As Faces Escuras do Arrependimento
Introdução
Hoje
vamos refletir juntos, e com a ajuda do Espírito Santo de Deus, sobre o
arrependimento e suas implicações no processo de santificação dos discípulos de
Jesus.
Eu
espero que você permaneça atento e acompanhe comigo esse maravilhoso e
importante ensino das Escrituras, para assim colhermos frutos preciosos em nossas
vidas, na vida de nossas famílias e na vida de nossa igreja.
Bom,
a abordagem mais comum sobre arrependimento é sobre o papel que ele tem naquilo
que costumamos chamar genericamente de conversão (ou aceitar a Jesus, ou se
entregar a Jesus). Em outra oportunidade poderemos tratar com detalhes sobre
esse aspecto. Hoje, no entanto, nosso assunto é a relação entre
arrependimento e santificação.
Arrependimento e Salvação
É
inegável que arrependimento está fora de moda. Ninguém mais deseja se
arrepender. O que ouvimos o tempo todo é que devemos viver a vida de forma
intensa, fazendo tudo que tivermos vontade, para depois não lamentarmos por não
ter curtido tudo que a vida tem para oferecer. Arrependimento parece uma coisa
triste e está definitivamente fora de moda.
Hoje,
quando alguma tristeza ronda nossas mentes, talvez por coisas que nos tiram a
paz e incomodam a consciência, rapidamente muitas vozes se levantam (no Face, no Whatsapp, no Twitter ou ao vivo mesmo) para dizer que não devemos
dar espaço para esses sentimentos negativos, e que arrependimento a gente só
deve ter pelas coisas que não fez; o resto faz parte da vida. Será que esse
ensino facebokiano está de acordo com
as Escrituras?
Se
olharmos com atenção para as Escrituras e para a história da Igreja, veremos
que, na verdade, o arrependimento é uma disciplina espiritual importante; tão
importante que nenhum cristão tem o direito de desconhecer os seus elementos e
as armadilhas, as mentiras e os equívocos que cercam esse assunto.
Penso
que nosso olhar sobre o arrependimento, atualmente, é, de certa forma,
simplista. Não sabemos muito bem o que ele significa nem como ele pode
acontecer. Sabemos que as pessoas devem se arrepender para serem salvas, mas
nossa compreensão sobre arrependimento e nossa experimentação pessoal é quase
sempre limitada.
Thomas Watson, um pregador e pastor inglês do século XVII,
escrevendo sobre arrependimento, identificou ao menos seis diferentes fases
desse processo. Segundo ele, para que um verdadeiro arrependimento aconteça, é
necessário:
Percepção do pecado
Tristeza pelo pecado
Confissão de pecado
Vergonha pelo pecado
Ódio pelo pecado
Converter-se do pecado
D. L. Moody, um dos maiores evangelistas norte-americanos do
século XIX, em uma de suas pregações, escreveu o que poderia ser chamado de 5Cs
do arrependimento:
Convicção de pecado
Contrição pelo pecado
Confissão de pecado
Conversão do pecado
Confissão de Cristo
A
verdade é que há muito a aprender sobre arrependimento a fim de não nos
tornamos evangelistas rasos. O desconhecimento da natureza humana e da própria
pecaminosidade muitas vezes nos torna incapazes de desafiar as pessoas a
mudarem o rumo de suas vidas.
Quem
não experimentou arrependimentos verdadeiros em sua própria vida dificilmente
será capaz de desafia outras pessoas ao verdadeiro arrependimento.
Arrependimento e santificação
É
possível que algumas pessoas só consigam ver o arrependimento como algo que
acontece àquele que não é cristão, para que a pessoa seja salva. Mas essa é uma
visão limitada do que é arrepender-se. O arrependimento está ligado diretamente
ao amadurecimento do discípulo de Cristo. Arrependimento e discipulado devem
andar sempre lado a lado.
O
profeta Isaías registrou uma afirmação que Deus fez sobre arrependimento que
deve chamar nossa atenção para o fato de que arrependimento é parte da
caminhada de todos aqueles que seguem o Senhor.
“No
arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na
confiança está o seu vigor, mas vocês não quiseram.” (Is 30;15)
Para
quem o profeta Isaías escreveu esse recado
do Senhor? Teria sido para nações incrédulas, um povo que não temia ao Senhor?
Não! Isaías estava falando com o povo de Deus. Lendo o começo desse capítulo, é
possível constatar isso, pois o Senhor se dirige para seus...
“filhos obstinados...
que executam planos que não são os meus, fazem acordo sem minha aprovação, acumulando
pecado sobre pecado.” (Is 30.1)
Um
outro profeta, chamado João Batista, começou
o seu ministério com um apelo ao arrependimento:
“Arrependam-se,
porque o Reino dos Céus está próximo.” Mt. 3.2
Com
quem João Batista estava falando? Seria com os romanos? Não! Ele estava se
dirigindo ao povo de Deus, que temia ao Senhor. Um povo que conhecia as
profecias e aguardava a vinda do messias prometido.
