07 maio 2006

Mulheres da Bíblia - Hagar

Quem era Hagar?

Hagar é uma personagem da Bíblia, ma não é muito conhecida do grande público. Na verdade, se a Bíblia fosse uma novela, ela faria parte daquele grupo de personagens coadjuvantes que passa toda a história na sombra dos personagens principais. Esses personagens de segunda linha nunca têm a sua história muito bem contada, ficam sempre em segundo plano. Mas, com certeza, sem eles não haveria história. 



De vez em quando, um desses personagens se destaca no desenrolar da trama e aí o público começa a conhecê-lo melhor. Será assim desta vez: Hagar, que sempre apareceu em letras pequenas no final da lista de créditos, será a personagem principal e veremos seu nome em letras que podem ser lidas.

Hagar era uma jovem natural do Egito que aparece pela primeira vez na bíblia no capítulo 16 do livro de Gênesis. Ela era apenas uma das muitas escravas de Abraão - um homem muito rico - e de sua esposa, Sara. 



Abraão e Sara, os personagens principais, eram nômades. Eles não tinham residência fixa. Iam de lugar em lugar procurando pasto para os seus rebanhos e água pra beber.  Fazia 10 anos que eles haviam saído da cidade deles, Ur dos Caldeus, e estavam morando em uma região chamada Canaã quando Hagar entrou em cena no capítulo 16 de Gêneses.
A escrava egipcia trabalhava para patrões naturais da Caldéia e morava na região de Canaã; uma verdadeira sopa cultural. Então, no começo dessa história, ela estava há pelo menos 10 anos longe de casa, da família e de sua terra natal.

Fico imaginando quantas vezes na vida nós nos encontramos exatamente como Hagar: longe da família, dos amigos de infância e da cidade em que nascemos. Um outro sotaque, outros costumes... Nem sempre é fácil lidar com isso! No caso de Hagar havia uma distância física, mas às vezes a distância é emocional; moramos na mesma cidade, visitamos a família no final de semana, mas nos sentimos como quem vive longe de casa - uma situação tão difícil quanto a dela.

Hagar era uma escrava. Ela servia pessoalmente a Sara, uma mulher muito rica. Para chegar a essa posição de destaque entre os empregado certamente ela precisou conquistar a confiança de sua patroa. Hagar deve ter demonstrado competência no desempenho de suas funções, além de um temperamento cordato e submisso.

É preciso esclarecer que a escravidão era uma prática comum na antiguidade. Embora privar outro ser humano de sua liberdade tenha sido sempre algo inaceitável, a condição dos escravos no antigo oriente jamais pode ser comparada com a crueldade a que foram submetidos negros e índios nas Américas. São situações diferentes.

Sabe-se, por exemplo, que em várias circunstâncias, no antigo oriente, os escravos eram tratados como membros da família; Além disso, era perfeitamente possível a um escravo comprar sua liberdade e tinham também o direito de possuir propriedades (inclusive outros escravos) e realizar negócios.

A Promessa

Como todo personagem coadjuvante, quando Hagar entrou em cena a história já havia começado. Então é bom que primeiro se dê uma olhada nesse começo para entender melhor o que veio depois.

Abraão saiu da cidade de Ur, na Caldéia, porque ele atendeu a um chamado de Deus. Abraão creu na promessa feita pelo Senhor de que a descendência dele se tornaria uma grande nação. Deus afirmou que alguns dos descentes de Abraão seriam reis. Além disso, Deus disse que os filhos, netos e bisnetos dele teriam uma terra onde habitariam para sempre.

Alguns detalhes que cercam essa história são bem incomuns e dignos de nota:



Primeiro, é curioso que ao prometer uma terra para os descendentes de Abraão, Deus não disse onde essa terra ficava. Simplesmente disse para ele sair de Ur com sua família. Uma promessa de terra que primeiro fez de Abraão um sem terra;


Em segundo lugar, é surpreendente que até àquela altura da história Abrão e Sara não tinham filhos que pudessem levantar uma descendência para eles. Uma promessa de filhos para um ninho vazio;


Por fim, é digno de nota que Abraão era um ancião de 75 anos quando atendeu ao chamado de Deus - Sara, sua esposa, tinha 65 anos. Portanto, uma promessa de filhos para idosos sem filhos.


Mas os detalham não param por aí. Conta o texto bíblico que dez anos se passaram e nada acontecia. Nenhum filho para começar a descendência prometida. Então Deus chamou Abraão e disse: Abraão, eu lhe darei muito mais bens do que você já tem. Abrão respondeu: Para quê, Senhor, se eu não tenho herdeiros? Se tudo o que tenho será herdado pelo meu servo, Eliezer?

