25 novembro 2013

Tende paz com todos


1. Somos filhos espirituais de um mesmo pai. Fomos gerados pelo mesmo Espírito e assim feitos irmãos uns dos outros. Isso quer dizer que os nossos relacionamentos devem ultrapassar a mera formalidade dos cumprimentos de domingo. Nós somos chamados a viver a dinâmica de uma família.

2. Relacionamentos trazem consigo oportunidades de conflitos.

a.   Relacionamentos com colegas de trabalho;
b.   Relacionamentos com família próxima;
c.   Relacionamento entre marido e mulher.

3. Quando uma igreja começa a experimentar um pouco desse chamado de ser “família de Deus” as oportunidades de relacionamento são mais numerosas e, por isso, a possibilidade de conflito aumenta.

a.   O jeito diferente de educar os filhos;
b.   O gosto musical;
c.   Os pensamentos políticos;
d.   As falhas de caráter;
e.   As limitações pessoais;
f.    Os pecados recorrentes.

4. Conflitos podem ser engraçados, mas, na verdade, por menores que sejam, eles têm o poder de tirar nossa paz. Nós não fomos feitos por Deus para viver em conflito. Fomos feitos para a paz.

Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Jeremias 29:11 ARA 

Se o fato de sermos filhos do mesmo Pai nos coloca juntos na mesma família, e isso aumenta as possibilidades de conflito... Como podemos viver em paz uns com os outros?

Isto é, se quanto mais a gente se aproxima mais a gente briga, como é que “viver igreja” pode ser uma experiência de paz?

A.   Estabelecendo sua paz pessoal com Deus

Colossenses 1:17-20 NVI

17 Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. 18 Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. 19 Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, 20 e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz. 21 Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. 22 Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, 

  • ·      Estamos em guerra com Deus! Nossa maneira arrogante e tola de viver é uma constante declaração de desprezo. Nossas ofensas chegaram a tal ponto e a nossa separação dele é tão profunda que nós não temos como resolver isso sozinhos. Por isso Deus tomou a iniciativa e nos amou primeiro.

  • ·  Quem é o “Ele”? Ele é Jesus. Paulo está dizendo que a saída para fazermos as pazes com Deus passa obrigatoriamente por Jesus e sua morte na cruz. É preciso confiar que, por causa do sacrifício de Cristo, morrendo em nosso lugar, Deus não vai mais olhar para nós como rebeldes e inimigos.

  • ·     Se você ainda não aceitou Jesus como o caminho dessa reconciliação é impossível viver em paz com Deus; e também é impossível viver em paz com os irmãos.


2 Coríntios 5:18-20

18 Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação19 ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. 20 Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. 

  • ·      Essa reconciliação não é apenas para alguns. Ao fazer as pazes meio de Cristo, Deus nos deu a tarefa de contar às outras pessoas sobre seu amor, seu desejo em nos perdoar, nos declarar justo e nos receber como seus filhos.


Rom 5:1-2 NVI 

1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; 

B.   Decidindo viver em paz com os outros (Rom 12:9-18 NVI)

9 O amor deve ser sincero (Ame sem fingimento). Odeiem o que é mau; apeguem-se ao que é bom. (Seja íntegro, de uma cara só)

10 Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios. (Seja altruísta)

11 Nunca lhes falte o zelo, sejam fervorosos no espírito, sirvam ao Senhor. (Ocupe-se com o que vale a pena)

12 Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração. (Levante os olhos para o futuro; a maioria de nossos conflitos serão insignificantes daqui a algum tempo)

13 Compartilhem o que vocês têm com os santos em suas necessidades. Pratiquem a hospitalidade. (Trate o que lhe pertence com liberalidade/desapego)

14  (junto com o 17)

15 Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram. (Coloque-se por um instante no lugar do outro)

16 Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam dispostos a associar-se a pessoas de posição inferior. Não sejam sábios aos seus próprios olhos. (Espere o melhor das pessoas) (Seja humilde, reconheça seus limites)

14 Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem. 17 Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. (Decida sempre pelo bem)

18 Façam todo o possível para viver em paz com todos

A paz não se estabelece por si mesma; precisa de ajuda para ocupar nossos relacionamentos. Ela é como uma plantinha frágil carente de proteção. Se for cuidada se tornará uma árvore frondosa.