D. L. Moody, falando sobre o arrependimento disse o seguinte:
“Eu
tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em
qualquer época anterior, e penso que a maioria dos Cristãos precisa se
arrepender de alguma coisa.”
A
conclusão a que podemos chegar, então, é que o arrependimento deve fazer parte
da vida do povo de Deus como uma prática cotidiana; assim como o pecado é
cotidiano.
Por
isso, precisamos sondar nossas almas e descobrir as reais razões de nos
sentirmos arrependidos e, no caso de descobrirmos algum autoengano ou
entendimento equivocado das Escrituras, que o Senhor nos ajude hoje a
corrigi-los e assim recuperar toda a importância do arrependimento para nossa
caminhada com Cristo.
23 Examina-me,
ó Deus, observa o meu íntimo. Prova-me e analisa-me os pensamentos. 24 Vê tudo o que haja em mim de mau, e
conduz-me pelo caminho eterno! Sl
139. 23,24
As Faces Escuras do Arrependimento
Tim Keller, pastor e escritor norte-americano, escreveu um
texto, traduzido por Felipe Sabino de
Araújo Neto e publicado no site monergismo.com,
que pode nos ajudar a descobrir o papel e a importância do arrependimento no
progresso da vida cristã.
Ele
nos relembra que o arrependimento não é uma exclusividade daqueles que seguem a
Jesus. Entre aqueles que simplesmente praticam uma religião também ocorrem
arrependimentos. A diferença está no propósito, no objetivo que se tem ao
arrepender-se.
Keller
explica que para os religiosos o arrependimento é basicamente um meio de
“manter Deus feliz”, de forma que Ele continue te abençoando e respondendo suas
orações. Já para os seguidores de Jesus, que abraçaram o seu evangelho e foram
definitivamente salvos por ele, o arrependimento tem como propósito manter viva
a alegria do nosso relacionamento com Ele.
Esse
arrependimento religioso é uma tentação que sempre nos rodeia. Precisamos
rejeitá-lo, porque esse tipo de arrependimento é egoísta, promotor de justiça
própria e amargo (até o fim).
UMA NOTA: religioso é aquele que faz aquilo que é certo, mas
pelas razões errada. Religioso é aquele que ser esforça para viver uma vida
correta, porque pensa que assim vai acumular créditos com Deus, e ganhará o
direito de pedir o que quiser para ele. Vejamos um desses religiosos em ação na
história contada por Jesus no evangelho de Lucas 18.9-12.
9 E
disse também a uns, que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e
desprezavam aos outros, esta parábola: 10 Dois
homens subiram ao Templo para orar, um fariseu, e o outro cobrador de impostos. 11 O fariseu, estando de pé, orava consigo
desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens,
ladrões, injustos e adúlteros; nem [sou] como este cobrador de impostos. 12 Jejuo duas vezes por semana, [e] dou
dízimo de tudo quanto possuo. Lc
18.9-12 [BL]
Com
olhos atentos a esta história, vamos refletir sobre algumas faces escuras do
arrependimento, quando ele é praticado por motivos religiosos, como no caso
desse fariseu.
Egoísmo
Uma
das faces escuras desse arrependimento religioso é o egoísmo. Preocupado apenas
consigo mesmo, fica-se triste não pelo pecado em si, mas por causa do medo que se
tem de sofre alguma consequência, de ser punido, de perder alguma bênção ou
coisas do gênero.
Quem
se arrepende apenas para deixar Deus feliz, para não perder o favor de Deus,
acaba falando mais sobre si mesmo que sobre a graça de Deus; pensa mais em se
dar bem que em agradecer pelo cuidado de Deus; está mais preocupado na sua
imagem diante de Deus e das pessoas que na visão de um Deus maravilhoso que o
amou.
Veja
que o fariseu, embora comece com uma palavra de gratidão, estava tão focalizado
em si que ao orar só conseguiu falar de si e de suas pretensas conquistas
religiosas.
11 O
fariseu, estando de pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço, porque [eu] não
sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros; [eu]
nem [sou] como este cobrador de impostos. 12 [eu]Jejuo
duas vezes por semana, [e] [eu] dou dízimo de tudo quanto possuo.
O
que fazer se você se identificou com o fariseu da história, mais preocupado em
livrar a própria pele? É possível que você ainda não tenha compreendido
completamente o evangelho de Cristo.
Então,
é preciso, de uma vez por todas, entender que o evangelho não é um meio para
você se livrar do castigo de Deus. O evangelho é a boa notícia de que Deus o
amou e deseja o seu bem, tanto nesta vida como na eternidade.
Deus
não o amou porque você é uma boa pessoa. Ele o amou primeiro para tornar você a
melhor pessoa que você puder ser, isto é, fazer de você alguém parecido com
Jesus, de maneira que seu coração se encha de amor e gratidão a Ele.