Então, quando Abraão tinha 85 anos e já estava quase sem esperança de que a promessa se cumpriria, Deus reafirmou o que havia dito antes e reanimou Abraão dizendo que ele teria não só um herdeiro mais seria o pai de uma grande nação.



O Arranjo

A essa altura, Sara tinha 75 anos. Há algum tempo ela já havia entrado na menopausa e Abraão não estava exatamente em pleno vigor sexual. Então, ela resolve dar um “jeitinho” para que a promessa do Senhor se cumprisse. Segundo o costume da época, Ela autorizou e incentivou Abraão a dormir com uma escrava para que o filho gerado por essa relação pudesse ser o herdeiro legítimo do casal, e assim iniciar a descendência prometida por Deus.

Isso se parece muito com o "jeitinho brasileiro", conhecido por todo mundo. O sujeito se aposenta sem ter direito, faz um retorno na rua que não pode, ganha salário sem trabalhar, vende ambulância pelo dobro do preço, recebe doação de bandido, se livra de uma multa de trânsito e compra um DVD da Cassiane por R$ 5,00. O importante é dar um jeito de se dar bem. E No final tudo vira bênção de Deus. Se ele está por nós, quem será contra nós?


A barriga de aluguel escolhida por Sara foi Hagar. Mulher, escrava, estrangeira... Não cabia a ela decidir nem sobre seu próprio corpo. Mesmo que não quisesse, seria obrigada a dormir com o patrão para gerar um filho que não seria seu.

Ser privado da própria liberdade é terrível. Muitas pessoas se sentem exatamente como Hagar se sentiu: obrigados a fazer algo que não querem. Sequer sua opinião é pedida, apenas a ordem é dada. Como Hagar, muitas vezes cumprimos um papel que não gostaríamos de fazer. Como é difícil lidar com essas situações!

Veja que para o arranjo arquitetado por Sara desse certo, era preciso, de acordo com os costumes da época, que Hagar fosse promovida. E foi isso que aconteceu. A própria Sara promoveu sua escrava à posição de segunda mulher de Abrão.

Para entender um pouco melhor essa situação é preciso lembrar que uma das principais funções das mulheres na sociedade patriarcal era gerar filhos. Assim, uma mulher que não pudesse gerá-los sentia-se uma pessoa de segunda categoria e era quase rejeitada social e religiosamente. Uma vez que os filhos eram reconhecidos como bênçãos de Deus, quem não os tinha é porque não tinha a benção de Deus.

Outra informação que pode ajudar é saber que os filhos eram muito importantes em uma sociedade que dependia do trabalho braçal para comer e proteger-se. Assim, era comum que homens ricos tivessem mais de uma esposa para ter muitos filhos e assim aumentar a força de trabalho da família.

Assim, sendo bem sucedido o plano de Sara, o filho que seria gerado no ventre de Hagar seria contado como de fosse dela, Sara. Aí a família que Deus prometera para Abraão poderia começar. 
Você já se flagrou assim: ajeitando as coisas para Deus não ficar descoberto? 

A Disputa

Imagine o quadro:

Abrão agora tem duas mulheres: Sara e Hagar.

· Sara era conhecida em toda parte por sua beleza e lealdade ao marido, mas era estéril;
· Hagar talvez nem fosse tão bela e era uma escrava, mas era bem mais jovem;
· Sara carregava consigo o preconceito do útero vazio;
· Hagar carregava consigo sua condição de estrangeira e escrava;
· Ambas eram mulheres em um mundo de homens;
· Ambas, agora, tinham o mesmo marido.

Acontece o esperado. Hagar fica grávida. Imagino que nenhuma das duas sabia exatamente o que estava sentido quando recebeu a notícia.

Sara deveria ficar alegre. Afinal, o plano dela havia funcionado. Ela tinha ajudado o Senhor a cumprir sua promessa. Se fosse hoje, talvez Sara dissesse: É de Deus!!

Hagar passava por uma tempestade de sentimentos: alegria por saber que não estéril como sua patroa; expectativa sobre sua nova posição de esposa; apreensão pela consciência de que o filho que estava em suas entranhas não seria seu.

Quantas vezes você já se sentiu como Hagar: confusa sobre seus sentimentos? Não se pode dizer a qualquer sentimento para não aparecer. Não dá para escolher o se vai sentir. Mas é possível escolher como lidar com os sentimentos que aparecem.

