Como ressuscitam os mortos?
(I) Mas alguém pode perguntar: “Como ressuscitam os mortos? Com que espécie de corpo virão?” Insensato! O que você semeia não nasce a não ser que morra. Quando você semeia, não semeia o corpo que virá a ser, mas apenas uma simples semente, como de trigo ou de alguma outra coisa. Mas Deus lhe dá um corpo, como determinou, e a cada espécie de semente dá seu corpo apropriado. Nem toda carne é a mesma: os homens têm uma espécie de carne, os animais têm outra, as aves outra, e os peixes outra. Há corpos celestes e há também corpos terrestres; mas o esplendor dos corpos celestes é um, e o dos corpos terrestres é outro. Um é o esplendor do sol, outro o da lua, e outro o das estrelas; e as estrelas diferem em esplendor umas das outras. 1Co. 15.35-41 (NVI)
Existem questões
importantes nessa primeira explicação de Paulo sobre a maneira como a
ressurreição acontecerá.
A criação de
Deus é multiforme e variada. Não há limites para sua criatividade. Aqui na
terra e por todo universo, essa atuação criativa de Deus é maravilhosa, diversa
e cheia de processos de transformações.
Dentro da
realidade em que hoje existimos já há muita diversidade na criação de Deus. Mas
as possibilidades se tornam inimagináveis quando entendemos que a ressurreição
em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo de Deus, é um portal de entrada
para uma nova realidade.
A
ressurreição nos conduzirá para uma nova forma de existência. Essa nova
realidade, onde a morte e o pecado já não existem, tem o potencial de ser tão
diferente daquilo que vivemos hoje quanto um cajueiro é diferente de uma castanha
de caju.
(II) Assim será com a ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. 1Co. 15.42-44 (NVI)
Perecível
|
Imperecível
|
Desonra
|
Glória
|
Fraqueza
|
Poder
|
Natural
|
Espiritual
|
Há religiões
que veem o corpo e seu impulsos como um inimigo da vida com Deus. Há outras que
veem o corpo como uma prisão para a verdadeira vida, que seria a vida do
espírito. Mas o evangelho de Jesus reconhece o corpo como parte da boa criação
de Deus, um elemento indivisível e inseparável da complexa natureza humana.
Aqui temos
espaço para uma teologia do corpo, bem como para uma mordomia do corpo.
A nova
realidade inaugurada pela ressurreição não é para almas desencarnadas. Para os
seguidores de Jesus o corpo não é algo sem importância ou descartável, mas uma
dádiva de Deus tanto para esta vida como para a eternidade.
O ser humano
foi criado por Deus nessa condição: um ser complexo com corpo (físico), mente (consciência)
e espírito (fagulha divina). Não devemos
tentar separar essas dimensões ou privilegiar uma em detrimento das outras.
Tudo neste
texto indica que a eternidade com Deus não será desencarnada. Nem tampouco
encarnada em outro corpo. Mas que deste corpo natural “semeado” pela morte surgirá
um corpo espiritual capaz de viver eternamente.
Portanto, a
eternidade com Jesus é esperança para todos que sofrem com seus corpos
adoecidos, fracos, corrompido e mortais. Além disso, quando o Senhor por graça
e misericórdia cura alguns de nós de nossas enfermidades, é como se ele nos
permitisse degustar a maravilhosa realidade da qual um dia participaremos.
(III) Se há corpo natural, há também corpo espiritual. Assim está escrito: “O primeiro homem, Adão, tornou-se um ser vivente”; o último Adão, espírito vivificante. Não foi o espiritual que veio antes, mas o natural; depois dele, o espiritual. O primeiro homem era do pó da terra; o segundo homem, dos céus. Os que são da terra são semelhantes ao homem terreno; os que são dos céus, ao homem celestial. Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial.
Adão
|
Cristo
|
Primeiro
Homem
|
Último
Adão
|
Ser
vivente
|
Espírito
vivificante
|
Do pó da
terra
|
Dos céus
|
Imagem do
terreno
|
Imagem do
celestial
|
Qual a
natureza desse corpo espiritual? Aqui há uma pista importante para respondermos
a essa pergunta. Paulo retomou o paralelo entre Adão e Cristo para nos dizer
que o corpo transformado com o qual passaremos à eternidade é semelhante ao
corpo ressuscitado de Jesus Cristo. Ele também disse isso aos filipenses.
Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e
observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes apresentamos. Pois, como
já lhes disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem
como inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o seu deus é o
estômago e eles têm orgulho do que é vergonhoso; só pensam nas coisas terrenas.
A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que
o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará
os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso. Fl 3.17-21
(NVI)
O que os
evangelhos nos contam a respeito do corpo ressurreto de Jesus?
Ao cair da tarde daquele primeiro
dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos
judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” Tendo
dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando
viram o Senhor. Jo 20.19,20
..........
