10 fevereiro 2016

Disciplinas para experimentar arrependimento



Arrependimento para Santificação - Parte 2
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016

Hoje pela manhã vimos que o arrependimento não está limitado à experiência de conversão, quando fomos transportados do império das trevas para o Reino do filho do seu amor. Arrependimento é o modo pelo qual o Senhor nos permite reafirmar que nossa esperança está em Cristo Jesus.

Entendemos com a ajuda do Espírito Santo de Deus que não há espaço no evangelho para o arrependimento religioso. Aqueles que se arrependem, mudam de comportamento e até se esforçam para fazer tudo certo, mas fazem isso com o objetivo de serem aceitos por Deus como pessoas de bom coração, estão como alguém que tenta tirar água de um barco furado com um copo descartável.

Já o arrependimento do evangelho é diferente, não tem como objetivo aplacar a ira de Deus, nem tampouco obter o seu favor: aquilo, atender a ira de Deus, já foi realizado através do sacrifício de Cristo Jesus, realmente o único homem de coração perfeitamente bom que habitou neste mundo; e quanto a obter o favor de Deus, precisamos conhecer melhor o Deus a quem servimos, porque o coração dele já está inclinado a nosso favor. Vejamos o que escreveu o apóstolo Paulo:

31-32Que poderemos nós comentar perante coisas tão maravilhosas? Se Deus está ao nosso lado, quem será contra nós? Se ele nem o seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, não nos dará, com Cristo, tudo o mais que precisarmos? 33 Quem ousará acusar-nos, a nós que Deus escolheu para si mesmo? Porque foi Deus mesmo quem nos perdoou 34 Quem pois é que nos condenaria? Ninguém o poderia fazer visto que foi mesmo Cristo quem morreu e ressuscitou por nós, e se encontra sentado no mais honroso lugar junto de Deus, ali intercedendo em nosso favor. (Rm 8. 31-34)

O arrependimento conforme o evangelho é algo a que o cristão amadurecido vai se tornando cada vez menos resistente.

Cristãos maduros não têm conceitos elevados sobre si mesmos, nem guardam consigo falsas esperanças sobre a bondade de seus corações, porque sabem que mais cedo ou mais tarde essas esperanças se revelarão meras ilusões; mas guardam consigo a esperança que têm em Cristo Jesus, nos méritos de seu salvador, diante de quem todo joelho, nos céus e na terra se dobrarão.

As disciplinas do arrependimento

Hoje à noite tenho como objetivo propor três disciplinas pessoais como uma estrutura para a prática do arrependimento conforme o evangelho. Para isso voltarei a consultar o texto escrito por Tim Keller e traduzido por Felipe Sabino de Araújo no site monergismo.com.

Tim Keller, a partir das práticas devocionais relatadas por George Whitefield, em uma carta escrita em 1738, nos apresenta uma estrutura para realizarmos nosso inventário pessoal (no caso de Whitefield, ele o fazia diariamente) e assim encontrarmos o material de que precisamos para prática do arrependimento.

Muitas pessoas não se exercitam no arrependimento porque não sabem bem do que arrepender-se. Olham para si mesmas, para suas vidas comuns e aparentemente tranquilas, e não sabem do que deveriam se arrepender.

Elas vão à igreja com alguma frequência, vivem uma vida sem muitos erros graves, entregam suas ofertas, trabalham duro a semana inteira, levam os filhos para a escolha, cumprem suas tarefas domésticas, e, ao final de tudo, não sabem de que deveriam arrepender-se.

Essa breve estrutura (Tim Keller propõe quatro pontos, mas nós veremos três deles) talvez possa nos ajudar com perguntas que revelem alguns motivos para nosso arrependimento conforme o evangelho, isto é, razões para que haja nós convicção de pecado, contrição pelo pecado, confissão de pecado, conversão do pecado e a confissão de Cristo como nossa única esperança.

Profunda Humildade

A primeira disciplina a que somos chamados é a humildade. Essa disciplina espiritual se contrapõe ao orgulho (atualmente muito em moda). Embora na moda, o orgulho é traiçoeiro e venenoso.

Conta-se que Francisco de Assis, passando durante o inverno por uma das ruas friorentas de sua cidade natal, acompanhado de alguns discípulos, compadeceu-se de um mendigo que tremia na calçada. Sem qualquer dúvida em seu coração, ele retirou a capa esfarrapada de sobre os seus ombros e colocou sobre aquele pobre homem quase congelado.

Vinte passos a frene, os discípulos sentiram falta de Francisco, que estava cerca de passos atrás, com as mãos sobre os olhos e soluçando.

- A capa, a capa!
- O que foi mestre, perguntaram?
- A capa, respondeu.
- O senhor a quer de volta?
- Não. Ele precisa bem mais que eu.
- Então, mestre, porque você está chorando? Ninguém faria a bondade que você fez àquele homem.
- Eu sei que fiz algo bom para com ele. No entanto, bastaram dez passos para que meu coração se enchesse de orgulho pelo bem que fiz.

Perguntas para revelar o pecado do orgulho

·        Olho com desprezo para alguém?
·        Tenho sido atormentado pelas críticas contra mim?
·        Eu me sinto frequentemente desdenhado e ignorado?

Caminhos para o arrependimento

Considere a graça de Jesus em sua vida até que...
... o sentimento de desdém diminua (lembre-se de que você também é pecador que desdenha e despreza outras pessoas);
... a dor pelas críticas diminua (traga à memória que a aprovação de Deus é mais importante);
... o desprezo pelo outro perca o sentido (lembre-se que tentar diminuir o outro não o fará maior).

No fundo o orgulho, em todas as suas formas de expressão, é a tentativa de manter uma boa imagem diante das pessoas. Em outras palavras, preservar as máscaras.

