17 dezembro 2017

Natal: foi assim...



Natal: foi assim...

Como foi realmente o nascimento de Jesus? Que fatos e circunstâncias cercaram a chegada do Messias, o enviado de Deus? Certamente a história do nascimento de Jesus é rica em detalhes que podem aquecer nossa fé e nos desafiar a uma vida de confiança em Deus.

Para saber como foi de fato o nascimento de Jesus, vamos olhar com atenção para o texto bíblico. Quando falamos de seguir Jesus como discípulo é importante sempre voltar para as narrativas bíblicas, porque as tradições populares nem sempre retratam com fidelidade o que aconteceu. Os seguidores de Jesus sempre se voltam para a Bíblia como alimento para a alma e fonte de orientação.

No Novo Testamento temos quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Os evangelhos são um tipo de biografia e foram escritos para registrar os fatos que cercaram a vida do jovem pregador que foi morto em uma cruz.

Marcos não fala sobre o nascimento de Jesus. Na verdade, o seu evangelho começa quando Jesus já é adulto e está prestes a ser batizado por João, o Batista, e assim iniciar seu ministério público. Por outro lado, o evangelho de João, escrito por um dos apóstolos de Jesus usa suas primeiras linhas para apresentar Jesus como aquele que sempre existiu. Ele afirma que antes de tudo Jesus, o verbo de Deus já existia. Assim ele também não fala do nascimento de Jesus.

Temos então os evangelhos de Mateus e Lucas, que são os que nos fornecem os fatos e as circunstâncias do nascimento de Cristo. Em Mateus a história é contada no trecho entre Mt 1.18 e 2.23. Em Lucas a história tem mais detalhes e está no trecho entre Lc 1.16 e 2.20.

Hoje à noite eu o convido a viajar comigo pelas páginas das escrituras e conhecer um pouco mais sobre o nascimento de Jesus e seu significado para nós. Esse não é um evento qualquer! Portanto quero apresentar cinco marcas que fazem do nascimento de Jesus um evento singular e com grande impacto para a humanidade.

Um nascimento profetizado

A primeira marca que faz do nascimento de Jesus algo notório e singular é que ele foi profetizado séculos antes de acontecer. De Gênesis a Malaquias as Escrituras estão repletas de profecias sobre Jesus, mas algumas delas falam especificamente sobre seu nascimento.

Quem vai nos ajudar com isso é Mateus, porque parte do objetivo de seu evangelho era demonstrar aos seus compatriotas que Jesus, o filho do carpinteiro, era exatamente aquele sobre quem os profetas falaram. Vejamos então algumas dessas profecias.

Uma virgem conceberá
Ao refletir sobre os eventos que cercaram o nascimento de Jesus, sobretudo a gravidez de Maria sem que houvesse um relacionamento sexual... Ele lembrou de uma antiga profecia apresentada pelo profeta Isaías mais de 700 anos antes de Cristo (Mt 1.18-23):

Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente. Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.

Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco) Mt 1.18-23 (RA)

A profecia de Isaías (Is 7.14) fala da ação maravilhosa e miraculosa de Deus que concede a uma jovem virgem um embrião fecundado. Isso realmente impressiona! Mas tão impressionante quanto isso é o fato de que Isaías nos apresenta o Messias como o próprio Deus que se faz presente entre nós.

É exatamente isso que Jesus é: Deus entre nós. Sim, Deus tomou forma humana e habitou entre nós. Em Jesus Deus se fez próximo de mim e de você. Por isso podemos contar com ele, porque ele sabe as dores que sofremos e deseja nos guiar com seu amor a um lugar de descanso.

O lugar
Também o lugar do nascimento de Jesus estava previsto. Mateus narra a tentativa de Herodes para descobrir onde Jesus nascera. No diálogo entre Herodes e os sacerdotes surge então a profecia sobre o lugar.

Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém; então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judeia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta:

E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel. Mt 2.1-6 (RA)

O profeta que fez essa previsão, também 700 anos antes de Cristo, foi Miquéias (Mq 5.2). E a profecia vem com o gosto bom das surpresas de Deus. Belém era uma cidade sem expressão econômica e sem tradição entre as grandes cidades do reino de Judá. Era uma pequena vila sem importância. Mas é nessa pequena vila nasceria o Salvador do mundo, Jesus.