C.    Comprometendo-se em promover a paz (Rom 14:13-19)

13 Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão. 14 Como alguém que está no Senhor Jesus, tenho plena convicção de que nenhum alimento é por si mesmo impuro, a não ser para quem assim o considere; para ele é impuro. 15 Se o seu irmão se entristece devido ao que você come, você já não está agindo por amor. Por causa da sua comida, não destrua seu irmão, por quem Cristo morreu. 16 Aquilo que é bom para vocês não se torne objeto de maledicência. 17 Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; 18 aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. 19 Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútuaRom 14:13-19

  • ·   Em Roma os irmãos estavam se acusando mutualmente por causa da carne sacrificada aos ídolos. Cada um se apegava a sua opinião e condenava o outro por pensar diferente;

  • ·   Paulo desafiou os irmão a “perderem a discussão” para ganhar o irmão: os relacionamentos entre nós são mais importantes que a convicção sobre um ponto de vista;

  • ·     Para viver em paz na igreja é preciso não apenas fazer “o seu lado”, mas também ajudar o outro a fazer a parte dele: é preciso preservar e promover todos os caminhos de paz e isso muitas vezes significa “abrir mão”.

  • ·  Jesus disse que aqueles que promovem a paz são felizes (Bem-aventurados) e ficam tão parecidos com Deus que serão chamados de seus filhos (Mat 5:9 NVI).


Conclusão

1.    Conflitos podem ser sinais de que estamos mais perto uns dos outros; portanto não há motivo para decepção ou tristeza profunda.

2.   Conflitos podem ser sinais de que nossas máscaras estão caindo em meio à convivência e por isso estamos nos conhecendo melhor; portanto eles são oportunidades para nos aperfeiçoarmos.

3.       Para aproveitá-las é preciso encher-se da paz de Deus:

a.   Fazer as pazes com Deus – confessar e pedir perdão;
b.   Decidir viver em paz com os irmãos – mudar o jeito de agir;
c.   Promover os caminhos de paz – abrir mão.

Laços e nós



Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. Efs 4:1-6

“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados...”

Paulo estava preso quando escreveu esta carta aos irmãos que moravam na cidade de Éfeso. Ele fora preso porque se declarou um seguidor de Jesus. Sem poder continuar as viagem que fazia visitando as igrejas, ele recorreu às cartas, o único meio de comunicação à distância de que dispunha.

Logo no começo desse capítulo, ele pede aos irmãos que vivam de forma digna, isto é, que sejam coerentes, com o chamado que receberam de Deus. Aqui parece claro o pensamento do apóstolo de que o evangelho é um chamado para viver a vida. Ele estava preso, mas os irmão em Éfeso estavam livres para experimentar o Evangelho de Cristo nas pequenas coisas da vida. Assim como eles, nós também estamos livres para...

·        Ir à feira ou ao supermercado;
·        Levar as crianças para a escola;
·        Comer pizza com os amigos;
·        Trabalhar e ganhar o sustento;
·        Visitar um parente que adoeceu;
·        Ir ao banco pagar contas;
·        Ajudar na mudança de um amigo;
·        Jogar bola no campinho;
·        Participar de uma reunião de pais e mestres.

De fato, a vida é feita de coisas como essas, simples e corriqueiras. Por isso a vida com Cristo não é só entender coisas, mas principalmente experimentar a graça de Deus no dia-a-dia; é viver esses momentos simples de maneira que nossas ações sejam coerentes com o jeito de Cristo pensar.

“...com toda a humildade e mansidão, com longanimidade...”

Há vários modos de agir que são esperados dos seguidores de Cristo enquanto estamos envolvidos nas coisas simples da vida. Paulo começa o verso 2 destacando três: humildade, mansidão e longanimidade.

Humildade
Mansidão – Dócil – Amável – Educado - Brandura
Longanimidade – Paciente – Sem desanimar – Pavio Curto

Agora você deve resistir à tentação de listar na sua mente as pessoas que deveriam ser humildes, mansas e pacientes. Você não pode fazer quase nada por elas. Portanto, olhe para você mesmo: essas marcas estão presentes em sua vida?

“...suportando-vos uns aos outros em amor...”

Para que precisamos de Humildade, Brandura e Pavio Longo?

O texto parece deixar claro: para suportar os irmãos, amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos... Realmente tem alguns irmãos que são difíceis de aguentar, não é?

Neste ponto eu gostaria de ajudá-lo a corrigir um engano muito comum na compreensão deste texto. Segundo os estudiosos da língua grega, suportar aqui não é aguentar no sentido de tolerar, mas dar suporte, apoio, sustentação. São dois significados bem diferentes.

Pesquisei a palavra que Paulo usou (anechomai) e foi traduzida por “suportar” e veja o que encontrei: uma empresa de assessoria. A Anechomai Assessoria, Consultoria e Treinamento tem sede em Curitiba/PR e se propõe a oferecer aos seus clientes suporte na área de informática. O objetivo da Anechomai é facilitar a vida de outras empresas ajudando na solução de problemas e fornecendo as melhores saídas para que elas façam o trabalho delas com qualidade. Eles não se propõem a aguentar clientes chatos, mas a apoiá-los

Então, quando Paulo nos encoraja a suportar uns aos outros, ele NÃO está dizendo para aguentar o irmão, como quem prende o nariz quando passa por um fedor. Ele está dizendo que devemos apoiar-nos para que nossas vidas sejam menos complicadas e cada um de nós possa realizar tudo aquilo que Deus Planejou.

