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08 abril 2017

Reconcilação


Quando relacionamentos são quebrados não é possível que ocorra restauração com participação de apenas um dos lados. Todos os envolvidos precisam fazer o que estiver ao seu alcance. Mas diante da nossa incapacidade de caminhar primeiro para ele, Deus veio até nós! Ele agiu primeiro e moveu-se em nossa direção! Sem esse primeiro movimento de Deus nenhuma reconciliação poderia acontecer.

18Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. 20Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. 21Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus. 2 Cor 5.18-21 (NVI)

       A segunda carta escrita pelo Apóstolo Paulo aos irmãos que moravam na cidade de Corinto possivelmente foi escrita por volta de 55 ou 56 dC, quando ele estava na Macedônia, durante seu caminho de volta a Corinto.

Diferente da primeira carta que aborda diversas questões ligadas à vida da igreja e ao relacionamento entre os irmãos, na segunda epístola a maior parte do texto é uma defesa a respeito de seu ministério como Apóstolo do Evangelho aos gentios. 

A segunda carta aos coríntios consiste de três partes principais: os primeiros sete capítulos contêm a defesa de Paulo sobre sua conduta e seu Ministério; a segunda parte (8-9) trata do levantamento de uma oferta para os irmãos pobres da Judéia; e a Terceira parte (10-13) contêm uma mensagem de reprimenda aos caluniadores existentes na igreja. 

Sempre muito questionado e criticado por seus contemporâneos, o Apóstolo aos Gentios foi quem articulou, de maneira mais clara e didática, a essência do evangelho de Jesus para aqueles que não são judeus, mesmo sendo ele um judeu de raiz.

       Hoje vamos ser apresentados a um conceito maravilhoso desenvolvido por Paulo que nos ajudará a compreender um pouco mais o evangelho: a reconciliação.

18Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação.

Após lermos os versos 18 e 19 uma pergunta é inevitável: sobre o que o apóstolo está falando quando diz... ‘Tudo isso provém de Deus? ’ Permitam-me, já aqui no começo, abrir um breve parêntesis para constatar a importância de procurar um contexto mais amplo para entender aquilo que lemos na Bíblia.

Quando ouvimos mensagens em áudio ou vídeo pelas redes sociais, e os pregadores nos apresentam apenas uma pequena porção das Escrituras, não devemos nos dar por satisfeitos, mas ampliar o contexto para examinar de forma adequada o texto bíblico. Quem se contenta apenas com os farelos que caem da mesa dos pregadores certamente ficará malnutrido espiritualmente.

Uma leitura de todo o capítulo 5 é suficiente para percebermos que os versos que lemos são a conclusão de ideias que Paulo desenvolveu ao longo dos primeiros versos. Uma dessas ideias está nos versos 14 e 15.

14Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. 15E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

É notório o entendimento do apóstolo de que a morte de Jesus teve o propósito de nos arrancar de um modo de vida autocentrado e nos levar para um viver centrado em Jesus.

        É maravilhoso que essa compreensão seja formulada por Paulo, alguém que vivia a vida em torno de si mesmo e de sua comunidade de fé. É maravilhoso porque Paulo não está falando de algo que ele apenas leu em algum lugar, irmãos. Ele escreveu a partir de sua própria experiência com o evangelho de Jesus.

Ele era ainda um jovem muito religioso pouco tempo depois da morte de Jesus, e estava na estrada, a caminho da cidade de Damasco, com o propósito de perseguir e prender qualquer um que fosse do Caminho, quando o próprio Senhor ressurrecto encontrou-se com ele. Aquele encontro mudou tudo! O homem que antes vivia para defender seu próprio ponto de vista sobre a vida, agora falava e defendia as ideias de Jesus, inclusive estava disposto a morrer fazendo isso?

Esse modo de vida centrado em Jesus, esse viver para Cristo, é tão transformador que nos tornamos realmente pessoas novas, novas criaturas. Esse novo viver é marcado por uma vida pacificada com Deus que avança em direção à eternidade.