Então, para vencermos o orgulho, precisamos considerar que a maravilhosa graça de Deus, que nos amou sem esperar que fôssemos boas pessoas. Tentar parecer perfeitos para sermos aceitos, então, não só é peso muito grande como totalmente desnecessário.

Considere o amor gracioso de Deus por vocês e experimente a alegria e a liberdade de ser apenas quem você é.

Amor em chamas

A segunda disciplina a que somos chamados é o amor. Essa disciplina espiritual se contrapões à indiferença. Hoje, ser indiferente às pessoas é considerado um sinal de fortaleza, mas a verdade é que o fim de alguém que cultiva a indiferença é a frieza e a solidão.

Há alguns anos atrás a banda Oficina G3 compôs uma canção cujo o título é indiferença. A letra é um grito contra o estado de passividade em que as grandes cidades se encontram.

Uma das frases que mais me chamou a atenção foi o refrão, que diz:

“Vidros fechados, gestos mudos do outro lado.”

Perguntas para revelar o pecado da indiferença

·        Tenho pensado ou falado com maldade contra alguém?
·        Tem me justificado quando sou flagrado criticando alguém?
·        Tenho sido impaciente e iracundo com frequência?
·        Tenho agido com falta de atenção para com as pessoas?

Caminhos de arrependimento

Considere a graça de Deus e o amor dele por vocês, sem que você nada merecesse, até que...

... não haja frieza ou grosseria em suas emoções (pense no amor de Cristo, morrendo gentilmente em seu lugar);
... não haja mais impaciência com os outros (pense na paciência de Cristo para com você);
... surja alguma ligação com as pessoas e indiferença se desvaneça.

O amor de Deus não foi indiferente. Ele se importou. Jesus não foi indiferente! Ele não pensou apenas em si. Ele assumiu o ônus de se importar com as pessoas. Muitos o rejeitaram, outros zombaram, outros nem entenderam, mas ele amou até o fim. Vejamos as orientações do Apóstolo Paulo aos irmãos da cidade de Filipos:

4 Não pensem unicamente nos vossos interesses, mas procurem também aquilo que interessa aos outros. 5-8Que haja assim em vocês a mesma atitude que houve em Cristo Jesus, que, embora por natureza sendo Deus, não reivindicou o ser igual a Deus, mas desfez--se das suas regalias próprias, e tornando-se um ser humano, tomou uma posição de dependência, humilhando-se a ponto de se sujeitar voluntariamente à morte; não a uma morte vulgar, mas à morte da cruz. (Fp 2.4-8)

Algumas pessoas pensam que o que se opões ao amor é o ódio. Mas isso é um engano. O que se opões ao amor é a indiferença. E se Deus amor, não permita que a indiferença se torne seu modo de viver. Isso seria renegar a fé e virar as costas para Deus.

Coragem sábia

A terceira disciplina a que somos chamados para exercitar o arrependimento conforme o evangelho é a coragem. A coragem aqui não é irresponsabilidade nem inconsequência, mas sabedoria; coragem para olhar a vida pelos olhos de Deus.

Diz uma antiga fábula que um Rato vivia angustiado com medo do gato. Um mágico teve pena dele e o transformou em gato.

Mas aí ele ficou com medo do cão, por isso o mágico o transformou em cão. Então, ele começou a temer a pantera e o mágico o transformou em pantera. Foi quando ele se encheu de medo do caçador. A essas alturas, o mágico desistiu. 

Transformou-o em Rato novamente e disse: 

“Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem a coragem de um Rato”. 

Quanta coragem existe em você? Você já sentiu como ratinho da história: nada é suficiente para fazer de você alguém corajoso? Não se entristeça! Até Josué, um homem acostumado com dureza da vida, precisou ouvir palavra de encorajamento.

No entanto, a coragem sábia da qual estamos falando não se contrapões ao medo, sim à ansiedade, isto é, à pressa de fazer tudo perfeitamente correto.

Essa ansiedade tem efeitos opostos: enquanto alguns ficam paralisados pela ansiedade o outros se tornam precipitados e impulsivos.

Perguntas para revelar o pecado da ansiedade

·        Tenho evitado as pessoas com quem preciso tratar problemas?
·        Tenho evitado tarefas sob minha responsabilidade?
·        Tenho falhado em ser objetivo naquilo que precisa ser feito?
·        Tenho agido com precipitação e impulsividade?

Caminhos de arrependimento

Considere o amor graciosos e corajoso de Cristo por você até que...

... não haja qualquer fuga covarde dos problemas difíceis (lembre-se do que Cristo enfrentou por você);
... os comportamentos ansiosos e cheios de preocupação se dissipem (lembre-se de que Deus já provou o amor dele por você, pelo fato de haver Cristo morrido na cruz, e que ele jamais o abandonará).

A coragem sábia não é mero destemor quanto às coisas da vida. Também não é resultado de sentir-se forte e capaz de resolver qualquer coisa. Essa coragem não é ter convicção de que você vai conseguir.

Coragem sábia é enfrentar os problemas da vida confiando que Ele estará conosco até o final: consolando, encorajando, animando, ou simplesmente nos fortalecendo nos dias maus.

Conclusão

O arrependimento religioso é um sinal de fracasso; arrepender-se segundo o evangelho é um brado de vitória a respeito do amor de Deus

O arrependimento religioso é motivo de tristeza pelo que não fizemos; arrepender-se segundo o evangelho é motivo de alegria pelo que já fez e fará por nós.

O arrependimento religioso esperança frustrada de acerta; arrepender-se segundo o evangelho é a esperança realizada que temos em Cristo Jesus.

O arrependimento religioso fala de mim mesmo e de meus esforços e ser bom; arrepender-se segundo o evangelho é proclamar as virtudes de Cristo.