Não é assim também nas nossas vidas? Às vezes o socorro do Senhor vem de uma forma que a gente não espera. O agir dele não está limitado às nossas expectativas, porque Ele é livre para abençoar como quer. Na verdade, a cada dia percebo que Ele gosta de nos surpreender com seu amor e cuidado.

A tragédia
Mateus não para aí. Ele narrou a terrível atitude Herodes, um rei dominado pela maldade e pela insegurança. Consumido de medo do rei menino, Herodes mandou matar todas as crianças com dois anos de idade ou menos. Diante dessa tragédia, o evangelista lembra da profecia do profeta Jeremias, 600 anos antes de Cristo (Jr 31.15).

Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos. Então, se cumpriu o que fora dito por intermédio do profeta Jeremias:

Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto, [choro] e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem. Mt 2.16-18 (RA)

No contexto imediato Jeremias se refere às famílias que perderam seus filhos durante o cativeiro babilônico. Mateus viu ali uma clara referência àquela matança dos meninos de Belém.

Que grade lição temos aqui, irmãos. Junto com a notícia do nascimento do salvador, a melhor de todas as notícias, acontece uma grande tragédia. Ela não foi provocada por um terremoto ou uma grande tempestade, mas pelo pecado que consome o coração humano.

Não é assim também nas nossas vidas? Basta uma boa notícia se pronunciar que as más notícias parecem sentir que estão perdendo espaço e vêm com força sobre nós. O mundo não é um jardim florido nem a vida um parque de diversões, irmãos. A vida nos reserva muitas alegrias, mas está também repleta de dores e sofrimentos. Mateus não escondeu a tragédia porque ele cria que tudo aquilo, ainda que maneira incompreensível, fazia parte do agir de Deus.

Ao relacionar cada uma dessas profecia com os fatos que cercaram o nascimento de Jesus, Mateus na verdade ressaltar que as coisas não estavam acontecendo aleatoriamente. Há um Deus conduzindo a história! Nas coisas belas e nas feias, nas alegrias e nos sofrimentos, nas facilidades e nas dificuldades, há um Deus conduzindo a história das nossas vidas e somos chamados a confiar nele.

Um nascimento histórico

A segunda marca que põe o nascimento de Jesus em destaque é que ele foi um fato histórico. Não um fato notório para os historiadores da época, mas um acontecimento inserido na história humana. Para que a fé em Jesus não fosse tida como uma lenda, os evangelistas situação o nascimento de Cristo dentro dos eventos históricos de sua época.

Quem nos ajuda agora é Lucas. Ele não foi um dos discípulos de Jesus. Era um médico que acompanhou o apóstolo Paulo em suas viagens. Lucas fez uma pesquisa acurada sobre Jesus. Entrevistou pessoas, visitou lugares e por fim escreveu seu evangelho. Vejamos como que ele situa historicamente o nascimento de Cristo.

Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Lc 2.1-2 (RA)

Também aqui temos algo a aprender com o nascimento de Jesus. O Deus todo poderoso autolimitou-se e entrou na história da humanidade. Não foi algo invisível, apenas no mundo espiritual, mas aconteceu no mundo palpável, nas ruas violentas e empoeiradas das vilas e cidades. Deus não está tentando se livrar do mundo, mas sim restaurá-lo.

Mesmo entre os discípulos de Jesus, sempre tem alguém desejando se livrar do mundo de carne e osso, tijolos e pedras, como um passe de mágica. Uma oração poderosa, uma vigília libertadora, uma promessa infalível, uma cura celeste, algo vai acontecer para que a vida sejam menos dura e sofrida. Mas o nascimento de Jesus nos informa que Deus age na história da humanidade. Ele age sem nos tirar da nossa própria história: age através da dor, do trabalho duro e cansativo, do chefe exigente, do político desonesto, na doença do filho, na saudade da família.

Jesus aprendeu isso, tanto que depois em uma oração que fez por mim e você ele disse: “não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal”.

