16 fevereiro 2016

Cristo vive em mim

Cristo vive em mim
Comunidade Batista Mangabeira 4 - João Pessoa/PB - Escola Bíblica  14/02/16

Introdução

Durante este trimestre vamos estudar juntos sobre a Igreja de Jesus. A igreja é ao mesmo tempo simples e misteriosa.

Nas Escrituras, os autores dos textos sagrados, sobretudo o apóstolo Paulo, utilizaram-se de diversas ilustrações para tentar explicar o significado dessa misteriosa realidade espiritual. Uma dessas ilustrações é o corpo humano. Foi exatamente o apóstolo Paulo quem utilizou essa rica ilustração.

Durante este trimestre nosso objetivo será de desenvolver uma melhor percepção sobre a realidade da igreja de Jesus e das dinâmicas espirituais em que estamos envolvidos por sermos parte dela, isto é, membros do corpo de Cristo.

Também iremos refletir sobre a vocação que temos da parte de Deus para irmos além do conhecimento das verdades bíblicas e alcançarmos a experimentação das realidades espirituais que essas verdades representam.

Para começar nossos estudos sobre esse chamado para viver a realidade do corpo de Cristo, vamos nos deter alguns momentos para compreender (1) o estado de morte da alma humana, (2) o novo nascimento, (3) a nova natureza e (4) a nova vida.

Estado de Morte

Talvez a melhor descrição do estado de morte da alma humana seja aquela feita Paulo aos irmãos de Éfeso. Vejamos:

1 Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados,2 nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência.3 Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira. Ef. 2.1-3 (NVI)

Temos aí a condição desse estado de morte, os principais motores externos dessa morte, o modo de vida que essa morte produz e o estado de nossa relação com Deus.

Desde o jardim o ser humano colhe os frutos de sua desconfiança quanto a caráter de Deus e de sua aventura suicida de autossuficiência. Desde o Éden somos como vivos-mortos; estamos respirando, mas paira sobre nossas cabeças uma merecida sentença de morte. Nosso desejo de autonomia corrompeu nossa alma e nos incapacitou para a vida com Deus. Nosso coração está cheio de desconfiança.

Novo Nascimento

Acontece que apenas sob o reinado de Deus é que existe vida. Em Deus nós nos movemos e existimos. Fora dele nada permanece vivo. Daí as palavras contundentes de Jesus para Nicodemos.

3 Em resposta, Jesus declarou: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". Jo 3.3 (NVI)

Jesus afirma que para experimentar a vida que que existe sob o reinado de Deus não é suficiente mudar algum comportamento, ou se esforçar para viver uma vida correta, ou estudar bastante a respeito de Deus. A transformação necessária para deixarmos de ser vivos-mortos é tão profunda que ele a chamou de novo nascimento. E segundo afirmou o Senhor esse novo nascimento é realizado pelo Espírito de Deus.

Nova Vida
Tanto Jesus como João falam que esse agir de Deus é como trazer à vida algo que estava morto, concedendo assim uma nova vida.

10 O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Jo 10.10

11 E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. 12 Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. 1 Jo 5.11,112 (NVI)

Nova Natureza

Pedro explica que essa transformação nos faz participar (até onde isso é possível) da própria natureza divina

4 Por intermédio destas ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça. 2 Pe. 1.4 (NVI)

Essa nova natureza produz nós o desejo de voltar para Deus, faz-nos dispostos a desistir da aventura suicida de autossuficiência, inclina a disposição de nossas almas a nos submetermos a Deus.

Então, quando afirmamos que fomos salvos, não estamos apenas dizendo que recebemos uma passagem para o céu. Isso é uma forma mesquinha de compreender aquilo que Deus fez por nós. Salvação é a forma de explicar os efeitos de havermos recebido da parte de Deus essa nova vida, uma nova natureza, de havermos sidos “recriados” por Ele. É o que alguns chama de regeneração.

Como perceber a vida de Cristo em mim?

Até agora compreendemos o que as escrituras afirmam que acontece com aqueles que aceitam o amor de Deus e desistem esse projeto de autossuficiência.

Como isso acontece é um mistério que o próprio Deus não revelou e nem Jesus gasta tempo em explicar. Poeticamente, os profetas do Antigo Testamento afirmavam que ele iria trocar nosso coração de pedra por um coração de carne.

Por que isso acontece, tem uma única resposta em toda a bíblia: por amor. Ele faz essa transformação em nós por que nos ama.

Existe, no entanto, uma dimensão desse agir de Deus que incomoda algumas pessoas: como sei se isso aconteceu comigo? Ou melhor, como perceber a vida de Cristo em mim? Ou ainda, como a igreja pode perceber a vida de Cristo naqueles que se aproximam da congregação?

A dimensão interior dessa percepção é de foro íntimo e está relacionada com a presença do Espírito Santo em nós. É ele quem comunica essa convicção. O Espírito nos liga a Deus e por causa disso somos tomados de sentimentos de liberdade, intimidade e proximidade com Deus.

4 Mas quando chegou o tempo certo, o tempo determinado por Deus, Ele enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido judeu, 5 para comprar liberdade para nós que éramos escravos da lei, a fim de que ele nos pudesse adotar como seus próprios filhos. 6 E porque nós somos seus Filhos, Deus, mandou o Espírito de seu Filho aos nossos corações para que tenhamos o direito de falar de Deus como nosso querido Pai. Gl. 4.4-6 (OL)

Essa é uma maneira de cada um perceber a vida de Cristo em nós: estamos mergulhados nesse sentimento de filhos de um pai amado? Algo dentro de nós nos arrasta para Deus, nos leva para perto dele? Estamos envoltos numa atmosfera de confiança irrestrita em Deus?

