PIB de Várzea Alegre/PB - Santa Rita/PB - 22/02/15
INTRODUÇÃO
Os primeiros cristãos eram judeus que viviam conforme as
orientações da lei de Moisés. Esse fato histórico às vezes escapa à nossa
percepção, mas é importante para compreender um dos problemas enfrentados pela
igreja desde os seus primeiros dias: a tensão entre duas alianças: a aliança
mosaica e nova aliança em Cristo Jesus.
No começo da igreja, quando Paulo e os outros evangelistas
saíram pelo mundo falando sobre Jesus, eles o anunciavam como o mediador de uma
nova e ampla aliança entre Deus e a humanidade. Quando essa pregação era ouvida
pelos judeus espalhados mundo a fora, se formava uma tensão entre o modo vida
decorrente da aliança mosaica, que eles já conheciam, e o novo modo de viver que
resultaria da nova aliança em Jesus Cristo.
Hoje quero compartilhar com vocês um pouco do que as
Escrituras revelam sobre esses diferentes modos de viver a fé e as implicações
práticas de escolher uma aliança ou a outra. Nosso texto base será Gálatas
4:21-31.
Agar e Sara
21 Digam-me
vocês, os que querem estar debaixo da lei: Acaso vocês não ouvem a lei? 22 Pois está escrito que Abraão teve
dois filhos, um da escrava e outro da livre. 23 O filho da escrava nasceu de modo natural, mas o
filho da livre nasceu mediante promessa. 24 Isso é usado aqui como uma ilustração; estas mulheres
representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos
para a escravidão: esta é Hagar.
25 Hagar representa o monte Sinai, na
Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os
seus filhos. 26 Mas
a Jerusalém do alto é livre, e essa é a nossa mãe. 27 Pois está escrito:
"Regozije-se, ó estéril, você que nunca teve um filho; grite de alegria,
você que nunca esteve em trabalho de parto; porque mais são os filhos da mulher
abandonada do que os daquela que tem marido". 28 Vocês, irmãos, são filhos da
promessa, como Isaque.
29 Naquele tempo, o filho nascido de modo
natural perseguia o filho nascido segundo o Espírito. O mesmo acontece agora. 30 Mas o que diz a Escritura?
"Mande embora a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava jamais
será herdeiro com o filho da livre". 31 Portanto, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da
livre.
Os irmãos da Galácia (uma região da Ásia) moravam bem longe de
Jerusalém. Mas as igrejas daquele lugar eram fruto do trabalho missionário de
Paulo de Tarso e seus companheiros. Os gálatas haviam sido ensinados a respeito
do evangelho da Graça de Deus e aceitaram de bom grado a salvação gratuita
mediante a fé em Jesus.
Ocorre que Paulo, nas cidades por onde passava, começava seu trabalho missionário exatamente pelas sinagogas, já que ele tinha suas origens no judaísmo. Então, vários dos irmãos das igrejas na Galácia, apesar de não morarem em Jerusalém, eram judeus convertidos ao Cristianismo (que hoje são chamados de judeus messiânicos). Eles eram pessoas que por muitos anos havia seguido a lei mosaica e cumprido os costumes do judaísmo, porque primeiramente haviam enxergado a fé em Deus pelas lentes da aliança feita no Sinai.
Não demorou muito até que alguns desses irmãos estivessem
confusos. De um lado eles ouviam o apóstolo Paulo explicando o evangelho da salvação
pela Graça de Deus, mediante a confiança nos méritos de Cristo; por outro lado
eles eram assediados pelos judaizantes, que não estavam dispostos a abrir mão
da forma antiga de ver a vida, que eles havia aprendido de seus pais: os
rituais, as leis, as cerimônias, as liturgias, os sacrifícios, etc...
Foi no meio dessa tensão e desse clima de dúvida que a carta
aos Gálatas foi escrita com o propósito de ajudar aqueles irmãos a experimentar
a plenitude do evangelho de Cristo.
