24 maio 2014

Não é pra todo mundo, não!


Não é pra todo mundo, não!

Introdução

Em três dos quatro evangelhos, Jesus falou que para ser um discípulo dele existem condições. Isso mesmo! Ser um discípulo de Jesus não é pra todo mundo, não!

Na verdade, se você observar os evangelhos com cuidado, verá que Jesus nunca correu atrás de discípulos. Eles é que O procuravam. Jesus não fez apelos emocionais nem implorou a quem quer que fosse para que o seguisse. Ao contrário disso, Ele impôs condições para os candidatos a discípulo. É sobre essas condições que vamos refletir nestas três mensagens.

Os textos que falam sobre essas condições estão em Lucas 9:23, Mateus 10:38 e Marcos 8:34. Aliás, esses três evangelhos são chamados de sinóticos, porque apresentam a vida de Jesus sob pontos de vista semelhantes. Ora, a simples leitura dos textos já deixa claro quais são essas condições: (1) negar-se a si mesmo, (2) tomar a cruz e (3) segui-lo.

Talvez você esteja surpreso de que Jesus imponha condições para quem deseja ser seu discípulo. Isso parece muito diferente do que se ouve e vê nos programas de televisão. Na TV, com frequência, as pessoas são chamadas a seguir Jesus com promessas de sucesso, saúde e prosperidade.

Muitos pregadores (alguns bem intencionados) fazem assim: em vez de apresentarem as condições para alguém se tornar discípulo de Jesus, eles acenam apenas com os benefícios de ser um discípulo de Cristo. Sem perceber, eles são culpados de propaganda enganosa, isto é, em suas igrejas eles usam letras garrafais para falar dos benefícios de ser discípulo e letras miúdas para mostrar as condições para se tornar discípulo. (Parece com aquelas propagandas de eletroeletrônico, em que ninguém consegue ler as letrinhas que ficam no final da página).

Muitas pessoas que ouvem essas propagandas sobre Cristo, decidem segui-lo, mas não compreendem que seguir a Cristo tem implicações em nosso modo de ver e viver a vida. Decidem seguir Jesus simplesmente porque querem receber as bênçãos.

E o que pode acontecer com as pessoas que se aproximam de Jesus assim, sem saber que existem condições para ser discípulo dele? Na primeira dificuldade que enfrentam, muitas delas descobrem que não estão dispostas a aceitar as condições apresentadas por Jesus e, decepcionadas, se entristecem; sentem-se como consumidores enganados, reclamando pelos direitos que acham que tem.

Com Jesus sempre foi diferente. Ele não corria desesperado à procura de discípulos, como fazem alguns mestres hoje. Ele não negociava oferecendo carro, casa e saúde em troca de fidelidade a Ele. Em vez disso, Cristo apresentou condições que as pessoas devem atender se realmente desejam segui-lo.

Seguir a Jesus não é de qualquer jeito, não! Havia e ainda há condições.

Um pré-requisito

Antes, porém, das condições para se tornar discípulo de Jesus há um pré-requisito: você precisa querer.

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, (1) negue-se a si mesmo, (2) tome a sua cruz, e (3) siga-me; (Mat 16:24)

Ninguém se torna discípulo de Cristo porque a mulher, o filho, o amigo ou os parentes querem muito e insistem para ele tomar essa decisão. A própria pessoa precisa querer. Isso é algo muito sério e por isso é necessário que se diga com a máxima clareza: quem “aceita a Jesus” por causa do desejo de outras pessoas, verdadeiramente ainda não é um discípulo de Cristo. É claro que pode vir a ser, mas ainda não é.

Por mais difícil que seja, se você realmente não quer ser um discípulo de Cristo, seja sincero consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor: pare de fazer de conta! Pelo menos sua sinceridade e sua transparência serão reconhecidas. Mas saiba também que Cristo o ama profundamente e que ele trabalha dia-e-noite para que você perceba esse amor.

Se você tem convicção de que deseja ser um discípulo de Jesus, o pré-requisito já está cumprido: se alguém quer vir após mim... Vamos agora às condições.

