24 abril 2016

Discipulado – um crescimento sadio

Comunidade Batista Mangabeira IV - João Pessoa/PB - 24/04/16 

   
Hoje iremos refletir juntos sobre alguns versos de um texto muito conhecido. Trata-se de uma conversa que Jesus teve com seus discípulos um pouco antes de ser preso e crucificado. Nessa conversa, ele falou sobre videiras, uvas, varas e agricultores.

1 "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Jo 15:1-8

Oração

Nosso assunto hoje tem a ver com discipulado e crescimento. Um crescimento sadio. Como avaliar se estamos crescendo em nossa caminhada com Cristo? Nosso crescimento tem sido marcado por saúde espiritual? Penso que o texto da videira poderá nos ajudar nisso e a tomar decisões que nos assegurem a melhor direção para a caminhada.

Um novo significado

Ao usar a videira como ilustração, Jesus recorreu a uma imagem comum para aqueles que o escutavam; não apenas porque a videira fazia parte da agricultura hebraica, mas também porque a videira aparece muitas vezes como ilustração e simbologia no Antigo Testamento.

O profeta Oseias usou a imagem da videira viçosa para ilustrar a situação em que se encontrava Israel: uma nação próspera que se entregou à idolatria, cultuando os deuses dos povos vizinhos.

1 Israel era como videira viçosa; cobria-se de frutos. Quanto mais produzia, mais altares construía; Quanto mais sua terra prosperava, mais enfeitava suas colunas sagradas. Os 10.1

O profeta Isaías também usou a mesma imagem da videira, mas para descrever o cuidado constante de Deus com Israel.

2 Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores videiras. Construiu uma torre de sentinela e também fez um tanque de prensar uvas. Ele esperava que desse uvas boas, mas só deu uvas azedas. Is 5.2

De forma semelhante, o profeta Jeremias fala sobre uma videira de sementes selecionadas, mas que se tornou degenerada e selvagem

21 Eu a plantei como uma videira seleta, de semente absolutamente pura. Como, então, contra mim você se tornou uma videira degenerada e selvagem? Jr 2.21

Embora esta fosse uma imagem recorrente para seus ouvintes, quando Jesus a usou ele deu um novo significado à ilustração. Na fala dos profetas, a videira era sempre a nação de Israel, plantada e cuidada por Deus; Jesus, no entanto, se identificou como sendo ele mesmo a videira.

Talvez não seja possível para nós avaliar o impacto dessa nova proposta. Jesus apresentou-se a si mesmo como o centro da vida. Era ele o canal da vida de Deus, a salvação de Deus, a esperança de Deus. A vida está disponível para aqueles que permanecem ligados a ele.

Uma videira cultivada

Como vimos, os profetas do AT também falaram sobre a videira. Eles tinham convicção de que a videira estava nas mãos de um viticultor cuidadoso.

Oseias falou que a videira se tornou frutífera e cheia de vida porque era cultivada. Isaías falou que foram tomados todos os cuidados para que isso acontecesse: a terra foi arada, as pedras retiradas, as sementes selecionadas, colocou-se vigias para protegê-la e construiu-se um lugar para produzir vinho. Jeremias afirmou que foram escolhidas sementes perfeitas para que a videira produzisse frutos selecionados.

Ao falar da videira, Jesus acompanhou o pensamento dos profetas e começou apresentando o trabalho do viticultor. Em sua comparação Ele afirmou que Deus não apenas concede a vida, mas também providencia as condições para um crescimento sadio, afim de que venham os frutos esperados pelo viticultor.

Essa palavra de Jesus é um alento e uma esperança para nós, irmãos. Não fomos largados por conta própria nessa vida! Eu e você nascemos de novo. Somos como ramos que o Senhor fez nascer no tronco da videira. Mas nós não somos plantas silvestres, que crescem sozinhas no meio do mato, arrastando-se pelo chão. Somos parreiras cultivadas. Temos alguém que cuida de nós para que produzamos frutos doces e agradáveis aos Agricultor.

Como nosso Deus e agricultor faz isso? Jesus fala de duas ações. Dois tipos de poda: na primeira o dono da plantação corta os ramos sem fruto; na segunda ele limpa os galhos com algum fruto para que produzam ainda mais.

Podemos concluir, então, que Jesus está falando de três tipos de ramos: (1) os que não produzem fruto, (2) os que produzem algum fruto e (3) os que produzem muito fruto. Observe, porém, que todo os três tipos de ramos estão ligados à videira – “estando em mim”. Esse detalhe é importante para não sermos induzidos a um entendimento equivocado e perdermos parte do ensino de Jesus aqui.

O que faz o agricultor para garantir que sua videira cresça saudável e frutífera? Ele a poda. Hoje à noite vamos lidar apenas com o primeiro tipo de poda, para a qual Jesus usou a palavra grega airo (airw)

A primeira poda - airo (airw)

A primeira providência que o agricultor toma é em relação aos ramos que não produzem fruto. E o que ele faz? Em várias traduções a palavra airw, utilizada por Jesus, é traduzida por cortar; em algumas traduções mais antigas o tradutor optou por “retirar” ou “remover”. No entanto, e isso é impressionante, o uso mais comum dessa palavra nos dias de Jesus era com o significado de levantar, elevar ou erguer. Quem faz esse alerta é Bruce Wilkinson no livro “Segredos da Vinha”.

