Rogo-vos, pois, eu, o
prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes
chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos
uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade
do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também
fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé,
um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de
todos e está em todos. Efs 4:1-6
“Rogo-vos,
pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que
fostes chamados...”
Paulo
estava preso
quando escreveu esta carta aos irmãos que moravam na cidade de Éfeso. Ele fora preso porque se declarou um seguidor de
Jesus. Sem poder continuar as viagem que fazia visitando as igrejas, ele
recorreu às cartas, o único meio de
comunicação à distância de que dispunha.
Logo no começo desse capítulo, ele pede aos
irmãos que vivam de forma digna,
isto é, que sejam coerentes, com o chamado que receberam de Deus. Aqui parece
claro o pensamento do apóstolo de que o
evangelho é um chamado para viver a vida. Ele estava preso, mas os irmão em
Éfeso estavam livres para experimentar o Evangelho de Cristo nas pequenas
coisas da vida. Assim como eles, nós também estamos livres para...
·
Ir
à feira ou ao supermercado;
·
Levar
as crianças para a escola;
·
Comer
pizza com os amigos;
·
Trabalhar
e ganhar o sustento;
·
Visitar
um parente que adoeceu;
·
Ir
ao banco pagar contas;
·
Ajudar
na mudança de um amigo;
·
Jogar
bola no campinho;
·
Participar
de uma reunião de pais e mestres.
De fato, a
vida é feita de coisas como essas, simples e corriqueiras. Por isso a vida
com Cristo não é só entender coisas,
mas principalmente experimentar a graça
de Deus no dia-a-dia; é viver esses momentos simples de maneira que nossas
ações sejam coerentes com o jeito de Cristo pensar.
“...com
toda a humildade e mansidão, com longanimidade...”
Há vários modos de agir que são esperados dos
seguidores de Cristo enquanto estamos envolvidos nas coisas simples da vida.
Paulo começa o verso 2 destacando
três: humildade, mansidão e longanimidade.
Humildade
Mansidão – Dócil –
Amável – Educado - Brandura
Longanimidade –
Paciente – Sem desanimar – Pavio Curto
Agora você deve resistir à tentação de listar
na sua mente as pessoas que deveriam ser humildes, mansas e pacientes. Você não
pode fazer quase nada por elas. Portanto, olhe
para você mesmo: essas marcas estão presentes em sua vida?
“...suportando-vos
uns aos outros em amor...”
Para que precisamos
de Humildade, Brandura e Pavio Longo?
O
texto parece deixar claro: para suportar os irmãos, amigos, familiares, colegas
de trabalho, vizinhos... Realmente tem alguns irmãos que são difíceis de
aguentar, não é?
Neste
ponto eu gostaria de ajudá-lo a corrigir um engano muito comum na compreensão
deste texto. Segundo os estudiosos da língua grega, suportar aqui não é
aguentar no sentido de tolerar, mas dar suporte, apoio, sustentação. São dois
significados bem diferentes.
Pesquisei
a palavra que Paulo usou (anechomai)
e foi traduzida por “suportar” e veja o que encontrei: uma empresa de
assessoria. A Anechomai Assessoria, Consultoria e Treinamento tem sede em
Curitiba/PR e se propõe a oferecer aos seus clientes suporte na área de
informática. O objetivo da Anechomai é facilitar a vida de outras empresas
ajudando na solução de problemas e fornecendo as melhores saídas para que elas
façam o trabalho delas com qualidade. Eles não se propõem a aguentar clientes
chatos, mas a apoiá-los
Então,
quando Paulo nos encoraja a suportar uns aos outros, ele NÃO está dizendo para
aguentar o irmão, como quem prende o nariz quando passa por um fedor. Ele está
dizendo que devemos apoiar-nos para que nossas vidas sejam menos complicadas e
cada um de nós possa realizar tudo aquilo que Deus Planejou.
Os
resultados podem ser bem diferentes, dependendo do jeito que a palavra suportar
é compreendida. Veja:
Quando
suportar é aguentar o fedor do outro... humildade, brandura e pavio curto são
para nós mesmos, para nosso benefício pessoal, pra gente aguentar o outro. Isso
produz pessoas egoístas, que veem a
vida girando em torno de si.
Quando
suportar é apoiar... humildade, brandura e pavio curto são em benefício do
outro, para descomplicar a vida dele e ajudá-lo em suas dificuldades. Isso
produz pessoas altruístas, capazes
de agir em benefício dos outros porque o mundo não gira em torno deles.
“...esforçando-vos diligentemente
por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz...”
No verso 3, Paulo continua
falando com o irmãos que moravam em Guarabira, quer dizer, em Éfeso. Ele diz
àqueles irmãos que se eles agirem com humildade, brandura e cultivarem um pavio
longo, ele irão preservar a unidade do Espírito.
De que unidade Paulo
estava falando?
Lendo
os versos seguintes, parece que ele está dizendo que existem coisas em comum
entre nós. Coisas que não fomos nós que produzimos, mas que foram realizadas
pelo Espírito de Deus:
·
Ele
nos fez um corpo (o de Cristo);
·
Ele
nos deu uma esperança (a da vida eterna);
·
Ele
nos fez servos do mesmo Senhor;
·
Ele
nos deu a mesma fé e nos colocou juntos;
·
Ele
nos fez filhos do mesmo Deus.
A
unidade do povo de Deus não é obra minha ou sua. Nenhum líder ou liderado, por
mais carismático ou agradável que seja, pode produzi-la, porque ela é obra do
Espírito de Deus.