As reações foram inesperadas. A escrava Hagar, que deveria cumprir seu papel com gratidão e discrição, começa a desprezar sua patroa. Em bom português, Hagar resolveu tirar uma “casquinha” de Sara. A esposa rica e bonita não podia ter filhos, mas a escrava estrangeira agora estava grávida do patrão. Gracejos... Piadinhas entre os empregados... Um carinho na barriga na frente da patroa... Reclamações de enjôo e indisposição... Hagar estava dando o troco.

E você? Já deu o troco para a Sara da sua vida? Quando a se foi explorado, usado ou maltratado por alguém, parece que justifica dá o troco, né? Veja só:

Sara era rica e bonita. Cheia de servos, não precisava fazer nada e ainda tinha um marido que a amava profundamente. Já a coitadinha da Hagar era pobre, não tinha tempo para se cuidar e estava longe da família. Parece com aquelas cenas de novela: É isso aí, Hagar! Mostra para Sara quem é a poderosa!

Mas Hagar não mediu bem seu poder de fogo. Sara era a esposa amada de Abraão, companheira de longos anos e apoiadora fiel. Sentindo-se desprezada pela escrava recém promovida a esposa, Sara vai direto para Abrão e diz:

“Você é que deveria passar a vergonha que eu estou passando! Entreguei a minha criada a você... Dei a ela a honra de ser sua mulher... E veja agora o que aconteceu: Ela me despreza! O Senhor julgue este caso entre nós."

Sara jogou todo o peso de sua posição. O resultado foi líquido e certo. Abraão entregou Hagar nas mãos de Sara para que ela fizesse o que achasse melhor.

Segundo os costumes da época, Hagar não poderia mais ser mandada embora. Sara, então, inicia uma batalha pessoal contra a ex-escrava. Ela torna a vida de Hagar bem difícil: tira os privilégios de esposa e lhe devolve a condição de escrava... Coloca Hagar para fazer trabalhos mais pesados... Conta entre os empregado piadinhas sobre os egípcios... Enfim, ela inferniza a vida da escrava até que, sem suportar as humilhações, ela foge para o deserto.

Com certeza você já passou por situações em que se sentiu humilhado. O preconceito em nosso país é como fogo de palha: a gente só vê a fumaça. Humilhado por que é negro... Humilhada porque tem o cabelo ruim... Humilhado porque tem o nariz grande... Humilhada pelos quilos a mais... Humilhado porque falta um dente... Humilhado porque nasceu no interior... Humilhado porque a família é pobre... Humilhado porque gosta de música brega... Humilhado porque é nordestino... Humilhada porque é mulher... Humilhada porque não tem filhos... Humilhada porque ainda não casou... Como você reage a tudo isso?

Hagar. Mulher, escrava, estrangeira, grávida e rejeitada. Emocionalmente, ela estava no fundo do poço. Como muitas mulheres, ela correu para a casa da mãe. O deserto apenas estava no caminho. Foi nessa situação, fugindo de tudo e de todos, que Hagar encontrou o Senhor.

O Primeiro encontro

No meio do deserto, provavelmente chorando e lamentando por sua vida desgraçada, pelo sofrimento e pelo abandono em que se sentia, a escrava egípcia ouve uma das palavras mais agradáveis de se ouvir: seu próprio nome. Hagar.

Meus irmãos, minhas irmãs, Deus nos conhece pelo nome. Ele sabe quem somos. Ele nos vê quando a sensação de inadequação toma conta de nós, e Ele nos chama pelo nome. Ouça a voz do Senhor!

Mesmo quando a dor da humilhação é imensa ao ponto de eu mesmo me rejeitar... Quando fugimos em busca de um lugar seguro porque nada nem ninguém parece nos acolher... O Senhor nos chama pelo nome. Ele sabe quem você é.

Em seguida, Hagar é confrontada com sua real situação: serva de Sara. Hagar não deveria fugir dessa realidade, mas aprender a enfrentá-la. Por mais dolorido que fosse, era a verdade. Ela era uma das servas de Sara.

A fuga sempre é um recurso disponível. Se eu não gostei da pessoa, eu fujo; se sou impaciente, eu fujo; se eu me senti rejeitado, eu fujo; se o trabalho é difícil, eu fujo; se o chefe é duro, eu fujo; se é difícil cuidar dos meninos, eu fujo; se a ira me consome, eu fujo; se a esposa é fria, eu fujo; se o marido é grosso, eu fujo; Nem sempre é ir pra longe, às vezes é apenas fugir para dentro de si mesmo.

Depois disso, Hagar é levada a refletir sobre sua própria vida: De onde vens e para onde vais, Agar? Essa é uma pergunta Chave. Quais os propósitos da sua vida? Quais seus objetivos? O que lhe motiva a viver, Hagar?