Imagino que o apóstolo, olhando para esse novo viver, e talvez lembrando-se do apedrejamento de Estêvão e revivendo seu próprio zelo religioso cego, sua arrogância, sua natureza pecadora... viu brotar em seu coração um pergunta incômoda: de onde veio essa mudança em minha vida?  De onde vêm todos esses presentes que tenho recebido... paz para viver a vida, um coração grato e um destino eterno com Deus... Eu certamente não mereço. De onde vem isso tudo?

Um professor sentiu a falta de um menino que vinha frequentando sua classe na Escola Dominical. Agora, ele estava faltando há três domingos consecutivos.

Com esforço, descobriu que o menino morava no alto de um morro próximo à igreja, um lugar de difícil acesso. Foi perguntando a um e a outro até que descobriu a casa.

Quando se aproximou e ia bater à porta, recebeu uma pedrada na testa e sentiu o sangue descer pelo rosto. Ainda tentou identificar de onde o ataque viera, mas a dor era tão grande que tomou conta de suas preocupações.

Ferido na alma e machucado no corpo, o professor desceu o morro para fazer um curativo. Mas não se intimidou! Comprou de presente para o garotinho uma roupa, um brinquedo e voltou lá em cima. Ao chegar à casa de seu aluno, deixou os presentes, reforçou o convite para ir à Escola Dominical e voltou para casa.

No dia seguinte bem cedo alguém bateu à sua porta. O professor veio atender e ali estavam de pé um homem e um garotinho, o seu aluno, com os presentes na mão.

- Professor, viemos devolver o presente que o senhor deixou, disse o homem. Esse menino não merece! Sabe quem foi que atirou a pedra no senhor? Foi ele! Ele não merece receber esse presente.

A essa altura o garoto já estava chorando, envergonhado e sem defesa diante do que havia feito. O professor, então, abaixou-se e, olhando seu aluno nos olhos, perguntou-lhe:

- Você não gostou do presente?

- Gostei sim, professor, mas não mereço.

- Você não precisa do presente?

- Preciso sim, mas não mereço.

- Eu dei esse presente a você... não foi porque você o mereça, mas porque eu o amo e sei que você precisa dele.

De onde vem tudo isso? Tudo isso provém de Deus, responde o apóstolo! Foi dele a iniciativa! Foi ele quem primeiro nos amou e produziu em nós o amor agradecido que pulsa em nossos corações. Paulo, então, nos introduz ao assunto afirmando que essa nova vida transformada se tornou possível apenas porque fomos reconciliados com Deus.

Ora, reconciliação não é uma palavra estranha para nós. Ela faz parte do nosso dia a dia e aparece quase sempre depois de uma briga, uma desavença ou uma discussão. Quem é casado sabe bem que a reconciliação é algo que faz parte da vida a dois. Também os amigos sabem que as amizades só resistem ao tempo se a reconciliação fizer parte do relacionamento.

No conceito mais comum, tentar se reconciliara com alguém é dizer ou fazer algo que convença o outro a restabelecer um relacionamento rompido: um marido pode comprar flores... uma esposa pode fazer a comida predileta dele... um amigo pode dar um livro de presente... tudo para que o outro mude de opinião quanto ao rompimento. Resumindo, algumas vezes, a reconciliação é um esforço para mudar a outra pessoa ou para mudar o conceito que ela tem sobre nós.

O apóstolo Paulo, no entanto, nos apresenta um outro modelo de reconciliação. Ele afirma que o primeiro passo dado por Deus para nos reconciliar com ele não foi tentar nos convencer de que estamos errados ou mudar nosso conceito sobre ele, mas deixar de lançar na nossa conta o preço do nosso pecado.

18Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo (...), 19ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, (...)

Quando relacionamentos são quebrados não é possível que ocorra restauração com participação de apenas um dos lados. Todos os envolvidos precisam fazer o que estiver ao seu alcance. Mas diante da nossa incapacidade de caminhar primeiro para ele, Deus veio até nós!

O que as Escrituras estão a nos dizer, irmãos, é que Deus agiu primeiro e moveu-se em nossa direção! Na cruz de Cristo, os pecados dos homens foram lançados na conta daquele que não tinha pecado. Sem esse primeiro movimento de Deus nenhuma reconciliação poderia acontecer.

