Deus conduziu a apóstolo Paulo a dizer que a aceitação que devemos ter de uns para como os outros precisa ser igual à que Jesus teve por nós. E como Cristo nos aceitou?

Cristo nos aceitou como seus discípulos sem pré-requisitos morais, comportamentais, filosóficos ou de qualquer outra natureza. Não é que Deus deixou de se importar com o jeito que vivemos e pensamos. Ele deseja tratar desses assuntos conosco, mas não pré-requisito para o seu amor.

Nós estávamos espiritualmente mortos, existencialmente perdidos e sem esperança. Ainda assim fomos alcançados pela graça de Deus.

Não faz muito tempo, vocês estavam atolados naquela velha vida podre de pecado. Haviam permitido que o mundo, que não sabe nada a respeito da vida, dissesse a vocês como viver. Enchiam os pulmões com a fumaça da incredulidade e exalavam desobediência. Todos nós já nos comportamos assim, fazendo o que queríamos, a nossa própria vontade; estávamos todos no mesmo barco. Graças a Deus, ele não perdeu a paciência nem nos exterminou. Em vez disso, com sua imensa misericórdia e seu amor extravagante, ele nos abraçou. Tirou-nos da nossa vida presa pelo pecado e nos fez vivos em Cristo. Fez tudo isso por conta própria, sem qualquer ajuda da nossa parte! Ele nos tomou para si e nos concedeu um lugar nos altos céus, na companhia de Jesus, o Messias. Não é demais? Ef 2.1-6 (AM)

Jesus nos acolheu por amor. Mas não se trata de algo que a gente faz para provocar o amor dele. O interesse dele por nós veio primeiro, tanto que as Escrituras dizem que ele nos amou primeiro.

É dessa mesma forma que somos convidados a nos aceitar uns aos outros, com base no amor gracioso de Deus semeado em nossos corações. Mas como saber se estamos aceitando uns ao outros?

MARCAS DA ACEITAÇÃO

Uma das marcas da aceitação mútua é deixar de lado o julgamento e o desprezo em questões que não foram mencionadas por Deus como pecado. Essas questões estão fora de nossa alçada e serão tratada por Deus.

Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.

Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz.

Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus... Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Rm 14.1-9

Nas questões, ainda que controversas, que não tratam de pecado... questões de usos, costumes e tradições... devemos deixar de lado julgamentos e acusações. A orientação de Paulo é para que os dois lados da discussão sejam sábios nisso e não transformem questões menores em cavalos de batalha dentro da igreja. O evangelho de Jesus não é para sobrecarregar. O jugo dele é suave o seu fardo é leve.

Não é necessário, nesses casos, que um lado esteja certo e o outro esteja errado, mas é necessário que nossas atitudes estejam apoiadas em convicções fundamentadas e que nossa maneira de lidar uns com os outros sirva de razão para exaltar o Senhor.

***
Outra marca da aceitação é não fazer acepção de pessoas, isto é, não fazer diferença no tratamento com as pessoas com base em nossas preferências pessoais corrompidas pelo pecado.

Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: “Aqui está um lugar apropriado para o senhor”, mas disserem ao pobre: “Você, fique em pé ali”, ou: “Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés”, não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados? Tg 2.1-4

Escolher a quem tratar bem não é algo que Jesus ensinou. Escolher com quem ser educado não tem amparo no evangelho. Escolher a quem dar atenção é discriminar. Privilegiar é jogar pela janela a graça de Deus. Decidir a quem amar é negar a natureza do amor de Deus.

O evangelho nos convocar a tratar todos bem, a ser educado e cortês com todos, a dar atenção a todos, a ser justo nas oportunidades e amar cada pessoa que passa em nosso caminho.

Então, quando você rejeitar as razões pessoais e culturais que movem o jeito de pensar deste mundo e adotar o amor gracioso de Jesus nos seus relacionamentos, você estará praticando o “aceitem-se uns aos outros”.

