20 agosto 2007

Não Temas

Embora os líderes não costumem confessar uns aos outros as coisas que mexem com eles, uma das questões que sempre está presente e nos rodeia, procurando nos tragar, é o medo.
Ninguém gosta de dizer que está com medo. E não é para menos, os medrosos são tratados com certo desdém. Ninguém gosta de apontá-los como exemplos e pouco deles ocupam lugar de honra nas narrativas históricas. Os medrosos são sempre desprezados, às vezes até injustamente.
No entanto, ao perceber a lógica ilógica do Reino de Deus, descobrimos que Ele sempre considerou o medo algo inerente à nossa condição humana; mas também incompatível com o árduo caminho da liderança.
É fácil confirmar isso!
Em uma pesquisa pelas páginas das escrituras, é possível encontrar os grandes expoentes da fé sendo exortados pelo Autor da fé a não permitirem que o medo os domine.
Abraão
Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo. (Gn 15:1)
Isac
E apareceu-lhe o Senhor na mesma noite e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai; não temas, porque eu sou contigo, e te abençoarei e multiplicarei a tua descendência por amor do meu servo Abraão. (Gn 26:24)
Jacó
(2) Falou Deus a Israel em visões de noite, e disse: Jacó, Jacó! Respondeu Jacó: Eis-me aqui. (3) E Deus disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer para o Egito; porque eu te farei ali uma grande nação. (4) Eu descerei contigo para o Egito, e certamente te farei tornar a subir; e José porá a sua mão sobre os teus olhos. (Gen 46:2-4)
Josué
Então disse o Senhor a Josué: Não temas, e não te espantes; toma contigo toda a gente de guerra, levanta-te, e sobe a Ai. Olha que te entreguei na tua mão o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. (Jos 8:1)
Gideão
(22) Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! pois eu vi o anjo do Senhor face a face. (23) Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo, não temas; não morrerás. (Jdg 6:22,23)
Ezequias
(5) Foram, pois, os servos do rei Ezequias ter com Isaias. (6) E Isaías lhes disse: Assim direis a vosso senhor: Assim diz o Senhor: Não temas as palavras que ouviste, com as quais os servos do rei da Assíria me blasfemaram. (7) Eis que meterei nele um espírito, e ele ouvirá uma nova, e voltará para a sua terra; e à espada o farei cair na sua terra. (Is. 37:5-7)
Jeremias
(4) Ora veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: (5) Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre te santifiquei; às nações te dei por profeta. (6) Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque sou um menino. (7) Mas o Senhor me respondeu: Não digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás. (8) Não temas diante deles; pois eu sou contigo para te livrar, diz o Senhor. (9) Então estendeu o Senhor a mão, e tocou-me na boca; e disse- me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca. (Jer 1:4-8)
Paulo
(9) E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales; (10) porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. (11) E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus. (Atos 18:9-11)
Duas lições
Primeira: nenhum de nós deve permitir que sentimentos de inferioridade espiritual ou de tristeza nos dominem porque experimentamos o medo diante dos desafios da vida e do ministério. Quando sentimos medo estamos na companhia dos grandes da Fé!
Segundo: não podemos nos acostumar com o medo, não podemos deixar que ele se aloje em nossas almas; porque isso nos tornará medrosos e incapazes de enfrentar os desafios da vida e do ministério. Quando lutamos contra o medo estamos na companhia dos grandes da Fé!
Como lidar com o medo?
Como lidar com esse inimigo que se esconde dentro de nós? É claro que não há uma fórmula mágica para isso, mas talvez haja na Palavra de Deus princípios que possam ser aplicados em nossas vidas. É possível encontrar boas dicas desses princípios nos argumentos usados por Deus para encorajar os nossos heróis da fé.
Abrão fora chamado por Deus e estava saindo do meio de sua parentela para um lugar cheio de riscos e perigos. Ele não conhecia a maneira de agir do Senhor e não tinha qualquer certeza a respeito do seu futuro. Eu sou o teu escudo
Isac não tinha um relacionamento pessoal com o Senhor, que era o Deus do pai dele. Eu sou contigo e te abençoarei
Jacó ficou com medo do que aconteceria com ele no Egito. Como Deus poderia está pensando em algo bom se ele e sua família estavam sendo levados para o Egito? Eu te farei ali uma grande nação
Josué ficou com medo de enfrentar os exércitos da cidade de Ai. Será que Deus daria vitória nessa empreitada? Eu te entreguei na tua mão o rei de Ai
Gideão teve medo de Deus. Ele achou que seria fulminado por que estava na presença de Deus. Gideão na conhecia o Senhor de perto. Eu não te matarei
Ezequias ficou com medo da afronta dos mensageiros do Rei da Assíria. O seu desconhecimento a respeito de Deus o levou a pensar que Deus não podia defender-se de seus acusadores. Eu farei cair o rei da Assíria em sua terra
Jeremias teve dúvidas a respeito de quem o protegeria em seu ministério. Como ele poderia falar a Palavra do Senhor? Será que o Senhor poderia protegê-lo e guardá-lo? Eu sou contigo para te livrar
Paulo: teve dúvida se deveria ou não continuar a pregar o evangelho em Corinto. Como seria o futuro? Deus o guardaria do mal? Eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal
Princípios
Constatação: o medo se alimenta do nosso (1) desconhecimento sobre o futuro, da nossa (2) falta de experiência com Deus e do nosso (3) desconhecimento quanto ao Seu caráter.
Primeiro: o futuro sempre será desconhecido. Deus não tem muito interesse em revelá-lo para todos nós. Por isso precisamos exercitar confiança no Senhor e na sua gestão do universo.
Segundo: a falta de experiências com Deus é uma decisão nossa. Deus está sempre pronto para revelar-se. Por isso precisamos buscar uma vida de comunhão prática e relacionamento íntimo com Ele.
Terceiro: o desconhecimento do caráter de Deus é prova da ausência de amizade com Ele. Por isso precisamos descobrir porque Ele age do jeito que age. Se o caráter de Deus for previsível e confiável, não precisaremos ter medo.
Conclusão
O Conhecimento é a base do amor. Por isso, conhecer o Senhor é a base para amá-lo.
Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra. (Os 6:3)
Quando amamos o Senhor o medo é lançado fora. É isso que diz o apóstolo João.
No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor. (1Jo 4:18)
O medo, portanto, é um elemento que faz parte das limitações humanas, mas aqueles que foram chamados por Deus a liderar não podem se tornar medrosos; mas precisam enfrentar o medo a partir conhecimento de Deus, que nos faz amá-lo e confiar Nele.
Patriarcas, Juízes, Reis, Profetas e Apóstolos aprenderam sobre o Senhor andando com Ele no dia-a-dia de suas vidas. Não um Deus distante e remoto; mas um Deus presente, que interferia em suas vidas.
Eles experimentaram a presença de Deus e assim aprenderam a confiar Nele. Talvez seja isso o que nos falte: Experimentar a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Mas isso já é outra história.
Que o Senhor nos abençoe e se faça presente em nossas vidas.
Mensagem pregada em 18/07/2007 na Igreja Batista em Itapagé por ocasião da reunião da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil Seção Ceará