Levantar ou erguer é exatamente o que um viticultor faz para que um ramo que não produz passe a produzir. Quem cultiva uvas sabe que é nos ramos que os frutos são produzidos, portanto, ele trabalha para que cada ramo produza tudo o que é esperado dele.

O crescimento natural dos ramos de uma parreira é para o chão. Acontece assim com as parreiras não cultivadas. O viticultor, então, precisa erguer os ramos e preparar para eles suportes (que nós conhecemos por latadas) a fim de que esses ramos cresçam longe da poeira e, na época de chuva, da lama. Se os ramos crescerem para o chão terão suas folhas cobertas por poeira e lama e não crescerão saudáveis.

Acho que neste ponto podemos extrair duas lições para nossas vidas:

A)       A Beleza está nos frutos

A primeira lição é que a beleza de uma videira não está no seu próprio brilho. O sucesso de uma videira não consiste apenas no viço de suas folhas ou na abrangência do alcance de seus ramos. A beleza da videira está nos frutos que seus ramos produzem.

Os ramos não têm um fim em si mesmos. Não basta que eles estejam verdinhos e brilhoso. O agricultor espera que eles produzam frutos. Jesus confirma isso no verso 8: “o meu pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto;”

Isso nos ajudará a compreender, irmãos, que nosso crescimento como discípulo de Jesus pode ser avaliado pelos frutos que produzimos. Cabe o alerta de que não há qualquer indicação aqui da necessidade de esforço próprio para produzir frutos. Assim como é natural para os ramos de uma videira produzir uvas, também é natural para os discípulos de Jesus produzir frutos espirituais.

Os ramos nasceram na videira e recebem dela vida em forma de seiva. A vida da videira é o que produz os frutos nos ramos. Da mesma forma, o fruto espiritual na vida do discípulo é gerado em nós pela atuação do Espírito do Senhor. A vida de Cristo em nós é o que nos leva a produzir os frutos esperados pelo Agricultor.

Que frutos são esses?

Certamente não estamos falando de frequência aos cultos, contribuição financeira ou assumir responsabilidades eclesiásticas. (Ainda que essas coisas sejam importantes e necessárias à nossa caminhada coletiva).

Também não estamos falando de ações humanitárias, compromissos comunitários, e engajamento social. (Embora tudo isso possa vir exatamente dos frutos espirituais, da mesma forma que um delicioso suco pode ser extraído de uvas selecionadas).

É o apóstolo Paulo quem nos ajuda a perceber quais são os frutos que o Agricultor espera colher. Frutos dignos de ramos que nasceram da videira verdadeira. Na carta que escreveu aos irmãos da Galácia ele fala que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade (pavio longo), benignidade (amável), bondade e fidelidade (amor constante)”. Gl. 5.22,23.

Hoje, nos supermercados, podemos comprar frutas sem sementes, manipulas geneticamente. A uva sem semente, por exemplo, é mais fácil de comer. No entanto, é estéril: não tem a capacidade de produzir uma nova vida.

Mas o Fruto do Espírito não é estéril. Quando brota em nós, nele estão as sementes capazes de produzir novos discípulos de Jesus. Assim, à medida que nossas vidas se tornam mais saudáveis e frutíferas, isto é, cheias de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade e fidelidade, fazer discípulos se torna um movimento natural, resultado da vida de Cristo em nós.

A beleza está nos frutos.

B)       O Agricultor intervém

O segundo ensino de Jesus nesses primeiros versos do capitulo 15 de João é que o Pai, o agricultor que plantou a videira, trata cada ramo individualmente para que nenhum ramo permaneça sem fruto. Então, não tenha dúvidas: se você está ligado à videira, o agricultor vai intervir em sua vida.

 Esse ensino revela que o amor de Deus por nós não foi algo pontual, restrito à salvação, ou impessoal (Deus amou o mundo...). Ele intervirá na vida daqueles que nasceram de novo para que não permaneçam sem fruto.

A agricultor não vai deixar que você rasteje pelo chão da vida, coberto de pó e lama! Ele irá erguê-lo e o colocará sobre uma latada, um lugar alto, para que você tenha todas as condições de frutificar.

O plano do Senhor da Vide vai além de nos tornarmos videira próspera, brilhosa preparada e culta; Ele planejar para nós uma vida de constante frutificar. Se nossas vidas seguirem nessa direção, o Senhor intervirá. Com amor e de forma disciplinadora ele corrigirá a direção de nossas vidas.

Disciplina é quase sempre um problema para nós. Algumas de nossas experiências sobre ser disciplinado não são boas. Alguns de nós sofremos nas mãos de pais/mães descontrolados, que nos puniram no calor das emoções, tomados de sentimentos de inadequação e perdidos, sem saber como lidar com a vida.

É importante saber que não é desta maneira que o Senhor trata com a gente. Toda correção do Senhor é para o bem. Toda disciplina é para a edificação. Toda intervenção do Senhor é para que venhamos a ser tudo o que podemos ser. O seu amor por nós já foi provado e por isso podemos confiar nele.