A maioria das religiões do mundo afirmam que o ser humano está em desequilíbrio e precisa se encontrar. Os caminhos apontados por essas religiões podem ser diferentes, mas todos eles adotam aquele modelo de reconciliação pelo esforço em mudar o ânimo do outro, ou seja, ensinam formas de agradar suas divindades (inclusive aquelas em que a divindade é o próprio homem).

Desde as oferendas às forças da natureza, feitas pelas culturas animistas, até as novenas católicas e as correntes evangélicas, passando pelo auto aperfeiçoamento dos espíritas, todos estão se esforçando para convencer seus deuses de que merecem ser amados.

Por outro lado, o evangelho de Jesus é o anúncio de que isso nunca deu resultado e nunca vai dar certo. Esse esforço de convencer Deus a amá-lo é inócuo e desnecessário porque Deus já é amor! Por isso ele tomou a iniciativa da reconciliação. Nas palavras do apóstolo João: Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro.

Acontece que às vezes somos como aquele menino da história, batendo na porta de Deus, culpados, sem justificativa para o que fizemos, devolvendo os presentes e dizendo que seremos bonzinhos daqui para frente.  Esquecemos que foi ele quem primeiro nos procurou e nos amou.

Hoje você precisa apropriar-se dessa verdade: a culpa pelas pedras que você jogou contra Deus foram colocadas na conta de Jesus, quando ele morreu na cruz do Calvário. Foi assim que Deus nos reconciliou com Ele!

Ministério da Reconciliação

Olhando ainda para os versos 18 e 19, vemos que quase ao mesmo tempo em que nos reconciliou consigo mesmo, Deus nos deu uma mensagem e nos incumbiu de um ministério: o ministério e a mensagem... da reconciliação.

18...e nos deu o ministério da reconciliação, 19...e nos confiou a mensagem da reconciliação.

Em nosso dia-a-dia, nem sempre as pessoas falam a partir de suas experiências pessoais. É comum no trabalho que um chefe dê ordens sobre o serviço que ele nunca fez. Ele pode dar boas orientações, mas às vezes nunca fez ele mesmo aquilo que está pedindo para ser feito. O método de Deus é diferente. Ele nos chamou para sermos ministros da reconciliação depois fazer tudo o que era necessário para reconciliar o mundo consigo mesmo. 

Na primeira fase da reconciliação, Deus dirigiu-se em nossa direção com seu amor e nos considerou justos, mediantes os méritos de Cristo, lançando na conta de seu Filho o preço do nosso pecado. Toda a iniciativa foi dele, todo o trabalho foi dele. E agora já não há, da parte de Deus, nenhum impedimento para que o ser humano se aproxime.

Da parte de Deus está tudo consumado. Foi isso que Jesus afirmou ainda pregado na cruz. O caminho está livre para ser trilhado, um novo e vivo caminho. O que mais há para ser feito, senão receber o presente? Na verdade irmão, há muito a ser feito. Somos chamados a anunciar a boa notícia: que o pecado foi perdoado, que a culpa foi lançada sobre o Cristo de Deus, e que uma nova vida está disponível para aqueles que se reconciliarem com Deus. 


O ministério da reconciliação encontra espaço no coração humano a partir de nossa compreensão de como é abrangente e poderosa a restauração que Deus coloca à nossa disposição. E para compreender o quanto é maravilhosa essa restauração operada por Deus, irmãos, é preciso começar com estrago que o pecado fez em nós.

Comentando sobre a reconciliação, Hernandes Dias Lopes, considerou que o pecado produz um abismo com muitas dimensões, um abismo que teima em nos isolar e nos manter distantes do projeto de vida que Deus preparou para nós.

‘O pecado divide, desintegra e separa. Ele provocou um abismo espiritual, pois separou o homem de Deus. Provocou um abismo social, pois separou o homem de seu próximo. Provocou um abismo psicológico, pois separou o homem de si mesmo, e provocou também um abismo ecológico, pois separou o homem da natureza, fazendo dele ora um depredador, ora um adorador dessa mesma natureza’.