UMA
ILUSTRAÇÃO
Uma das ilustrações que o apóstolo Paulo utilizou para ajudar
aqueles irmãos do passado foi essa que lemos ainda há pouco. Ele recuperou uma
das histórias fundadoras do povo hebreu: os dois filhos gerados por Abraão: um
de Sara e outro de Agar.
O filho de Sara era o cumprimento da promessa que Deus havia
feito a Abraão, já o filho de Agar era resultado do esforço para dar “uma
ajudinha” a Deus; o filho de Sara era a demonstração do poder e da graça de
Deus sobre aquela que era estéril, já o filho de Agar era fruto da força do
próprio homem; a descendência de Sara (que era livre) estava destinada à
liberdade, já a descendência de Agar (que era escrava) estava fadada à
escravidão.
Com essa ilustração o apóstolo Paulo procurava ensinar aos
nossos irmãos da Galácia que a descendência de Sara e a descendência de Agar
simbolizam duas maneiras de se relacionar com Deus e, por consequência, duas
formas de viver a fé.
ANTIGA
ALIANÇA
Por uma lado há aqueles que continuam agarrados ao cumprimento
de leis, cerimônias, rituais, liturgias, vestimentas, tipos de alimentos,
correntes de oração, novenas, jejuns, conferências, procissões, cursilhos,
dízimos e assembleias solenes, achando que o esforço em cumprir essas coisas
pode torná-los ACEITÁVEIS diante de Deus. Esses ainda estão na antiga aliança e
não sabem o que é uma vida plena sob a Graça de Deus.
Não vamos esquecer que Agar fez de tudo para agradar o seu
senhor. Mesmo assim, porque ela mesma era uma escrava, sua descendência nasceu
escravizada e submetida aos seus senhores. Da mesma maneira, aqueles que vivem
suas vidas fazendo coisas para se tornarem dignos do amor de Deus podem achar
que estão dando o melhor de si, mas continuam sendo escravos. O senhor deles é
a falsa ideia de que se viverem uma vida certinha, conforme a religião, podem
facilitar as coisas para Deus amá-los. Mas a verdade, meus irmãos, é que quem
vive a religião como um esforço pessoal para ser aceito por Deus, torna-se
escravo dessa religiosidade.
Cada vez mais vemos gente assim em nossas igrejas: gente muito
religiosa, mas pouco piedosa; gente que conhece os detalhes da liturgia e do
culto, mas que não se importa com as pessoas; gente que bate no peito como
fariseu da história, convicto de que é melhor que os outros, mas quase nada
sabe sobre o amor gracioso de Deus demonstrado em Cristo Jesus na cruz do
calvário; gente que está pronta para batalhar contra inimigos, mas tem pouca
prática em amar do mesmo jeito que foi amado por Deus.
NOVA
ALIANÇA
Se de um lado havia na mente daqueles irmãos esse modo antigo
de se relacionar com Deus, com base no esforço próprio, por outro lado o
apóstolo Paulo estava pregando e ensinando que esse modo antigo pode até nos
aproximar um pouco de Deus, mas não é completamente eficaz; porque ninguém é
capaz de ser tornar aceitável diante de Deus com base nas coisas que faz para
agradá-lo. E a razão é simples: Deus pede perfeição e isso está fora de alcance
para o homem caído.
Por isso uma nova aliança foi firmada. Essa nova aliança é
comparada com a descendência de Sara. É uma aliança baseada na promessa
graciosa de Deus. Lembre-se de que não foi por causa da espiritualidade de Sara
ou de Abraão que um filho foi gerado no ventre dela, mas simplesmente por
vontade e graça de Deus, porque
Ele havia prometido que faria.
Na nova aliança não há a necessidade de se esforçar para ser
aceito por Deus, porque sabemos que Ele nos amou antes de tudo, quando nós
estávamos mortos em nossos delitos e pecados. Claro que viver uma vida santa
exige esforço, mas essa dedicação é tão somente uma resposta de amor e gratidão
àquele que nos amou primeiro.