 Os resultados podem ser bem diferentes, dependendo do jeito que a palavra suportar é compreendida. Veja:

Quando suportar é aguentar o fedor do outro... humildade, brandura e pavio curto são para nós mesmos, para nosso benefício pessoal, pra gente aguentar o outro. Isso produz pessoas egoístas, que veem a vida girando em torno de si.

Quando suportar é apoiar... humildade, brandura e pavio curto são em benefício do outro, para descomplicar a vida dele e ajudá-lo em suas dificuldades. Isso produz pessoas altruístas, capazes de agir em benefício dos outros porque o mundo não gira em torno deles.

“...esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz...”

No verso 3, Paulo continua falando com o irmãos que moravam em Guarabira, quer dizer, em Éfeso. Ele diz àqueles irmãos que se eles agirem com humildade, brandura e cultivarem um pavio longo, ele irão preservar a unidade do Espírito.

De que unidade Paulo estava falando?

Lendo os versos seguintes, parece que ele está dizendo que existem coisas em comum entre nós. Coisas que não fomos nós que produzimos, mas que foram realizadas pelo Espírito de Deus:

·        Ele nos fez um corpo (o de Cristo);
·        Ele nos deu uma esperança (a da vida eterna);
·        Ele nos fez servos do mesmo Senhor;
·        Ele nos deu a mesma fé e nos colocou juntos;
·        Ele nos fez filhos do mesmo Deus.

A unidade do povo de Deus não é obra minha ou sua. Nenhum líder ou liderado, por mais carismático ou agradável que seja, pode produzi-la, porque ela é obra do Espírito de Deus.

Nós nos chamamos de irmãos porque fomos gerados pelo mesmo pai, não é porque frequentamos o mesmo culto ou porque seja sempre agradável estarmos na companhia um dos outros. Irmão se desentendem, mas sabem que têm o mesmo sangue correndo nas veias e por isso sempre serão irmãos. Não têm o direito de renegarem um ao outro. Então, veja só: é por isso que Paulo fala que a unidade é DO ESPÍRITO.

Mas como podemos fazer isso?

O texto diz: estabelecendo vínculos de paz entre nós. Ou como fala em outra tradução, “mantendo entre vocês laços de paz”[1].

A unidade entre nós NÃO será mantida por meio dos nós apertados da opressão, do medo, da manipulação, da agressão ou da ameaça. Não! É verdade que os nós apertam, mas também machucam. A unidade entre nós será mantida pela fragilidade dos laços de paz.

Como estabelecer e preservar os belos e frágeis laços de paz entre nós?

Uma outra tradução[2] desse verso 3 nos dá duas boas dicas: (1) considerar que somos diferente uns dos outros e (2) resolver logo todo e qualquer desentendimento entre nós.

(1)  Considerar que somos diferente uns dos outros

Parece que uma das maiores fontes de conflito nos relacionamentos é nossa vontade de que os outros sejam iguais a nós, de que eles ajam do jeito que agimos, falem como falamos, pensem parecido conosco, enfim, queremos que os outros não sejam eles mesmos, mas não abrimos mão de sermos quem somos.

Precisamos reconhecer nossa diferenças.

Enquanto um é mais preocupado com organizar coisas outro se dedica mais às pessoas; enquanto um gosta de estudar a bíblia outro prefere cantar, uns são sérios outros sorridentes, uns são determinados outros são precavidos, uns oram silenciosamente outros choram e clamam. Somo diferentes uns dos outros e essa diferença é boa. Em nossa diferença é que se revela a beleza da multiforme graça de Deus.

Que tal para de tentar “consertar” o irmão para ele ficar parecido com o que você gosta e reconhecer que a unidade do Espírito é ainda mais bela porque acontece no meio de pessoas diferentes?

Além disso, se existir algo a ser “consertado” no irmão, é melhor deixar isso para o Espírito Santo de Deus. Ele é mestre nesse ofício.

(2) Resolver logo todo e qualquer desentendimento entre nós

A segunda dica é resolver os conflitos com rapidez. Não deixar acumular problemas sem resolvê-los. Infelizmente esse NÃO é um hábito em nossa cultura. Quase sempre preferimos “deixar a coisa se resolver sozinha”; o que raramente acontece. Mas essa atitude só atesta a limitação que temos para tratar e resolver nossos desentendimentos. Revela nossa imaturidade.

Jesus deixou algumas diretrizes sobre a solução de conflitos que podem nos ajudar a sair da meninice e caminha para a maturidade. Vejamos:

Mateus 18: 15-17
Se você tem algo contra seu irmão...

Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.

(1) Procure-o em particular, só você e ele, e diga claramente o que está lhe incomodando;
(2) Conte o seu caso para uma ou duas pessoas maduras na fé e procure o irmão novamente junto com elas.
(3) Leve a situação para o grupo maior e exponha novamente a queixa.
(4) Espere em oração que o Espirito de Deus convença o irmão de que sua queixa é justa.

Mateus 5:23,24
Se você sabe que seu irmão tem algo contra você.

Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.

(1) Pare todas as suas atividades (inclusive religiosas) e priorize a solução do conflito;
(2) Procure de toda forma que estiver ao seu alcance fazer as pazes com ele.

Efésios 4:26
Se você ficou com muita raiva (ira) de alguém.

Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira,

(1) Não permita que a ira se transforme em rancor e depois em raiz de amargura. Trate o problema tão logo seja possível.


Vamos juntar tudo agora

Por quê todo esse cuidado nas Escrituras encorajando a gente a resolver logo e de forma eficiente os desentendimentos entre nós? Por que só assim podemos manter os frágeis laços de paz entre nós e assim preservar a unidade do Espírito.

E por que é importante que haja paz entre nós? Por que só com um clima de paz é possível oferecer suporte aos nossos irmãos, para que a vida deles seja tudo aquilo que Deus planejou para ele.

E qual o resultado disso? O resultado é que assim o evangelho será vivido entre nós nas coisas simples da vida, apresentando um testemunho poderoso em nossa cidade. As pessoas verão que somos filhos de Deus, ficarão impressionadas como o nosso modo de viver e desejarão saber mais sobre o Deus a quem servimos.

O chamado de Deus para nossas vidas está nas coisa simples do dia-a-dia. Não há mágicas, não há rezas e mantras, não há poderes cinematográficos, não há fórmulas. O que há é o chamado desafiador de Deus para confiarmos que ele nos ajudará a viver de forma digna com a nossa vocação, o nosso chamado. Ele nos ajudará a viver vidas bonitas que honram a Ele e dão testemunho do seu poder.



[1] Edição Pastoral.
[2] A Mensagem.

Aceitem-se uns aos outros... Como Cristo os aceitou



Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rom 15:7 

INTRODUÇÃO

Os primeiros anos da vida da Igreja de Jesus foram marcados, entre outras coisas, pela tensão entre os convertidos de origem judaica e os demais convertidos (chamado pelo judeus de gentios).

Os apóstolos que estiveram com Jesus (Pedro, Tiago, etc) durante os seu ministério se voltaram para a pregação e o ensino aos judeus, enquanto Paulo, que foi alcançado por Cristo depois, voltou-se para o mundo não judeu. Através de suas viagens, foi principalmente Paulo que levou ao resto do mundo a mensagem do evangelho de Cristo: que Deus estava disposto a receber as pessoas em Sua família adotando-as como seus filhos mediante a fé em Jesus Cristo.

Acontece que a pregação de Paulo não era completamente aceita por alguns seguidores de Jesus de origem judaica. Eles entendiam que os costumes e as leis que faziam parte do judaísmo há séculos também deveriam ser observados pelos seguidores de Jesus, mesmo se eles não fossem judeus.

Uma das questões que eram debatidas entre eles era sobre o tipo de comida que era permitido comer. Em volta dos templos pagãos havia um intenso comércio de carnes oriundas dos sacrifícios aos seus deuses, e os seguidores de Jesus de origem judaica acreditavam que era errado, um pecado mesmo, comer daquela carne; por outro lado, muitos seguidores gentios não pensavam dessa forma e achavam normal comprar e comer da carne sacrificada aos ídolos. 

Foi nesse contexto de tensão que Paulo afirmou no capítulo 14 que não fazia sentido rejeitar o irmão por causa daquilo que ele come ou bebe, porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Em vez disso, eles deveriam respeitando as diferenças que existiam entre eles.

A notícia bombástica do evangelho pregado por Paulo era que tanto os judeus que rejeitaram o Messias e o crucificaram quanto os gentios quem nem sabiam da existência de um salvador, foram acolhidos por Cristo.

Ora, se Cristo, o filho de Deus, aceitara a todos não havia motivos para eles se rejeitarem mutuamente. Paulo, então, conclui no verso 7 do capítulo 15 (o nosso texto) pedindo aos irmãos de Roma que aceitem-se uns aos outros como Cristo nos aceitou.

Mas COMO foi que Cristo nos aceitou?

Quem gosta de estudar a língua portuguesa, a “Última flor do Lácio, inculta e bela”, como afirmou Olavo Bilac, sabe que os verbos são de grande importância na construção do nosso idioma. Eles indicam a ação que está acontecendo. Mas, arrisco-me a dizer que tão importante quando os verbos são os advérbios, capazes que são de qualificar as ações. Os advérbios dizem como, e isso pode fazer toda a diferença.