Negar-se a si mesmo

Como vimos são três condições. É importante perceber que é o próprio Jesus Cristo quem apresenta essas condições. Não é uma invenção minha nem história de alguém que ouviu falar sobre a existência delas. Jesus mesmo falou sobre elas: negar-se a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lo. Então, isso é coisa séria que merece nossa atenção. Hoje estamos buscando a orientação do Espírito Santo de Deus para compreender o significado da primeira delas: negar-se a si mesmo.

Penso que é preciso desfazer dois enganos sobre o que significa negar-se a si mesmo:

O primeiro engano é que negar-se significa mentir sobre quem você é. Isso não é verdade! Não é necessário negar sua origem, seus medos, suas angústias, seus pecados, seu passado ou seu presente para tornar-se discípulo de Jesus. Negar-se a si mesmo não significa anular-se como pessoa ou rejeitar a própria identidade. As mudanças que Deus deseja realizar em sua vida precisam começar com quem você é hoje e onde você está agora. Na sua caminhada como discípulo você será moldado à imagem de Cristo, isso é verdade, mas o ponto de partida é quem você é agora. Então negar-se não é mentir sobre você.

O segundo engano é que negar-se seja flagelar-se, buscar sofrimento como uma forma de punição ou de glória própria. Há muita gente que entende assim, que negar-se é se privar dos prazeres e da vida e “sofrer por Cristo”, mas Deus não se alegra com a nossa dor, ainda mais se essa dor for algo que procuramos para nós mesmos, para nos sentirmos mais dignos ou para receber algum benefício especial de Deus. Os seguidores de Jesus certamente passarão por sofrimentos, mas negar-se não é correr atrás de sofrimento para si mesmo.

Desfeitos esses dois enganos, devemos avançar em busca de compreender o que Jesus quis dizer com negar-se a si mesmo. E por que precisamos saber o que é negar-se a si mesmo? Porque essa é a primeira condição para alguém se tornar seu discípulo.

A melhor maneira de descobrir isso é observar as Escrituras. Nos evangelhos há muitos registros sobre a vida e ministério de Jesus que podem nos ajudar a saber o que é negar-se a si mesmo

João Batista

Para compreender o que é negar-se a si mesmo vamos prestar atenção ao encontro de alguns sacerdotes e levitas com João Batista. Certa vez alguns deles foram enviados ao profeta para descobrir se ele era o Messias.

(19) E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? (20) Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo. (21) Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não. (22) Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? (23) Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. (João 1:19-23)

Uma das falas mais conhecidas de João Batista é quando ele, referindo-se a Jesus, seu primo, diz: “É preciso que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). João Batista também disse que não se achava digno sequer de desamarrar as correias das sandálias de Jesus (João 1:27) – um trabalho que era feito pelos escravos. Jesus, disse que “entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João” (Lucas 7:28). Parece que João é uma daquelas pessoas que aprendeu a negar-se a si mesmo.

Embora fosse um sujeito excêntrico, que sobrevivia à base de gafanhoto e mel silvestre, João era um profeta reconhecido e querido pelo povo. Já as autoridades religiosas, embora também conhecessem João, não eram muito simpáticas à sua pregação. Estava João em meio às suas pregações e batismos quando de repente apareceu essa comissão de sacerdotes e levitas perguntando: quem és tu? O que dizes de ti mesmo? O que João deveria dizer sobre ele? O como você responderia?

As respostas de João são muito importantes para nós porque nos revelam que para alguém negar-se a si mesmo é preciso (1) admitir quem ele não é e, ao mesmo tempo, (2) agarrar-se a quem Deus diz que ele é. Nas respostas que João Batista deu àquela comissão há pelo menos três lições preciosas sobre o negar-se a si mesmo.

A - Eu não sou Deus

(20) Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.

No verso 20, o evangelista destaca que João disse abertamente que não era o Cristo. Talvez por causa da pregação de João, da forma poderosa com que ele exortava as pessoas a viver uma vida de santidade, muitos achavam que ele era o Messias prometido por Deus, mas João sabia que não era. Ele sabia que sua missão era preparar o caminho para o Messias, mas ele mesmo não era o messias. Ser o Messias poderia render muitas honras, mas João sabia também que sustentar essa mentira não seria nada fácil. Por isso ele foi rápido em dizer: “Eu não sou o Cristo”.

Muita gente sofre mais do que deveria simplesmente porque resolveu carregar o mundo nas costas e agir como se fosse o próprio Deus. É preciso reconhecer quem somos. Não somos Deus! Somos limitados e na maioria das vezes não sabemos como lidar nem com os problemas à nossa volta.