A DÚVIDA
DOS GÁLATAS
Pela carta escrita por Paulo, dá pra perceber que os irmãos da
Galácia estavam em dúvida. E era uma dúvida razoável. Eles estavam considerando
o seguinte:
“Será que vale a pena confiar
nessa salvação pela graça de que Paulo fala? Serão que não é melhor a gente se
garantir cumprindo os ritos religiosos? A Graça parece ser ótima, mas deixa a
gente um pouco inseguro, sem nada nas mãos para apresentar a Deus; já quando a
gente se esforça para cumprir as regras da religião dá pra mostrar que fez
alguma coisa e isso faz a gente se sentir mais seguro.”
Essa é a mesma dúvida que consome muitos crentes dentro das
igrejas. Um dia eles aceitaram a mensagem salvadora da graça de Deus, mas depois
começam viver suas vidas por conta própria e se acabam abraçados ao mero
esforço religioso. São como náufragos em uma tempestade no alto mar: ficaram
muito felizes quando um bote salva-vidas foi lançado para eles, mas depois, em
vez de entrarem no bote, ficam nadando em volta dele tentando demonstrar que
são excelentes nadadores.
Assim como os gálatas, esses irmãos em nossas igrejas estão
confusos. Eles dizem que foram salvos pela graça mediante a fé, mas vivem como
se precisassem provar para Deus que são dignos de serem salvos. Vivem vergados
sob o peso do esforço para parecerem bons o suficiente.
Na prática, o que aqueles irmãos da Galácia fizeram diante da
dúvida que tinham? Alguns deles retrocederam ao modo de pensar antigo.
Influenciados pelos judaizantes, alguns se deixaram circuncidar como os judeus,
para garantir uma aliança com Deus; outros começaram a considerar certos
alimentos impuros nas suas refeições e outros ainda começaram a guardar a datas
e as festas judaicas. Eles fizeram isso porque em suas mentes, ser salvo apenas
por meio da fé parecia algo fraco que precisava ser complementado.
Da mesma maneira, irmãos, muitos hoje têm buscado algo que
possa ser acrescentado à fé em Jesus, porque se sentem inseguros com essa
salvação mediante a graça de Deus. E o que eles fazem?
Santisse
Hoje alguns acham que se viverem uma vida santa poderão usar
isso como uma espécie de moeda de troca perante Deus. Eles se esforçam para
parecerem perfeitos, mesmo sabendo que não são, e acabam sustentando uma farsa.
Aí, quando menos se espera, a casa cai e o falso poço de santidade se mostra
como realmente é: sequidão de estio.
É preciso entender que somos chamados à santidade, sim! Mas
não somos aceitos por Deus em virtude de uma vida perfeita. Somos aceitos por
ele por causa do amor que Ele tem por nós, mediante nossa confiança nos méritos
perfeitos de Cristo Jesus. A santificação é a obra de aperfeiçoamento que o
Espírito de Deus realiza naqueles que já foram salvos, não uma condição para
ser.
Ativismo Religioso
Há outros que se apegam ao ativismo religioso como uma
“complementação” à fé. Eles participam de todas as programações da igreja e sob
nenhuma hipótese faltam aos eventos a que são convidados. Lá no fundo esses
irmãos acham que viver a fé é sinônimo de frequência nas programações, por isso
eles se esforçam para fazer o seu melhor nessa questão. Alguns chegam ao ponto
de deixar de lado o cuidado com a família e as responsabilidades do lar.
É preciso entender que somos chamados à comunhão e ao serviço,
sim! Ninguém está dispensado de congregar. Mas nós não somos aceitos por Deus
com base em nossa frequência nos programas da igreja. A base da nossa salvação
é o amor de Deus demonstrado pelo fato de haver Cristo morrido por nós mesmo
sem que nós nada merecêssemos, senão a morte. Além disso, a fé não se vive entre
as quatro paredes desse prédio, mas lá fora.