Neste ponto é o escritor de Hebreus que ajudará a perceber a disciplina do Senhor por um outro ângulo e a lidar com ela. Porque assim com o viticultor direciona os ramos à produção de uvas, nosso Pai direciona nossas vidas à plenitude do Fruto do Espírito.

Leiamos o texto de Hebreus 12.

 5 (...) "Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão,6 pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho". Hb 12.5,6

O crescimento sadio do discípulo, em algum momento de nossa caminhada cristã, quando nos tornamos ramos improdutivos, passará pela disciplina do Senhor. Essas intervenções do agricultor são sempre motivas por seu amor.

Nós nos acostumamos a chamar de amor um jeito descuidado, desinteressado ou mesmo irresponsável de tratar as pessoas; aquela atitude de quem deixa o outro cair no precipício para não se tornar incômodo ou ser mal compreendido; é um amor que não se pronuncia para não correr o risco de ser rejeitado. O amor de Deus não é assim. Ele interfere e corrige aquele que ama.

No trecho que lemos, o escritor de Hebreus confirma esse entendimento e também nos leva a refletir sobre a maneira como reagimos à disciplina do Senhor. Os ramos da videira não têm vontade própria, mas, em algum grau, nós temos. Portanto, ele nos dá duas recomendações importantes para quando formos disciplinados:

a)  Não despreze

Fazer ouvido de mercador é sempre uma saída de portas aberta quando somos advertidos. A maioria de nós fez isso quando era criança. O aviso ecoa pela casa: cuidado com a bola! Presta atenção no sofá! Olha a porta aberta! É mais fácil fazer de conta que não é com a gente.

O Senhor também faz alertas. Na maioria das vezes Ele é bem mais suave do que as mães. Sua voz doce e firme ecoa em nossas consciências. Sua palavra escrita sussurra à nossas almas. O que faremos? Se você deseja um crescimento espiritual sadio, não despreze. Dê ouvidos aos alertas e siga na direção que o Senhor está apontando.

b)  Não se magoe.

Depois da etapa dos alertas, a disciplina caminha para uma intervenção: a bola é retira das suas mãos, suas mãos são retiradas do sofá, ou a porta é fechada. Nessas horas não é raro o choro sentido e soluçante tomar conta da casa.

Quando os alertas encontram ouvidos mocos, a disciplina do Senhor também passa para o nível seguinte. Muitas vezes isso contraria nossa vontade, frustrando planos e projetos e ficamos magoados com Deus e o mundo. O que faremos? Se você deseja um crescimento espiritual sadio, pare de resmungar. Em vez disso, busque ao Senhor em oração e peça discernimento sobre suas pisadas de bola. Depois corrija o rumo e siga na direção que o Senhor está apontando.

Conclusão

Irmãos, o Senhor é o dono da vinha. Ele plantou Jesus como a videira verdadeira. Através da cruz de Cristo, Ele resgatou homens e mulheres e os colocou em íntima ligação com o Filho, fazendo-nos ramos dessa videira verdadeira. A vida que temos em nós vem da videira: “Não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”.

A videira foi plantada para produzir frutos que glorificam o viticultor. Por isso quando alguns ramos, que estão ligados à videira, se tornam infrutíferos, o agricultor imediatamente interfere para que essa situação não continue.

Quando o agricultor interferir em sua vida, lembre-se que é por amor que ele faz isso. Não despreze a correção! Não fique magoado! Dê ouvidos aos seus alertas e procure identificar os passos errados. Depois corrija o rumo e siga na direção que o Senhor está apontando.


Você está ligado à videira verdadeira? Então permaneça nela! Uma vida cheia de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade e fidelidade está esperando por você. O Espírito produzirá em você os doces frutos da presença dele em nós.

17 abril 2016

A Função e a Harmonia dos Membros


Comunidade Batista em Mangabeira - João Pessoa/PB - Escola Bíblica  17/04/16 


Em nossa jornada para discernir de forma apropriada o Corpo de Cristo, refletiremos sobre a função dos membros e sobre sua harmonia no corpo.

Existe ao menos um impedimento que bloqueia o exercício de nossas funções no Corpo: a mentalidade individualista, isto é, o apego a si mesmo. Enquanto essa forma de pensar dominar nossa mente não haverá espaço para o serviço, e portanto, não haverá o que ser falar sobre nossa função no corpo ou sobre a harmonia entre nós.

Dessa forma, nossa reflexão sobre função e harmonia no Corpo de Cristo pressupõe que fomos libertos de nós mesmo, que estamos prontos para pensar a vida da igreja como uma oportunidade para ser canal para a nova vida, a vida do Espírito de Deus que recebemos por meio de Jesus Cristo a fim de abençoar nossos irmãos.

Todos têm uma função (I Co 12.13)

13 Pois em um só corpo TODOS nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a TODOS nós foi dado beber de um único Espírito.