Olhando de fora, também há sinais importantes que podem nos ajudar a perceber a vida de Cristo em nós. Um deles é o desconforto com o pecado.

Quem recebeu essa nova vida, uma nova natureza inclinada para Deus, a vida de Deus, fica muito intranquilo quando peca. Não que ele não peque, mas o pecado deixa de ser algo recebido com naturalidade. Sem a vida de Deus, somos como aquela descrição de Paulo:

também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos.

Mas quando a vida de Deus se instala em nós algo muda. Passamos a sentir uma rejeição pelo pecado que antes não existia. Essa rejeição se apresenta na forma de uma prontidão à voz do Espírito. Nossa consciência é restaurada e se mostra mais sensível aos alertas do Espírito.

Outra questão é que a vida de Deus pulsando em alguém quebra as resistências da autossuficiência e torna essa pessoa aberta para o arrependimento. Talvez por isso os profetas falem de “coração de carne”. A convivência pacífica com o pecado ou a resistência em admiti-lo, confessá-lo e arrepender-se (mudar de direção) não é a marca daquele

Conclusão

Por que gastar tempo com esses entendimentos básicos (basilares, não simples) sobre salvação quando nosso assunto é a igreja? Porque não é possível lidarmos com as categorias e realidades espirituais acerca da igreja sem que essa percepção da vida de Cristo em nós esteja clarificada.

O Corpo de Cristo é vivo. A vida que pulsa no corpo de Cristo é exatamente a vida que habita em nós por meio do Espírito Santo. Se por ventura não houvesse vida em nós, não haveria vida na igreja, e, portanto, seríamos, no máximo, apenas uma caricatura de mal gosto daquilo que o Senhor planejou para nós.

A percepção da vida de Deus em nós, no entanto, vista de fora ou vista de dentro, é primeiro individual e só depois disso coletiva. Primeiro a vida de Deus nos é concedida para imediatamente em seguida sermos mergulhados na igreja, conectados como membros do corpo de Cristo.

Então, de forma resumida, talvez possamos dizer que existem dois aspectos que podem nos ajudar a perceber a vida de Cristo em nós:

Naquilo que chamamos dimensão interior, o foro íntimo de nossa alma, existe um aspecto positivo, porque a pessoa é tomada por uma convicção tão intensa do amor de Deus que se descobre livre para desenvolver com Deus um relacionamento de filho de pai amoroso.

Naquilo que é possível observar de fora, a vida de Deus em nós produz um permanente desconforto com o pecado. Assim, mesmo antes de sermos exortados ou admoestados, o Espírito de Deus nos comunicar sobre os aspectos de nossas vidas que não combinam com a nova natureza que recebemos.

Bibliografia de consulta
A realidade da Igreja - Watchman Nee

Traduções das Bíblia
NVI - Nova Versão Internacional
OL - O Livro

15 fevereiro 2016

Um discípulo servo


Um discípulo servo
Comunidade Batista em Mangabeira 4 -  João Pessoa/PB - 14/02/2016

Introdução

Neste e nos próximos domingos teremos a oportunidade de refletir juntos sobre um dos temas mais importantes do evangelho: discipulado.

Este ano o discipulado permanecerá em destaque aqui na CBM. Nosso propósito é que ser e fazer discípulos sejam amis que um tema importante e se transforme em nosso modo de viver o evangelho de Jesus.

No próximo domingo (21/02) seremos conduzidos por Allan no tema “ um discípulo amável”. No dia 28/02 o Pr. João Victor falará sobre a obediência na vida do discípulo e no dia 06/03, o Pr. Francisco trará o tema “um discípulo que ora”.

A ordem desse duplo aspecto do discipulado (ser e fazer) – é importante para sua eficácia. Portanto, ao olharmos para o serviço (uma das mais notórias marcas dos discípulos de Jesus), primeiro devemos considerar nossa própria condição de servo. Depois podemos encorajar outros a servir.

Assim quero convidá-los a caminhar comigo através de alguns textos bíblicos com o objetivo de considerarmos a disposição de nossos corações em servir outras pessoas.

Faremos isso da seguinte forma: (1) primeiro vamos entender o paradigma cultural vigente sobre o serviço, isto é, veremos a visão que as pessoas têm hoje sobre servir e ser servido; (2) depois vamos examinar as Escrituras para compreender o paradigma do evangelho, isto é, o que pensa Jesus sobre servir e ser servido; (4) por fim examinaremos quatro falas de Jesus sobre esse assunto. Elas serão importantes para ajustar nossa maneira pessoal de ver o servir e o ser servido.

Um paradigma cultural


Para começar talvez devamos nos familiarizar com um modo de pensar que é muito comum a respeito de servir: quem serve é menos importante do que aquele que é servido.

Ø Quem serve faz o que os outros não querem fazer. Quem é servido não precisa fazer o que não quer;

Ø Quem serve é mandado. Quem é servido manda;

Ø Quem serve é porque não tem dinheiro. Quem é servido é porque tem grana no bolso;

Ø Quem serve é fraco. Quem é servido é poderoso

Nesse modo de pensar que orienta a vida de muita gente, aquele que está a serviço apenas recebe ordens, por isso está em situação inferior àquele que dá as ordens.

É interessante notar que a maioria das crianças é muito prestativa e quando somos pequenos almejam profissões que ajudam as pessoas em suas necessidades: bombeiro, policial, professor... (um filho de um amigo nosso desejou por muito tempo ser gari). Mas logo que crescemos somos engolidos pelo paradigma cultural que despreza o serviço e procuramos alguma outra coisa que nos faça parecer mais poderoso.

Algumas vezes as pessoas que prestam serviço em nossas casas são tratadas com certo ar de superioridade. É como se servir fosse uma atividade inerente a cidadãos de segunda categoria.