É neste mundo cheio de abismos que nos separam e nos isolam uns dos outros que somos chamados para um ministério que é essencial para o evangelho: reconciliação.

Em que consiste esse ministério? Paulo o compara ao trabalho de um embaixador. O termo grego usado por Paulo aqui remete aos representantes do Império Romano que eram enviados às províncias em conflito a fim de administrá-las e trazê-las de volta à paz. Os embaixadores levavam às províncias rebeldes uma proposta de paz e um apelo que essa proposta fosse aceita.

20Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus.

Os embaixadores romanos, quando chegavam às províncias, eram logo reconhecidos como representantes do império. Eles levavam consigo as insígnias do império. Suas comitivas levavam um estandarte com a bandeira o império, os escudos tinham o brasão do império e suas correspondências eram lacradas com o selo imperial. Esse símbolos eram o sinal de eles falavam em nome do Imperador, o que tornava possível que eles fossem ouvidos em um ambiente hostil.

Nós somos chamados a anunciar a boa notícia ao mundo e a suplicar, como faziam os embaixadores romanos, para que as pessoas aceitem a proposta de paz e se reconciliem com Deus. 

Porque as pessoas nos ouviriam, irmãos? O que podemos apresentar nas províncias rebeldes do mundo em que vivemos para que tenhamos o direito ao menos de falar em nome do Rei?

Ora irmãos, as insígnias do Rei Jesus em nossas vidas são nossas próprias respostas à reconciliação operada por Deus em nós. Quando estamos reconciliados com Deus, as pessoas em nossa volta não só permitem, elas até pedem que falemos em nome do Rei.

Se estamos reconciliados com Deus, nosso relacionamento com ele será cheio de confiança no seu amor e livre do medo. Isso é um sinal de que vencemos o abismo espiritual produzido pelo pecado.

Se estamos reconciliados em nossa vida interior, nossas limitações, falhas e pecados não mais nos atormentam, mas são colocados ao pé da cruz, enquanto somos transformados pelo Espírito de Deus. Isso é um sinal de que vencemos o abismo psicológico.

Se fomos reconciliados com as pessoas, nossos relacionamentos deixarão de ser centrados e nós mesmos. Seremos capazes de pensar no bem delas e de agir, às vezes até em prejuízo próprio, para que suas vidas sejam abençoadas. Isso é um sinal de que vencemos o abismo social.

Se estamos reconciliados com o mundo criado por Deus, exercemos nosso papel de cuidadores do jardim e a criação encontra em nossas vidas o lugar adequado: nem é destruída, nem adoradora, mas reconhecida como expressão do amor de Deus por nós. Isso é um sinal de que vencemos o abismo social.

18Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação,

Que o Senhor complete sua boa obra começada em nós de maneira que sejam embaixadores dele nas províncias rebeldes desse mundo, ministros da reconciliação, levando a maravilhosa proposta de paz que é o evangelho de Jesus Cristo, nosso salvador.

10 fevereiro 2017

Jesus, o fariseu e a mulher pecadora


36Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa. 37Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, 38e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
Lucas 7:36-38 (NVI)

Nossa história tem três personagens: Jesus, um fariseu chamado Simão e uma mulher. A história se passa na casa de Simão, durante um jantar.

Ao que parece, aquele era um jantar formal, pois Jesus tomou lugar à mesa, isto é, havia um lugar separado especialmente para ele; É possível que Simão houvesse convidado Jesus após ouvi-lo expondo as Escrituras em algum lugar;

Jesus, portanto, era um convidado especial. Mas a outra personagem, a mulher, não fazia sequer parte da lista de convidados; não que ela fosse desconhecida na cidade, mas porque possivelmente era uma prostituta.

Naquela época, as casas de pessoas ricas eram construídas em torno de um pátio aberto que parecia uma pequena praça. Muitas vezes, havia no pátio um jardim e uma fonte; era ali que eles comiam nos dias quentes. Era costume, quando um rabino era convidado, virem todo tipo de pessoa; ninguém era impedido de ouvir as pérolas de sabedoria que saíam da sua boca. Foi ali, no pátio interno casa de Simão que tudo aconteceu.

