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27 abril 2025

 


Pedro

Pedro era intenso. Ele era daqueles que falam o que sentem, que prometem sem pensar duas vezes, que lideram com o coração. Sua história é marcada por uma série de contrastes que soam bem familiares: promessas feitas com fervor… seguidas por ações que fraquejam; intenções verdadeiras… travadas por impulsos humanos; amor sincero… ofuscado pelo medo e pela vergonha.

E caiu feio, mas não porque era fraco. A questão é que ele se achava forte demais. E sim, ele traiu Jesus, negando que o conhecesse, mas não era porque o amor dele por Jesus fosse uma farsa — ele confiava demais em si mesmo, na própria lealdade, no próprio desempenho. E isso nos ensina algo poderoso: quando nossa autoconfiança não passa pela cruz, ela vira armadilha e nos faz vestir máscaras, assumir poses que não conseguimos sustentar, e construir uma fé apoiada em areia movediça.

A gente vive pressionado a parecer forte, eficiente, resolvido, brilhante. Mas Jesus não está pedindo nada disso. A cruz aponta outro caminho — o da vulnerabilidade que se rende, da fraqueza que se entrega, da coragem de dizer: 
“Senhor, eu preciso da Tua graça. Sem Ti, eu caio.”

Quando a coragem é insuficiente

Pedro sempre se destacou entre os discípulos como aquele que tomava a dianteira. Era ousado, decidido, corajoso. Ao ouvir que Jesus iria para um lugar onde eles não poderiam segui-lo imediatamente, Pedro prontamente respondeu: “Darei a minha vida por ti!” (João 13:37). Suas palavras revelavam um coração comprometido, mas também uma confiança excessiva em sua própria disposição e força moral.

Richard Bauckham, ao analisar essa cena no capítulo 3 de Ao Pé da Cruz, destaca que Pedro, como muitos discípulos de Jesus, ainda não percebera que os passos do Mestre em direção ao seu Reino não se dariam por bravura ou pela força da lealdade emocional, mas pela entrega à cruz — algo que desconcertava até os mais próximos. Pedro, ainda preso a concepções heroicas de fidelidade, não estava preparado para enfrentar o escândalo da cruz.

Aliás, o evangelho de João mostra que, mesmo antes da negação, Pedro já revelava sua incompreensão sobre o que significava realmente seguir Jesus. No Getsêmani, quando os soldados vieram prender o Mestre (João 18:10), ele saca uma espada e fere Malco, o servo do sumo sacerdote, numa tentativa desesperada de defender Jesus, no braço mesmo. Pedro queria proteger o Salvador com sua espada, quando o  caminho do próprio Jesus era o da rendição ao plano de Deus. A fidelidade que ele imaginava oferecer a Cristo não estava enraizada na cruz, mas no heroísmo impulsivo.

Em nossos dias, essa mesma atitude se repete em outras situações. Valorizamos o desempenho, a autoconfiança e a capacidade de vencer pelos próprios méritos. É um modelo de sucesso que exige força e resiliência. E, muitas vezes, esse padrão é importado para a vida cristã. Acabamos construindo uma fé medida pelo desempenho, onde depender de Deus não é algo popular e a coragem é confundida com espiritualidade. A questão é que, como aconteceu com Pedro, esse tipo de coragem não tem fundamentos sólidos e logo desmorona quando a pressão aumenta.