Um nascimento natural

A terceira marca de destaque sobre o nascimento de Jesus é que ele foi natural. Deus decidiu habitar entre nós e veio da forma mais natural possível. Foi gerado no ventre de uma mulher, nasceu como com qualquer ser humano, foi criança, cresceu e tornou-se homem adulto. Ora, mas porque isso seria um destaque?

José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Lc 2.4-7 (RA)

A cidade estava cheia de gente de todo tipo, vinda de todo lugar. Todos procurando um lugar para dormir, mas as pousadas estavam cheias. No meio de tudo isso, chega o tempo de Jesus nascer. Maria se abriga no curral de uma das pousadas e lá nasce o salvador do mundo.

Deus está além de nós, irmãos. Tudo sobre ele é sobrenatural para nós. Ele é Deus de milagres e maravilhas, mas o seu agir é mais frequente nas coisas simples e naturais da vida. O sobrenatural nos atrai e muitos se tornam obcecados por tudo que é extraordinário. Mas precisamos ficar atentos à vida comum, aos relacionamentos cotidianos, aos encontros fortuitos, aos imprevistos, à fidelidade silenciosa, ao amor sem anúncios, à vida simples e ordeira. Em todas essas coisas o poder de Deus se revela.

Eu acredito irmãos, que quando o natural da vida se descortinar para nós como o palco do agir sobrenatural de Deus, certamente viveremos vidas menos ansiosas e estaremos prontos para aprender a confiar nele em todas as circunstâncias.

Um nascimento sobrenatural

A quarta marca sobre o nascimento de Jesus é que ele foi sobrenatural. E não era para menos! A promessa do Messias remonta ao Gênesis e faz parte do grande plano de Deus para resgatar uma humanidade perdida em sua própria desconfiança, que chafurda na lama do próprio pecado. Vejamos então como Deus interveio além do natural para executar o plano para salvar a mim e a você:

1.  Um anjo foi preparar Maria, que estava noiva, sobre seu papel no que estava prestes a acontecer.

26No sexto mês Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, cidade da Galiléia, 27a uma virgem prometida em casamento a certo homem chamado José, descendente de Davi. O nome da virgem era Maria. 28O anjo, aproximando-se dela, disse: "Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você! " Lc 1.26-28

2.  A gestação de Maria foi resultado da ação do Espírito Santo. No seu útero, Deus fez surgir um embrião fecundado.

18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Mt 1.18

3.  Um anjo apareceu a José para tranquiliza-lo sobre a gravidez de sua noiva.

20Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Mt 1.20

4.  Uma estrela sinalizou o lugar do nascimento de Jesus. Foi um sinal claro que foi interpretado por alguns estudiosos do movimento dos astros e os conduziu do oriente até Belém.

Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Lc 2.1,2

5.  Um anjo anunciou o nascimento de Jesus a um grupo de pastores de ovelhas. Foi um evento tão impressionante que os pastores ficar com medo.

8Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. 9 E aconteceu que um anjo do Senhor lhes apareceu e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. 10Mas o anjo lhes disse: "Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: 11Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor. 12Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura". Lc 2.8-12

Há algo muito importante aqui, irmãos, nessas intervenções sobrenaturais de Deus: a convicção de que Deus fará o que for necessário para realizar seus propósitos. Ele não pode ser detido, nem impedido. O que impossível para nós, para ele é trivial. A criação e as circunstâncias da vida estão sob seu comando.

Mas, preste atenção! Deus age assim para realizar os propósitos dele, que santos, retos, amorosos e perfeitos. Ele não é manipulável ou influenciável. Ele não negocia favores nem mercadeja bênçãos. Portanto, se quero fazer parte do agir maravilhoso de Deus preciso me juntar a ele naquilo que ele está realizando neste mundo.

Maria poderia ter dito não. José poderia ter dito que não acreditava nisso. Os sábios poderiam ter-se dedicado a outras estrelas. Os pastores de ovelhas poderiam ter fugido assustados. Mas todos eles decidiram participar daquilo que Deus estava fazendo. Os planos não eram deles nem eles haviam planejado. Deus os chamou fazer parte e ele aceitaram o convite.

É assim também em nossas vidas. Deus não tem compromisso com nossos planos. Ele nos chama para fazer parte do que ele está fazendo no mundo. Qual será nossa resposta?