No Oriente, os convidados não se sentavam em cadeiras, mas reclinavam à mesa, em sofás baixos, apoiando-se em seu braço esquerdo para liberar o direito para comer. Tinham os pés estendidos para fora do sofá e estavam sem sandálias durante as refeições. Pode-se entender assim como a mulher chegou aos pés de Jesus.

Os sofás eram dispostos ao redor de uma mesa longa e baixa, ou, algumas vezes, no lugar da mesa, havia apenas grandes pratos de madeira colocados ao longo do centro da sala. Em um jantar formal, o sofá de cada convidado era colocado segundo a ordem da sua posição de importância naquela reunião.  

Ao chegar, todos tiravam as sandálias ou chinelos, e os deixavam à porta. Os servos ficam de pé, por detrás dos sofás, com uma bacia rasa e larga no chão, e derramavam água sobre os pés dos hóspedes.

Hoje em dia algumas cortesias são esperadas por alguém que é recebido na casa de outra pessoa, como cumprimentos de mão, beijos na face, uma palavra de bem-vindo, a indicação de um lugar para sentar.

Naquele tempo também eram esperadas pelos hóspedes algumas cortesias: um beijo de saudação, água para lavar os pés e óleo perfumado para ungir a cabeça.

Curiosamente, o texto de Lucas fala apenas que Jesus chegou à casa de Simão e ocupou o lugar que estava separado para ele. Não há qualquer menção   a respeito dos rituais de recepção que seriam esperados numa ocasião como esta.

Por que Simão convidou o mestre e negou-lhe as boas vindas? Não é estranha a forma como Simão se comportou? Será que ele gostava realmente de Jesus, ou não? Jesus era um convidado especial naquela festa, mas somos forçados a nos perguntar se Jesus era realmente importante para Simão.

Ainda hoje muitas pessoas agem em relação a Jesus da mesma forma: preparam uma festa para homenageá-lo, convidam os amigos, mas deixam de lado o próprio Jesus.

Nesse ponto da história entra em cena a mulher tida como pecadora, que era conhecida de todos.

37b...certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, 38e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
Lucas 7:37 (NVI)

Os convidados estavam todos em seus lugares. A comida estava servida e as conversas preenchiam o ambiente no pátio interno da casa de Simão. Jesus também estava deitado de lado, apoiado em um dos braços e com os pés fora do sofá.

De repente, entra no ambiente uma mulher conhecida na cidade por ganhar a vida nos prostíbulos. Muitos homens ali a reconheceram.

Ela colocou-se atrás, aos pés de Jesus. Chorou ao ponto de molhar os pés dele. Enxugou-os com os cabelos, beijou-os e depois os ungiu com um perfume muito caro.

Os olhos de todos ali estavam voltados para aquela cena inusitada, surpreendente. Aquela mulher estava fora do seu ambiente. No entanto, ela se expôs e se dispôs a enfrentar aquela situação (e o julgamento de todos) para demonstrar o quanto Jesus era importante para ela.

O quanto nós estamos dispostos a fazer o mesmo, irmãos, a demonstrar a importância de Jesus em nossas vidas? Qual o tamanho do nosso amor por ele? Qual o tamanho de nossa gratidão diante do que ele fez por nós?

Na verdade, não havia como aquela cena passar despercebida do restante dos convidados, e do próprio Simão, o anfitrião. Seja pela força das imagens, seja pela disposição de todos ali no pátio interno da residência de Simão.

Ele talvez tenha maneado a cabeça e feito algum gesto com os lábios. Mas Lucas afirma que o Fariseu falou consigo mesmo nos seguintes termos:

39"Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’ ". Lucas 7:39


A forma como Simão reagiu àquela cena inusitada revelou seu coração e algumas de suas convicções. Normalmente não falamos muito sobre nossas convicções, nossas crenças, mas elas têm um papel importante na maneira como vivemos nossa vida. Uma outra forma de dizer a mesma coisa é que aquilo em que cremos direciona nossas ideias.