19 agosto 2007

A Tentação de Jesus

Introdução

Uma das passagens mais conhecidas sobre a vida de Jesus é a sua tentação no deserto. Pinturas, gravuras, escultura, livros inteiros e vários filmes já foram produzidos tentando retratar aquele momento.
Mas o que realmente estava em jogo durante a tentação? Quais eram os objetivos do diabo com cada frase dita? Porque o Espírito de Deus conduziu Jesus para aquela situação? Será que Jesus realmente se manteve firme? Quais as lições que podemos tirar para nossas vidas sobre esse momento tão importante da vida de Jesus.
A tentação é citada em três evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas, mas é descrita com detalhes apenas em Mateus e Lucas. O nosso texto principal de hoje é exatamente o texto de Mateus 4:1-10.
A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.
Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.
Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.
Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto.
Disse-lhe então o diabo: Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão.
Alguém aqui já passou por semanas de fome? Você acha que poderia haver algum pecado em querer saciar a própria fome? Claro que não! A fome é o alerta de que uma necessidade básica e legítima do corpo não está sendo suprida: alimentação.
Além da alimentação, são necessidades básicas e legítimas a moradia digna, a vestimenta, a proteção e também os meios para se sustentar. São básicas e legítimas porque não se pode abrir mão delas sem prejuízo para a própria vida.
Jesus estava em jejum há muitos dias e certamente estava com muita fome. Seu corpo estava debilitado e suas energias eram só suficientes. Na sua primeira investida, o diabo usou de um golpe baixo e atacou Jesus exatamente na primeira das necessidades básicas: comida.
Disse-lhe então o diabo: Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão. O pensamento vem logo à mente: Golpe baixo, golpe sujo! Logo quando Jesus estava com muita fome!
Ora, mas não há pecado em sentir fome, e muito menos em matar primeiro quem está nos matando. Querer atender a essa necessidade básica e legítima é algo muito natural. Onde estava, então, a tentação. Qual era o golpe baixo?
Não se engane, amigo! O diabo nada tem a ver com a figura horrenda que dele se pinta: pele rugosa e vermelha, chifres, rabo e tridente na mão. Lúcifer, seu outro nome, era um anjo de luz que gozava da presença de Deus. Ele é um profundo conhecedor da raça humana. Por séculos e séculos ele vem aprendendo sobre nossas fragilidades com o propósito explícito de nos afastar de Deus. O rebelde opositor do Deus Eterno, o inimigo das nossas almas é uma realidade e joga sujo.
Depois de 40 dias em jejum, o filho de Deus é conduzido ao deserto pelo Espírito Santo de Deus e o que Ele ouve o tentador perguntar?: Vale a pena tudo isso? Vale a pena essa coisa de seguir à vontade de Deus? Será que esse Deus que é tão bom vai lhe deixar morrer nesse deserto sem ter o que comer? Porque você mesmo não resolve o problema da sua fome? Aliás, porque passar fome, quando você tem como se alimentar sem depender de Deus?
Jesus, então, entendeu a armadilha e disse: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus (Mateus 4:4). Na resposta de Jesus encontramos a chave para abrir o significado da tentação.
É legítimo desejar comida quando se está com fome, mas é Deus quem sustenta a vida, inclusive através da comida de que precisamos. É dele que vem nossa subsistência.
O diabo quis pegar Jesus pelo estomago e plantar na mente e no coração Dele a semente da desconfiança sobre o sustento que Deus dá aos seus filhos. A sugestão do inimigo foi de que, por via das dúvidas, só para o caso de Deus não cumprir com a palavra dele, é melhor ir logo transformando umas daquelas pedrinhas em pão, só para garantir.
A estratégia é mesma ainda hoje. Será que esse Deus tão bom vai lhe deixar sem emprego? Será que esse Deus em quem você acredita não está vendo a necessidade da sua família? Será que esse Deus bonzinho não vê que você precisa comprar um carro? Será que esse Deus tão poderoso vai deixar você sofrendo nesse trabalho? Será que esse Deus que se diz o criador da vida vai deixar você padecer com essa doença?
Quando foi tentado, Jesus disse: minha vida não depende apenas do pão. Eu confio no cuidado de Deus por mim ainda que agora eu esteja faminto. Qual tem sido a sua resposta?
