17 setembro 2018

Levai as cargas uns dos outros



Igreja Batista Videira, João Pessoa/PB - 02/09/2018

Levai as cargas uns dos outros

Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo. Gl.6.2

Como sabemos, Paulo se utilizou com frequência das cartas para complementar seu esforço missionário e evangelizador. Diferente de outras, esta carta foi escrita para as igrejas de uma região, a Galácia, e não para a igreja de uma cidade.

Impossibilitado de ir vê-los pessoalmente (uma viagem de 400km a pé), Paulo resolveu escrever para falar sobre as investidas dos judaizantes contra o evangelho da Graça de Deus em Jesus Cristo. 

É que os irmãos daquela região, que haviam dados os primeiros passos da caminhada cristã pela fé em Jesus e guiados pelo amor gracioso de Deus, estavam sendo pressionados a aderir aos costumes e rituais judaicos, como as proibições alimentares, as festas cerimoniais e até a se circuncidarem como sinal de pacto com Deus.

Como o principal argumento era que a Lei de Moisés deveria ser obedecida integralmente pelos irmãos gentios, essa pressão dos irmãos judeus acabava colocando sobre os gentios exigências das quais Jesus já havia libertado todos, judeus e gentios.

Talvez, o que Paulo está afirmando é que aqueles que desejam cumprir uma lei deveriam cumprir a lei de Cristo (que é a lei do amor), e que uma das formas de fazer isso é levar as cargas uns dos outros, e não colocar sobre os ombros do irmão peso extra e desnecessário, como estavam fazendo os judaizantes.


Ninguém deve andar sozinho

Quando o apóstolo afirma que devemos levar as cargas uns dos outros ele dá como certo que não devemos levá-las sozinhos.

Infelizmente algumas pessoas tentam fazer isso. Acham que é um sinal de força espiritual não incomodar os outros com seus problemas. Essa é uma decisão corajosa, mas não é uma decisão sábia. Caminhar sozinho é o que faria um adepto do estoicismo (um movimento filosófico com viés religioso que tem causado dano ao cristianismo), mas não tem qualquer relação com o ensino de Jesus. Portanto, se você está ou esteve nesta direção, recomendo que saia dele e não volte mais.

Há também quem apresente argumentos bíblicos para justificar sua jornada solitária de fé. A ideia é que devemos confiar no Senhor (Sl 55,2) e que Jesus nos convidou para irmos a ele com nossos fardos (Mt 11.28) e que isso é suficiente para uma boa jornada cristã. 

Certamente Jesus é suficiente. Mas os solitários da fé se esquecem de que o consolo, a orientação, a exortação e tudo mais de que precisamos quando sentimos o peso dos nossos fardos chegará através de nossos irmãos. O Senhor opera preferencialmente através das pessoas. Portanto, ninguém deve andar sozinho.

Cada um de nós pode recorrer à memória e se lembrar de um momento em que teve seu fardo aliviado pela intervenção amorosa de um irmão. O próprio apóstolo Paulo narra uma experiência neste sentido.


5 Porque, chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro. 6 Porém Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito; 7 e não somente com a sua chegada, mas também pelo conforto que recebeu de vós, referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto, o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu regozijo. (2 Co 7.5,6)


Todos temos fardos

Quando o apóstolo afirma que devemos levar as cargas uns dos outros ele dá como certo que todos temos fardos a carregar. Duas vezes nesta passagem e fala sobre carregar cargas. No verso 2 ele diz “Levai as cargas uns dos outros” e um pouco mais à frente, no verso 5, “cada um levará seu próprio fardo”

A aparente contradição é resolvida quando descobrimos o significado das palavras gregas utilizadas por Paulo: báros no verso 2 significa um peso ou fardo pesado, e phortíon no verso 5 é um termo comum para pacote, algo possível de ser levado. 

Então, há responsabilidades que são suportáveis, pacotes que devemos levar. São obrigações que ninguém pode cumprir por outro, e tarefas das quais cada um de nós deve ser pessoalmente responsável. No entanto, há também os fardos pesados demais para uma pessoa carregar sozinha e que precisam ser compartilhados. Ajudar aos irmãos a carregar esses fardos é cumprir a lei de Cristo. A lei do amor.