O arrependimento religioso é desejo de independência; arrepender-se segundo o evangelho é declarar sua dependência da graça amorosa de Deus.

O profeta Isaías relatou algo maravilhoso e terrível ao mesmo tempo. A fala do Senhor ao seu povo naqueles dias foi a seguinte:

“Diz o soberano Senhor; o santo de Israel: “No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança o seu vigo, mas vocês não quiseram.”


Qual será sua resposta nessa noite? Eu desejo que você diga sim ao arrependimento, que decida experimentar as disciplinas que podem conduzi-lo à maturidade, à perfeita varonilidade de Cristo.

As faces escuras do arrependimento religioso


Arrependimento para Santificação - Parte 1 
1ª Igreja Batista em Nova Esperança - Santa Rita/PB - Acampamento de Carnaval 2016

Em nossos dois encontros, hoje pela manhã e à noite, vamos refletir juntos, e com a ajuda do Espírito Santo de Deus, sobre o arrependimento e suas implicações no processo de santificação dos discípulos de Jesus.

Eu espero que você permaneça atento e acompanhe comigo esse maravilhoso e importante ensino das Escrituras, para assim colher frutos preciosos em sua vida, na vida de sua família e na vida de sua igreja.

Bom, a abordagem mais comum sobre arrependimento é sobre o papal que ele tem naquilo que costumamos chamar genericamente de conversão (ou aceitar a Jesus, ou se entregar a Jesus). Essa abordagem será feita nas outras pregações, quando será tratada com detalhes. Portanto falarei sobre isso apenas o suficiente para introduzir o assunto. Em seguida falaremos sobre a relação entre arrependimento e santificação.

Arrependimento e Salvação

A verdade é que arrependimento está fora de moda. Ninguém mais deseja se arrepender. O que ouvimos o tempo todo é que devemos viver a vida de forma intensa, fazendo tudo que tivermos vontade, para depois não lamentarmos por não ter curtido tudo que a vida tem para oferecer. Arrependimento parece uma coisa triste e está definitivamente fora de moda.

Hoje, quanto alguma tristeza ronda nossas mentes, talvez por causa de algo que nossa consciência não está em paz, rapidamente muitas vozes se levantam (no Face, no Whatsapp ou ao vivo mesmo) para dizer que não devemos dar espaço para esses sentimentos negativos, e que arrependimento a gente só deve ter pelas coisas que não fez; o resto faz parte da vida. Será que esse ensino facebokiano está de acordo com as Escrituras?

Se olharmos para as Escrituras e para a história da Igreja, veremos que, na verdade, o arrependimento é uma disciplina espiritual tão importante que nenhum cristão tem o direito de desconhecer os seus elementos e as armadilhas cercam as mentiras e equívocas que cercam esse assunto.

Penso que nosso olhar sobre o arrependimento, atualmente, é, de certa forma, simplista. Não sabemos muito bem o que ele significa nem como ele pode acontecer. Sabemos que as pessoas devem se arrepender para serem salvas, mas nossa compreensão sobre arrependimento e nossa experimentação pessoal é quase sempre limitada.

Thomas Watson, um pregador e pastor inglês do século XVII, escrevendo sobre arrependimento, identificou ao menos seis diferentes fases desse processo. Segundo ele, para que um verdadeiro arrependimento aconteça, é necessário:

Percepção do pecado
Tristeza pelo pecado
Confissão de pecado
Vergonha pelo pecado
Ódio pelo pecado
Converter-se do pecado

D. L. Moody, um dos maiores evangelistas norte-americanos do século XIX, em uma de suas pregações, escreveu o que poderia ser chamado de 5Cs do arrependimento:

Convicção de pecado
Contrição pelo pecado
Confissão de pecado
Conversão do pecado
Confissão de Cristo

A verdade é que há muito a aprender sobre arrependimento a fim de não nos tornamos evangelistas rasos. O desconhecimento da natureza humana e da própria pecaminosidade muitas vezes nos torna incapazes de desafiar as pessoas a mudarem o rumo de suas vidas.

Quem não experimentou arrependimentos verdadeiros em sua própria vida dificilmente será capaz de desafia outras pessoas ao verdadeiro arrependimento.

Arrependimento e santificação

Pode ser algumas pessoas só consigam ver o arrependimento como algo que acontece àquele que não é cristão, para que a pessoa seja salva. Mas essa é uma visão limitada do que arrepender-se.

O profeta Isaías registrou uma afirmação que Deus fez sobre arrependimento que deve chamar nossa atenção para o fato de que arrependimento é parte da caminhada de todos aqueles que seguem o Senhor.

“No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigo, mas vocês não quiseram.” (Is 30;15)

Para quem o profeta Isaías escreveu esse recado do Senhor? Teria sido para nações incrédulas, um povo que não temia ao Senhor? Não! Isaías estava falando com o povo de Deus.

Lendo o começo desse capítulo, é possível constatar que a fala do Senhor era para os seus “filhos obstinados... que executam planos que não são os meus, fazem acordo sem minha aprovação, acumulando pecado sobre pecado.” Is. 30.1

Um outro profeta, chamado João Batista, começou o seu ministério com um apelo ao arrependimento:

“Arrependam-se, porque o Reino dos Céus está próximo.” Mt. 3.2

Com quem João Batista estava falando? Seria com os romanos? Não! Ele estava se dirigindo ao povo de Deus, que temia ao Senhor. Um povo que conhecia as profecias e aguardava a vinda do messias prometido.

D. L. Moody, falando sobre o arrependimento disse o seguinte:

“Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos Cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.”

