Mensagem proferida do culto de consagração
ao ministério da Palavra do Pr. Jardiel Roberto em João Pessoa/PB
Ministério Pastoral: Três aspectos
Introdução
ao Evento
Hoje é noite de festa e de grande alegria! Estamos
reunidos para confirmar o entendimento dos irmãos que reúnem aqui em Tambaú, Igreja
de Jesus, a respeito do chamado de Deus na vida do Jardiel.
A vida, o testemunho, a família e o compromisso desse
jovem poderiam levá-lo a servir ao Senhor em diversas posições desse complexo
mundo em que vivemos. No entanto, entre as excelentes coisas a se fazer na
vida, Jardiel tem declarado que sente o chamado de Deus para servir aos irmãos
no ministério pastoral. Esse chamado foi identificado e confirmado por esta
comunidade e pelos líderes a quem ele está submetido nos diversos aspectos de
sua vida.
Por tudo isso, e por causa do carinho que todos aqui
temos por ele e por sua família, estamos celebrando ao Senhor. É maravilhoso
ver que nosso Pai continua cuidado de sua igreja e provendo os líderes de que
necessitamos para prosseguir em direção ao alvo que nos está proposto.
Considerações
pessoais
Eu me sinto honrado e grato com o convite que recebi
para compartilhar a Palavra de Deus nesta noite tão especial. Em dias normais
compartilhar a Palavra já é uma tarefa repleta de desafio. Hoje, então, os
desafios se multiplicam. O que falar ao mesmo tempo para um jovem pastor, para
colegas de ministério com longas jornadas de serviço no pastorado e para
ministros de Deus das mais diversas vocações aqui presentes?
Depois de ponderar em oração sobre alguns caminhos,
decidi recorrer à vida do apóstolo Pedro para que o Senhor possa através dessa
breve reflexão nos trazer discernimentos, alertas e consolos. Portanto, peço
que você entre em oração comigo para pedirmos ao Senhor que use de sua
misericórdia e fale com cada um de nós conforme nossas necessidades.
Oração
Pedro,
um de nós
Acho impressionante ler sobre as viagens do apóstolo
Paulo! A forma como Lucas descreve os desafios que ele enfrentou, as decisões
que tomou, os discursos que fez, sua persistência, sua seriedade, o
conhecimento que tinha das escrituras... Não há como não se sentir desafiado! É
quase como se ele não fosse um ser humano comum.
Por outro lado, quando me detenho nos relatos sobre
Pedro, nas lutas e desafios que ele enfrentou, muitas vezes tenho a impressão
de que ele é um de nós.
É claro que isso acontece, em parte, apenas por que
eles eram pessoas com histórias diferentes vivendo circunstâncias diferentes.
Ainda assim, quando leio as histórias de Pedro nasce em mim uma certa
identificação com sua humanidade: ele realmente parece um de nós.
Hoje à noite pretendo conectar três momentos da vida de Pedro de maneira que possamos refletir
sobre o significado da vocação ao ministério pastoral. Ao final, quero
convidá-los a ouvir três conselhos
que ele mesmo nos ofereceu ao final de sua vida.
A.
Senhor,
estou pronto
Chamei o primeiro momento de “Senhor, estou pronto”. O
episódio em que ele se revela é após a ceia de páscoa e antes do getsêmane,
quando Jesus começou a explicar aos discípulos a natureza sacrificial de seu
ministério e esclareceu que um traidor, entre eles, seria o instrumento de sua
prisão.
Lucas (Cf 22:24) afirma que os apóstolos imediatamente
começaram a discutir sobre quem seria o traidor e quem era o melhor entre eles.
Jesus interrompeu os brigões e tentou recuperar o ponto: serviço sacrificial.
Falou coisas estranhas como o maior é
aquele que assume o serviço como uma missão pessoal.
No meio dessa discussão, Pedro fez uma afirmação
corajosa: “Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a
morte” (v.33). Eu imagino os demais discípulos parando todos ao mesmo tempo e
olhando, todos ao mesmo tempo, para Pedro. Alguns, admirados; outros achando
que Pedro tinha passado a perna neles para assumir a liderança do grupo.
Mas Jesus sabia que aqueles arroubos de Pedro seriam
testados e reprovados naquele mesmo dia e disso: “Pedro, hoje, três vezes
negarás que me conheces, antes que o galo cante.”. É bem possível que Pedro
tenha balançado a cabeça e dito com firmeza que jamais faria isso, repetindo
que seria fiel até a morte. Pelos evangelhos sabemos que naquela noite não foi
a coragem do apóstolo Pedro que se destacou, mas o seu medo, a vergonha e, por
fim, a negação que Jesus havia predito.