Uma prova de amor

Para concluir nossa reflexão sobre o nascimento de Jesus tenho algumas perguntas e uma consideração:

Porque um Deus santo se faria gente e viveria em um mundo tosco e pecador como o nosso?

Porque o criador do universo, todo poderoso Deus, se autolimitaria em forma humana e se submeteria ao cuidado e à autoridade de pessoas mergulhadas no pecado?

Porque o Deus supremo subsistiria como uma criança, limitado e dependente?

Porque o autor da vida se deixaria acusar injustamente, espancar, cuspir, agredir e por fim se submeteria à morte humilhante dos bandidos, a morte de cruz?

A única resposta possível é “por amor”! Deus se fez gente por amor! O menino Jesus envolto em panos e indefeso em um cocho é fruto do amor de Deus por mim e por você. Não sei se você tem se sentido amado ultimamente, mas o natal nos diz que somos muito amados por Deus. É assim que as Escrituras falam sobre esse amor (Rm 5.6-11)

Cristo chegou na hora certa para tornar isso realidade. Ele não esperou que todos estivessem preparados. Apresentou-se disposto ao sacrifício quando ainda éramos fracos e rebeldes demais para fazer alguma coisa por nós mesmos. Mesmo que não fôssemos tão fracos, de qualquer maneira não saberíamos o que fazer. Podemos entender quando alguém morre por uma pessoa digna e como alguém bom e nobre poderia inspirar um sacrifício abnegado. Mas Deus demonstrou quanto nos ama ao oferecer seu Filho em sacrifício por nós quando ainda éramos tão ingratos e maus para com ele. Agora que nossa situação com Deus está resolvida, por meio dessa morte sacrificial, o perfeito sacrifício de sangue, não há mais razão para estar em oposição a Deus, sobre qualquer assunto. Se em nossa pior situação fomos postos em condição favorável diante de Deus, pelo sacrifício de seu Filho, agora que estamos nesta situação maravilhosa, apenas imaginem como nossa vida poderá ser plena e gloriosa por meio da vida proporcionada pela ressurreição! Agora que já desfrutamos esta maravilhosa amizade com Deus, não nos contentaremos com meras declarações formais, mas cantaremos louvores a Deus, por meio de Jesus, o Messias! Rm 5.6-11 (AM)

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10 dezembro 2017

Natal do nosso jeito



Natal do nosso jeito

Hoje teremos a oportunidade de conhecer melhor alguns dos símbolos e tradições presentes no Natal. Talvez você se surpreenda com a origem de vários deles e pode ser até que fique um pouco desconcertado com seus significados mais antigos. Então peço que seja paciente e percorra esse caminho passo-a-passo, porque o caminho pode ser espinhoso mas pretendo levá-lo a pastos verdejantes e a águas tranquilas.

Para começar, talvez seja importante dizer que o Natal como conhecemos hoje é uma coleção de símbolos e tradições de diversas épocas e culturas. Dentro dessa panela tem coisas bem diferentes umas das outras como árvores, sinos, estrelas, anjos e manjedouras. Esses símbolos e tradições foram colecionados e costurados como uma colcha de retalhos.

Se fosse como a colcha com retalhos que a irmã Guiomar fez seria ótimo! Mas a costura desses símbolos e tradições resultou em uma cultura natalina nem sempre harmoniosa e agradável como é aquela linda colcha da irmã Guiomar.

A Data

Vamos começar pela data. Na maior parte do mundo ocidental o natal é festejado em dezembro, no dia 25. Já no oriente a igreja cristã ortodoxa celebra no dia 7 de janeiro. Mas não há como saber através das narrativas bíblicas o dia exato do nascimento de Jesus. Nem juntando os relatos dos quatro evangelhos teríamos como chegar a uma resposta. No entanto, uma coisa podemos afirmar sobre a data, não foi em dezembro. A conclusão decorre de Lc. 2.8,9.

Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Lc 2.8,9 (NVI)

A questão é que em dezembro é inverno no hemisfério norte e faz muito frio. Lídia, nossa filha mais velha, enviou imagens de neve na cidade onde ela mora, no sul dos EUA. Faz dez anos desde a última vez que nevou por aquelas bandas. Na região em que Jesus nasceu o frio no inverno é insuportável para as pessoas e para os animais, então dificilmente os pastores de ovelhas estariam nos campos cuidando de seus rebanhos.