A conclusão a que podemos chegar, então, é que arrependimento deve fazer parte da vida do povo de Deus como uma prática cotidiana, assim como o pecado é cotidiano. Ao mesmo tempo precisamos descobrir como o ato de arrepender-se pode ser importante para nossa caminhada com Cristo.

Faces escuras do arrependimento

Tim Keller, pastor e escritor norte-americano, escreveu um texto, traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto e publicado no site monergismo.com, que pode nos ajudar a descobrir o papel e a importância do arrependimento no progresso da vida cristã.

Ele nos relembra que o arrependimento não é uma exclusividade daqueles que seguem a Jesus. Entre aqueles que simplesmente praticam uma religião também ocorrem arrependimentos. A diferença está no propósito, no objetivo que se tem ao arrepender-se.

Keller explica que para os religiosos o arrependimento é basicamente um meio de “manter Deus feliz”, de forma que Ele continue te abençoando e respondendo suas orações. Já para os seguidores de Jesus, que abraçaram o seu evangelho e foram definitivamente salvos por ele, o arrependimento tem como propósito manter viva a alegria do nosso relacionamento com Ele.

Esse arrependimento religioso é uma tentação que sempre nos rodeia. Precisamos rejeitá-lo, porque esse tipo de arrependimento é egoísta, promotor de justiça própria e amargo (até o fim).

UMA NOTA: religioso é aquele que faz aquilo que é certo, mas pelas razões errada. Religioso é aquele que ser esforça para viver uma vida correta, porque pensa que assim vai acumular créditos com Deus, e ganhará o direito de pedir o que quiser para ele. Vejamos um desses religiosos em ação na história contada por Jesus no evangelho de Lucas 18.9-12.

9 ​E disse também a uns, que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam aos outros, esta parábola: 10 ​Dois homens subiram ao Templo para orar, um fariseu, e o outro cobrador de impostos. 11 ​O fariseu, estando de pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem [sou] como este cobrador de impostos. 12 ​Jejuo duas vezes por semana, [e] dou dízimo de tudo quanto possuo. [BL]

Com olhos atentos a esta história, vamos refletir sobre algumas faces escuras do arrependimento, quando ele é praticado por motivos religiosos, como no caso desse fariseu.

Egoísmo

Uma das faces escuras desse arrependimento religioso, é a preocupação do religioso consigo mesmo. Tomado pelo egoísmo, o religioso fica triste não pelo pecado em si, mas por causa do medo que tem de sofre alguma consequência, ser punido, perder alguma bênção ou coisas do gênero.

O arrependimento religioso é aquele que fala mais sobre si mesmo que sobre a graça de Deus; pensa mais em se dar bem que em agradecer a Deus, está mais preocupado na sua imagem diante de deus que na visão de um Deus maravilhoso que o amou.

Veja que o fariseu estava tão focalizado em si que em sua oração só consegui falar dele mesmo e de suas conquistas.

Justiça própria

Além do egoísmo, outra das faces escuras desse arrependimento religioso é a justiça própria. Tim Keller alerta que, muito facilmente, o arrependimento pode se tornar uma espécie de “expiação” pelo pecado.

É fácil ver isso na fala do fariseu. A oração dele é quase uma exposição de motivos pelo quais ele deve ser reconhecido por Deus e pelos outros como alguém digno, honesto e cumpridor de suas obrigações. Ele não precisa da graça de Deus. Ele mesmo já fez tudo.

Da mesma forma algumas pessoas se arrepende, mudam de comportamento e até se tornam cidadãos de bem, porque acham que é assim que Deus vai aceita-los. O arrependimento dessas pessoas é uma tentativa de zerar as contas com Deus. Esse não é o arrependimento de que fala o evangelho de Cristo.

Juntando o começo e o final desse texto, talvez fique ainda mais claro o abismo para onde que esse tipo de arrependimento pode nos levar:

“E disse também a uns que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam os outros... Eu lhes digo que este homem (publicano), e não o outro foi para casa justificado diante de Deus.” Lc. 18.9,14

Ao contrário dos religiosos que confiam em si mesmos e tentam convencer Deus de que são justos e bons, os seguidores de Jesus confiam no amor gracioso de Deus, provado pela morte de Cristo e sabem que não justos, mas forma justificados pelo sangue de Cristo.

Amargo até o fim

Esse arrependimento religioso, além de ser egoísta e buscar, na maioria das vezes, justiça própria, torna as pessoas inseguras e tensas, com um gosto amargo na boca. Como é isso?

Quem decidir viver uma vida perfeita para agradar a Deus e ser aceito por ele, logo vai perceber que isso não é nada fácil. Na verdade, é impossível. Mas o religioso, sobretudo o brasileiro, não desiste nunca. Então, a cada novo pecado que surge em sua vida ele se arrepende e no fundo de sua alma afirma para si mesmo que essa foi a última vez. Com o tempo, a ocorrência do pecado e a necessidade de arrependimento se torna um desconforto e, por fim, um peso insustentável de tristeza e amargura.

Para quem pratica o arrependimento religioso, isto é, para quem muda de comportamento apenas como objetivo de ser aceito por Deus, cada ocorrência de pecado e arrependimento se torna traumática, anormal e ameaçadora para sua saúde espiritual.

É muito difícil para uma pessoa que vive à base de arrependimentos religiosos admitir que pecou, pois a esperança do religioso é um dia ser declarado por Deus uma pessoa de coração bom, talvez alguém que suplantou o pecado. Mas o que dizem as Escrituras sobre isso? Vejamos na carta escrita pelo apóstolo do amor, João.

8 Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

1 MEUS FILHINHOS, estou lhes dizendo isto a fim de que vocês fiquem longe do pecado. Mas se vocês pecarem, existe alguém para rogar por vocês diante do Pai. O nome dele é Jesus Cristo, Aquele que é tudo quanto é bom e que agrada completamente a Deus. 2 Ele foi quem levou sobre si a ira de Deus contra os nossos pecados, e nos trouxe à comunhão com Deus; e Ele é o perdão para os nossos pecados, e não somente os nossos, mas os do mundo inteiro.