Uma semana mais tarde, os seus
discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas
as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” E
Jesus disse a Tomé: “Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a
mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia”. Jo 20.26,27
..........
Ao se aproximarem do povoado para o
qual estavam indo, Jesus fez como quem ia mais adiante. Mas eles insistiram
muito com ele: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase
findando”. Então, ele entrou para ficar com eles. Quando estava à mesa com
eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles
foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles.
Perguntaram-se um ao outro: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele
nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” Lc 24.28-32
..........
Ao amanhecer, Jesus estava na praia,
mas os discípulos não o reconheceram. Ele lhes perguntou: “Filhos, vocês têm
algo para comer?” Eles responderam que não.
Ele disse: “Lancem a rede do lado
direito do barco e vocês encontrarão”. Eles a lançaram, e não conseguiam
recolher a rede, tal era a quantidade de peixes.
O discípulo a quem Jesus amava disse
a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro, ouvindo-o dizer isso, vestiu a capa, pois a
havia tirado, e lançou-se ao mar. Os outros discípulos vieram no barco,
arrastando a rede cheia de peixes, pois estavam apenas a cerca de noventa
metros da praia. Quando desembarcaram, viram ali uma fogueira, peixe sobre
brasas, e um pouco de pão.
Disse-lhes Jesus: “Tragam alguns dos
peixes que acabaram de pescar”.
Simão Pedro entrou no barco e
arrastou a rede para a praia. Ela estava cheia: tinha cento e cinqüenta e três
grandes peixes. Embora houvesse tantos peixes, a rede não se rompeu. Jesus lhes
disse: “Venham comer”.
Nenhum dos discípulos tinha coragem
de lhe perguntar: “Quem és tu?” Sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se,
tomou o pão e o deu a eles, fazendo o mesmo com o peixe. Esta foi a terceira
vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois que ressuscitou dos mortos. Jo 21.4-14
Visível... palpável...
com cicatrizes... alimentou-se... não era reconhecido imediatamente... memórias
preservadas... não limitado pela matéria.
Há quem
acredite que a vida eterna será uma espécie de existência não corpórea e não
sensorial. No entanto o corpo ressuscitado de Jesus parece preservar todos os
sentidos que conhecemos e, além disso, apresenta habilidades especiais que não
conhecemos.
Isso parece
confirmar que nossa humanidade não precisa ser negada, mas sim restaurada. Somos
humanos e estamos limitados a essa condição. E é nessa condição que teremos
acesso a eternidade.
Não precisaremos
nos tornar anjos ou seres celestiais para estar com Jesus onde ele estiver; na
verdade, mediante a ressurreição, pelo poder do Espírito Santo, veremos nossa
humanidade transformada, libertada do pecado e da morte para sermos aquilo que
de fato Deus planejou desde o início. Por isso...
Nossas emoções não devem ser negadas. Precisamos, sim
aprender a lidar com elas de forma apropriada.
Nossos impulsos não devem ser negados, mas precisamos
compreendê-los e aprender a expressá-los de forma sã e construtiva para nós e
para os outros.
Nossas fraquezas não devem ser negadas. Mas reconhecidas
mediante oração e pela busca da força que há no Senhor.
Nossos pecados não devem ser negados, mas sim objeto de
confissão e arrependimento. Assim seremos perdoados e restaurados.
A esperança
que temos em Cristo Jesus, portanto, não é a de que viveremos neste mundo uma
vida impecável, mas a de que viveremos sob a graça de Deus, que nos acolheu
mesmos pecadores. Não há encorajamento ao pecado quando afirmamos isso, porque
não cabe nenhuma louvação à morte e à destruição. O que há é a compreensão da
fala de Jesus quando ele afirmou.
“Não são os que têm saúde que precisam de
médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao
arrependimento”.
CONCLUSÃO
Quero,
então, concluir resgatando três elementos dessa esperança de que temos de nossa
ressurreição, pelo mesmo poder que ressuscitou a Jesus.
(1) A
ressurreição nos conduzirá para uma realidade onde a morte e o pecado já não
existirão. Não será uma aventura extracorpórea do espírito, nem uma projeção
mental, nem uma expansão da alma. Porque sob nenhuma hipótese o corpo será
esquecido.
(2) Não
precisaremos nos tornar anjos ou seres celestiais para estar com Jesus onde ele
estiver; na verdade, mediante a ressurreição, pelo poder do Espírito Santo,
veremos nossa humanidade transformada, libertada do pecado e da morte para
sermos finalmente aquilo que Deus planejou desde o início.
(3) A
esperança que temos em Cristo Jesus, portanto, não é a de que viveremos neste
mundo uma vida impecável, mas a de que viveremos aqui sob a graça de Deus, que
nos acolheu mesmos pecadores, até que seja completada em nós a obra que ele
começou.