Hagar, que estava consumida em sua própria dor, em seu abandono. É chamada a pensar sobre a trajetória da sua vida. Nem sempre é fácil fazer isso. Às vezes, o passado nos consome; outras vezes o futuro nos amedronta.

Talvez ainda soluçando, Hagar tem a coragem de pintar seu auto-retrato: sou Hagar, escrava, egípcia, e fujo da presença de Sara, minha senhora.

Não feche os olhos quando o Senhor colocar o espelho diante de você. Ele quer que você enxergue sua real situação e assim como Hagar reconheça a trajetória da sua vida e onde você está.

Quão difícil dever ter sido para ela admitir tudo isso! Mas foi o ponto de partida. Se ela não tivesse tido a coragem para se olhar no espelho, nada mais teria acontecido.

Depois disso, Hagar recebe uma orientação no mínimo estranha: Volte para a sua senhora, submeta a ela.

Talvez fosse razoável que o Senhor lhe dissesse: Hagar, realmente foi um absurdo o que Abraão, e principalmente Sara, fez com você. É uma injustiça e eles vão pagar caro por isso. Aí Hagar, voltaria como uma justiceira de si mesma trazendo castigo pra todo mundo.

Diante da cara de espanto que Hagar fez ao ouvir as orientações, o Senhor explicou os detalhes. Ele não vê apenas os patrões ricos de Hagar. Realmente não era através do filho de Hagar que Deus cumpriria a promessa feita a Abraão, mas o menino no ventre de Hagar não seria esquecido. Havia um plano para ele.

De repente, aquilo que Hagar estava vivendo, a sua dor, a humilhação pela qual havia passado, tudo seria usada para construir o futuro. Deus tinha um plano. Agar e seu filho faziam parte deste plano.

O menino deveria se chamar Ismael. Ele também seria pai de uma grande nação. De sua descendência surgiriam doze príncipes. Um povo comparado a jumento selvagem, indomável de relacionamento pouco amigável com estranhos. Além disso, a grande nação descendente de Ismael estaria sempre perto do restante da família de seu pai.

Deus constrói o futuro que ele deseja a partir de você. Isso quer dizer que a sua vida faz parte daquilo que o Senhor está realizando. Por isso, antes do desespero ouça o que diz o apóstolo Paulo sobre a questão:




“... todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Romanos 8:28

Hagar obedece. Grande dádiva é obedecer. Obedecer é a prova da confiança. A fé se mede pela obediência. Para Hagar obedecer significava voltar para a casa dos patrões, reconhecer seu erro ao fugir, admitir sua posição de escrava, e suportar os possíveis maus-humores de Sara.

Quando Deus lhe encontrou no deserto, chorando e lamentando, o que Ele lhe disse que fizesse? Pra onde você tem que voltar? Com quem você precisa falar? A quem você precisa pedir perdão? O que você precisa reconhecer sobre si mesmo?

Minha oração hoje é que haja espaço em seu coração para a obediência. Obedecer é uma grande dádiva! Agar obedeceu e Deus cumpriu aquilo que havia prometido. Você também pode obedecer e ter certeza de que o Senhor irá cumprir a vontade Dele em sua vida.

26 abril 2006

George Whitefield (1714 - 1770)

Adaptado de uma biografia por Dr. Rimas J. Orentas

George Whitefield viveu de 1714 a 1770. Na sua vida adulta, era tão conhecido quanto qualquer outra figura pública nos países de língua inglesa. Com apenas 22 anos, era um dos mais destacados proponentes do movimento religioso que sacudiu aqueles países, que seria conhecido como o Grande Despertamento. Talvez se possa dizer que só a Reforma Protestante e a Era Apostólica tenham ultrapassado o fervor espiritual que Deus derramou neste período.

George Whitefield pregou na Inglaterra, na Escócia, no País de Gales, em Gibraltar, em Bermudas, e nas colônias norte-americanas. Sua vida serviu de inspiração e tocha para vários outros pregadores contemporâneos e posteriores. Eram homens de fervor que procuravam entregar suas vidas 100% a Cristo Jesus.

George era o sétimo e último filho de Thomas e Elizabeth Whitefield. O pai era proprietário da Bell Inn, um hotel em Gloucester, na Inglaterra. Era o maior e mais fino estabelecimento da cidade e tinha dois auditórios, um dos quais era usado para exibição de peças teatrais.

Quando tinha apenas dois anos de idade, o pai de George faleceu. Depois de alguns anos, sua mãe casou-se novamente, porém foi uma união malograda que terminou em divórcio e fracasso financeiro.