• Admita que você não pode controlar o mundo;
• Admita que você não consegue fazer tudo dar certo;
• Não tente receber uma glória que não é sua.

Pode parecer surpreendente, mas tenho percebido que cada vez mais são as mulheres quem mais sofre dessa síndrome de controle do universo. Mais e mais, elas assumem responsabilidades dentro e fora de casa, no trabalho e na igreja, e acumulam sobre seus ombros pesos extraordinários que não deveriam levar. Mas não é de forma desinteressada ou altruísta que elas fazem isso!

A verdade é que quanto mais controle e responsabilidade temos nas mãos, mais reconhecidos e notados nós somos. Assim muitas mulheres compensam a falta de reconhecimento e amor por parte de seus pais, maridos e famílias mostrando que são capazes de assumir o controle de suas vidas. No começo isso pode até funcionar bem, mas, parece que preço já começou a ser cobrado no desmantelo de nossas famílias.

João confessou que não era o Cristo. Ele preferiu ser apenas quem ele era e dizer “não” para a tentação de assumir o lugar de Cristo. Ele poderia ter saído dali carregado nos braços pelos sacerdotes e levitas, mas preferiu ser verdadeiro sobre si mesmo ainda que isso fosse constrangedor.

O que o exemplo de João nos ensina? Acho que João nos ensina que devemos aceitar e assumir quem realmente somos: todos nós somos pessoas limitadas e carecemos do amor gracioso de Deus para tocar nossas vidas. A atitude de João nos ensina que negar-se a si mesmo é você se colocar na dependência de Deus e parar de agir como se pudesse controlar o próprio destino, dizer a verdade sobre si mesmo e confiar no Senhor.

Que tal admitir que você não é Deus, reconhecer suas limitações e entregar as dificuldades do seu dia-a-dia nas mãos daquele que dirige o universo?

B- Eu não sou o meu irmão

Quando João disse que não era o Cristo prometido por Deus, a comissão abriu o caderninho de anotações e apelou para a segunda opção. Havia profecias que afirmavam que o Messias viria “no espírito de Elias”. Alguns achavam que o Messias era o próprio Elias que retornaria dos mortos. Então eles perguntaram:

(21) Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.

Elias era um profeta do passado que há muito havia morrido. Mas ele era admirado por todo o povo. Elias era um daqueles heróis da fé sobre quem só são ditas boas coisas. As profecias dele eram lidas nas sinagogas e todos os líderes religiosos o tinham em alta conta. Aí a comissão pergunta: você é Elias que voltou a viver? Imagine só! Ser confundido com Elias sem dúvida era uma grande honra. Vejamos uma comparação para entender melhor a situação em que João Batista estava.

Um dos grandes heróis recentes de nossa história é o piloto Airton Sena. Muita gente aprendeu a gostar das corridas de fórmula 1 vendo Airton pilotar com perícia e coragem. As ultrapassagens impensáveis e as recuperações impossíveis encheram os olhos e o coração de toda uma geração.

Agora, imagine que você está dirigindo seu carro, faz uma curva mais fechada, ao ponto de arrastar pneu, e para no mercadinho para comprar refrigerante para o almoço. Antes de você entrar, um grupo de pessoas lhe cerca, sorrindo e dando tapinhas nas suas costas, até que um deles diz: “Essa curva que você fez foi maravilhosa! E a parada aqui foi demais! Nós reconhecemos logo o jeito de dirigir: você foi aluno do Airton Senna, né?

Todos temos pessoas que admiramos. Cada um de nós aqui seria capaz de listar algumas pessoas com quem gostaríamos de parecer. Até esse ponto não há nada demais. No entanto, quando a admiração se transforma em inveja e o desejo de parecer com alguém me leva a fingir ser como aquela pessoa, precisamos olhar para o exemplo de João Batista.

Deus não quer que você seja uma cópia de ninguém nessa terra, senão que você seja semelhante ao seu filho Jesus Cristo. Ele lhe fez único e está agindo em sua vida. Há muitas coisas que Deus deseja fazer através de você, mas é preciso que seja VOCÊ, não um cópia barata de outra pessoa. Quanto sofrimento acontece quando queremos ser iguais a fulano ou beltrano e acabamos perdendo nossa originalidade.

