Você está aqui, em um mundo de concreto e asfalto bem diferente daquele em que Jesus estava. Ainda assim, a fome que lhe consome a alma e tão real quanto a que aperta seu estômago. Certamente neste deserto em que vivemos também há muitas pedras que podem ser transformadas em pão.
Basta
observarmos um pouco as pessoas em nossa volta para nos convencermos de que há
muitas formas de se viver a vida, irmãos. Dentro e fora da igreja as opções de
vida que alguém pode fazer são bem variadas.
Essas
opções de vida brilham diante de nós como se fossem letreiros luminosos! E cada
um desses caminhos tenta nos atrair para si mesmo e nos promete coisas
interessantes que queremos. São caminhos que parecem bons à primeira vista, mas
será que são os melhores caminhos para nós?
Há um
texto nas Escrituras que reflete sobre essa situação. Está em Provérbios,
escrito por Salomão e outros sábios:
Há caminhos que ao ser humano parecem ser as melhores
opções de vida, mas ao final conduzem à morte. Pv 14.12
Toda
vez que leio esse texto é como se eu fosse sacudido: Alô, Aristarco! Será que a
direção que você está dando à sua vida é a melhor? Ei amigo, será que você não
está enganando aos outros e a si mesmo? É chocante, mas o caminho que por um
momento escolhemos como uma boa direção para nossas vidas pode ser, na verdade,
uma grande armadilha. Pode ser um caminho de morte!
..........................
Ela era muito
feliz!
Jéssica,
uma jovem de vinte e poucos anos, saiu da Indonésia e foi para a Austrália em
busca de uma vida melhor. Ela tinha convicção e que essa mudança transformaria
sua vida e abriria muitas portas para que sua vida fosse tudo aquilo que ela
desejava. Na mesma época uma outra jovem, Mirna, também saiu da indonésia para
Austrália.
Em
janeiro deste ano, Jéssica assassinou a amiga Mirna em uma cafeteria de Jacarta
colocando veneno no seu café porque a considerava uma pessoa feliz e foi
condenada a 20 anos de prisão.
O juiz
do caso afirmou que Jéssica tinha problemas pessoais, trabalhistas e sociais, e
quando se encontrou com Mirna em dez/2015, e a viu tão feliz casada, pensou em
assassiná-la. Jessica não demonstrou emoção ao ouvir o veredicto com sua
sentença.
Acho
que uma pergunta martelou a mente de Jéssica: porque ela tem o direito de ser
feliz e eu não? Não é uma pergunta descabida. De certa forma, não é um clamor
por justiça e igualdade? O que há de errado em desejar que o mundo seja mais
justo e as pessoas tenham as mesmas oportunidades? A questão é: como esse
caminho que parecia tão legal para Jéssica se transformou em caminho de morte?
Muitas propostas
Há
muitas propostas para vivermos nossas vidas, irmãos. Há muitas maneiras
diferentes pelas quais podemos passar nossos dias por aqui. Qual o caminho que devemos
seguir?
•
Devemos viver como
se não houvesse amanhã?
•
Devemos deixar a
vida nos levar: vida, leva eu?
•
Devemos tirar tudo
que pudermos da vida?
•
Devemos provar de
tudo sem arrependimento?
Alguém
pode pensar que não faz diferença se vivemos de um jeito ou de outro, que tudo
isso é só uma questão de gosto ou de opção pessoal, mas a experiência confirma
que a maneira como vivemos é determinante não só para o nosso futuro, mas também
para o futuro daqueles que nos cercam.
As
decisões que tomamos diariamente, a maneira como nos relacionamos com as
pessoas, o jeito como resolvemos nossos problemas são testemunhos que refletem
a novidade de vida a que fomos chamados por Jesus?
Momentos decisivos
Na
maioria das vezes não temos controle sobre as circunstâncias de nossas vidas
nem sobre os sentimentos que nos alcançam, mas sempre podemos decidir como
queremos responder a eles.
O que
fazemos nesses momentos de decisão define o tipo de pessoa que seremos. E nessa
hora nossas crenças e convicções são como bússola que nos guiam por entre as
muitas opções de vida que estão disponíveis diante de nós.