Desde pequeno, George se destacou como talentoso orador e ator nas peças teatrais da escola. Sua mãe, vendo seu potencial, fez questão que ele estudasse, embora outros de seus irmãos tivessem que trabalhar para sustentar a família.

Da mãe, George herdou a forte ambição de ser "alguém no mundo". De alguma forma, ela sempre esperava mais dele do que de seus outros filhos. Outra influência forte na juventude era sua paixão pelo teatro. Como garoto, lia incessantemente peças teatrais e faltava da escola para ensaiar suas apresentações. Esta necessidade e dom de se expressar dramaticamente continuariam durante todo o resto da sua vida.

Aos quinze anos de idade, George foi obrigado a deixar seus estudos para trabalhar pelo sustento da família. Durante o dia trabalhava e à noite lia a Bíblia. Seu sonho era de estudar em Oxford. Porém, não havia condições financeiras para isto. Finalmente, sua mãe descobriu uma saída. Ele poderia ir como "servidor", que era uma espécie de empregado para três ou quatro estudantes de classe alta. Assim, aos 17 anos, com muita expectativa, ingressou na Universidade.


A Busca Intensa Por Deus

Suas responsabilidades como servidor incluíam lavar as roupas, engraxar os sapatos e fazer as tarefas dos estudantes a quem servia. Os servidores viviam com o dinheiro e as roupas usadas que aqueles quisessem lhes dar. Tinham de usar uma túnica especial e era proibido que os estudantes de nível mais elevado lhes dirigissem a palavra. A maioria acabava abandonando os estudos para não terem que sofrer tamanha humilhação.

George era extremamente intenso e dedicado e, achando que tinha de ganhar a aprovação de Deus, visitava prisioneiros e pobres, além de todas suas outras obrigações. Seus colegas, por um tempo, tentaram atraí-lo à vida social e às festas, mas logo viram que não adiantaria e deixaram-no em paz Alguns começaram a chamá-lo de "metodista", que era o nome pejorativo que davam aos membros do Clube Santo, embora ele ainda não tivesse tido nenhum contato com aquele grupo. Como servidor, não lhe era permitido tomar a iniciativa de procurá-los.

O Clube Santo era um pequeno grupo de estudantes dirigido por um professor em Oxford, chamado John Wesley. Aos outros estudantes, a vida disciplinada exigida pelo Clube parecia tolice e o nome "metodista" dava a idéia de uma vida regida por métodos mecânicos, desprovidos de racionalidade, como se as pessoas fossem meros robôs.

Foi Charles Wesley que ouviu falar desse aluno dedicado e piedoso e, rompendo as barreiras sociais, procurou Whitefield e o convidou para um café da manhã. Com isso, iniciou-se uma amizade que duraria para o resto das suas vidas.

Os membros do Clube Santo levantavam-se cedo, tinham prolongados tempos de devoções a sós com Deus, praticavam autodisciplina e tentavam garantir que nenhum momento do dia fosse desperdiçado. À noite, guardavam um diário para fazer uma avaliação da sua vida e arrancar qualquer pecado que estivesse brotando ou se manifestando. Celebravam a Eucaristia aos domingos, jejuavam toda quarta e sexta-feira e usavam o sábado como dia de preparação para a festa do Senhor no domingo.

O Clube Santo também era profundamente comprometido com a Igreja Anglicana e conhecia sua história e suas normas melhor que ninguém. Visitavam prisões e bairros pobres, e contribuíam a um fundo de auxílio para os presidiários e especialmente para os seus filhos. Os membros também se esforçavam muito no pastoreamento de estudantes mais jovens, ensinando-os a evitar más companhias e encorajando-os a serem sóbrios e estudiosos, até mesmo auxiliando-os quando tinham dificuldades nos estudos.

Tudo isto era ótimo, mas havia um problema fundamental: era uma salvação baseada em obras. Por mais que fizessem, experimentavam pouquíssima alegria, pois a natureza da sua salvação ainda era um mistério insondável e Deus estava distante. Nenhum dos líderes havia ainda experimentado a verdadeira graça de Deus no evangelho de Jesus Cristo.


O Desespero Fica Maior

Whitefield ficou mais e mais consciente do seu anseio interior por conhecer Deus de forma íntima e verdadeira, mas não sabia aonde recorrer. Ele lia com voracidade e finalmente achou um livro antigo, escrito por um escocês desconhecido, o Rev. Henry Scougal, intitulado A Vida de Deus na Alma do Homem. Neste livro, ele descobriu que todas suas boas ações, que pensava estarem conquistando-lhe o favor de Deus, não tinham valor algum. O que precisava realmente era Cristo ser formado "dentro" dele, ou seja, nascer de novo.