***
CONCLUSÃO

Temos muitas heranças maravilhosas dos reformadores, mas penso que uma delas é uma certa tendência ao sectarismo. Com isso quero dizer que temos uma inclinação ao rompimento e também dificuldade para conviver com pensamentos diferentes.

Quando pensamos em uma igreja que aposta na importância do relacionamento com Deus e com as pessoas como estratégia para experimentar o evangelho de Jesus precisamos desenvolver a tolerância em relação a questões menos importantes para que os relacionamentos entre nós tenham tempo para amadurecer.

Claro que isso não significa transigir com o pecado ou fazer vistas grossas a valores e crenças que entram em choque com o evangelho. Para essas situações existem outros mandamentos recíprocos.

Ao decidimos aceitar uns ao outros da mesma forma como Cristo nos aceitou... estamos reconhecendo que não temos autorização de Deus para normatizar a vida uns dos outros além daquilo que a Escritura já preceitua, e isso promove a saúde da igreja.

Quando nos aceitamos uns aos outros da maneira que Cristo nos aceitou... as mudanças de vida operadas na vida do meu irmão são claramente reconhecidas como uma obra de Deus e não resultado de abuso de autoridade e coerção, e isso é dar a Cristo a glória devida ao seu nome.

Se queremos preservar a unidade do Espírito, um bom caminho, sem dúvida, é sermos diligentes em nos acolhermos uns aos outros, assim como Cristo nos acolheu: por amor.

* Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).

Admoestando uns aos outros



Admoestando uns aos outros

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Rm 15.14

A palavra não faz parte do nosso vocabulário do dia-a-dia, mas você certamente já ouviu algumas vezes em pregações e palestras, ou leu em algum texto. Admoestar é a tradução da palavra grega νουθετεω noutheteo
  
As várias traduções usam outros termos para a palavra Noutheteo neste verso, tais como... Aconselhar (NVI, NTLH), Corrigir (PAST), Ensinar (VIVA, VFL) e Orientar (KJA, AM). Além disso essa mesma palavra é traduzida em outras passagens do NT como Instruir e Advertir.

Parece, então, que tudo isso faz parte da vida da igreja. Isto é, viver igreja é nos envolvermos uns com os outros a ponto de ser possível ensinar, orientar, advertir, aconselhar e corrigir, bem como ser ensinado, orientado, advertido, aconselhado e corrigido.

Essa palavra de Paulo aos irmãos da cidade Roma, nos faz compreender que admoestar não é uma função exclusiva dos pastores ou dos líderes de uma igreja. De alguma forma, todos nós fazemos parte dessa ação de Deus.

Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.

Admoestar é o contraponto que equilibra o aceitar. Porque pode parecer, quando a gente fala em aceitar o irmão, que alguém entenda que estamos obrigados a nos calar diante do comportamento pecaminoso de alguém. Mas aceitar como Cristo aceitou e acolher a pessoa em amor sem abrir mão de ensinar, orientar advertir e corrigir quando necessário.

Duas condições são apresentadas pelo Apóstolo Paulo para alguém cumprir bem a função de admoestar o seu irmão:

Possuídos de bondade

A primeira condição é estar possuído de bondade. John Murray diz que a palavra grega agathosunes, “bondade”, se refere à virtude oposta a tudo quanto é vil e maligno; também inclui retidão, gentileza e beneficência de coração e vida.

Isso quer dizer que para ajudar nossos irmãos é preciso que estejamos tomados de sentimentos, pensamentos e intensões de bondade de uns para com os outros. Desejar o bem do outro e agir nesta direção é pré-requisito para ser útil ao orientar, advertir ou corrigir alguém.

Hernandes Lopes, esclarece que na prática a bondade tem a ver também com a disposição de investir tempo e energia para socorrer as outras pessoas em suas necessidades. Bem como a disposição de tratar bem aqueles cujas virtudes não os recomendam.

Isso quer dizer que é necessário dispor de tempo para ensinar aconselhar ou advertir alguém. Não é coisa que se faz rapidinho. Também é preciso uma disposição para ser gentil cordial e cheio de graça, sobretudo quando a pessoa resiste à Palavra de Deus e age de forma insensata e irresponsável.

