Arrependimento para Santificação - Parte 1
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016
Em
nossos dois encontros, hoje pela manhã e à noite, vamos refletir juntos, e com
a ajuda do Espírito Santo de Deus, sobre o arrependimento e suas implicações no
processo de santificação dos discípulos de Jesus.
Eu
espero que você permaneça atento e acompanhe comigo esse maravilhoso e
importante ensino das Escrituras, para assim colher frutos preciosos em sua
vida, na vida de sua família e na vida de sua igreja.
Bom,
a abordagem mais comum sobre arrependimento é sobre o papal que ele tem naquilo
que costumamos chamar genericamente de conversão (ou aceitar a Jesus, ou se
entregar a Jesus). Essa abordagem será feita nas outras pregações, quando será
tratada com detalhes. Portanto falarei sobre isso apenas o suficiente para
introduzir o assunto. Em seguida falaremos sobre a relação entre arrependimento
e santificação.
Arrependimento e Salvação
A
verdade é que arrependimento está fora de moda. Ninguém mais deseja se
arrepender. O que ouvimos o tempo todo é que devemos viver a vida de forma
intensa, fazendo tudo que tivermos vontade, para depois não lamentarmos por não
ter curtido tudo que a vida tem para oferecer. Arrependimento parece uma coisa
triste e está definitivamente fora de moda.
Hoje,
quanto alguma tristeza ronda nossas mentes, talvez por causa de algo que nossa
consciência não está em paz, rapidamente muitas vozes se levantam (no Face, no Whatsapp ou ao vivo mesmo) para dizer que não devemos dar espaço
para esses sentimentos negativos, e que arrependimento a gente só deve ter
pelas coisas que não fez; o resto faz parte da vida. Será que esse ensino facebokiano está de acordo com as
Escrituras?
Se
olharmos para as Escrituras e para a história da Igreja, veremos que, na
verdade, o arrependimento é uma disciplina espiritual tão importante que nenhum
cristão tem o direito de desconhecer os seus elementos e as armadilhas cercam
as mentiras e equívocas que cercam esse assunto.
Penso
que nosso olhar sobre o arrependimento, atualmente, é, de certa forma,
simplista. Não sabemos muito bem o que ele significa nem como ele pode
acontecer. Sabemos que as pessoas devem se arrepender para serem salvas, mas
nossa compreensão sobre arrependimento e nossa experimentação pessoal é quase
sempre limitada.
Thomas Watson, um pregador e
pastor inglês do século XVII, escrevendo sobre arrependimento, identificou ao
menos seis diferentes fases desse processo. Segundo ele, para que um verdadeiro
arrependimento aconteça, é necessário:
Percepção do
pecado
Tristeza pelo
pecado
Confissão de pecado
Vergonha pelo
pecado
Ódio pelo pecado
Converter-se do
pecado
D. L. Moody, um dos maiores
evangelistas norte-americanos do século XIX, em uma de suas pregações, escreveu
o que poderia ser chamado de 5Cs do arrependimento:
Convicção de
pecado
Contrição pelo
pecado
Confissão de
pecado
Conversão do
pecado
Confissão de
Cristo
A
verdade é que há muito a aprender sobre arrependimento a fim de não nos
tornamos evangelistas rasos. O desconhecimento da natureza humana e da própria
pecaminosidade muitas vezes nos torna incapazes de desafiar as pessoas a
mudarem o rumo de suas vidas.
Quem
não experimentou arrependimentos verdadeiros em sua própria vida dificilmente
será capaz de desafia outras pessoas ao verdadeiro arrependimento.
Arrependimento e santificação
Pode
ser algumas pessoas só consigam ver o arrependimento como algo que acontece
àquele que não é cristão, para que a pessoa seja salva. Mas essa é uma visão
limitada do que arrepender-se.
O
profeta Isaías registrou uma afirmação que Deus fez sobre arrependimento que
deve chamar nossa atenção para o fato de que arrependimento é parte da
caminhada de todos aqueles que seguem o Senhor.
“No
arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na
confiança está o seu vigo, mas vocês não quiseram.” (Is 30;15)
Para
quem o profeta Isaías escreveu esse recado do Senhor? Teria sido para nações
incrédulas, um povo que não temia ao Senhor? Não! Isaías estava falando com o
povo de Deus.