Até nosso vocabulário revela essa desconsideração para com quem serve. Palavras com serviçal, servitude e servente, todas relativas ao serviço, estão carregadas de conceito de inferioridade.

Mas não é sem motivo que a condição de servir é rejeitada pelas pessoas. A verdade é que nossa natureza caída tem uma inclinação a explorar as pessoas sempre que o dinheiro ou o poder nos permitem fazê-lo. Às vezes o simples fato de estarmos do outro lado do balcão, sendo atendidos, é suficiente para nos acharmos superiores, cheios de direito, e tratarmos os outros como pessoas menos importantes.

O paradigma do evangelho

Nosso assunto é um discípulo servo. E ser discípulo de Jesus significa adotar o mesmo ponto-de-vista dele a respeito do mundo e da vida. Então, precisamos saber o Jesus pensa sobre servir e ser servido. Isto é, qual o paradigma do evangelho? Vejamos um comentário de Jesus sobre esse assunto no evangelho de Lucas:

24 Surgiu também uma discussão entre eles, acerca de qual deles era considerado o maior.

25 Jesus lhes disse: "Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. 26 Mas, vocês não serão assim. Pelo contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. 27 Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve. Lc 22.24-27 (NVI)

Parece que Jesus nos propõe uma forma diferente de considerar o servir e o ser servido. Primeiro Ele reconhece que aos olhos das pessoas aquele que é servido e mais importante que aquele que serve. Mas logo em seguida ele nos desafia a assumir o lugar de servo mesmo assim.

E o que me parece mais desafiador ao ouvir Jesus falar dessa maneira, é que ele não estava apenas fazendo um discurso sobre como as coisas devem ser. Ele estava chamando seus discípulos para andar nos passos dele e viver do jeito que ele vivia.

...eu estou entre vocês como quem serve. (27)

O que você acha disso tudo? De um lado, sabemos que se tornar servo neste mundo não é moleza; por outro lado, o Espírito de Deus parece sussurrar aos nossos ouvidos que devemos aceitar o desafio de tornar o serviço nossa rotina de vida. Do mesmo jeito que Cristo fez.

Seguir a Jesus não é apenas frequentar os cultos de domingo ou fazer parte do grupo da igreja no Face e no Whatsapp. É bom participar de tudo isso, mas não significa que fazendo essas coisas você é um discípulo de Jesus.

Ser discípulo é adotar o mesmo entendimento que ele tem a respeito da vida. E sobre o serviço, parece que o pensamento de Jesus é claro: ainda que as pessoas desprezem e desconsiderem aqueles que servem, devemos atender ao chamado de Deus e transformar o servir às pessoas em nosso modo de vida.

Jeremias, o profeta, muitos séculos antes de Jesus nascer, anunciou que o messias seria um servo sofredor. O apóstolo Paulo, depois de Jesus ressuscitar e subir aos céus, escreveu um pouco sobre esse coração de servo que pulsava no peito de Jesus. Vejamos o que ele diz em Fp 2.5-8:

Tentem pensar como Cristo Jesus pensava. Mesmo em condição de igualdade com Deus, Jesus nunca pensou em tirar proveito dessa condição, de modo algum. Quando sua hora chegou, ele deixou de lado os privilégios da divindade e assumiu a condição de escravo, tornando-se humano! E, depois disso, permaneceu humano. Foi sua hora de humilhação. Ele não exigiu privilégios especiais, mas viveu uma vida abnegada e obediente, tendo também uma morte abnegada e obediente — e da pior forma: a crucificação. Fp 2.5-8 (AM)

Então meus irmãos, nosso primeiro desafio é romper com ideia de que servir é coisa de gente sem importância. No evangelho de Jesus, são importantes aqueles que cultivam o mesmo coração de servo que pulsava no peito do Salvador. Pessoas assim, não desejam tirar proveito de alguma posição ou condição superior que tenham recebido, mas estão sempre com o coração disposto a servir.

Quando rejeitarmos o entendimento de que servir é algo ruim e abraçarmos a mentalidade de Jesus sobre servir e ser servido, estaremos livres para desenvolver o coração de servo que recebemos da parte de Deus.

A missão se traduz em serviço

No entanto, ao mesmo tempo que abraçamos por fé a mentalidade de Jesus sobre servir e ser servido, é preciso examinar o que Ele pensa sobre isso.

É difícil exagerar a importância que Jesus dá para um coração disposto a servir a Deus e às pessoas. Ele afirmou essa importância quando colocou o serviço no âmago da sua missão aqui entre nós.

28 A vossa maneira de proceder deve ser a mesma que a minha, porque eu, o Filho do Homem, não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida para salvação de muitos. Mt 20.28 (OL)

Está muito na moda definir uma missão pessoal. Jovens executivos hoje contratam um coach para ajuda-los a decidir suas missões pessoais, isto é, para onde eles vão dirigir suas vidas e concentrar seus esforços. Algo que pode ser muito útil. No entanto, parece que para Jesus isso estava muito claro e servir estava no topo da agenda. E na sua agenda? Qual é posição do serviço às pessoas em nome de Deus?
 
Um alerta sobre a natureza do serviço

Existe uma outra fala de Jesus sobre servir que é muito importante para abraçarmos a mentalidade de Jesus sobre servir e ser servido, sobretudo nesses tempos “multi”, de grande pluralidade e de vidas líquidas, e que somos chamados a nos dividir em mil frentes. Vejamos Mt 6.24.

24 "Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro". Mt 6.24

Servir a Deus e às pessoas em nome de Deus é algo que ocupa toda nossa vida e durante a vida toda. O discípulo de Jesus é um servo de dedicação exclusiva e em tempo integral. Não existe discípulo de meio período ou com jornada reduzida.

