Introdução
Onde reclinamos a cabeça quando o dia parece que não vai terminar? Onde buscamos alento quando a tristeza se torna insuportável? Onde procuramos remédio para as dores da alma, para as crises de fé e as angústias da vida? Onde procuramos respostas para as dúvidas que nos consomem por dentro? Quando estamos cansados e sobrecarregados, para onde vamos?
Jesus faz um convite simples: vinde a mim... E eu vos aliviarei. Vinde a mim... E encontrareis descanso.
O convite é simples e atendê-lo também. Mas, é preciso tomar a decisão de ir até Ele. Isso implica em evitar as rotas de fuga que a vida nos oferece.
Sempre surgem rotas de fuga que nos levam para longe de Jesus. Elas parecem atrativas. Algumas são prazerosas e apelam ao que a bíblia chama de concupiscência; outras são cômodas e apelam para o comodismo e acomodação; e outras ainda são práticas e apelam para o utilitarismo que “coisifica” as pessoas.
Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte. (Prov 14:12)
As rotas de fuga são caminhos que usamos para fugir da presença do Senhor e evitar ficar face a face com Ele. É assim que a busca pela produtividade, a preguiça espiritual e a sede insaciável de prazer, cada um do seu jeito, se transformam em caminhos que levam para morte, não para a vida.
Religiosidade
Quando Jesus chama vinde a mim, muito viram as costas e fogem por uma outra rota de fuga: a religiosidade. Quem faz isso nunca encontra o alívio e o descanso prometidos por Jesus. Ao contrário, se torna mais ansioso, angustiado e culpado.
O Senhor se relacionou com todo tipo de pessoa durante o seu ministério. Mas, havia um desses tipos que ouviu palavras muito duras, ditas com muita ênfase: os fariseus. Hoje quando ouvimos a palavras fariseu nossa mente imediatamente associa a palavra a alguma coisa ruim, que às vezes nem sabemos muito bem o que é.
Os fariseus eram uma espécie de facção religiosas entre os judeus. Eles eram extremamente zelosos e tentavam cumprir a lei em tudo que ela mandava. Os fariseus recomendavam pureza, tinham uma vida moral acima da média e eram reconhecidos como pessoas tementes a Deus. Se havia alguém que parecia estar bem perto de Deus, eram os fariseus.
Jesus, no entanto vai além das aparências e denuncia o pecado dos religiosos: a religiosidade como um fim em si mesmo. No capítulo 23 de Mateus, o Senhor falou sobre os males da religiosidade e sobre como ela afasta as pessoas de Deus.
(1) Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo: (2) Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. (3) Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. (4) Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
Religiosos criam rituais complicados, desenvolvem novenas e correntes complexas que precisam ser cumpridas como prova de devoção; e colocam essas tarefas como um peso sobre os ombros das pessoas, embora eles mesmos não as cumpram.
Os religiosos na sua maioria são arrogantes. É uma arrogância disfarçada, mas é arrogância. Onde está a arrogância? Ela reside no fato de se achar que o simples cumprimento de uma tradição religioso é suficiente para Deus. A religiosidade e um substituto de Deus.
Em vez de buscar ao Senhor de todo coração, de procurar conhecê-Lo e se familiarizar com o Seu jeito de ver a vida, o religioso cumpre tarefas como uma fuga da presença de Deus.
(5) Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos; (6) gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, (7) das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi.
A religiosidade anda de mãos dadas com a pompa e a exibição. Os filactérios eram as duas caixinhas que contêm uma faixa de pergaminho com passagens bíblicas que os judeus ainda hoje trazem junto à testa e ao braço esquerdo, durante a oração matinal dos dias úteis.
Primeiros lugares... Primeiras cadeiras... Saudações nas praças... Reconhecimento. Deus deixa de ser o centro e os próprios religiosos assumem o seu lugar.
(8) Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. (9) E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. (10) Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo. (11) Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo.
O Senhor explica que a religiosidade é uma tentativa de assumir o lugar de Deus. É por isso que ela nos afasta de Deus. Porque o Senhor não divide sua glória com ninguém.
Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não a darei, nem o meu louvor às imagens esculpidas. (Isa 42:8)
(12) Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado. (13) Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.
A lógica do Reino de Deus não funciona como a lógica do mundo. Quem tenta se promover e colocar-se acima dos outros, e se utiliza da arrogância como rota de fuga, não encontrará lugar próximo a Deus.
(14) [Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis longas orações; por isso recebereis maior condenação.]
A religiosidade leva os religiosos a esquecerem das pessoas. Os outros passam a ser apenas meios para alcançar objetivos pessoais e às vezes escusos. Assim o religioso é capaz de explorar em nome da fé e se justificar com a prática da religião.
(15) Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós.
A religiosidade valoriza o fazer discípulos de si mesmos. O ensino meramente religioso não leva a alma à liberdade diante de Deus, mas aprisiona ao cumprimento de regras e preceitos.
(16) Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo ouro do santuário, esse fica obrigado ao que jurou. (17) insensatos e cegos! Pois qual é o maior; o ouro, ou o santuário que santifica o ouro? (18) E: Quem jurar pelo altar, isso nada é; mas quem jurar pela oferta que está sobre o altar, esse fica obrigado ao que jurou. (19) Cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? (20) Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo quanto sobre ele está; (21) e quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita; (22) e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.
(23) Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas. (24) Guias cegos! que coais um mosquito, e engulis um camelo.
A religiosidade transfere a importância do principal para o secundário. Manter-se no principal é muito simples para os religiosos, porque a mente legalista tem necessidade de complexidade. A importância sai do principal para o secundário, porque o principal está sempre ligado a Deus. Ouro é sempre ouro em qualquer lugar, mas o altar está ligado a Deus; a oferta tem vida própria, mas o altar está ligado a Deus. Assim o religioso se afasta da presença de Deus.