A igreja é composta de pessoas que foram imersas na vida do Espírito de Deus. Esse mergulho no Espírito Santo marca ao mesmo tempo nossa redenção individual (penhor 2 Co 1.21,22) e nosso arrolamento como parte da coletividade membro do Corpo de Cristo. Porque a salvação é individual, mas é operada na coletividade.

Paulo parece explicar que o tratamento do Espírito é o mesmo para todos que o Senhor é bondoso (cf. I Pe. 2.3). Não há qualquer distinção. Não há um membro do Corpo que não tenham uma vocação de Deus. TODOS temos algo a realizar em favor dos demais membros.

Entre o primeiro e o segundo “TODOS”, Paulo apresenta aos seus leitores dois profundos abismos (judeus/gregos e escravos/livres) de sua época para ilustrar o trabalho do Espírito na constituição do Corpo de Cristo: primeiro, duas cosmovisões diferentes (cultura, história, religião ...); depois, duas realidades de vida distintas (identidade, esperanças, sonhos ...).

E o que nos diz o apóstolo? Afirma que esses abismos são produzidos por nós, e que o Espírito de Deus não se limita por causa deles. Ao contrário, junta na Igreja quem ele quer e dá a todos uma incumbência de serviço ao corpo a ser cumprida.

Ainda sobre o TODOS, precisamos lembrar que vivemos tempos em que a sacerdotalização em forma de casta tem renascido e sido acolhida por vários irmãos como um modo aceitável de viver a fé.

São tempos em que a igreja reformada por Lutero e outros é tentada a refluir para o padrão clero/laicato. Tempos em que a fé se vê ancorada em líderes personalistas, hiperativos e repletos de dons, enquanto o restante do corpo assiste passivo as performances e aguarda dos iluminados bênçãos, orações e fórmulas para fazer a vida funcionar.

É certo que o modo sacerdotal de viver a fé dominou a cena da humanidade por muito tempo, mas também é verdade que ele encontrou no evangelho de Cristo um forte opositor.

Mc 15.38 – O véu rasgou-se
I Pe. 2.5-9 – Sacerdócio Santo e Real
Ap. 1.5 – Sacerdotes para servir
Ap. 5. 8-10 – Sacerdotes para o nosso Deus

É surpreendente que, no interior de um uma religião essencialmente sacerdotal, nasceu o evangelho de um único e perfeito mediador que a todos chama para aproximar-se de Deus como um filho se aproxima de um pai amoroso.

19 Sendo assim, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos mediante o sangue de Jesus,20 por um novo e vivo Caminho que Ele nos descortinou por intermédio do véu, isto é, do seu próprio corpo;21 e tendo um magnífico sacerdote sobre a Casa de Deus.22 Portanto, acheguemo-nos a Deus com um coração sincero e com absoluta certeza de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e os nossos corpos lavados com água pura.

Ninguém pode ser descartado (I Co 12.21-24a)
  
21 O olho não pode dizer à mão: "Não preciso de você! "Nem a cabeça pode dizer aos pés: "Não preciso de vocês!" 22 Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis, 23 e os membros que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são tratados com decoro especial, 24 enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial.

O argumento de Paulo é de que não somos nós quem diz se alguém é necessário ou não ao corpo. Em princípio todos os membros do corpo são necessários e nenhum pode ser simplesmente descartado.

Parece que Paulo coloca sob suspeita os critérios que usamos para fazer essa avaliação. Primeiro ele fala do engano de contarmos apenas com aqueles que consideramos fortes: história de fé na família, vida financeira estruturada, família equilibrada, frequente nos cultos, contribuinte, comprometido: esses são os que parecem fortes! Eles estão sempre visíveis e são sempre chamados a se apresentar no front da batalha. Mas nem por isso os demais membros do corpo podem ser dispensados.

Aqueles que parecem fracos, não podem ser dispensados da comunhão nem tampouco desprezados. Nas palavras de Paulo eles são indispensáveis para a harmonia do corpo. A analogia aponta as partes do corpo humano que são pouco resistentes, mas que cumprem funções importantes. Os lábios são frágeis, as orelhas são frágeis, os olhos são frágeis, todos eles precisam ser protegidos por braços e mãos, mas sem eles o corpo perderá sua harmonia.

Os irmãos mais sensíveis, menos resistentes aos desgastes da vida, mais frágeis diante do mundo, menos capazes de reagir, menos perceptivos sobre as sujeiras da vida, não podem ser jogados fora. Ainda às vezes seja trabalhoso, eles devem ser cuidados e protegidos. O corpo depende deles para cumprir sua vocação.

Outro aspecto do mesmo argumento é quanto aos membros mais ou menos decorosos. Esse é um argumento impressionante porque Paulo afirma que aqueles de quem temos mais vergonha não devem ser expostos ao ridículo, mas protegidos para que se apresentem de forma digna.

Em um corpo harmônico não há lugar para a exposição gratuita das fragilidades dos irmãos. Não há lugar para envergonhar os outros porque eles são diferentes. Não há lugar para humilhar os que não conseguem. Não há lugar para fazer pouco caso de quem quer que seja por seja qual for a razão. Porque quando um membro do corpo é envergonhado, todo o corpo sente vergonha com ele.

Vocação: para cada um, por causa de todos.

Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, 25 a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. (I Co 12.24b-5)

Nosso lugar no corpo foi planejado por Deus. Não há acasos nisso. Nossa história tem parte nisso, nossas experiências são importantes, nossa formação tem seu lugar, mas ao final tudo está sob a coordenação daquele que é o cabeça da igreja.

Paulo revela uma lógica invertida nessa montagem do corpo. Aparentemente o Senhor providenciou equilíbrio no corpo ao conceder honra exatamente àqueles que dela tinham falta.

A abordagem sobre honra aqui é a mesma. Vestir de forma apropriada, os membros do corpo que expostos estariam desprotegidos e à mercê de comentários. A ideia é de proteger quem está desprotegido. Então, explica que o próprio Senhor da Igreja age assim para produzir harmonia no corpo.

Dessa forma, todos os membros são vocacionados (chamados) a servir ao Corpo. E são capacitados, protegidos e honrados de forma que haja harmonia. Assim, quando cada membro do corpo exerce sua função estamos cuidados uns dos outros e o corpo opera seu próprio crescimento de forma harmônica.


03 abril 2016

Não temas!

Não temas!
 Primeira Igreja Batista em João Agripino - João Pessoa/PB - 03/04/16 


Boa noite, meus irmãos! É uma alegria e um prazer compartilhar a Palavra com vocês hoje à noite. Minha gratidão ao Pr. Rick pelo convite e pela confiança em compartilhar comigo o púlpito desta igreja.

Eu trago o abraço caloroso dos irmãos da Comunidade Batista em Mangabeira e de sua liderança e peço ao Senhor que continue a agir na vida desta igreja de forma a completar a boa obra que Ele começou em cada um de vocês.

Leitura Bíblica

Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo. (Gn 15:1)

Oração

Nós vivemos tempos amedrontadores. O medo parece ter-se tornado um elemento dos mais comuns em nossa rotina. Medo de perder o emprego, medo de ser assaltado, medo de não encontrar alguém pra dividir a vida, medo de não passar na prova, medo de ser rejeitado, medo de não ser bem sucedido, medo de não ser amado, medo gripe H1M1, medo da Zica, medo da morte, e também medo da vida.

Mas a verdade é que ninguém gosta de dizer que está com medo. E não é para menos, os medrosos são tratados com certo desdém. Eles não são apontados como exemplos nem ocupam lugares de honra nas narrativas históricas. Os medrosos quase sempre desprezados, às vezes injustamente, mas ainda assim desprezado. Isso tudo nos faz rejeitar o medo que habita em nós.

Resolvi me debruçar sobre as Escrituras para entender melhor como o Senhor lida com o nosso medo. Pelo que percebi, Ele, que nos criou, sempre considerou o medo algo inerente à condição humana; mas, ao mesmo tempo, algo que devemos dominar (ao invés de sermos controlados por ele).

É fácil confirmar isso! Em uma pesquisa pelas páginas das Escrituras, é possível encontrar os grandes expoentes da fé sendo exortados pelo Autor da fé a não permitirem que o medo os domine. Vejamos:

Abraão
Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo. (Gn 15:1)

Abraão: fora chamado por Deus e estava saindo do meio de sua parentela para um lugar cheio de riscos e perigos. Ele não conhecia muito bem a maneira de agir do Senhor e não tinha qualquer certeza a respeito do seu futuro. Eu sou o teu escudo

Isac
E apareceu-lhe o Senhor na mesma noite e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai; não temas, porque eu sou contigo, e te abençoarei e multiplicarei a tua descendência por amor do meu servo Abraão. (Gn 26:24)

Isac: não tinha um relacionamento pessoal com o Senhor, que era o Deus do pai dele. Eu sou contigo e te abençoarei
  
Jacó
(2) Falou Deus a Israel em visões de noite, e disse: Jacó, Jacó! Respondeu Jacó: Eis-me aqui. (3) E Deus disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer para o Egito; porque eu te farei ali uma grande nação. (4) Eu descerei contigo para o Egito, e certamente te farei tornar a subir; e José porá a sua mão sobre os teus olhos. (Gn 46:2-4)

Jacó: ficou com medo do que aconteceria com ele no Egito. Como Deus poderia pensar em algo bom se ele e sua família estavam sendo levados para o Egito? Eu te farei ali uma grande nação

Josué
Então disse o Senhor a Josué: Não temas, e não te espantes; toma contigo toda a gente de guerra, levanta-te, e sobe a Ai. Olha que te entreguei na tua mão o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. (Js 8:1)

Josué: ficou com medo de enfrentar os exércitos da cidade de Ai. Será que Deus daria vitória nessa empreitada? Eu entreguei na tua mão o rei de Ai
   
Gideão
(22) Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! Pois eu vi o anjo do Senhor face a face. (23)Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo, não temas; não morrerás. (Jz 6:22,23)

Gideão: teve medo de Deus. Ele achou que seria fulminado por que estava na presença de Deus. Gideão não conhecia o Senhor de perto. Eu não te matarei

Jeremias
(6)Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque sou um menino. (7)Mas o Senhor me respondeu: Não digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás. (8)Não temas diante deles; pois eu sou contigo para te livrar, diz o Senhor. (Jr 1:6-8)

Jeremias: teve dúvidas a respeito de quem o protegeria em seu ministério. Como ele poderia falar a Palavra do Senhor com tantas ameaças? Será que o Senhor poderia protegê-lo e guardá-lo? Eu sou contigo para te livrar

Paulo
(9) E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales; (10) porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. (11) E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus. (At 18:9-11)

Paulo: teve dúvida se deveria ou não continuar a pregar o evangelho em Corinto. Como seria o futuro? Deus o guardaria do mal? Eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal

Como lidar com o medo?