Se a nossa esperança é nossa capacidade de fazer as coisas certas e sermos, por fim, considerados justos, admitir nossas fraquezas e deslizes pode ser um sofrimento atroz, um verdadeiro amargor.

Mas no evangelho nossa esperança está na justiça de Cristo e em seu amor por nós. Por isso, para quem pratica o arrependimento conforme o evangelho, arrepender-se não é dolorido nem penoso. Claro que sempre há tristeza pelo pecado cometido, mas o entendimento de que já fomos alcançados pela graça de Deus nos faz ficar alegres, por causa do perdão concedido por ele.

Conclusão

O arrependimento está no centro da dinâmica da vida cristã. Quanto mais maduros estamos em nossa fé, tanto mais facilmente nos arrependemos de nossos pecados.

O cristão amadurecido é aquele que já não tem ilusões sobre si mesmo; que conhece a maldade de seu próprio coração e sabe que nada adiante negar ou justificar os seus pecados.

O seguidor de Jesus que está crescendo em direção à estatura de varão perfeito, à imagem de Cristo, é aquele de coração quebrantado, que ser arrepende fácil, que sem barreiras e com a frequência necessária reconhece seu pecado, se contrista por causa disso, confessa os pecados cometidos, se converte e, por fim confessa Cristo como a única esperança guarda em seu coração.

Que o Senhor mesmo nos ajude nessa jornada.

14 dezembro 2015

O papel do sofrimento na maturidade cristã


O papel do sofrimento na maturidade cristã
Comunidade Batista Mangabeira 4 - João Pessoa/PB 22/11/2015

É sempre um privilégio compartilhar a leitura e a reflexão das Escrituras, mas fazê-lo com os irmãos aqui na CBM é um privilégio duplo.

O pouco tempo que temos convivido aqui não é empecilho para testemunhar do amor que vocês têm por Jesus, irmãos, e do desejo pulsante de viver a vida de forma coerente com o chamado do evangelho de Jesus; essa vocação que alcança a todos nós que fomos alcançados pela graça salvadora de Cristo.

Minha gratidão ao Pr. Francisco por compartilhar, hoje comigo, a responsabilidade de ministrar a Palavra de Deus.

Irmãos, quero convidá-los a abrir suas Bíblias na carta escrita por Tiago, no primeiro capítulo. Depois da leitura vamos orar e refletir juntos sobre os versos de 1 a 8.

Tiago 1:1-8

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações.

2 Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, 3 pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. 4 E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.

5 Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. 6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. 7 Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; 8 é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações.

Durante o ministério de Jesus sua família (José, Maria e seus irmãos) viveu um certo afastamento dele, talvez constrangidos diante da comunidade. A questão é que Jesus não tinha exatamente um comportamento padrão. O filho mais velho do casal deixou a promissora profissão de carpinteiro e tornou-se um pregador itinerante (tido por muitos como mais um milagreiro), e por onde andava fazia perguntas incômodas provocando as pessoas sobre a forma como elas viviam a fé em Deus.

A maioria dos estudiosos concorda que o Tiago autor desta esta carta era um dos irmãos de Jesus, mas, como o resto da família, não acompanhou de perto o ministério do irmão. Ocorre que depois da ressurreição de Jesus, ele rendeu-se ao evangelho e tornou-se naturalmente um dos líderes da igreja em Jerusalém.

Há muito pouco sobre Tiago nas Escrituras, mas a tradição cristã afirma que ele tinha o apelido de “Joelho de Camelo”, por causa dos calos grossos que se formaram depois muitos anos de oração constante.

Nesta carta (45 e 50 d.C), ele, que era um homem de oração, procura orientar os judeus seguidores de Jesus que estavam espalhados pelo mundo sobre como aplicar as boas novas do evangelho à vida. É, portanto, uma carta aberta, sem um destinatário único. A igreja de Jesus tem preservado estes escritos como inspirados por Deus para orientação do seu povo.

2 Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, 3 pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. 4 E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.

Quando leio essa orientação de Tiago e comparo com as orações que se fazem em nossas igrejas hoje, sou levado a afirmar que estamos vivendo um outro evangelho.

·        Grande parte de nossas orações são o desejo de livrar as pessoas que amamos de sofrimentos e aflições. Pedimos a Deus que intervenha de forma sobrenatural e faça parar aquela situação ruim.

·        Outro aspecto em relação a isso é que em muitas igrejas a aflição de um irmão ou de uma família da igreja é motivo até de comentários sobre a fidelidade deles a Deus. Como os amigos de Jó, ficamos com uma pulga atrás da orelha: alguma coisa errada ele deve ter feito!

·        Na maior parte da cultura evangélica de nosso país não há nada de bom no sofrimento. Sofrer é sempre um mal sinal.

Essa teologia tão comum em nossos dias ensina que um dos motivos pelo quais vale a pena ser amigo de Deus é essa “apólice de seguro” contra a dor, o sofrimento e a aflição a que pretensamente temos direito pela fé.

Parece que Tiago pensava diferente. Ele nos ensina que as lutas e aflições devem ser consideradas “motivo de grande alegria”. Isso pode parecer estranho para uma cultura que evita todo tipo de dor ou desconforto. Ao contrário de muitos que veem as lutas e aflições da vida como sinais de pecado ou de punição da parte de Deus, Tiago as chama de “provação”.