No texto que lemos, Jesus declara a impossibilidade de alguém conciliar em seu coração uma vida dedicada a Deus e ao mesmo tempo dedicada juntar dinheiro. Não dá pra fazer as duas coisas, porque nosso coração ficaria dividido. E não é possível seguir a Jesus com um coração divido. Mas o dinheiro entra aqui como um exemplo. Qualquer coisa que tente captura o nosso coração entra na mesma categoria.

Então, o discípulo-servo é alguém atento a qualquer coisa que deseje cativar um pedaço de sua lealdade. E está pronto para rejeitar esses assédios.

Quando adquire coisas, o discípulo-servo não as trata como suas próprias para não aprisionar seu coração a elas; quando se compromete com as pessoas, o discípulo-servo o faz com o objetivo de servi-las e não de dominá-las; quando ocupa posições de destaque, ele entrega todas as honrarias aos pés de Cristo; quando lidera instituições, o discípulo o faz com a disposição de ali ser um servo de Jesus; quando realiza alguma tarefa ou projetos, seu pensamento é em como tudo aquilo servirá às pessoas e a Cristo.

Ninguém pode servir a dois senhores...

Serviço e resiliência

A essa altura você já deve ter notado que a vida de um discípulo-servo é como nadar contra a correnteza do rio. Exige muita energia espiritual. Às vezes da impressão de que nada está acontecendo... Bate aquela vontade de parar de nadar e deixar que a correnteza nos leve.

Talvez seja por isso que Jesus ressalta a importância de servirmos até o final. A resiliência no servir é algo que transpira das palavras de Jesus. Vejamos uma fala dele no evangelho de Lucas:

35 "Estejam prontos para servir, e conservem acesas as suas candeias, 36 como aqueles que esperam seu senhor voltar de um banquete de casamento; para que, quando ele chegar e bater, possam abrir-lhe a porta imediatamente. Lc 12. 35-36

Servir não é uma coceira que dá e depois passa. Servir não é uma moda. Servir é um modo de vida que acompanha até o seu encontro com o Senhor. Mas é preciso reconhecer que uma vida de serviço não é uma corrida de 100 metros, mas uma longa maratona. E muitos desafios serão enfrentados até que ela chegue ao final.

Servir não é algo que faz para ficar bem na foto. É resultado de uma preocupação verdadeira e permanente com as pessoas em nossa volta. Não é algo que se faz por tempo e depois deixa-se de fazer. Não é um cargo que você assume e depois é exonerado. Nem uma profissão da qual a gente se aposentar.

Por isso é preciso que sejamos revestidos de amor do alto, que abracemos a mentalidade de Cristo, e permitamos ao Espírito de Deus transplantar o coração de servo que pulsava no peito no nosso salvador.





Uma palavra de encorajamento

Minha última consideração sobre a mentalidade de Cristo quanto a servir e ser servido começa com um texto do apóstolo Paulo:

15 Eu, de boa vontade, darei a vocês tudo o que tenho e gastarei até a mim mesmo pelo bem de vocês. Será que quanto mais eu os amo, menos serei amado por vocês? 2 Cor 12.15

Jesus tem uma palavra de encorajamento e conforto para Paulo e para todos que se deixam gastar pelo serviço. É com essa palavra que desejo encerrar.

 37 Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los. Lucas 12.37(NVI)

Haverá um bálsamo de alívio aguardando os servos que perseveram. Haverá um tempo de descanso para aqueles que gastam suas vidas servindo ao Senhor. Esse dia chegará! E quando chegar esse dia, ele dirá para nos recostarmos confortavelmente, vestirá os aventais de servo e nos servirá manjares de consolo e de paz.


Aqueles que gastarem suas vidas servindo às pessoas em nome de Deus não terminarão decepcionados. Um dia colherão os doces frutos do seu trabalho e se alegrarão, e bendirão ao Senhor que os sustentou fiéis até o fim.

Eu lhes afirmo que ele (o Senhor) se vestirá para servi-los, fará que se reclinem à mesa, e os servirá.

Que Ele nos ajude em nossa caminhada.

10 fevereiro 2016

Disciplinas para experimentar arrependimento



Arrependimento para Santificação - Parte 2
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016

Hoje pela manhã vimos que o arrependimento não está limitado à experiência de conversão, quando fomos transportados do império das trevas para o Reino do filho do seu amor. Arrependimento é o modo pelo qual o Senhor nos permite reafirmar que nossa esperança está em Cristo Jesus.

Entendemos com a ajuda do Espírito Santo de Deus que não há espaço no evangelho para o arrependimento religioso. Aqueles que se arrependem, mudam de comportamento e até se esforçam para fazer tudo certo, mas fazem isso com o objetivo de serem aceitos por Deus como pessoas de bom coração, estão como alguém que tenta tirar água de um barco furado com um copo descartável.

Já o arrependimento do evangelho é diferente, não tem como objetivo aplacar a ira de Deus, nem tampouco obter o seu favor: aquilo, atender a ira de Deus, já foi realizado através do sacrifício de Cristo Jesus, realmente o único homem de coração perfeitamente bom que habitou neste mundo; e quanto a obter o favor de Deus, precisamos conhecer melhor o Deus a quem servimos, porque o coração dele já está inclinado a nosso favor. Vejamos o que escreveu o apóstolo Paulo:

31-32Que poderemos nós comentar perante coisas tão maravilhosas? Se Deus está ao nosso lado, quem será contra nós? Se ele nem o seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, não nos dará, com Cristo, tudo o mais que precisarmos? 33 Quem ousará acusar-nos, a nós que Deus escolheu para si mesmo? Porque foi Deus mesmo quem nos perdoou 34 Quem pois é que nos condenaria? Ninguém o poderia fazer visto que foi mesmo Cristo quem morreu e ressuscitou por nós, e se encontra sentado no mais honroso lugar junto de Deus, ali intercedendo em nosso favor. (Rm 8. 31-34)

O arrependimento conforme o evangelho é algo a que o cristão amadurecido vai se tornando cada vez menos resistente.