Pode ser que o Diabo tenha plantado a desconfiança em seu coração. Tome hoje a decisão de rejeitar esses sentimentos e creia que na bondade e no cuidado de Deus. Ele é confiável e quer o nosso bem. Foi assim que Jesus respondeu; é assim que você pode responder.
Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se és o Filho de Deus, atira-te a baixo, por que está escrito: Aos seus anjos ordenará a seu respeito; e: Eles te sustentarão nas tuas mãos, para não tropeçarem nalguma pedra.
Na minha infância eram comuns aquelas caixinhas de promessas. Certa vez ganhamos uma dessas caixinhas de um parente. Ela era de plástico e tinha uma tampa transparente. Dentro dela havia umas tiras de papel colorido com textos da bíblia. Os textos escolhidos eram recortes das promessas de Deus espalhadas pelas Escrituras (até por isso se chamava de caixinha de promessas).
A orientação era pra tirar e ler uma promessa diferente todos os dias. Mas o que eu gostava mesmo era de espalhar as tirinhas na mesa, separar pela cor e depois colocar de volta organizadas. Hoje há inclusive as bíblias onde as promessas de Deus aparecem destacadas.
Mas o que tem a ver a história da caixinha de promessas? É que a segunda tentação do diabo contra Jesus está relacionada com as promessas de Deus. O Diabo foi vencido na primeira tentação quando Jesus usou a Palavra para declara sua confiança na provisão de Deus. Agora, o inimigo também usa a Palavra de Deus para tentar o Senhor.
Jesus foi levado pelo Diabo para a torre que ficava acima do átrio do templo. O átrio era o lugar onde muitas pessoas se aglomeravam para adoração. Ele então desafia a Jesus:
Quer dizer que você confia em Deus? Quer dizer que você acha que Ele se importa com você? Então, pula daqui de cima! Se Deus realmente lhe ama e é cumpridor da Suas promessas ele não permitirá que você se machuque, os anjos irão lhe amparar antes que algo trágico aconteça.
O diabo cita um salmo (Salmo 91:11-12) para falar das promessas de Deus. Será que não é legítimo confiar nas promessas de Deus? Será que ao ler a Bíblia não se deve encontrar conforto naquilo que Deus nos prometeu? É claro que o problema não é esse, o profeta Jeremias disse: quero trazer à memória aquilo que me dá esperança, e nada nos enche mais de esperança do que as promessas de Deus. Qual era a tentação, então?
Outra vez, a chave para entender está na resposta de Jesus que disse: Também está escrito: não tentarás o Senhor teu Deus (Mateus 4:7). Essa citação de Jesus se refere a um fato ocorrido com Moisés e o povo de Israel durante a peregrinação no deserto.
Em uma região no meio do deserto chamada Refidim, o povo que Deus tinha libertado da escravidão no Egito, reclamou com Moisés por causa da falta de água. Eles disseram: Porque nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a nossos filhos, e aos nossos rebanhos? (Ex.17:1-7).
O povo que tinha experimentado a libertação de Deus, realizada com prodígios e maravilhas, agora estava com medo de morrer de sede no deserto. O povo reclamou da sede e exigiu que algo fosse feito: afinal de contas, o Senhor está entre nós, ou não? O escritor do Êxodo diz que aquele lugar passou a se chamar Meribá porque ali o povo reclamou e pôs o Senhor à prova.
Nessa história é possível enxergar a grande diferença entre exigir, determinar o cumprimento das promessas de Deus e confiar nessas mesmas promessas.
Quando exigimos o cumprimento das promessas de Deus estamos expondo nossa desconfiança na capacidade e na intenção Dele aquilo que prometeu; Por outro lado, confiar nas promessas de Deus é descansar Nele a despeito das circunstâncias que nos cercam, porque o Deus das promessas é melhor que as promessas de Deus.
Jesus foi desafiado pelo diabo a requerer as promessas de Deus. O sussurro do diabo era: não vale a pena esperar pelo reconhecimento de Deus. As promessas que Ele lhe fez não acontecerão se você não exigir agora. Faça o seu Show particular, Deus vai ter que entrar com a parte dele. Jogue-se daqui de cima no meio da multidão e exija a promessa que ele fez. Você vai ver como as pessoas vão adorá-lo e você garante agora o seu reino.
O que está sendo sussurrado aos seus ouvidos? Quais são as exigências que você tem sido levado a fazer de Deus? Que determinações você tem pra Deus cumprir como prova do amor dele? Quais são as suas vontades que Ele é obrigado a realizar? Lembre-se disso: é melhor crer no Deus das promessas do que nas promessas de Deus. Foi assim que Jesus fez e você também pode fazer.
Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos... Se prostrado me adorares
Frustrado duas vezes em suas tentativas de destruir a integridade do filho de Deus, o diabo lança mão de uma arma poderosíssima: o desejo pelo poder, autoridade e glória. O poder embriaga porque ele oferece a sensação de segurança e nós somos, por natureza, carentes de segurança.
Richard Forster escreveu um livro chamado Sexo, Dinheiro e Poder, publicado pela editora Mundo Cristão. Forster argumenta que esse é o tripé que sustenta as nossas relações neste mundo.
Não é muito difícil constatar isso. Temos construído nossas vidas, nossas cidades tomando como base esses desses três elementos. Talvez porque eles ofereçam uma sensação de segurança, de que tanto precisamos, mesmo que seja por um breve período. Quem tem poder usar para obter dinheiro e sexo, quem tem dinheiro compra sexo e poder, e o sexo inúmeras vezes é a arma usada para obter dinheiro e poder.
Mas, dinheiro, sexo ou mesmo poder não são um mal em si mesmos. Ao contrário disso, quando se encontram sob o controle do Espírito de Deus, essas armas poderosas podem e devem ser utilizadas para estabelecer o Reino de Deus. Onde está então a tentação? Mais uma vez precisamos olhar para a resposta de Jesus.
Então Jesus lhe ordenou, retira-te Satanás, porque está escrito: ao Senhor teu Deu adorarás, e só a ele darás culto (Mateus 4:10).
Jesus sabia que seria estabelecido como Rei sobre toda a criação. Ele sabia que todas as coisas estariam debaixo de sua autoridade, que tudo convergiria para Ele. O final já estava certo. Mas Jesus também sabia que só havia um caminho para esse final grandioso: a obediência, se necessário, até à morte.
De forma sagaz, o Diabo então oferece um atalho para essas realizações. Não é necessário passar pela cruz, não precisa você se expor diante de pessoas que não vão lhe compreender. Basta que você me adore e terá poder, autoridade, riquezas e o que mais você quiser. Não dava pra ser mais transparente!
Ora, mas qual o problema com os atalhos? Quem não gosta de um caminho mais curto e que chega ao mesmo lugar (ou a um lugar parecido). A questão com os atalhos é que eles têm um preço. O atalho do poder levaria Jesus para longe da vontade de Deus. Jesus entendeu que o atalho para o poder tinha um preço: Negar a Deus e plano que havia sido traçado em conjunto com o Pai para a sua vida. No final desse atalho era um desvio para longe da vontade do Pai.
A questão era tão séria que Jesus ordenou ao diabo que se retirasse. Jesus foi tentado com o atalho do poder, mas há muitos outros. Quais os atalhos que têm sido oferecidos a você.
· Prazer sem responsabilidade, que leva multidões a destruírem sem corpos e suas alma?
· Lucro fácil, que leva empresários a jogarem o respeito pela vida humana na lata de lixo?
· Fraude, que leva muitos candidatos a concurso a pagarem outros para fazer as provas que eles deveriam fazer?
· Acordos e conchavos, que desprezam os que não fazem parte do seu grupinho.
· O atalho da mentira, que na verdade é um desvio escuro e frio para morte espiritual?
Seja como for, saiba que Jesus disse NÃO para o atalho do poder e você também pode dizer não para os atalhos que o diabo e o mundo têm lhe oferecido.
Jesus foi tentado em tudo. No texto sobre a tentação no evangelho de Lucas, no verso 13, diz: Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno (Lucas 4:13).
Ele foi vitorioso em todas as tentativas do diabo. O mesmo poder que O fez vencer as tentações, está à nossa disposição: a capacitação do Espírito Santo, gerando em nós a confiança em Deus que nos habilita a obedecê-lo.
No verso 11 do capítulo 4, Mateus deixou registrada uma observação muito importante: Com isto o deixou o diabo, e eis que vieram os anjos e o serviram (Mateus 11:4)..
Deus surpreendeu seu filho amado, que decidira confiar, enviando anjos para servi-lo. Deus preparou um banquete surpresa para suprir a sua fome, companhia para aliviar a solidão de apenas confiar nas promessas e com isso deu uma prova sem contestação de que vale a pena trilhar o caminho da obediência.
O Senhor continua pronto a recompensar aqueles que decidem obedecer ainda que não saibam como fazê-lo. Não é uma troca. É um presente que Ele tem prazer em nos oferecer.
Minha oração a Deus nesta noite é para que ele nos dê discernimento espiritual para perceber as ciladas do Inimigo e para que o seu Espírito tenha a liberdade, dada por cada um de nós para nos conduzir a experimentar a confiança que nos leva à obediência.