Scougal ensinou que a essência do cristianismo não é a execução de obrigações exteriores, nem uma emoção ou sentimento que se pode ter. A verdadeira religião é a união da alma com Deus, a participação na natureza divina, viver de acordo com a imagem de Deus desenhada sobre nossa alma – ou na terminologia do apóstolo, ter "Cristo formado em nós". Whitefield aprendeu destes ensinos a maravilha que é Deus querer habitar no nosso coração e realizar sua obra através de nós, e quão profunda e admirável é a graça que torna possível a vida de Deus habitar na alma do homem.

Este livro maravilhoso, porém, acabou deixando Whitefield quase enlouquecido. Ele não sabia como nascer de novo, mas começou a buscar esta experiência com todas suas forças. Deixou de comer certos alimentos e dava o dinheiro que economizou com isto aos pobres; usava só roupas remendadas e sapatos sujos; passava a noite inteira em fervorosa e suada oração; e não falava com ninguém. Para negar a si mesmo, abandonou a única coisa de que realmente gostava, que era o Clube Santo. Começou a ir mal nos estudos e foi ameaçado com expulsão. Seus colegas o acharam completamente "pirado". Orava ao ar livro, no relento, mesmo nas madrugadas mais gélidas, até que uma de suas mãos ficou preta. Finalmente, ficou tão doente, enfraquecido e magro que não conseguia nem subir a escada para sair do quarto. Tiveram de chamar um médico que o confinou à cama por sete semanas.


Uma Simples Oração

De forma surpreendente, foi neste tempo de descanso e recuperação que sua vida finalmente foi transformada. Ele ainda mantinha um tempo devocional com Deus, de acordo com suas forças. Mas agora começou a orar de forma mais simples, deixando de lado todas suas idéias e esforços e tentando realmente escutar a voz de Deus.

Certo dia, ele se jogou sobre a cama e clamou: "Tenho sede!" Foi a primeira vez que havia clamado a Deus em total incapacidade e insuficiência. E foi a primeira vez em mais de um ano que sentira alegria.

Neste momento de total entrega ao Deus Todo-poderoso, um pensamento novo penetrou seu coração. "George, você já tem o que pediu! Você cessou suas pelejas e simplesmente creu e agora nasceu de novo!"

Foi tão simples, tão absurdamente simples, ser salvo por uma oração tão singela, que Whitefield começou a rir. E assim que riu, as comportas dos céus se romperam e sua vida foi inundada por "gozo indizível, cheio e transbordando de grande glória".

Sua aparência exterior ainda era de um universitário doentio e fraco, porém a carreira do maior evangelista do século XVIII tinha acabado de nascer. Ele ainda levou nove meses para recuperar fisicamente, mas no seu coração havia só um desejo: compartilhar as Boas Novas que Jesus Cristo viera para os pecadores e que o pecador só precisava arrepender-se, aceitar a morte expiatória de Jesus e lançar-se espiritualmente nas mãos de Deus.

Em sua casa em Gloucester, Whitefield manteve sua vida disciplinada do Clube Santo, mas tudo agora tinha um novo significado. Não era mais para alcançar o favor de Deus ou tornar-se justo, mas para focalizá-lo em servir a Deus. Diariamente, meditava numa passagem bíblica que lia em inglês, depois em grego, e finalmente no famoso comentário de Matthew Henry. Orava sobre cada linha que lia, até que entendesse e recebesse o seu significado, e sentisse que já fazia parte da sua vida. Logo fundou uma pequena sociedade que se reunia todas as noites.


O Leão Começa a Rugir

Não demorou muito e já estava tendo oportunidades de pregar. Inicialmente, tinha receio de ser ordenado muito jovem e de se envaidecer. Mas colocou diante de Deus um sinal: se, por um milagre, houvesse provisão para voltar a Oxford e se formar, ele aceitaria a ordenação. E, pouco a pouco, foi isto que aconteceu. Ao mesmo tempo, soube que os irmãos Wesley tinham ido à América como missionários e que precisavam de alguém para dirigir o Clube Santo. Desta forma, voltou a Oxford, completou seu curso e foi ordenado.

Inicialmente, tentou ficar quieto no seu lugar. Seu objetivo era alcançar outros estudantes, na base de um a um. Mas havia um problema. Desde o momento que abriu sua boca, todos queriam ouvir mais. Depois de quatro semanas pregando mensagens em Gloucester, Bristol e Bath, um pequeno avivamento se iniciara. As igrejas estavam lotadas e as ruas estavam cheias de gente tentando entrar. Whitefield tinha apenas 22 anos.