Tradicionalismo
Há ainda os que se agarram ao tradicionalismo como muleta para
sua caminhada de fé. Para eles tudo que é antigo é bom, tudo que é novo é ruim.
Eles acham que se permanecerem fiéis aos costumes antigos estão sendo fiéis a
Deus, e isso vai contar como uma espécie de bônus adicional diante dele. Dessa
forma, esses irmãos fecham os olhos para os erros cometidos pela igreja no
passado ao mesmo tempo são incapazes de enxergar a boas coisa que Deus está
fazendo agora.
É preciso entender que somos chamados a manter a fé, sim! Mas
não somos aceitos por Deus em função de nosso conservadorismo e
tradicionalismo. Deus nos aceita por que Ele é amor e porque esse amor,
revelado em Jesus, encontrou lugar em nossos corações. Há muitas coisas novas e
boas que Deus deseja fazer no meio do seu povo.
UM
CHAMADO À DECISÃO
Quando Paulo escreveu aos gálatas sobre essas coisas ele foi
bem contundente. A razão é simples: ele sabia que essa forma antiga de pensar é
um caminho certo para o engano. Alguém que acha que pode dar uma ajudinha para
Deus, tornando-se digno de ser amado por ele está, na verdade, rejeitando a
Graça de Deus e anulando o sacrifício de Cristo.
Hoje eu e você somos chamados a uma decisão! Vamos retroceder
e voltar à velha maneira de pensar? Vamos virar as costas para a cruz e confiar
em nosso esforço próprio? Vamos dispensar o bote salva-vidas da graça e continuar
nadando em círculos? Vamos continuar procurando muletas, com medo de dar os
passos livres da fé? Vamos tremer diante do desafio de viver de fé em fé?
Veja o que o apóstolo Paulo afirma no começo do capítulo 5 de
sua carta:
1 Foi para a liberdade que Cristo
nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a
um jugo de escravidão.
Aqueles que foram comprados pelo sangue do cordeiro foram
feitos filhos de Deus para a liberdade. Irmãos, nós fomos salvos pela Graça de
Deus e devemos também viver por ela. Precisamos resistir à tentação de
retroceder à lógica do esforço próprio e confiar no amor gracioso de Deus por
nós.
Aqui é importante um alerta: confiar no amor de Deus e viver
sob a graça não é licença para pecar, para afastar-se da congregação ou para
menosprezar os irmãos. Paulo alerta que a liberdade não deve dar ocasião à
vontade da carne.
Jesus afirmou “conhecereis a verdade, e ela vos libertará”.
Nós, os que fomos libertos desse antigo modo de pensar e viver, somos chamados
pelas Escrituras para avançar, e não retroceder. Somos chamados à maturidade da
fé, por meio da graça. Somos chamados à confiança plena no amor de Deus
demonstrado através da vida, morte e ressurreição de seu filho Jesus Cristo,
mediante a ação poderosa do Espírito de Deus nele e em nós.
Chamado
aos de fora
Se você não faz parte de alguma igreja cristã e nos honra com
sua visita esta noite, quero encorajá-lo a continuar refletindo sobre a forma
como você se relaciona com Deus. Procure algum irmão desta igreja e diga que
você gostaria de saber mais sobre a salvação mediante a fé por meio da graça de
Deus. Nós ficaremos muito felizes em com seu interesse.
Chamado
aos de dentro
Se você é membro desta igreja, quero desafiá-lo a rever a
forma como você têm se relacionado com Deus. Se hoje você ficou desconfiado de que
está retrocedendo no seu modo de pensar e começando a procurar formas de
complementar a obra da cruz, é bem possível que isso realmente esteja
acontecendo. Então, peço que você ore ao Senhor confessando seu pecado e diga
com convicção: Senhor, me ajuda a confiar no teu amor e a não retroceder na minha
caminhada de fé.