Unidos em Santidade
Comunidade Batista Mangabeira IV - João Pessoa/PB - 21/08/16
Introdução
Boa
noite, irmãos! É muito bom ter novamente a oportunidade de compartilhar a
Escrituras e juntos nos aproximar do texto sagrado. Depois de alguns dias de
férias a saudade já estava apertando o coração.
Agosto
foi separado pelos Batistas como um mês para lembrarmos de forma especial dos
jovens de nossas igrejas e encorajá-los a perseverar no caminho que estão
trilhando com Jesus. E como é importante encorajar! Isso está acontecendo aqui
na CBM e por todo o país.
Nossa
juventude escolheu um tema para nortear as reflexões neste mês: Unidos em
Santidade. Certamente é um tema desafiador que merece nossa atenção. O texto
bíblico de onde esse tema nasceu está na primeira carta escrita pelo Apóstolo
Pedro.
...sejam
santos vocês também em tudo o que fizerem, 1
Pe. 1.15b (NVI)
Então,
por favor, abra sua Bíblia no primeiro capítulo desta carta e a mantenha aberta
lá. Esse capítulo será o texto sobre o qual conversaremos hoje à noite.
A
título de introdução a essa conversa, quero fazer uma pergunta: porque alguém,
em pleno século XXI, teria algum interesse em tratar sobre santidade? Fala
sério! E mais, porque santidade faria parte dos assuntos que interessam aos
jovens?
Santidade
é uma palavra um pouco mofada, não? Pra começar, todos os santos são velhos.
Santidade não parece combinar com juventude. Sempre que alguém começa a falar
sobre essa tal de santidade o discurso parece retrógrado e os exemplos parecem
antiquados.
Outra
questão é que toda vez que alguém fala sobre santidade parece estar querendo
tirar algo bom e prazeroso da gente. Santidade parece sinônimo de NÃO. Aí fica
aquela impressão de que se embarcarmos nessa a vida vai ficar meio sem graça e
sem brilho.
Por
fim, às vezes parece que santidade é uma palavra comum na boca de gente
arrogante, que se acha sempre superior aos demais. Ora, se aqueles que se
interessam por santidade são assim, parece então que isso não ajuda muito as
pessoas a se tornarem seres humanos melhores. Por que, então, eu e você
deveríamos nos interessar por esse assunto?
No
entanto, a despeito dessas constatações, acabamos de ler um trecho das
Escrituras que nos orienta a sermos santos em tudo que fizermos. O que fazer
com essa orientação? Bom, poderíamos seguir o exemplo daqueles que selecionam
para si as partes da Bíblia que são boas e descartam aquelas que são
desconfortáveis, mas não acho que esse seja o melhor caminho.
A
Bíblia não é um site de frases bonitas em que se escolhe aquela que arrepia o
braço quando você lê. Ela é um legado do Espírito Santo, deixada para lançar
luz sobre quem é Deus, sobre quem nós somos e para anunciar as boas novas de
que nosso relacionamento com ele pode ser restabelecido mediante a fé no amor
dele por nós.
Diante
disso tudo, a saída mais honesta que nos resta é examinar o texto o bíblico e
tentar compreender um pouco mais sobre essa santidade de que fala o apóstolo
Pedro. Será que ela tem algum significado para nós, hoje? Vamos ler juntos o
texto projetado e depois pedir ao Senhor que nos guie.
13Portanto, estejam com a
mente preparada, prontos para a ação; sejam sóbrios e coloquem toda a esperança
na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado.14Como filhos obedientes, não
se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância. 15Mas, assim como é santo
aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, 16pois está escrito:
"Sejam santos, porque eu sou santo". 1 Pe. 1.13-15 (NVI)
Santidade não é para todos
Pode
parecer estranho o que vou dizer agora, mas acredito que temos no verso 15 uma
dica segura de que santidade não é para todos. No começo do texto, Pedro parece
deixar claro que santidade não é requerida e nem mesmo esperada de todos, mas
tão somente daqueles que foram chamados por Deus e responderam sim a esse
chamado.
Eu
quero ser o mais claro possível sobre esse ponto porque esse entendimento é um
divisor de águas que pode mudar sua vida.
Responder
sim ao chamado de Deus é desistir de fazer algum bem espiritual por si mesmo e
receber o bem maior oferecido por Deus. Não há em seu interior qualquer recurso
espiritual propriamente seu que seja suficiente para dar um jeito em sua vida.
Enquanto você não reconhecer essa realidade, santidade será algo estranho aos
seus ouvidos.
Outra
forma de compreender esse sim ao chamado de Deus é compará-lo a alguém à deriva
em alto mar que se dá conta de que o barco em que se encontra está destruído,
sem reparo e afundando, e que recebe agradecido o bote salva-vidas jogado em
sua direção.
Alguém que continua tentando consertar a vida
por conta própria carrega sobre os ombros fardos pesados. A cada dia o esforço
para se manter em pé e sorrir parece maior. Uma manhã após a outra e os dias
chegam sobrecarregados pelos esforços de fazer a vida dar certo.