• Não copie o jeito viver dos outros. Descubra o seu jeito de viver;
• Não copie o sucesso dos outros. Deixe Deus ser original com você;
• Para de fingir ser quem você não é. Não é assim que Deus age.

Negar-se a si mesmo é uma jornada em busca da nossa verdadeira identidade. É dizer não para as tentativas de nos tornarem quem não somos. João não aceitou ser chamado de Elias, você também precisa rejeitar as tentativas de fazer de você uma cópia de outra pessoa. Todos nós somos originais.

C- Minha identidade está em Deus

Depois de dois “nãos”, a comissão que fora procurar João Batista entrou em desespero. Afinal, quem era aquele homem? Eles precisavam voltar e dizer algo àqueles que os haviam enviados. Então eles insistiram: (22) Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?

Então, João Batista faz uma afirmação estranha e enigmática:

(23) Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.

Aparentemente João falou isso com convicção, porque a comissão se deu por satisfeita e começou a fazer outras perguntas. Mas de onde ele tirou essa definição sobre si mesmo?  E de onde vinha essa convicção? Algumas coisas posso garantir.

• Será que ele fez curso de Ioga ou Meditação transcendental?
• Ou ele entrou de entrou de cabeça na psicoterapia?
• Será que ele consultou os astrólogos e adivinhadores?
• O será que essa certeza veio do último best-seller do Augusto Cury?

Nada disso! João encontrou resposta para sua identidade naquilo que Deus falou a respeito dele:

(13) Mas o anjo lhe disse: Não temas, Zacarias; porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; (14) e terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento; (15) porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida forte; e será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe; (16) converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; (17) irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido. (Luk 1:13-17)

- Quem é você, João?
- Eu sou quem Deus diz que eu sou!
- O que você diz sobre você, João?
- Eu digo aquilo que Deus diz sobre mim!
- E o que Deus diz sobre você, João?
- Diz que eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor

Para negar-se a si mesmo João aprendeu a buscar em Deus e na Sua Palavra a verdade sobre si mesmo. “Eu sou a voz que clama no deserto, porque foi isso que Deus afirmou a meu respeito!”. E você meu irmão? Quer saber o que Deus diz sobre você?

·        Que você foi criado à imagem e semelhança dele;
·        Que você precisa desesperadamente dele para viver;
·        Que você é amado a tal ponto que Ele entregou Seu filho à morte;
·        Que em Cristo você já venceu o pecado e a morte;
·        Que você é herdeiro da vitória de Jesus sobre as potestades;
·        Que você é sal e luz nesse mundo insosso e coberto de trevas;
·        Que você pode confiar nele, porque Ele é digno de confiança.

Meu irmão, há muitas outras palavras de Deus sobre você! Você precisa ler as Escrituras com dedicação e descobrir tudo aquilo que Ele fez por você e por sua vida. Então, a cada nova descoberta, viva conforme essa nova identidade em Cristo. Isso é que é ser uma nova criatura!

Conclusão

Hoje em dia muitos pregadores tentam atrair as pessoas falando sobre as bênçãos de ser discípulo, mas se esquecem de explicar que há condições para alguém seguir a Jesus. Uma delas é que aquele que deseja segui-lo deve negar-se a si mesmo.

Negar-se a si mesmo e desistir de tentar ser Deus. É abrir mão de tentar controlar a vida e reconhecer que depende completamente do Senhor. É parar de levar o mundo nas costas e confiar naquele que temo o mundo em suas mãos.

Negar-se a si mesmo é desistir de tentar ser quem você não é. É não tentar copiar os outros nem invejá-los. É parar de fingir ser alguém que você não é; é se reconhecer original e aceitar com gratidão tudo aquilo que realmente você é em Cristo Jesus.

Negar-se é abrir mão do que você pensa que é e do que os outros dizem que que você é, para se tornar aquilo que Deus fez e disse a seu respeito.

Foi assim com João Batista e precisa ser assim com cada um de nós.


Você quer seguir a Jesus? Isso é um excelente começo! Foi Deus quem plantou esse desejo em seu coração. Que tal o desafio de Negar-se a si mesmo? Que tal desistir de tentar ser Deus, desistir de fingir ser quem você não é e tomar posse daquilo que Deus fala a seu respeito?