Embora seja difícil, irmãos, refletir sobre os próprios pensamentos e considerar o porque das nossas reações, isso pode ser um bom exercício para expor nossa alma diante de Deus. Quem reflete sobre si mesmo tem a possibilidade de tirar a trave do próprio olho antes de tentar tirar o cisco do olho de outra pessoa.

O que podemos deduzir a partir de sua fala a respeito dos pensamentos de Simão?

1.    Parece que Simão considerava aquela mulher alguém inferior a ele. Ela era uma pecadora e sua atitude ali certamente não era bem-intencionada. Por causa dos costumes ele não a proibiu de entrar em sua casa, mas definitivamente para Simão ele e ela não eram do mesmo tipo de pessoa.

Infelizmente, irmãos, esse tipo de pensamento não é raro entre pessoas que se dizem seguidoras de Jesus. Como alguém que foi salvo pela graça de Deus, que foi amado por Deus quando estava morto em delitos e pecados, pode se considerar superior a outra pessoa? Realmente uma atitude assim nada tem a ver com o evangelho de Jesus.

2.    Outra coisa importante na fala de Simão é que ela parece revelar uma "agenda escondida". Ele chamou Jesus para um jantar, mas o que queria mesmo era saber se o jovem Rabino era um profeta de Deus. A conclusão a que ele chegou foi um definitivo NÃO. Se ele fosse profeta saberia que aquela mulher era uma prostituta e não permitiria que ela o tocasse. Afinal de contas, deve ter pensado, profetas não se misturam com gente desse tipo.

Simão tinha a si mesmo em alta conta. E é claro que para alguém ser um profeta deveria ser ainda melhor do que ele. Aparentemente Jesus não tinha passado no teste de Simão.

Ao ouvi-lo Jesus percebeu que Simão não tinha uma visão correta sobre si mesmo. Ele não se achava apenas uma boa pessoa, mas melhor que muita gente; e que por isso Deus o amava e o havia escolhido. Simão acreditava que era amado por Deus porque vivia uma vida correta.
Por isso ele também só amava as pessoas que viviam uma vida correta. Certamente que aquela mulher não vivia uma vida correta de acordo com o ponto de vista de Simão.

Nós também, irmãos, somos tentados a ir pelo caminho de Simão: amarmos os certinhos porque acreditamos que Deus também ama os certinhos. Mas Jesus falou algo muito diferente disso em outra ocasião:

17Ouvindo isso, Jesus lhes disse: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores".
Marcos 2.17 (NVI)

O Senhor decidiu, então, contar uma história para ajudar Simão. Lucas 7:40-43  

- Respondeu-lhe Jesus: Simão, tenho algo a lhe dizer.

- Dize, Mestre, disse ele. 

- Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais? 

- Simão respondeu: Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior. 

- Você julgou bem, disse Jesus.

Na história de Jesus, amor é o que acontece na vida de alguém que foi perdoado. Quanto mais uma pessoa reconhece é devedora ao ser perdoada, tanto mais ela percebe o tamanho do perdão que recebeu; e aí seu coração se enche mais ainda de gratidão por aquele quem o perdoou.

A única linguagem que Simão conhecia para o relacionamento com Deus era viver uma vida correta. Por isso, quando ele viu aquela mulher abraçada aos pés de Jesus ele imediatamente pensou: isso não está certo! Ela é uma pecadora! Pecadores não tem nada a oferecer a Deus.

A mulher, no entanto, aprendeu uma outra linguagem, outra forma de se aproximar de Deus: o amor. Ela e o fariseu eram devedores diante de Deus. Nenhum dos dois podia pagar sua dívida. Mas ao contrário dele, ela reconhecia o estado em que se encontrava. Por isso, ao ser perdoada, seu coração encheu-se de amor e gratidão.

Já Simão achava que sua dívida nem era tão grande assim, pois ele era uma boa pessoa e fazia tudo certinho. Como ele pensava que não havia muita coisa para Deus perdoar, o seu amor por Deus era pequeno e debilitado.

Você já pensou que seu amor por Deus e pelas pessoas pode estar enfraquecido porque você não tem ideia de quão imensa era sua dívida e de quão grande foi o perdão de Deus em sua vida?