Por isso vou usar dois advérbios para esclarecer COMO fomos aceitos por Cristo:

ALTRUÍSTICAMENTE

Nossos dias são marcados por relações utilitárias. Muito do que fazemos é avaliado levando em conta o benefício que se pode obter com nossas ação. O primeiro COMO de nossa aceitação por Cristo é um contraponto dessa cultura: Cristo nos aceitou altruisticamente.

Para perceber esse COMO é preciso relembrar que Jesus nos convidou para andarmos com ele quando nós estávamos “mortos em nossos delitos e pecado”, isto é, não havia absolutamente nada de bom em nós capaz de dar razão a esse amor. Foi assim que fomos aceitos por Cristo, altruisticamente.

Você NÃO foi aceito porque é gente boa, cumpridor dos seus deveres, correto em suas obrigações. Não é nada disso! Você foi atraído por Deus, convencido pelo Espírito Santo e convidado pelo Filho a fazer parte da família de Deus sem que houvesse qualquer expectativa sobre sua bondade.

Vinde a mim todos os que estão cansado e sobrecarregados e eu os aliviarei... vinde a mim e encontrareis descanso para as vossas almas.

Esse convite singelo de Cristo deixa claro o tipo de pessoa que foi chamada para festa da salvação: gente cansada de si mesmo e sobrecarregada com as exigências religiosas; gente cuja a alma clama por alívio; gente falida e sem esperança; gente de quem não se espera nada em troca.

Meus irmãos, o fato de Cristo ter-nos aceitado assim, do jeito que nós somos e sem esperar nada em troca do seu amor, é um golpe mortal em qualquer esforço de justiça própria diante de Deus.

Se a salvação é uma grande festa, como ilustrou Jesus, você é um convidado ilustre que não fez absolutamente nada para receber esse convite. Você não está na festa de penetra ou por esforço próprio. Você foi convidado pelo dono da festa! Ele o chamou quando você estava exausto de tentar fazer a vida funcionar. Então ele tirou de sobre seus ombros os trapos de justiça própria, vestiu-lhe as roupas apropriadas da Graça e deu-lhe um lugar de honra. Tudo isso sem esperar absolutamente nada em troca!

Não importa seu passado obscuro, nem seu presente confuso. Quando você respondeu sim ao convite de Cristo, se tornou parte da grande família de Deus. A festa é para você!

Ao aceitar você assim, altruisticamente, Deus o está livrando do engano de achar que isso tudo tem alguma coisa a ver com seu esforço ou com algum mérito pessoal. É pura Graça precedida de misericórdia! Por isso, você não precisa continuar levando nas costas o fardo de “fazer por onde” ser aceito por Deus. Você está livre para viver a vida abundante que Ele preparou.

IRREVOGAVELMENTE

O segundo COMO da nossa aceitação por Cristo é Irrevogavelmente.
Ele nos aceitou de forma definitiva. Jesus não é o tipo de pessoa que primeiro acolhe e depois rejeita. A condição de filho que Ele lhe deu NÃO é revogável. Isso porque você foi aceito não com base naquilo que você é capaz de fazer, mas com base no amor do Pai por você, que não muda. Certa vez, Jesus afirmou:

Todo o que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. (...) Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia". João 6:37,40 

Essa aceitação irrevogável é maravilhosa! Ela nos deixa seguros, tranquilos e nos enche de gratidão. O amor de Deus não volta atrás!

Há muita gente por aí ensinando que o amor de Deus por nós vai e vem dependendo dos erros e acertos que cometemos na vida. Eles defendem a ideia de que nossa vida é constantemente pesada numa espécie de balança para ver se somos dignos de sermos aceitos por Cristo. Isso não é o evangelho de Jesus!

É claro que esse amor irrevogável de Deus jamais deve ser motivo para uma vida descomprometida com os valores do Reino. Ao contrário é um chamado para vivermos vidas bonitas, que honram esse amor.

Deus o aceitou irrevogavelmente porque Ele deseja que seu coração encontre paz e descanso por meio da confiança no amor dele por você; um amor que não volta atrás. Assim, você não precisa ficar com medo de ser expulso da festa porque quebrou um copo de cristal ou pisou no pé de alguém. Por causa desse amor irrevogável, você está livre para viver a vida abundante que Ele preparou para você.

CONCLUSÃO

Para concluir vamos voltar ao começo, por que acho que já encontramos nossa resposta para o COMO de nossa aceitação por Cristo e assim poderemos refletir melhor sobre as palavras de Paulo.

Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rom 15:7 

Cristo nos aceitou altruística e irrevogavelmente, isto é, o amor dele por nós não espera nada em troca nem desiste no meio do caminho. Será que podemos nos aceitar uns aos assim? É um grande desafio, mas temos a garantia de que o Senhor estará com a gente a cada passo.