Como Pedro poderia estar tão enganado sobre suas
próprias reações ao lidar com aquela situação?
Parece-me que Pedro tropeçou em três pedras que estavam
pelo meio do seu caminho.
1. Ele
subestimou os desafios de seguir a Jesus
Seguir os passos de Jesus não é assumir o palco,
realizar um espetáculo e esperar os aplausos. Seguir a Jesus é uma caminhada
cheia de oposições e contratempos. O caminho é estreio e pedregoso.
Jardiel, você precisa ter em mente essa realidade! Não
caia na armadilha de imaginar o caminho do ministério pavimentado e florido.
Claro que há flores pelo caminho. Claro que há temos de refrigérios. Mas quando
alguém decide atender ao chamado e seguir os passos do mestre não pode esquecer
que pela frente vai se deparar com situações adversas que porão à prova sua
lealdade ao modo de Cristo compreender a existência.
2. Ele
superestimou a si mesmo
Ser ministro de Jesus a serviço do povo de Deus, seja
qual for o ministério ao qual se foi chamado, não é uma consequência direta da
capacidade do servo. É claro que precisamos nos preparar para servir mais e
melhor, mas parece-me claro também que não se deve confiar demais no preparo e
nas capacidades que adquirimos. Em tempos de pastores profissionais, que têm
prazer um promover as próprias virtudes, é preciso lembrar todo tempo do sábio
conselho de Paulo, de não pensar sobre si mesmo além do que convém.
Jardiel, você precisa conhecer e reconhecer suas limitações.
Não caia na armadilha do ministério com base na blindagem eclesiástica. Não
esconda de si e nem dos outros as áreas da vida em que precisa de ajuda, caso
contrário você nunca encontrará a ajuda de que precisa. Certamente você
precisará de amigos sinceros para rejeitar a blindagem eclesiástica: peça-os
insistentemente a Deus.
3. Ele
não compreendeu a natureza da oração de Jesus
Embora seja um bom começo, a verdade é que não basta
para a jornada do ministério pastoral avaliar corretamente os desafios do
serviço e as limitações do servo. O chamado de Cristo é para uma missão que
possui dimensões sobrenaturais. Foi por isso que Jesus disse para Pedro que
havia rogado a Deus por ele: “para que tua fé não desfaleça” (v.32). É preciso
que o ministro esteja conectado à dimensão sobrenatural de sua vocação para
percorrer os caminhos do serviço à igreja, a carreira que lhe foi proposta, com
dignidade e paz de espírito.
Jardiel, algumas vezes você não vai conseguir ser uma
pessoa melhor, como anseia o seu coração, e isso lhe será lançado em rosto.
Outras vezes você vai fraquejar diante da oposição espiritual ao seu
ministério, e isso lhe será lançado em rosto pelo inimigo de nossas almas e
seus mensageiros. Nesses momentos, você não pode esquecer de que o próprio
Jesus, seu senhor, está intercedendo por você para que sua fé não desfaleça.
Ao final daquela conversa, Jesus deixou bem claro para
Pedro, algo de que os ministros de Cristo precisam: todos os dias, converter-se
da fé em si mesmo para a confiança no Senhor. E quando você, Jardiel, se
perceber convertido dessa maneira, faça o que Jesus sugeriu a Pedro: “fortalece
os teus irmãos” (v.32) encorajando-os a fazer o fazer o mesmo.
Nos momentos “Senhor,
estou pronto”, (1) não subestime os desafios, (2) não superestime suas
capacidades, (3) converta-se à confiança no Senhor.
B.
Tu
sabes todas as coisas
O segundo momento da vida de Pedro que servirá à nossa
reflexão hoje é aquele em que Jesus tenta regatá-lo do poço existencial em que
ele estava depois de ter fracassado como discípulo e negado até mesmo que
conhecia o Senhor. Esse é um dos momentos em que eu mais me identifico com a
humanidade de Pedro.
Jesus já havia ressuscitado. Era tempo de festejar a
vitória! Mas Pedro continuava sentindo-se uma fraude, com vontade de desistir
de tudo, exposto em suas fraquezas, abalado pelo desconhecimento de si mesmo e
pela incapacidade de cumprir com suas promessas. Cabisbaixo e ferido em sua
autoestima, ele não tinha muito o que conversar com Jesus.