Dentre os fardos pesados, que ninguém deveria tentar levar sozinho, está o pecado que nos assedia. É sobre ele que Paulo fala no primeiro verso desse capitulo.


Se alguém for surpreendido...


1 Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado. (Gl 6.1)

Hernandes Dias Lopes, em seu comentário, esclarece que o termo surpreendido indica não se tratar de um caso de desobediência deliberada, isto é, rebeldia contra o ensino bíblico. A palavra grega paráptoma, “falta”, significa literalmente “pisar fora do caminho”, dar um passo em falso ou resvalar os pés num caminho perigoso. 

Há duas coisas importantes aqui.

1) Todos estamos sujeitos à emboscada do pecado. Até mesmo aqueles que consideramos mais espirituais entre nós. Lembre-se de que Jesus, em sua oração, nos ensinou a pedir ajuda para enfrentar a tentação e livramento contra mal que há mundo. 

2) Para quem segue a Jesus como seu Senhor e Salvador, cair na armadilha do pecado é um fardo muito pesado para se carregar sozinho. Quem cai na armadilha deve pedir socorro. E quem vê o outro cair? O que deve fazer?


O QUE FAZER
Vocês, (...) deverão restaurá-lo 

A palavra que ele usa para corrigir (ou restaurar), katartídzo, era usada quando alguém realizava um reparo (em redes de pesca, por exemplo), e também para o trabalho de um médico que coloca um membro quebrado em seu lugar. 

Barclay, explica que “toda a atmosfera da palavra enfatiza não o castigo, mas a cura; a correção é vista não como uma punição, mas como um remédio. E Paulo prossegue dizendo que quando vemos um irmão cair em uma falha faremos bem em dizer: ‘Se não fosse pela graça de Deus, seria eu’.”

John Stott, em seu comentário, nos ensina que se algum de nossos irmãos cair na armadilha do pecado não devemos permanecer inertes, sob o pretexto de não ser da nossa conta. Também não devemos desprezá-lo ou condená-lo em nossos corações. Nem tampouco devemos ir correndo contar ao pastor ou fazer fofocas com os outros irmãos. Devemos restaurá-lo. É nossa obrigação trazê-lo ao bom caminho de Cristo.


QUEM DEVE FAZER
Vocês, que são espirituais (...)

Quem são os crentes espirituais? Paulo diz que são aqueles que andam no Espírito, produzem o fruto do Espírito e são guiados pelo Espírito. O texto parece deixar claro que são esses é que devem tomar a iniciativa de cuidar daqueles que são surpreendidos pelo pecado. 

Isso é tão importante que um outro comentarista, Adolf Pohl, observou que é Paulo dedicou à questão do pecado somente o primeiro terço do versículo 1, e os dois terços seguintes e os quatro versículos restantes foram dedicados a explicar quem deve corrigir. Isto é, o apóstolo parece preocupar-se mais com os exortadores do que os irmãos faltosos.

Aqui é preciso dizer que a Palavra de Deus não está falando de um grupo de elite espiritual dentro da igreja. TODOS os crentes devem e podem ser espirituais e, portanto, todos os crentes podem e devem ser instrumento de Deus para restaurar o seu irmão.

Mas se alguém não estiver sendo guiado pelo Espírito, andando no Espírito e produzindo o Fruto do Espírito ele pode produzir mais doença do que cura ao tentar ajudar alguém. Em outras palavras, como disse Jesus, é preciso primeiro tirar a trave do seu próprio olho para depois ajudar o irmão a tirar o cisco do olho dele. 


COMO DEVE SER FEITO
...deverão restaurá-lo com mansidão.

 A mesma palavra grega praótes usada aqui aparece em 5.23 como parte do fruto do Espírito, pois a mansidão é uma característica da verdadeira espiritualidade. Esse um dos motivos (Hernandes) por que apenas os cristãos espirituais devem se envolver no ministério da restauração. 