Assim
como nós, Jesus também precisou resolver como ele ia lidar com as
circunstâncias do dia a dia. Ele precisou decidir o que era mais importante que
tudo em sua vida e descobrir como lidar com os dias difíceis... como responder
ao medo... o que fazer quando ele se sentisse forte o poderoso... como
responder aos sentimentos de insegurança...
Um
desses momentos vividos por Jesus foi quando ele passou 40 dias no deserto (Mt
4.3). Ali ele tomou várias decisões. E enfrentou questões importantes sobre como
ele iria viver sua vida.
Em quem confiamos?
Um dos
desafios que Jesus enfrentou foi aconteceu quando ele estava faminto e
fisicamente debilitado. Depois de ser privar voluntariamente de comida por
tanto tempo, Jesus estava realmente com fome. Aproveitando aquela fragilidade,
o tentador se pronunciou:
Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
transformem em pães. Mt 4.3
Será
que o tentador tinha dúvida sobre quem Jesus era? Claro que não! Será que os
anjos que testemunhavam aquela cena tinham dúvida sobre quem Jesus era?
Certamente não! E Jesus tinha dúvida sobre quem ele era? Absolutamente não! Então,
a questão ali não era sobre a identidade de Jesus, o assunto era outro. A
pergunta nas entrelinhas era “você realmente confia no Pai? ”
Bastava
uma ordem para que das pedras surgissem pães, mas Jesus não fez isso. Por quê?
Sua fome era legítima e ele tinha o poder para fazer isso, por que ele não
resolveu logo aquela situação? Ele preferiu confiar que aquela situação difícil
e sofrida estava sob os cuidados do Pai e seria usada por Ele para o seu bem.
Veja
que são caminhos diferentes, meu irmão:
O
tentador propõe que você transforme as pedras de sua vida em pães e mate logo sua
fome. Ele afirma que você pode ser o seu próprio herói. Não é preciso andar
pelos caminhos desconhecidos de Deus, porque isso pode ser arriscado
A
proposta do evangelho é que você não fuja do deserto pelas suas próprias forças,
com seus esquemas e jeitinhos. É um chamado para você confiar naquele que o
levou até o deserto. Por isso, a resposta de Jesus:
Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que
procede da boca de Deus. Mt 4.4
Jesus
decidiu algumas coisas importantes ali. Sua vida não seria uma fuga das
dificuldades. Ele não faria qualquer coisa para afastar os problemas, ele não
rejeitaria o sofrimento como parte da vida. Ele decidiu confiar em Deus em meio
aos problemas. Ele estava convicto que Deus estava cuidando dele, mesmo quando
os dias não eram duros e difíceis.
Como
você tem vivido sua vida de discípulo de Jesus? A quem você dá ouvido? Quem faz
sua cabeça? A quem você recorre para tomar as decisões de sua vida? Ser um discípulo
não é seguir os passos dele?
Há
pessoas entendendo que ser discípulo de Jesus é receber um ticket de entrada
para o céu. Estão garantidos para sempre, porque ninguém vai arrebata-las das
mãos de Jesus! A eternidade é deles, e isso é o que realmente importa. O mundo
pode despencar ao seu lado, mas ele não se abala. Famílias podem desmoronar à
sua direita, jovens podem ser destruídos à sua esquerda, mas ele está seguro no
Senhor. Eles já encontraram o Pão da Vida, isso é suficiente.
Outros
há para quem ser discípulo de Jesus é ser filho do Rei e ter direito a tudo que
um filho de rei merece. Profetizam bênçãos, decretam sucesso, revoltam-se
contra tudo que lhes pareça ruim. Colocam Deus na frente de seus caminhos, como
se ele fosse uma imagem de procissão, para garantir que tudo será como desejam.
Para esses não há pedras no caminho, todas foram ou serão transformadas em
pães.
Há
também aqueles para quem ser discípulo de Jesus é vir para os cultos,
participar dos programas da igreja, contribuir financeiramente, ler a bíblia
sempre que possível, pagar as contas em dia e não dar trabalho para o pastor.
Gente se acha tão certinha que não se mistura com qualquer um, não; gente que
está morrendo de fome diante dos pães porque desconhece a provisão de Deus para
uma vida abundante.
Fome de quê?
Ali no
deserto a fome de Jesus era a mais básica de todas: fome de pão mesmo. No
deserto de concreto em que estamos, a fome que temos às vezes é de outro tipo:
de roupa (bacana), de tênis/sapato (legal), de carro (novo), de celular
(moderno), de apartamento (maior), de emprego (seguro), de TV por assinatura,
de plano de saúde.