Apesar da sua formação acadêmica, Whitefield utilizou muito mais seus talentos dramáticos para comunicar as verdades espirituais do que conhecimentos intelectuais. Concentrou no aperfeiçoamento do que hoje chamaríamos de linguagem corporal. A paixão seria sua chave na pregação das verdades espirituais que muitos já tinham ouvido, porém sem vida.Sem muita prática em homilética, sua sensibilidade dramática logo o colocou numa classe à parte. Lágrimas, fortes emoções, agitado movimento corporal – mas acima de tudo, uma experiência intensamente pessoal do Novo Nascimento – eram características da sua pregação e das reações dos seus ouvintes. Sua prodigiosa memória o capacitava a transformar o púlpito num teatro sagrado que representava os santos e pecadores da Bíblia diante dos seus ouvintes fascinados.

Entre os que ficavam encantados diante das pregações, estava um grande ator inglês, David Garrick, que exclamou: "Eu daria cem guineas (moeda inglesa da época – equivalente a mais de uma libra moderna) se eu pudesse dizer Oh como o Sr. Whitefield!"

Com suas mensagens vivas, dramáticas e cheias de alegria espiritual, o país da Inglaterra começou a ser abalado. As verdades eram simples, diretas e baseadas nas doutrinas básicas do novo nascimento e da justificação pela fé. Mas para as pessoas que nunca antes ouviram tais coisas com clareza, eram como descargas de raios no coração. Ele não estava declarando sua própria mensagem, mas a mensagem de Deus: "É necessário nascer de novo".

Logo houve resistência, principalmente por parte dos clérigos que se perturbavam com a oração de Whitefield para que eles também nascessem de novo. Pessoas das camadas mais elevadas da sociedade também não gostavam de ouvir que eram pecadores e precisavam se arrepender.


Uma Forma Revolucionária de Pregar

Em 1739, com 24 anos de idade, Whitefield começou a pregar ao ar livre. Várias igrejas haviam fechado as portas para suas pregações e ele não queria depender mais da disponibilidade de igrejas ou auditórios. Partiu para Kingswood, perto de Bristol, onde havia milhares de mineiros de carvão, que viviam em condições deploráveis. Homens, mulheres e crianças trabalhavam longas horas embaixo da terra, no meio de morte e doença. Para Whitefield, eram como ovelhas sem pastor.

Em fevereiro, o frio era intenso, mas ao passar pelos barracos e favelas, Whitefield encontrou 200 pessoas dispostas a ir ouvi-lo. Ele pregou dramaticamente sobre o amor de Jesus por eles e como sofreu a cruel morte da crucificação, só para salvá-los dos seus pecados. Enquanto pregava, começou a notar faixas brancas nas faces enegrecidas de alguns mineiros. Logo, todos os rostos escuros estavam manchados com as valetas brancas das lágrimas que corriam enquanto o evangelho de Jesus convencia a todos, um por um.

Três dias depois, Whitefield foi proibido de pregar em Bristol novamente pelo conselho da diocese. Porém, no dia seguinte ele pregou na própria mina, onde desta vez havia 2000 pessoas para ouvi-lo. No domingo seguinte, havia 10.000 e muito mais pessoas da cidade do que das minas. E no dia 25 de março de 1739, a multidão foi estimada em 23.000. Com este método heterodoxo e controvertido de pregação ao ar livre, parecia não haver limites para o crescimento do Grande Despertamento.

Estima-se que Whitefield tenha pregado para mais de dois milhões de pessoas, só naquele verão. Sua ousada pregação nos campos abalara de vez o fraco e tímido cristianismo da sua época. Quando chegou em Filadélfia, em agosto daquele ano, os jornais noticiaram que George Whitefield havia pregado a mais pessoas do que qualquer outra pessoa viva, e provavelmente do que qualquer outra pessoa na história, até então.


Melhor Esgotar-se do que Enferrujar

Whitefield cruzou sete vezes o oceano Atlântico entre a Inglaterra e a América. Faleceu em 1770, com apenas 55 anos de idade. Em 34 anos de ministério, pregou mais de 18.000 sermões, ou uma média de mais de 10 por semana. No seu último ano de vida, apesar da saúde prejudicada pela extrema intensidade da sua vida, recusou-se a parar, dizendo que preferiria se "esgotar a enferrujar".