A verdade é que (John Stott) a dureza, a insensibilidade e a hipocrisia não podem estar presentes no processo da confrontação. Precisamos ter a ternura de Cristo e a doçura do Espírito de Deus a fim de que a pessoa ferida pelo pecado possa ser curada e restaurada. 

Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão”. 2 Ts 3.15

Infelizmente, muitos que procuram viver a vida cristã com sinceridade jogam duro com as quedas dos outros. Há uma certa dureza no jeito em que alguns crentes tratam uns aos outros e isso precisa ser mudado. A mansidão é imprescindível para restaurar e naqueles que são guiados pelo Espírito ela nasce da percepção da própria fraqueza e da inclinação humana para o pecado.


CONCLUSÃO

Levar as cargas uns dos outros é um chamado para todos os crentes. Somos chamados a andar no Espírito e a vivermos relacionamentos harmoniosos uns com os outros. Não devemos nos “provocar uns aos outros” nem “invejar uns aos outros” (5:26), mas, antes, devemos “levar as cargas uns dos outros” (6:2). 

Levar as cargas uns dos outros é cumprir a lei de Cristo. É uma expressão do amor mútuo, que Cristo deixou como um mandamento para nós. E porque é mútuo (amai-vos uns aos outros), não devemos andar sozinhos. Cristãos solitários são a negação do evangelho de Cristo.

Devemos reconhecer os fardos que a vida nos impõe e precisamos levar nós mesmo, fortalecidos em Cristo e pelo seu poder.

Também precisamos reconhecer que o pecado não é o tipo de carga que deva ser levado sozinho. Esse fardo precisa ser dividido. Portanto, aqueles que se virem presos à armadilha do pecado devem pedir ajuda e aqueles que virem o irmão preso devem correr para socorrê-lo.

O socorro é a restauração. Não há necessidade de fazer cara feia e dizer palavras duras com o passarinho que ficou preso na armadilha. A armadilha já está roubando-lhe a liberdade. Basta ajuda-lo a sair.

Devemos pedir ao Senhor que nos ajude na caminhada de fé para que sejam guiados pelo Espírito, andemos no Espírito e produzamos o Fruto do Espírito. Isso nos habilitará a cuidar bem dos nossos irmãos.

Porque todo trabalho de restauração precisa ser feito com brandura e mansidão. Isso é verdade em uma obra de arte, mas é ainda mais verdade quando estamos falando da vida de uma pessoa amada pelo Senhor.

Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).

Sujeitai-vos uns ao outros

  Igreja Batista Videira -  João Pessoa 16/09/2018
Sujeitai-vos uns ao outros

Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo. Ef. 5.21

Dando continuidade a essa série de mensagens sobre os mandamentos recíprocos e sobre como eles são imprescindíveis para uma igreja que se pretende relacional, chegamos ao 11º mandamento “uns aos outros”.

Começamos com “membros uns dos outros” e passamos por “Dedicados uns aos outros”, “Honrando uns aos outros”, “Aceitando uns aos outros”, “Admoestando uns aos outros”, “Saudando uns aos outros”, “Servindo uns aos outros”, “Levando as cargas uns dos outros” e por fim , domingo passado refletimos sobre “suportando uns aos outros”.

Sob diversos aspectos o tema de hoje é indigesto para várias pessoas. Sujeitar-se a alguém está para além dos limites que algumas pessoas estão dispostas a ir a fim de seguir a Jesus. Sujeitar-se a Deus, tudo bem; mas a outras pessoas... aí já é demais, podem pensar alguns.

De certa maneira, a resistência para submeter-se a alguém é porque o significado da palavra vem carregado de um sentimento de impotência diante de alguém mais forte ou poderoso que eu. Submissão, portanto, é sempre algo que faço contra a minha vontade.

Quando Paulo escreveu sua carta aos efésios sujeitar-se já significava respeitar a hierarquia, isto é, a submissão era imposta de cima para baixo.

