Síntese das ideias principais de texto didático elaborado a partir de três artigos do Dr. Gottfried Brakemeier: Na santa igreja cristã, a comunhão dos santos. In: ALTMANN, Walter. Nossa fé e suas razões. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2004,147-155; Dez boas razões para viver em comunidade. In: Por que ser cristão? São Leopoldo: Editora Sinodal, p.47-66. Reavivamento comunitário. In: Testemunho da fé em tempos difíceis. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1990, p.81-91. Responsável pela elaboração: Prof. Verner Hoefelmann.
1) Igreja, comunidade, denominação
Embora seja comum fazer-se distinção entre comunidade e igreja, o Novo Testamento - NT não distingue a dimensão local “comunidade” do aspecto coletivo “igreja”; ali as comunidades cristãs são ao mesmo tempo parte de um todo amplo e individualmente expressões plenas desse mesmo todo. Assim, não podem prescindir nem depender umas das outras.
O NT registra pluralidade de expressão cultural na formação da igreja, o que apoia o entendimento de que cada comunidade é livre para expressar os traços culturais das pessoas que a compõem. Esse mesmo entendimento se aplica a tradições confessionais e denominacionais.
2) Como nasce a igreja
A igreja nasce quando Deus se dispõe a falar conosco anunciando as boas novas encarnadas em Jesus de Nazaré – sua vida, morte e ressurreição e pela resposta de fé das pessoas que o ouvem e acolhem os fatos e implicações do evangelho.
A partir do anúncio do Crucificado, seguem-se, em resposta de fé, batismo e comunhão – sacramentos que sinalizam a entrada na nova comunidade e concedem comunhão com Cristo e os demais membros.
3) Sinais da igreja;
A despeito das dificuldades já anunciadas por Jesus quanto a identificar com certeza quem é igreja de verdade, os seguidores de Cristo sempre acreditaram na existência da “comunhão dos santos” com características delineáveis, identificáveis e expressas em comunidades locais.
Entre outros, são sinais que revelam a igreja de Cristo: adoração coletiva, ensino das escrituras, anúncio do evangelho, comunidade e comunhão entre os participantes. Lutero lista, entre outros, confissão, serviço eclesiástico e oração pública. De forma ampla, é o próprio Jesus a identidade de sua igreja, isto é, na proporção em que ele se faz presente é que a igreja é igreja.
4) Imagens da igreja no NT;
Dentre as várias imagens que o NT usa para apresentar a igreja estão: povo de Deus, corpo de Cristo e santuário do Espírito Santo.
Povo de Deus: raça eleita - pessoas separadas para se tornarem bênção para a humanidade. A ênfase não é em qualquer merecimento, mas no serviço. Além disso, tornar-se povo de Deus encontra-se franqueado a qualquer pessoa pela obra da cruz; sacerdócio real – pessoas livres e com livre acesso à presença de Deus; nação santa – o entendimento sobre essa santidade não é de perfeição, mas de propriedade de Deus para seu uso exclusivo.
Corpo de Cristo: a imagem remete a um organismo com diversos órgãos cooperando entre si segundo sua especialidade para bem de todo o corpo. Os membros, como no corpo humano, não agem por si mesmos, mas estão submetidos à liderança e coordenação da cabeça, que é Cristo.
Santuário do Espírito Santo: como resultado da ação convencedora do Espírito, a igreja é por ele construída. Essas pedras vivas, “chamadas, congregadas, iluminadas e santificadas” (pag.3), são a própria habitação do Espírito, que não está sob a tutela da igreja, mas se faz presente nela, e por vezes de forma misteriosa.
5) A tarefa da igreja
Chamada a serpovo, corpo e santuário, a igreja também recebeu a vocação de fazer. Entre suas tarefas estão: testemunhar sobre Cristo – sua vida, morte, ressurreição e retorno e apresentar o convite-anúncio para fazer parte da comunidade dos discípulos; promover a adoração coletiva em que Deus é reconhecido como o único digno de adoração; promover e integrar os discípulos de maneira que a convivência estabeleça oportunidade de comunhão; estimular os membros da comunidade ao serviço mútuo, sem qualquer tipo de acepção;
6) Reavivar uma igreja a serviço da vida
Jesus demonstrou que as necessidades humanas não devem ser desprezadas ao afirmar que veio para oferecer vida plena; isso inclui a totalidade das coisas que se fazem necessárias para que a vida seja repleta de significado. Mesmo assim acabou crucificado.
Esse “escândalo da cruz” (pag.11) foi o ápice da tensão entre a oferta de Jesus - Ele mesmo, o pão da vida que desceu dos céus - para as “necessidades vitais” (pag.10) da humanidade e os conceitos deste mundo sobre o que é necessário para a vida. Ser igreja é ser como Jesus e “destruir ilusões” (pag.12) que são capazes de manter a vida apequenada; é distinguir entre necessidade falsa e verdadeira, denunciar a primeira e suprir em Cristo a segunda; é desmascarar o falso pão.
Encorajar comunidades a servir à vida passa por deixar de julgar e apresentar a razão da esperança que temos. Convencidas pelo argumento e pelo exemplo de vidas reais em busca de viver o evangelho, outras pessoas decidirão seguir a Cristo. Esse convencimento passa também pela disposição em partilhar do sofrimento do outro. O exemplo disso nós temos em Cristo.
Como as necessidades são múltiplas, a atuação das comunidades cristãs deve ser abrangente. A percepção da integralidade do evangelho precisa levar a igreja a agir de forma pastoral, profética, catequética, diaconal e missionária.
Apreciação Global
O texto tem razoável coesão e apresenta considerações importantes sobre a igreja, enquanto propõe questões relevantes para reflexão.
Considero importante o entendimento do autor quanto à completude das comunidades locais, que não são pedaços desfigurados da igreja, mas expressões plenas dela. Acho questionável, no entanto, que o mesmo princípio se aplique a “tradições confessionais e denominacionais”.
A apresentação dos sacramentos ao lado da proclamação e acolhimento do evangelho como base para o nascimento da igreja não me parece apropriada. Pergunto-me se a eventual ausência do batismo ou da comunhão caseira tornaria algum daqueles novos irmãos menos irmãos.
Destaco como relevante o entendimento a respeito da autonomia do Espírito em relação à igreja, devolvendo ao “vento” a liberdade que lhe peculiar.
O texto é feliz ao apresentar o cerne do evangelho no “desmascarar as ilusões” que nos desviam do pão do céu. Essa foi a excruciante missão de Cristo e continua sendo a missão da igreja.
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