O que nos dizem esses textos? Duas questões iniciais me chamaram a atenção:

A primeira é que nenhum de nós deve se deixar dominar por sentimentos de inferioridade espiritual ou de tristeza profunda porque está com o medo diante dos desafios da vida. Aos sentirmos medo estamos na companhia dos grandes da Fé!

Então, quando o medo vier ao invés de simplesmente negá-lo ou de se entristecer, você vai se lembrar, que Abraão, Isac, Jacó, Josué, Gideão, Jeremias e próprio apóstolo Paulo também se sentiram com medo.

A segunda é que não podemos nos acostumar com o medo, não devemos deixar que ele se aloje em nossas almas; o medo eventual faz parte da vida, mas o medo permanente pode massacrar nossas almas nos tornando incapazes de enfrentar os desafios da vida. 

Essa foi a palavra do Senhor para cada um desses grandes da fé: NÃO TEMAS!

Abraão: Eu sou o teu escudo
Isac: Eu sou contigo e te abençoarei
Jacó: Eu te farei ali uma grande nação
Josué: Eu entreguei na tua mão o rei de Ai
Gideão: Eu não te matarei
Jeremias: Eu sou contigo para te livrar
Paulo: Eu estou contigo

Essa também a palavra dele para você hoje à noite: NÃO TEMAS!

Então, quando tentamos enfrentar nossos medos, podemos nos agarrar à certeza de que estamos na companhia dos grandes da Fé também nisso! Abraão, Isac, Jacó, Josué, Gideão, Ezequias, Jeremias e Paulo fizeram a mesma coisa.

Se você já se apropriou dessas importantes questões iniciais. Podemos agora procurar um caminho para lidar com esse inimigo que se esconde dentro de nós? É claro que não há uma fórmula mágica para isso, mas eu penso que podemos extrair dessas histórias alguns conceitos úteis para os momentos de medo.

Conceitos

Analisando essas passagens, constatei pelo menos dois conceitos importantes:

O PRIMEIRO é que o medo facilmente encontra espaço em nossas almas por que o futuro é incerto e desconhecido. O que vai acontecer? Não sabemos. Será que vai dar certo? Não sabemos. Ela vai gostar de mim? Você não sabe agora. Eu vou conseguir? Você não sabe agora. Quando as coisas vão melhorar. Você não sabe.

O que fazer? Saul o primeiro rei de Israel decidiu procurar uma pitonisa, uma mulher que dizia prever o futuro. Ele queria saber se iria ganhar a batalha que estava prestes a acontecer.

Algumas pessoas procuram cartomantes, leem horóscopos, frequentam reuniões de oração com profetisas, procuram videntes nas mesas brancas, tudo em busca de algo que amenize o medo instalado em suas almas a respeito do futuro.

Há também os que se cercam planejamento. Fazem seguros, criam reservas financeiras, assinam resenhas políticas e econômicas e tentam de toda forma controlar o futuro. O que você faz?

Parece que Deus não tem muito interesse em revelar o futuro. Vez por outra é fez isso a alguns profetas, mas nunca foi a regra; é sempre uma exceção. A regra é que o futuro é imponderável. Qual a saída? Deus propõe a Abraão, Isac, Jacó, Josué, Gideão, Ezequias, Jeremias e Paulo o seguinte: Confie em mim! Eu estou no controle do universo!

Portanto, meus irmãos, a solução de Deus para as incertezas que nos metem medo é confiarmos nele.

Ocorre que não se confia em alguém assim do nada. Confiança é algo que se constrói com o tempo, através de um relacionamento. É assim que o caráter de alguém é provado.

Minha conclusão é que talvez seja exatamente esse o motivo pelo qual nossa confiança no Senhor seja tão frágil: conhecemos Deus de ouvir falar, pelos livros ou pelo testemunho de outros irmãos, mas nós mesmos pouco sabemos sobre ele.

É nesse ponto que apresento o SEGUNDO conceito extraído dos nossos textos: o medo encontra espaço em nossas almas porque ainda temos dúvidas sobre o caráter de Deus. Muita gente tem até medo de orar como Jesus “seja feita a tua vontade”. E essas dúvidas sobre o caráter de Deus, que nos consomem, são a prova da distância a que nos encontramos dele.

E qual é a saída que Deus propôs àqueles homens? Simples: Deus falou com eles. A saída para nossas dúvidas a respeito do caráter de Deus é nos aproximarmos dele. A saída é um relacionamento pessoal com ele que ultrapassa as paredes nossos templos e invade nossas vidas.