Cristãos maduros não têm conceitos elevados sobre si mesmos, nem guardam consigo falsas esperanças sobre a bondade de seus corações, porque sabem que mais cedo ou mais tarde essas esperanças se revelarão meras ilusões; mas guardam consigo a esperança que têm em Cristo Jesus, nos méritos de seu salvador, diante de quem todo joelho, nos céus e na terra se dobrarão.

As disciplinas do arrependimento

Hoje à noite tenho como objetivo propor três disciplinas pessoais como uma estrutura para a prática do arrependimento conforme o evangelho. Para isso voltarei a consultar o texto escrito por Tim Keller e traduzido por Felipe Sabino de Araújo no site monergismo.com.

Tim Keller, a partir das práticas devocionais relatadas por George Whitefield, em uma carta escrita em 1738, nos apresenta uma estrutura para realizarmos nosso inventário pessoal (no caso de Whitefield, ele o fazia diariamente) e assim encontrarmos o material de que precisamos para prática do arrependimento.

Muitas pessoas não se exercitam no arrependimento porque não sabem bem do que arrepender-se. Olham para si mesmas, para suas vidas comuns e aparentemente tranquilas, e não sabem do que deveriam se arrepender.

Elas vão à igreja com alguma frequência, vivem uma vida sem muitos erros graves, entregam suas ofertas, trabalham duro a semana inteira, levam os filhos para a escolha, cumprem suas tarefas domésticas, e, ao final de tudo, não sabem de que deveriam arrepender-se.

Essa breve estrutura (Tim Keller propõe quatro pontos, mas nós veremos três deles) talvez possa nos ajudar com perguntas que revelem alguns motivos para nosso arrependimento conforme o evangelho, isto é, razões para que haja nós convicção de pecado, contrição pelo pecado, confissão de pecado, conversão do pecado e a confissão de Cristo como nossa única esperança.

Profunda Humildade

A primeira disciplina a que somos chamados é a humildade. Essa disciplina espiritual se contrapõe ao orgulho (atualmente muito em moda). Embora na moda, o orgulho é traiçoeiro e venenoso.

Conta-se que Francisco de Assis, passando durante o inverno por uma das ruas friorentas de sua cidade natal, acompanhado de alguns discípulos, compadeceu-se de um mendigo que tremia na calçada. Sem qualquer dúvida em seu coração, ele retirou a capa esfarrapada de sobre os seus ombros e colocou sobre aquele pobre homem quase congelado.

Vinte passos a frene, os discípulos sentiram falta de Francisco, que estava cerca de passos atrás, com as mãos sobre os olhos e soluçando.

- A capa, a capa!
- O que foi mestre, perguntaram?
- A capa, respondeu.
- O senhor a quer de volta?
- Não. Ele precisa bem mais que eu.
- Então, mestre, porque você está chorando? Ninguém faria a bondade que você fez àquele homem.
- Eu sei que fiz algo bom para com ele. No entanto, bastaram dez passos para que meu coração se enchesse de orgulho pelo bem que fiz.

Perguntas para revelar o pecado do orgulho

·        Olho com desprezo para alguém?
·        Tenho sido atormentado pelas críticas contra mim?
·        Eu me sinto frequentemente desdenhado e ignorado?

Caminhos para o arrependimento

Considere a graça de Jesus em sua vida até que...
... o sentimento de desdém diminua (lembre-se de que você também é pecador que desdenha e despreza outras pessoas);
... a dor pelas críticas diminua (traga à memória que a aprovação de Deus é mais importante);
... o desprezo pelo outro perca o sentido (lembre-se que tentar diminuir o outro não o fará maior).

No fundo o orgulho, em todas as suas formas de expressão, é a tentativa de manter uma boa imagem diante das pessoas. Em outras palavras, preservar as máscaras.

Então, para vencermos o orgulho, precisamos considerar que a maravilhosa graça de Deus, que nos amou sem esperar que fôssemos boas pessoas. Tentar parecer perfeitos para sermos aceitos, então, não só é peso muito grande como totalmente desnecessário.

Considere o amor gracioso de Deus por vocês e experimente a alegria e a liberdade de ser apenas quem você é.

Amor em chamas

A segunda disciplina a que somos chamados é o amor. Essa disciplina espiritual se contrapões à indiferença. Hoje, ser indiferente às pessoas é considerado um sinal de fortaleza, mas a verdade é que o fim de alguém que cultiva a indiferença é a frieza e a solidão.

Há alguns anos atrás a banda Oficina G3 compôs uma canção cujo o título é indiferença. A letra é um grito contra o estado de passividade em que as grandes cidades se encontram.

Uma das frases que mais me chamou a atenção foi o refrão, que diz:

“Vidros fechados, gestos mudos do outro lado.”

Perguntas para revelar o pecado da indiferença

·        Tenho pensado ou falado com maldade contra alguém?
·        Tem me justificado quando sou flagrado criticando alguém?
·        Tenho sido impaciente e iracundo com frequência?
·        Tenho agido com falta de atenção para com as pessoas?

Caminhos de arrependimento

Considere a graça de Deus e o amor dele por vocês, sem que você nada merecesse, até que...

... não haja frieza ou grosseria em suas emoções (pense no amor de Cristo, morrendo gentilmente em seu lugar);
... não haja mais impaciência com os outros (pense na paciência de Cristo para com você);
... surja alguma ligação com as pessoas e indiferença se desvaneça.