Então meus irmãos, penso que precisamos rever o modo como temos lidado com as lutas e aflições da vida. Uma mudança importante é compreender que o sofrimento não é necessariamente um sinal de pecado na vida do crente, nem tampouco é uma punição de Deus. Em vez disso, as aflições da vida, segundo Tiago, têm um aspecto bastante positivo e devem ser consideradas “motivo de grande alegria”.

Bom, se pararmos aqui poderemos ser acusados por alguns de masoquistas, isto é, pessoas que sentem prazer no sofrimento pelo sofrimento. Então, precisamos seguir o raciocínio de Tiago para que fiquem bem claras as razões pelas quais as aflições da vida devem ser recebidas como se fossem presentes dados por Deus.

Uma das ideias que estão presentes na cada de Tiago é que a fé não é mero assentimento intelectual. Fé não é apenas concordar com algo. Fé é uma rendição e precisa ser experimentada em situações reais.

Neste primeiro capítulo ele esclarece que as aflições são exatamente as oportunidades que temos para colocar nossa fé na estrada da vida, afim de que seja exercitada e se fortaleça. Tiago afirma que se seguirmos esse caminho a perseverança será um fruto saboroso em nossas vidas.

Perseverança. Muitos de nós desejamos ser perseverantes, achamos bonito aqueles que não desistem; mas poucos se dispõem a trilhar o caminho que leva à perseverança.

Os pregadores da prosperidade e da confissão positiva desafiam as pessoas a não aceitar o sofrimento. Ao rejeitar a dor eles desprezam a ideia de perseverança em meio às lutas da vida. Ao invés disso, o evangelho de Jesus nas palavras de Tiago ressalta a perseverança e nos convoca a encarar o sofrimento e a aflições com fé.

Alguns se sentem desafiados pela pregação da prosperidade e decidem dizer um não ao sofrimento. Mas o desafio que realmente se parece com a fé dos apóstolos é o de dizer sim às aflições da vida, confiando que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

Uma pergunta é necessária para nos apropriarmos de mais uma parte do ensino de Tiago sobre o papel das aflições na vida dos cristãos: Já aprendemos que enfrentar os problemas com fé nos tornar perseverantes. Esse é um aprendizado desafiador. Mas qual a vantagem de nos tornarmos perseverantes?

A resposta que recebemos de Tiago é que nos momentos em que nossa fé é exercitada nas aflições pelas quais passamos, e aprendemos a perseverar, nós nos tornamos pessoas mais plenas em nossa humanidade: nas palavras dele nos tornamos crentes “maduros e íntegros”.

Veja o que está acontecendo em nossos dias, irmãos, essa teologia que ensinas às pessoas que as aflições devem ser rejeitadas, e o sofrimento deve ser banido da vida dos cristãos, acaba negando a esses mesmos cristãos a oportunidade de exercitar a fé, amadurecer e se tornar tudo aquilo que Deus espera de seus filhos. O resultado são igrejas cheias de meninos na fé, inconstantes e inseguros, levados por todo vento de doutrina

O sofrimento e a dor não são agradáveis. Não há prazer em sofrer. Mas eles podem ser caminhos para aprendermos a confiar em Deus, se os recebermos como instrumentos da pedagogia divina.

Talvez você tenha passado tanto tempo fugindo das aflições que nem saiba direito como é essa coisa de se alegrar com elas. Talvez você nunca tenha aprendido a olhar para a dor e o sofrimento como parte da pedagogia de Deus para nos ensinar sobre confiança. “Como eu faço? ”, você pode perguntar. O desafio de aprender em meio às aflições é grande, mas você não está só.

Muitos irmãos, no passado e em nossos dias, têm trilhado esse árduo e proveitoso caminho. Há muitos livros escritos sobre isso e muitos testemunhos do poder sustentador de Deus. Você pode depois falar com o Pr. Francisco e pedir sugestões de leituras edificantes para enfrentar os dias de aflição e sofrimento. Olhe para a vida e a experiência desses irmãos como modelos que podem nortear sua própria caminhada.

No entanto, meus irmãos, apropriando-me mesma expressão usada pelo Pr. Francisco em um dos seus últimos textos: não podemos terceirizar a nossa fé. É importante e necessário olharmos a caminhadas dos irmãos que trilharam o caminho do amadurecimento como modelos, mas isso não substitui nossa própria caminhada.

Há muitos irmãos que tentam se alimentar espiritualmente apenas admirando a vida dos outros. Vivem em busca de um testemunho poderoso, são caçadores de conferências e encontros, procuram demonstrações de poder na vida dos outros, desejam uma palavra forte de algum pregador que transforme definitivamente suas vidas. Essas pessoas estão correndo atrás do vento.

Entenda isso, meu irmão, o seu crescimento espiritual não pode ser colocado na conta de outra pessoa. Cada um de nós precisa assumir a responsabilidade sobre nossa caminhada com Cristo.

(Existe uma obra muito conhecida, mas pouco lida, escrita no século XVII por John Bunyan, que fala sobre essa caminhada e suas aflições. O Peregrino é a história intrigante de Cristão rumo à Cidade Celestial. Através de muitas alegorias e simbolismos, é possível acompanhar as agruras que fazem parte da vida de todos que seguem a Jesus.)

Essa busca por sabedoria e essa convicção da responsabilidade que cada um tem a respeito de sua caminhada com Deus nos levar aos versos seguintes do nosso texto.

5 Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. 6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. 7 Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; 8 é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.

O que fala Tiago sobre a responsabilidade que temos com nosso próprio amadurecimento na fé? Ele diz que não é demérito para ninguém se sentir inseguro sobre como enfrentar as aflições da vida. Ele afirma que se faltar sabedoria, não desista! Mesmo sentindo despreparado e inseguro, não desista! O jogo não está perdido!

Por meio de Jesus Cristo, você tem acesso àquele que é a fonte inesgotável de sabedoria e poder. Tiago fala isso de forma singela e confiada: “peça a Deus!”.