10Tal como as Escrituras afirmam: Ninguém é bom - ninguém no mundo inteiro é inocente.11Ninguém jamais seguiu realmente as veredas de Deus, nem mesmo desejou verdadeiramente fazê-lo.12Todos se desviaram; todos caíram no erro. Ninguém, em parte alguma, fez só o que é direito durante toda a sua vida nem uma só pessoa.13O que falam é abominável e tão sujo quanto o mau cheiro de uma sepultura aberta. Suas línguas estão cheias de mentiras. Tudo o que dizem tem o ferrão e o veneno de serpentes mortíferas.14Suas bocas estão cheias de maldição e de amargura.15Estão prontos para matar, odiando qualquer um que não concorde com eles.16Por onde quer que vão, eles deixam a miséria e o transtorno atrás de si.17Nunca chegaram a saber o que é sentir-se seguro e desfrutar as bênçãos de Deus.18Não se importam com Deus, nem tampouco com o que Ele pensa deles. (...)23Sim, todos pecaram; todos fracassaram, e não puderam alcançar o glorioso ideal de Deus;24no entanto, Deus nos declara agora "sem culpa" das ofensas que Lhe fizemos se confiarmos em Jesus Cristo, aquele que em sua bondade tira os nossos pecados gratuitamente.
Romanos 3.10-18, 23,24 (BV)

Era essa a situação em que você se encontrava quando o Senhor o encontrou, o amou e pagou o preço pela sua vida, meu irmão.

Jesus contou aquela história para ajudar Simão a compreender de onde vinha o amor que fez aquela mulher se expor e se dispor diante de todos a demonstrar a importância de Jesus para ela. Ao terminar a história, Jesus voltou a falar com Simão:

44Então, virou-se em direção à mulher e declarou a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me trouxeste água para lavar os pés, como é o costume. Esta, porém, molhou os meus pés com suas lágrimas e os enxugou com os próprios cabelos.45Da mesma maneira, tu não me saudaste com um beijo na face, como é tradicional; ela, todavia, desde que cheguei não cessa de me beijar os pés.46E mais, tu não me ungiste a cabeça com óleo, como era de se esperar, mas esta mulher, com puro bálsamo, ungiu os meus pés.47Por tudo isso, te asseguro: o grande amor por ela demonstrado prova que seus muitos pecados já foram todos perdoados. Mas onde há necessidade de pouco perdão, pouco amor é revelado.48Em seguida, Jesus afirmou à mulher: “Perdoados estão todos os teus pecados!
Lucas 7.44-48 (KJA)
Um dos versos da canção que cantamos no começo diz assim:

Só quem conhece a grandeza do perdão que recebeu, entrega em amor todo o tesouro seu, para adorar a Deus.

O que o impede de falar para todos o quanto Jesus é importante para você? Se você tem caminhado na mesma direção de Simão e deixado sua gratidão a Jesus esfriar, o tempo de mudar chegou.

Esse é um bom momento de derramar sua vida em adoração, como um perfume agradável a Deus. Sim! É hora de renovar sua gratidão pelo imenso amor com que Deus o amou! Eu o convido a cantarmos mais uma vez a canção Vaso de Alabastro.

Antes, porém, quero deixar uma palavra para você que ainda não se rendeu-se a Jesus e continua se esforçando para ser aceito por Deus:

- A religião não pagará sua dívida;
- Os muitos cultos não pagarão sua dívida;
- As promessas cumpridas e os terços rezados não pagarão sua dívida;
- As orações sem fim, correntes, novenas e preces poderosas não pagarão sua dívida.

Apenas Jesus pode fazer isso. Na verdade, Ele já pagou. O que você precisa fazer é deixar-se alcançar pela Maravilhosa Graça de Deus e receber pela fé aquilo que jamais vai alcançar por esforço próprio.

Se você quer abrir mão do penoso esforço de tentar ser certinho quando Deus lhe quer perfeito e parar de entregar moedinhas para tentar pagar uma dívida de milhões...

Se você reconhece o quão necessitado do perdão você é...

Saiba que o Senhor quer dizer para você o mesmo que ele disse àquela mulher: Perdoados estão todos os seus pecados.