O amor de Deus não foi indiferente. Ele se importou. Jesus não foi indiferente! Ele não pensou apenas em si. Ele assumiu o ônus de se importar com as pessoas. Muitos o rejeitaram, outros zombaram, outros nem entenderam, mas ele amou até o fim. Vejamos as orientações do Apóstolo Paulo aos irmãos da cidade de Filipos:

4 Não pensem unicamente nos vossos interesses, mas procurem também aquilo que interessa aos outros. 5-8Que haja assim em vocês a mesma atitude que houve em Cristo Jesus, que, embora por natureza sendo Deus, não reivindicou o ser igual a Deus, mas desfez--se das suas regalias próprias, e tornando-se um ser humano, tomou uma posição de dependência, humilhando-se a ponto de se sujeitar voluntariamente à morte; não a uma morte vulgar, mas à morte da cruz. (Fp 2.4-8)

Algumas pessoas pensam que o que se opões ao amor é o ódio. Mas isso é um engano. O que se opões ao amor é a indiferença. E se Deus amor, não permita que a indiferença se torne seu modo de viver. Isso seria renegar a fé e virar as costas para Deus.

Coragem sábia

A terceira disciplina a que somos chamados para exercitar o arrependimento conforme o evangelho é a coragem. A coragem aqui não é irresponsabilidade nem inconsequência, mas sabedoria; coragem para olhar a vida pelos olhos de Deus.

Diz uma antiga fábula que um Rato vivia angustiado com medo do gato. Um mágico teve pena dele e o transformou em gato.

Mas aí ele ficou com medo do cão, por isso o mágico o transformou em cão. Então, ele começou a temer a pantera e o mágico o transformou em pantera. Foi quando ele se encheu de medo do caçador. A essas alturas, o mágico desistiu. 

Transformou-o em Rato novamente e disse: 

“Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem a coragem de um Rato”. 

Quanta coragem existe em você? Você já sentiu como ratinho da história: nada é suficiente para fazer de você alguém corajoso? Não se entristeça! Até Josué, um homem acostumado com dureza da vida, precisou ouvir palavra de encorajamento.

No entanto, a coragem sábia da qual estamos falando não se contrapões ao medo, sim à ansiedade, isto é, à pressa de fazer tudo perfeitamente correto.

Essa ansiedade tem efeitos opostos: enquanto alguns ficam paralisados pela ansiedade o outros se tornam precipitados e impulsivos.

Perguntas para revelar o pecado da ansiedade

·        Tenho evitado as pessoas com quem preciso tratar problemas?
·        Tenho evitado tarefas sob minha responsabilidade?
·        Tenho falhado em ser objetivo naquilo que precisa ser feito?
·        Tenho agido com precipitação e impulsividade?

Caminhos de arrependimento

Considere o amor graciosos e corajoso de Cristo por você até que...

... não haja qualquer fuga covarde dos problemas difíceis (lembre-se do que Cristo enfrentou por você);
... os comportamentos ansiosos e cheios de preocupação se dissipem (lembre-se de que Deus já provou o amor dele por você, pelo fato de haver Cristo morrido na cruz, e que ele jamais o abandonará).

A coragem sábia não é mero destemor quanto às coisas da vida. Também não é resultado de sentir-se forte e capaz de resolver qualquer coisa. Essa coragem não é ter convicção de que você vai conseguir.

Coragem sábia é enfrentar os problemas da vida confiando que Ele estará conosco até o final: consolando, encorajando, animando, ou simplesmente nos fortalecendo nos dias maus.

Conclusão

O arrependimento religioso é um sinal de fracasso; arrepender-se segundo o evangelho é um brado de vitória a respeito do amor de Deus

O arrependimento religioso é motivo de tristeza pelo que não fizemos; arrepender-se segundo o evangelho é motivo de alegria pelo que já fez e fará por nós.

O arrependimento religioso esperança frustrada de acerta; arrepender-se segundo o evangelho é a esperança realizada que temos em Cristo Jesus.

O arrependimento religioso fala de mim mesmo e de meus esforços e ser bom; arrepender-se segundo o evangelho é proclamar as virtudes de Cristo.

O arrependimento religioso é desejo de independência; arrepender-se segundo o evangelho é declarar sua dependência da graça amorosa de Deus.

O profeta Isaías relatou algo maravilhoso e terrível ao mesmo tempo. A fala do Senhor ao seu povo naqueles dias foi a seguinte:

“Diz o soberano Senhor; o santo de Israel: “No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança o seu vigo, mas vocês não quiseram.”


Qual será sua resposta nessa noite? Eu desejo que você diga sim ao arrependimento, que decida experimentar as disciplinas que podem conduzi-lo à maturidade, à perfeita varonilidade de Cristo.

As faces escuras do arrependimento religioso


Arrependimento para Santificação - Parte 1 
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016

Em nossos dois encontros, hoje pela manhã e à noite, vamos refletir juntos, e com a ajuda do Espírito Santo de Deus, sobre o arrependimento e suas implicações no processo de santificação dos discípulos de Jesus.

Eu espero que você permaneça atento e acompanhe comigo esse maravilhoso e importante ensino das Escrituras, para assim colher frutos preciosos em sua vida, na vida de sua família e na vida de sua igreja.

Bom, a abordagem mais comum sobre arrependimento é sobre o papal que ele tem naquilo que costumamos chamar genericamente de conversão (ou aceitar a Jesus, ou se entregar a Jesus). Essa abordagem será feita nas outras pregações, quando será tratada com detalhes. Portanto falarei sobre isso apenas o suficiente para introduzir o assunto. Em seguida falaremos sobre a relação entre arrependimento e santificação.