15 agosto 2007

Alívio aos Cansados – 4

Introdução

Onde reclinamos a cabeça quando o dia parece que não vai terminar? Onde buscamos alento quando a tristeza se torna insuportável? Onde procuramos remédio para as dores da alma, para as crises de fé e as angústias da vida? Onde procuramos respostas para as dúvidas que nos consomem por dentro? Quando estamos cansados e sobrecarregados, para onde vamos?

Jesus faz um convite simples: vinde a mim... E eu vos aliviarei. Vinde a mim... E encontrareis descanso.

O convite é simples e atendê-lo também. Mas, é preciso tomar a decisão de ir até Ele. Isso implica em evitar as rotas de fuga que a vida nos oferece.

Sempre surgem rotas de fuga que nos levam para longe de Jesus. Elas parecem atrativas. Algumas são prazerosas e apelam ao que a bíblia chama de concupiscência; outras são cômodas e apelam para o comodismo e acomodação; e outras ainda são práticas e apelam para o utilitarismo que “coisifica” as pessoas.

Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte. (Prov 14:12)

As rotas de fuga são caminhos que usamos para fugir da presença do Senhor e evitar ficar face a face com Ele. É assim que a busca pela produtividade, a preguiça espiritual e a sede insaciável de prazer, cada um do seu jeito, se transformam em caminhos que levam para morte, não para a vida.

Religiosidade

Quando Jesus chama vinde a mim, muito viram as costas e fogem por uma outra rota de fuga: a religiosidade. Quem faz isso nunca encontra o alívio e o descanso prometidos por Jesus. Ao contrário, se torna mais ansioso, angustiado e culpado.

O Senhor se relacionou com todo tipo de pessoa durante o seu ministério. Mas, havia um desses tipos que ouviu palavras muito duras, ditas com muita ênfase: os fariseus. Hoje quando ouvimos a palavras fariseu nossa mente imediatamente associa a palavra a alguma coisa ruim, que às vezes nem sabemos muito bem o que é.

Os fariseus eram uma espécie de facção religiosas entre os judeus. Eles eram extremamente zelosos e tentavam cumprir a lei em tudo que ela mandava. Os fariseus recomendavam pureza, tinham uma vida moral acima da média e eram reconhecidos como pessoas tementes a Deus. Se havia alguém que parecia estar bem perto de Deus, eram os fariseus.

Jesus, no entanto vai além das aparências e denuncia o pecado dos religiosos: a religiosidade como um fim em si mesmo. No capítulo 23 de Mateus, o Senhor falou sobre os males da religiosidade e sobre como ela afasta as pessoas de Deus.

(1) Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo: (2) Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. (3) Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. (4) Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.

Religiosos criam rituais complicados, desenvolvem novenas e correntes complexas que precisam ser cumpridas como prova de devoção; e colocam essas tarefas como um peso sobre os ombros das pessoas, embora eles mesmos não as cumpram.

Os religiosos na sua maioria são arrogantes. É uma arrogância disfarçada, mas é arrogância. Onde está a arrogância? Ela reside no fato de se achar que o simples cumprimento de uma tradição religioso é suficiente para Deus. A religiosidade e um substituto de Deus.

Em vez de buscar ao Senhor de todo coração, de procurar conhecê-Lo e se familiarizar com o Seu jeito de ver a vida, o religioso cumpre tarefas como uma fuga da presença de Deus.

(5) Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos; (6) gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, (7) das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi.

A religiosidade anda de mãos dadas com a pompa e a exibição. Os filactérios eram as duas caixinhas que contêm uma faixa de pergaminho com passagens bíblicas que os judeus ainda hoje trazem junto à testa e ao braço esquerdo, durante a oração matinal dos dias úteis.

Primeiros lugares... Primeiras cadeiras... Saudações nas praças... Reconhecimento. Deus deixa de ser o centro e os próprios religiosos assumem o seu lugar.

(8) Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. (9) E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. (10) Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo. (11) Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo.

O Senhor explica que a religiosidade é uma tentativa de assumir o lugar de Deus. É por isso que ela nos afasta de Deus. Porque o Senhor não divide sua glória com ninguém.

Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não a darei, nem o meu louvor às imagens esculpidas. (Isa 42:8)

(12) Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado. (13) Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.

A lógica do Reino de Deus não funciona como a lógica do mundo. Quem tenta se promover e colocar-se acima dos outros, e se utiliza da arrogância como rota de fuga, não encontrará lugar próximo a Deus.