Lendo
o começo desse capítulo, é possível constatar que a fala do Senhor era para os
seus “filhos obstinados... que executam planos que não são os meus, fazem
acordo sem minha aprovação, acumulando pecado sobre pecado.” Is. 30.1
Um
outro profeta, chamado João Batista, começou o seu ministério com um apelo ao
arrependimento:
“Arrependam-se,
porque o Reino dos Céus está próximo.” Mt. 3.2
Com
quem João Batista estava falando? Seria com os romanos? Não! Ele estava se
dirigindo ao povo de Deus, que temia ao Senhor. Um povo que conhecia as
profecias e aguardava a vinda do messias prometido.
D. L. Moody, falando sobre o
arrependimento disse o seguinte:
“Eu
tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em
qualquer época anterior, e penso que a maioria dos Cristãos precisa se
arrepender de alguma coisa.”
A
conclusão a que podemos chegar, então, é que arrependimento deve fazer parte da
vida do povo de Deus como uma prática cotidiana, assim como o pecado é
cotidiano. Ao mesmo tempo precisamos descobrir como o ato de arrepender-se pode
ser importante para nossa caminhada com Cristo.
Faces escuras do arrependimento
Tim Keller, pastor e
escritor norte-americano, escreveu um texto, traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto e publicado no site monergismo.com, que pode nos ajudar a
descobrir o papel e a importância do arrependimento no progresso da vida
cristã.
Ele
nos relembra que o arrependimento não é uma exclusividade daqueles que seguem a
Jesus. Entre aqueles que simplesmente praticam uma religião também ocorrem
arrependimentos. A diferença está no propósito, no objetivo que se tem ao
arrepender-se.
Keller
explica que para os religiosos o arrependimento é basicamente um meio de
“manter Deus feliz”, de forma que Ele continue te abençoando e respondendo suas
orações. Já para os seguidores de Jesus, que abraçaram o seu evangelho e foram
definitivamente salvos por ele, o arrependimento tem como propósito manter viva
a alegria do nosso relacionamento com Ele.
Esse
arrependimento religioso é uma tentação que sempre nos rodeia. Precisamos
rejeitá-lo, porque esse tipo de arrependimento é egoísta, promotor de justiça
própria e amargo (até o fim).
UMA NOTA: religioso é
aquele que faz aquilo que é certo, mas pelas razões errada. Religioso é aquele
que ser esforça para viver uma vida correta, porque pensa que assim vai
acumular créditos com Deus, e ganhará o direito de pedir o que quiser para ele.
Vejamos um desses religiosos em ação na história contada por Jesus no evangelho
de Lucas 18.9-12.
9 E disse também a uns, que tinham confiança de si
mesmos que eram justos, e desprezavam aos outros, esta parábola: 10 Dois
homens subiram ao Templo para orar, um fariseu, e o outro cobrador de impostos. 11 O
fariseu, estando de pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço,
porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem [sou]
como este cobrador de impostos. 12 Jejuo duas vezes por semana, [e] dou dízimo de tudo
quanto possuo. [BL]
Com
olhos atentos a esta história, vamos refletir sobre algumas faces escuras do
arrependimento, quando ele é praticado por motivos religiosos, como no caso
desse fariseu.
Egoísmo
Uma
das faces escuras desse arrependimento religioso, é a preocupação do religioso
consigo mesmo. Tomado pelo egoísmo, o religioso fica triste não pelo pecado em
si, mas por causa do medo que tem de sofre alguma consequência, ser punido, perder
alguma bênção ou coisas do gênero.
O
arrependimento religioso é aquele que fala mais sobre si mesmo que sobre a
graça de Deus; pensa mais em se dar bem que em agradecer a Deus, está mais
preocupado na sua imagem diante de deus que na visão de um Deus maravilhoso que
o amou.
Veja
que o fariseu estava tão focalizado em si que em sua oração só consegui falar
dele mesmo e de suas conquistas.
Justiça própria
Além
do egoísmo, outra das faces escuras desse arrependimento religioso é a justiça
própria. Tim Keller alerta que, muito facilmente, o arrependimento pode se
tornar uma espécie de “expiação” pelo pecado.
É
fácil ver isso na fala do fariseu. A oração dele é quase uma exposição de
motivos pelo quais ele deve ser reconhecido por Deus e pelos outros como alguém
digno, honesto e cumpridor de suas obrigações. Ele não precisa da graça de
Deus. Ele mesmo já fez tudo.