“A hierarquia estava implícita nas estruturas sociais do século I. O imperador ficava sozinho no topo da pirâmide. Imediatamente abaixo, ficava o senado, com cerca de 600 homens. Abaixo deles, estavam os ricos proprietário de terras e homens de negócios. Abaixo, estavam os aristocratas locais das províncias e cidades do império, que possuíam algum poder político ou influência devido à sua riqueza (...) A maior parte da população ocupava as classes inferiores — pequenos proprietários de terras, artesãos e comerciantes, e os pobres que conseguiam sustentar-se como trabalhadores diaristas. Abaixo deles, os mais inferiores na escala social, estavam os escravos, considerados segundo a lei como meras propriedades, apesar do fato de que muitos escravos eram indivíduos muito instruídos e talentosos. Nesta sociedade social altamente estratificada, a posição e os privilégios eram guardados ferozmente.”[1]

Em nossos dias, embora a hierarquia seja um pouco diferente, o significado é parecido. Sujeitar-se a alguém é algo que se faz obrigado, encurvado sobre um poder maior e contra a própria vontade.

Por isso muita gente torce o nariz quando se depara com os chamados bíblicos para nos sujeitarmos a outra pessoa (como, por exemplo, as esposas se sujeitarem a seus maridos, ou os filhos se sujeitarem a seus pais). Eles pensam que um Deus de amor não deveria recomendar a alguém que se sujeitasse a outra pessoa, o que parece razoável.

O que fazer, então com esse mandamento?

Uma rápida perspectiva bíblica

Bem, a primeira coisa que precisamos fazer é nos certificar de que realmente a Bíblia nos pede isso, isto é, que nos submetamos a alguém. Vejamos, então, alguns textos:

1 Pedro 5.5
5 Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.

Tito 2.9,10
9 Ensine os escravos a se submeterem em tudo a seus senhores, a procurarem agradá-los, a não serem respondões e 10 a não roubá-los, mas a mostrarem que são inteiramente dignos de confiança, para que assim tornem atraente, em tudo, o ensino de Deus, nosso Salvador.

Colossense 3.20
20 Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor.

Efésios 5.22
22 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor,

Romanos 13.1
1 Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas.

Com esses textos podemos ver que o conceito de submissão não era estranho aos escritores bíblicos, muito pelo contrário. A expressão foi usada para orientar uma variedade de comportamentos que deveriam se adotados pelos cristãos. Se a Bíblia realmente apresenta e recomenda a sujeição como uma forma de relacionamento, precisamos compreender a natureza dessa sujeição.

Sujeição Mútua

Vamos examinar criteriosamente as Escrituras e buscar seu real significado. Só assim o texto sagrado vai cumprir plenamente seu papel em nossas vidas.

Tanto para sociedade do primeiro século como para a dos nossos dias, a sujeição é uma via de mão única que obriga o mais fraco a curvar-se diante do mais forte. Mas o nosso texto diz “sujeitem-se uns aos outros”. Há um elemento novo aqui. O apóstolo Paulo nos apresenta um tipo de sujeição que é um caminho de mão dupla: uns aos outros, ele diz.

Fora do Evangelho sujeitar-se é uma atitude passiva, uma marca dos vencidos. Mas, sob a sombra da cruz, submeter-se é a marca do vitoriosos; uma atitude proativa recomendada para todos.

Como é essa sujeição de mão dupla?

Imagino que os irmãos de Éfeso, assim como nós estamos agora, ficaram muito curiosos sobre essa sujeição de mão dupla. A sujeição pela força eles já conheciam, mas como seria esse 'sujeitai-vos uns aos outros'?

Ao propor que nós devemos nos sujeitar uns aos outros, Paulo não estava criando um novo ensino. Foi Jesus quem propôs esse novo jeito para o mundo funcionar:

Jesus os chamou e disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Mt 20.25-28

Esse é um bom momento para dizer que seguir a Jesus é descobrir a visão de mundo de Cristo (cosmovisão) em seus mais diferentes aspectos e se esforçar para colocá-la em prática em nossas vidas; caso contrário não teremos o direito de ser chamados discípulos de Jesus.