Jesus, então, toma a iniciativa: “Pedro, tu me amas?”
O jogo de palavras com ágape e filéo perpassa todo o diálogo entre os dois até
Pedro afirmar: “Tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.
Jardiel, muitas vezes você só vai conseguir prosseguir
pelo caminho da sua vocação quando trouxer à memória o relacionamento de amor
entre você e o Senhor Jesus. Quando o sentimento de fracasso lhe alcançar, e
ele vai lhe alcançar, você vai precisar da convicção de que, a despeito do
sentimento de inadequação a lhe corroer por dentro, o seu amor por Deus é uma
realidade.
De onde você vai tirar essa convicção? Só há um lugar
onde ela está disponível: no amor gracioso de Deus por você. Amor provado na
cruz, amor experimentado na caminhada de fé, amor revelado no constante cuidado
dele em sua vida. João entendeu bem como isso funciona, por isso ele afirmou
“nós o amamos porque ele nos amou primeiro”.
Então, quando os momentos “Tu sabes todas as coisas” chegarem não adianta explicar nada. Não é
necessário esclarecer, nem justificar nada diante de Cristo. É preciso apenas
agarrar-se à firme convicção de que o amor dele por você invadiu sua vida e
isso o levou a amá-lo. É como disse Pedro “Tu sabes todas as coisas, tu sabes
que eu te amo.
C.
Rogo
aos presbíteros
O terceiro e último momento da vida de Pedro que
separei para nossa reflexão esta noite, está registrado em sua primeira carta.
Vejamos:
1 Portanto, apelo para os presbíteros que há entre
vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos
sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada:
2 Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus
cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus
quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir.
3 Não ajam como dominadores dos que lhes foram
confiados, mas como exemplos para o rebanho. (I Pedro 5:1-3)
Nesse trecho, fala um Pedro já experimentado no
sofrimento por Cristo e no cuidado de pessoas. Não se ouve mais as vozes
inquietas de antes. É um Pedro que viu o evangelho de Cristo tocar a sua vida,
transformar o seu caráter, mudar seus paradigmas e, sobretudo, um Pedro que
aprendeu a importância das motivações corretas.
A fala de Pedro, quando apelas aos líderes que tinham
responsabilidade em pastorear o rebanho, é direta e autoexplicativa. Dela
extraio três conselhos úteis para os ministros, seja qual for o ponto da
caminhada em que nos encontremos no ministério de serviço ao Reino.
1)
...não por obrigação, mas de livre vontade...
O primeiro apelo de Pedro àqueles que foram chamados
para servir à igreja cuidando dos irmãos é que o seu serviço não seja feito por
obrigação.
Há muito o que se falar sobre essa tensão entre
obrigação e espontaneidade levantada por Pedro em seu conselho, mas eu gostaria
de destacar apenas uma, Jardiel: o Ministério pastoral não é um emprego com
direitos e obrigações. Nenhum ministro de Deus foi chamado a submeter-se a uma
relação profissional, como se fosse empregado da igreja em que serve.
É claro que há responsabilidades a serem assumidas,
isso seja qual for o ministério a ser desenvolvido no corpo de Cristo, mas nunca essa relação deve produzir o
senso de obrigação inerente ao trabalho assalariado.
As armadilhas capazes de transforma vocação em
profissão são inúmeras e giram sempre em torno da motivação pela qual o serviço
é realizado. Parece-me, então, que a melhor forma para um ministro de Deus
proteger-se dessas armadilhas é investigar diante de Deus as razões de seu
coração. Os porquês que movem sua alma são bons indícios para precaver-se das
armadilhas em que está mais propenso a cair.
Investigar a si mesmo não é trabalho fácil nem rápido,
amigo, mas é necessário. A boa notícia é que o Espírito de Deus está sempre
pronto a nos ajudar nesse trabalho. Ele é como espada de dois gumes, capaz de
discernir as intenções do coração. Você sempre poderá contar com ele!
2)
...não por ganância, mas com o desejo de servir...
O segundo apelo de Pedro não poderia ser mais atual. O
pastoreio do povo de Deus não dever ser feito visando lucro pessoal, mas como
uma expressão de serviço ao Supremo Pastor.
Ministros que servem no cuidado pastoral da igreja não
são donos do rebanho. As ovelhas não lhe pertencem. Não há nada que seja
propriamente seu. Não lhes compete o direito de tornar-se abastado às custas do
rebanho.