Um dos aspectos desse desafio é rever a forma do nosso relacionamento com Deus. Se você guarda consigo resquícios das religiões baseadas na justiça própria, é possível que esse mesmo modo de se relacionar com Deus se reproduza nos seus relacionamentos com as pessoas.

Assim, quem acha que deve “fazer por onde” ser aceito por Deus guarda sua aceitação apenas para aqueles que considera dignos de serem  aceitos. Esse é o terrível jogo da justiça própria, em que andamos por aí com réguas para “medir” o esforço uns dos outros, para ver quem merece ser aceito. Nesse jogo, Graça e Misericórdia são palavras desconhecidas.

Basta que o irmão pise na bola uma vez para que seja colocado sob observação. Nas segunda pisada de bola, cartão amarelo. Na próxima, cartão vermelho! Tá fora do nosso grupo.

Permita-se ser transformado pela renovação da sua mente. Se Deus o aceitou sem esperar nada em troca, sabendo o seu estado de morte espiritual, que direito você tem de rejeitar seus irmãos em Cristo quando eles não correspondem as suas expectativas?

Entenda uma coisa: você e seu irmão podem pensar diferente, você pode não gostar do jeito com ele vive a vida... Discordar do jeito que ele age na igreja... Mas você não pode rejeitar aquele que Jesus aceitou. Ele é seu irmão porque foi gerado pelo mesmo Pai, não por uma questão de opção sua ou dele.

Vocês tem confiado em Jesus Cristo, e por isso todos vocês são filhos de Deus... Assim que não importa se são judeus ou gentios, se são escravos ou livres, ou se homens ou mulheres. Se estão unidos a Jesus Cristo, todos são iguais. Gl. 3:26,27 BLS

Outro aspecto do desafio de aceitar-nos uns ao outros como Cristo nos aceitou é a nossa inconstância. Jesus deixa bem claro que o amor dele por nós não tem volta. Por que o nosso amor pelas pessoas oscila tanto? Outra vez quero convidá-lo a refletir sobre a forma do seu relacionamento com Deus para só depois pensar sobre a maneira que você lida com as pessoas.

O ponto de partida novamente são as religiões baseada na justiça própria cujas crenças podem estar entranhada em sua mente. Se alguém acredita que o amor de Deus está condicionado aos seus “acertos”, é bem provável que sua espiritualidade seja uma verdadeira montanha russa, cheia de altos e baixos.

Li a Bíblia esta semana.... Deus me ama! A montanha sobe.
Gritei com minha mulher... Deus não me ama! A montanha desce.
Perdoei a traição de uma amigo... Deus me ama! A montanha sobe.
Menti para um cliente... Deus não me ama! A montanha desce.

Quem vive um relacionamento deste tipo com Deus, provavelmente reproduz a mesma coisa nos relacionamentos com as pessoas. E do mesmo jeito que se sente inseguro a respeito do amor de Deus, o amor que têm pelos irmãos é também instável e inconstante.

Permita-se ser transformado pela renovação da sua mente. O amor de Deus por você não tem volta. Cristo o aceita mesmo conhecendo o sobe e desce da sua vida. Esse amor de Deus é o combustível de que você precisa para aceitar seu irmão a despeito do sobe e desce da vida dele.

Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?

Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós.

Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: "Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro".

Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Rom 8:31-39 

Há um hino antigo que diz assim:

Não sei por que de Deus o amor
A mim se revelou,
Por que razão o Salvador
Pra si me resgatou.
Mas eu sei em quem tenho crido,
E estou bem certo que é poderoso
Pra guardar o meu tesouro
Até o dia final.

Aceite o amor gracioso e constante de Deus por você! Abasteça-se desse amor. Assim haverá amor de sobra para amar os irmãos.

Hoje é um dia especial. Você percebeu aspectos da sua vida com Cristo que precisam ser ajustados. Se você deseja iniciar uma nova fase na maneira como você se relaciona com Deus e com seus irmãos, venha até aqui para orarmos juntos e pedirmos a ajuda do Pai.

21 julho 2012

Conhecendo Deus pela experiência da fé


Percebi, se não estou enganado, que você considera como principal problema a ser enfrentado por uma pastoral comunitária a falta de respostas adequadas aos questionamentos apresentados. Certamente o despreparo das famílias e das comunidades de fé para lidar com algumas questões é preocupante.