(14) [Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis longas orações; por isso recebereis maior condenação.]

A religiosidade leva os religiosos a esquecerem das pessoas. Os outros passam a ser apenas meios para alcançar objetivos pessoais e às vezes escusos. Assim o religioso é capaz de explorar em nome da fé e se justificar com a prática da religião.

(15) Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós.

A religiosidade valoriza o fazer discípulos de si mesmos. O ensino meramente religioso não leva a alma à liberdade diante de Deus, mas aprisiona ao cumprimento de regras e preceitos.

(16) Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo ouro do santuário, esse fica obrigado ao que jurou. (17) insensatos e cegos! Pois qual é o maior; o ouro, ou o santuário que santifica o ouro? (18) E: Quem jurar pelo altar, isso nada é; mas quem jurar pela oferta que está sobre o altar, esse fica obrigado ao que jurou. (19) Cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? (20) Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo quanto sobre ele está; (21) e quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita; (22) e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.

(23) Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas. (24) Guias cegos! que coais um mosquito, e engulis um camelo.

A religiosidade transfere a importância do principal para o secundário. Manter-se no principal é muito simples para os religiosos, porque a mente legalista tem necessidade de complexidade. A importância sai do principal para o secundário, porque o principal está sempre ligado a Deus. Ouro é sempre ouro em qualquer lugar, mas o altar está ligado a Deus; a oferta tem vida própria, mas o altar está ligado a Deus. Assim o religioso se afasta da presença de Deus.

George Müller (1805-1898)


O gigante da fé, George Müller (1805-1898), nasceu na Alemanha, e converteu-se com idade de 20 anos numa missão morávia. Foi para a Inglaterra em 1829, onde trabalhou para o Senhor até o final de sua vida.
Em 1830, três semanas depois de seu casamento, Müller e sua esposa decidiram abrir mão de seu salário como pastor de uma pequena congregação, e depender exclusivamente de Deus para suas necessidades. Já desde o início, ele tomou a posição que manteria durante todo o seu ministério, de nunca revelar suas necessidades às pessoas, e de nunca pedir dinheiro de ninguém, somente de Deus. Ao mesmo tempo, decidiu que também nunca entraria em dívida por motivo algum, e que não faria reservas, nem guardaria dinheiro para o futuro.
Durante mais de sessenta anos de ministério, Müller iniciou 117 escolas que educaram mais de 120.000 jovens e órfãos; distribuiu 275.000 Bíblias completas em diferentes idiomas além de grande quantidade de porções menores; sustentou 189 missionários em outros países; e sua equipe de assistentes chegou a contar com 112 pessoas.


Seu maior trabalho foi dos orfanatos em Bristol, na Inglaterra. Começando com duas crianças, o trabalho foi crescendo com o passar dos anos, e chegou a incluir cinco prédios construídos por ele mesmo, com nada menos que 2000 órfãos sendo alimentados, vestidos, educados e treinados para o trabalho. Ao todo, pelo menos dez mil órfãos passaram pelos orfanatos durante sua vida. Só a manutenção destes órfãos custava 26 mil libras por ano. Nunca ficaram sem uma refeição, mas muitas vezes a resposta chegava na última hora. Às vezes sentavam para comer com pratos vazios, mas a resposta de Deus nunca falhava.
No decorrer da sua vida, Müller recebeu o equivalente a sete milhões e meio de dólares, como resposta de Deus. Além de nunca divulgar suas necessidades, ele tinha um critério muito rigoroso para receber ofertas. Por mais que estivesse precisando (pois em milhares de ocasiões não havia recursos para a próxima refeição), se o doador tivesse outras dívidas, se tivesse evidência de que havia alguma atitude errada, ou alguma condição imprópria, a oferta não era aceita.
E mesmo quando tinha certeza de que Deus estava dirigindo para ampliar o trabalho, começar uma outra casa, ou aceitar mais órfãos, ele nunca incorria em dívidas. Aquilo que Deus confirmava como sua vontade certamente receberia os recursos necessários, e por isto nunca emprestava nem contraía obrigações sem ter o necessário para pagar.


A seguir um trecho da sua autobiografia, onde ele define sua posição com relação a dívidas:


Minha esposa e eu nunca entramos em dívidas porque acreditávamos que era contrário às Escrituras (Rm 13.8). Por isto, nunca tivemos contas para o futuro com alfaiate, açougue, padaria ou mercado. Pagamos por tudo em dinheiro. Preferimos passar necessidade do que contrair dívidas. Desta forma, sempre sabemos quanto temos, e quanto podemos dar aos outros. Muitas provações vêm sobre os filhos de Deus por não agirem de acordo com Romanos 13.8.
Alguns podem perguntar: Por que você não compra o pão, ou os alimentos do mercado, para pagar depois? Que diferença faz se paga em dinheiro no ato, ou somente no fim do mês? Já que os orfanatos são obra do Senhor, você não pode confiar que ele supra o dinheiro para pagar as contas da padaria, do açougue, e do mercado? Afinal, todas estas coisas são necessárias para a continuidade da obra.
Minha resposta é a seguinte: Se esta obra é de Deus, certamente ele tanto quer como é capaz de suprir todo o necessário. Ele não vai necessariamente prover na hora que nós achamos que deve. Mas quando há necessidade, ele nunca falha. Podemos e devemos confiar no Senhor para suprir-nos com o que precisamos no momento, de forma que nunca tenhamos que entrar em dívida.
Eu poderia comprar um bom estoque de mantimentos no crediário, mas da próxima vez que estivéssemos em necessidade, eu usaria o crediário novamente, ao invés de buscar o Senhor. A fé, que somente se mantém e se fortalece através de exercitar, ficaria mais e mais fraca. No fim, provavelmente acabaria atolado em grandes dívidas, sem perspectiva de sair delas.
A fé se apóia na Palavra Escrita de Deus, mas não temos nenhuma promessa de que ele pagará nossas dívidas. A Palavra diz: "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma" (Rm 13.8), e: "Quem nele crer não será de modo algum envergonhado" (1 Pe 2.6). Não temos nenhuma base bíblica para entrar em dívidas.
Nosso alvo é mostrar ao mundo e à igreja que mesmo nestes dias maus do tempo do fim, Deus está pronto para ajudar, consolar, e responder às orações daqueles que confiam nele. Não precisamos recorrer a outras pessoas, nem seguir os caminhos do mundo. Deus tanto é poderoso, como desejoso, de suprir todas nossas necessidades no seu serviço.
Consideramos um precioso privilégio continuar a esperar no Senhor somente, ao invés de comprar mantimentos no crediário, ou de emprestar de bondosos amigos. Enquanto Deus nos der graça, olharemos somente para ele, mesmo que de uma refeição para a próxima tivermos que depender do seu suprimento. Já faz dez anos que trabalhamos com estes órfãos, e ele nunca permitiu que passassem fome. Ele continuará a cuidar deles no futuro também.
Estou profundamente consciente da minha própria incapacidade e dependência no Senhor. Pela graça de Deus, minha alma está em paz, embora dia após dia tenhamos que esperar a provisão milagrosa do Senhor para nosso pão diário.
Fonte: http://www.financasparaavida.com.br/artigo04.htm

Charles Haddon Spurgeon (1834-1892)


Um dos maiores pregadores de todos os tempos

Houve época em que o simples fato de optar pela religião evangélica equivalia a colocar a cabeça a prêmio. No século 15, Carlos V, o imperador espanhol, queimou milhares de evangélicos em praça pública. Seu filho, Filipe II, vangloriava-se de ter eliminado dos países baixos da Europa cerca de 18 mil "hereges protestantes". Para fugir da perseguição implacável, outros milhares de cristãos foram para a Inglaterra. Dentre eles, estava a família de Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o homem que se tornaria um dos maiores pregadores de todo o Reino Unido. Charles obteve tão bom resultado em seu ministério evangelístico que, além de influenciar gerações de pastores e missionários com seus sermões e livros, até hoje é chamado de Príncipe dos pregadores.


O maior dos pecadores

Spurgeon era filho e neto de pastores que haviam fugido da perseguição. No entanto, somente aos 15 anos, ocorreu seu verdadeiro encontro com Jesus. Segundo os livros que contam a história de sua vida, Spurgeon orou, durante seis meses, para que, "se houvesse um Deus", Este pudesse falar-lhe ao coração, uma vez que se sentia o maior dos pecadores. Spurgeon visitou diversas igrejas sem, contudo, tomar uma decisão por Cristo.

Certa noite, porém, uma tempestade de neve impediu que o pastor de uma igreja local pudesse assumir o púlpito. Um dos membros da congregação - um humilde sapateiro - tomou a palavra e pregou de maneira bem simples uma mensagem com base em Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Desprovido de qualquer experiência, o pregador repetiu o versículo várias vezes antes de direcionar o apelo final. Spurgeon não conteve as lágrimas, tamanho o impacto causado pela Palavra de Deus.



Início de uma nova caminhada

Após a conversão, Spurgeon começou a distribuir folhetos nas ruas e a ensinar a Bíblia na escola dominical para crianças em Newmarkete Cambridge. Embora fosse jovem, Spurgeon tinha rara habilidade no manejo da Palavra e demonstrava possuir algumas características fundamentais para um pregador do Evangelho. Suas pregações eram tão eletrizantes e intensas que, dois anos depois de seu primeiro sermão, Spurgeon, então aos 20 anos, foi convidado a assumir o púlpito da Igreja Batista de Park Street Chapel, em Londres, antes pastoreada pelo teólogo John Gill. O desafio, entretanto, era imenso. Afinal, que chance de sucesso teria um menino criado no campo (Anteriormente, Spurgeon pastoreava uma pequena igreja em Waterbeach, distante da capital inglesa), diante do púlpito de uma igreja enorme que agonizava?