Arrependimento e Salvação

A verdade é que arrependimento está fora de moda. Ninguém mais deseja se arrepender. O que ouvimos o tempo todo é que devemos viver a vida de forma intensa, fazendo tudo que tivermos vontade, para depois não lamentarmos por não ter curtido tudo que a vida tem para oferecer. Arrependimento parece uma coisa triste e está definitivamente fora de moda.

Hoje, quanto alguma tristeza ronda nossas mentes, talvez por causa de algo que nossa consciência não está em paz, rapidamente muitas vozes se levantam (no Face, no Whatsapp ou ao vivo mesmo) para dizer que não devemos dar espaço para esses sentimentos negativos, e que arrependimento a gente só deve ter pelas coisas que não fez; o resto faz parte da vida. Será que esse ensino facebokiano está de acordo com as Escrituras?

Se olharmos para as Escrituras e para a história da Igreja, veremos que, na verdade, o arrependimento é uma disciplina espiritual tão importante que nenhum cristão tem o direito de desconhecer os seus elementos e as armadilhas cercam as mentiras e equívocas que cercam esse assunto.

Penso que nosso olhar sobre o arrependimento, atualmente, é, de certa forma, simplista. Não sabemos muito bem o que ele significa nem como ele pode acontecer. Sabemos que as pessoas devem se arrepender para serem salvas, mas nossa compreensão sobre arrependimento e nossa experimentação pessoal é quase sempre limitada.

Thomas Watson, um pregador e pastor inglês do século XVII, escrevendo sobre arrependimento, identificou ao menos seis diferentes fases desse processo. Segundo ele, para que um verdadeiro arrependimento aconteça, é necessário:

Percepção do pecado
Tristeza pelo pecado
Confissão de pecado
Vergonha pelo pecado
Ódio pelo pecado
Converter-se do pecado

D. L. Moody, um dos maiores evangelistas norte-americanos do século XIX, em uma de suas pregações, escreveu o que poderia ser chamado de 5Cs do arrependimento:

Convicção de pecado
Contrição pelo pecado
Confissão de pecado
Conversão do pecado
Confissão de Cristo

A verdade é que há muito a aprender sobre arrependimento a fim de não nos tornamos evangelistas rasos. O desconhecimento da natureza humana e da própria pecaminosidade muitas vezes nos torna incapazes de desafiar as pessoas a mudarem o rumo de suas vidas.

Quem não experimentou arrependimentos verdadeiros em sua própria vida dificilmente será capaz de desafia outras pessoas ao verdadeiro arrependimento.

Arrependimento e santificação

Pode ser algumas pessoas só consigam ver o arrependimento como algo que acontece àquele que não é cristão, para que a pessoa seja salva. Mas essa é uma visão limitada do que arrepender-se.

O profeta Isaías registrou uma afirmação que Deus fez sobre arrependimento que deve chamar nossa atenção para o fato de que arrependimento é parte da caminhada de todos aqueles que seguem o Senhor.

“No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigo, mas vocês não quiseram.” (Is 30;15)

Para quem o profeta Isaías escreveu esse recado do Senhor? Teria sido para nações incrédulas, um povo que não temia ao Senhor? Não! Isaías estava falando com o povo de Deus.

Lendo o começo desse capítulo, é possível constatar que a fala do Senhor era para os seus “filhos obstinados... que executam planos que não são os meus, fazem acordo sem minha aprovação, acumulando pecado sobre pecado.” Is. 30.1

Um outro profeta, chamado João Batista, começou o seu ministério com um apelo ao arrependimento:

“Arrependam-se, porque o Reino dos Céus está próximo.” Mt. 3.2

Com quem João Batista estava falando? Seria com os romanos? Não! Ele estava se dirigindo ao povo de Deus, que temia ao Senhor. Um povo que conhecia as profecias e aguardava a vinda do messias prometido.

D. L. Moody, falando sobre o arrependimento disse o seguinte:

“Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos Cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.”

A conclusão a que podemos chegar, então, é que arrependimento deve fazer parte da vida do povo de Deus como uma prática cotidiana, assim como o pecado é cotidiano. Ao mesmo tempo precisamos descobrir como o ato de arrepender-se pode ser importante para nossa caminhada com Cristo.

Faces escuras do arrependimento

Tim Keller, pastor e escritor norte-americano, escreveu um texto, traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto e publicado no site monergismo.com, que pode nos ajudar a descobrir o papel e a importância do arrependimento no progresso da vida cristã.

Ele nos relembra que o arrependimento não é uma exclusividade daqueles que seguem a Jesus. Entre aqueles que simplesmente praticam uma religião também ocorrem arrependimentos. A diferença está no propósito, no objetivo que se tem ao arrepender-se.

Keller explica que para os religiosos o arrependimento é basicamente um meio de “manter Deus feliz”, de forma que Ele continue te abençoando e respondendo suas orações. Já para os seguidores de Jesus, que abraçaram o seu evangelho e foram definitivamente salvos por ele, o arrependimento tem como propósito manter viva a alegria do nosso relacionamento com Ele.

Esse arrependimento religioso é uma tentação que sempre nos rodeia. Precisamos rejeitá-lo, porque esse tipo de arrependimento é egoísta, promotor de justiça própria e amargo (até o fim).

UMA NOTA: religioso é aquele que faz aquilo que é certo, mas pelas razões errada. Religioso é aquele que ser esforça para viver uma vida correta, porque pensa que assim vai acumular créditos com Deus, e ganhará o direito de pedir o que quiser para ele. Vejamos um desses religiosos em ação na história contada por Jesus no evangelho de Lucas 18.9-12.