A fixação da data em 25 de dezembro ocorreu por volta do século IV. Nessa época houve uma conversão em massa ao cristianismo, por imposição do imperador romano. Lotada de novos crentes, a igreja então deparou-se com um problema: o que fazer com as grandes e tradicionais festas que eram realizadas em dezembro, como a Saturnália (em homenagem ao deus Saturno) e as celebrações do solstício de inverno (a festa do sol)?

 Nessa época do ano, é quando, no hemisfério norte, acontece a noite mais longa do ano, usada para marcar o início do inverno. A partir desse dia as noites vão se tornando mais curtas e os dias mais longos, o que era motivo de alegria e celebração, porque era um sinal de que o rigor do inverno iria pouco a pouco diminuir.

Assim, num esforço para lidar com essa situação, os líderes cristãos apresentaram uma nova razão para os festejos de final de ano: em vez de cultuar a Saturno ou ao Sol Vitorioso que iria vencer a luta contra o inverno, o povo foi chamado a cultuar a Jesus, o sol da justiça e luz do mundo.

A Disputa

Alguns acharam que não foi uma boa coisa o que foi feito, porque aquelas conversões aconteceram por decreto do imperador, de maneira que não havia muita gente disposta a mudar sincera e espontaneamente suas crenças e deixar de adorar seus deuses para adorar a Jesus. Outros pensaram que mesmo assim foi algo bom, porque a igreja ofereceu às pessoas o motivo certo para adoração em vez simplesmente deixá-las enredadas em seu engano.

O entendimento dessa origem tensa das celebrações de final de ano talvez seja suficiente para nos ajudar a compreender a mistura de símbolos e tradições que acontece nessa data. De um lado, temos elementos ligados às festas pagãs antigas que foram resignificados pela igreja; de outro, há os elementos ligados à narrativa bíblica encontrada nos evangelhos. Juntaram-se ainda a isso tudo, algumas tradições que foram-se formando com o decorrer do tempo, sem ligação com as festas pagãs, e também outras de caráter meramente mercantilista. Formou-se então a colcha de retalhos sobre a qual havia falado antes (que nem de perto é parecida com a colcha feita pela irmã Guiomar.

SÍMBOLOS E TRADIÇÕES

Deixe-me agora tratar de alguns símbolos e tradições natalinas. Como há muitos, escolhi apenas alguns. Em outra ocasião podemos fazer um estudo detalhado a respeito de cada um.

Árvore de Natal

Talvez seja um dos ícones mais presentes atualmente no natal. A tradição de usar árvores como símbolos é bem antiga. Os egípcios, bem antes de Jesus, já usavam galhos verdes de palmeira dentro de suas casas. Os povos indo-europeus árvores como símbolo da vida e os Druidas tinham o costume de decorar velhos carvalhos para suas festas religiosas. Há várias versões sobre como surgiu a “Árvores de Natal”:

(1) alguns comentaristas apontam para o século VIII na Alemanha, quando S. Bonifácio teria proposto a substituição dos carvalhos (que secam durante o inverno e eram dedicados ao deus Odin) por um pinheiro (sempre verde no inverno e oferecido a Jesus);
(2) outros afirmam que o costume foi adotado pelos cristãos também na Alemanha, mas no século XVI, quando as famílias começaram a decorar árvores com papel colorido, frutas e doces;
(3) há também quem apoie que nessa mesma época Martinho Lutero, impressionado com pinheiros cheios de neve debaixo de um céu estrelado, reproduziu a cena em sua casa com galhos e velas.
A tradição chegou à Inglaterra, França e Estados Unidos no século XIX e apenas no século XX foi abraçada pelos países da américa latina.

Não há uma ligação direta entre a árvore de Natal e o natal de Jesus. No esforço de dar novo significado a costumes antigos considera, a árvore de natal, toda verde, como sinal da vida que está em Jesus, a estrela no topo foi identificada com a estrela de Belém, enquanto as bolas nela penduradas significam os bons frutos oferecidos por Jesus à Humanidade. Já as velas ou luzes representam a presença de Cristo como Luz que ilumina o caminho dos homens e aquece os nossos corações.