Há
uma boa notícia pra você que passa o dia em busca de uma postagem no Face, uma
mensagem no Whatsapp, um elogio, um afago ou qualquer outra coisa que o ajude a
suportar o peso de carregar o mundo sobre os ombros:
Jesus
sabe de tudo que se passa com você. Ele
deseja salvá-lo desse naufrágio iminente em que sua vida de transformou. Ele
quer aliviá-lo dos fardos que estão tornando seus dias um verdadeiro globo da
morte, onde parar parece mais perigoso do que continuar. Ouça o que ele disse:
28 "Venham a mim, todos os que estão
cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Mt 11.28 (NVI)
É
assim que alguém começa a seguir a Jesus: indo para ele. Santidade, portanto,
não é algo que possa se esperado de todas as pessoas com quem cruzamos, mas é
um modo de vida, uma direção apontada pelas Escrituras para todos aqueles que
atenderam ao chamado de Jesus e se tornaram seus seguidores e discípulos.
Santidade começa com Regeneração
Agora
que compreendemos que o chamado para santidade é um privilégio guardado para os
seguidores de Jesus, precisamos voltar ao início deste capítulo para
considerarmos os detalhes desse ponto de partida.
3Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande
misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4para uma herança que jamais poderá
perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês 5que,
mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes
a ser revelada no último tempo. 1 Pe. 1.3-5 (NVI)
Esse
chamado de Deus é uma porta que se abre para o que Jesus, na conversa que teve
com Nicodemos, chamou de novo nascimento.
No
verso 3 Pedro, antecipando-se ao que ia escrever em seguida, se fosse
nordestino, bradaria: Ô Deus arretado!! Mas como não era ele exalta a Deus do
jeito dele. Aí ele continua explicando o que é como acontece esse novo
nascimento, que ele chamou de regeneração. Esse é o ponto de partida para a
santidade.
Santidade
começa com aceitar com gratidão a misericórdia de Deus. Não há qualquer mérito
em haver sido regenerado. Não havia em você qualquer coisa digna de ser salva.
É tudo um presente gratuito, pelo qual você não fez nada para receber.
Portanto, qualquer tentativa de barganhar com Deus é semelhante a tentar pagar
por um presente recebido: desnecessário e desrespeitoso.
Santidade
começa com confiar no poder de Deus, demonstrado na ressurreição de Cristo. A
confiança é de que assim como Jesus ressurgiu dentre os mortos, nós os seus
seguidores, fomos resgatados para uma nova vida, que começa aqui e agora. Portanto,
qualquer tentativa de viver uma fé desencarnada não vai nos ajudar a ser santos.
Santidade
começa com a convicção de que a nova vida que recebemos é como uma herança, porque
fomos adotados na família de Deus. Essa nova vida é algo que não pode ser
roubada, não se estraga e não perde seu valor. Portanto, o coração inseguro não
nos ajudar a viver em santidade.
Santidade
começa com uma esperança que não se limita a esta vida, que se projeta para a eternidade.
Essa esperança estará completa apenas quando o Senhor retornar e se fizerem
novos céus e uma nova terra. Tempo em que não haverá mais choro, nem pranto,
nem dor! Portanto, qualquer tentativa de transforma esta vida no único
propósito do evangelho não coopera para a santidade em nós.
Santidade na prática
É
possível que, ao ouvir sobre santidade, as imagens que venha a sua mente sejam
de alguém orando e lendo ou lendo a Bíblia. E certamente a oração e leitura das
Escrituras fazem parte da vida de alguém que se interessa e se importa em viver
uma vida santa.
Em
1 Pedro 1.13 somos apresentados a uma santidade que começa em nossa relação com
Deus e que se torna visível em tudo que fazemos. Portanto, santidade não é
coisa de gente enclausurada nas quatro paredes dos templos nem tampouco nas
quatro paredes da sala de estar do seu apartamento. Santidade é coisa de gente
que vive a vida intensamente.
Veja
o que Pedro diz:
13Portanto, estejam com a
mente preparada, prontos para a ação; sejam sóbrios e coloquem toda a esperança
na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado. 1 Pe. 1.13 (NVI)
Algumas
coisas me chamam a atenção neste verso:
...Portanto, estejam com a mente preparada...
Primeiro,
é a fala de Pedro que nos convoca a estarmos preparados em nossas mentes. A
palavra grega usada pelo apóstolo, διανοια
dianoia, indica a mente com centro das habilidades intelectuais,
afetivas e volitivas (isto é, da vontade). Santidade, portanto, não é apenas um
exercício espiritual. Passa também pelo desenvolvimento de nossa capacidade de
entender as coisas, de nos relacionar com as pessoas e lidar com nossas
vontades.
...prontos para a ação...
Depois
é que esse preparo todo tem como objetivo agir. Não faz sentido preparar-se
para uma jornada, vestindo e ajustando as roupas adequadas para um longo
percurso, para em seguida sentar-se na cadeira e não fazer nada para o que você
se preparou.