Você está aqui, em um mundo de concreto e
asfalto. Ainda assim a fome lhe consome a alma. Certamente no deserto em que vivemos também há
muitas pedras que podem ser transformadas em pão e saciar sua fome. O que você vai fazer?
Carro (novo)
– fazer um financiamento em 60 meses e depois cola um adesivo “Foi Deus quem me
deu” no vidro traseiro! – Deus ou financeira?
É claro que não há nenhum problema
em você financiar ou parcelar um bem que você deseja comprar. Esse é um recurso
legítimo. A questão é se ao fazer isso você não está fugindo do deserto.
Porque às vezes o Senhor nos mantém
em situações adversas porque quer nos ensinar algo. A privação daquilo que
desejamos nem sempre é algo ruim, muitas vezes o caminho que Deus usa para
aprendermos a submissão a sua vontade, aprendermos a ajustar nossas
prioridades.
Então, veja só, quando você usa o
crédito apenas para matar sua fome de possuir, e o usa além de sua capacidade
de pagar, é como se você estivesse transformando pedras em pães para matar sua
fome e sair logo desse deserto.
Celular moderno
– comprar um usado em estado de novo pela metade do preço. Daqueles que já vem
fotos e contatos (do antigo dono).
Qual problema em ter um smartphone
de última geração? Nenhum problema. Eles podem ser muito úteis na vida corrida
que temos. Mas será que você não está fugindo do deserto quando compra um
aparelho de procedência duvidosa pela metade do preço?
Um discípulo de Jesus não deveria
ter restrições quanto à origem dos bens que compra? Ou não faz diferença para
nós se estamos alimentando uma cadeia de crime e violência? Aliás violência que
volta contra nós mesmos?
Perceba então, que ao comprar um
smartphone de origem duvidosa apenas para matar sua fome de celular moderno é
como se você estivesse transformando pedras em pães, para ver se acaba logo
esse deserto em que sua vida se transformou.
Eu me pergunto: um discípulo de
Jesus deveria colocar um smartphone como uma prioridade tão alta em sua vida
que o faz colocar de lado o fato que está participando de uma cadeia criminosa
de venda de objetos roubados?
Apartamento
– comprar comprovante de renda e declarar renda formal maior que a verdadeira.
Pedir emprestado um nome de um parente.
Não há qualquer problema em desejar
morar numa casa melhor, ou em um apartamento mais amplo. Tem onde morar de
forma digna é um direito e morar bem é um desejo legítimo. Agora, forjar uma
renda maior que o seu rendimento mensal para se enquadrar no financiamento
certamente é transformar pedras em pães.
São muitas as pessoas que fizeram
isso e agora não têm como pagar as prestações do mês. E alguns deles com que
converso ao telefone que dizem assim: “Em nome de Jesus, eu não perder minha
casa. Deus na frente! Vai dar certo! ”.
O que leva esses irmãos a pensar que
Jesus estava como eles enquanto eles compravam uma declaração falsa de
rendimento com um contador “amigo”? Um discípulo de Jesus deveria fazer como
ele dizer: “nem só pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca do
Senhor.”
Uma variante que parece mais
aceitável é quando se pega o nome de alguém emprestado para financiar, fazer
empréstimo ou financiamento. Normalmente, quando você não consegue fazer no seu
nome é porque sua renda não é suficiente ou seu cadastro não foi aprovado. O
próprio sistema está dizendo que você não está em condições de contrair dívida.
Aí você vê as pedras e ouve a voz do
tentador dizendo: “se tu és filho de Deus, como isso pode estar acontecendo
contigo. Você é um vitorioso, porque você vai ficar aqui passando por essa
situação difícil? Transformas as pedras em pão!”
Ao tomar emprestado o nome de alguém
para fazer dívida, você está transformando pedras em pães e trazendo para sua
vida grande possibilidade de brigas, desavenças, discórdias e até de rompimento
dos relacionamentos familiares envolvidos e de amizade.
Eu volto a me perguntar: não deveria
um discípulo de Jesus prezar pela verdade, regularizar suas dívidas atrasadas,
limpar seu nome no comércio e comprar apenas aquilo que cabe dentro de seus
rendimentos?