Papai Noel

Quanto ao Papai Noel, embora seja incerta, a história mais comum entre os pesquisadores é que a ideia de um velhinho bondoso que trás presentes na época de natal venha do século IV e seja inspirada em Nicolas (Nicolau). Conta-se que seus pais tiveram dificuldades para ter filhos, até que nasceu Nicolas. Dando graças pelo fato, eles passaram a distribuir alimentos, roupas e dinheiro aos pobres, até que vieram a falecer devido a uma epidemia.

Nicolas herda a grande fortuna de seus pais, torna-se bispo de Myra, na Ásia Menor, e continua o trabalho de ajuda aos necessitados. Ele viveu na época do Imperador Diocleciano, em Roma.

Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. Em 1886, um cartunista alemão criou uma nova imagem para o bom velhinho. A roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto foi apresentada em uma revista semanal mesmo ano. Em 1931, uma campanha publicitária da Coca-Cola mostrou o Papai Noel com o mesmo figurino criado pelo cartunista, que com as mesmas cores do refrigerante.

A bondade do velhinho certamente é um atrativo para essa época de festas, mas, exceto por haver sido inspirado em um cristão bondoso, não há conexão entre ele o natal de Jesus. Em torno do Papai Noel há um conjunto de símbolos que nunca foram resignificados pelo cristianismo como renas, trenós, duendes e até uma mamãe noel.

Não há um esforço visível para dar ao Papai Noel um significado cristão. Possivelmente porque o universo em que ele vive não é um adereço ou um complemento, mas concorre diretamente com a narrativa bíblica, ao ponto de substituí-la.

Presépio

A palavra presépio refere-se o local onde o gado é colocado ao ser recolhido, isto é, ao curral. Ele parece ser de longe o símbolo natalino com mais conexões com o nascimento de Jesus, já que ele tenta mostrar a cena descrita nos evangelhos.

Segundo alguns pesquisadores a história do presépio remonta à Itália Medieval, lá pelo século 13. Foi nessa época que Francisco de Assis, fez uma pregação, em uma noite de Natal, acerca do nascimento de Jesus e decidiu montar um cenário. A encenação apresentava o menino Jesus, Maria, José e os reis em um presépio de palha rodeado por um boi e um. Um desses pesquisadores afirma que:

“O presépio de São Francisco de Assis (...) Foi uma maneira de ajudar a aproximar os fiéis, principalmente os analfabetos, que eram boa parte da população. Daí por diante, os presépios tornaram-se símbolos do cristianismo”.

Embora tenha cumprido um papel importante quando foi proposto por Francisco de Assis, três séculos depois o presépio foi rejeitado por alguns reformadores como imagens de escultura e idolatria. Essa rejeição certamente incomoda alguns cristãos ainda hoje e os faz não aderir aos presépios

Ainda há presépios grandes que são montados em algumas cidades mundo afora, e nas igrejas, mesmo nas evangélicas, a encenação do nascimento de Jesus tem espaço garantido nos cultos de natal. Mas a maioria dos presépios hoje são pequenos enfeites em que aparecem: o bebê Jesus, a manjedoura, os animais do estábulo, a estrela que apontou o lugar, os reis que levaram presentes, os anjos que anunciaram o nascimento, os pastores de ovelha que o visitaram e os pais do menino, Maria e José.

VIVENDO COM SABEDORIA

Bom, irmãos, nesse ponto é inevitável perguntar o que fazer com tudo isso? É possível convivermos e servirmos juntos ainda que pensemos diferente sobre essas questões. Deixe-me tentar ajudar. A base do meu entendimento sobre essa pergunta é o texto escrito aos irmãos da cidade de Roma, Rm 14. Vejamos:

1Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.
5Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz. Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus. Pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.
22Assim, seja qual for o seu modo de crer a respeito destas coisas, que isso permaneça entre você e Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvida é condenado se comer, porque não come com fé; e tudo o que não provém da fé é pecado.