Cada vez que esse relacionamento com o Senhor se estreita nas pequenas decisões da vida e você experimenta na prática o cuidado, o amor, a misericórdia, a correção amorosa de Deus em sua vida, suas dúvidas sobre o caráter dele vão-se dissipando e sua confiança nele vai se tornando mais forte.

Conclusão

Para finalizar nossa reflexão, quero dizer que estou convencido que o medo não subsiste por muito tempo onde existe amor. E a base do amor é o relacionamento. Por isso, o profeta Oseias nos conclama dizendo:

Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra. (Os 6:3)

Quando nos aproximamos do Senhor e nos damos conta do grande amor que Ele tem por nós somos atraídos por esse amor e o medo é lançado fora. É isso que diz o apóstolo João.

No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor. (1Jo 4:18)

O medo faz parte das limitações humanas, mas somos chamados a enfrentá-lo a partir de um relacionamento profundo com o Senhor, que nos fará amá-lo ainda mais e confiar nele.

Patriarcas, Juízes, Reis, Profetas e Apóstolos aprenderam sobre o Senhor andando com Ele no dia-a-dia de suas vidas. Para eles o Senhor não era um Deus distante e remoto;

Eles experimentaram a presença de Deus, aprenderam a confiar Nele e adquiriram força para enfrentar os seus medos. É esse também o nosso caminho como discípulos de Jesus.


Que o Senhor nos abençoe e se faça presente em nossas vidas.

O serviço ao Corpo de Cristo


O serviço ao Corpo de Cristo
Comunidade Batista em Mangabeira - João Pessoa/PB - Escola Bíblica  03/04/16 

Em nossa jornada para discernir de forma apropriada o Corpo de Cristo, chegamos agora no ponto em que refletiremos sobre o serviço de um membro do corpo.

Inúmeras abordagens podem ser dadas sobre esse assunto, inclusive com ênfase nos dons e capacitações dadas pelo Espírito. Aqui seremos modestos e trataremos sobre modos de pensar e viver que acabam por nortear nosso serviço no corpo. São eles o ativismo, o individualismo e a cooperação.

Ativismo – Serviço pelo serviço

Ativista é aquele que entende as ações práticas como o melhor (e às vezes o único) caminho para a transformação da realidade.

Sem dúvida ações práticas podem transformar a realidade, mas o ativista é aquele que coloca nelas toda sua esperança, e por isso dedica-se intensamente àquilo que se propõe a fazer, ao ponto de fazer de suas ações um fim em si mesmas.

Os ativistas são pessoas práticas. Ser prático não é ruim, muito pelo contrário. No entanto, para os ativistas a ênfase na praticidade acaba por transformá-la em pragmatismo, isto é, quando as coisas certas são aquelas que dão certo.

Os ativistas são intensos e tem grande capacidade para a realização de projetos em benefícios de outras pessoas. No entanto, com muita frequência, acabam com pouco tempo para relacionar-se com as pessoas a quem servem.

O que acontece quando um ativista se converte e se torna um membro do Corpo de Cristo? Ou quando um membro do corpo é seduzido pelo ativismo? Com frequência o ativismo o acompanha em suas atividades de serviço à igreja.

Surge então a figura de um cristão prático e realizador (o sonho de muitos pastores), mas tende a valorizar o serviço como um fim em sim mesmo e a aplaudir qualquer iniciativa ou realização que pareça ajudá-lo a atingir seus objetivos.

A igreja precisa de pessoas práticas e realizadoras, mas o corpo de Cristo sofre quando algum de seus membros se torna ativista e pragmático.

Quando ativismo e pragmatismo tomam conta de nossas iniciativas de serviço ao corpo de Cristo, diminui nossa preocupação com as pessoas e começamos a servir pelo serviço. Deixa de ser um serviço PARA o corpo e se transforma em um serviço NO corpo.

Marta era uma mulher prática e com grande capacidade de realização. Sozinha ela estava dando conta de recepcionar Jesus e seus discípulos. Quando sua irmã, Maria, se senta na sala para ouvir Jesus, sua paciência se esgota. Ela estava tão preocupada em fazer o que precisa ser feito que deixou de lado as pessoas a quem ela estava servindo.

38 Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. 39 Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra.

40 Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dele, perguntou: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude! "

41 Respondeu o Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; 42 todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada". Lucas 10. 41,42

Alguém já disse que os nossos piores defeitos são exatamente aas nossas melhores virtudes. É claro que o corpo não pode dispensar nem rejeitar seus membros mais ativos e operantes, porque precisamos de pessoas práticas e realizadoras. O que fazer, então?

Aqueles que se realizam e se alegram em ver as coisas funcionando precisam ser lembradas constantemente sobre o propósito do serviço. Servir à igreja não é o fim, mas um meio através do qual o Espírito nos edifica, aperfeiçoa e transforma. Na outra ponta de qualquer serviço no Corpo de Cristo há sempre uma pessoa e ela é mais importante que o serviço.

Individualismo – Serviço para mim

O individualismo é a atitude de viver para si mesmo. Somos indivíduos, pessoas únicas. Não se deve confundir, no entanto, essa individualidade com o entendimento de que o mundo gira ao nosso redor para nos fazer felizes.

