Às 5h30min os bem-te-vis cantam alto, de peito cheio, uma canção de bom dia. Um aqui, outro ali, vão-se falando e cumprimentando, a desejar um dia repleto de alegria. Bem-nos-vêem eles do alto de suas árvores frondosas.
Às 5h30min as folhas vermelho-alaranjadas das castanholeiras ganham tons vivos e se destacam das copas verde-escuras que crescem umas sobre as outras em muitos andares. Algumas delas, dever cumprido, logo estarão no chão, mas outras ainda oferecerão sua sombra por mais alguns dias.
Às 5h30min as pessoas parecem mais simpáticas e até são dadas aos antigos cumprimentos. Acenos discretos de cabeça, mãos que sinalizam, olhares que se procuram e bons-dias sussurrados ou sonoros parecem revelar um incontido anseio por partilha e identidade; antes que a multidão se faça e a impessoalidade se estabeleça.
Às 5h30min os vendedores de abacaxi ainda não chegaram e, infelizmente, o cheiro doce da fruta ainda não se espalhou pela rua. Mais tarde a carroça estacionada no acostamento passará todo o dia vendendo abacaxis recém-colhidos.
Às 5h30min o cheiro gostoso de pão já invadiu a praça convidando a quem passa a parar e se servir. Se a padaria não fosse a duas quadras, desviaria o curso da caminhada e compraria pão quentinho.
Às 5h30m ainda dá tempo de ser diferente e mudar os rumos da vida, por mais impossível que vá parecer mais tarde.
Às 5h30min o dia está cheio de esperança. Um dia inteiro que aguarda pela frente repleto de dores, mas também de alegrias e oportunidades.
Às 5h30min os olhos se abrem para a vida, que de forma surpreendente, recomeça todos os dias distribuindo a si mesma em formato de esperança, vestida de cores, perfumada de odores e ornada de sons. Às 5h30m.