Uma das dificuldades que cercam aqueles que buscam tornar-se próximo das pessoas é o risco de que a aproximação com os outros se transforme em decepção acompanhada de tristeza e desânimo. Esse é um risco real e certamente é um dos motivos que faz com que algumas pessoas pensem duas vezes antes de escancarar as janelas do próprio coração.
Mesmo sem ter pensado com clareza sobre essas ideias no passado, sempre tive o cuidado de manter as janelas do meu coração fechadas para me proteger desses riscos. Essa estratégia funciona bem, mas descobri que ao me proteger dos riscos inerentes aos relacionamentos eu também fechava as portas para as alegrias de caminhar lado a lado, de ter amigos de jornada.
Desde que decidi mudar esse jeito de viver sinto-me mais exposto. Tenho procurado ser transparente e, na medida do que consigo ser sincero em minhas amizades, mais percebo que isso funciona como se em meio a um conflito eu depusesse minhas armas, sem no entanto saber se os outros em minha volta farão o mesmo. Parece uma situação arriscada, e é mesmo.
Tenho sido machucado mais e com mais freqüência depois disso. Sentimentos de frustração e tristeza por vezes me assolam quando não sou compreendido ou mesmo quando abro mão do meu arsenal e o outro se apossa dele para usar contra mim. Algo realmente doloroso nisso é que o sofrimento causado pelos mais próximos é maior e mais intenso do aquele provocado pelos mais distantes.
Tenho lidado com gente por toda a minha vida adulta, mas não canso de me surpreender com o tanto de desprezo e falta de consideração que pode existir no coração humano. Já ouvi juras de amor fraternal e promessas de lealdade indissolúvel; já vi expressões de apoio, recebi abraços fervorosos e senti afagos de encorajamento. Tudo isso passa! Quem está perto hoje pode virar as costas amanhã; quem se assenta à sua mesa para ouvi-lo pela manhã, à tarde pode simplesmente desprezá-lo sem nada avisar. Já aconteceu comigo e pode acontecer com qualquer pessoa que decidir se aproximar das outras pessoas.
Mas esse não é apenas um desabafo lamentoso. Escrevo para tentar descobrir como Jesus lidou com essa questão e assim quem sabe aliviar minhas próprias dores.
A primeira coisa que percebo ao olhar para os evangelhos é que Jesus correu o risco. Ele não fugiu das pessoa por causa da grande possibilidade de frustração que os relacionamentos trazem consigo. Ele aceitou convites para estar com elas, recebeu pessoas em sua casa, encontrou-se com elas em meio à rua, foi a jantares, casamentos, e banquetes.
Então, essa é a minha primeira decisão para 2011: não vou desistir de me aproximar das pessoas. Vou continuar tentando ir ao encontro e me deixar encontrar, perdoar e ser perdoado, compreender e me fazer compreendido, amar e ser amado. Não vou jogar pérolas aos porcos e mendigar amizade de quem deseja apenas me usar, mas não abrirei mão de correr o risco de me tornar próximo daqueles que Deus colocar em meu caminho.
Outra coisa que percebo quando leio os evangelhos é que embora Jesus amasse com profundidade as pessoas em sua volta ele não permitia que as atitudes delas pautassem suas emoções: a incredulidade dos apóstolos não o tornou descrente; a vida amarga de Judas não o tornou amargo; a traição do amigo Pedro não o fez traidor nem o encheu de autocompaixão; o abandono dos amigos que o acompanharam durante os tempos áureos de ministério não o tornou indignado ou decepcionado. Parece que Ele tinha outras fontes para suprir seu “tanque emocional” e isso o tornava uma pessoa capaz de agir com graça em vez de reagir em busca de justiça para as ofensas que sofrera.
Das palavras ditas por Cristo na cruz, "Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem", brotam frescor e leveza de alma que apenas vez por outra tenho experimentado, mas que quero que façam parte permanente de minha vida.
Bom, agora já é tarde. Então vou parar por aqui. Mas quero voltar a pensar e a escrever sobre o assunto. Um dos pontos de minha investigação será tentar descobrir o que fazia de Jesus alguém sábio em seus relacionamentos. Não vou desistir, porque essa é uma questão de "vida ou morte" relacional para mim.