O individualista vive sua vida independente das ouras pessoas, como se o modo de viver adotado por ele não fosse da conta de ninguém. Ele age como se fosse autossuficiente e pudesse viver sem depender de ninguém.

21 O olho não pode dizer à mão: "Não preciso de você! "Nem a cabeça pode dizer aos pés: "Não preciso de vocês!" 1 Co 20.21

O individualismo, portanto, causa dois problemas sérios à igreja ao reforçar o engano da independência:

1)  Faz-nos achar que não precisamos nos importar com os outros;
2)  Faz-nos achar que o corpo não sofre por nossa causa.

26 Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. 1Co 12.26

O egocentrismo é tão sorrateiro, tão inerente à natureza adâmica que se apresenta inclusive em nossa busca espiritual; como que camuflado.

Por que busco uma vida santa?
Para eu mesmo ser santo.

Por que desejo o poder de Deus?
Para eu ser reconhecido assim.

Por que desejo um ministério frutífero?
Para eu ter frutos a apresentar

Por que almejo que o Reino venha?
Para que eu possa experimentar esse reino.

O individualismo nos encoraja a permanecermos centrados em nós mesmo, mas quando confiamos o destino de nossas vidas às mãos de Jesus não precisamos mais viver assim.

21 De fato, vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. 22 Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, 23 a serem renovados no modo de pensar e 24 a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (Ef. 4.21-24)


Enquanto o egoísta cuida de si mesmo, por uma questão de segurança, aqueles que experimentam sua condição de membro do Corpo de Cristo cuidam uns dos outros por uma questão de confiança, porque se sentem seguros no Senhor.

Nenhum membro do corpo trabalha para si mesmo; todos trabalham para o corpo. O olho não vê para si mesmo, seu serviço é para que o corpo veja; o ouvido não ouve para si mesmo, é o corpo como um todo o beneficiado pela audição; as narinas não usufruem do olfato sozinhas, mas todo o resto do corpo sente seus benefícios.

Da mesma forma é na igreja: o serviço não é para benefício de quem serve. Não é para que você se sinta bem (ainda que isso vá acontecer). O serviço é para os demais membros do corpo.

Cooperação – Serviço para o corpo

Deixados de lado o serviço NO CORPO e serviço PARA SI, estamos prontos para refletir sobre o serviço AO CORPO.

Cada membro do corpo recebe do Senhor algum aspecto, uma porção característica de Cristo que ecoa em sua vida. Nossa experiência com Cristo por meio da Palavra e da oração, em meio às lutas da vida, nos faz experimentar a vida de Cristo de forma peculiar. Servir à igreja é colocar tudo o que temos recebido do Senhor à disposição para abençoar a vida dos irmãos.

18 De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. 19 Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? 20 Assim, há muitos membros, mas um só corpo. 1 Co 12.18-20

Nosso ministério específico no corpo de Cristo é resulta das lições específicas que o Senhor nos tem ensinado. Cada um de nós foi capacitado de forma bem peculiar para suprir as necessidades do corpo. Se ainda não descobrimos qual é esse ministério, devemos buscar ao Senhor par descobri-lo.

Não adianta simplesmente fazer o que os outros estão fazendo. Cada membro foi colocado no corpo para supri-lo em certas necessidades que só aquele membro pode atender.

28 Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dom de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas. 1 Co 12.28

Então, qual o primeiro passo: buscar ao Senhor com a seguinte oração: Senhor Jesus, como devo servir aos meus irmãos? Ajude-me a descobrir como posso ser útil para a edificação e o fortalecimento do teu corpo, a igreja!

Servir à igreja é repartir a vida de Cristo. Por isso, o serviço ao corpo de Cristo baseia-se no conhecimento de Cristo recebido em nossa vida de comunhão com ele. Não se trata meramente de realizar uma tarefa ou transmitir uma doutrina.

A locomotiva desse trem chamado serviço é a vida e não o conhecimento ou a habilidade. Não é muito saber ou a destreza que qualifica o serviço, mas o viver submetido ao Senhor.

Isso quer dizer que não há restrições acadêmicas, culturais, econômicas, teológicas ou de qualquer outra natureza que limite ou oriente o serviço. Todos que receberam vida do Senhor têm também vida a transmitir, de alguma foram, aos demais membros do corpo.

Nee propõe que o serviço ao corpo não deve preceder a experimentação de Cristo e a imersão no seu corpo.

“ Primeiro a experiência de Cristo, depois a doutrina de Cristo; primeiro a vida de Cristo, depois os ensinamentos de Cristo. Primeiro a vida, depois a doutrina. Primeiro um problema, depois a solução. Primeiro a experiência, depois o ensinamento.”

Cooperar é trabalhar junto. É assim o serviço ao Corpo de Cristo. Cada membro entrega o que recebeu de Cristo aos demais.


Bibliografia de consulta
A realidade da Igreja - Watchman Nee

Traduções das Bíblia
NVI - Nova Versão Internacional
OL - O Livro
ARA - Almeida Revista e Atualizada
KJA - King James Atualizada