Da
mesma forma algumas pessoas se arrepende, mudam de comportamento e até se
tornam cidadãos de bem, porque acham que é assim que Deus vai aceita-los. O
arrependimento dessas pessoas é uma tentativa de zerar as contas com Deus. Esse
não é o arrependimento de que fala o evangelho de Cristo.
Juntando
o começo e o final desse texto, talvez fique ainda mais claro o abismo para
onde que esse tipo de arrependimento pode nos levar:
“E
disse também a uns que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e
desprezavam os outros... Eu lhes digo que este homem (publicano), e não o outro
foi para casa justificado diante de Deus.” Lc. 18.9,14
Ao
contrário dos religiosos que confiam em si mesmos e tentam convencer Deus de
que são justos e bons, os seguidores de Jesus confiam no amor gracioso de Deus,
provado pela morte de Cristo e sabem que não justos, mas forma justificados
pelo sangue de Cristo.
Amargo até o fim
Esse
arrependimento religioso, além de ser egoísta e buscar, na maioria das vezes,
justiça própria, torna as pessoas inseguras e tensas, com um gosto amargo na
boca. Como é isso?
Quem
decidir viver uma vida perfeita para agradar a Deus e ser aceito por ele, logo
vai perceber que isso não é nada fácil. Na verdade, é impossível. Mas o
religioso, sobretudo o brasileiro, não desiste nunca. Então, a cada novo pecado
que surge em sua vida ele se arrepende e no fundo de sua alma afirma para si
mesmo que essa foi a última vez. Com o tempo, a ocorrência do pecado e a
necessidade de arrependimento se torna um desconforto e, por fim, um peso
insustentável de tristeza e amargura.
Para
quem pratica o arrependimento religioso, isto é, para quem muda de
comportamento apenas como objetivo de ser aceito por Deus, cada ocorrência de
pecado e arrependimento se torna traumática, anormal e ameaçadora para sua
saúde espiritual.
É
muito difícil para uma pessoa que vive à base de arrependimentos religiosos
admitir que pecou, pois a esperança do religioso é um dia ser declarado por
Deus uma pessoa de coração bom, talvez alguém que suplantou o pecado. Mas o que
dizem as Escrituras sobre isso? Vejamos na carta escrita pelo apóstolo do amor,
João.
8 Se
afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não
está em nós. 9 Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos
pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos
que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra
não está em nós.
1 MEUS
FILHINHOS, estou lhes dizendo isto a fim de que vocês fiquem longe do pecado.
Mas se vocês pecarem, existe alguém para rogar por vocês diante do Pai. O nome
dele é Jesus Cristo, Aquele que é tudo quanto é bom e que agrada completamente
a Deus. 2 Ele foi quem levou sobre si a ira de Deus
contra os nossos pecados, e nos trouxe à comunhão com Deus; e Ele é o perdão
para os nossos pecados, e não somente os nossos, mas os do mundo inteiro.
Se
a nossa esperança é nossa capacidade de fazer as coisas certas e sermos, por
fim, considerados justos, admitir nossas fraquezas e deslizes pode ser um
sofrimento atroz, um verdadeiro amargor.
Mas
no evangelho nossa esperança está na justiça de Cristo e em seu amor por nós.
Por isso, para quem pratica o arrependimento conforme o evangelho,
arrepender-se não é dolorido nem penoso. Claro que sempre há tristeza pelo
pecado cometido, mas o entendimento de que já fomos alcançados pela graça de
Deus nos faz ficar alegres, por causa do perdão concedido por ele.
Conclusão
O
arrependimento está no centro da dinâmica da vida cristã. Quanto mais maduros
estamos em nossa fé, tanto mais facilmente nos arrependemos de nossos pecados.
O
cristão amadurecido é aquele que já não tem ilusões sobre si mesmo; que conhece
a maldade de seu próprio coração e sabe que nada adiante negar ou justificar os
seus pecados.
O
seguidor de Jesus que está crescendo em direção à estatura de varão perfeito, à
imagem de Cristo, é aquele de coração quebrantado, que ser arrepende fácil, que
sem barreiras e com a frequência necessária reconhece seu pecado, se contrista
por causa disso, confessa os pecados cometidos, se converte e, por fim confessa
Cristo como a única esperança guarda em seu coração.
Que
o Senhor mesmo nos ajude nessa jornada.