Claro que compete à igreja, que opta por ministros com
dedicação exclusiva, o cuidado zeloso em suprir as necessidades deles e de suas
famílias. Digo isso porque há comunidades que optam por modelos diferentes em
que os ministros se dedicam tanto ao sustento pessoal quanto ao serviço à
igreja, como era o caso de Paulo e seus companheiros.
No entanto, Jardiel, a meu ver, o conselho de Pedro
diz respeito ao cuidado com as motivações de seu coração. Não é difícil que um
ministro, ao ver o rebanho crescer sob seus cuidados, dar espaço em seu coração
para sentimentos de insatisfação sobre o seu sustento. Também não é incomum que
um ministro, pensando no lucro que poderia obter com um rebanho maior negocie
princípios e valores para alcançar o que deseja.
Pedro aponta para a motivação certa: serviço. Se
alguém não pode servir ao Povo de Cristo motivado pela alegria de ser um servo do Cristo vivo realizando
seu ministério, precisa rever as motivações que o levaram à posição em que hoje
se encontra.
Lembre-se, Jardiel, para aqueles que de coração grato
assumem o serviço como expressão de seus ministérios, o Supremo Pastor está
preparando a imperecível coroa da glória!
3)
...não como dominadores, mas como exemplos para o rebanho...
O terceiro e último apelo de Pedro aos Presbíteros que
pastoreiam o rebanho de Deus é sobre a forma como lideram o povo. Pedro,
oferece o seguinte conselho: liderem pelo exemplo, não pela força.
De novo Pedro toca nas motivações. Digo isso, Jardiel,
porque não é raro que almeje o episcopado como uma ferramenta para exercer domínio
sobre as outras pessoas. Isso acontece, algumas vezes, por acordo mútuo entre o
rebanho e o líder, de maneira que todos ficam temporariamente satisfeitos com o
arranjo: a comunidade se submete a líderes abusivos em troca da aparente
segurança que eles inspiram a afirmam oferecer.
Pedro, de temperamento explosivo, sabia bem o efeito
que a dominação pode causar nas pessoas. Mas, transformado pelo amor de Deus em
sua vida, ele aponta o melhor caminho para a liderança: o exemplo.
Liderar pelo exemplo não é ser perfeito. Não se trata
de ter todas as respostas ou saber sempre a direção certa. Se fosse assim, o
próprio Pedro estaria desqualificado. O exemplo que conduz o rebanho é da
submissão a Deus, é do reconhecimento das fraquezas, é o do compromisso com os
valores do Reino, é o da perseverança na Palavra, é o da confiança no amor de
Deus. Exemplos assim são como faróis em meio à tempestade.
Conclusão
O caminho do ministério pastoral tem seus deleites,
mas tem também o seus percalços e armadilhas, nas quais os incautos acabam
presos convivendo com as piores motivações de suas almas.
Como esses conselhos de Pedro, que sondam as
motivações do coração dos Ministros de Deus, encerro minha reflexão nessa
noite. Três momentos: no primeiro deles, “Senhor, estou pronto”, somos chamados
a nos converter da fé em nossas capacidades para a confiança no Deus Altíssimo;
no segundo “Tu sabes todas as coisas”, fomos encorajados, nos momentos de
derrota, a declarar o nosso amor por ele, que é fruto do amor dele por nós; no
terceiro, “Rogo aos Presbíteros” um Pedro maduro e experimentado nos chama a
sondar as motivações do nosso coração e reconhecer que o ministério a que fomos
chamados é algo precioso demais para tratamos com pouco caso.
Termino conclamando aos ministros do evangelho de
Cristo que nos tornemos sábios interpretes de nós mesmos e da vida que nos
cerca. Conclamo a todos os ministros de Cristo, em todos os ministérios a que
foram chamados, a ouvirem as palavras de Pedro, o presbítero, que diz:
1 E AGORA, uma palavra a vocês, os presbíteros da igreja. Eu também sou um ancião; com os meus
próprios olhos vi Cristo morrer na cruz; e eu também participarei da sua glória
e da sua honra quando Ele voltar. Colegas pastores, este é o
meu apelo a vocês:
2 Alimentem o rebanho de Deus;
cuidem dele com boa disposição e não de má vontade; não pelo que vocês ganharão
com isso, mas porque estão ansiosos de servir ao Senhor.
3 Não sejam tiranos, mas guiem o
rebanho com o seu bom exemplo.