Vejam só, irmãos, é assim que as Escrituras fazem. O texto sagrado nos empurra o tempo todo para os braços do Pai, para desenvolvermos com Ele um relacionamento de amor e confiança. Então, o que fazer quando as aflições da vida nos consomem e nos sentimos incapazes de lidar com elas? Corra para os braços do Pai e peça a Ele que o ensine!

Quando não houver respostas fáceis, não desista! Peça À Deus a sabedoria para viver, Tiago afirma que Deus não raciona sabedoria, ao contrário, ele dá livremente, de boa vontade a quem pedir.

A teologia da prosperidade e a confissão positiva afirmam que devemos exigir de Deus a suspensão imediata dos sofrimentos; eles nos encorajam a extorquir Deus mediante ameaças (como se isso fosse possível). Mas as boas novas do evangelho de Jesus pelas palavras de Tiago nos afirmam que não precisamos (nem podemos) colocar Deus contra a parede. O Senhor está pronto para dar livremente e de boa vontade aquilo de que realmente precisamos: sabedoria para viver a vida e enfrentar suas aflições e sofrimentos.

A Aproximação
6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar,

Para concluir nossa reflexão sobre o papel das aflições no amadurecimento de nossa fé, devemos pensar não apenas sobre a necessidade de nos aproximarmos de Deus para receber dele sabedoria afim de viver a vida. É importante também olhar para a forma dessa aproximação.

Algumas vezes nos aproximamos de Deus um pouco desconfiados. Temos dúvidas sobre o caráter dele. Por exemplo, tem gente que não ora de jeito algum dizendo: “Senhor, faça sua vontade em minha vida!”. E se a vontade dele foi me enviar como missionário na Síria? E se ele não quiser que eu case? E se não for vontade dele que eu passe no concurso?

Quando pensamos assim é por que ainda temos dúvidas sobre o caráter de Deus, isto é, será que Ele realmente fará o que é melhor para minha vida? Essa aproximação temerosa precisa dar lugar uma atitude de confiança.

Mas como confiar? Só tem um jeito de confiar. Confiando. Confiar é correr o risco. Como os grandes expoentes da fé aprenderam a confiar? Experimentando se aquilo que Deus prometia era verdade. Eles atravessaram o lamaçal pisando sobre as pedras que o Senhor disse para pisar.

É essa a forma de aproximação que Tiago afirma que devemos ter ao pedirmos a Deus sabedoria para enfrentar as aflições da vida.

6 Peça-a, porém, com fé, sem duvidar,

A nossa fé pode e deve encontrar fundamento na experiência dos homens e mulheres cujas histórias foram registradas nas Escrituras, e isso é muito bom. Também podemos trazer à memória os testemunhos de homens e mulheres de Deus de nosso próprio tempo como um encorajamento para nos aproximarmos dele com confiança.

Mas é no amor demonstrado na cruz que deve estar o fundamento da nossa confiança no caráter de Deus.

31 Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas? (Rm 8.32)

8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. (Rm 5.8)

16 Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade. (Hb 4.16)

Conclusão

Tiago escreveu esta carta com o propósito de orientar os irmãos a viverem a fé que diziam ter em Jesus de maneira prática. Isso inclui como lidar com as aflições da vida, que alcançam a todos nós. O que fazer?

Os pregadores da prosperidade e da confissão positiva ensinam que não devemos aceitar o sofrimento e as aflições da vida. Dizem eles que devemos enxotar a qualquer coisa que se pareça com sofrimento para longe de nossas vidas, porque não fomos criados para sofrer e tempo de Deus um seguro contra o sofrimento, que é sempre obra do Inimigo em nossas vidas.

Mas o evangelho fala bem ao contrário disso, dizendo que as aflições fazem parte da vida humana. Afirma também que devemos nos alegrar, mesmo em momentos de aflição, porque eles são o caminho para desenvolvermos nossa confiança no Senhor e nos tornarmos perseverantes na fé em Jesus.

E não há problema se nos sentirmos inseguros, sem saber como enfrentar as aflições da vida com confiança. Temos livre acesso a Deus por meio de Jesus e podemos pedir que Ele nos socorra com a sabedoria de que precisamos.

Precisamos apenas nos lembra de que Deus é, do seu grande amor por nós demonstrado na cruz entregando o próprio filho em nosso lugar, para que a nossa confiança nele se renove e nos aproximemos do trono da graça como filhos amado.


Que o Senhor complete em nossas vidas a boa obra que um dia começou em nós!

27 novembro 2015

Em paz com Deus



Em paz com Deus
Comunidade Batista Mangabeira 4 - Vigília de Oração

Esta semana fui provocado pela postagem de um amigo no Facebook. Diante da onda de violência e medo na Europa, com ameaças de bomba e atentados terroristas, ele fez um desafio aos cristãos pacifistas:

“Hoje a escolinha do meu filho André, que funciona num prédio adjacente a um hospital, foi evacuada por uma ameaça de bomba. Fiquem caladinho aí, crentes pacifistas, quando a ameaça de bomba for na escola dos seus filhos, você estará qualificado a palpitar sobre a política dos outros países. ”

Segundo o meu amigo, os crentes que falam contra a violência ou falam a favor da paz, só fazem isso porque ainda não forma diretamente atingidos pelo medo e o horror.

Minha TL está lotada: palavras de baixo calão, acusações sem prova, incentivo à violência, apoio a justiceiros, vídeos de linchamento, afrontas pessoais a políticos e autoridade, frases sectárias e racistas... a maioria delas postadas por crentes. É esse o caminho proposto para Jesus por seus seguidores?