É importante perceber que o NT não desafia diretamente as estruturas sociais existentes, como a escravidão. Em lugar disto ele fala diretamente às pessoas cristãs, e as convoca para viverem uma vida de amor dentro das estruturas da sociedade.[2]

Todos conheciam a submissão imposta, com base na força, de cima para baixo; Paulo ecoando as palavras e a vida de Jesus, propôs uma submissão não de cima para baixo, mas em todas as direções; não com base na força, mas baseada no amor. Ele fez algumas aplicações práticas para demonstrar como isso deveria funcionar. Vejamos:

Maridos e esposas

22 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, (...) 25 Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela

As esposas são exortadas a se sujeitarem a seus próprios maridos assim com a igreja se está sujeita a Cristo, isto é, espontaneamente e como resposta ao amor com que são amadas.

O marido é chamado a amar sua esposa, e a colocar suas vidas a serviço dela, protegendo, cuidando e provendo suas necessidades.

Assim, nesse “sujeitai-vos uns aos outros” que acontece entre marido e mulher, é o amor que norteia tanto a submissão da mulher (mediante o respeito e a consideração) quanto a submissão do homem (mediante o serviço).

Pais e filhos

1 Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo (...) 4 Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.

Os filhos são exortados a obedecerem a seus pais, reconhecendo que eles têm autoridade para orientá-los.

Já os pais são orientados a agirem com equilíbrio e sensatez, evitando assim irritarem seus filhos, levando-os à ira e à rejeição dessa autoridade.

Assim nesse “sujeitai-vos uns aos outros” que acontece entre pais e filhos, é o amor que norteia tanto a sujeição dos filhos (mediante a obediência) quanto a submissão dos pais (mediante a perseverança no ensino e no exemplo).

Senhores e escravos

5 Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo. (...) 7 Sirvam aos seus senhores de boa vontade, como ao Senhor, e não aos homens, (...) 9 Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.

Paulo não é um revolucionário que enfrenta ostensivamente a cultura escravagista de sua época, como muitos gostariam de ver. No entanto, o enfrentamento acontece e se dá na raiz do problema: a natureza pecadora do ser humano.

Os escravos são orientados a reconhecerem a autoridade de seus senhores, a respeitá-los, a tratá-los com sinceridade e a servi-los como se estivessem servindo Cristo.

Já os senhores são exortados a tratarem seus escravos com iguais a eles mesmos e deixarem de lado as ameaças, lembrando-se que há um único Senhor sobre todos, que não faz diferença entre senhores e servos.

Assim, nesse “sujeitai-vos uns aos outros” que acontece entre senhores e escravos, é a confiança/temor em Jesus que sustentam tanto a sujeição dos escravos (mediante a obediência) quanto a submissão dos senhores (mediante o respeito e o tratamento digno).

Cristãos e seus líderes

Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês. (Hb 13.17)

Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (1 Pe 5.2,3)

Os cristãos são exortados a se submeterem à autoridade de seus líderes obedecendo sem resistência. Já os pastores e líderes são orientados a liderarem com espírito de servo, deixando de lado qualquer inclinação autoritária ou controladora.

Assim, mediados pelo amor e pela confiança, todos podemos nos sujeitar uns aos outros. Essa vida de amor à qual somos convocados vira do ponta-cabeça as ideologias de plantão, e capacita o povo de Deus a se unir em um só corpo, uma só família, uma só nação.

Conclusão

A sujeição imposta pela força, de cima para baixo, que oprime o fraco e humilha aquele que já está abatido não é deve ter lugar na igreja de Jesus e nem em qualquer um de nossos relacionamentos.

Mas a sujeição mútua, pautada no amor e na confiança, que se acontece em todas as direções, é a proposta de Cristo para uma nova realidade. O Espírito de Deus está pronto para nos ajudar. Vamos juntos?

Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).


[1] Comentário Histórico Cultural do NT
[2] Comentário Histórico Cultural do NT

04 março 2018

A esperança que há em Jesus 7



Mantenham-se firmes

Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil. 1 Co. 15.58

Portanto...

Esse verso é a conclusão dos argumentos de Paulo. Uma exortação final diante de tudo o que ele apresentou até agora. Vamos ouvir o Espírito de Deus tem a nos dizer?

Amados irmãos...