18 Nós
não precisamos ter nenhum receio de alguém que nos ama com perfeição; seu perfeito
amor por nós afasta todo o temor daquilo que Ele poderia nos fazer. Se estamos
com medo, é porque tememos aquilo que Ele poderia nos fazer, e isso mostra que
não estamos completamente convencidos de que Ele realmente nos ama.19 Portanto, como se vê, o nosso amor por
Ele vem como resultado de nos ter Ele amado primeiro. 1 Jo 4.18,19 (VIVA)
Justiça própria
Além
do egoísmo, outra face escura desse arrependimento com motivações meramente
religiosas é a justiça própria. Tim Keller
alerta que, muito facilmente, o arrependimento pode se tornar uma espécie de tentativa
de auto justificação.
É
fácil ver isso na fala do fariseu. A oração dele é quase uma exposição de
motivos pelo quais ele deve ser reconhecido por Deus e pelos outros como alguém
digno, honesto e cumpridor de suas obrigações. Ele não precisa da graça de
Deus. Ele mesmo já fez tudo.
Da
mesma forma, algumas pessoas se arrependem, mudam de comportamento e até se
tornam cidadãos de bem, porque acham que assim Deus vai aceita-los. Esse tipo
de arrependimento é uma tentativa de primeiro zerar as contas com Deus, para
não chegar até ele de mãos vazias. Não é esse o arrependimento de que fala o
evangelho de Cristo.
Ao
contrário disso, os seguidores de Jesus confiam mesmo é no amor gracioso de
Deus, provado pela morte de Cristo e sabem que não são justos, mas celebram o
fato de que foram justificados pelo sangue de Cristo.
4 Mas
quando se manifestaram a bondade e o amor pelos homens da parte de Deus, nosso
Salvador, 5 não por causa de atos de justiça por nós
praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo, 6 que
ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. 7 Ele o fez a fim de que, justificados por
sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna. Tt 3.4-7
Amargura
O arrependimento
religioso, além de ser egoísta e buscar justiça própria, torna as pessoas
inseguras e tensas, e como tempo amargas. Como isso acontece?
Quando
alguém se esforça para ser uma boa pessoa, para agradar a Deus e ser aceito por
ele, percebe logo que isso não é nada fácil. Na verdade, é impossível, porque o
padrão de Deus é a perfeição.
Mas
o religioso é do tipo que não desiste nunca. Então, a cada novo pecado que
surge em sua vida ele se arrepende daquilo que fez e no fundo de sua alma
afirma para si mesmo que essa foi a última vez.
Com
o tempo, as sucessivas ocorrências de pecados/arrependimentos se tornam um
desconforto e, por fim, um peso insustentável de tristeza e amargura.
Para
quem pratica o arrependimento religioso, isto é, para quem muda de
comportamento apenas como objetivo de ser aceito por Deus, cada ocorrência de
pecado e arrependimento se torna traumática, anormal e ameaçadora para sua
saúde espiritual.
Em
parte, isso acontece porque é muito difícil para uma pessoa que vive à base de
arrependimentos religiosos admitir que pecou, pois a esperança do religioso é
um dia ser declarado por Deus uma pessoa de coração bom, talvez alguém que
suplantou o pecado.
Mas
o que dizem as Escrituras sobre isso? Vejamos na carta escrita pelo apóstolo do
amor, João.
8 Se
afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não
está em nós. 9 Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos
pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se
afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua
palavra não está em nós. 1 Jo
1.8-10
1 MEUS FILHINHOS, estou lhes dizendo isto a fim
de que vocês fiquem longe do pecado. Mas se vocês pecarem, existe alguém para
rogar por vocês diante do Pai. O nome dele é Jesus Cristo, Aquele que é tudo
quanto é bom e que agrada completamente a Deus. 2 Ele foi quem levou sobre si a ira de Deus
contra os nossos pecados, e nos trouxe à comunhão com Deus; e Ele é o perdão
para os nossos pecados, e não somente os nossos, mas os do mundo inteiro. 1 Jo 2.1-2
Se a
nossa esperança é nossa capacidade de fazer as coisas certas e sermos, por fim,
considerados justos, admitir nossas fraquezas e deslizes pode ser um sofrimento
atroz, um verdadeiro amargor.
Mas
no evangelho nossa esperança está na justiça de Cristo e em seu amor por nós.
Por isso, o arrependimento conforme o evangelho, não é dolorido nem penoso.
Claro que sempre há tristeza pelo pecado cometido, mas o entendimento de que já
fomos alcançados pela graça de Deus nos faz ficar alegres, por causa do perdão
concedido por ele e pela oportunidade de corrigirmos nossos erros.
Conclusão
O
arrependimento está no centro da dinâmica da vida cristã. Quanto mais maduros
estamos em nossa fé, tanto mais facilmente nos arrependemos de nossos pecados.
O
cristão amadurecido é aquele que já não tem ilusões sobre si mesmo; que conhece
a maldade de seu próprio coração e sabe que nada adiante negar ou justificar os
seus pecados.
O
seguidor de Jesus que está crescendo em direção à estatura de varão perfeito, à
imagem de Cristo, é aquele de coração quebrantado, que se arrepende fácil, que
sem barreiras e com a frequência necessária reconhece seu pecado, se entristece
por causa disso, confessa os pecados cometidos, se converte e, por fim confessa
Cristo como a única esperança guardada em seu coração.
Que
o Senhor mesmo nos ajude nessa jornada.
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