Pacificadores X Pacifistas

Meu amigo falou dos pacifistas, que são os seguidores do pacifismo (uma corrente filosófica que se opõe à guerra). Já Jesus falou sobre os pacificadores. 

Veja o que ele afirmou:

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. ” Mt 5.9

Algumas traduções utilizam “Feliz” no lugar de Bem-aventurado, e outras usam “abençoado”. No final das contas, parece que Jesus está falando algo muito positivo sobre os pacificadores – ou pacíficos. O adjetivo grego pode ser entendido das duas formas.

Diante das duas formas, acho que Jesus está apresentando duas características diferentes sobre os pacificadores: (1) eles promovem a paz e (2) vivem em paz.

Promover a paz tem relação com nossa intervenção no mundo ao nosso redor. Não é difícil concordar que as pessoas andam por aí à beira de um colapso, envolvidas em guerras e conflitos umas com as outras. Promover a paz tem a ver sobre como nós lidamos com isso.

Somos como uma alavanca que se enfia no meio da engrenagem desgastada dos relacionamentos e acaba com a última esperança de paz, ou somos com graxa macia que lubrifica e reduz o atrito entre as pessoas?

Viver em paz tem relação com nossas próprias guerras e desacertos. Que tipo de pessoas somos quando nossos direitos são negados, nosso orgulho é ferido, nossos bens são danificados e nossas famílias são ameaçadas?

Se prestarmos atenção, veremos que a fala de Jesus sobre os pacificadores é surpreendente e inquietante. Ele sugere algo inusitado: que a felicidade experimentada por quem promove a paz ou simplesmente vive em paz não é a ausência de guerras, mas o fato de que eles serão reconhecidos pelas outras pessoas como filhos de Deus, pessoas cujo relacionamento com Deus está pacificado.

Esse entendimento é desafiador porque algumas pessoas podem pensar que o prêmio dos pacificadores é a paz. Jesus, no entanto, parece afirmar que os pacificadores já têm a paz instalada dentro deles, como resultado de haverem feito as pazes com Deus.

A filosofia pacifista, de certa forma, busca a paz como um prêmio a ser alcançado; já os pacificadores segundo Jesus foram alcançados pela paz mediante sua reconciliação com Deus. Por isso distribuem paz por onde passam.

Paz com Deus

Ao chamar de felizes e abençoados aqueles que promovem a paz e vivem em paz, porque serão reconhecidos como filhos de Deus, Jesus estava afirmando que o estilo de vida dos pacificadores é uma decorrência direta de fazerem parte da família de Deus.

Segundo Jesus, as pessoas olharão para nosso modo de vida e reconhecerão pelos nossos procedimentos que estamos em paz com Deus. Será que está acontecendo assim?

Bom, talvez, ao olhar para os problemas do seu dia-a-dia, na fila do banco, no trânsito da cidade, na reunião de família, nos encontros com os irmãos da igreja, você comece a questionar sobre essa paz com Deus. Será que realmente aconteceu comigo?

Vamos ver a explicação do Apóstolo Paulo sobre essa “paz com Deus”, que é o motor da vida dos pacificadores:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a essa graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. ”

As palavras de Paulo são reveladoras. Ao falar que a paz com Deus chega por meio de Jesus, ele aponta para o estado do nosso relacionamento com Deus antes de Jesus: belicosidade. Antes de Jesus estávamos armados até os dentes contra Deus e sua palavra.

A guerra que muitas pessoas travam dentro de si é sobre a real existência de Deus e sobre seu caráter.

As pessoas descreem na ideia de um Criador; rejeitam a noção de um criador soberano; e desconfiam de um criador soberano e amoroso, que sabe o que é melhor pra nossa existência e deseja nos presentear com esse melhor.

Paulo aponta para o caminho da confiança em Deus para que essa guerra termine. É mediante a fé que somos justificados; é pela fé que temos acesso à graça de Deus. Isso significa que a saída é nos rendermos. O ser humano é chamado a confiar no amor de Deus demonstrado por Jesus Cristo.

Ao nos aproximarmos de Deus crendo no amor dele por nós (diante do que fez Jesus na cruz), somos imediatamente perdoados. Por causa de nossa confiança em Jesus abraçando o significado da cruz recebemos um presente: Deus nos declara justos. Isso significa que o nosso relacionamento com Ele é restaurado e se torna aquilo que deveria ser.

Antes de Jesus a marca era de rebeldia e desconfiança, o que nos tornou inimigos de Deus; agora é de submissão e confiança, o que nos fez parte de sua família. Não é à toa que, escrevendo aos irmãos da cidade de Éfeso, o apóstolo afirma sobre Cristo: “Ele é a nossa paz”.

Concluindo

Meu amigo, que é também um seguido de Jesus, chamou os crentes de pacifistas. Talvez alguns de nós realmente sejamos apenas isso: pessoas que são contra a guerra e as desavenças, que buscam a paz como um prêmio a ser alcançado.

Mas o chamado que temos de Jesus através do evangelho vai além do pacifismo. É para assumirmos nossa condição de pacificadores, pessoas que foram alcançadas pela paz no dia em que se renderam a Deus; pessoas que distribuem paz por onde passam, porque tiveram suas almas pacificadas pelo grande amor de Deus e agora fazem parte da grande família de Deus.

Não desanime se você se percebe um gladiador da fé. Também não fique triste se suas atitudes se parece com a dos pacifistas, sempre em busca da paz em algum lugar. Quem um dia entregou os pontos e desistiu de brigar com Deus, confiando na obra de Cristo na cruz, tem dentro de si os recursos para ser um pacificador. Seu relacionamento com Deus já foi pacificado e colocado na perspectiva certa, agora você precisa apropriar-se dessa verdade: não há nada temer!

É o próprio Jesus quem diz:


“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. ” Mt 5.9