Localizada em uma área metropolitana, Park Street Chapel havia sido uma das maiores igrejas da Inglaterra. No entanto, naquele momento, o edifício, com 1.200 lugares, contava com uma platéia de pouco mais de cem pessoas. A última metade do século 19 foi um período muito difícil para as igrejas inglesas. Londres fora industrializada rapidamente, e as pessoas trabalhavam durante muitas horas. Não havia tempo para as pessoas se dedicarem ao Senhor. No entanto, Spurgeon aceitou sem temor aquele desafio.

Tamanha audiência

O sermão inaugural de Spurgeon, naquela enorme igreja, ocorreu em 18 de dezembro de 1853. Havia ali um grupo de fiéis que nunca cessou de rogar a Deus por um glorioso avivamento. No início, eu pregava somente a um punhado de ouvintes. Contudo, não me esqueço da insistência das suas orações. As vezes, parecia que eles rogavam até verem a presença de Jesus ali para abençoá-los. Assim desceu a bênção, a casa começou a se encher de ouvintes e foram salvas dezenas de almas, lembrou Spurgeon alguns anos depois.

Nos anos que se seguiram, o templo, antes vazio, não suportava a audiência, que chegou a dez mil pessoas, somada a assistência de todos os cultos da semana. O número de pessoas era tão grande que as ruas próximas à igreja se tomaram intransitáveis. Logo, as instalações do templo ficaram inadequadas, e, por isso, foi construído o grande Tabernáculo Metropolitano, com capacidade para 12 mil ouvintes. Mesmo assim, de três em três meses, Spurgeon pedia às pessoas, que tivessem assistido aos cultos naquele período, que se ausentassem a fim de que outros pudessem estar no templo para conhecer a Palavra.

Muitas congregações, um seminário e um orfanato foram estabelecidos. Com o passar do tempo, Charles Spurgeon se tornou uma celebridade mundial. Recebia convites para pregar em outras cidades da Inglaterra, bem como em outros países como França, Escócia, Irlanda, País de Gales e Holanda. Spurgeon levava as Boas Novas não só para as reuniões ao ar livre, mas também aos maiores edifícios de 8 a 12 vezes por semana.

Segundo uma de suas biografias, o maior auditório em que pregou continha, exatamente, 23.654 pessoas: este imenso público lotou o Crystal Palace, de Londres, no dia 7 de outubro de 1857, para ouvi-lo pregar por mais de duas horas.

Sucesso

Mais de cem anos depois de sua morte, muitos teólogos ainda tentam descobrir como Spurgeon obtinha tamanho sucesso. Uns o atribuem às suas ilustrações notáveis, a habilidade que possuía para surpreender a platéia e à forma com que encarava o sofrimento das pessoas. Entretanto, para o famoso teólogo americano Ernest W. Toucinho, autor de uma biografia sobre Spurgeon, os fatores que atraíam as multidões eram estritamente espirituais: O poder do Espírito Santo, a pregação da doutrina sã, uma experiência de religioso de primeira-mão, paixão pelas almas, devoção para a Bíblia e oração a Cristo, muita oração. Além disso, vale lembrar que todas as biografias, mesmo as mais conservadoras, narram as curas milagrosas feitas por Jesus nos cultos dirigidos pelo pregador inglês.

As pessoas que ouviam Spurgeon, naquela época, faziam considerações sobre ele que deixariam qualquer evangélico orgulhoso. O jornal The Times publicou, certa ocasião, a respeito do pastor inglês: Ele pôs velha verdade em vestido novo. Já o Daily Telegraph declarou que os segredos de Spurgeon eram o zelo, a seriedade e a coragem. Para o Daily Chronicle, Charles Spurgeon era indiferente à popularidade; um gênio, por comandar com maestria, uma audiência. O Pictorial World registrou o amor de Spurgeon pelas pessoas.

Importância

O amor de Spurgeon tinha raízes. Casou-se em 20 de setembro de 1856 com Susannah Thompson e teve dois filhos, os gêmeos não-idênticos Thomas e Charles. Fazíamos cultos domésticos sempre; quer hospedados em um rancho nas serras, quer em um suntuoso quarto de hotel na cidade. E a bendita presença do Espírito Santo, que muitos crentes dizem ser impossível alcançar, era para nós a atmosfera natural. Vivíamos e respirávamos nEle, relatou, certa vez, Susannah.

A importância de Charles Haddon Spurgeon como pregador só encontra parâmetros em seus trabalhos impressos. Spurgeon escreveu 135 livros durante 27 anos (1865-1892) e editou uma revista mensal denominada A Espada e a Espátula. Seus vários comentários bíblicos ainda são muito lidos, dentre eles: O Tesouro de Davi (sobre o livro de Salmos), Manhã e Noite (devocional) e Mateus - O Evangelho do Reino. Até o último dia de pastorado, Spurgeon batizou 14.692 pessoas. Na ocasião em que ele morreu - 11 de fevereiro de 1892 -, seis mil pessoas leram diante de seu caixão o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra.

Texto: Marcelo Dutra
Fonte: Revista Graça, ano 2 nº 19 – Fevereiro/2001