Nós
nos chamamos de irmãos porque fomos gerados pelo mesmo pai, não é porque frequentamos
o mesmo culto ou porque seja sempre agradável estarmos na companhia um dos
outros. Irmão se desentendem, mas sabem que têm o mesmo sangue correndo nas
veias e por isso sempre serão irmãos. Não têm o direito de renegarem um ao
outro. Então, veja só: é por isso que Paulo fala que a unidade é DO ESPÍRITO.
Mas como podemos
fazer isso?
O
texto diz: estabelecendo vínculos de paz entre nós. Ou como fala em outra
tradução, “mantendo entre vocês laços de paz”[1].
A
unidade entre nós NÃO será mantida por meio dos nós apertados da opressão, do medo, da manipulação, da agressão ou
da ameaça. Não! É verdade que os nós apertam, mas também machucam. A unidade
entre nós será mantida pela fragilidade dos laços de paz.
Como estabelecer e preservar
os belos e frágeis laços de paz entre nós?
Uma
outra tradução[2]
desse verso 3 nos dá duas boas dicas: (1) considerar que somos diferente uns
dos outros e (2) resolver logo todo e qualquer desentendimento entre nós.
(1) Considerar que somos diferente uns dos outros
Parece
que uma das maiores fontes de conflito nos relacionamentos é nossa vontade de
que os outros sejam iguais a nós, de que eles ajam do jeito que agimos, falem
como falamos, pensem parecido conosco, enfim, queremos que os outros não sejam
eles mesmos, mas não abrimos mão de sermos quem somos.
Precisamos
reconhecer nossa diferenças.
Enquanto
um é mais preocupado com organizar coisas outro se dedica mais às pessoas;
enquanto um gosta de estudar a bíblia outro prefere cantar, uns são sérios
outros sorridentes, uns são determinados outros são precavidos, uns oram
silenciosamente outros choram e clamam. Somo diferentes uns dos outros e essa
diferença é boa. Em nossa diferença é que se revela a beleza da multiforme
graça de Deus.
Que
tal para de tentar “consertar” o irmão para ele ficar parecido com o que você
gosta e reconhecer que a unidade do Espírito é ainda mais bela porque acontece
no meio de pessoas diferentes?
Além
disso, se existir algo a ser “consertado” no irmão, é melhor deixar isso para o
Espírito Santo de Deus. Ele é mestre nesse ofício.
(2) Resolver logo todo e
qualquer desentendimento entre nós
A
segunda dica é resolver os conflitos com rapidez. Não deixar acumular problemas
sem resolvê-los. Infelizmente esse NÃO é um hábito em nossa cultura. Quase
sempre preferimos “deixar a coisa se resolver sozinha”; o que raramente
acontece. Mas essa atitude só atesta a limitação que temos para tratar e
resolver nossos desentendimentos. Revela nossa imaturidade.
Jesus
deixou algumas diretrizes sobre a solução de conflitos que podem nos ajudar a
sair da meninice e caminha para a maturidade. Vejamos:
Mateus 18: 15-17
Se
você tem algo contra seu irmão...
Se teu irmão pecar contra ti,
vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se,
porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo
depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele
não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja,
considera-o como gentio e publicano.
(1) Procure-o em
particular, só você e ele, e diga claramente o que está lhe incomodando;
(2) Conte o seu caso para
uma ou duas pessoas maduras na fé e procure o irmão novamente junto com elas.
(3) Leve a situação para
o grupo maior e exponha novamente a queixa.
(4) Espere em oração que
o Espirito de Deus convença o irmão de que sua queixa é justa.
Mateus 5:23,24
Se
você sabe que seu irmão tem algo contra você.
Se, pois, ao trazeres ao altar
a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão;
e, então, voltando, faze a tua oferta.
(1) Pare todas as suas
atividades (inclusive religiosas) e priorize a solução do conflito;
(2) Procure de toda forma
que estiver ao seu alcance fazer as pazes com ele.
Efésios 4:26
Se
você ficou com muita raiva (ira) de alguém.
Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira,
(1) Não permita que a ira
se transforme em rancor e depois em raiz de amargura. Trate o problema tão logo
seja possível.
Vamos juntar tudo
agora
Por
quê todo esse cuidado nas Escrituras encorajando a gente a resolver logo e de forma eficiente os desentendimentos entre nós?
Por que só assim podemos manter os frágeis laços de paz entre nós e assim
preservar a unidade do Espírito.
E
por que é importante que haja paz entre
nós? Por que só com um clima de paz é possível oferecer suporte aos nossos
irmãos, para que a vida deles seja tudo aquilo que Deus planejou para ele.
E
qual o resultado disso? O resultado é que assim
o evangelho será vivido entre nós nas coisas simples da vida, apresentando
um testemunho poderoso em nossa cidade. As pessoas verão que somos filhos de
Deus, ficarão impressionadas como o nosso modo de viver e desejarão saber mais sobre o Deus a quem servimos.
O
chamado de Deus para nossas vidas está nas coisa simples do dia-a-dia. Não há
mágicas, não há rezas e mantras, não há poderes cinematográficos, não há
fórmulas. O que há é o chamado desafiador de Deus para confiarmos que ele nos ajudará a viver de forma digna com
a nossa vocação, o nosso chamado. Ele nos ajudará a viver vidas bonitas que
honram a Ele e dão testemunho do seu poder.
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