9 ​E disse também a uns, que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam aos outros, esta parábola: 10 ​Dois homens subiram ao Templo para orar, um fariseu, e o outro cobrador de impostos. 11 ​O fariseu, estando de pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem [sou] como este cobrador de impostos. 12 ​Jejuo duas vezes por semana, [e] dou dízimo de tudo quanto possuo. [BL]

Com olhos atentos a esta história, vamos refletir sobre algumas faces escuras do arrependimento, quando ele é praticado por motivos religiosos, como no caso desse fariseu.

Egoísmo

Uma das faces escuras desse arrependimento religioso, é a preocupação do religioso consigo mesmo. Tomado pelo egoísmo, o religioso fica triste não pelo pecado em si, mas por causa do medo que tem de sofre alguma consequência, ser punido, perder alguma bênção ou coisas do gênero.

O arrependimento religioso é aquele que fala mais sobre si mesmo que sobre a graça de Deus; pensa mais em se dar bem que em agradecer a Deus, está mais preocupado na sua imagem diante de deus que na visão de um Deus maravilhoso que o amou.

Veja que o fariseu estava tão focalizado em si que em sua oração só consegui falar dele mesmo e de suas conquistas.

Justiça própria

Além do egoísmo, outra das faces escuras desse arrependimento religioso é a justiça própria. Tim Keller alerta que, muito facilmente, o arrependimento pode se tornar uma espécie de “expiação” pelo pecado.

É fácil ver isso na fala do fariseu. A oração dele é quase uma exposição de motivos pelo quais ele deve ser reconhecido por Deus e pelos outros como alguém digno, honesto e cumpridor de suas obrigações. Ele não precisa da graça de Deus. Ele mesmo já fez tudo.

Da mesma forma algumas pessoas se arrepende, mudam de comportamento e até se tornam cidadãos de bem, porque acham que é assim que Deus vai aceita-los. O arrependimento dessas pessoas é uma tentativa de zerar as contas com Deus. Esse não é o arrependimento de que fala o evangelho de Cristo.

Juntando o começo e o final desse texto, talvez fique ainda mais claro o abismo para onde que esse tipo de arrependimento pode nos levar:

“E disse também a uns que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam os outros... Eu lhes digo que este homem (publicano), e não o outro foi para casa justificado diante de Deus.” Lc. 18.9,14

Ao contrário dos religiosos que confiam em si mesmos e tentam convencer Deus de que são justos e bons, os seguidores de Jesus confiam no amor gracioso de Deus, provado pela morte de Cristo e sabem que não justos, mas forma justificados pelo sangue de Cristo.

Amargo até o fim

Esse arrependimento religioso, além de ser egoísta e buscar, na maioria das vezes, justiça própria, torna as pessoas inseguras e tensas, com um gosto amargo na boca. Como é isso?

Quem decidir viver uma vida perfeita para agradar a Deus e ser aceito por ele, logo vai perceber que isso não é nada fácil. Na verdade, é impossível. Mas o religioso, sobretudo o brasileiro, não desiste nunca. Então, a cada novo pecado que surge em sua vida ele se arrepende e no fundo de sua alma afirma para si mesmo que essa foi a última vez. Com o tempo, a ocorrência do pecado e a necessidade de arrependimento se torna um desconforto e, por fim, um peso insustentável de tristeza e amargura.

Para quem pratica o arrependimento religioso, isto é, para quem muda de comportamento apenas como objetivo de ser aceito por Deus, cada ocorrência de pecado e arrependimento se torna traumática, anormal e ameaçadora para sua saúde espiritual.

É muito difícil para uma pessoa que vive à base de arrependimentos religiosos admitir que pecou, pois a esperança do religioso é um dia ser declarado por Deus uma pessoa de coração bom, talvez alguém que suplantou o pecado. Mas o que dizem as Escrituras sobre isso? Vejamos na carta escrita pelo apóstolo do amor, João.

8 Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

1 MEUS FILHINHOS, estou lhes dizendo isto a fim de que vocês fiquem longe do pecado. Mas se vocês pecarem, existe alguém para rogar por vocês diante do Pai. O nome dele é Jesus Cristo, Aquele que é tudo quanto é bom e que agrada completamente a Deus. 2 Ele foi quem levou sobre si a ira de Deus contra os nossos pecados, e nos trouxe à comunhão com Deus; e Ele é o perdão para os nossos pecados, e não somente os nossos, mas os do mundo inteiro.

Se a nossa esperança é nossa capacidade de fazer as coisas certas e sermos, por fim, considerados justos, admitir nossas fraquezas e deslizes pode ser um sofrimento atroz, um verdadeiro amargor.

Mas no evangelho nossa esperança está na justiça de Cristo e em seu amor por nós. Por isso, para quem pratica o arrependimento conforme o evangelho, arrepender-se não é dolorido nem penoso. Claro que sempre há tristeza pelo pecado cometido, mas o entendimento de que já fomos alcançados pela graça de Deus nos faz ficar alegres, por causa do perdão concedido por ele.

Conclusão

O arrependimento está no centro da dinâmica da vida cristã. Quanto mais maduros estamos em nossa fé, tanto mais facilmente nos arrependemos de nossos pecados.

O cristão amadurecido é aquele que já não tem ilusões sobre si mesmo; que conhece a maldade de seu próprio coração e sabe que nada adiante negar ou justificar os seus pecados.

O seguidor de Jesus que está crescendo em direção à estatura de varão perfeito, à imagem de Cristo, é aquele de coração quebrantado, que ser arrepende fácil, que sem barreiras e com a frequência necessária reconhece seu pecado, se contrista por causa disso, confessa os pecados cometidos, se converte e, por fim confessa Cristo como a única esperança guarda em seu coração.

Que o Senhor mesmo nos ajude nessa jornada.