No entanto, fico a pensar que é tão ou mais danoso ao amadurecimento da fé (e da imagem de Deus) a inclinação de famílias e comunidades de fé para oferecer respostas prontas, certas e muitas vezes fechadas ao diálogo. Penso que há um caminho árduo e com resultados recompensadores que tem sido desprezado: o da construção do conhecimento de Deus pela experimentação pessoal da fé. 
Explicando em partes: 

Construção: acho que o adolescente (principalmente ele, mas, de uma forma geral, todos nós também) carece de um espaço de reflexão sobre a fé "herdada" das gerações anteriores. O adolescente precisa construir sua própria fé, por mais doloroso que isso possa ser para ele e para aqueles que o cercam. Isso implica perguntar, indagar, questionar, duvidar e colocar em cheque todo seu sistema de fé, até então meramente copiado dos adultos que lhe serviram de referência.

Acontece que muitos dos adultos que deveriam lidar com tudo isso e agir como parceiros nessa construção são, eles mesmos, inseguros, têm pouca habilidade para interagir com questionamentos e foram ensinados a agir com guardiões da verdade, reprimindo todo e qualquer atitude que se pareça como ameaça ao status quo religioso que defedem.

No entanto, o único caminho para alguém se apropriar da fé, transformando-a em pessoal, é testá-la ele mesmo, esticá-la e virá-la pelo avesso até que ela se torne sua; caso contrário, será sempre a fé de outrem e estará sempre a um passo de ser abandonada.

Conhecimento de Deus: aqui acho que temos também um longo caminho a percorrer. Digo isso porque entendo que muitos de nós nos tornarmos experts em conhecimento SOBRE Deus, mas ignorantes quanto ao conhecimento DE Deus. Deus tem sido esquadrinhado, não experimentado; Ele é uma explicação (às vezes tosca), não uma companhia na caminhada.

Quando nos propomos a "encher" a mente de jovens e adolescentes com conhecimento sobre Deus, pensando que assim estamos fazendo o melhor para o seu bem, corremos o risco de estabelecer um padrão relacional ancorado na mera racionalidade, um padrão fragilíssimo para enfrentar o mundo em que vivemos.

Experimentação pessoal da fé: lembro-agora de Jó e sua afirmação: antes eu te conhecia de ouvir falar, mas agora meu olhos te vêem. Acho que Deus, por nos conhecer a fragilidade, acompanha nossos estágios de compreensão e experimentação da fé. Ele aguarda por nós e nos alcança com a linguagem que compreendemos dentro contexto que vivemos e nas limitações do nosso desenvolvimento. Infelizmente, não somos assim tão respeitosos com nossos irmãos e temos a perniciosa tendência de esperar e desejar respostas padronizadas.

Acho que precisamos permitir que jovens e adolescentes trilhem sua própria caminhada de fé e aprendam, cercados do carinho, fazendo suas próprias perguntas, questionando e enfrentando respostas maduras em ambientes tolerantes e sensíveis.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Contribuições teológico-pedagógicas para uma pastoral comunitária". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

Como se vive relacionamento com Deus?


Parece-me que a ênfase expansionista tem-nos levado a um ativismo sem precedente em torno de mega-eventos e em honra a personalidades. Isso ocorre em detrimento da necessidade básica de nos ensinarmos mutuamente, através do exemplo, como se vive uma vida de comunhão e relacionamento com Deus.

Ora, se Deus não é uma realidade experiencial para os discípulos de quem se espera maturidade, o que podemos esperar de jovens e adolescente? Se homens e mulheres com décadas de caminhada cristã são incapazes de apresentar sua fé em uma conversar informal de um contexto pluralista, o que vamos cobrar de nosso jovens e adolescentes?

Acho que são aqueles a quem Deus concedeu dons e autoridade que devem tomar a iniciativa de conduzir as comunidades de fé das quais participam à maturidade; e isso inclui especialmente os jovens e adolescentes. Penso que esse é o pensamento de Paulo ao afirmar:

"Ele concedeu dons de apóstolo, profeta, evangelista e pastor-mestre para treinar os seguidores de Cristo, para que haja um serviço de qualidade no corpo de Cristo, a igreja. Ele fez isso para que todos possam trabalhar juntos em perfeita harmonia e sintonia, numa resposta cheia de gratidão e dedicação eficiente ao Filho de Deus, como adultos plenamente maduros, plenamente desenvolvidos, plenamente cheio de vida, como Cristo. Chega de ser criança. Não dá para tolerar gente ingênua, bebezinho que são alvos fáceis dos impostores. Deus quer que cresçamos, conheçamos toda a verdade e a proclamemos em amor - à semelhança de Cristo, em tudo." Ef. 4:11-15 AM

É necessário que uma mescla equilibrada de conhecimento sobre Deus e conhecimento de Deus faça parte de nossa tarefa pedagógica. Precisamos ensinar (e aprender) como andar com Deus, não apenas a fazer uma lista de coisas a respeito dele. E precisamos começar "ontem", porque o amadurecimento não tem pressa. Gente não amadurece como banana.

Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Analfabetismo religioso e a mudança de imagem de Deus". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

19 julho 2012

Fé, família e igreja


Acho um risco colocar nos "lombos da igreja" uma responsabilidade que me parece ter sido delegada à família desde o tempos antigos da lei. É no contexto natural da vida, quando os dilemas e questionamentos de fé realmente surgem, que o ensino sobre quem é Deus e de como Ele se relaciona conosco toma corpo e pode ser experimentado por crianças, jovens e adolescente dentro dos limites da compreensão de cada um.

Um dos riscos que vejo quando despejamos a responsabilidade pela formação da vida de fé das crianças e adolescentes na "igreja" é a despersonalização dessa responsabilidade. Pais e mães, então, podem "descansar" porque a instituição igreja e seus programas educacionais darão conta do recado. Tenho visto muitas famílias fracassarem ao abdicar suas responsabilidades em favor da "igreja".

Outro risco que percebo é que, ao assumir a total responsabilidade quanto à educação religiosa de pais e filhos, a "igreja", através da atuação de seus líderes, pode produzir um processo de infantilização dos membros adultos da comunidade; pais e mães são esvaziados de seu inalienável papel pedagógico e se tornam meros coadjuvantes em um processo educacional que muito provavelmente será pautado pela dependência e submissão emocional aos líderes religiosos.

Por outro lado, acho que, como parte de uma comunidade de fé (E o que é um comunidade de fé, senão um agrupamento de famílias?) todos somos responsáveis uns pelos outros. Isso porque nossos exemplos de vida e a maneira como nos relacionamos com Deus e uns com os outros está efetivamente construindo os referenciais da vida de fé de nosso filhos.

A mim, parece-me razoável compreender a comunidade de fé como cooperadora com a família, mas nunca como responsável pela formação de fé de crianças e adolescentes. Se há uma responsabilidade pedagógica realmente a ser exercida no contexto do Corpo de Cristo, diz respeito à preparar-nos mutuamente para a autonomia e a liberdade em Cristo que advém de um relacionamento sadio com Deus.




Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Vitimização e desigualdades são faces da mesma moeda". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

Inclusão e controle


Um aspecto que considero positivo é exatamente a clarificação da terrível estratégia de exclusão generalizada para assumir o controle do processo de inclusão. Transformar em situação padrão a não participação (exclusão) das pessoas no bem-estar que Deus, a partir dos recursos naturais, franqueou a todos e em seguida se apresentar como quem inclui os excluídos (é claro que conforme seus próprios critérios) é uma estratégia de controle e manutenção de poder; não se trata de situação restrita aos sistemas políticos e modos de produção.

A mesma situação acontece no contexto da igreja quando o sacerdócio universal do crente é apagado do ensino prático da igreja, o sacerdotalismo (católico e evangélico) é considerado como padrão, e, em seguida, os sacerdotes-pastores apresentam políticas de inclusão e participação dos leigos. Como assim "inclusão"? O véu do templo foi rasgado de cima abaixo? A exclusão não foi banida da cruz e essa coisa de clero/laicato não foi partida em pedaços no gólgota? No entanto, são considerados avançados e beneméritos os sacerdotes que incluem os leigos. E aqueles que trabalham em prol da inclusão 
são os visionários, mesmo reforçando o paradigma de controle e poder .

Essa mesma estratégia leva alguns servidores públicos a criarem dificuldade para vender facilidade. O cidadão tem direitos assegurados em lei mas os desconhece (ou insanamente não se importa com eles). Os direitos, então, são "apagados" da relação servidor-cidadão como forma de controle da situação e manutenção de poder. A partir daí o servidor público que "conceder" aqueles mesmo direitos passa a ser "o cara" (mesmo tendo ele extirpado o direito do cidadão, concedendo-o em conta-gotas conforme o seu próprio critério). Os espertos, então, são aqueles que conhecem a pessoa certa para fazer-lhes um favor (reforçando o falso paradigma de controle e poder).

De forma idêntica, se a Diaconia, no contexto da fé cristã, esquecer que seu trabalho é restabelecer o direito natural ao bem-estar (a despeito dos regimes e políticos e modos de produção) e transformar-se em mero benfeitor da estratégia sistêmica de manutenção de poder pela pseudoinclusão, estaremos tão somente reproduzindo o modelo deste mundo; isso sim é mundanismo.

Jesus alertou seus discípulos que começavam a disputar o poder no colégio apostólico dizendo que o modo de ver o outro que se tornou padrão neste mundo é o da dominação, mas que no Reino dele é diferente; a relação que tem valor é a do serviço mútuo, porque essa é coerente com o direito natural de bem-estar concedido ao ser humano e que estava na mente do criador.


Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Diaconia e Cuidado" tendo como assunto "A nova mentalidade do 'moderno colonizado' ". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.