Reconheço que alguns irmãos rejeitam o dia 25 de dezembro e todos os ícones natalinos e não desejam participar de festa alguma. Acham tudo no mínimo desnecessário e alguns até ofensivo. Eles certamente são livres em Cristo Jesus para pensar assim, porque não me parece ser essa uma questão doutrinária central ou relevante para nossa identidade como filhos de Deus. No entanto, Deus os chama a não condenarem aqueles que celebram o natal.

De outro lado, temos irmãos que se alegram nessa época pela oportunidade de anunciar com liberdade o motivo da festa, que o Salvador veio, e adornam suas casas de forma alusiva ao nascimento de Jesus. Esses também são livres para pensar e agir assim. No entanto, o Senhor os chama não desprezarem o entendimento e o desconforto de quem rejeita a festa e seus ícones.

No contexto coletivo, estou aqui assumindo o compromisso de lidarmos com equilíbrio e sabedoria, respeitando os pontos de vista individuais e trabalhando para que o amor de Deus encontre espaço para amarmos nossos irmãos ainda que pensemos diferente sobre um ou outro assunto periférico.


NA PLENITUDE DOS TEMPOS

“Mas pastor, se nem a data está certa e tem todas essas questões... Será que vale a pena? Não era melhor deixar tudo isso de lado?” É, eu sei que essas questões podem desanimar. Por isso, peço que você saia comigo um pouco da discussão sobre a festa do natal para nos concentrarmos no motivo da festa.

Mas, quando chegou o tempo estabelecido, Deus enviou-nos seu Filho, nascido de uma mulher, sob as condições da Lei, para redimir os que estavam sob o domínio da Lei. Assim, fomos libertados para sermos filhos que têm direito à herança. Uma vez que fomos adotados como filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho ao nosso coração, o que nos dá o privilégio de chamá-lo: “Papai!”. Essa intimidade com Deus é para vocês que são filhos, não para escravos. E, como filhos, são também herdeiros, com pleno acesso à herança. (Gl 4.4-7 AM)

Algumas traduções, falam sobre a “plenitude do tempo”. Isso é algo maravilhoso, gente! A despeito das questões em torno da data para comemorar o Natal, temos a garantia do texto bíblico de que o nascimento de Jesus aconteceu exatamente no tempo estabelecido por Deus. Nem antes, nem depois, mas no tempo certo.

A discussão em torno da data e das tradições ligadas ao natal pode ser instigantes e provocar nossa curiosidade, mas o que realmente importa é a razão do seu nascimento. Nessa carta escrita aos irmãos da Galácia, Paulo nos ajuda manter os olhos fixos no motivo da festa.

Dentro do cronograma de Deus, no tempo estabelecido por Ele, Jesus veio a esse mundo da forma mais natural que era possível, nascido de uma mulher. Não veio buscar glória para si, não veio cobrar nada de ninguém, não veio acusar ou condenar, veio para redimir o mundo. Segundo o dicionário, redimir é (1) obter novamente, (2) conseguir a libertação ou a salvação de outrem (3) tirar do perigo ou da condenação.

Então, Jesus veio para livrar o mundo do beco sem saída em que entramos com nossos próprias pés. Pensamos que a humanidade é esperta e que daremos conta do recado por nós mesmos, mas estamos perdidos e desorientados. Basta olhar pela janela para perceber que vivemos em um mundo inclinado ao erro e à destruição.

Esse é o beco sem saída da desconfiança, da falta de perspectiva para vida, da ausência de amor pelas pessoas, da mente atordoada, das emoções fora de controle, do apetite desordenado (por comida, sexo ou conhecimento); nesse beco por vezes estamos presos pelas correntes da arrogância. Jesus veio oferecer uma porta de saída. Ele disse: “Eu sou a porta”.

A saída do beco começa quando reconhecemos nossa incapacidade de sair com os próprios pés, decidimos confiar em Jesus e aceitar a sua ajuda e orientação. Essa atitude é comparada por Paulo a um órfão que se vê alvo do amor de uma família, se entrega aos seus cuidados, encontra ali um pai amoroso e protetor que o trata como filho e que ainda faz esse órfão herdeiro de sua herança.

Foi exatamente essa a boa notícia anunciada pelos anjos aos pastores de ovelha em Belém.


"Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor. Lc 2.10,11