Para
Pedro a santidade tem que colocar o bloco na rua. Tudo aquilo que Deus lhe
permitiu viver, toda inteligência que ele lhe deus, toda a riqueza emocional
que você experimentou, todas as habilidades relacionais que ele lhe permitiu
desenvolver, todo domínio próprio que você alcançou foram dados para que você
seja santo, anunciando assim o amor gracioso de Deus.
...coloquem toda a esperança na graça que
lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado...
Por
fim, Pedro deixa bem claro que aqueles que são chamados para a santidade, não
devem apostar suas fichas neste tempo presente. Devemos agir agora, mas os
frutos e as recompensas desse agir estão preparados para um tempo futuro.
Dessa
forma, somos chamados a uma santidade que em nada ostenta virtudes ou
conquistas, mas que aguarda o tempo em que as obras de cada um serão reveladas
e recompensadas.
Unidos
É
completamente impossível enfrentarmos os desafios de viver vida santa sozinhos.
Santidade não é coisa para se experimentar no isolamento. Santidade não é um
solo, mas um coral; não é obra de um lobo solitário, mas uma matilha; não um
voo solo, mas a apresentação de uma esquadrilha.
Mas
os tempos que vivemos são difíceis. Tempos em que profundidade e qualidade se
tornaram desnecessárias como característica dos relacionamentos humanos. Temos
esquecido de que Deus, ao criar o ser humano, afirmou categoricamente “Não é
bom que o homem esteja só” (Embora essa afirmativa esteja no contexto do
estabelecimento do primeiro casal, ela reconhece que não fomos feitos para
existir sozinhos).
Temos
nossa individualidade, mas fomos criados para a coletividade: quando estamos
juntos o potencial colocado em cada um de nós torna-se possível; quando estamos
juntos a multiforme graça de Deus encontra o ambiente propício para nos
conduzir à plenitude de Cristo.
Estar
juntos não é apenas estar no mesmo lugar, cantar as mesmas músicas, ler o mesmo
texto bíblico e ouvir as mesmas orações. É possível fazer isso tudo, mas estar
distante. Por causa dessa possibilidade, de a convivência ser rasa e
descomprometida, muitos tem optado pela não-convivência; ou pela convivência
virtual.
A
opção pela não-convivência pode ser agradável por um tempo, porque o poupa de
alguns desgastes próprios do relacionamento; mas a médio e longo prazo é um
desastre, porque reduz o potencial que Deus colocou em você. A cada passo que
alguém dá em direção ao isolamento relacional mais distante fica de viver uma
vida santa.
A
convivência virtual tem se tornado a preferência de muita gente. Sem dúvida é
melhor que a não-convivência, isto é o isolamento. Mas não é suficiente. Os
relacionamentos virtuais são pobres e rasos quando comparados ao olho-no-olho.
Não estou dizendo que não sejam úteis e até apropriados em algumas circunstâncias,
mas que eles são limitados e pouco ajudam no chamado para sermos santos.
Bem,
minha conclusão em relação a isso é que precisamos recuperar os relacionamentos
olho-no-olho. Precisamos estar juntos no mesmo lugar, cantar as mesmas músicas,
ler o mesmo texto bíblico e ouvir as mesmas orações. Pode ser que não seja
perfeito, mas ainda é o melhor que temos.
O
escritor da carta aos Hebreus fala sobre isso. Ele nos aponta uma direção
importante que não pode ser colocada de lado: quando estamos juntos no mesmo
lugar, cantando as mesmas músicas, lendo os mesmos textos bíblicos, ouvindo as
mesmas orações, abre-se uma janela para experimentarmos o amor em suas mais
variadas dimensões.
24 Procuremos desenvolver
entre nós o amor fraternal e estimulemo-nos a fazer o bem. 25 Não descuidemos a nossa
participação na comunidade dos crentes, como muitos fazem. Pelo contrário,
animemo-nos uns aos outros, tanto mais que vemos aproximar-se o grande momento
da sua segunda vinda. Hb 10.24-25 (OL)
Para
não descuidar de nossa participação na comunidade dos crentes e atender à
vocação que temos para a santidade precisamos rever as prioridades de nossas
agendas e avaliar se nossa vida não está girando apenas em volta de nós mesmos.
Se for esse o caso, o primeiro passo é confessar o pecado ao Senhor e pedir que
ele nos ajude a viver de uma maneira diferente, mais parecida com o modo de
vida que Jesus ensinou.
Minha
oração neste momento é um pedido ao Senhor para que (1) nos dê clareza e
convicção sobre a obra regeneradora de Cristo em nossas vidas; (2) nos ajude a
viver santidade de forma prática, gastando nossas vidas como um sinal do Reino;
(3) e que eles nos ajude permanecer juntos, cantando as mesmas músicas, lendo
os mesmos textos bíblicos, ouvindo as mesmas orações e experimentando o amor em
suas mais variadas dimensões.