Antes de pregar sua última mensagem, sentindo-se muito mal, Whitefield orou: "Senhor, se ainda não completei minha carreira, deixa-me ir falar por ti mais uma vez no campo, selar tua verdade e voltar para casa e morrer!"

Sua oração foi respondida. Seu último discurso foi no meio da tarde, num campo, em cima de um barril. Seu texto foi: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé" (2 Co 13.5). O tema foi o novo nascimento.

No começo falava com muita dificuldade, sua voz rouca, sua dicção pesada. Frase após frase saía sem muito nexo, sem atenção a objetivo ou oratória. Mas, de repente, sua mente se acendeu e sua voz de leão bradou mais uma vez, alcançando as extremidades da sua audiência.

Falando da ineficácia de obras para merecer a salvação, Whitefield trovejou: "Obras! Obras! O homem alcançar o céu por obras! Eu pensaria antes em alcançar a lua subindo numa corda de areia!"

Esta foi a exortação final do grande pregador. A luz que brilhou na sua alma queimou com ardor até o fim da sua vida.

Talvez Deus não lhe tenha dado uma voz de leão, nem o talento dramático da comunicação em massa. Mas não há limites para o que Deus pode fazer através de uma vida, por jovem que seja, quando o genuíno fogo do céu se acende nela.

Martinho Lutero (1483 - 1546)


Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado em Mansfeld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg(1497) e Eisenach(1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).

Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos. Alguns historiadores dizem que este fato aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quase foi atingido por um raio. Foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Foi consagrado padre em 1507.

Entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtenberg, onde também ensinou as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo. Em 1512 formou-se Doutor em Teologia.

Fazia conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante este período que a teologia paulina o influenciou, percebendo os erros que a Igreja Romana ensinava, à luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo.

Lutero era homem de envergadura intelectual e habilidades pessoais. Em 1515, foi nomeado vigário, responsável por onze mosteiros. Viu-se envolvido em controvérsias com respeito a venda de indulgências.


Suas Lutas Pessoais.

Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em questões pessoais quanto à salvação pessoal. Sua vida monástica e intelectual não forneciam resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações.

Seus estudos paulinos deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o justo viverá pela fé", Rm 1:17. Percebia ele que a Lei e o cumprimento das normas monásticas, serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que nesta direção não se pode esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.

Martinho Lutero, estava trabalhando em "repensar o evangelho". Sendo monge agostiniano, fortemente influenciado pela teologia desta ordem monástica, paulina quanto aos seus pontos de vista, Lutero estava chegando a uma nova fé, que enfatizava a graça de Deus e a justificação pela fé.

Esta nova fé tornou-se o ponto fundamental de sua preleções. No seu desenvolvimento começou a criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia romana. Ele estudava os escritos de Agostinho, Anselmo e Bernardo de Claraval, descobrindo nestes, a fé que começava a proclamar. Staupitz, orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos se consolou.

Em 1516, publicou o devocionário de um místico desconhecido, "Theologia Deutsch". Tornou-se pároco da igreja de Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé. Opunha-se a venda de indulgências comandada por João Tetzel.


As Noventa e Cinco Teses

Inspirado por vários motivos, particularmente a venda de indulgêngias, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, sua teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.

João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído do Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.

Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.


Reação Papal

A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a retratar-se de suas idéias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519.

A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos, dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor.

Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero. Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. Lutero queimou a bula em praça pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública.

Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Recusou-se a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Respondendo a Dieta em 25 de maio de 1521, formalizou a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma nascente também foi condenada.


Influência Política e Social

Por medidas de precaução, Lutero este recluso no castelo de Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses. Teve tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melancton e outros, a Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.

Tem-se dito que Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha, de 1521 até 1525. Houve a Guerra dos Aldeões em 1525, das classes pobres contra os seus líderes. Lutero tentou estancar o derramento de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouví-lo, ele apelou para os príncipes a fim de restabelecerem a paz e a ordem.

Fato notável foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre, ex-freira cisterciana. Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Houve controvérsia entre Lutero e Erasmo de Roterdã, que nunca deixou a Igreja Romana, por causa do livre-arbítrio defendido por este. Apesar de admitir que o livre-arbítrio é uma realidade quanto a coisas triviais, Lutero negava que fosse eficaz no tocante à salvação da alma.
Outras Obras.

Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismos, que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que decidiram abandonar a Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.

Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de Augsburg, que sumaria a fé luterana em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de Schmalkald, que resumem seus ensinamentos.


Enfermidade e Morte

Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas de saúde. Com frequência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era capaz de trabalhar tenazmente. Em 18 de fevereiro de 1546, em Eislebem, teve um ataque do coração, vindo a falecer.