Outro aspecto desse “possuídos de bondade” é que para admoestar alguém é preciso que nossa caminhada com Jesus, nosso crescimento em fé e confiança no Senhor sejam uma realidade. Não é preciso ser perfeito, mas é preciso que haja algum amadurecimento em nós quando pretendemos ajudar nosso irmão.

Cheios de todo conhecimento

A segunda condição é que sejam cheios de todo conhecimento, isto é, é preciso que haja compreensão da fé cristã, sendo necessário também a capacidade de fazer compreensível as bases dessa fé para outra pessoa. Ao pé da letra, a palavra Noutheteo, traduzida por admoestar, significa “por na mente” do outro.

Assim, faz sentido a afirmação do comentarista “O pastoreio mútuo depende não só de bondade, mas também de conhecimento”. Hernandes Lopes afirma que o conheci­mento governa a bondade. A bondade enche o cora­ção de amor, o conhecimento enche a mente de luz.

Portanto, antes de aconselhar alguém é preciso saber o que as Escrituras ensinam a respeito do assunto. E isso não é apenas para problemas grandes e complexos, mesmo os pequenos conselhos que damos no dia-a-dia precisam encontrar suporte na Palavra de Deus.

A admoestação à qual somos chamados como membros do Corpo de Cristo não é dizer nossa opinião sobre uma certa questão. Não se trata também de realizar uma sessão de terapia ou de se tornar uma espécie de Coach, mas de apresentar uma verdade bíblica, claramente discernível, experimentada, e que possa servir de guia para seu irmão seguir a Jesus bem de perto.

Algumas orientações bíblicas

Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. At 20. 25-31

A admoestação deve ser fruto de profundo compromisso de amor: “com lágrimas” – se você não estiver comprometido com seu irmão de maneira que seu coração chore por ele, sua admoestação poderá assumir contornos de descaso.

A admoestação dever ser persistente: “noite e dia” – ensinar, corrigir, advertir e instruir não é coisa que deva ser feita apenas nos momentos de crise. Nos somos chamados por Deus a nos aconselharmos mutuamente de forma contínua e perseverante.

Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória. 1 Ts 2.11,12

A admoestação dever ser preferencialmente pessoal: “cada um” – A pregação ou a oração pública não devem ser usadas como exortação genérica, se o desejo é orientar ou alertar uma pessoa. É muito melhor chamar o irmão em particular e dizer o que precisa ser dito, e evitar as orações relatórios que muitas vezes expõem a vida dos irmãos sem ajudar em nada.

Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. 1 Co 4.14

A admoestação dever surgir de razões puras: “não estou tentando envergonhá-los” – Se percebermos qualquer motivação que não seja para o bem da pessoa que estamos aconselhando, devemos imediatamente interromper esse aconselhamento. Se houver sentimentos de vingança, auto-afirmação, orgulho, desejo de humilhar ou qualquer outro sentimento incompatível com a cruz de Cristo, nem comece a ajudar.

Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. Cl 3.16

A admoestação dever ser o resultado natural de uma igreja que está crescendo em maturidade – “instruí-vos e aconselhai-vos” -

Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.

Conclusão

Quando nos colocamos à disposição para viver este admoestai-vos uns aos outros, estamos dizendo que nossas vidas estão abertas para os reparos que Deus deseja fazer. Falamos sempre sobre ser aperfeiçoados, mas às vezes esquecemos que esse aperfeiçoamento não é uma mágica, mas um caminho árduo de se deixar polir através da convivência com nossos irmãos.

Se somos uma igreja que pretende conviver mais de perto... experimentar mais que o culto de domingo... fazer parte da vida uns dos outros... precisamos aprender a usar a Palavra para orientar nossos irmãos em suas lutas contra o pecado, enquanto choramos juntos uns pelos outros; por outro precisamos aprender a abrir mão dos melindres e não-me-toques, permitindo que o Espírito de Deus use nossos irmão para nos corrigir e advertir.

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Rm 15.14

Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).