Mas para isso, irmãos é preciso
confiar que o Senhor está no controle de todas as coisas inclusive no meio das
dificuldades. É preciso acreditar que os sofrimentos, as ausências e os desejos
não realizados fazem parte da vida. Em todas essas coisas o Senhor tem muito a
nos ensinar sobre submissão, confiança e contentamento.
TV por assinatura – contratar os serviços daquele técnico que vende, ele
mesmo, o pacote completo da NET: la
garantia soy yo!
Qual o problema em ter o pacote
completo da TV por assinatura? Claro que não tem nenhum problema. Se você tiver
Telecino em HBO no seu pacote e quiser me chamar para assistirmos um bom filme
juntos, pode preparar a pipoca.
Em muitos bairros, a venda desses
pacotes completos e controlado por milícias que também controlam a venda de gás
e cobram pela proteção das ruas. Verdadeiros império do crime!
Toda vez que alguém compra um pacote
completo de TV por uma ninharia, faz um gato de energia, autoriza uma ligação
clandestina de água, molha a mão do guarda de trânsito, compra carteira de
motorista, arranja um atestado médico para o trabalho é como se você estivesse
transformando pedras em pães.
Por que não?
Se
você pode transformar pedras em pães, por que não fazer? Porque quando
transformamos pedras em pães, estamos perdendo a oportunidade de confiar no
Senhor, de experimentar o cumprimento da promessa que ele nos fez de nos consolar
e animar em meio ao sofrimento, dor, angústia, amargura e tristeza que são
plantadas em nossas almas por esse mundo caído em que vivemos.
Transformar
pedras em pães pode parecer uma boa saída para sair logo do deserto, mas um
caminho de morte é. A vereda da vida a que somos chamados pelo Evangelho,
vereda estreita e pedregosa, é permanecer no deserto suportar as fomes que nos
assediam e confiar na palavra que procede da boca de Deus: estarei convosco
todos os dias, até o fim dos tempos.
Lembra
da Jéssica, que matou a amiga porque não
suportou a felicidade dela? E se a Jéssica tivesse enfrentado o deserto em que
ela estava de outra forma? Se ela conhecesse o amor de Deus? Talvez ela haveria
dito NÃO para a proposta de transformar pedras em pães. Sua fome de felicidade
continuaria, mas ela teria recebido o consolo da presença de Jesus e, quem
sabe, teria sido socorrida por anjos em suas necessidades.
A renovação da mente
Concluo
nossa reflexão dessa noite, irmãos, dizendo que que estou convicto de que somos
chamados, como discípulos de Jesus, a permanecer no deserto até que o nosso
Deus, que nos pôs lá, nos tire. Ele conhece nossa estrutura e sabe exatamente o
que precisamos aprender e como vamos aprender.
Transformar pedras em pães vai nos tornar
autossuficientes e arrogantes, donos do nosso destino, senhores de nossas
vontades, distantes e descrentes no amor dele por nós.
Devemos
permanecer em nossos desertos até que o Senhor nos ensine tudo que precisamos
aprender, mas isso só será possível se estivermos rendidos à convicção profunda
de que o amor de Deus por nós não é medido pela abundância pão, como sugere o
tentador, mas pelo fato de Cristo, o Pão da Vida, nos ter reconciliado com o
Pai e nos dado vida nova e eterna.
Precisamos
permitir que nossa maneira de pensar, isto é, a forma como entendemos o mundo,
seja mudada. Você não pode ser a mesma pessoa e pensar do mesmo jeito depois
que Jesus para a ser o seu Senhor.
A
nossa mentalidade, isto é, nossas convicções, opiniões e opções de vida precisam
transformadas mesmo, pela renovação constante que o Espírito realiza através da
Palavra de Deus. É isso que o apóstolo Paulo afirma na carta que escreveu aos
irmãos da cidade de Roma:
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de
experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Rm 12.2
As
pedras estão por todo lado! E a todo momento alguém repete a fala do tentador:
“se tu és filho de Deus, transforma estas pedras em pães”. Mas quando essas
propostas encontram em nós uma mente renovada pelo Espírito, fortalecida pelas
convicções do amor de Deus e confiante no exemplo deixado por Cristo Jesus, podemos
fazer como ele e dizer:
-->
Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que
procede da boca de Deus. Mt 4.4