O evangelho coloca todos que receberam a Jesus com seu senhor e salvador na condição de irmãos. Fomos incluídos na família de Deus mediante a fé em Jesus, pela ação do Espírito Santo que gerou em nós, os que creem, uma nova natureza inclinada para Deus.

Essa ligação não depende de nós, mas da vontade de Deus. Não podemos escolher nossos irmãos. Somos simplesmente apresentados a eles como o fato consumado. Paulo diz que os irmãos de Corinto são amados, porque irmãos são chamados a um relacionamento de amor.

(1) Certamente, em algum lugar, ainda se cata o feijão antes de colocar para cozinhar. Mas nossos irmãos em Cristo não podem ser tratados assim. Se Deus, aquele que tem poder para salvar, não faz acepção de pessoas, porque nós faríamos,

(2) Você tem irmãos e irmãs? Está em paz com eles? Se não está, que tal começar a orar pedindo a Deus que lhe oportunidade para acertar as arestas. Esses relacionamentos não podem se jogados na lata do lixo.

...mantenham-se firmes...

Em que os irmãos de Corinto deveriam permanecer firmes? Penso que Paulo aqui está se referindo à importância de estarmos seguros e bem fundamentados na convicção sobre a ressurreição de Jesus e certeza de nossa própria ressurreição.

Não abandonem os fundamentos! Eles foram estabelecidos pelo próprio Jesus e por aqueles que testemunharam sua vida, morte, ressurreição e assunção. O Espírito Santo, enviado para nos consolar e ensinar é quem confirma essa esperança em nós. Olhem além! Não se satisfaçam apenas com esta vida! Não acreditem em Deus apenas para esta vida!

...e que nada os abale.

Os coríntios estavam sendo seduzidos por outras vozes, diferente da doce voz do Espírito de Deus. Eles estavam dando ouvidos a pensamentos e ideias que eram bem diferentes da herança deixada por Jesus e seus discípulos. Paulo os encoraja a não se deixar abalar por essas ideias.

Nós também somos o tempo todo assediados por ideias bem diferentes daquilo que Jesus ensinou. É preciso discernir essas vozes para saber como resistir aos assédios.

Nenhum soldado sai para a guerra sem seus equipamentos; de certa forma, vivemos uma guerra, mas de opiniões, convicções e pontos-de-vista, por isso não podemos agir como tolos. Precisamos buscar na Palavra de Deus o ensino que nos ajudará a não sermos abalados.

Sejam sempre dedicados à obra do Senhor,

A convicção a respeito da ressurreição e a esperança na eternidade com Jesus tornam possível que nós nos dediquemos à obra do Senhor. Convicção e esperança não são um fim em si mesmo elas são instrumentos de Deus para que nós possamos nos juntar a Deus naquilo que ele está realizando no mundo.

A obra de Deus é o estabelecimento do seu reino entre nós. É anunciar a falência dos esforços humanos para fazer desse mundo um lugar de paz. É anunciar o fracasso do projeto humano para uma vida sem Deus. É falar de Jesus, o caminho de volta para a Deus. É participar na restauração da confiança no amor gracioso revelado na cruz. É ajudar às pessoas que creem a viver nessa vida de forma sensata, justa e prudente, enquanto esperamos a volta daquele que nos deu vida.

...o trabalho de vocês não será inútil.

Não é raro, em meio, a uma vida de serviço a Deus, sermos assediados pelas dúvidas a respeito do resultado de nossa dedicação. Será que realmente vale a pena? Se o que estamos fazendo é a nossa obra, se o empreendimento é nosso, a dúvida é legítima. Mas se é a obra do Senhor, se o Reino de Deus, a palavra de Deus, o povo de Deus, então devemos aquietar o coração. Nosso trabalho não será em vão!

Quando nos juntamos a Deus naquilo que ele está fazendo, o resultado de nosso trabalho é garantido. Porque é ele mesmo que fará crescer e frutificar as pequenas sementes lançadas no coração das pessoas.

Minha oração é para as reflexões sobre esse capítulo 15 de Coríntios nos sirvam de alimento para o dia-a-dia, consolo nos dias difíceis e alerta para a caminhada.